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NOÇÕES INICIAIS

NOÇÕES INICIAIS
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

1  NOÇÕES INICIAIS
1.1 Sistemas Processuais Penais
1.1.1 Sistema inquisitório
Trata-se de sistema processual essencialmente autoritário, possuindo como ca-
racterística mais destacada a concentração dos poderes de investigar, de acusar e de
julgar no mesmo órgão do Estado.
Principais características: a) produção de provas de ofício; b) ausência de inter-
ferência do acusado; c) sigilo absoluto (investigação secreta); d) ausência de contra-
prova; e) acusado é presumido culpado; f) ausência de fundamentação das decisões;
g) acusado visto como objeto, e não como sujeito de direitos; h) busca ilimitada da
verdade, independentemente dos meios utilizados (Ex.: tortura).
Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró observa que o sistema inquisitório baseia-se
em um princípio de autoridade, segundo o qual a verdade é tanto melhor acertada,
quanto maiores forem os poderes conferidos ao investigador.1
Mesma linha de raciocínio desenvolve Jorge de Figueiredo Dias, observando que
o processo penal inquisitório é dominado, exclusivamente, pelo interesse do Estado,
que não concede ao interesse das pessoas qualquer consideração autônoma.2

1.1.2 Sistema misto (ou híbrido)


O sistema processual penal misto (ou híbrido) foi constituído a partir dos ideais
iluministas, com o propósito de combater o sistema inquisitório. Caracteriza-se pela
divisão do processo em duas fases: fase inquisitiva e fase acusatória.
Principais características: a) primeira forma de proteção do acusado; b) na pri-
meira fase processual, a instrução é realizada pelo juiz ou pelo Ministério Público, com
o intuito de colher as provas necessárias para a acusação; c) acusado passa a ser visto
como sujeito de direitos; d) garantias mínimas do acusado; e) destaque
para a presunção de inocência.
A polícia judiciária exerce a O sistema misto é criticado porque, na primeira fase processual, a
função investigatória. Não lesa o investigação pelo membro do Ministério Público ou pelo Juiz da Instru-
sistema acusatório o controle ex- ção prejudica o acusado, principalmente por causa do perigo de lesão à
terno do Ministério Público, nos imparcialidade do julgamento.
termos do inc. VII, do Art. 129,
da CF/1988: São funções insti-
tucionais do Ministério Público: 1.1.3 Sistema acusatório
VII – exercer o controle externo Pode-se chamar acusatório , conforme Luigi Ferrajoli, todo sistema
da atividade policial, na forma da
processual que configura o juiz como um sujeito passivo rigidamente
lei complementar mencionada no
artigo anterior.
separado das partes e o processo como iniciativa da acusação, a quem
compete provar o alegado, garantindo-se o contraditório.3

1 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: RT, 2003, p. 105.
2 FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Direito processual penal. Coimbra: Almedina, 1988, p. 37-40.
3 FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão – Teoria do Garantismo Penal. 3. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 34.

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Principais características: a) sistema garantista; b) rígida separação das funções de


investigar, acusar e julgar; c) acusado como sujeito de direitos; d) posição de igualdade com
órgão acusador; d) publicidade plena dos atos processuais; e) oralidade; f) contraditório;
g) direito subjetivo à prova; h) adoção do sistema do livre convencimento motivado; i) a
iniciativa da colheita das provas não parte do juiz; j) em regra, o juiz não age de ofício.
Atualmente, discorre Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró, “não existem siste-
mas acusatórios ou inquisitórios ‘puros’. Nenhum legislador estrutura o processo pe-
nal de forma totalmente acusatória ou inteiramente inquisitória”.4

FIQUE LIGADO!
A Lei n° 11.690/2008 fixou nova redação ao Art. 156 do CPP, prevendo a
possibilidade de o juiz determinar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a
produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, obser-
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida (inc. I). E
ainda determinar, antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante (inc. II). A partir daí, surgiu a seguinte
questão: é inconstitucional a prova produzida de ofício pelo juiz? Não, por-
que a atividade probatória desenvolvida pelo juiz é exceção, e não regra.

1.1.4 Modelo adotado no Brasil


O sistema acusatório foi adotado no processo penal brasileiro, destacadamente
a partir da CF/1988, apesar de possuir algumas reminiscências do sistema inquisitório,
como a produção de provas de ofício prevista no Art. 156 do CP.
Se o inquérito policial é inquisitório, porque o sistema brasileiro não é conside-
rado misto, mas sim acusatório? Simplesmente porque o sistema brasileiro não possui
fase processual inquisitória. Cumpre esclarecer que o inquérito policial não é fase do
processo judicial, constituindo apenas procedimento administrativo. Em outras pala-
vras, o inquérito policial é uma fase pré-processual.

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Conforme decidiu o STJ, é acusatório o sistema brasileiro, sendo vedado ao juiz
o poder de investigação. Pode ouvir outras testemunhas (Art. 209 do CPP), des-
de que não substitua a acusação. A iniciativa probatória e a iniciativa acusatória
possuem conceitos diferentes. Aquela é lícita, é claro, ao juiz em atitude comple-
mentar – por exemplo, tratando-se de diligências cuja necessidade se origine de
circunstâncias ou fatos apurados na instrução (atual Art. 402). Já a iniciativa acu-
satória – o desempenho das funções que competem a outrem – bate de frente
com princípios outros, entre os quais o da imparcialidade do julgador, e o da
presunção de inocência do réu, e o do contraditório, e o da isonomia.5

4 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: RT, 2003, p. 101-102.
5 STJ, HC 143.889/SP, 21.06.2010.

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1.2 Fontes do Processo Penal


1.2.1 Fontes materiais (ou substanciais)
Sinteticamente, é o Estado. São as fontes denominadas de “produção”, isto é,
aquelas de onde se originam as normas do processo penal. Nos termos do inc. I do Art.
22 do CPP, compete à União legislar privativamente sobre processo penal: Compete
privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.

1.2.2 Fontes formais (ou de cognição)


São aquelas, na exata observação de Julio Fabbrini Mirabete, que reve-
lam o direito, que são os seus modos de expressão.6
A doutrina, a jurisprudên-
As fontes formais dividem-se da seguinte forma:
cia e o direito comparado
não são fontes, mas sim  Imediatas (ou direta): Constituição Federal e as leis que compõem a legis-
formas de interpretação lação processual penal federal infraconstitucional. Parte da doutrina acres-
da Lei. Contudo, alguns centa as convenções e os tratados de direito internacional e mais recente-
autores consideram que mente as súmulas vinculantes.
são espécies de fontes
mediatas.  Mediatas (ou indiretas, ou supletivas): analogia, costume e princípios ge-
rais do direito.

1.3 Princípios do Processo Penal


1.3.1 Princípio do devido processo legal
Cândido Rangel Dinamarco identifica o devido processo legal como princípio
constitucional, expressando o conjunto de garantias “que de um lado asseguram às
partes o exercício de suas faculdades e poderes de natureza processual e, de outro,
legitimam a própria função jurisdicional”.7 Por essa razão, esclarece José de Albuquer-
que Rocha, “não basta às partes terem o direito de acesso ao Judiciário. Para que o so-
corro jurisdicional seja efetivo é preciso que o órgão jurisdicional observe um processo
que assegure o respeito aos direitos fundamentais”.8
Enunciado no inciso LIV do Art. 5° da CF/1988, sob o postulado de que ninguém
será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal, deste decorre
o denominado devido processo penal, com uma série de peculiaridades observadas
por Rogério Lauria Tucci: a) acesso à Justiça Penal; b) do juiz natural em matéria penal;
c) de tratamento paritário dos sujeitos parciais do processo penal; d) da plenitude
de defesa do indiciado, acusado, ou condenado, com todos os meios e recursos a ela
inerentes; e) da publicidade dos autos processuais penais; f) da motivação dos atos
decisórios penais; e g) da fixação de prazo razoável de duração do processo penal.9
6 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 32.
7 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de. Teoria geral do
processo. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 82.
8 ROCHA, José de Albuquerque. Teoria geral do processo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 46.
9 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2. ed. São Paulo: RT,
2004, p. 69.

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Como decorrência do princípio do devido processo penal, impõe-se como regra


a independência das instâncias administrativa e penal, conforme orientação do STJ.10

1.3.2 Princípio da ampla defesa


O princípio da ampla defesa encontra-se, juntamente com o contraditório, no
inciso LV do Art. 5° da CF/1988, preceituando que aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
A defesa não é uma generosidade, ressalta Rui Portanova, mas “um interes-
se público. Para além de uma garantia constitucional de qualquer país, o direito de
defender-se é essencial a todo e qualquer Estado que se pretenda minimamente
democrático”.11
A ampla defesa pressupõe a garantia do contraditório, porque somente existirá
quando se possibilitar ao réu o direito à informação e a oportunidade de reação.
José Frederico Marques leciona que “o direito de defesa, em sua significação mais
ampla, está latente em todos os preceitos emanados do Estado, como substractum
da ordem legal, por ser o fundamento primário da segurança jurídica na vida social
organizada”.12
Principais consequências do princípio da ampla defesa: a) a defesa deve se ma-
nifestar após a acusação, justamente para ter condição de contraditar as imputações;
b) a imprescindibilidade da defesa técnica; c) somente serão consideradas válidas as
provas produzidas sob o pálio da ampla defesa.
A ampla defesa divide-se em autodefesa (exercida pelo próprio acusado) e
defesa técnica (exercida pelo advogado constituído ou pelo Defensor Público). A
autodefesa não é obrigatória, podendo o acusado deixar de exercê-la. Entretanto, a
defesa técnica é imprescindível, sob pena de nulidade absoluta do processo.

FIQUE LIGADO!
O STJ julgou recentemente caso em que o advogado de um réu deixou de
apresentar três peças processuais, mesmo tendo sido devidamente intima-
do. A não apresentação de uma peça processual, por si só, não acarreta nu-
lidade. Todavia, caso seja provado efetivamente prejuízo para a defesa, o
processo será nulo. Nesse sentido, versa a Súmula 523 do STF: No processo
penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência
só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

10 STJ, HC 77.228/RS, 13.11.2007.


11 PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 125.
12 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2. ed. Campinas: Millennium, 2000.
vol. II, p. 301.

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1.3.3 Princípio do contraditório


O princípio do contraditório, previsto no inc. LX da CF/1988, constitui um dos
traços característicos da tendência garantista do sistema acusatório.13
Direito subjetivo público constitucional de natureza processual do acusado é de-
finido por Joaquim Canuto Mendes de Almeida como a “ciência bilateral dos atos e
termos processuais e possibilidade de contrariá-los”.14
Traduz-se no binômio informação/reação: a informação é necessária; a reação,
possível.15 Para ser pleno, envolve a fase de conhecimento e fase de reação.
Somente a prova penal produzida em juízo pelo órgão da acusação
penal, sob a égide da garantia constitucional do contraditório , pode reves-
A defesa pode apresentar tir-se de eficácia jurídica suficiente para legitimar a prolação de um decreto
reperguntas? Sim. Trata-se de condenatório.16
uma decorrência do princípio Por isso, considera Leonardo Greco, “ninguém pode ser atingido por
do contraditório, conforme uma decisão judicial na sua esfera de interesses sem ter tido ampla possi-
julgado do STJ: O interrogatório
bilidade de influir eficazmente na sua formação”.18
é essencialmente meio de
defesa. No entanto, se do A maior ou menor idoneidade de uma prova, considerada no mo-
interrogatório exsurgir delação mento de sua avaliação pelo juiz, observa Paulo Tonini, depende da forma
de outro acusado, sobrevém como ela foi elaborada, isto é, saber se passou por um procedimento con-
para a defesa deste o direito trolado ou não.19
de apresentar reperguntas. Tal
decorre de um modelo proces-
Exemplo disso são as provas colhidas no inquérito policial, somente
sual penal garantista, marcado válidas depois de confirmação em juízo, com a oportunidade de manifes-
pelo devido processo legal, tação das partes.20
generoso feixe de garantias. Alguns desdobramentos do princípio do contraditório: a) direito de
A vedação do exercício de tal obter todas as informações do processo; b) direito de contraditar as im-
direito macula o contraditório e putações atribuídas ao acusado; c) direito de requerer e de acompanhar
revela nulidade irresgatável.17
a produção das provas; d) direito de se manifestar em relação às provas.

FIQUE LIGADO!
Excepcionalmente, o contraditório poderá ser postergado ou diferido,
como acontece em relação às provas colhidas na fase de investigação cri-
minal, porque não existe ainda acusação formal.

13 FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão – Teoria do Garantismo Penal. 3. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 32.
14 ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes de. Princípios fundamentais do processo penal. São Paulo: RT, 1973, p. 81.
15 Neste sentido, vide: FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 73.
16 STF, HC 73.338, 1.ª Turma, DJ 19.12.1996.
17 STJ, HC 83.875/GO, 04.08.2008.
18 GRECO, Leonardo. Garantias fundamentais do processo: o processo justo. Revista Jurídica, ano 51, n.
305, mar. 2003, p. 72-73.
19 TONINI, Paolo. A prova no processo penal italiano. São Paulo: RT, 2002, p. 70.
20 Neste sentido, vide: SUANNES, Adauto e COSTA, Vagner da. Procedimento investigatório realizado pelo
Ministério Público e o devido processo penal. Revista Jurídica, ano 52, n. 318, abr. 2004, p. 93.

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1.3.4 Princípio da dignidade da pessoa humana


Todos os princípios do devido processo penal constitucional são inspirados pelo
princípio da dignidade da pessoa humana.
Ingo Wolfgang Sarlet conceitua a dignidade da pessoa humana como “a qualida-
de intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito
e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um
com plexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra
todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as
condições existenciais mínimas para uma vida saudável”.21
A tutela constitucional da dignidade da pessoa humana concede ao suspeito ou
ao acusado a recusa em submeterem-se a situações degradantes, como, por exemplo,
exames de partes íntimas indevidos.22
Tratando-se de princípio estruturante, deve orientar toda a interpretação do direito
processual penal, evitando práticas que deixam de lado o sistema constitucional em vigor.

1.3.5 Princípio da duração razoável do processo


Contemplada na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica) e no inc. LXXVIII do Art. 5° da CF/1988, acrescentado pela Emenda Constitucional
45 (Reforma do Poder Judiciário), o princípio da duração razoável do processo pode ser con-
ceituado como o direito assegurado a todas as pessoas, no âmbito judicial e administrativo,
a um prazo razoável de duração do processo e aos meios que garantam a sua celeridade.
De acordo com o STJ, em situações excepcionais, o excesso de prazo pode ser
justificado em razão da complexidade do processo: Assim, a visão do excesso de
prazo não se submete apenas à análise de parâmetros aritméticos, mas depende das
complexas circunstâncias do procedimento, justificadoras, muitas vezes, de eventual
demora no julgamento. Portanto, razoável se mostra a dilação do término do processo,
pela natureza da persecutio criminis, para a perquirição da verdade real e exercício
tanto da ampla defesa quanto do contraditório em caso de processos complexos.23

1.3.6 Princípio da proporcionalidade


O princípio da proporcionalidade é depreendido do disposto no § 2°, do Art. 5°,
da CF/1988, preceituando que os direitos e garantias expressos não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios a ela inerentes.
Por ser considerado harmonizador dos princípios constitucionais que regem di-
reitos fundamentais dentro do Estado Democrático de Direito, costuma-se, na exata
colocação de Willis Santiago Guerra Filho, identificar o princípio da proporcionalidade
como um “princípio dos princípios”, na medida em que busca uma “solução de com-
promisso”, prestando-se a resolver o grande dilema da interpretação constitucional.24
21 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. 3. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2004, p. 60.
22 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Exame de DNA e o princípio da dignidade da pessoa humana. Notícia do direito
brasileiro, n. 7, Brasília, 2000, p. 363-372.
23 STJ, HC 111.215/SP, 13.04.2009.
24 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo constitucional e direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Celso
Bastos Editor, 2001, p. 61.

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Destaca-se como a forma mais eficaz de interpretar os direitos fundamentais à


luz dos valores inseridos na Constituição e arraigados na história e na cultura de uma
sociedade; ou seja, insere-se em uma nova fase da hermenêutica constitucional, na
qual se busca o resgate dos valores.25

1.3.7 Princípio do silêncio (da não produção de provas contra si mesmo, da


não autoincriminação, ou ainda nemo tenetur se detegere)
Concebido a partir das críticas históricas ao sistema de obtenção de provas por
meio de tortura, consiste no direito assegurado ao acusado de não contribuir para a
sua própria condenação, decorrente da própria dignidade da pessoa humana.
Trata-se ainda de legítimo meio de defesa, inserido no inc. LXIII do Art. 5° da
CF/1988: o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer ca-
lado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.
O direito ao silêncio, segundo define João Cláudio Couceiro, é um di-
O direito ao silêncio do reito genérico da pessoa a não colaborar na produção de prova que venha
acusado obstaculiza normas a prejudicá-la.26
que incentivam o acusado
a colaborar na colheita Consoante o pensamento de Maria Elizabeth Queijo, “o fundamento do
de provas? Não. Diversos privilégio contra a autoincriminação é a dignidade do ser humano e a proteção
dispositivos preveem a de certo âmbito de sua privacidade – a qual deve ser garantida por um Estado
colaboração como causa de de Direito – prevalecendo sobre a finalidade de averiguar a verdade em um
diminuição de pena, como
procedimento investigatório, ainda que ninguém possa conhecer melhor esta
é o caso das figuras do
verdade que o próprio investigado”.27
arrependimento posterior
e da delação premiada, ou Em verdade, o princípio da não autoincriminação deriva justamente
mesmo como circunstância do direito ao silêncio . Por outro lado, o direito ao silêncio se presta para
atenuante de pena. assegurar a não autoincriminação de um acusado.28

FIQUE LIGADO!
O direito ao silêncio é assegurado ao acusado, não se estendendo à
testemunha. Em verdade, a testemunha somente pode alegar o direito
ao silêncio, quando a informação que possui lhe autoincrimina. Afora
essa hipótese, não pode se recusar a prestar as informações necessárias,
assumindo o compromisso de dizer a verdade.

25 LIMA, Francisco Meton Marques de. O resgate dos valores na interpretação constitucional. Fortaleza:
ABC Editora, 2001, p. 22.
26 COUCEIRO, João Cláudio. A garantia constitucional do direito ao silêncio. São Paulo: RT, 2004, p. 148.
27 QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo. São Paulo: Saraiva, 2003, p.
81.
28 ESPÍNOLA FILHO, Eduardo. Código de processo penal brasileiro anotado. São Paulo: Bookseller, 2000.
vol. 3, p. 16-18.

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1.3.8 Princípio da verdade real


É o princípio segundo o qual o juiz não pode exercer a função de mero Se uma testemunha não
condutor da atividade probatória desenvolvida pelas partes, podendo em for elencada pela parte, o
determinadas situações agir de ofício para complementar o conjunto proba- juiz poderá ouvi-la? Sim.
tório e dirimir dúvidas. Buscando dirimir alguma
dúvida, o juiz pode deter-
Obviamente, em regra, a iniciativa da perquirição probatória cabe minar de ofício a ouvida
às partes. Contudo, em face da necessidade de se aproximar da verdade da testemunha, conforme
dos fatos, reconstruindo os acontecimentos, o juiz não estará obrigado a dispõe o Art. 209 do CPP: O
esperar a iniciativa das partes, como frequentemente procede no Direito juiz, quando julgar neces-
Processual Civil. No processo penal, o juiz faz a história do processo.29 sário, poderá ouvir outras
testemunhas, além das
Algumas decorrências do princípio da verdade real, de acordo com o STJ: indicadas pelas partes.
1ª O órgão do Ministério Público, assim como a Autoridade Poli-
cial, indubitavelmente, podem realizar diligências investigatórias a fim de
elucidar a materialidade de crime e indícios de autoria, mediante a colheita
de elementos de convicção, na busca da verdade real, observados os limi-
tes legais e constitucionais.30
2ª O juiz poderá indeferir as diligências manifestamente procrastinatórias:
Caracterizado o intuito procrastinatório da defesa, eis que a oitiva das tes-
temunhas domiciliadas em outros países em nada influenciaria
na busca da verdade real, pois inexiste referência de que, à época
dos supostos delitos, as referidas testemunhas estivessem no lo-
O juiz pode requisitar de ofí-
cal dos fatos, ou sequer no Brasil.31
cio documentos? Em outras
3ª Em alguns casos, a necessidade de oitiva extemporânea de palavras, poderá determinar
testemunha. apresentação de documen-
4ª A readequação da denúncia à realidade dos fatos tem como tos, ainda que as partes não
demonstrem interesse? Sim.
fundamento o princípio da verdade real, não havendo que se fa-
Está autorizado, nos termos
lar em lesão ao princípio da ampla defesa se foi concedida ao do Art. 234 do CPP: Se o juiz
acusado a oportunidade de produzir provas em relação ao fato tiver notícia da existência
novo, bem como contraditá-lo amplamente. de documento relativo a
Em busca da verdade real, o juiz pode determinar, inclusive de ofício , ponto relevante da acusação
ou da defesa, providenciará,
a realização de um novo interrogatório do acusado, nos termos do Art. 196
independentemente de re-
do CPP: A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício querimento de qualquer das
ou a pedido fundamentado de qualquer das partes. partes, para sua juntada aos
No âmbito do processo civil, prevalece a verdade formal. Por isso mes- autos, se possível. O mesmo
raciocínio aplica-se em
mo, se uma parte não contesta o alegado pela outra, o fato não contestado
relação à busca e apreensão,
é tido como verdadeiro. No processo penal, isso é inadmissível, justamente
conforme dispõe o Art. 242
por causa do princípio da verdade real, corolário do estado de inocência. do CPP: A busca poderá ser
Nem mesmo o princípio da verdade real é considerado absoluto. Assim, determinada de ofício ou a
não se admite prova ilícita, salvo para provar a inocência do acusado. Também requerimento de qualquer
das partes.
não se admite, nos termos do Art. 479 do CPP, no Tribunal do Júri, a leitura de
29 CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. São Paulo: Conan, 1995, p. 43.
30 STJ, RMS 22.050/RS, 24.09.2007.
31 STJ, HC 62.751/PB, 04.06.2007.

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documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antece-
dência mínima de 3 (três) dias úteis. Outro exemplo é a revisão criminal, exclusiva da
defesa, não podendo ser proposta contra o réu, nem mesmo diante de novas provas.

1.3.9 Princípio da audiência bilateral


Decorrente do princípio do contraditório, estabelece que toda prova admite
uma contraprova, sob pena de não vir a ser admitida, conforme reiterados julgados
do STJ: O princípio do contraditório traduz a bilateralidade do processo, ou seja, asse-
gura às partes a isonomia processual e a igualdade de condições, de modo que, como
o órgão acusatório e a defesa não tiveram, até o momento da audiência de inquirição
das testemunhas da acusação, em decorrência da natureza sigilosa da diligência (Art.
8° da Lei n° 9.296/1996), acesso ao teor da degravação da interceptação telefônica
licitamente obtida, o equilíbrio processual, pilar do citado corolário, foi mantido. Não
tendo sido a instrução criminal encerrada, caberá à defesa, após a ciência bilateral do
teor da diligência, intervir no processo e contraditar o laudo de gravação de intercep-
tação telefônica.32 (grifo nosso)

1.3.10 Princípio da regularidade procedimental


A justiça processual requer regularidade procedimental, igualdade entre as par-
tes, imparcialidade do julgador, contraditório e impugnabilidade das decisões.33

1.3.11 Princípio da proibição de provas ilícitas


A garantia da proibição das provas ilícitas tutela o direito constitucional à li-
citude da prova, decorrente da nova ordem constitucional, guiada por um sistema
de garantias fundamentais segundo o qual o Estado deve imprimir em todas as suas
atividades a força normativa da Constituição.34
A vedação constitucional de provas ilícitas insere-se ainda na esfera de pro-
teção à intimidade como direito que constitui atributo da personalidade; proces-
sualmente, relaciona-se com o devido processo legal.35
Em sentido estrito, entende-se por prova ilícita aquela prova colhida infringindo-
-se normas ou princípios colocados pela Constituição e pelas leis, frequentemente
para a proteção das liberdades públicas e dos direitos da personalidade e daquela
sua manifestação que é o direito à intimidade.36 Nesse sentido, constituiriam provas
ilícitas aquelas colhidas mediante violação de domicílio, de interceptação telefônica
ilegal, de lesão ao sigilo profissional, de prática de tortura, dentre outras práticas que
lesam diretamente direitos e garantias de natureza constitucional.

32 STJ, RHC 15.134/SP, 07.03.2005.


33 Neste sentido, vide: MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. A interpretação da ampla defesa no processo
penal conforme a Constituição. Revista Jurídica, ano 49, n. 289, nov. 2001, p. 89.
34 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003, p. 347.
35 AZEVEDO, David Teixeira de. O interrogatório do réu e o direito ao silêncio. Revista dos Tribunais. São
Paulo: RT, vol. 682, p. 288, ago. 1992. No mesmo sentido: ROSSETTO, Enio Luiz. A confissão no processo
penal. São Paulo: Atlas, 2001, p. 154.
36 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antônio Scarance; GOMES FILHO, Antônio Magalhães. 8. ed. As
nulidades no processo penal. São Paulo: RT, 2004, p. 156.

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NOÇÕES INICIAIS

Cabe observar que a prova “proibida” é o gênero, dividindo-se, doutrinariamente,


em prova ilícita, quando é ofendida norma de direito material; e prova ilegítima, quando
norma de direito processual.
Em sentido amplo, o conceito de prova ilícita abrange as provas ilícitas em sen-
tido estrito (violação de direito material) e as provas ilegítimas (violação de direito
processual).

1.3.12 Princípio da presunção de inocência (ou estado de inocência, ou


ainda da não culpabilidade)
A presunção de inocência constitui um dos pilares do sistema processual penal
denominado “garantista”. E por que “garantista”? Porque assegura que as pessoas
não serão condenadas com base em suspeitas, ou em meras conjecturas, ou mesmo
provas insuficientes para a formação de um juízo de certeza.
Esse “estado de inocência” somente pode ser afastado após o trânsito em jul-
gado da sentença penal condenatória. Justamente por isso, decorre da presunção de
inocência a proibição de prisões automáticas, isto é, sem séria fundamentação legal,
bem como a antecipação da sanção penal por meio da execução provisória, conforme,
inclusive, já decidiu em reiteradas decisões o Supremo Tribunal Federal.
A Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San
José da Costa Rica, prevê expressamente, no Art. 8.2, entre as garantias processuais
mínimas que toda pessoa acusada de um delito tem o direito que se presuma sua ino-
cência, enquanto não se comprove legalmente a sua culpa.37
O inciso LVII do Art. 5° da CF/1988 preceitua: ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
Gustavo Badaró analisa o princípio da presunção de inocência sobre vários enfo-
ques: a) como garantia política do estado de inocência; b) como regra de julgamento
no caso de dúvida: in dubio pro reo; c) como regra de tratamento do acusado ao longo
do processo.38

1.3.13 Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais


A motivação das decisões judiciais, incorporada na Constituição Federal, observa
Suzana de Toledo Barros, é assegurada pelo princípio do devido processo legal.39
É o princípio segundo o qual o juiz tem a obrigação de explicar sua decisão. Em
outras palavras, trata-se da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais,
prevista expressamente no inc. IX do Art. 93 da CF/1988: Todos os julgamentos dos ór-
gãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena
de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes
e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

37 STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A Convenção Americana: sobre Direitos Humanos e sua integra-
ção ao processo penal brasileiro. São Paulo: RT, 2000, p. 90.
38 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: RT, 2003, p. 280.
39 BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das
leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 61.

21
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

FIQUE LIGADO!
A antiga e sólida orientação dos tribunais superiores era no sentido de que
o princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais sofria
uma exceção na hipótese do recebimento da denúncia ou da queixa, por-
que essa decisão não precisaria de fundamentação. Contudo, a partir da
reforma do CPP (Lei n° 11.719/2008), o referido ato de recebimento da de-
núncia ou da queixa passou a exigir fundamentação, ainda que sucinta.40
Ainda assim, continua sendo uma mitigação ao princípio da obrigação de
motivação das decisões judiciais, porque o STJ entende que a fundamenta-
ção pode ser sucinta.

1.3.14 Princípio da publicidade


O princípio constitucional da publicidade é característico do modelo processual
“acusatório”, refletindo, inclusive, na consecução de outros princípios como o contra-
ditório e a ampla defesa, na medida em que se traduz em qualidade de informações,
necessária para assegurar a “paridade de armas” e a mais ampla defesa.
Destaca-se por proclamar a plena publicidade dos atos processuais. Isso não significa
que seja absoluto, porque obviamente comporta exceções, nos termos do inc. LX do Art. 5°
da CF/1988: a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem.
Apregoa-se a existência do princípio da publicidade como extensão do devido
processo legal.41 Na verdade, guarda relevância também na própria fiscalização do Es-
tado na persecução penal, quando se procura averiguar o cumprimento dos preceitos
do devido processo legal.
Exceções previstas no CPP ao princípio da publicidade: 1ª – O juiz tomará as pro-
vidências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do
ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados,
depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua
exposição aos meios de comunicação (§ 6° do Art. 201); 2ª – O juiz presidente adver-
tirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção que possa perturbar
a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenien-
temente (§ 2° do Art. 485); 3ª – Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato
processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação
da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento
da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fecha-
das, limitando o número de pessoas que possam estar presentes (§ 1° do Art. 792).

40 STJ, RHC 23.709/RS, 14.06.2010.


41 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2. ed. São Paulo: RT,
2004, p. 69.

22
NOÇÕES INICIAIS

1.3.15 Princípio da oralidade


Conforme decidiu o STJ, o princípio da oralidade relaciona-se diretamente com o
princípio da verdade real, constituindo uma das formas de assegurar o último: Titula-
riza, pois, o Juiz o poder-dever legal de proteger a produção da prova oral, asseguran-
do, em obséquio da verdade real, a liberdade subjetiva das testemunhas e vítimas.42
O princípio da oralidade terminou ganhando mais relevância com a recente re-
forma do CPP, objetivando a celeridade processual e a duração razoável do processo.

1.3.16 Princípio da não hierarquia das provas


Não existe hierarquia de provas, isto é, as provas devem ser consideradas em
seu conjunto, sem preponderância predefinida de qualquer delas. Na valoração das
provas, o juiz deve analisar as circunstâncias concretas reveladas na instrução.43

1.3.17 Princípio da voluntariedade dos recursos


Trata-se do princípio, previsto no Art. 574 do CPP, segundo o qual, se a defesa foi
intimada da sentença de pronúncia e não manifestou a pretensão de recorrer, é aplicá-
vel a regra processual da voluntariedade dos recursos. Em síntese, como os recursos,
em regra, são voluntários, cabe à parte analisar a necessidade de recorrer.

1.3.18 Princípio da iniciativa das partes


Também denominado princípio da demanda (ou ne procedat iudex ex officio,
ou não há processo sem ação, ou ainda nemo iudex sine actore), trata-se do princípio
segundo o qual a instauração do processo precisa da iniciativa da parte, no caso o
Ministério Público, nos crimes de ação penal pública; e o querelante (ofendido), nos
crimes de ação penal privada.
O Art. 26 do CPP (antigo procedimento judicialiforme) não foi recepcionado
pela CF/1988.

1.3.19 Princípio da economia processual


Relacionando-se com os princípios da eficiência e da duração razoável
do processo, consiste na busca de alternativas processuais com o intuito de
tornar o procedimento mais simples e mais célere. Destaca-se particular-
O princípio in dubio pro reu
mente na Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei n° 9.099). é a regra. Em determinadas
situações, vigora o prin-
1.3.20 Princípio in dubio pro reu (ou da dúvida razoável, ou do favor rei ) cípio inverso in dubio pro
societatis (exceção). Nesse
Trata-se do princípio segundo o qual, havendo uma dúvida razoável, sentido, conforme já decidiu
a interpretação deve ser a mais favorável ao réu. Relaciona-se diretamente o STF, a ação penal, na fase
com o princípio da presunção de não culpabilidade. Possui vários efeitos, do oferecimento da denún-
como, por exemplo, a necessidade da sentença condenatória se basear em cia, é regida pelo princípio
juízo de certeza. 44 in dubio pro societatis.44
Outra exceção é o in dubio
42 STJ, HC 41.233/SP, 06.02.2006. pro societatis adotado na
43 STJ, HC 40.280/MG, 12.04.2005. pronúncia no âmbito do
Tribunal do Júri.
44 STF, HC 93.341/SP, 05.08.2008.

23
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

1.3.21 Princípio da imparcialidade do juiz


A imparcialidade, conforme ensinam
Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar,
“é entendida como característica essencial
Alguns autores confundem imparcialidade com neu-
do perfil do juiz consistente em não poder tralidade. O juiz deve ser imparcial, mas não neutro. A
ter vínculos subjetivos com o processo de neutralidade seria impossível. A doutrina contemporânea
modo a lhe tirar o afastamento necessário do processo penal não admite mais a visão tradicional do
para conduzi-lo com isenção”.45 Poder Judiciário como órgão “neutro”. A sua atividade,
especificamente na instrução probatória, deve ser impeli-
A CF/1988 assegura um feixe de da pela força vinculante da Constituição e dos valores nela
garantias necessárias para assegurar a proclamados. Nas palavras de José de Albuquerque Rocha,
imparcialidade do juiz . Assim, dispõe “deve deixar de ser o fiel aplicador de normas ordinárias,
em seu Art. 95 que os juízes gozam das garantidoras da sociedade que temos hoje, para trans-
garantias da vitaliciedade, da inamovibi- formar-se em concretizador de normas constitucionais
lidade e da irredutibilidade de subsídio.46 promotoras de um novo modelo de sociedade”.46

FIQUE LIGADO!
A Nova Lei de Combate às Organizações Criminosas (Lei n° 12.850/2013)
aboliu a figura do “juiz investigador”, prevista na lei anterior, no Art. 3° da
revogada Lei n° 9.034/1995, não havendo mais possibilidade de o juiz se
envolver na investigação de organizações criminosas, salvo para autorizar
procedimentos que estão sob a cláusula de reserva de jurisdição, como
é o caso de interceptações telefônicas, gravações ambientais, quebra de
sigilo bancário e fiscal, busca e apreensão domiciliar, operação de agentes
infiltrados, dentre outros procedimentos que dependem de ordem judi-
cial. Afora isso, no curso da investigação criminal, cabe ao juiz exercer o
controle de legalidade das investigações, devendo ser acionado quando
forem verificados abusos e ilegalidades na condução das diligências pro-
batórias. A título apenas de curiosidade, antes mesmo da nova Lei, na ADI/
DF 1.570, o Supremo Tribunal Federal já tinha declarado a inconstitucio-
nalidade da figura do juiz investigador: Busca e apreensão de documentos
relacionados ao pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo
magistrado. Comprometimento do princípio da imparcialidade e conse-
quente violação ao devido processo legal. 3. Funções de investigador e in-
quisidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e às Polícias Federal
e Civil (CF, Art. 129, I e VIII e § 2°; e 144, § 1°, I e IV, e § 4°). A realização de
inquérito é função que a Constituição reserva à polícia.47

45 TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 6. ed. Salvador:
JusPodivm, 2011, p. 56.
46 ROCHA, José de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judiciário. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 112.
47 STF, ADI/DF 1.570, j. 12.02.2004, Tribunal Pleno.

24
NOÇÕES INICIAIS

1.3.22 Princípio da isonomia processual (ou da igualdade processual)


O princípio da isonomia vela pelo equilíbrio na relação processual, distribuindo en-
tre as partes (defesa e acusação) as mesmas oportunidades, de forma a alcançar um pro-
cesso justo. Por isso mesmo, possui uma relação de proximidade com o princípio do con-
traditório, porque a denominada “paridade de armas” decorre da isonomia processual.
O princípio da isonomia deve levar em conta não apenas a igualdade no pla-
no formal, mas essencialmente no plano material. A igualdade material é o desafio
principal para a efetivação do princípio da isonomia no processo penal, evitando que
pessoas inocentes sejam condenadas, porque não tiveram condições de equilibrar for-
ças com o Estado no curso da persecução criminal. Liga-se o contraditório, na exata
observação de Antônio Scarance Fernandes, ao princípio da paridade de armas, sendo
mister, para um contraditório efetivo, estarem as partes munidas de forças similares.48
Em síntese, trata-se do princípio segundo o qual se deve assegurar às partes a
possibilidade de participação na produção de prova em igualdade.

1.3.23 Princípio do duplo grau de jurisdição


Este princípio, segundo observam Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar,
“assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, através do sistema recur-
sal, onde as decisões do juízo a quo podem ser reapreciadas pelos tribunais”.49
A maioria da doutrina e as decisões jurisprudenciais mais recentes orientam-se
no sentido da constitucionalidade do princípio do duplo grau de jurisdição.
A garantia do devido processo legal engloba o direito ao duplo grau de jurisdição,
sobrepondo-se à regra do Art. 594 do CPP (atualmente revogado pela Lei n° 11.719/2008),
de forma que o regular processamento do recurso de apelação interposto pela defesa
independe do recolhimento do condenado à prisão. O dever judicial de motivação das
decisões é corolário do devido processo legal, que viabiliza às partes o exercício do duplo
grau de jurisdição, além de permitir a todos a fiscalização da atuação do Poder Judiciário.50
Em síntese, trata-se de princípio constitucional implícito.

1.3.24 Princípio do juiz natural Conforme orientação do STJ, em


respeito ao princípio do juiz natural,
O princípio do juiz natural decorre do devido processo legal.51 somente é cabível a exclusão das
A cláusula do devido processo legal é comumente conceituada como qualificadoras na sentença de
uma garantia constitucional pela qual ficam assegurados aos sujeitos pronúncia quando manifestamente
processuais parciais o estabelecimento e o respeito a um processo improcedentes e descabidas,
judicial instituído legitimamente por lei e conduzido por um juiz na- porquanto a decisão acerca da sua
tural, independente e imparcial.52 caracterização ou não deve ficar a
cargo do Conselho de Sentença, con-
48 FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: RT, forme já decidido por esta Corte.53
2003, p. 73.
49 TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 6. ed. Salvador:
JusPodivm, 2011, p. 56.
50 STJ, HC 82.757/RJ, 21.06.2010.
51 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2. ed. São Paulo: RT, 2004, p. 69.
52 BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das
leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 61.
53 STJ, HC 111.552/MG, 26.04.2010.

25
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

Na Constituição Federal de 1988, encontra-se no inc. LIII do Art. 5°, assim dis-
posto: ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.

FIQUE LIGADO!
Súmula 704 do STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa
e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do proces-
so do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
De acordo com a mais recente orientação do STJ, os julgamentos de recursos
proferidos por Câmara composta, majoritariamente, por juízes de primeiro grau
não são nulos, eis que não violam o princípio do juiz natural.54 No mesmo
sentido: A composição majoritária do órgão julgador de Tribunal por juízes
de primeiro grau, desde que observada a lei de regência, como se deu no
caso, não malfere o princípio constitucional do juiz natural.55

1.3.25 Princípio do promotor natural (ou legal)


O princípio do promotor natural encontra sua previsão no inc. LIII do Art. 5° da
CF/1988, fazendo parte do conjunto de garantias que compõem o devido processo
legal. Nos termos do § 2°, do Art. 129, da CF/1988, as funções do Ministério Público
só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da
respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição.
Diante do princípio do promotor natural e da atual configuração constitucional
do Ministério Público, observa Eugênio Pacelli de Oliveira, “torna-se absolutamente
impensável a figura do promotor ad hoc, isto é, a nomeação de advogado para o exer-
cício temporário e precário das funções ministeriais”.56
O STJ e o STF consagram o princípio constitucional do promotor natural: Inocor-
rendo lesão ao exercício pleno e independente das atribuições do Ministério Público,
não há como reconhecer violação ao princípio do Promotor Natural.57

1.3.26 Princípio do defensor natural


Parte da doutrina não inclui o princípio do defensor natural entre os princípios
do processo penal. Outra corrente defende a sua existência justamente para evitar
a nomeação do “advogado dativo” para cumprimento de formalidades do processo,
sem o compromisso de uma defesa qualificada e eficiente. O “defensor natural” cons-
tituiria uma garantia a favor da mais ampla defesa.
Trata-se do princípio segundo o qual não se pode nomear defensor público di-
verso daquele que possui atribuição legal para atuar na causa, como bem observam
54 STJ, HC 154.376/SP, 17.12.2010.
55 STJ, HC 117.537/DF, 02.08.2010.
56 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 443.
57 STJ, REsp 945.556/MG, 29.11.2010.

26
NOÇÕES INICIAIS

Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar: “Trata-se de uma proteção contra o arbítrio
em razão da possibilidade de nomeação de defensor dativo por parte do juiz ou contra
designações do defensor público geral que desatendam as normas que traçam as atri-
buições das defensorias públicas, cujos membros são revestidos de inamovibilidade”.58
Para que se observe adequadamente o grau de eficiência exigida do Defensor
Público como agente político indispensável para o desenvolvimento da jurisdição,
deve-se assegurar a condição de Defensor Natural, garantia de engajamento e atua-
ção satisfatória, sem interferência política de qualquer ordem, relevante ainda para
apagar a antiga figura do “advogado dativo”.
O Defensor Natural, conforme conceitua Frederico Rodrigues Viana de Lima,
consiste na “garantia de que não serão eleitos critérios casuísticos para determinar
qual o Defensor Público que atuará em cada caso. As regras internas de cada Defenso-
ria Pública devem definir as atribuições dos seus órgãos de execução, de modo que a
distribuição dos processos ocorra aleatoriamente”.59
Em síntese, o Defensor Natural é direito subjetivo da pessoa juridicamente ne-
cessitada, devendo este pressuposto ser devidamente atestado para evitar o desvir-
tuamento das funções da Defensoria Pública e, destacadamente, para se desvincular
dos interesses de governos, implantando um sistema de justiça menos seletivo, mais
cooperativo e democrático.

1.3.27 Princípio da obrigatoriedade (ou da legalidade)


Trata-se do princípio segundo o qual caberia ao representante ministerial oferecer
denúncia caso sua opinio delicti apontasse para a ocorrência do delito.60 Dessa forma, sua
ação é guiada pelo cumprimento do dever legal, e não pela oportunidade e conveniência,
como acontece na ação penal privada. Em outras palavras, nos crimes de ação penal pú-
blica, o interesse na persecução penal é público, e não discricionário do Ministério Público.
Dessa forma, por exemplo, se no curso de determinada investigação, o Minis-
tério Público verificar a ocorrência de ilícito penal, com fundamento no princípio da
obrigatoriedade, deve iniciar a persecução penal.61
Nos termos do Art. 39, § 5°, do CPP, o órgão ministerial deve promover
a ação penal se estiver munido de elementos necessários ao oferecimento
da denúncia: O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com O princípio da obrigatoriedade,
a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover presente nos crimes de ação
a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. penal pública, comporta
exceções, como, por exemplo,
O princípio da obrigatoriedade , destaca Guilherme de Sousa Nucci, a transação penal (Art. 76 da
“significa não ter o órgão acusatório, nem tampouco o encarregado da Lei n° 9.099/1995). No caso
investigação, a faculdade de investigar e buscar a punição do autor da desta, aplica-se o princípio da
infração penal, mas o dever de fazê-lo”.62 oportunidade.

58 TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 4. ed. Salvador:
JusPodivm, 2010, p. 38.
59 LIMA, Frederico Rodrigues Viana de. Defensoria Pública. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2012, p. 107.
60 STJ, REsp 1.059.368/SC, 19.12.2008.
61 STJ, REsp 681.612/GO, 19.10.2009.
62 NUCCI, Guilherme de Sousa. Manual de processo penal e execução penal. 6. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 49.

27
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

1.3.28 Princípio da plenitude de defesa


O princípio da plenitude de defesa é peculiar do Tribunal do Júri, encontrando
previsão no inc. XXXVIII do Art. 5° da CF/1988.
Francisco Dirceu Barros identifica a plenitude de defesa como o direito à defesa téc-
nica, à publicidade do processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processa-
do e julgado pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal.63
Contudo, não é o suficiente para distinguir ampla defesa de plenitude de defesa.
Afinal, qual seria a exata diferença? A plenitude de defesa é definida por Guilher-
me de Souza Nucci, não somente como uma defesa ampla, mas completa, a mais próxi-
ma possível do perfeito, daí por que vários efeitos podem ser extraídos: “a) o juiz, no júri,
deve preocupar-se, de modo particularizado, com a qualidade da defesa produzida em
plenário, não arriscando a sorte do réu e, sendo preciso, declarando o acusado indefeso,
dissolvendo o Conselho e redesignando a sessão (Art. 497 do CPP); b) havendo possibili-
dade de tréplica, pode a defesa inovar nas suas teses, não representando tal ponto qual-
quer ofensa ao contraditório, princípio que deve ceder espaço à consagrada plenitude
de defesa; c) caso a defesa necessite de maior tempo para expor sua tese, sentindo-se
limitada pelo período estabelecido na lei ordinária, poderá pedir dilação ao magistrado
presidente, sem que isso implique igual concessão ao representante do Ministério”.64

1.3.29 Princípio da oficiosidade


O princípio da oficiosidade, decorrente do princípio da obrigatoriedade (ou da
legalidade), consiste no dever de atuação de ofício (ex officio) de autoridades em deter-
minadas hipóteses. Trata-se, por exemplo, na instauração de ofício do inquérito policial,
ou ainda da atuação de ofício do membro do Ministério Público na persecução criminal.
O princípio da oficiosidade não se aplica em determinadas situações (exceções),
em que existe a necessidade de iniciativa do ofendido, como, por exemplo, nos cri-
mes de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à representação. Por
exemplo, no crime de ação penal pública condicionada à representação, a autoridade
policial não poderá instaurar o inquérito policial, nem o Ministério Público oferecer a
denúncia, sem a representação da vítima.

1.3.30 Princípio do impulso oficial


Trata-se de princípio específico da atividade do juiz no curso do processo. O juiz
deve desenvolver a atividade necessária para passar de uma fase a outra do processo.

1.3.31 Princípio da oficialidade


As atividades do Estado devem ser desenvolvidas por órgãos com atribuições
legais. Dessa forma, os órgãos de Polícia Judiciária possuem a atribuição para proce-
der às investigações criminais, instaurando inquérito policial. O órgão do Ministério
Público possui atribuição para ingressar com as ações cabíveis, quando da prática de
infrações penais, buscando do Estado a aplicação da tutela penal para o caso.
63 BARROS, Francisco Dirceu. Direito processual penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, v. I, p. 30.
64 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 6. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 30.

28
NOÇÕES INICIAIS

Existe exceção ao princípio da oficialidade? Sim. No caso da ação penal priva-


da, a persecução penal é provocada pelo próprio ofendido, e não pelo Ministério
Público. Outra hipótese é ação por crime de responsabilidade, prevista no Art. 41 da
Lei n° 1.079/1950: É permitido a todo cidadão denunciar perante o Senado Federal,
os Ministros do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República, pelos
crimes de responsabilidade que cometerem.

1.3.32 Princípio da autoritariedade


É o princípio segundo o qual, anota Fernando Capez, “os órgãos investigantes e
processantes devem ser autoridades públicas”.65 Como se observa, o referido princípio
termina se confundido com o princípio da oficialidade. Inclusive, parte da doutrina
considera que são expressões sinônimas.

1.3.33 Princípio da indisponibilidade


É o princípio segundo o qual o Ministério Público não pode desistir
O princípio da indisponibi-
da ação penal pública, previsto no Art. 42 do CPP: O Ministério Público não
lidade comporta exceções,
poderá desistir da ação penal. Incide ainda na atuação da autoridade poli- justamente nas hipóteses
cial, proibindo-a de arquivar o inquérito policial, nos termos do Art. 17 do de ação penal privada e de
CPP: A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. transação penal (Art. 76 da
Lei n° 9.099/1995).
1.3.34 Princípio da imediatidade
Trata-se do princípio segundo o qual, em regra, os atos do processo, essen-
cialmente aqueles relacionados à instrução probatória, devem se desenvolver na
presença do juiz, para que este possa extrair da melhor maneira possível impressões
acerca do fato.

1.3.35 Princípio da concentração


Em regra, a instrução probatória deve se concentrar em uma única audiência,
otimizando o procedimento probatório, com o intuito de promover o princípio cons-
titucional da duração razoável do processo. Consiste em outro princípio que mereceu
destaque na recente reforma do CPP. Dessa forma, no procedimento comum, a au-
diência de instrução e julgamento deverá ser realizada no prazo máximo de 60 (ses-
senta) dias, procedendo-se à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos es-
clarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, in-
terrogando-se, em seguida, o acusado, sendo as provas produzidas numa só audiência
(Art. 400 do CPP).

1.3.36 Princípio da identidade física do juiz


O princípio da identidade física do juiz, em sintonia direta com a garantia do juiz
natural, é aquele segundo o qual o juiz que conduziu toda a instrução, na fase da per-
secução penal em juízo, deve ser o mesmo que irá proferir a sentença, justamente por
conhecer todo o histórico do conjunto probatório, bem como ter tido a oportunidade
de extrair impressões do contato mais próximo com as provas.
65 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 34.

29
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

O princípio da identidade física do juiz é a regra. Obviamente, existem situações


em que não será possível aplicá-lo, como, por exemplo, no caso de morte do magis-
trado, ou aposentadoria, ou ainda promoção. Conforme dispõe o Art. 3° do CPP, será
admitida a aplicação analógica, quando for preciso. Portanto, aplicam-se as mesmas
exceções do Art. 132 do CPC: O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência jul-
gará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, pro-
movido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. As exceções,
inclusive, são importantes para garantir o princípio da duração razoável do processo,
evitando todos os danos que a demora processual pode ocasionar.
Antes da recente reforma do CPP, em regra, o referido princípio não estava pre-
sente no processo penal. A antiga lacuna, alvo de muitas críticas, foi corrigida a partir
da Lei n° 11.719/2008, consagrando o princípio da identidade física do juiz, no § 2° do
Art. 399 do CPP: O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

1.3.37 Princípio da suficiência


De acordo com o princípio da suficiência, a pena precisa ser adequada à lesividade
do delito, não se admitindo a sua fixação de forma excessiva. O juiz deve aplicar a
pena em concreto de forma justa, proporcional ao fato cometido. Em outras palavras,
nem mais nem menos, somente o necessário. Não pode incorrer no erro do rigor
excessivo, ou da benevolência geradora de impunidade.
Conforme orientação do STJ, o princípio da suficiência deve ser adotado em toda
e qualquer resposta penal, inclusive na aplicação de penas restritivas de direitos: A
substituição da pena privativa de liberdade pela sanção restritiva de direitos, pre-
vista no artigo 44 do CP, enquanto resposta penal em natureza, está subordinada,
inarredavelmente, ao princípio da suficiência.66

1.3.38 Princípio da audiência


O princípio constitucional da ampla defesa divide-se em defesa técnica (espe-
cífica) e a autodefesa (genérica). Conforme orientação do STJ, a autodefesa é exer-
cida exclusiva e pessoalmente pelo acusado, consubstanciando-se nos direitos de
presença e de audiência.
Assim, o princípio da audiência consagra o direito de presença, considerado como
a oportunidade de o acusado acompanhar, ao lado de seu defensor, todos os atos do pro-
cesso, assegurando a sua maior proximidade com o juiz, as razões e as provas. O direito
de audiência, por sua vez, traduz a possibilidade de o acusado influir, pessoalmente, na
formação do convencimento do magistrado, o que ocorre no momento do interrogatório
judicial, já que poderá oferecer a sua versão dos fatos, invocar o direito ao silêncio etc.67

1.4 Aplicação da Lei Processual Penal


1.4.1 Lei processual penal no tempo
O CPP adotou o princípio da imediata aplicação da lei processual penal (tempus
regit actum), previsto no Art. 2°: A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
66 STJ, HC 76.290/DF, DJe 22.09.2008.
67 STJ, HC 114.225/SP, 02.03.2009.

30
NOÇÕES INICIAIS

De fato, a lei processual penal aplicar-se-á de imediato. Contudo,


os atos praticados sob a vigência de lei anterior não serão renovados, isto
é, aplica-se a nova lei sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a Não confundir as leis proces-
vigência da lei anterior. suais com as leis penais. As
Foi adotado o denominado “sistema do isolamento dos atos proces- processuais não se submetem
ao princípio da retroatividade
suais”, segundo o qual, se uma lei processual penal passa a vigorar estando
da lei penal mais benéfica,
o processo em curso, ela será imediatamente aplicada, sem prejuízo dos conforme prevê o Art. 2° do
atos já realizados sob a vigência da lei anterior. Em outras palavras, cada ato CPP. A lei processual é aplicada
processual será considerado isoladamente, como uma unidade, não atin- imediatamente no processo em
gindo a lei processual penal nova os atos processuais anteriores. andamento, não importando se
o crime foi cometido antes ou
1.4.2 Lei processual penal no espaço após sua entrada em vigor, ou se
é ou não mais benéfica.
O CPP, em seu Art. 1°, adotou como regra o princípio da territoriali-
dade, segundo o qual a lei processual será aplicada aos crimes cometidos
em território brasileiro.
Cabe observar que o inc. IV (os
O mesmo dispositivo estabelece as seguintes exceções à regra da ter-
processos da competência do
ritorialidade: I – Tratados, convenções e regras de direito internacional; II – as tribunal especial) não se aplica
prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Es- mais, por não estar recepciona-
tado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do pela CF/1988, que consagra
do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade; III – os proces- o juiz natural e veda juízos de
sos da competência da Justiça Militar. exceção. O mesmo ocorre em re-
Ainda em relação à lei processual penal no espaço, o legislador estabe- lação ao inc. V (os processos por
leceu como lugar do crime o local onde aconteceu a ação (ou omissão) e onde crimes de imprensa), em face
aconteceu o resultado (teoria da ubiquidade), nos termos do Art. 6° do CP. de arguição de descumprimento
de preceito fundamental (ADPF
1.4.3 Interpretação extensiva, analogia e princípios gerais 130/DF), em que o STF decla-
rou a não recepção da Lei de
de direito Imprensa pela CF/1988. Dessa
forma, as lesões contra a honra
A lei processual penal admite interpretação extensiva e o suplemento
cometidas por meio da imprensa
dos princípios gerais de direito, por expressa disposição legal, do Art. 3° do devem ser responsabilizadas
CPP: A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação criminalmente com base nas
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. figuras típicas (calúnia, injúria e
A lei processual admite interpretação analógica (analogia legis). difamação) do Código Penal.
Dessa forma, determinada norma pode perfeitamente ser utilizada em si-
tuações de lacuna no ordenamento processual, desde que a hipótese seja semelhante.

DICAS IMPRESCINDÍVEIS
1) Como decorrência da evolução do pensamento acerca do princípio da presunção
de inocência, não existe mais a necessidade de o acusado se recolher à prisão
para apelar, tendo sido revogado o Art. 594 do CPP pela Lei n° 11.719/2008. O
STJ, em reiteradas decisões, homenageando o primado do estado de inocência,
não vem mais aplicando a sua antiga Súmula 9 (A exigência da prisão provisória,
para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência). E
mais: A aceitação da proposta de transação penal (Art. 76 da Lei n° 9.099/1995)

31
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

não configura maus antecedentes, não produzindo efeitos penais. Entendimento


contrário acarretaria lesão ao princípio da presunção de inocência.
2) Em caso de normas processuais penais híbridas, o juiz deve cindir o conteúdo
das regras, aplicando, imediatamente, o conteúdo processual penal e fazendo
retroagir o conteúdo de direito material, desde que mais benéfico ao acusado?
Não. As normas híbridas (ou mistas) são aquelas em que uma parte do conteú-
do é penal, enquanto a outra é processual. Conforme orientação doutrinária e
jurisprudencial majoritária, a lei processual penal híbrida não pode ser cindida:
Reiterada jurisprudência desta Corte no sentido de que as disposições do Art.
366 do CPP, com a sua nova redação dada pela Lei n° 9.271/96, sendo norma
de natureza híbrida, processual (suspensão do processo) e material (suspensão
da prescrição), não podem ser cindidas, sendo inaplicável por inteiro o citado
dispositivo legal às infrações cometidas antes da vigência da Lei n° 9.271/96.68
3) A regressão de regime (Ex.: semiaberto para fechado), prevista no Art. 118 da
Lei de Execuções Penais (LEP), quando o condenado pratica fato definido como
crime doloso, fere o princípio da presunção de inocência na medida em que não
espera o trânsito em julgado em relação a este fato novo? Não. Trata-se da orien-
tação amplamente majoritária: O cometimento de delito pelo apenado, durante
o resgate da reprimenda, justifica a regressão de regime, sendo desnecessário,
para tanto, o trânsito em julgado da nova condenação, inocorrendo, na espécie,
ofensa ao princípio da presunção de inocência.69 No mesmo sentido: Não há falar
em violação à presunção de inocência, pois a regressão de regime decorre da
conduta indisciplinar do apenado – que não faz jus ao benefício proporcionado
pelo regime mais brando. Não implica discussão a respeito da culpabilidade; ape-
nas desmerecimento pela falta grave praticada.70 A mesma linha de raciocínio é
adotada em relação à revogação da suspensão condicional do processo (“sursis
processual”), prevista no Art. 89 da Lei n° 9.099/1995.
4) As decisões judiciais ainda na investigação criminal (Ex.: decretação de inter-
ceptação telefônica) terão como base os elementos de prova colhidos nesta
fase, não desobrigando o juiz de fundamentar suficientemente suas posi-
ções. E mais: não se pode alegar ofensa aos princípios do contraditório e da
ampla defesa, porque o juiz não pode proceder de outra forma.
5) A publicidade dos atos processuais não é absoluta, mas sim restrita, justamente
porque comporta exceções (Ex.: resguardar a imagem da vítima). Ainda nessas
hipóteses de restrição, é importante destacar que a restrição se refere a tercei-
ros, não podendo atingir o acusado e as partes, porque ofenderia os princípios
do contraditório e da ampla defesa. Nesse sentido, dispõe o inc. IX do Art. 93 da
CF/1988: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar
a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.
6) Conforme orientação do STF, nenhuma afronta ao princípio do promotor natural
há no pedido de arquivamento dos autos do inquérito policial por um promotor de
68 STJ, REsp 280.656/RJ, 04.06.2001.
69 STJ, REsp 1.021.662/SP, 30.11.2009.
70 STJ, REsp 1.064.427/RS, 28.09.2009.

32
NOÇÕES INICIAIS

justiça e na oferta da denúncia por outro, indicado pelo Procurador-Geral de Jus-


tiça, após o Juízo local ter considerado improcedente o pedido de arquivamento.71
7) O princípio da iniciativa das partes não impede a concessão de habeas corpus
de ofício por juiz ou por Tribunal.
8) O princípio da indisponibilidade no processo penal incide ainda na fase
recursal, nos termos do Art. 576 do CPP: O Ministério Público não poderá
desistir de recurso que haja interposto.
9) Parte da doutrina considera que o princípio in dubio pro reu não é levado em
conta no âmbito do Tribunal do Júri, porque os jurados julgam de acordo com
a íntima convicção de cada um. Já outra parcela dos autores considera que
o princípio da íntima convicção não é uma exceção ao princípio in dubio pro
reu, porque o julgamento deveria ocorrer de acordo com a prova dos autos.
10) Como decorrência do princípio da presunção de inocência, processos crimi-
nais sem trânsito em julgado pelos quais responde o acusado, ou mesmo
inquéritos policiais, não podem ser considerados como maus antecedentes
na dosimetria da pena, conforme reiteradas decisões do STJ e do STF.
11) Qual a diferença entre “proteção vertical” e “proteção horizontal”? Vertical
é aquela contra o Estado, enquanto horizontal é aquela contra terceiros.
Assim, o Estado deve garantir proteção contra si mesmo (abusos ou excessos
na sua atividade) e contra terceiros (agressão de outrem).
12) Se por impedimento ou suspeição, o juiz pode comprometer sua imparciali-
dade, não deve atuar no processo sob pena de nulidade. Os impedimentos
ocasionam presunção absoluta de lesão à imparcialidade; enquanto a suspei-
ção, apenas presunção relativa.
13) Se o Ministério Público pedir a absolvição, isso é o suficiente para pôr fim ao
processo? Não. Diante da indisponibilidade da pretensão em discussão no
processo, o juiz deve dar seguimento ao processo com o intuito de formar
seu convencimento, nada impedindo, inclusive, a sentença condenatória.
14) O que é o princípio pro homine? Em conflitos relacionados a direitos hu-
manos, na dúvida, deve-se adotar a interpretação mais benéfica à promo-
ção dos direitos humanos.
15) Qual a diferença entre “norma híbrida” e “heterotopia”? Heterotopia é a situa-
ção da norma que apresenta um conteúdo que não corresponde à sua localiza-
ção sistemática no ordenamento, como uma lei processual que apresenta con-
teúdo penal (Ex.: vários dispositivos da LEP). Já a norma híbrida possui conteúdo
penal e processual. A norma com heterotopia possui apenas conteúdo único.
16) A perda de prazo pode não acarretar preclusão, quando o cumprimento de
determinado ato for indispensável para a efetivação da ampla defesa, como
acontece com a não apresentação da resposta à acusação, hipótese em que
o juiz intimará a Defensoria Pública para fazê-lo.
17) O comparecimento do réu aos atos processuais é um direito, e não um dever,
sem embargo da possibilidade de sua condução coercitiva, caso necessário,
por exemplo, para audiência de reconhecimento.
18) O acusado não está obrigado a comparecer ao seu interrogatório, podendo a
audiência ser realizada apenas com a presença do seu defensor.
71 STF, HC 92.885/CE, 29.04.2008.

33
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

19) A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica,


mesmo se for posterior e prejudicial ao acusado.

JURISPRUDÊNCIA ATUALIZADA
1) Em face da identidade física do juiz, em regra, o interrogatório do acusado
não deve ser realizado via carta precatória. Contudo, excepcionalmente, ve-
rificando-se a necessidade e as peculiaridades do caso concreto, ainda será
possível a realização via carta precatória: Com a introdução do princípio da
identidade física do Juiz no processo penal pela Lei n° 11.719/08 (Art. 399,
§ 2°, do CPP), o Magistrado que presidir os atos instrutórios, agora conden-
sados em audiência una, deverá proferir a sentença, descabendo, em regra,
que o interrogatório do acusado, visto expressamente como autêntico meio
de defesa e deslocado para o final da colheita da prova, seja realizado por
meio de carta precatória, mormente no caso de réu preso, que, em princípio,
deverá ser conduzido pelo Poder Público (Art. 399, § 1°, do CPP); todavia,
não está eliminada essa forma de cooperação entre os Juízos, conforme re-
comendarem as dificuldades e as peculiaridades do caso concreto, devendo,
em todo o caso, o Juiz justificar a opção por essa forma de realização do ato.72
2) Conforme recente orientação do STJ, não se verifica nulidade pela ausência de
aplicação do princípio da identidade física do juiz (Art. 399, § 2°, do CPP – com
as alterações promovidas pela Lei n° 11.719/08) em processamento de adoles-
cente pela prática de ato infracional, pois o ECA estabelece rito fracionado.73
3) A defesa é de ordem pública primária (Carrara); sua função consiste em ser a
voz dos direitos legais – inocente ou criminoso o acusado. Norteou-se o Cód.
de Pr. Penal ‘no sentido de obter equilíbrio entre o interesse social e o da de-
fesa individual, entre o direito do Estado à punição dos criminosos e o direito
do indivíduo às garantias e seguranças de sua liberdade’ (Exposição de Moti-
vos). Tal a missão reservada à defesa – de ordem pública primária e de cará-
ter sagrado – e tal o equilíbrio a ser observado entre os dois interesses – o so-
cial e o da defesa –, outra compreensão não há do presente caso senão a de
que o titular do direito de defesa é o acusado, e não propriamente o defensor.
Assim, constitui nulidade a oitiva de testemunha de acusação sem a presença
dos réus, devendo-se, pois, anular o processo a partir do momento em que
foi ouvida testemunha na presença de defensores ad hoc, os quais anuíram
à tomada do depoimento sem que os ora pacientes estivessem presentes.74

Questões Comentadas
1. (Cespe) A CF assegura o sistema inquisitivo misto no processo penal.
Resposta: Errado. Trata-se de afirmação absurda. O sistema processual penal brasileiro é o acusa-
tório, e não o inquisitivo.

72 STJ, CC 99.023/PR, DJE 28.08.2009.


73 STJ, HC 154.740/DF, DJe 26.04.2010.
74 STJ, HC 89.301/MS, 25.05.2009.

34
NOÇÕES INICIAIS

2. (Cespe) No processo acusatório, a acusação encontra-se em posição hie-


rarquicamente superior à defesa, e o juiz pode dar início ao processo por
sua própria vontade.
Resposta: Errado. No sistema acusatório, destaca-se o princípio do contraditório, do qual decorre a
paridade de “armas” entre as partes. Rege-se ainda pela separação rigorosa das funções de investi-
gar, de acusar e de julgar, não podendo o juiz dar início ao processo por sua própria vontade.

3. (Cespe) Parte da doutrina manifesta-se contrariamente à expressa previ-


são legal de cabimento da condução coercitiva determinada para simples
interrogatório do acusado, como corolário do direito ao silêncio.
Resposta: Certo. O comparecimento do acusado é um direito, e não um dever. Nesse sentido, manifestou-se
o próprio STJ: O comparecimento do réu aos atos processuais, em princípio, é um direito e não um dever,
sem embargo da possibilidade de sua condução coercitiva, caso necessário, por exemplo, para audiência
de reconhecimento. Nem mesmo ao interrogatório estará obrigado a comparecer, mesmo porque as res-
postas às perguntas formuladas fica ao seu alvedrio. Já a presença do defensor à audiência de instrução
é necessária e obrigatória, seja defensor constituído, defensor público, dativo ou nomeado para o ato.75

4. (Cespe) Em razão do princípio da presunção de inocência, não é possível


haver prisão antes da sentença condenatória transitada em julgado.
Resposta: Errado. O princípio da presunção de inocência não é absoluto. Dessa forma, excepcional-
mente, desde que atendidos os requisitos legais, será cabível a prisão provisória do acusado. Nessa
perspectiva, Afrânio Silva Jardim anota que a eleição por parte do sistema processual penal de um
ou outro princípio dependerá do desenvolvimento político e social, dos valores éticos e democráti-
cos cultuados pela sociedade. Por outro lado, sempre haverá uma posição de compromisso entre as
ideias em choque, não se encontrando, em sistema jurídico algum, a adoção pura e absoluta de um
determinado princípio, pois o seu antitético tem sempre guarida como fator de mitigação do princí-
pio prevalente. Vale dizer, o critério é mais de preponderância do que de exclusividade.76

5. (Cespe) Nos termos da lei processual penal, a exigência da presença de


defensor, prevista para o interrogatório judicial, não se aplica ao interroga-
tório policial, por ser o inquérito procedimento de natureza inquisitiva, ao
qual não se impõe a observância do contraditório.
Resposta: Certo. A presença do defensor somente é obrigatória no processo judicial.

6. (Cespe) Impera no processo penal o princípio da verdade real e não da ver-


dade formal, próprio do processo civil, em que, se o réu não se defender,
presumem-se verdadeiros os fatos alegados pelo autor.
Resposta: Certo. No processo penal, não se admite presunção de verdade dos fatos pela confissão do
acusado, ou mesmo quando este não se defende.

7. (Cespe) Prevê a Constituição Federal o princípio de que ninguém será con-


siderado culpado senão após o trânsito em julgado da sentença penal con-
denatória. No processo penal, a aplicação desse princípio é absoluta, pois
se busca a verdade real.
75 STJ, REsp 346.677/RJ, 10.09.2002.
76 JARDIM, Afrânio Silva. Direito processual penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 39.

35
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

Resposta: Certo. No Estado Democrático de Direito, o sustentáculo do devido processo penal consti-
tucional é o princípio da presunção de inocência.

8. (Cespe) A lei processual penal tem aplicação imediata, razão por que os
atos processuais já praticados devem ser refeitos de acordo com a legisla-
ção que entrou em vigor.
Resposta: Errado. Nos termos do Art. 2º do CPP, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

9. (Cespe) Tratando-se de lei processual penal, não se admite, salvo para be-
neficiar o réu, a aplicação analógica.
Resposta: Errado. Não se deve confundir lei penal com lei processual penal. A lei penal somente
admite aplicação analógica para beneficiar o réu (analogia in bonam partem). Já a lei processual
penal, admite a analogia para beneficiar (in bonam partem) e prejudicar o réu (in malam partem).

Questões Cespe/UnB
1. (Cespe) A garantia constitucional do contraditório, que assegura a ampla
defesa do acusado, não se aplica ao inquérito policial, que não é, em senti-
do estrito, instrução criminal, mas colheita de elementos que possibilitem
a instauração do processo.
Certo ( ) Errado ( )
2. (Cespe) Considere a seguinte situação hipotética: Marta foi indiciada em
inquérito policial instaurado para apurar o crime de estelionato, na mo-
dalidade de fraude no pagamento por meio de cheque. A autoridade po-
licial, visando submeter a cártula a exame grafotécnico, notificou Marta
para comparecer à delegacia a fim de fornecer padrões gráficos do próprio
punho. Nessa situação, como o objetivo do exame pericial é proporcionar
a comparação entre o escrito comprovadamente feito pelo punho da indi-
ciada e aquele cuja autoria está sendo pesquisada e que constitui o corpo
de delito, a autoridade policial não poderá compelir Marta a comparecer à
delegacia e a lançar as assinaturas.
Certo ( ) Errado ( )
3. (Cespe) A incomunicabilidade do indiciado no inquérito policial, decreta-
da por despacho fundamentado do juiz, encontra-se revogada pela atual
Constituição da República.
Certo ( ) Errado ( )
4. (Cespe) Qualquer indivíduo que figure como objeto de procedimentos investi-
gatórios policiais ou que ostente, em juízo penal, a condição jurídica de impu-
tado, tem o direito de permanecer em silêncio, incluindo-se aí, por implicitude,
a prerrogativa processual de o acusado negar, ainda que falsamente, perante a
autoridade policial ou judiciária, a prática da infração penal.
Certo ( ) Errado ( )
5. (Cespe) Devido ao princípio constitucional da presunção de inocência, com-
pete ao MP produzir a prova da materialidade e da autoria do delito, de

36
NOÇÕES INICIAIS

modo que o réu não precisa provar que é inocente; pela mesma razão – e
também para não afetar a exigência de imparcialidade do órgão julgador –,
não cabe ao juiz, segundo o Código de Processo Penal (CPP), determinar a
produção de provas que possam vir a justificar a condenação do acusado.
Certo ( ) Errado ( )
6. (Cespe) O respeito aos princípios do due process of law e da ampla defesa
interessa também ao Estado, representado na figura do Ministério Público,
na busca do esclarecimento dos fatos e da verdade real.
Certo ( ) Errado ( )
7. (Cespe) Segundo o STF, inquéritos policiais e ações penais em andamento
não podem configurar maus antecedentes para efeito da fixação da pena-
-base, sob pena de ofensa ao princípio da presunção de não culpabilidade.
(anulável).
Certo ( ) Errado ( )
8. (Cespe) O preso em flagrante delito, ainda que identificado civilmente,
deve ser submetido a identificação criminal, inclusive pelo processo dati-
loscópico e fotográfico.
Certo ( ) Errado ( )
9. (Cespe) Em consonância com o princípio da igualdade das partes e do con-
traditório, sempre que for carreado aos autos documento novo, relevante
para a decisão, deve ser concedida à parte contrária, em face da qual foi
produzida a prova, oportunidade de manifestação a respeito.
Certo ( ) Errado ( )
10. (Cespe) Todo acusado tem direito à finalização do processo criminal dentro
dos prazos previstos na lei processual ou em tempo razoável, não se tole-
rando demora injustificável e abusiva por inércia de órgãos do estado-ad-
ministração.
Certo ( ) Errado ( )
11. (Cespe) Assegura-se ao acusado a gratuidade do habeas corpus, a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de tramitação
processual.
Certo ( ) Errado ( )
12. (Cespe) O juiz deve ter plena convicção de que o acusado é responsável
pelo delito, bastando a dúvida a respeito da sua culpa para absolvê-lo.
Certo ( ) Errado ( )
13. (Cespe) O estatuto constitucional do direito de defesa é um complexo de
princípios e de normas que amparam os acusados em sede de persecução
criminal, exceto os réus processados por suposta prática de crimes hedion-
dos ou de delitos a estes equiparados.
Certo ( ) Errado ( )
14. (Cespe) A garantia do devido processo legal assegura às partes direito ao
duplo grau de jurisdição.
Certo ( ) Errado ( )

37
DIREITO PROCESSUAL PENAL
para concursos CAPÍTULO 1

15. (Cespe) Segundo entendimento do STF, é vedada a utilização de algemas,


sob pena de ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana e do direi-
to fundamental do cidadão de não ser submetido a tratamento desumano
ou degradante.
Certo ( ) Errado ( )
16. (Cespe) O princípio da dignidade da pessoa humana é um princípio funda-
mental e absoluto.
Certo ( ) Errado ( )
17. (Cespe) Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à
presença de um juiz ou de outra autoridade autorizada pela lei a exercer
funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de prazo razoável ou
a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. A sua
liberdade pode ser condicionada a garantias que asseverem o seu compa-
recimento em juízo.
Certo ( ) Errado ( )
18. (Cespe) O direito processual brasileiro adota o sistema do isolamento dos
atos processuais, de maneira que, se uma lei processual penal passa a vi-
gorar estando o processo em curso, ela será imediatamente aplicada, sem
prejuízo dos atos já realizados sob a vigência da lei anterior.
Certo ( ) Errado ( )
19. (Cespe) Em caso de leis processuais penais híbridas, o juiz deve cindir o
conteúdo das regras, aplicando, imediatamente, o conteúdo processual
penal e fazendo retroagir o conteúdo de direito material, desde que mais
benéfico ao acusado.
Certo ( ) Errado ( )
20. (Cespe) A lei processual penal admite interpretação extensiva e o suple-
mento dos princípios gerais de direito, por expressa disposição legal.
Certo ( ) Errado ( )
21. (Cespe) A lei processual penal não admite aplicação analógica, em obe-
diência ao princípio da legalidade estrita ou tipicidade expressa.
Certo ( ) Errado ( )
22. (Cespe) Com a aplicação imediata da lei processual penal, os atos realiza-
dos sob a vigência da lei anterior perdem sua validade.
Certo ( ) Errado ( )
23. (Cespe) A lei processual penal não admite interpretação extensiva.
Certo ( ) Errado ( )
24. (Cespe) É inadmissível, segundo a lei processual penal, que as omissões
da acusatória inicial possam ser supridas a todo tempo antes da sen-
tença final.
Certo ( ) Errado ( )
25. (Cespe) As normas de direito processual penal são regidas pelo princípio
do tempus regit actum.
Certo ( ) Errado ( )

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