Você está na página 1de 16

O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NA FUNÇÃO ADMINISTRATIVA1

Silene Pereira e Silva1

Guilherme F. Figueiredo Castro2

RESUMO

Com a Reforma administrativa e a assunção do caráter gerencial por parte do Estado, a sua função
administrativa cada vez mais vem ganhando notoriedade diante da prestação de suas atividades em razão
da implantação da eficiência como princípio. Diante disso é que o presente artigo visa analisar a função
administrativa do estado, o princípio da eficiência e sua aplicabilidade dentro de tal função. Para tanto,
proceder-se-á à decomposição dos conceitos atribuídos a função administrativa e a eficiência,
examinando-se suas características. Ao final, buscar-se-á pontuar a aplicação de tal princípio dentro
dessa função, fazendo uma análise da contribuição da Eficiência na administração pública.

PALAVRAS-CHAVE: 1. FUNÇÃO ADMINISTRATIVA; 2. EFICIÊNCIA; 3.


APLICABILIDADE.

______________________

INTRODUÇÃO

O presente artigo terá por fim analisar o princípio da eficiência, examinar os efeitos
concretos decorrentes da sua implantação, analisar a sua importância na função administrativa
do Estado para atender a esse novo comando, ressaltando-se especialmente as obrigações que
recaem sobre os administradores e servidores públicos no Brasil. O estudo consistirá na

1
Este trabalho tem por finalidade por em destaque a função administrativa do estado, a importância do princípio
da eficiência sobre esta função, as mudanças sofridas pela máquina administrativa após sua instituição e a
influência da eficiência na atividade precípua do estado. Para atender tal objetivo foi utilizada como metodologia
a pesquisa bibliográfica, tendo um caráter descritivo.
2
Bacharel em Desenho Industrial. Atua nas áreas de planejamento e orçamento de obras da construção civil. E-
mail: silene.silva@hotmail.com
3
Advogado e Professor Universitário. Mestre em Direito Tributário pela PUC/SP. Pós-graduado em Direito
Constitucional pela PUC/SP. Pós-graduado em Direito Tributário pelo IBET. Professor orientador do Curso de
Pós Graduação Latu Sensu da UCDB/MS. E-mail: Guilherme@acvsadvogados.com.br.
abordagem teórica do princípio da eficiência, introduzido no ordenamento jurídico, em
decorrência do processo de Reforma do Estado, através da Emenda Constitucional nº 19/1998
que modificou a redação do art. 37, caput, da Constituição Federal Brasileira, a saber:

Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: [...]

A eficiência, antes de ser princípio, é uma característica intrínseca das atividades


afetas ao Estado. No entanto, é sabido que os governantes historicamente têm demonstrado a
incapacidade de gerenciar os recursos públicos de forma a ofertar à população serviços de
qualidade. Ciente da necessidade de realçar a importância da eficiência, constantemente
negligenciada e olvidada pelos administradores, o legislador resolveu finalmente situá-la entre
os princípios constitucionais. Desse modo, conclui-se que a sociedade brasileira tem o direito a
um serviço público de qualidade e o administrador tem por obrigação oferecer seus préstimos
de forma transparente, ágil e satisfatória, o que se conquista através de atos e processos
administrativos orientados por todos os princípios constitucionais vigentes, em: o princípio da
eficiência. Assim, a eficiência – alçada à categoria princípio constitucional – tornou-se a ser
observada por todas as esferas da Administração Pública, em razão da necessidade atemporal e
constante de um serviço público de qualidade. A metodologia utilizada no presente estudo
consiste basicamente de pesquisa bibliográfica e eletrônica.

1 PODERES E FUNÇÕES DO ESTADO

Em nosso tempo histórico, no mundo ocidental, prevalece na doutrina a afirmação


de que são três as funções e os poderes do estado: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário,
sendo que tais poderes são independentes e harmônicos entre si, CF /88 - art. 2° : São Poderes
da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Cada um desses poderes do Estado tem sua atividade principal e outra secundária.
Dessa forma cabe ao Legislativo, sobretudo, a função de produzir leis. Ao Judiciário, a
função de dizer o direito ao caso concreto, pacificando a sociedade, em face da resolução dos
conflitos, com caráter de definitividade, cabendo-o precipuamente, a formação da coisa julgada.
Ao Executivo, a atividade administrativa do estado, isto é, a implantação do que a lei determina,
atendendo às necessidades da população, abarcando a prestação de serviços público, execução
de obras e até mesmo explorando atividades econômicas no interesse da coletividade. Logo, a
função típica ou precípua do Poder Executivo é a função administrativa e consiste na defesa
concreta dos interesses públicos, sempre atuando dentro dos limites delineados pelo texto legal.
Além da função típica (precípua) de cada poder, há as funções atípicas, decorrentes
do fato do não absolutismo da tripartição de poderes. Cada poder também exerce, em caráter
excepcional, as funções atípicas. Nesse sentido, o poder legislativo e o poder judiciário, ao
realizar um procedimento licitatório, por exemplo, estarão também, atipicamente, exercendo a
função administrativa. Tais funções atípicas estão instituídas em nossa Carta Magna.

1.1 FUNÇÃO ADMINISTRATIVA

Segundo o Jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, o vocábulo “função” no direito


designa toda atividade exercida por alguém na defesa do direito alheio. "Existe função quando
alguém está investido no dever de satisfazer dadas finalidades em prol da necessidade do outrem
" [...] (MELLO, 2015.pg. 71).
Aplicando este conceito, do renomeado Jurista, no serviço público podemos
dizer que função administrativa é atividade exercida pelo estado (alguém) na defesa do interesse
coletivo (direito alheio). Na administração pública, tal função é desempenhada
preponderantemente pelo poder Executivo com caráter infralegal - total submissão à lei -,
mediante utilização de prerrogativas instrumentais - poderes ou privilégios à função pública
para o melhor desenvolvimento das atividades - na defesa do interesse coletivo.
Dessa forma, pode-se entender a função administrativa como função voltada para o
bem da coletividade, desenvolvida pelo Estado com a intenção de privilegiar a coisa pública e
as necessidades do corpo coletivo. Sendo assim, infere-se que a função administrativa configura
múnus público, tipificando um dever para o administrador público que não terá liberdade de
atuação, sempre atuará em respeito ao direito posto, com a intenção de perseguir o interesse
público. Logo, tem-se que a função da administração pública ao zelar e cuidar dos bens da
coletividade chama-se função administrativa.

2 EFICIÊNCIA
A palavra eficiência tem origem no termo latim efficientia e refere-se à capacidade
de dispor de algo ou alguém para conseguir um efeito determinado. Em outras palavras, a
eficiência é o uso racional dos meios dos quais se dispõe para alcançar um objetivo pré-
determinado. Trata-se da capacidade de alcançar os objetivos e metas programadas com o
mínimo de tempo e recursos disponíveis, conseguindo desta forma a sua otimização.
Para Holanda (1999), eficiência é sinônimo de eficácia, que, por sua vez, significa
uma ação “que produz um efeito”, ou ainda, “que dá bom resultado”. Já o dicionário HOUAISS
(2001,p.1102) define-a como “poder, capacidade de uma causa produzir um efeito real”. Para
os léxicos, portanto, eficiência e eficácia são sinônimas que representam a capacidade de se
produzir determinados feitos.
No nosso estudo não é razoável apoiar-se somente no sentido gramatical da palavra
para dar sentido a um princípio jurídico. Todavia, esta análise serve para que, ao menos,
inicialmente, possa ser feita a seguinte afirmação: exigir de alguém eficiência é exigir que seus
atos deem bons resultados.
Contudo, é necessária conceituação mais completa, que será extraída da doutrina.
E essa necessidade de completude conceitual se deve ao fato de que a eficiência pode ser
interpretada de formas diferentes, dependendo da área em que é pesquisada.
Na Ciência da Administração, por exemplo, constata-se através das palavras de
Andrade e Amboni (2007) que:

[...] eficiência está relacionada ao conceito de racionalidade econômica, ou


seja, a razão custo/benefício que a organização pode lograr para prestar
serviços ou produzir determinados bens. A eficiência, desta forma, demonstra
a coerência entre meios e fins. (ANDRADE E AMBONI, 2007.p.3)

Vê-se, portanto, que esta visão da eficiência focada na racionalidade econômica,


que é o escopo de toda empresa privada, não é, e não pode ser o foco da Administração Pública,
eis que nesta

a eficácia tem de ser avaliada com ponderação de interesses e de valores de


distinta natureza, sem eleger o lucro e a rentabilidade econômica como
princípio único ou fundamental. (JUSTEN FILHO, 2008, p. 97).

Logo, tem-se que a preocupação da administração pública vai além dos fatores
econômicos, visto que, seu principal objetivo não é o lucro e sim o interesse da coletividade, o
bem estar social e o atendimento das necessidades do cliente/cidadão, primado pela excelência
nos resultados a custos menos onerosos.

2.1 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA


A Emenda Constitucional n. 19, de 04 de junho de 1988 (EC 19/98), implementou
a chamada reforma do aparelho do Estado. De acordo com o seu preâmbulo, veio
Modificar o regime e dispor sobre princípios e normas da Administração
Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças
públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, além de dar outras
providências.

Tal princípio encontra-se elencado no artigo 37 da CF 88, que diz:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte. (grifo nosso)

Não obstante, o Constituinte de 1988 não esgotou os postulados condicionantes da


administração pública no art. 37. No art. 70, elencou os objetivos do controle financeiro à
legalidade, legitimidade e economicidade dos gastos públicos e no art. 74, II, em relação ao
controle interno, a incumbência de avaliar a eficácia e a eficiência dos resultados da gestão
administrativa.
À época da reforma constitucional a intenção do Constituinte derivado era
transformar o aparelho estatal, torná-lo apto a gerar mais benefícios à sociedade, com recursos
disponíveis, em respeito àqueles que contribuem de variadas formas para manutenção do
Estado. Como prova deste pensamento, subscrevemos trecho da Justificativa da Emenda,
extraída de Pereira Júnior (1999), que demonstra o espírito com o que estavam imbuídos os
idealizadores de tal inserção:
Como resultados esperados da reforma administrativa, vale destacar o
seguinte: incorporar a dimensão da eficiência na administração pública, o
aparelho do Estado deverá se revelar apto a gerar mais benefícios à sociedade,
com recursos disponíveis, em respeito ao cidadão contribuinte. (PEREIRA,
Junior 1999.p. 2)

Ainda pela Justificativa da Emenda extraída de Pereira Junior (1999), pode-se


compreender que um dos motivos levados em conta para que a mesma fosse editada foi o fato
de que:

[...] a capacidade de ação administrativa do Estado se deteriorou, enquanto


prevalecia um enfoque equivocado que levou ao desmonte do aparelho estatal
e ao desprestígio de sua burocracia. (PEREIRA, Junior 1999.p. 2)

Nota-se que o objetivo da reforma foi para o fortalecimento do estado, tornando-o


mais capaz e mais eficiente, orientado para o benefício da sociedade e para a obtenção de
resultados práticos e mensuráveis.
Paulo Modesto, competente jurista da nova geração, que participou, por força de
cargo que ocupava no extinto Ministério da Administração, dos trabalhos dos quais resultou a
emenda aprovada pelo Congresso define o princípio da eficiência como:

[...] a exigência jurídica, imposta aos exercentes de função administrativa, ou


simplesmente aos que manipulam recursos públicos vinculados de subvenção
ou fomento, de atuação idônea, econômica e satisfatória na realização de
finalidades públicas assinaladas por lei, ato ou contrato de direito público.

Convencidos dessa realidade, os idealizadores do projeto mobilizaram-se para fazer


as alterações constitucionais que deram origem à Reforma Administrativa ou reforma do
aparelho do Estado.
Assim sendo, depreende-se que o Princípio da eficiência é um mandamento imposto
ao Estado e aos seus agentes, no exercício legal da suas competências com objetividade,
imparcialidade, transparência, neutralidade, diligência para a obtenção de bons resultados
através da melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a abter-se dos
desperdícios e garantir-se maior rentabilidsde social em primazia ao interesse da coletividade.

2.1.1 Reforma do estado

Em meados da década de 90, surge a ideia da reforma ou reconstrução do Estado


lato sensu . E, inserida nesse contexto, teve-se como inadiável a reforma do aparelho do Estado,
visando reforçar a “governança”, ou seja, a capacidade de o Estado implementar de forma
eficiente políticas públicas, mediante a transição programada de um tipo de Administração
Pública burocrática, rígida e ineficiente, voltada para si própria e para o controle interno, para
uma Administração Pública gerencial, flexível e eficiente, mais voltada à cidadania ou, em
última análise, ao bem comum.
Objetivo da reforma foi permitir que a administração pública tornar-se mais
eficiente e oferecesse ao cidadão mais serviços, com maior qualidade, ou seja, fazer mais e
melhor com os recursos disponíveis. A redução de custos seria perseguida ao mesmo tempo em
que se promoveria a contínua revisão e aperfeiçoamento das rotinas e processos de trabalho,
simplificando procedimentos, desburocratizando e estabelecendo metas e indicadores de
desempenho e de satisfação do cidadão-cliente.
De outro lado, a reforma do aparelho do Estado foi fundamental para assegurar a
estabilidade do Plano Real: o governo precisava coibir o desperdício e racionalizar o gasto
público com o fim de impedir o aumento dos gastos, evitando assim, o consumo dos recursos
do Estado, sem que houvesse uma contrapartida de eficiência e qualidade nos serviços prestados
que corroboraram para a descentralização dos serviços, aproximando-os da sociedade e do
cidadão. Também foi indispensável redefinir os mecanismos de controle convencionais,
voltados para o controle de processos, burocratizado e ineficaz, redirecionando-os para a
avaliação de resultados.
Tais ações tiveram como objetivo devolver a saúde fiscal e financeira do Estado,
fazendo com que esse voltasse a ser um agente ativo na sociedade. Após essas reformas, passou-
se a pensar na melhoria da gestão da máquina pública buscando a eficiência da administração
pública. Para isso, fora implantada ações para melhorias das competências dos recursos
humanos, recursos tecnológicos com o intuito de evitar o desperdício de tempo, mecanismos
de controle e transparências, além de diretrizes para a implementação da administração pública
gerencial.

2.1.2 A administração Pública Gerencial e o princípio da eficiência

Meados do século XX idealizou-se a administração pública gerencial ou por


resultados, a qual adotou várias inovações operacionais e organizacionais oriundas da iniciativa
privada, como por exemplo, a diminuição de níveis hierárquicos, a adoção do sistema de custos
e a difusão do sistema de informações gerenciais. Contrapondo-se ao modelo anterior –
Administração pública burocrática – sob o fundamento de que esta seria ineficiente, teria uma
forte e maléfica estrutura, além do exacerbado formalismo.
Obtempere-se que o novo modelo, apresenta-se como uma forma moderna de
administrar, com ênfase para o aumento da qualidade e da eficiência dos serviços ofertados pelo
Estado aos cidadãos, descentralização de poder, concentração de objetivos nos resultados,
redução de custos e deslocamento da preponderância dos procedimentos internos (meios) para
os externos (fins).
Neste momento, diante de tudo que já vimos anteriormente, já pode-se inferir que
a adoção da eficiência como princípio constitucional decorre do aludido padrão de
administração pública, mas também precisa-se lembrar que não somente tal principio rege a
função administrativa como também os demais princípio constitucionais (Legalidade,
impessoalidade, moralidade e publicidade). Também não se pode esquecer que a atuação estatal
tem por objetivo o atendimento ao interesse público e o alcance do bem comum, representado
pela necessidade de proporcionar uma melhor qualidade de vida aos cidadãos, com a realização
de serviços e/ou atos adequados.

3 EXTENSÃO E APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NA FUNÇÃO


ADMINISTRATIVA

O Princípio da eficiência é de observância obrigatória por toda a estrutura


administrativa brasileira, abrangendo a todos, conforme Oswaldo Othon de Pontes SARAIVA
FILHO: “Tal princípio obriga a todos os poderes, quando atuarem como administradores na
prática de atos administrativos.” (SARAIVA FILHO 2006, P.291)
Para melhor resultado do nosso trabalho, analisar-se-á o princípio da eficiência sob
seus vários aspectos, dentro da função administrativa:

3.1 NO MEIO E NOS FINS - Procedimentos e resultados

Segundo os ditames da melhor exegese — interpretação histórica, sistemática e


teleológica aplicadas em conjunto — e tendo em vista os princípios da máxima efetividade e da
indisponibilidade do interesse público, o princípio da eficiência, então inserido no caput do art.
37, assume duplo papel: aquele relativo ao procedimento (do modelo burocrático, meio pelo
qual se expressa à função administrativa) e outro relativo ao resultado (como fim buscado pelo
novo modelo de Administração Pública).
Analisando os procedimentos, observa-se que a utilização do formalismo
exacerbado oriundo da burocracia ainda fez-se presente na administração pública, contrapondo-
se ao sistema gerencial. Entende-se que a utilização do formalismo moderado faz-se necessário
na atual conjuntura, já que é uma decorrência do princípio da eficiência. A formalidade não
deve ser impecilho para empacar as finalidades e os objetivos do agir administrativo.
Para resguardar tal princípio, o gestor, dentro das exigências legais mínimas, pode
revisar os procedimentos e torná-los mais céleres e seguros para a condução das atividades
administrativas, garantindo ao cidadão a segurança jurídica, a legalidade do ato e a satisfação
do interesse público.
Sob o enfoque finalístico (resultado) a eficiência soma-se e confunde-se com
eficácia. A Administração eficiente deve buscar satisfazer as necessidades dos cidadãos com
presteza e da maneira menos dispendiosa possível; os melhores resultados ao menor custo e no
melhor tempo. Vale dizer: a eficiência diz respeito, nesse caso, a procedimento e a resultado,
isto é, uma meta a ser atingida em função de uma causa. E esta foi à preocupação do reformador
constituinte segundo inteligência dos arts. 37, caput, e §§ 3° e 8°, 39, § 2°, 41, §§ 1°, 2° e 4° e
169, 241 (então alterados), somados àqueles dispositivos constitucionais que já acenavam à
eficiência administrativa (arts. 70, 74, II, 93, 170). O princípio da eficiência não pode ser visto
isoladamente. A leitura sistemática da reforma operada pela EC 19/98 deixa clara a opção por
um novo modelo de Administração Pública, voltado não só para o procedimento, como também
para o resultado.

3.2 NA QUALIDADE E NA MELHORIA CONTÍNUA

Uma das Vertentes para a implantação do princípio da eficiência foi direcionar a


administração pública para o cidadão, cujo objetivo, como já sabido, era e ainda é oferecer
serviços públicos de maior qualidade atendendo da melhor forma possível às demandas dos
seus usuários. Para o estabelecimento da qualidade na administração pública, faz-se necessário
à constante mensuração e à implementação do sistema de melhoria contínua nos processos que
envolve o serviço a ser prestado. Quando a ideia da qualidade foi incorporada à esfera pública,
o cidadão passou a ser considerado como usuário, assim qualidade passou a significar a
satisfação das suas necessidades e expectativas, com custos menos onerosos e dinamicidade
nos processos para o atendimento de tais exigências. Portanto, qualidade passou a
significar maior eficiência e eficácia na prestação do serviço público, gerando no cliente-
cidadão um real impacto no atendimento dos seus anseios, na melhoria da relação entre os
recursos empregados e os resultados obtidos.
Aqui, cabe ressaltar que, a atividade desenvolvida para a prestação do serviço
público não deve gerar lucro, coerentemente, e não deve em prol disto, estar fadada a gerar
prejuízo. E, esta compreensão, nos faz buscar na expressão melhoria continua, a realidade de
que, esta deva ser compreendida não só como mera atividade essencial e incessante, mas sim,
atividade essencial exercida em tempo hábil, capaz de se adequar às maiores exigências e,
voltada ao aprimoramento, e que visa um bom resultado.
Contudo, a análise semântica exercida sobre a palavra “contínuo” sugere sempre a
ideia de movimento, dar continuidade a algo, não parar e essa deve ser a mesma mobilidade da
convivência social no seio do Estado, pois, a sociedade tem caráter evolutivo e de expansão
cultural. E desta forma, qualquer movimento deva implicar em avanço, posto que, senão estarão
às conquistas sociais retroagindo, e a ação de retroceder, é tão perigosa quanto à omissão que
se oculta na inação, à inércia na maioria das vezes, significa cair em obsolescência. E com toda
certeza, não é esta a finalidade estatal, ao contrário, visa aprimoramento, requer ampliar seu
grau de eficiência, porque este é resultado da modernidade.
E esta nossa afirmativa vê-se expressa no artigo 39 da CF, mais especificamente,
em seu parágrafo 7°, que passamos a transcrever:

Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará


a aplicação de recursos orçamentários provenientes da economia com
despesas correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no
desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento
e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do
serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de
produtividade. (grifo nosso)

Há que se destacar que, a exigência de qualidade e os critérios para verificação da


eficiência estão vinculados a fatores externo. E nisto, nos deparamos com a questão da infra-
estrutura, das condições que viabilizam a prestação do serviço público estatal. Muitas vezes,
atrelada à questão orçamentária, noutras, atribuídas à capacidade de organização do gestor
administrativo; por vezes, se relaciona intimamente com a demanda exercida sobre certos
órgãos e setores, sendo estes de serviço emergencial, como é o caso da saúde ou da justiça. De
fato, a demanda excessiva, sem o respaldo do aparelho estatal, acaba por gerar serviços
ineficientes, ineficazes, diríamos até, deficientes, um contra-serviço-público, posto que, age
contra as necessidades e interesses públicos, por conseguinte, transverte em prejudicialidade a
finalidade estatal. Noutras palavras, a sociedade vê-se prejudicada por vias que deveriam
promover-lhe a defesa ou preservação.

3.3 NA LIBERDADE DE ATUAÇÃO

A discricionariedade administrativa tem por função integrar um ato legislativo


abstrato no que seja necessário, em termos de interesse público, para que possa ser executado.
Ou seja, é condição de execução do interesse público insuficientemente definido numa lei. É
competência atribuída à administração para o fim de integrar a vontade da lei, interesse público
específico, que é finalidade vinculada. A discricionariedade abarca indistintamente poder
discricionário, enquanto modo de atuar do poder estatal; atividade discricionária, enquanto
função estatal, expressão dinâmica desse poder; e ato discricionário, resultado qualificado do
exercício dessa função. Enfim, a discricionariedade consiste numa solução ordinária em face à
impossibilidade de a lei prever tudo.
Numa concepção juspolítica, a eficiência comportará duas dimensões: da
legalidade (de acordo com a lei) e da legitimidade (voltada ao interesse público).
Nesse sentido, o ato administrativo que não atende a lei, revela desempenho ilegal
da função administrativa. O ato que não atende ao interesse público é ilegítimo, revela má
administração. O ato discricionário deve fundamentar-se no interesse público de modo a atingir
a finalidade do tal ato, não existe liberdade incondicional numa decisão discricionária.
Nota-se que a eficiência é um aspecto relevante na aferição da razoabilidade e
proporcionalidade na atuação da administração pública no ato discricionário. De modo que
ineficiência constitui vício de finalidade, podendo acarretar a nulidade do ato administrativo.

3.4 NO CONTROLE INTERNO

A Administração de uma entidade pública é exercida através de ações coordenadas


e planejadas, denominadas de funções administrativas. Dentre estas funções está a de controle
que, no âmbito da Administração Pública é exercida em decorrência de imposições legais. Os
autores Cruz e Glock ressaltam que:

O controle caracteriza-se, portanto, por qualquer atividade de verificação


sistemática de um registro [...] com o objetivo de verificar se existe
conformidade com o padrão estabelecido, ou com o resultado esperado, ou
ainda, com o que determinam a legislação e as normas. (CRUZ; GLOCK,
2008, p. 20).

Segundo Hely Lopes Meirelles, o Controle Interno :

É todo aquele realizado pela entidade ou órgão responsável pela atividade


controlada, no âmbito da própria administração. Assim, quaisquer controles
efetivados pelo Executivo sobre seus serviços ou agentes é considerado
interno, como interno será também o controle do Legislativo ou do Judiciário,
por seus órgãos de administração sobre pessoal, e os atos administrativos que
pratiquem. (MEIRELLES, 2015, p. 600).

Desses conceitos se extrai que Controle Interno nada mais é que o conjunto de
métodos implantados para a fiscalização das diversas atividades de uma entidade.
A função do Controle Interno exige que a Administração pública volte sua atenção
para a execução de planos e programas, para que metas e objetivos previamente delineados
sejam atingidos.
Para Cruz e Glock o Controle Interno é:

O conjunto de atividades, planos , métodos e procedimentos interligados com


vistas a assegurar que o objetivo dos órgãos e entidades da administração
pública sejam alcançados, de forma confiável e concreta, evidenciando
eventuais desvios ao longo da gestão, até a consecução dos objetivos fixados
pelo poder público. (CRUZ; GLOCK, 2008, p. 22).

O controle exerce, na administração pública, um papel de grande importância no


desempenho eficaz de qualquer atividade. É através de um controle eficiente que se pode
detectar eventuais desvios ou problemas que podem ocorrer durante a execução das atividades,
possibilitando a adoção de medidas corretivas para que os objetivos traçados pelos gestores
sejam alcançados.

3.5 NA ATUAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO

Do ponto de vista da atuação do agente público, espera-se o melhor desempenho


possível, objetivando-se o melhor resultado para o interesse público (cidadão-cliente e/ou
administração) em relação a pretensão apresentada. Quando o PDRAE refere à necessidade de

[...] flexibilização da estabilidade do funcionalismo público e de regimes


jurídicos diferenciados, a importância do desempenho do servidor, exigindo-
lhe comportamento diferenciado, adoção de novos valores, objetivos e metas,
maior autonomia, competição administrativa [...] (Plano Diretor de Reforma
do Aparelho do Estado, Brasília, Nov.1995)

Percebemos a conotação que se quis dar à eficiência, voltada a pessoa do servidor


público no exercício da atividade administrativa. Mas, para que tal princípio seja cumprido pelo
agente público faz-se mister que as atribuições sejam cumpridas com presteza, perfeição e
rendimento funcional (Meirelles, 2015 p.94).
- Presteza:
Está associada a qualidade de agilidade, rapidez e precisão com as quais o agente
desenvolve suas atribuições, já que, agindo assim, estará contribuindo para a qualificação dos
serviços públicos.
Seguindo essa linha de raciocínio, Medauar comenta:

Associado à administração pública, o princípio da eficiência determina que a


administração pública deve agir, de modo rápido e preciso, para produzir
resultados que satisfação a população. A eficiência contrapõe-se a lentidão, a
descaso, a negligência e a omissão - características habituais da administração
pública brasileira, com raras exceções. Grifo nosso - (MEDAUAR, 2003,
p.142)

Entende-se que há necessidade de um modelo de eficiência na administração


pública que vise atender com mais presteza e adequação as necessidades da comunidade para a
qual existe determinado órgão. Em algumas situações faz-se necessário alterar os
procedimentos tradicionais, simplificar as rotinas, "desburocratizando", de modo a tornar
possível a eficiência do servidor e a economicidade como resultado da atividade.
- Perfeição:
De acordo com Toloso Filho:

A eficiência agora elevada a categoria de princípio deve ser tomada SEM


sentido amplo, ou seja, na busca da perfeição da oportunidade, da
conveniência e da razoabilidade dos servidores públicos que devem ser
colocados, pelo Estado à disposição da coletividade, quer qualitativa, quer
quantitativa. (TOLOSA, 1999, p.33)

Entende-se que a palavra "perfeição" é análoga a palavra "qualidade", pois de


acordo com o dicionário INFORMAL ON LINE, perfeição é "aquilo que tem qualidade
máxima" - Grifo nosso. Assim sendo, o agente público ao executar sua função com perfeição
estará exercendo-a com a máxima qualidade, o que implica dizer, que também estará
exercendo-a com razoabilidade e moralidade para que o ato seja pobro e legal.
- Rendimento funcional:
Segundo o renomado jurista Hely Lopes Meirelles:
A eficiência funcional é, pois, considerada em sentido amplo, abrangendo não
só a produtividade do exercente do cargo ou função como a perfeição do
trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela administração [...] (
Meirelles, Hely Lopes, 2015, p.294).

Conforme Meirelles, se os servidores desempenharem suas atribuições com esmero


de modo organizado, disciplinado e desenvolto alcançarão resultados benéficos na prestação do
serviço público e consequentemente em seus rendimentos funcionais.
Tal item tem tamanha relevância que a própria Constituição Federal no art. 41, §§
1° e 4°, instituiu-se a avaliação do servidor como forma de aquisição e de perda da estabilidade.
Numa interpretação sistemática com o art. 37, caput, tem-se o enfoque funcional do princípio
da eficiência. O desempenho funcional eficiente está relacionado com o melhor uso possível
dos recursos então disponibilizados, com a melhor qualidade, no menor tempo e com a maior
economia possível, de modo a alcançar resultados individuais e coletivos, de forma criativa e
sempre mediante trato afável, cortês e respeitoso para com o usuário do serviço público.
Outra inovação foi a previsão de escolas para a formação e aperfeiçoamento do
funcionário público, vinculando a participação nos cursos à promoção na carreira. Como
exemplo disso, no plano infraconstitucional, a Lei nº. 11.416/2006 – que dispõe sobre a carreira
dos servidores do Poder judiciário da União – estabelece a criação de um programa permanente
de capacitação, além de instituir o adicional de qualificação, uma contraprestação pecuniária
em favor do servidor que atualizar e reciclar os seus conhecimentos profissionais. O princípio
da eficiência trouxe que afetaram o servidor, pois ele é a peça que movimenta a engrenagem
chamada serviço público. A imagem da Administração Pública estava arranhada, era preciso
recuperar a credibilidade junto à sociedade e isso somente seria possível responsabilizando o
servidor pela gestão pública de qualidade e foi o que aconteceu.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Administração Pública é regida por princípios que se encontram discriminados


na Constituição Federal (art. 37). Estes princípios são a base de toda a atividade administrativa
e regulam as ações dos órgãos públicos e de seus administradores e servidores. Em 1988, a
administração pública sofreu uma reforma administrativa, a qual incluiu um novo princípio ao
rol dos já existentes, o princípio da eficiência. Tal princípio veio para garantir que a gestão da
coisa pública seja cada vez menos burocrática e atinja seus objetivos de forma mais rápida e
eficaz, respondendo aos anseios da sociedade, às pressões externas e alcançando o fim ao qual
se propõe.
Historicamente, a Administração Pública é marcada pela corrupção, nepotismo e
baixa qualidade dos serviços prestados, diante destes históricos fatores é que foi implementado
a “reforma do estado”, mais especificamente, a Administração Pública Gerencial, ocasião em
que se sedimentou a Eficiência e elevou-se à categoria de norma constitucional expressa,
passando a integrar o rol dos princípios normativo da administração pública. Com
características indubitáveis de coerção e imperatividade, passa, portanto, a ser dever do gestor
público, logo deve ser plenamente observado em relação à coletividade, sob pena de ser
oponível ao poder judiciário por descumprimento do ordenamento jurídico.
Desta forma, o Estado deve desempenhar as suas atividades administrativas no
sentido de produzir resultados os mais satisfatórios possíveis ao atendimento das necessidades
da coletividade e da própria máquina administrativa, despendendo o mínimo possível de
recursos públicos para tanto.
De modo que, tal princípio, está a exigir não só uma reordenação do comportamento
administrativo, mas também uma diferença de postura de toda a sociedade. A começar, dentro
da própria administração, passando pelos servidores públicos e desaguando no administrado-
cidadão, atualmente mais participante da atividade administrativa, que deverão imprimir o
caráter da eficiência não só nas suas funções basilares, mas também em todo o conjunto de
atividades exercidas para o bom funcionamento da máquina estatal.
Com efeito, tal princípio não pode ficar apenas em nível de texto legal ou de
reorganizações estruturais, mas esperam-se, do estado e da sociedade, efetivas mudanças de
condutas e atitudes no desempenho da função administrativa.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Antonio Carlos Cintra do. O princípio da eficiência no direito administrativo.


Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ – Centro de Atualização Jurídica, n. 14, junho-
agosto, 2002. Disponível na internet: HTTP://www.direitopublico.com.br. Acesso em 30 de
Julho de 2015.

CAETANO, Marcelo. Princípios Fundamentais do Direito Administrativo.Rio de Janeiro:


Forense,1989.

CRUZ, Flávio da; GLOCK, José Osvaldo. Controle Interno nos municípios: orientação para a
implantação e relacionamento com os tribunais de contas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2008.

JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 7 ed. Belo Horizonte. Editora
Forum, 2011.

JUNQUILHO, Gelson Silva. Teorias da administração pública. Florianópolis: Departamento


de Ciências da Administração/UFSC:CAPES:UAB, 2010.

MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 14 ed. rev. atual e
ampl. São Paulo: Malheiros, 2015.

MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7 ed. São Paulo.Editora: Revista dos
Tribunais, 2003.

MEIRELLES, Hely Lopes - Direito Administrativo Brasileiro. 41.ed.São Paulo.Editora:


Malheiros, 2015.

MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Reforma administrativa. Belo Horizonte, 1998.

OSÓRIO, Fabio Medina. Novos Rumos da Gestão Pública Brasileira: dificuldades teóricas
ou operacionais? Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado – RERE, Salvador, Inst.
de Direito Público da Bahia, n.1, março/abril/maio, 2005. Disponível na internet
HTTP://direitodoestado.com.br. Acesso em 10/08/2015.

PEREIRA, Bresser. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília, novembro de


1995. Disponível na internet http://www.bresserpereira.org.br, acesso em 10 de agosto de
2015.

SARAIVA FILHO, O.Othon de Pontes - Princípio da eficiência em matéria tributária. In:


MARTINS, Ivens Gandra da Silva. 1.ed.São Paulo. Revista dos Tribunais e Centro de
extensão universitária, 2006.

TOLOSA, Filho Benedicto de. Direito Administrativo: noções fundamentais. São Paulo.
Editora Iglu, 1999.

Você também pode gostar