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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA – UFRR

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH


COORDENAÇÃO DE HISTÓRIA

MARY JANE BARRETO DE SOUZA

BRASIL-GUYANA E O DESLOCAMENTO DE POVOS INDÍGENAS NA


ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XX: O CASO DA MALOCA
RAIMUNDÃO I, EM ALTO ALEGRE

BOA VISTA – RR
2017
MARY JANE BARRETO DE SOUZA

BRASIL-GUYANA E O DESLOCAMENTO DE POVOS


INDIGENAS NA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XX: O CASO DA
MALOCA RAIMUNDÃO I, EM ALTO ALEGRE

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de


História, do Centro de Ciências Humanas, da
Universidade Federal de Roraima, como pré-requisito
parcial para obtenção do título de Licenciado em
História.

Orientador: Prof. Dr. Reginaldo Gomes de Oliveira

BOA VISTA - RR
2017
MARY JANE BARRETO DE SOUZA

BRASIL-GUYANA E O DESLOCAMENTO DE POVOS INDIGENAS


NA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XX: O CASO DA MALOCA
RAIMUNDÃO I, EM ALTO ALEGRE

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de


História, da Universidade Federal de Roraima, como
pré-requisito parcial para obtenção de título de
Licenciado em História. Defendida em 06 de Fevereiro
de 2017 e avaliada pela seguinte banca examinadora:

_______________________________________________________
Prof. Dr. Reginaldo Gomes de Oliveira
Orientador-Presidente / Curso de História – UFRR

_______________________________________________________
Profª. Ma. Júlia Faria Camargo
Membro / Curso de Relações Internacionais – UFRR

_______________________________________________________
Prof. Me. Antonio Klinger da Silva Souza
Membro / Curso de História – Instituto Pilar-RR

BOA VISTA - RR
2017
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus.


Aos meus irmãos e meu cunhado Pedro que doaram seu tempo muitas vezes para que
se concretizasse a realização desse sonho.
Aos professores do curso de História, e dos demais cursos, pela contribuição nesse
processo de formação acadêmica, em especial a professora Maria Luiza Fernandes.
A amizade e o carinho dos meus colegas de turma com os quais convivi durante esses
anos de estudo e pelos desafios que vencemos juntos.
Ao meu orientador Reginaldo Gomes de Oliveira, por ter aceitado compartilhar
comigo o desafio de refletir sobre o meu tema, e ter confiado em mim fazendo com que minha
monografia tenha sido uma experiência positiva, sempre me orientando e dedicando parte do
seu tempo a mim apesar de todos os acasos que ocorreram.
Ao meu coorientador Klinger Souza, pelo acolhimento e orientação precisa no
momento em que eu precisava de ajuda, fazendo assim com que fosse possível a realização do
meu trabalho.
A professora Júlia Camargo, do curso de Relações Internacionais, pela aceitação de
participar da avaliação final do meu trabalho monográfico.
Gostaria de dedicar meus agradecimentos aos povos Makuxi e Wapichana da maloca
do Raimundão, pelo apoio concedido a mim para a realização da minha pesquisa. Em especial
aos tuxauas Eliomar e Ana Madalena, pelo apoio e anuência para a realização da pesquisa.
A meu amigo Leandro Guilherme e sua família, que ofereceram sua casa como abrigo
durante a realização da minha pesquisa em campo.
A todos vocês muito obrigado.
DEDICATÓRIA

Dedico primeiramente aos meus pais, Marlene Barreto de Souza e Raimundo Natal de
Souza (in memoriam), que infelizmente não podem estar presente neste momento tão feliz da
minha vida, mas não poderia deixar de dedicar a eles, pois acreditaram, incentivaram e me
abençoaram para que hoje eu estivesse aqui. Saudades eternas.
A todos os meus irmãos que estão sempre presentes na minha vida e que não mediram
esforços para que tudo isso se realizasse, sem a ajuda e a confiança deles nada seria possível.
Obrigado por tudo.
E a todos os meus familiares que sempre estiveram ao meu lado nesta caminhada, me
proporcionando confiança, carinho e amor.
EPÍGRAFE

“Que tua busca de conhecimento encontre os segredos do universo. Sem jamais


esquecer a simplicidade do teu quintal”.

Autor desconhecido
LISTA DE MAPAS

MAPA 01 – A Ilha da Guiana ou Amazônia Caribenha 23


MAPA 02 – Posição geográfica da Terra Indígena Raimundão 39
LISTA DE SIGLAS

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CIR – Conselho Indígena de Roraima

CONEP – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

ISA – Instituto Socioambiental

ODIC – Organização dos Índios da Cidade

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFRR – Universidade Federal de Roraima


RESUMO

A presente monografia aborda a temática “Brasil-Guyana e o deslocamento de povos


indígenas na última década do século XX: o caso da maloca Raimundão I, em Alto Alegre”.
Optamos pelo conceito de deslocamento que é trabalhado pelo professor Reginaldo Gomes de
Oliveira (UFRR) sobre a movimentação da população indígena na Amazônia Caribenha. A
pesquisa buscou compreender as motivações que levaram os indígenas a se deslocarem da
Guyana para a Maloca Raimundão, no município de Alto Alegre, na última década do século
XX. Investigou acerca da notícia sobre o Brasil que chegou para os indígenas que vivem na
Guyana, para que despertasse neles o interesse de se deslocarem até aqui. Verificou o
processo de deslocamento dos povos indígenas na última década do século XX. Perquiriu
também o atrativo que a maloca do Raimundão ofereceu para que os indígenas se desloquem
da Guyana e fixem moradia nela. Essa pesquisa encontra-se alinhada a uma pesquisa
bibliográfica agregada a aplicação de um questionário. Para tanto, organizamos a análise da
presente pesquisa em três capítulos: o primeiro contextualizando as relações entre Brasil
Guyana e seus antecedentes históricos. O segundo, explicando sobre os povos Makuxi e
Wapichana e o terceiro demonstrando os resultados da pesquisa em campo.

Palavras-chave: Povos Indígenas. Guyana. Brasil. Maloca do Raimundão I.


ABSTRACT

This monograph approach the theme "Brazil-Guyana and the displacement of indigenous
peoples in the last decade of the twentieth century: in the case, the Amerindian Village
Raimundão I in Alto Alegre". We chose the concept of displacement that is worked by
Professor Reginaldo Gomes de Oliveira (UFRR) on the movement of the indigenous
population in the Caribbean Amazon. The research tried to understand the motivations that
led the Ameríndians to move from Guyana to Maloca Raimundão I in the Municipality of
Alto Alegre in the last decade of the twentieth century. Investigating about the news from
Brazil to the indigenous people in Guyana. And so, we tried answers about an interest the
Amerindians people to move to Brazil. We verified the displacement of the Amerindians in
the last decade of the twentieth century. Why did they choose the Amerindian Village
Raimundão? This research is aligned to a bibliographic research with the application of a
questionnaire. And then, we organize the analysis of this research in three chapters: the first,
contextualizing relations between Brazil Guyana and its historical background. The second,
explain historical aspects of people Macushi and Wapichana and the third, showing the
research results in the field.

Keywords: Indigenous people. Guyana. Brazil. Amerindian Village Raimundão I.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................12
1. A RELAÇAÕ BRASIL GUYANA E SEUS ANTECEDENTES
HISTÓRICOS.................................................................................................................16
1.1A FORMAÇÃO DA FRONTEIRA POLÍTICA.........................................................16
1.2 A FRONTEIRA CULTURAL....................................................................................24
1.3 OS DESLOCAMENTOS DE INDÍGENAS...............................................................28
2. POVOS MAKUXI E WAPIXANA, ORIGEM DE SUA LOCALIZAÇÃO E
TERRITÓRIO......................................................................................................................34
2.1 OS MAKUXIS............................................................................................................35
2.2 OS WAPIXANAS.......................................................................................................36
3. O CASO DA MALOCA RAIMUNDÃO I-ANÁLISE DA PESQUISA........................39
3.1 ANÁLISE DA PESQUISA.........................................................................................40
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................46
ANEXOS............................................................................................................................49
12

INTRODUÇÃO

O presente trabalho buscou visualizar e analisar a questão do deslocamento de povos


Makuxi que foram se estabelecendo entre parentes1 nos municípios próximos a fronteira entre
Brasil e Guyana, identificados como povos indígenas que vieram de Guyana para o Brasil.
Tendo como caso de estudo as famílias indígenas que foram se estabelecendo entre os
parentes na Maloca Raimundão no município de Alto Alegre, no estado de Roraima.
O foco do nosso estudo será a Maloca do Raimundão, pois durante uma visita nessa
comunidade, próxima da região de fronteira desses dois países, identificamos a existência de
registros da ocorrência de deslocamentos indígenas Makuxi que vieram da Guyana, indo de
uma maloca para outra entre as fronteiras do Brasil e Guyana, até fixarem moradia em uma
delas.
Nesse cenário, o interesse em trabalhar a temática indígena, foi certamente
influenciada por questões subjetivas, pois sou indígena da etnia Makuxi. Felizmente, como
muitos indígenas em nosso Estado, sou também, acadêmica do curso de História da
Universidade Federal de Roraima – UFRR, instituição na qual ingressei por meio do
vestibular regular, no ano de 2011. Quando chegou o momento de escolher o tema da minha
pesquisa, eu já tinha pensado na problemática dos povos indígenas da fronteira. Assim, surgiu
a ideia de elaborar uma pesquisa acerca dos povos indígenas da região de Alto Alegre. Tal
inquietação surgiu da minha observação desses deslocamentos de indígenas na minha
comunidade, entre o Brasil e Guyana, resolvi problematizar e investigar esse tema.
Meu município de origem é o Uiramutã, da comunidade indígena do Caju, no qual
morei até o ano de 2007. Atualmente, trabalho na comunidade indígena Canauanin, localizada
no município de Cantá, onde tenho experiência como professora indígena. Sempre estive
presente no movimento indígena, em que participei de Assembleias dos povos indígenas de
Roraima, assim também como a Assembleia dos professores Indígenas de Roraima.
A escolha do tema e a definição no que diz respeito ao termo deslocamento se deve ao
fato de que os indígenas, que vivem nesse território de fronteira, tenham feito mudanças de
moradias temporárias, de um local para outro envolvendo ambas as partes das fronteiras e até
mesmo para outros municípios do estado de Roraima. O conceito deslocamento ou essa
movimentação da população indígena na Amazônia Caribenha, que envolve cinco Estados
Nacionais, vem sendo trabalhado pelo professor Reginaldo Gomes de Oliveira (UFRR). Para

1
Conforme Oliveira (2010, p. 08), “esse termo é frequentemente utilizado entre os índios que, nas suas falas ou
em conversações cotidianas, fazem referência entre si, intitulando-se como parentes”.
13

Oliveira (2010), o território fronteiriço entre Brasil e Guyana é considerado pelos povos
Makuxi, Wapichana e outras famílias indígenas, como território ancestral2 das populações
indígenas e hoje são terras delimitadas como fronteira internacional entre Brasil e Guyana,
como exemplo. Contudo, há um grande contingente dos povos Makuxi ou Wapichana que não
reconhecem as linhas que demarcaram a soberania nacional entre Brasil e Guyana, para esses
povos a região é considerada como terras dos seus antepassados. Esses povos falam a língua
Makuxi tanto no Brasil como em Guyana: “a memória oral revelou que o deslocamento entre
as comunidades indígenas está presente na cultura desses povos desde os tempos antigos”
(OLIVEIRA, 2010, p. 62). Nesse sentido, o deslocamento dos povos indígenas permitiu a
aceitação do outro parente que está ora em Guyana e ora no Brasil.
Temos como objetivo geral, analisar quais as motivações que levaram ao
deslocamento de indígenas Makuxi na última década do século XX entre Brasil e Guyana,
tendo como base o estudo de caso da Maloca do Raimudão. Para tanto, os Objetivos
Específicos foram: Investigar qual a notícia que chegou sobre o Brasil até os indígenas
Makuxi na Guyana para que haja interesse de se deslocar até a Maloca do Raimundão, e
compreender que atrativo a Maloca do Raimudão, no município de Alto Alegre, ofereceu para
que os indígenas Makuxi, que se deslocam da Guyana, venham fixar moradia na mesma.
A metodologia aplicada na realização deste trabalho refere-se a uma pesquisa
bibliográfica alinhada com a aplicação de um questionário contendo vinte e duas questões,
que contemplam os principais tópicos relacionados à temática. Quanto a compreensão
bibliográfica, foi realizado um levantamento de dados bibliográficos e podem ser encontradas
nas bibliotecas da Universidade Federal de Roraima, sites de artigos especializados na área
pesquisada, tais como: Revista de estudos e pesquisa da Funai, Revista brasileira do Caribe,
dentre outros. Também em acervos particulares e internet, em que me ajudaram a atingir os
objetivos propostos. Quanto aos autores que embasaram esta pesquisa, temos: Oliveira (2003,
2006, 2010, 2011a, 2011b, 2014), Baynes (2003, 2004, 2006, 2008, 2012), Barros (2007),
Farage (1991), entre outros etnohistoriadores.
No que tange ao campo de domínio da História, dentre tantos que hoje ganham
adeptos, nos atrelamos a linha de pesquisa denominada como etnohistória, isto porque
pensamos que a aproximação da história aos métodos e conceitos próprios da antropologia

2
Conforme Oliveira (2010, p.62), é uma área de terra demarcada culturalmente pelos povos indígenas, com uso
da língua e cultura, desde os tempos antigos. Ou seja, antes da chegada dos europeus na Amazônia, ou no
território Circum Roraima dos povos de língua e cultura Karíb ou Arawak.
14

nos possibilitou melhor compreensão do tema. Dito de outro modo, pretendemos trazer a luz
uma problemática envolvendo questões indígenas atreladas às abordagens históricas.
Iniciamos este trabalho com o tema “A Relação Brasil/Guyana e seus antecedentes
históricos”, para melhor apresentar a nossa reflexão das fronteiras políticas, geográficas e
culturais. Nessa proposta de reflexão, a pretensão foi trazer uma contextualização dos
processos históricos vivenciados entre os dois países, e assim também demonstrar a
imposição das fronteiras nos territórios indígenas desde o processo de colonização pelas
potências europeias. E como último item deste capítulo, trouxemos como ponto de discussão
o deslocamento de indígenas que ocorreram mesmo após todos esses processos geopolíticos,
no final do século XX.
No segundo capítulo, cujo nome é “Povos Makuxi e Wapichana, origem de sua
localização e território”, tratamos dos povos indígenas Makuxi e Wapichana, com
informações sobre a localização de seu território, visando assim, demonstrar sua presença em
solo brasileiro e guyanense, desde a proposta de imposição das fronteiras pela geopolítica das
duas referidas nações.
Já o terceiro capítulo apontou informações geográficas e históricas da localização da
Maloca Raimundão, onde realizamos nossa pesquisa de campo. Por fim, no último item desse
capítulo indicamos as conclusões da pesquisa de campo, demonstrando quais as motivações
dos deslocamentos de indígenas da Guyana para o Brasil, na última década do século XX, e
qual foi o atrativo apresentado pela maloca do Raimundão para que essas famílias nela se
estabelecessem.
Gostaríamos de explicar que o termo Guyana é referente ao país vizinho de língua e
cultura inglesa, que ao “ganhar independência do reino britânico em 1966 foi denominado
apenas de Guiana” (OLIVEIRA, 2011a). Contudo, o citado autor comentou também que
“após a reorganização política do país em 1970, recebeu a denominação de República
Cooperativa de Guyana”, popularizando-se para o temo Guyana, com a substituição do “i”
pelo “y” no referido vocábulo (p.17).
Cabe salientar que para desenvolver o trabalho de campo na Maloca Raimundão
envolvendo os parentes Makuxi e Wapichana, submetemos o projeto de pesquisa à Plataforma
Brasil. Foram atualizados o cadastro da pesquisadora e do orientador na referida Plataforma,
que passou por um longo período de análise e questionamentos da FUNAI/ Brasília sobre a
pesquisadora indígena. Percebemos que a normatização do Comitê de Ética Nacional segue
uma legislação sem levar em conta tratamento diferenciado para pesquisador indígena. Após
longo período de espera foi autorizado pelo Parecer da CONEP 1.768.382 de 01/12/2016.
15

Assim sendo, conseguimos aplicar os instrumentos de coleta de dados, concluindo as análises


do trabalho de campo, com sucesso.
16

1. A RELAÇÃO BRASIL/GUYANA E SEUS ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Nesse primeiro capítulo, pretendemos fazer uma exposição da problemática que


envolve o tema das fronteiras políticas, geográficas e culturais, assim como a relação entre
esses dois países, que são marcados pelo processo histórico vivenciado desde a colonização
pelas potências europeias na época, como Portugal, Espanha, Holanda, França e
posteriormente a Inglaterra.
De acordo com Oliveira (2011b), podemos dizer que a região das Guianas ou
Amazônia Caribenha foi descoberta durante “a terceira viagem feita por Colombo em 1498”
(p.157). Conforme as reflexões do mencionado autor, após as viagens de Colombo muitas
outras foram realizadas, sendo documentadas ou descritas pelos primeiros cronistas, ou
viajantes e exploradores dessa região, durante o século XVI. Para Oliveira (2006; 2011a;
2011b) essas primeiras viagens exploratórias, registraram o contato dos europeus com os
indígenas do tronco linguístico Karíb (Akawaio, Warau, Makuxi, Patamona, Ingarikó, Wai
Wai, etc.) e Arawak (Lokono, Atorai, Wapichana, etc.). Foi nesse contexto da literatura dos
viajantes, que o referido autor, abordou o termo Guiana, traduzido da língua Arawak, como
“terra de muitas águas” e era denominada por esses povos indígenas como Ilha da Guiana,
que Oliveira passou a nomear como Amazônia Caribenha. Foi na literatura neerlandesa,
citada por Oliveira (2006, 2010; 2011a; 2011b, 2014) que identificamos citações claras acerca
da presença e da ocupação por povos indígenas Karib e Arawak, nesse território amazônico
caribenho desde o século XVI aos dias atuais, no século XXI. Com apoio na cartografia dos
séculos XVI e XVII e na literatura histórica neerlandesa que Oliveira cunhou o conceito
Amazônia Caribenha, acrescentando a ideia de terras ancestrais dos povos de língua e cultura
Karíb.
Sendo assim, a descrição sobre povos indígenas será mais bem trabalhada no segundo
capítulo, pois a literatura sobre a presença desses povos mostrou que já se encontravam aqui
quando chegaram os colonizadores europeus, no século XVI. Além da presença nos dias
atuais, identificamos a cultura do deslocamento dos mesmos na região em questão, no século
XXI.

1.1 A FORMAÇÃO DA FRONTEIRA POLÍTICA

Para começar a descrever o início da formação da fronteira política e geográfica entre


Brasil e Guyana é preciso ressaltar a importância de conceituar, ou definir o que é uma
17

fronteira, pois será a partir disso que entenderemos o começo da formação fronteiriça nessa
singular região amazônica.
Sobre esta questão, temos que, “A origem histórica da palavra mostra que seu uso não
estava associado a nenhum conceito legal e que não era um conceito essencialmente político”
(MARTINS; MOREIRA, 2011, p. 30). Para esses autores as civilizações foram se
desenvolvendo e ocupando espaços, as fronteiras tornaram-se locais de comunicação,
produção cultural, e por adiante se conseguiu um caráter político.
Tendo tal conceito por base começaremos a mostrar o início da formação
historiográfica dessa região. Atualmente, essa área de fronteira entre Brasil e Guyana, lócus
da pesquisa, é sobretudo, objeto da abordagem quanto ao deslocamento de povos indígenas
entre esses dois países. Assim, na perspectiva de Martins e Moreira (2011), a área que
envolve o Brasil e Guyana é um território político, mas é também um lugar de comunicação e
produção cultural que envolve tanto os elementos nacionais e os elementos dos povos
indígenas. Nesse sentido, temos a análise de Oliveira (2006, p 82), quando afirmou que “os
primeiros relatos do encontro dos europeus com os indígenas, localizados na costa nordeste da
América do Sul, ocorreu com a terceira viagem de Cristóvão Colombo, pelo então Atlântico
Norte ainda em 1498”. Foi no estudo de Oliveira que compreendemos melhor o início da
comunicação e produção cultural entre europeus e indígenas no litoral, que mais tarde se
estendeu para o interior da ilha da Guiana. Assim, a referida historiografia revelou que esse
lugar tem sua gênese nas primeiras informações das novas terras descobertas, no denominado
Novo Mundo. Tais informações foram fortalecidas com o encontro de Colombo e os povos
Karíb e Arawak, no litoral amazônico caribenho, ainda no final do século XV.
De acordo com OLIVEIRA (2011b, p. 167), como primeiro documento histórico, que
tratou de forma jurídica e política essas novas terras, foi o Tratado de Tordesilhas (1494).
Conforme o autor, esse documento foi considerado o primeiro acordo entre os reinos de
Portugal e Espanha, relacionados com a posse de terras e delimitação das fronteiras no Novo
Mundo, fortalecendo os propósitos da expansão marítima e da colonização Ibérica.
Nas reflexões de Oliveira, percebemos a importância do referido Tratado, pois definiu
que o reino espanhol era o proprietário das terras do Atlântico Norte e tinha como súditos os
povos indígenas Karíb e Arawak. Posterior a esse Tratado, a história dessa área de fronteira
passou pelo processo de exploração e colonização por parte das então potências europeias da
época. De acordo com Mangar (2009), em 1579 outros europeus, além dos espanhóis,
passaram a ter um interesse em explorar essa região, crescendo cada vez mais, e desafiando o
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monopólio Espanhol da época sobre a conquista do Novo Mundo, aumentando esse interesse
com a então lenda do El Dorado.
A historiografia consultada por nós, mostrou que o assunto da cidade de Manoa ou El
Dorado foi bastante citado pelos cronistas ou viajantes do século XVI. Nessa perspectiva,
fazemos uso das reflexões teóricas de Oliveira (2003; 2006; 2011a; 2011b, 2014), quando
abordou o tema e explicou que a região das Guianas foi considerada uma área de difícil
acesso, mas “era possuidora de uma estimável beleza natural, despertando o interesse e
ampliando as notícias sobre esse lugar amazônico”, que eram divulgadas desde os primeiros
exploradores espanhóis como veremos a seguir, na própria fala do autor:

No século XVI, essa área geográfica amazônica tornou-se conhecida pelas


fantásticas descrições sobre povos indígenas que usavam adornos de ouro.
Espalharam notícias sobre um príncipe indígena que habitava um palácio dourado,
localizado em uma planície no interior, à beira de um lago denominado Parima. Tal
planície descrita pelos indígenas aos europeus poderia ser a região de savana entre
os rios Essequibo e Branco. (OLIVEIRA, 2011a, p. 19).

Para o mencionado autor, a literatura historiográfica mostrou que no início dessas


explorações, e com o processo de colonização, a construção histórica e geopolítica dessa
região teve como base as notícias do El Dorado, que eram divulgadas pelos viajantes europeus
do século XVI. Oliveira teve como apoio para esses estudos as fontes neerlandesas, que
indicaram as evidências existentes do mais importante tema de exploração da época (El
Dorado) e mostraram que a colônia mais antiga desse lugar amazônico foi fundada ainda no
final do século XVI, assim que ocorreram as primeiras expedições holandesas vindo da
província de Zeeland (MANGAR, 2009).
Nesse processo de formação geopolítica da ilha da Guiana ou Amazônia Caribenha,
Oliveira (2011a; 2011b; 2014) apontou as contribuições holandesas no levantamento de
informações entre os séculos XVI e XVII. Para o autor, a ocupação e a produção de
conhecimento sobre essa referida região era identificada já nas primeiras cartografias e
relatórios dos representantes Neerlandeses, que foram enviados por meio da Companhia das
Índias Ocidentais (1621), aos seus diretores na Europa. Ao analisar as fontes históricas dos
arquivos holandeses (em Amsterdam), o referido autor nos relatou que eram documentos que
descreveram não apenas a geografia, mas as possibilidades de negócios com os povos
indígenas da região denominada Amazônia Caribenha, que nas reflexões de Oliveira (2011a;
2011b; 2014) compreende todo território da ilha das Guianas, cujo território era de domínio
dos povos indígenas.
19

O autor em questão, ainda ressaltou que nesse contexto exploratório da região durante
o século XVI, os holandeses tiveram destaque por serem excelentes comerciantes, contavam
sempre com o apoio dos povos indígenas, que passavam informações sobre o lugar, ou
auxiliavam os seus funcionários burocratas que estavam fixados nos postos de comércio, ou
na elaboração dos mapas dessa região, com detalhamento dos caminhos terrestres e fluviais
entre áreas de relevo acidentado e terra plana de circulação entre o litoral e o interior
(OLIVEIRA, 2006, 2010; 2011a; 2011b; 2014).
Essa literatura neerlandesa, pesquisada e publicada por Oliveira, ampliou o
conhecimento da História Regional e nos deu possibilidade de identificar que o
desenvolvimento das colônias holandesas nessa região, no final do século XVII, foram
consolidadas por intermédio da cultura de “plantation”. Assim, essa literatura nos mostrou
que o desenvolvimento das fazendas era diversificado, com o cultivo de fumo, café, açúcar e
algodão, com intuito de estarem disponíveis para comercialização.
Os autores Oliveira (2011a; 2011b) e Mangar (2009) argumentaram o mesmo evento
histórico que deu novos encaminhamentos geopolítico na Amazônia Caribenha do século
XVII. Ambos os autores comentaram sobre a Guerra de Independência dos Países Baixos
Espanhóis contra o reino da Espanha, que teve seu final em 1648, momento que foi assinado
um acordo de paz entre os dois países, que rompeu os limites territoriais decididos pelo
Tratado de Tordesilhas para o território do Atlântico Norte.
As reflexões dos autores mencionados acima, mostraram que ao final da Guerra entre
o reino da Espanha e os Países Baixos, foi assinado o Tratado de Münster que reconheceu a
independência dos Países Baixos, onde a Holanda era uma das principais Províncias. Nesse
tratado os autores informaram também que a Espanha reconheceu a posse da ilha da Guiana
para os Países Baixos, que já vinham desenvolvendo comércio no litoral e no interior da
referida ilha. Esses autores deram notícias também que foi somente no governo de Laurens
Storm vam Gravesande, que teve sob seu comando a Colônia do Essequibo no século XVIII,
que essa região ganhou desenvolvimento e importância para a Companhia das Índias
Ocidentais (MANGAR, 2009; OLIVEIRA, 2011a; 2011b).
A historiografia guyanense, afirmou que a Guyana ficou sendo colônia holandesa até
as últimas colônias serem conquistadas pela Grã-Bretanha em 1803. Observamos que o
acordo foi formalizado com “Tratado de Paris em 30 de maio de 1814, unificando as três
colônias holandesas sobre o nome de Colônia da Guiana Inglesa”, que foi mantida pelo
sistema do governo britânico até o século XX. Já foi explicado por nós, que o nome Guiana
surgiu em 1966, logo após alcançar sua independência política frente a Grã-Bretanha, sendo
20

que antes disso no período de 1831 a 1966, se chamava Guiana Inglesa, anterior a esse nome
se tinha as primeiras colônias holandesas de Esequibo, Demerara e Berbice (Idem).
Essa literatura neerlandesa em diálogo com a portuguesa apontada por Oliveira
(2011b, 2014) e guyanense de Totar Mangar (2009), nos dá condições de dizer que o processo
de formação política das fronteiras entre Brasil e Guyana, se dá com o início da construção
desse dois Estados nacionais na América do Sul. Essa literatura histórica nos indicou também
que sendo o Brasil ex-colônia portuguesa independente desde 1822, como a atual República
Cooperativista da Guyana, também ex-colônia holandesa e posteriormente inglesa até sua
independência em 25 de maio em 1966, revelou construções históricas com aspectos comuns
e também diferentes. Quando comparamos com estudos antropológicos, como os de Baines
(2004), esse processo de formação política territorial ganhou outras possibilidades de
interpretação. Esses autores citados, nos mostraram que nesse caso, esta região de fronteira
tem uma facilidade com acesso terrestre, sendo que os campos abertos nos mostraram alguns
dos aspectos que foram dando consolidação aos dois Estados nacionais, com atuação na
dinâmica sociocultural local, procurando estabelecer os limites geopolíticos com objetivo de
implantar soberania nacional (BAINES, 2004).
Esses autores consultados, nos deram possibilidades de perceber que as delimitações
fronteiriças, hoje da República Cooperativista da Guyana, tendo “seus limites ao norte com o
Oceano Atlântico, ao sul a fronteira com o Brasil, ao oeste com a Venezuela e a leste com o
Suriname”; constitui-se como uma “terra de muitas águas” (OLIVEIRA, 2011b, p. 156).
Conforme esses autores que abordaram a etno-história regional, podemos descrever a região
da Guyana banhada pelas águas da “margem esquerda dos rios Amazonas e Negro, pelo canal
do Cassiquiare, pela margem direita do rio Orinoco e o litoral do Oceano Atlântico entre os
rios Orinoco e Amazonas”, tendo sua maior extensão a leste e oeste (OLIVEIRA, 2014, p.17).
Atualmente, nessa configuração geopolítica, podemos dizer que temos uma das partes
do leste do Brasil que faz fronteira com a Guyana, conforme mostrou Becker (2009, p.60): “A
leste do estado de Roraima, entre as cidades gêmeas de Bonfim e Lethem (Guiana), existe um
fluxo pendular, representado pelo deslocamento de residentes da Guiana para trabalhar e
estudar no Brasil (...)”. Assim, partindo desse pressuposto, analisamos que essa questão de
deslocamento de indivíduos nessa região de fronteira envolve também grande parte de
indígenas, sendo o principal foco do trabalho, que será visto mais de perto no segundo
capítulo desta monografia.
Toda essa literatura no campo etno-histórico nos revelou que essa mesma formação de
fronteira entre Portugal, depois Brasil e Inglaterra, posteriormente Guyana, foi definido ao
21

longo do processo histórico vivido por estes países, e que no início do século XIX, traduziu-se
por meio da disputa pelos limites territoriais com os dois países, conhecida como a questão do
Pirara, onde foi levada a arbitragem internacional.
Como mostra Filho (2013), essa temática foi iniciada em 1835, com a pesquisa feita
pelo geógrafo e explorador alemão de naturalidade inglesa Robert Herman Schomburgk, no
que resultou mais tarde no questionamento por parte da Guiana Britânica a Portugal sobre a
área delimitada. Sendo que as questões de limites fronteiriços nunca tinham sido questionadas
pelas potências anteriores, Ingleses e holandeses. O autor também destacou que a questão foi
levada ao arbitramento e em 1904 a decisão arbitral resultou em perda de território para o
Brasil, assim a Inglaterra ganhou mais do que proposto no processo.
Sobre esse mesmo tema, fazemos uso das reflexões de Santilli (1994) e a partir da
decisão definitiva das fronteiras Brasil/Guiana, ressaltamos que:

(...) a práxis indigenista na área passaria por profunda mudança. Nesse sentido o
estabelecimento das fronteiras nacionais ganharia relevância para a história do
contato, como limite de incidência de forças de pressão formando uma linha de
tensão (SANTILLI, 1994, p. 67).

Como nos mostrou o autor citado acima, a formação dessas fronteiras refletiu também
nas populações indígenas que habitavam essa região, sentindo o momento de divisão entre
esses dois Estados nacionais, como também entre as famílias Karíb e Arawak.
As reflexões e contribuições históricas dos referidos autores, nos forneceu
esclarecimentos para dizermos que a literatura portuguesa não deu conta sobre a história do
vale do Rio Branco, no período colonial. Para começar a descrever o início do processo de
colonização na região do lado brasileiro, conhecida como vale ou região do Rio Branco,
temos que levar em conta o processo histórico vivenciado pelo Brasil pertencente a Portugal
em diálogo historiográfico com os seus países vizinhos, como a República Cooperativista da
Guyana, que foi também pertencente aos Holandeses. Essas informações foram sendo
divulgadas na História Regional, pelo historiador e pesquisador Reginaldo Gomes de
Oliveira, da Universidade Federal de Roraima, que passou a dialogar também com a literatura
neerlandesa. O professor Oliveira divulgou no seu acervo publicado (2003; 2006, 2010,
2011a; 2011b; 2014) que o processo histórico de formação geopolítica da região, teve seu
início no século XVI, com os viajantes exploradores e no século XVII, quando os mesmos
iniciaram o processo da colonização no litoral e também no interior, navegando pelos rios
Essequibo e Rupununi ou Amazonas, Negro e Branco.
22

Ao analisarmos as reflexões de Vieira (2007, p. 10), observamos que ele ressaltou o


seguinte: “As primeiras notícias que se tem conhecimento sobre a região amazônica como um
todo são oriundas do século XVII”. A abordagem do autor tem base na literatura portuguesa
sobre o rio Branco. Quando comparamos com a literatura neerlandesa que foi comentada e
publicada por Oliveira, essa informação, que pontua o início da formação histórica do rio
Branco pelos portugueses, observamos pouca clareza teórica da presença portuguesa na região
durante o século XVII, pela literatura portuguesa.
Ao examinarmos essa literatura histórica, identificamos que os argumentos
portugueses, na produção de conhecimentos com o marco histórico nos primeiros relatos, têm
como evento histórico as informações elaboradas durante a viagem do capitão Pedro
Teixeira, entre 1637 e 1639. Nessa perspectiva, percebemos que esse tema é pouco estudado
na nossa historiografia nacional ou regional. Assim, quando analisamos a literatura
portuguesa não encontramos clareza nas explicações sobre essa expedição de Teixeira, que foi
realizada durante a União Ibérica (1580-1640), apontando o alargamento dos domínios dos
portugueses até a região de Quito (OLIVEIRA, 2003; 2011a; 2011b; 2014).
Assim, a historiografia portuguesa colocou essa expedição de Teixeira, descrita nos
relatos do Jesuíta Cristóbal de Acunã, que foi o cronista durante a viagem de regresso de
Quito para o Grão-Pará feita por Pedro Teixeira, como o principal documento histórico
português de ocupação da região amazônica. Contudo, essa literatura construída com base no
documento produzido por Pedro Teixeira deu aos portugueses informações dos imensos rios
existentes na região, sendo hoje área de fronteira entre Brasil e Guyana.
Para Vieira (2007), a viagem exploratória comandada por Teixeira marcou também a
presença da Igreja Católica na região, com ações permanentes dos missionários entre as
populações indígenas, a partir de 1653. As reflexões do referido autor apontaram também
sobre o tema da aliança dos missionários católicos com o Estado português, que deu
condições de benefícios aos portugueses no primeiro momento de execução do projeto de
colonização das novas terras descobertas. Essa ação prolongou-se e deu certa paz na região
portuguesa da Amazônia, mas aos pouco começaram os conflitos entre colonos, missionários
e indígenas. Em seguida, com o maior envolvimento do Estado português, o conflito foi
ampliado porque desejava ter o controle sobre os indígenas nessa área. Outro tema complexo
na historiografia é o da escravidão indígena pelos portugueses, que tiveram dificuldade de
acabar com a mão de obra escrava (Idem).
Outra informação complexa apontada pela literatura histórica é a descrição da região
de fronteira do Brasil, nos estados de Roraima e Amazonas, que fazem fronteira com a
23

Guyana e Venezuela caracterizada por ser uma área de baixa densidade demográfica. Quando
comparamos esse tema com a literatura neerlandesa, descrita por Oliveira (2006; 2010; 2011a;
2011b; 2014), identificamos que a ilha da Guiana, onde está localizada a fronteira Brasil e
Guyana, mostrou-se um território habitado por variados grupos indígenas do tronco
linguístico Karíb e Arawak, como exemplo. Ao analisar a presença e o deslocamento desses
povos indígenas na Amazônia Caribenha, Oliveira (2011a) fez uso dos estudos etnográficos
de Peter Rivière (2001) que desenvolveu reflexões sobre o indivíduo e a sociedade na Guiana.
Nessa perspectiva, os estudos de Oliveira (2010;2011a) mostrou o deslocamento dos povos
Makuxi e Wapichana entre as regiões dos rios Rupununi e Branco antes da delimitação das
fronteiras geopolíticas entre o Brasil e Guyana. Para Oliveira (2011a; 2011b) essa cultura do
deslocamento dos povos indígenas, semelhante ao tempo ancestral, ainda se faz presente em
nossos dias (século XXI). O mapa abaixo mostra a ilha da Amazônia Caribenha.

MAPA de OLIVEIRA (2017)

Nesse contexto regional, os estudos de Oliveira (2006, 2011a; 2011b; 2014) e Mangar
(2009) revelaram uma paisagem fronteiriça com grande contingente indígena habitando uma
realidade cultural de formação geopolítica com um diversificado número de serras e savanas.
É uma paisagem montanhosa entre os vales que se mostrou como proteção natural, ou uma
24

forte barreira da natureza na integração terrestre entre o litoral e o interior da ilha da Guiana
ou Amazônia Caribenha, que é habitada por diferentes populações indígenas. Os dois autores
comentaram que tal formação paisagística se mostrou na fronteira do Brasil com Guyana e
Suriname, como também se faz presente em toda área da região setentrional do Estado de
Roraima. São paisagens naturais presentes na cultura indígena que foram marcadas pela
geopolítica das fronteiras nacionais do Brasil e Guyana.

1.2 A FRONTEIRA CULTURAL

Para iniciar essa discussão é necessária a definição do conceito de cultura. Isto, por
entendermos que o termo é amplamente utilizado pelas diversas ciências humanas, possuindo
uma conceituação vasta e complexa. Nesse sentido, fazemos uso de reflexões do campo
antropológico em diálogo histórico, quando verificamos que o homem produz sua própria
cultura, sendo nesse processo histórico o próprio sujeito e fruto do processo cultural.
Conforme menciona Geertz (1989, p. 15): “o homem é um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise”.
Explicitando de maneira ainda mais profunda esse mesmo tema, o referido autor
define que: “A cultura, a totalidade acumulada de tais padrões, não é apenas um ornamento da
existência humana, mas uma condição essencial para ela – a principal base da especificidade”
(p.15).
Quando interpretamos essa temática da fronteira cultural, no sentido que mesmo após
a construção da fronteira política entre Brasil e Guyana, percebemos que o lugar da fronteira
cultural não veio a interferir na relação social entre os povos indígenas. Nossos estudos
identificaram que os mesmos continuam a se deslocarem de um país para outro sendo ligados
por relação de parentesco e culturais que ultrapassam a fronteira geopolítica.
No entanto, percebemos que os aspectos que permeiam esse deslocamento de
indígenas entre os dois países, entrelaçados pelas relações de parentesco, culturais e sociais,
são os elementos simbólicos do Brasil e da Guyana, como nos revelou a reflexão de Geertz
(1989).
Conforme mencionou Albuquerque (2008), esses processos migratórios de
deslocamentos fronteiriços acontecem e tendem a criar barreiras, mas, mesmo assim, ocorrem
25

travessias de fluxos culturais, que é o que acontece no deslocamento de indígenas do Brasil


para Guyana e vice-versa.

De uma maneira mais específica, entretanto, compreendo a imigração fronteiriça


como os deslocamentos populacionais nas zonas de fronteiras entre países vizinhos.
Os imigrantes fronteiriços, com exceção das ocasiões de guerra ou outros conflitos
diplomáticos entre a nação de origem e de destino, continuam mantendo muitos
contatos com seu país e permanecem se comunicando em seu idioma nativo (Idem,
2008. p. 03).

Concordando com a reflexão de Albuquerque (2008), podemos dizer que a relação dos
povos indígenas na fronteira do Brasil e Guyana está na dinâmica social fronteiriça,
interligando o processo cultural em conexão com o processo de ocupação dessa área pelas
populações indígenas. Esse dinamismo e produção da cultura pelos povos indígenas já foi
demonstrado por nós durante apresentação de parte da literatura usada para pesquisa desse
trabalho. Foi identificado que a presença indígena é anterior à chegada dos europeus nessa
região amazônica. Ao dialogarmos com os estudos de Pereira (2005, p.60), nos diz o seguinte:
“Os povos da fronteira estão interligados por relações de parentesco que ao longo dos anos
estreitaram amizades e criaram grupos familiares que ultrapassaram os limites geopolíticos”.
Nessa perspectiva, os estudos de Cardia (2009) nos faz pensar que ao nos referimos à
fronteira cultural, podemos estabelecer que se constitui de marcos simbólicos, que se constrói
um jogo de representações que tendem a estabelecer classificações, hierarquias e limites. Essa
autora diz que:

Esses marcos e, sobretudo, de referências mentais que guiam a percepção da


realidade, produtos de uma capacidade mágica de representar o mundo por um
mundo paralelo de sinais, por meio dos quais os homens percebem e qualificam a si
próprios, ao corpo social, ao espaço e ao próprio tempo: o imaginário, um sistema
simbólico de representações coletivas que atribui significado ao real e que pauta os
valores e as condutas (CARDIA, 2009, p. 08).

Assim, as discussões teóricas da autora nos auxiliam a dizer que as representações de


fronteiras que se estabelecem a partir de processos socioculturais, constituem-se enquanto
formas de identificações entre os sujeitos/agentes da fronteira e o conjunto de costumes,
tradições, fazeres e demais atividades que ligam comunidades por meio de aspectos similares,
comuns. Desse modo, a fronteira ganha um dinamismo sociocultural com marcos que se
estabelecem para além da existência geopolítica. São elementos da representação coletiva na
fronteira do Brasil e Guyana que aparecem como elementos identitários dos povos indígenas,
como exemplo.
26

As análises da autora ainda nos informa que:

A noção de fronteiras culturais é acionada no processo de identificação para marcar


os limites entre “eles” e “nós”, estabelecendo, assim, a “fronteira simbólica”. O que
cria, ou demarca, os limites (espaços, territórios e lugares) é, também, a
possibilidade/necessidade de um grupo de se diferenciar, de resgatar elementos
culturais como marcadores de sua identidade específica (Idem, 2009 apud BARTH,
1976, p. 30).

Nessa reflexão, a autora nos leva a pensar que o território fronteiriço entre Brasil e
Guyana é também marcas de soberania nacional. Quando pensamos nos povos indígenas, nem
todos consideram essas marcas das linhas que delimitam as fronteiras internacionais entre
Brasil e Guyana, mas as marcas das fronteiras culturais. Nesse sentido, há um grande
contingente dos povos Makuxi que não reconhecem as linhas que demarcam a soberania
nacional entre Brasil e Guyana, para esses povos a região é considerada como terras dos seus
antepassados, marcadas por fronteiras culturais do mundo natural em diálogo com o mundo
cosmogônico (OLIVEIRA, 2010).
Sobre essa temática, os estudos de Oliveira (2010), nos colocou diante de um assunto
complexo, quando o autor abordou essa dinâmica da fronteira cultural e da língua Makuxi que
integram o movimento fronteiriço, com deslocamentos entre o Brasil e Guyana. Para o
referido autor, as fronteiras dos Estados nacionais estão sobrepostas as fronteiras culturais dos
povos indígenas, que são também interligadas com as marcas simbólicas do mundo natural e
cosmogônico. As análises de Oliveira (2010) nos revelou ainda que o lugar da fronteira
apresenta característica tanto da manifestação da cultura como do dinamismo social da
fronteira. Segundo o mencionado autor, são manifestações que se mostram na fronteira de
forma interligadas, que não se explicam dentro da herança conceitual de Westfália3, quando
tratamos dessa problemática fronteiriça envolvendo os povos indígenas.
Contudo, há reflexões que discutem esse tema com base nas concepções teóricas dos
princípios da soberania nacional. Os estudos de Santilli (1994), são relfexões que apontam
nessa direção das fronteiras nacionais, onde o território ocupado pelos Makuxi e outros povos
indígenas, “desde os primórdios do século XVIII, converteram-se em um objeto de disputa

3
Conhecida como "Paz de Westfália" designa um conjunto de princípios que encerrou a Guerra dos Trinta Anos.
Com assinatura de Westfália inaugurou-se o moderno "Sistema Internacional" diplomático que é muito discutido
nas Relações Internacionais. Acatou-se consensualmente noções e princípios como o de "Soberania Estatal" e de
"Estado Nação". OLIVEIRA, Reginaldo Gomes. Amazônia Caribenha: os caminhos indígenas entre a maloca e a
cidade, no contexto fronteiriço do Brasil, Guyana e Venezuela. Palestra de Abertura do PPG/INAN-UFRR,
18/03/2013.
27

acirrada entre os domínios coloniais concorrentes, envolvendo a princípio Portugal, Espanha e


Holanda” (SANTILLI, 1994, p. 9).
Portanto, é a partir dessas reflexões dos autores citados que temos notícias das disputas
coloniais pelos povos europeus e o dinamismo fronteiriço cultural pelos povos indígenas que
vão construindo marcas identitárias e culturais na região. São autores que começam a auxiliar
nossas interpretações históricas e observações das mudanças nas relações socioculturais dos
povos Makuxi entre o Brasil e Guayana. São reflexões que dão visibilidade ao processo
cultural dos povos indígenas nas suas formas próprias de organização social, conforme
mencionaram Santilli (1994), Baines (2012) e Oliveira (2010, 2011a, 2011b, 2014).
Esses autores analisam os aspectos históricos do processo de ocupação pelos europeus
nessa área específica da Amazônia e das Guianas. Para esses autores o processo colonizador
europeu fez surgir uma sobreposição de fronteiras coloniais/nacionais às fronteiras étnicas
precedentes, e assim essas fronteiras sobrepostas ergueram barreiras entre as aldeias
separando as populações indígenas das mesmas etnias. Por conseguinte, essas fronteiras
coloniais/nacionais foram historicamente substituídas pela linha fronteiriça traçada pelo
Estado Nacional do Brasil e a antiga Guiana Inglesa, em 1904.
A partir desses apontamentos podemos enfatizar de acordo com Baines (2012) que a
Guyana, era por sua vez, uma colônia inglesa que se tornou independente em 1966, se
tornando a República Cooperativista da Guyana. O mesmo afirma que com todas as mudanças
geopolíticas e a imposição de uma fronteira política não interferiu no cotidiano e
principalmente na mobilidade dos indígenas que vivem na região da fronteira entre Brasil e
Guyana, pois continuam a se deslocar de um país para outro e até mesmo portar
documentação brasileira e guyanense.
Durante nossa observação de campo, na Maloca Raimundão I, identificamos que após
a ocupação de territórios no Brasil por grupos Makuxi, os mesmos mantêm a sua
heterogeneidade interna. Ou seja, são ocupações indígenas que deram lugar a existência de
fronteiras culturais e também manifestações culturas de fronteira. São ocupações e lugar tão
significativas como as fronteiras político-administrativas. É Cardia que diz:

O deslocamento das populações indígenas que ocorreu no passado, se traduz em


novas formas de aproveitamento do meio, a chegada de novos contingentes
populacionais, não só leva a supor um aumento da pressão sobre o meio, mas
também significará uma forma diferente de conceituar o mesmo, com todos os
problemas ambientais que ele pode gerar (CARDIA, 2009 apud KAY, 1996. p.12).
28

Com base nos estudos da autora, podemos dizer que esses deslocamentos
populacionais trazem consigo mudanças nas relações sociais entre os grupos étnicos desses
territórios ocupados, e ao mesmo tempo essa mudança nas relações sociais acaba implicando
na modificação do sistema ambiental ou cultural.

1.3 OS DESLOCAMENTOS DE INDÍGENAS

Para entender como ocorre esse processo de deslocamento de indígenas na fronteira


entre Brasil/Guyana se faz necessário notar que esta questão encontra-se relacionada
diretamente com a histórica política, assim como com algumas questões institucionais e
sociais que ocorreram no decorrer da história desse dois estados nacionais.
Na perspectiva histórica verificamos que esses deslocamentos de indígenas na
fronteira entre Brasil e Guyana ocorreram em alguns períodos da história, e cabe mencionar a
segunda metade do século XVIII, em que logo após as reformas pombalinas e como forma de
estratégia militar utilizada para ocupação portuguesa no Rio Branco, para tentar impedir
invasões espanholas e holandesas, foi utilizado o aldeamento de indígenas, articulado pelo
destacamento do Forte São Joaquim. Devido à super-exploração dos índios veio a ocorrer
uma revolta em razão da violência que era utilizada pelos portugueses para reprimi-los e com
isso vindo a ocorrer fugas maciças dos aldeamentos, como afirmam Farage (1991), Santilli
(1994) e Oliveira (2003).
Esses territórios da fronteira entre Brasil e Guyana sempre foram ocupados por povos
indígenas desde a colonização europeia. Conforme dados da literatura etno-histórica, os
Macuxi seriam os grupos mais numerosos. “Seu território estendia desde o rio Mahú (ou
Ireng), afluente da margem direita do rio Tacutu, e o Rupununi, afluente esquerdo do Alto
Essequibo, ali povoando em particular as montanhas kanuku” (KOCK-GRUNBERG, 1982,
p.242).
Esses autores do campo etno-histórico nos conduzem para uma reflexão da
problemática e ressaltam que em 1927 aconteceu um fluxo de deslocamento de indígenas do
Brasil para a antiga Guiana Inglesa. Tal deslocamento populacional indígena, inicialmente, foi
em decorrência do processo de colonização brasileira no Rio Branco e mais adiante pela
invasão de garimpeiros, aliado a ocupação dos campos pelos pecuaristas durante o século
XIX. Verificamos nessa literatura que em todos os momentos do encontro do índio com o
colonizador europeu houve conflitos. Segundo os estudos de Santilli (1994) um dos conflitos
que se destaca é a violência dos fazendeiros contra os indígenas, influenciando o
29

deslocamento dessa população indígena em direção à margem esquerda do rio Mau e Tacutu,
território Inglês.
Durante nossa conversa nas Assembleias dos Povos Indígenas de Roraima,
percebemos que os indígenas Macuxi e Wapichana, que chegaram do lado Guyanense,
comentaram que esse deslocamento do Brasil para Guyana se deu tanto por violências
cometidas por garimpeiros e fazendeiros, como também os mesmos declararam que antes da
independência da Guyana em 1966 era comum essas mudanças de moradia entre os rios
Rupununi e Branco. Nas análises de Baines (2012) é uma situação que muda conforme os
projetos dos governos: “[...] os serviços de educação e saúde oferecidos pelo governo colonial
eram melhores na Guyana que no Brasil, situação que se inverte nos anos posteriores à
revolta”. (BAINES, 2012, p.143).
Para esse autor, essa situação se inverteu mais adiante quando o país vizinho de língua
inglesa ganhou independência, porque foi um momento seguido de uma série de conflitos
políticos, principalmente entre os grupos majoritários de afro-guyanenses e indo-guyanenses.
De acordo com Baines (2012), a autoridade politica da Guyana, Forbes Burnham, primeiro-
ministro entre os anos 1964-1980 e foi o presidente entre os anos 1980-1985, era o
representante da população afro-guyanense e declarou a Guiana “ República Cooperativista”.
Foi nos estudos de Baines (2012) que podemos verificar que durante essa ação pós-
independência, Burnham aliou-se ao bloco soviético causando intensa decepção aos
guyanenses, ao direcionar a situação politica da antiga Guiana para o socialismo. Nesse novo
contexto político de Guyana, os fazendeiros e índios Wapichana inconformados com o regime
de Forbes Burham, se rebelaram causando a “Revolta do Rupununi” em 1969. Para Baines
(2012), os fazendeiros e índios Wapichana sofreram pressão na Guyana pelo exército
guyanense, durante a referida Revolta. Assim, ao serem derrotados pelo exército de Burham,
os fazendeiros e indígenas se exilaram na Venezuela e no Brasil.
Nesse sentido, para Baines (2008) o que predominou na Guyana, desde o incidente da
Revolta do Rupununi até os dias atuais, foi a falta de atenção por parte do governo da Guyana.
Com base nos argumentos de Baines (2012; 2008), observamos que essa ação tem dificultado
a vida das populações indígenas na região do Rupununi e parece que o governo está mais
preocupado em tentar resolver os conflitos entre a maioria étnica que são os grupos afro-
guyanense e indo-guyanense, habitantes do litoral. Conforme essa reflexão de Baines (2008,
2012), percebemos que a crise no campo da economia somada a crise política vivenciada no
litoral do país, acrescentada as desigualdades sociais, geraram desconfortos na região rural de
Guyana e tudo isso afetou diretamente os povos indígenas. Por conseguinte, essa população
30

indígena acabou se movimentando em direção ao Brasil que possibilitou oportunidades para


fugir desses conflitos existentes no país vizinho, de língua e cultura britânica.
Conforme observou Oliveira (2010; 2011a) sobre essa temática, percebemos que há
concordância com o pensamento de Baines (2008), quando indicou que essas mudanças, por
meio das mobilidades de populações indígenas na fronteira, aconteceram em decorrência das
transformações do sistema geopolítico, implantado pelo europeu e também pelo processo
cultural dos indígenas, que sempre se movimentaram nesse território ancestral, de contatos
com os países herdeiros da língua e cultura europeia.
Para Oliveira (2011a), quando os europeus delimitaram as fronteiras nacionais, desde
o período colonizador até a imposição das fronteiras dos Estados independentes no século
XIX, não respeitaram as fronteiras culturais dos povos Circum Roraima e sobrepuseram suas
marcas soberanas. O referido autor mostrou análises atuais dessa situação geopolítica nacional
e sociocultural dos povos indígenas, no contexto urbano e da fronteira Brasil e Guyana,
quando publicou o resultado de uma pesquisa acerca dos índios urbanos, na cidade de Boa
Vista (entre 2007-2010).
Nesse estudo de Oliveira (2010), verificamos que o tema do deslocamento dos povos
indígenas entre Brasil e Guyana continua mesmo após as transformações no sistema
geopolítico dos Estados nacionais. Na perspectiva etno-histórica desse autor, identificamos
que os índios Makuxi, por exemplo, transitam com facilidade entre os dois países.
De acordo com Oliveira (2010), o dinamismo das ações paradiplomáticas vivido na
fronteira internacional pelo cidadão nacional dos dois países (Brasil e a República
Cooperativista da Guyana) não é impedimento para o trânsito na fronteira dos povos
indígenas, que não cumprem a burocracia diplomática exigida para o cidadão nacional. Nesse
sentido, são povos indígenas que são amparados juridicamente pela Constituição dos dois
Estados nacionais (promulgadas na década de 1980) e que não apontam para essa específica
população implicação jurídica para se dirigir a outro País.
Sobre essa temática envolvendo os povos indígenas nas relações Brasil e Guyana,
Oliveira (2011b) nos mostrou outros fragmentos significativos:

(...) o campo das relações político-econômicas e socioculturais entre indígenas


moradores da capital do estado de Roraima e da facilidade dessa população indígena
deslocar-se para visitar os parentes (Macuxi, Wapichapina, Patamona, Wai Wai,
Atorai) que são moradores das regiões 08 (Potaro/Siparuni) e 09 (Upper Takutu/
Upper Essequibo) do país vizinho – Guyana. (...) identificamos que algumas
experiências no deslocamento do antigo território indígena e as manifestações
culturais dessas populações foram ampliadas, outras modificadas pelos projetos
geopolíticos e culturais dos representantes dos Estados Nacionais e muitas
desapareceram no processo de povoamento “civilizador”, iniciado no século XVI,
31

alongando-se até o tempo presente, inicio do século XXI (OLIVEIRA, 2011a, p. 23-
24).

Os argumentos apresentados por Oliveira (2010; 2011a) nos forneceram conteúdos


importantes do campo Etno-histórico e de História Regional, que dão possibilidades para
ampliarmos nossos conhecimentos e até arriscarmos em dizer que, a mudança de lugar do
povo Makuxi entre Brasil e Guyana é decorrente do longo processo histórico e do contato
entre os próprios parentes, na região denominada de Ilha da Guiana ou Amazônia Caribenha.
Ao analisarmos esse processo de modificações nas relações político-econômicas e
socioculturais, que afetam a vida dos povos indígenas Makuxi, observamos que tais
modificações não chegaram a interferir de modo profundo na relação de parentesco e contato
interétnico entre esses povos indígenas. Notamos que os povos Makuxi continuam a manter
até os dias atuais seus processos culturais de deslocamento no território amazônico em
questão.
Nesse caso, podemos dizer também que, os povos indígenas que vivem nessa região
de fronteira internacional, entre Guyana e Brasil, estão envolvidos em contato interétnico com
as populações nacionais destes dois países. São povos que estão ligados por redes de
parentesco que se ramificam entre as aldeias e as cidades de ambos os lados dos dois países.
Além disso, identificamos também a existência do dialogo entre os indígenas que se deslocam
da Guyana com as organizações indígenas fronteiriças do Brasil, sendo a mais importante o
Conselho Indígena de Roraima (CIR), que se faz presente nessa região de Fronteira e que
busca acolher esses fluxos de famílias indígenas que se deslocam constantemente entre
Guyana e Brasil, conforme mencionaram Baines (2008) e Oliveira (2010).
De acordo com os estudos desses autores mencionados, somados aos depoimentos dos
indígenas que se deslocam entre Brasil e Guyana, que foram publicados por Oliveira (2010) e
do diálogo com as associações e organizações indígenas de Roraima, cabe mencionar
brevemente o encaminhamento dos movimentos dos povos indígenas do lado brasileiro.
Segundo as reflexões de Baines (2008), a importância dos movimentos políticos indígenas
para ambos os países têm apresentado encaminhamentos distintos. Como exemplo, podemos
dizer que no lado brasileiro, especialmente em Roraima, verificamos que os povos indígenas
estão reunidos através de organizações ou associações indígenas.
Conforme Baines (2008) e Oliveira (2003), podemos dizer que essa ideia de
organização dos povos indígenas em Roraima, para lutarem por direitos, ganhou visibilidade
na década de 70. Foi um momento político importante para os povos indígenas que tinham
32

grande mobilização de lideranças indígenas, a nível nacional e internacional. Percebemos nos


autores consultados, sobre essa temática inicial das organizações indígenas nos anos de 1970,
que todos os povos indígenas reivindicavam mudanças para o próximo momento do Brasil
Democrático. Eram povos que tinham esperança na possibilidade de uma futura Constituição
Federal, que reconhecesse seus direitos como cidadão. Essas leituras bibliográficas, nos
evidenciaram que as lideranças indígenas buscavam garantir o reconhecimento do direito dos
índios sobre suas terras, para que permitisse a sobrevivência cultural dos povos indígenas,
para que pudessem garantir a habitação nesta região, que era vista como ancestral e que
estavam nela antes da imposição da fronteira internacional (BAINES, 2008; OLIVEIRA,
2003; 2010).
Quando examinamos as fontes que esclareceram as lutas por direitos dos parentes no
país vizinho, fazemos uso das reflexões de Baines (2008) que nos informou que os povos
indígenas têm uma participação política por meio de candidatura das lideranças indígenas.
Quem nos explicou melhor foi o próprio Baines que disse: “[...] no lado Guyanense da
fronteira a participação política dos povos indígenas tem sido muito através de candidatura de
lideranças para cargos nos partidos políticos nacionais”. (BAINES, 2008, p, 13).
Nos últimos pleitos eleitorais realizados no Brasil, percebemos esse comportamento
político de algumas lideranças indígenas que também buscaram participação por meio de
candidatura para cargos nos partidos políticos nacionais. Contudo, verificamos que o
crescimento de movimentos indígenas no Brasil a partir da década de 70 deu chances aos
povos indígenas passaram a se organizar politicamente por meio das associações, como o
Conselho Indígena de Roraima (CIR), ou Organização dos Professores Indígenas de Roraima
(OPIRR) e outras organizações que passaram a ter uma representação maior junto ao Estado
nacional. Observamos que toda essa luta das lideranças indígenas, no lado do Brasil,
contribuiu para a reformulação da Constituição Federal de 1988, que é um processo de
concessão de poder aos povos indígenas, com uma representação jurídica nacional em que o
índio é amparado pela Constituição brasileira com direitos jurídicos, conforme apontou
Baines (2006, 2008).
Entre os vários estudos de Baines, há um trabalho publicado sobre entrevista realizada
com indígenas em Lethem e St. Ignatius, que são Vilas Ameríndias localizadas na República
Cooperativista da Guyana (BAINES, 2012). Nesse trabalho do referido autor, podemos
perceber a diferença do posicionamento do Brasil em relação aos indígenas quando
comparado com a Guyana, em que eles ressaltam que os povos indígenas não tem nenhum
futuro com o governo da Guyana. Segundo Baines esses povos indígenas: “(...) olham para o
33

Brasil com um grande sucesso econômico e como um caminho para escapar da pobreza
acentuada e dos conflitos políticos e étnicos (...)” (BAINES, 2012, p.143).
O que se percebe nessas reflexões, é que essas desigualdades sociais na Guyana e a
falta de um tratamento diferenciado com os índios guyanenses veio a contribuir nesse
deslocamento para o Brasil.

As flutuações econômicas internas dos dois países levaram a fluxos migratórios [...]
Apesar de existirem redes de parentescos que se ramificam entre as aldeias nos dois
lados dessa fronteira e por dentro desses estados nacionais por toda a região do
lavrado, o fluxo de migrantes que em anos recentes tem vindo da Guiana para o
Brasil (BAINES, 2012, p.149-151).

Contudo, na literatura Etno-histórica há divergências entre os conceitos referentes às


migrações indígenas e deslocamentos indígenas. Optamos pelo termo deslocamentos por ser o
mais aceito entre os povos indígenas urbanos em Boa Vista, que durante as “Oficinas
Culturais” discutiram sobre movimentação dos parentes entre as malocas do Brasil e da região
de Guyana, que foram publicadas por Oliveira (2010). Conforme os estudos realizados nessas
“Oficinas Culturais” por Oliveira (2010), os Makuxi, Patamona ou Wapichana que se
deslocaram de Guyana para Boa Vista (Roraima/Brasil) não se identificavam com o conceito
de migração, que para esses povos indígenas o termo faz referência aos nacionais.
Portanto, de acordo com esses apontamentos percebemos que nas últimas décadas do
século XX teve um grande fluxo de indígenas que se deslocaram da Guyana para o Brasil,
especialmente para a capital Boa Vista. Na perspectiva de Oliveira (2010), parte desse
contingente indígena que chegou em Boa Vista seguiu para trabalhos nas fazendas e outros
desenvolveram diferentes atividades urbanas (domésticas, lavadeiras, limpadores de quintais,
etc.), mas sempre envolvidos no dinâmico movimento de deslocamentos entre o urbano e as
malocas na área rural. O autor afirmou que todos esses deslocamentos dos povos indígenas
ocorrem com um único propósito, que seria a busca por melhores condições de vida no Brasil.
34

2. POVOS MAKUXI E WAPICHANA, ORIGEM DE SUA LOCALIZAÇÃO E


TERRITÓRIO

Para melhor compreensão e conhecimento sobre o Povo Makuxi e Wapichana


destacaremos os primeiros relatos sobre a origem de sua localização e seu território, sendo
considerados como antigos habitantes do território amazônico caribenho, sendo pertencentes
ao “tronco linguístico karíb, (Makuxi, Patamona, Pemon, Wai Wai, Ingaricó, Taurepang,
entre outros) e Arawak (Wapichana, Atorai, Lokono entre outros)” (OLIVEIRA, 2011b, p.
23).
Nem sempre é possível termos um censo dessa população, mas Baines (2004, p. 78)
nos diz que: “É importante ressaltar que no Brasil a população indígena é estimada entre 300
a 700 mil indivíduos, constituindo em torno de 0,2% e 0,3% da população total (...) Em
Roraima, a população indígena constitui cerca de 72% da população rural”.
Quando nos referimos ao território dos indígenas, é importante que façamos uma
conceituação sobre território, tendo em vista que conforme se constrói o território é também o
espaço onde são expressas as apropriações do espaço e as relações de poder que estão em
constante mudança e transformação.
A intervenção europeia sobre os territórios dos povos indígenas da Amazônia se
constitui em um evento de extrema importância no quesito de contato entre povos, sendo uma
das regiões do Brasil mais procuradas em oportunidades de pesquisa, como também sendo os
povos indígenas mais atingidos diretamente em situações de desenvolvimentos regionais.

O território é o paraíso terrestre, o processo de interpretação do desconhecido agora


é acelerado pelas coordenadas geográficas, de clima e relevo, pela diversidade da
fauna e da flora, pela diferença das espécies de animais e vegetais. (SCHERER;
OLIVEIRA, 2009, p.16)

São reflexões que nos revelaram as rápidas transformações e interpretações dos


territórios. Nesse sentido, após a ocupação europeia no território dos povos indígenas, com
base nos autores consultados, podemos dizer que verificamos o surgimento de uma “geografia
da diferença”, após se identificar a abundância de caça e ouro, que fazem parte da
classificação do ambiente e da natureza americana, assim notou que os territórios são mais
importantes que os povos. (Idem, 2009).

2.1 OS MAKUXI
35

Para alguns pesquisadores que desenvolvem estudos Etno-históricos, como do ISA,


por exemplo, informaram que os Makuxi compõem uma etnia de autodenominação Pemon e
pertencentes ao tronco linguístico Karíb. Esses pesquisadores descreveram também como
sendo habitantes de uma região de fronteira do Brasil com a República Cooperativista de
Guyana, com um território que ao sul predominam os campos, a ao norte predominam serras e
o norte do distrito guyanense do Rupununi, com uma dimensão de 30 mil a 40 mil km2. Esses
estudiosos do ISA, apontaram também que os Makuxi enfrentaram diversos conflitos desde o
século XVlll, em razão dos processos de colonização e ocupação por parte dos europeus e
seguidos assim por aldeamentos e deslocamentos forçados, séculos mais a frente a incidência
por extrativistas, pecuaristas e garimpeiros, conforme dados do ISA (2004).
Esta etnia pode ser apresentada da seguinte forma:

Macuxi é a designação corrente para os grupos Pemon que habitavam o sul da área
circum-Roraima, as vertentes meridionais do Monte Roraima e os campos ou
savanas que se estendem pelas cabeceiras dos rios Brancos e Rupununi, território
politicamente partilhado entre Brasil e Guiana (PAULO, 2001, p.19).

O autor ainda descreveu que os primeiros relatos sobre o termo Makuxi vêm ainda do
século XVIII, com o início da ocupação colonial da época nessa área descrita, relatados nas
primeiras fontes historiográficas dessa região.
Nas observações do etnólogo Koch-Grünberg (2006; p. 33) feita em sua viagem nessa
área em 1903 a 1905 e 1911 a 1913, apontaram que: “O grosso da população indígena da
região do rio Branco constitui atualmente as tribos [da família linguística] caribe [no original:
karaibe]. A mais populosa delas, com ampla margem, são os Makuschi (Macusi, Macuchis)”.
O mesmo autor apontou ainda em sua pesquisa, que os Makuxi já se encontravam registrado
como nação Macusia e índios Macusis nos mapas de Surville de 1778, que acompanhava a
obra de Josef de Caulin, sendo que os mesmos ocupavam os lados do médio Essequibo.
Quando nos deparamos com textos da historiografia regional, que fazem menção aos
primeiros relatos feitos pelos exploradores dessas áreas, os irmãos Robert e Richard
Schomburgk ainda em 1835 a 1844, percebemos que Schomburgk estimava que fosse uma
população aproximada de 3.000 almas, tendo segundo ele diminuindo com passar do tempo.
Contudo, o relatório do alemão Koch-Grünberg fez menção a área central de ocupação dos
Makuxi, que de acordo com o autor: “(...) Seu território principal ainda se encontra entre o
Mahú, Tacutú e Rupununi, nas áreas fronteiriças entre Brasil e Guiana Britânica” (KOCH-
36

GRÜNBERG, 2006, p.36). Essa importante pesquisa demonstrou que os Makuxi estavam
presentes nessa área de fronteira desde o início do processo de exploração e colonização feita
pelos europeus.
Segundo os dados apontados pelo ISA, o povo Makuxi constitui uma população de 19
mil índios no Brasil e 9,5 mil índios na Guyana, vivendo em várias aldeias e habitações
isoladas, sendo estimadas 140 aldeias no Brasil e 50 aldeias na Guyana, (ISA, 2004).
Ao analisarmos informações sobre os Makuxi em território brasileiro, temos o espanto
de saber que: “O povo indígena mais numeroso em Roraima é o povo makuxi, pois os
mesmos constituem 92,71% da população rural em Roraima” (BAINES, 2004. P. 78).
Para os pesquisadores do ISA, os povos Makuxi que habitam o território do Brasil
apresentam a seguinte geopolítica:

O território Macuxi em área brasileira hoje está recortado em três grandes blocos
territoriais: a TI Raposa Serra do Sol, TI São Marcos, ambas concentrando a grande
maioria da população, e pequenas áreas que circunscrevem aldeias isoladas no
extremo noroeste do território Macuxi, nos vales dos rios Uraricoera, Amajari e
Cauamé. (ISA, 2004).

Lembramos aqui que os povos indígenas de Roraima protagonizaram anos de luta pela
homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, ocorrida em 2005, e efetivada pelo
supremo tribunal em 2009, com a ordem da medida legal de desintrusão dos não índios.
Nessa perspectiva, identificamos que o território Makuxi revelou distintas aldeias.
Santilli (2001 apud COLSON, 1971, RIVIÈRE,1984) nos traz duas características diferentes
de aldeias em diferentes padrões ecológicos, apontando que: „Aldeias construídas nas
florestas são caracterizadas por casas comunais, sendo assim um ambiente em que convivem
distintos grupos domésticos. Já as construções de casas na savana se encontram casas
dispersas que abrigam grupos domésticos”. O autor nos demonstrou que nos dias atuais, (...)
“tanto na planície como no anteplano, compõem-se de pequenas casas, que abrigam famílias
nucleares” (SANTILLI, 2001, p. 29).

2.2. OS WAPICHANAS

No caso dos Wapichanas, temos relatos também com as primeiras notícias dos índios
do rio Branco no relatório feito pela comissão portuguesa de fronteira que foi comandada pelo
governador Lobo D‟Almada em 1787, onde identificou em torno de 22 tribos sobrevivente,
entre elas estava os Macuchis e Uapichanas KOCH-GRÜNBERG; (2006).
37

Theodor Koch-Grünberg (2006; p.72) ainda descreveu que “Os Wapischaná são
moradores exclusivos das savanas. Ainda hoje, eles se encontram espalhados sobre uma área
enorme. As partes centrais do seu território vão, como antes, do alto Rupununi, passando pelo
Tacutú até o Rio Branco.” Nesse sentido, percebemos hoje que esse território descrito pelo
referido autor, é parte da atual área de fronteira entre Brasil e Guyana.
Segundo os dados da Coleção histórico-antropológica de n° 1 do Centro de
Informação da Diocese de Roraima (CIDR), “O nome Wapichana (outrora Matisiana ou
Vapidiana) constitui hoje a autodeterminação do segundo maior povo indígena de Roraima.
Este povo fala uma língua Aruak e formou-se historicamente, da mistura de povos desta
família, (...)”. Conforme Theodor Koch-Grünberg (2006; p.74) os povos indígenas de três
etnias estiveram “Ao norte do Uraricuéra, onde os Wapischána, Makuschí e Taulipáng vivem
uns ao lado dos outros e multiplamente aparentados entre si, os Wapischána de pais de grupos
distintos, ou que falam, além da própria língua, também o makuschí ou Taulipáng, são
chamados de Karapiä. [...]”. Essas informações nos auxiliaram a dizer que a presença dessas
populações indígenas nessa área amazônica demostrou que esses povos sempre estiveram
habitando essa região entre os rios Branco e Rupununi.
De acordo com o CIRD (1989) a localização e distribuição dos povos Wapichana
estão presentes em três áreas: a primeira na Área Surumu, a segunda a Área Taiano e a
terceira Área Serra da Lua. Nesse conjunto territorial, são identificados um total de 26
comunidades indígenas no Brasil e identificados 9 em Guyana, totalizando 35 comunidades
indígenas Wapichana na região fronteiriça.
Esse número totalizado pela pesquisa citada acima é referente ao final da década de
1980 e inicio da década de 1990. Verificamos também nesses dados da pesquisa que
atualmente “(...) as malocas Wapixána se encontram dispersas ao norte, a leste e a oeste da
capital de Roraima, Boa Vista, em distâncias que chegam a atingir pouco mais de 100
quilômetros em relação àquela cidade” (SILVA, 2001, p.58). Para esse autor, os dados
apresentaram um total de 30 comunidades indígenas dos povos Wapichana em território
brasileiro, sendo 11 na região da Serra da Lua, 5 na região do Taiano, 3 na região do Murupu,
9 na região do Amajari e duas na região da fazenda são Marcos. (Idem, 2001).
Nessa circunstância regional, quando analisamos as reflexões de Baines (2012; p.138),
ele afirmou que “Os Makuxi e os Wapichana que vivem na fronteira experimentaram uma
história interétnica transnacional em relação aos dois estados nacionais que dividiram
geopoliticamente seu território tradicional. (...)”. Nessa perspectiva, verificamos que são
38

reflexões e apontamentos sobre os povos Makuxi e Wapichana, que hoje nos remetem a
pensar que esses povos continuam distribuídos por essa região como no tempo passado.
Podemos dizer, com apoio nesses autores consultados e na nossa pesquisa de campo,
que são territórios ou região que sempre foi habitada por essa população da língua Karíb e
Arawak, que ao longo do processo histórico de encontros europeus e indígenas foram
definindo as fronteiras e as relações socioculturais na denominada Amazônia Caribenha. Isso
ficou comprovado pela literatura consultada e aqui demonstrada, que desde o primeiro relato
feito pelos primeiros exploradores, no século XVI, sobre essa área amazônica deram notícias
da presença dessa população indígena do tronco linguístico Karíb (como os Makuxi) e
Arawak (como os Wapichana).
Segundo dados do instituto socioambiental (2004) atualmente se tem uma estimativa
de uma população de 13000 mil índios, sendo 7.800 vivendo no território Brasileiro.
39

3. O CASO DA MALOCA RAIMUNDÃO I - ANALISE DA PESQUISA

A maloca do Raimundão I é localizada na terra indígena Raimundão, sendo uma terra


indígena homologada, com uma extensão territorial de 4.277 hectares. Fazendo parte da
região do Taino, no município de Alto Alegre, estado de Roraima a uma distância de 17 km
da sede do referido município e a aproximadamente 120 km da cidade de Boa Vista, capital
do estado, onde predominam a existência dos povos Makuxi e Wapichana, conforme nos
mencionam Nascimento (2014) e ISA (2016,2013).
Na Região do Taiano predomina o ecossistema do lavrado, onde existem ilhas de
matas que fornecem os recursos naturais e matérias primas para a construção de casa, e
outros, como também de refúgio para animais, e assim contribuindo para caça, além também
de fornecer local para o cultivo da agricultura, conforme dados do Isa (2013).

MAPA 0: Posição geográfica da Terra Indígena Raimundão.

Fonte: ISA(2013)

A maloca do Raimundão teve a sua criação no início dos anos de 1960, sendo
conhecida como sitio Ceará. Vindo a ter o nome de Raimundão após o processo de
regularização fundiária feita pela FUNAI que se iniciou em 1981, e sendo reconhecida como
40

terra indígena em 1982, tendo como o primeiro tuxaua, o senhor Eurico Mandulão, de acordo
com Nascimento (2014).
Segundo as reflexões de Nascimento (2014), um estudo de identificação do interior foi
realizado pela FUNAI em 1993, dando possibilidade para normatização do processo de
homologação da Terra Indígena Raimundão, que foi homologada no ano de 1997, através do
decreto 97 do dia 03/11/1997, publicado no Diário Oficial da União no dia 04/11/1997,
conforme mencionou o referido autor.
De acordo ainda com o mencionado autor, atualmente a maloca do Raimundão II
possui uma população de 342 pessoas, distribuídas em um total de 71 famílias, sendo a maior
parte pertencente ao povo Makuxi e os demais ao povo Wapichana. Sendo uma maloca cuja
estrutura física possui além das casas familiares, duas escolas, sendo uma da prefeitura e a
outra do estado, tendo também um posto de saúde e duas igrejas, uma católica e outra
evangélica, sendo uma maloca “formada por núcleos familiares, não havendo um aglomerado
de casas” (NASCIMENTO, 2014, p. 115).

3.1 ANÁLISE DA PESQUISA

Comentamos no início desse nosso trabalho monográfico, que a Maloca do


Raimundão tornou-se o nosso espaço de estudos, pois durante visita na Maloca em questão
observamos a presença de grande contingente de parentes Makuxi e Wapichana, que tinham
chegado do país vizinho Guyana. Assim, o nosso interesse foi avaliar esse evento na fronteira
dos dois países e perceber o motivo desse deslocamento de Guyana para o Brasil, escolhendo
para habitar e trabalhar a Maloca do Raimundão.
Parte da compreensão histórica desse evento envolvendo o deslocamento dos povos
indígenas, eu já tinha vivenciado, porque já foi comentado também no início de nossa
reflexão, que sou Makuxi e morei com minha família na região do Uiramutã, depois em Boa
Vista e hoje trabalho na Comunidade Indígena Canauanin, como professora de História.
Diante desse conjunto de informações levantadas por nós, estamos chegando ao final
de nosso trabalho, com a reflexão sobre os dados levantados durante nossa observação nas
Assembleias indígenas, nossas conversas com lideranças e outras pessoas na Maloca do
Raimundão. Nesse sentido, a principal ferramenta metodológica foi o levantamento de dados
realizado por meio de um questionário para pessoas que foram sendo convidadas para
responde-lo. A aplicação do questionário ocorreu no dia 15 de dezembro de 2016 na maloca
41

do Raimundão, quando apliquei um questionário com perguntas relacionadas à temática da


pesquisa. Tais questões, foram preconcebidas de acordo com os sujeitos aos quais iriamos nos
dirigir. Nesse perspectiva de consolidação das informações, resolvemos trabalhar com 5
(cinco) famílias Makuxi, que se deslocaram da Guyana até o Brasil.
Conforme as análises feitas dos questionários, percebeu-se que as motivações dos
deslocamentos da Guyana, ao Brasil, foi em decorrência, principalmente, à busca de uma
melhor oportunidade de vida e oferta de trabalho. Já o determinante, mais imediato, do
deslocamento foi a possibilidade de conseguir um lugar propício a constituir moradia e fazer
roça. Isso porque a notícia que chegou, de familiares previamente estabelecidos na maloca do
Raimundão, foi que a terra é boa para se produzir. Por outro lado, na Guyana, o lugar para
fazer roça é muito distante, cerca de sete horas de caminhada. Estas mesma dificuldades são
fatores importantes de motivação para as mulheres jovens, que são levadas a vir trabalhar no
Brasil – geralmente como empregadas domésticas em casa de família.
Percebe-se também, que de todas as pessoas que responderam o questionário, algumas
mulheres vieram solteiras para trabalharem como domésticas na cidade de Boa Vista e
conheceram seus esposos aqui no Brasil. O que chamou atenção foi essas mulheres casarem
com homens indígenas guyanense, que também vieram para o Brasil a procura de melhoria de
vida.
Outro dado revelado pela pesquisa foi o impedimento inicial da realização do sonho de
viver no Brasil. Quando essas famílias de indígenas chegaram ao Brasil tiveram seus sonhos
frustrados pelas dificuldades encontradas, sendo uma delas a burocratização documental e um
lugar fixo para morar. Diante de tal situação, eles buscaram outra opção para residirem no
Brasil e foram trabalhar nas fazendas de Roraima. Ao serem contratados para o serviço nas
fazendas, depararam-se com as seguintes tarefas: os homens trabalhavam em funções diversas
nas fazendas, enquanto que a mulher cozinhava e criava galinhas para os donos da fazenda.
Todos eles relataram ter sido um período muito difícil em suas vidas, com poucos recursos e
muitas tarefas para executarem sob as ordens dos patrões.
Essa situação mudou, segundo os entrevistados, a partir do momento em que
decidiram, juntamente com sua família, ir morar na maloca do Raimundão, na região do Alto
Alegre. De acordo com os dados da pesquisa, a decisão partiu primeiramente por terem
parentes morando na mesma, e também pelo fato de que ao chegarem à maloca são muito bem
recebidos pelo Tuxaua e pelos demais moradores. Assim, identificamos o atrativo que essa
maloca oferece, que era o que eles sempre almejaram desde o primeiro momento que desejam
42

se deslocar pra o Brasil, que era o de conseguir um lugar para fixar moradia e o de poder
plantar roça e criar galinha perto da moradia.
Eu não poderia deixar de destacar que essa relação de parentesco que existe entre essas
famílias que vieram da Guyana para o Brasil, em que observamos que todas as famílias que
vieram para o Brasil e mais adiante para a maloca do Raimundão são ligadas por relações de
parentesco com famílias que já moravam na maloca, sendo esse o grande motivo de terem
vindo procurar moradia nessa localidade.
Quanto ao local da Guyana que deu origem ao deslocamento, temos a seguinte
informação: 6 (seis) pessoas vieram da comunidade de Karasabai Village, 2 (duas) pessoas
vieram da comunidade de Saint Ignatius Village, 1 (uma) de Yakarinta Village, e também, 1
(uma) de Apoteri Village. Todas essas comunidades indígenas estão localizadas na região do
Rupununi (Região 9 de Guyana). Em relação ao transporte que utilizaram para chegar ao
Brasil, temos o seguinte contexto: todos eles vieram caminhando ou fazendo uso de canoa
com saída pela região do Rupununi (Guyana) até o município de Normandia e Bonfim
(Brasil), e daí para Boa Vista de caminhão. Para chegar à maloca do Raimundão os mesmos
fretaram um caminhão.
Foi observado que das 10 (dez) pessoas que apliquei o questionário, 8 (oito) nasceram
na Guyana e as outras 2 (duas) afirmaram ter nascido no município de Normandia, mas foram
morar na Guyana ainda criança, acompanhando os pais. Durante os momentos de conversas
com os participantes do estudo, pude perceber que os sujeitos da pesquisa se mostraram muito
confusos no momento em que perguntei a respeito da sua nacionalidade. Contudo, eles
demonstraram clareza de sua etnia: Makuxi ou Wapichana.
Em relação a situação econômica da Guyana quando comparada ao Brasil, todos
consideraram a situação de Guyana péssima quando comparada ao Brasil. Ao longo de nossas
conversas informais, comentaram sobre as perspectivas esperadas neste país, os indígenas
descreveram que o sistema de saúde e de educação são excelentes em comparação com os
existentes na Guyana.
Outro dado interessante apontado pela pesquisa foi que todos os participantes
definiram suas vidas como ótima neste momento, pois eles possuem moradia fixa com as
localidades de roças próximas às suas casas, e contam com ajuda de benefícios sociais que
recebem, algo inexistente na Guyana. Na maloca Raimundão, encontraram também um lugar
onde os filhos podem estudar, e ter oportunidades de trabalhar na comunidade.
43

Quanto a cultura dos indígenas, percebi que não tem diferenças nas manifestações de
danças, comidas ou língua indígena, a única diferença perceptível é que todos que vieram da
Guyana falam inglês e português, além do Makuxi, ou Wapichana.
Ficou evidenciado na pesquisa que todos os indígenas da maloca Raimundão, que
participaram da entrevista, possuem famílias na Guyana. Desse modo, podemos dizer que os
povos indígenas da referida maloca, como de outras áreas dessa fronteira, continuam hoje o
processo cultural do deslocamento entre o território do Brasil e da Guyana, para visitar os
familiares ou vice-versa.
Outro dado importante que foi questionado foi sobre a ideia dessa população indígena
voltar e se fixar em Guyana, todos afirmaram que não pretendem retorna àquele país.
Contudo, os indígenas fazem deslocamentos na fronteira para visitarem os parentes em
Guyana e depois retornam para a maloca Raimundão, no Brasil. O estudo revelou que para
essa população indígena o território divido entre os dois países (Brasil e Guyana) não é
impedimento para o deslocamento que é realizado hoje como no tempo passado. São povos
que culturalmente se reconhecem como habitantes das terras entre os vales ou savanas do rio
Branco e do rio Rupununi. São povos que trocam experiências socioculturais com parentes na
maloca Karasabai (Guyana) ou na maloca Raimundão (Brasil). São povos que se reconhecem
na língua e cultura Makuxi ou Wapichana como parentes, independente de se comunicarem
em inglês ou português. São características presentes no dinamismo sociocultural da fronteira
amazônica caribenha, que dão também particulares aspectos socioculturais e políticos na área
regional entre os rios Branco (Brasil) e Rupununi (Guyana), apontando o estado de Roraima
como unidade da federação brasileira privilegiada, nesse contexto da Amazônia Caribenha.
44

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o início, e no decorrer da graduação em história, na Universidade Federal de


Roraima–UFRR, chamou-me a atenção os temas relacionados à cultura indígena.
Primeiramente em seus aspectos mais gerais, sobretudo pela forte ascendência indígena de
todo o Estado que é, por conseguinte, a minha própria. Nesse âmbito, a riqueza cultural da
interrelação indígena encontra-se estabelecida no presente trabalho – dentre outros aspectos –
no estudo da fronteira ou da História Regional.
Dessa forma, quando analisamos o lugar fronteiriço percebemos que ele se dá não
somente em virtude de ser um espaço particular de trânsito, mas também de contatos culturais
e de jogos de identidade. A literatura consultada para esta compreensão da fronteira, enquanto
lugar de contato, remeteu-nos à ideia de circulação e de trocas, de relações culturais e
linguísticas, o que possibilitou um entendimento das dinâmicas das trajetórias dos povos
indígenas e do processo de interação sociocultural. Este foi o caso do nosso estudo e objeto
principal do presente trabalho, a saber, a construção histórica da Maloca do Raimundão com a
presença dos Makuxi e Wapichana, que se deslocam na fronteira de Guyana e Brasil.
Assim, conforme já esclarecemos no decorrer desta reflexão no campo da História, a
inquietação trazida após tomarmos conhecimento do deslocamento de indígenas vindos da
Guyana para o Brasil, nos instigou, tanto de forma subjetiva, quanto na procura por
compreensões mais claras desse processo. Nessa lógica, pudemos apreender a diferença
existente entre os conceitos geopolíticos em relação a fronteira – utilizado por governos e
instituições. E, por outro lado, a visão simbólica desta mesma fronteira – arraigada à tradição
indígena. Isso nos levou a dizer que: os indígenas possuem, em muitos casos, o mesmo
sistema de valores, língua, crenças, entre outros elementos culturais, independente de que lado
da fronteira geopolítica nacional estejam.
Ao entrarmos em contato com a bibliografia sobre o tema vimos o quão rica e
pertinente é a análise das vicissitudes dos processos migratórios destes indígenas, o quão
profunda é sua identificação enquanto uma grande família que transpassa a noção mais
comum de fronteira. Foi desse modo, isto é, chegando a estas primeiras considerações a
respeito do deslocamento de indígenas entre Brasil e Guyana, que começamos a vislumbrar a
possibilidade de humildemente contribuir com o tema, bem como ajudar a “preencher”
prováveis “lacunas” quanto à esta abordagem.
45

Nessa perspectiva, pudemos perceber como a identidade do grupo de indígenas


entrevistados é construída, em termos de práticas culturais, quase que exclusivamente por sua
pertença cultual à determinada etnia, (no caso da presente pesquisa: Makuxi, ou Wapichana)
do que à nacionalidade, definida por fronteiras geopolíticas. A pesquisa em etnohistória, de
acordo com o que se viu no decorrer desta Monografia, é o que nos dá subsídios à
compreensão de que o processo histórico de diferenciação e formação dos grupos culturais se
torna a característica predominante de identidade dos povos indígenas vistos atualmente.
Dito isso, é importante também retomar a compreensão de que a relação dos indígenas
que passaram pelo processo de descolamento da Guyana para o Brasil, e que hoje encontram-
se estabelecidos com seus parentes na Maloca do Raimundão, puderam contar, e contam
sempre no decorrer desse processo, com as possibilidades favorecidas pela apresentação de
características culturais semelhantes. Nesse olhar, a fronteira não pode ser apresentada como
algo que divide; pelo contrário, compreendemos esse lugar enquanto área permeável, onde os
processos de interculturalidade se aguçam. Por conta disso, pensamos que a fronteira deve ser
compreendida como o espaço onde ocorre a inter-relação cristalizada nas trocas simbólicas.
Essa questão faz pensar também sobre os conceitos de migração e de deslocamento
utilizado em várias construções teóricas, ao se referir às movimentações indígenas, na
literatura por nós trabalhada. Optamos por utilizar este último termo porque ele melhor se
adequa à situação dos indígenas entrevistados e também a um contexto em que – como vimos
apontado no decorrer das argumentações – é mais representativo, pois engloba as variantes
culturais e não apenas geopolíticas.
Em se tratando da origem e dispersão dos povos das etnias Makuxi e também
Wapichana, vimos que ocupam tradicionalmente o território compreendido entre o que é hoje
parte do Brasil, e parte da Guyana. Portanto, a presença de indivíduos da etnia vivendo dos
dois lados da fronteira geopolítica, sendo mais antiga que a própria fronteira entre os dois
países, segue conduzida por relações interculturais e simbólicas.
Por fim, ou melhor dizendo, por hora, acredito que este trabalho possa ser uma valiosa
contribuição ao campo da etnohistória, que a questão do deslocamento de indígenas da
Guyana à Maloca do Raimundão, em Roraima, seja entendida como prova do quão profunda e
fértil é a problemática indígena para a pesquisa histórica nesse singular lugar da Amazônia. E
que possamos também ter lançado luz sobre o papel das relações culturais e processos
históricos entre os povos indígenas que habitam territórios do contexto das relações
internacionais.
46

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49

ANEXOS

ANEXO I: QUESTIONÁRIO PARA ENTREVISTA COM O INDÍGENA QUE SE DESLOCOU DA


GUYANA PARA O BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS –CCH
CURSO DE HISTÓRIA
ORIENTADOR: PROFESSOR DR. REGINALDO GOMES DE OLIVEIRA
ORIENTANDA: MARY JANE BARRETO DE SOUZA

Questionário para pesquisa de monografia, referente ao tema “ Brasil-Guyana e o


deslocamento de indígenas na ultima década do século XX: o caso da maloca Raimundão em
Alto Alegre‟‟
1. Você ou alguma pessoa que morava ou mora com você, estava morando em outro país
(em 31 de julho de 1990?) nos últimos 10 anos? Ou seja, entre 1990 a 2000?

a- ( ) Sim
b- ( ) Não

2. Qual ano aproximado da ultima partida para morar em outro país?

a- ( )1990
b- ( )1995
c- ( )2000

3. Nasceu neste munícipio?

a- ( ) Sim e sempre morou


b- ( ) Sim, mas morou em outra unidade da federação ou país estrangeiro.
c- ( ) Não.

4. Qual a sua nacionalidade?


50

a- ( ) Brasileiro nato.
b- ( ) Naturalizado brasileiro.
c- ( ) Estrangeiro.
d- ( ) Outro.

5. Em que ano fixou residência no Brasil?

Resposta:
6. Qual a unidade ou federação (estado) ou país estrangeiro de nascimento?

a- Unidade da federação (estado):


b- País estrangeiro:

7. Há quanto tempo mora sem interrupção nesta unidade da federação (estado)?

Numero de anos:

8. Há quanto tempo mora sem interrupção nesse município?

Numero de anos:

9. Em que unidade da federação (estado) e município ou país estrangeiro morava antes de


mudar-se para este município?

Resposta:
10. Qual a noticia que chegou a você sobre o Brasil, para que você sentisse interesse em
vim morar aqui?

Resposta:

11. Qual a situação econômica e social do país que você morava antes de vim morar no
Brasil?

a- ( ) Boa e melhor que o Brasil.


c- ( ) Péssima quando comparado ao Brasil.
51

d- ( ) Ruim, mas parecida com o Brasil.

12. Comparando com os povos indígenas do Brasil, como você define a situação dos
povos indígenas do seu país de origem antes de vim morar no Brasil.

a- ( ) Ótima, e melhor que a situação dos povos indígenas do Brasil.


b- ( ) Péssima quando comparada com os povos indígenas do Brasil.

13. Como você define a sua vida econômica neste momento?

a- ( ) Péssima
b- ( ) Bom
c- ( ) Regular
d- ( ) Ótima.

14. Como você define a sua vida social neste momento?

a-( ) Péssima
b- ( ) Bom
c-( ) Regular
d-( ) Ótima.
15. Você recebe algum beneficio social do governo federal ou estadual? Qual?

a- ( ) Sim.____________________________________________.
b- ( ) Não.

16. Como foi a sua recepção quando você chegou para morar neste local? E como você se
sentiu?

a- ( ) Boa, me senti muito bem.


b- ( ) Ruim, não me senti a vontade.
52

17. Como você define a educação deste lugar que você mora quando comparado com o
lugar que você morava em outro país?

a- ( ) Bom, de ótima qualidade.


b- ( ) Ruim, de péssima qualidade.

18. Como você define a assistência do sistema de saúde deste lugar que você mora quando
comparado com o lugar que você morava em outro país?

a- ( ) Bom, de ótima qualidade.


c- ( ) Ruim, de péssima qualidade.

19. Que tipo de transporte você utilizou para chegar neste município?

Resposta:

20. Há diferenças entre as festas culturais desse município e do lugar que você veio?
Resposta:

21. Você já retornou ao seu lugar de origem?


( ) sim
( ) não

22. Você costuma ir com frequência ao seu lugar de origem?


( ) sim
( ) não
53

ANEXO II: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA


COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CEP/UFRR
BOA VISTA – RORAIMA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido
(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que
está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será
penalizado (a) de forma alguma. Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá
consultar o CEP/UFRR_ Comitê de Ética em pesquisa pelo telefone: (95) 36213112 ou CONEP_ Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa pelo telefone: (61)3315-5878

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Você está sendo convidado (a) a participar como voluntário (a) do estudo “BRASIL/GUYANA E O
DESLOCAMENTO DE INDIGENAS NA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉC. XX: CASO DA MALOCA
RAIMUNDÃO”, recebendo por mim, professor doutor Reginaldo Gomes de Oliveira, as seguintes informações,
que farão você entender sem dificuldades e sem dúvidas os seguintes aspectos:
O objetivo deste estudo é compreender, analisar, investigar e conhecer as motivações do deslocamento
de indígenas Makuxi que foram se estabelecendo entre parentes nos municípios próximos a fronteira entre Brasil
e Guyana, e fixando moradia na maloca do Raimundão.
Este estudo será feito da seguinte maneira, na perspectiva das coletas de dados que nos auxiliará na
busca por respostas, faz-se necessário à aplicação de questionários. No entanto, irei aplicar um questionário com
cinco famílias indígenas Makuxi, especificamente com o total de dez pessoas que se deslocaram da República
Cooperativista da Guyana para o Brasil especificamente até a Maloca do Raimundão, no município de Alto
Alegre (Roraima), sendo duas pessoas por família.
Trata se de uma pesquisa sem fins lucrativos, cujo benefício maior é dar voz aos indígenas Makuxi que
se deslocaram da Guyana até o Brasil, independente da sua situação no Brasil, visando discussões acerca da sua
identidade étnica, pois sabemos que os indígenas ocupam esse território desde a chegada dos colonizadores .
Compreende-se a importância de trabalhar estas pesquisas relacionadas a deslocamentos de indígenas
no estado de Roraima, pois notamos que se tem um grande contingente de indígenas que se deslocaram da
Guyana e residem em malocas indígenas, fazendas e na capital Boa Vista. Até mesmo, para se contribuir em uma
discussão junto ao estado e a sociedade civil sobre a legalidade de direito desses indígenas no País, e de que
forma os órgãos indigenistas devem agir em relação a isso.
54

Os riscos e prejuízos que esta pesquisa apresenta são de abrangência mínima relacionadas a questão
psíquica, moral, social e constrangimentos que podem ser provocados pela mesma. Por isso, há a garantia de que
o interesse é científico sem intenção de promover ou denegrir a imagem de quem quer que seja. E eu como
pesquisador manterei em sigilo total seu nome e qualquer numero de documento, utilizando apenas informações
referentes à temática da pesquisa.
Eu como pesquisador irei tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Para participar
deste estudo você não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira.
Você será esclarecido (a) sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar
ou recusar-se a participar. Poderá retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento.
A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na
forma em que é atendido pelo pesquisador.
Você terá total liberdade de, recusar-se a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da
pesquisa, sem penalização alguma;
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o material que
indique sua participação não será liberado sem a sua permissão.
O (A) Senhor (a) não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo.
O (A) Senhor (a) será indenizado por qualquer dano que venha a sofrer com a participação na pesquisa.
Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada
pelo pesquisador responsável no departamento de história da Universidade Federal de Roraima, e a outra será
fornecida a você.
Caso haja danos decorrentes dos riscos previstos, eu pesquisador responsável pela pesquisa assumirei a
responsabilidade pelos mesmos. Diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa, você terá todo direito de
pedir indenização.
Você Receberá uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido em que eu como
pesquisador responsável pela pesquisa lhe dei a oportunidade de ler e esclarecer as suas dúvidas referentes ao
estudo, tendo assim você, compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado sobre a sua participação no
mencionado estudo e estando consciente dos seus direitos, das suas responsabilidades, dos riscos e dos
benefícios que a sua participação implica.
Desde já caso você concorde em participar, dê o seu consentimento livre e esclarecido, assinando
abaixo deste documento.
O Comitê de Ética em Pesquisa - CEP - é um colegiado multi e transdisciplinar, independente, que
deve existir nas instituições que realizam pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil, criado para defender os
interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da
pesquisa dentro de padrões éticos (Resolução nº 466/12 Conselho Nacional de Saúde). O CEP é responsável pela
avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos.
A missão do CEP é salvaguardar os direitos e a dignidade dos sujeitos da pesquisa. Além disso, o CEP
contribui para a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da pesquisa no desenvolvimento social da
comunidade. Contribui ainda para a valorização do pesquisador que recebe o reconhecimento de que sua
proposta é eticamente adequada.
55

Endereço do sujeito da pesquisa:


Domicilio: Maloca do Raimundão
Município de Alto Alegre
Estado de Roraima

Endereço do responsável pela pesquisa


Pesquisador Responsável: Reginaldo Gomes de Oliveira
Endereço profissional: Universidade Federal de Roraima
Endereço: (rua, nº) Terencio lima 752 Centro
CEP: 69301100 – Boa Vista- Roraima
Fone: (95) 3224-9154
E-mail: regiegomes@gmail.com

Endereço do CEP/UFRR_ Comitê de Ética em pesquisa.


Sede: Bloco da PRPPG (atrás do prédio da Reitoria)
E-mail: coep@ufrr.br
Telefone: (95) 36213112

Endereço: SEPN 510 NORTE, BLOCO A 3º ANDAR, Edifício Ex-INAN - Unidade II - Ministério da Saúde
Bairro: Asa Norte CEP: 70.750-521
UF: DF Município: BRASILIA
Telefone: (61)3315-5878 E-mail: conep@saude.gov.br

Boa Vista-Roraima, _________ de __________________________ de 2016

_______________________________________________________________
Nome Assinatura participante da pesquisa

_______________________________________________________________
Nome Assinatura pesquisador responsável

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