Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Religiões Negra e Negros Bantus - Edison Carneiro PDF
Religiões Negra e Negros Bantus - Edison Carneiro PDF
RELIGIÕES
NEGRAS
O NEGRO BRASILEIRO
E O FOLK-LORE NEGRO
f
f O Negro Brasileiro
(ethnographia religiosa e
psychanalyse) é o primeiro
volume publicado, da Bi-
bliotheca Divulgação
de
Seientifica. O
acolhimento
inotavel que lhe fizeram
especialistas nacionaes e
estrangeiros, attesta o va-
lor deste livro, indispensá-
vel a quem deseja comple-
tar ou organizar uma bôa
cultura.
E' o primeiro volume de
uma obra cyclica sobre o
problema da raça negra, em
nosso paiz, realizado por
alguém que talvez seja a
nossa maior autoridade no
assumpto. Nas suas pagi-
nas ha pesquizas interes-
santíssima e originaes so-
bre o fetichismo, os cul-
tos, a magia, a musica e
a dansa dos candomblés e
das macumbas afro-brasi-
leiras.
/HO
O Folk-lore Negro do
Brasil é a continuação dos
estudos que o professor
Arthur Ramos vem reali-
zando sobre a cultura ne-
gra, no Brasil. O autor
explana, neste interessan-
tíssimo volume, os hábitos,
as tradições, as festas po-
pulares, a poesia, a musi-
ca, os cantos de trabalho,
nos engenhos, nas minas e
nas cidades, trazidos ao
Brasil pelo negro africano,
das suas terras de origem.
R E L I G I O
NEGRAS
NOTAS DE
ETNOGRAFIA
RELIGIOSA
19 3 6
CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S/A
Rua SeU de Setembro, 162
Rio dt Jintiro
DO AUTOR
Dias da Costa
E. C.
INTRODUÇÃO
Religiões Negras 13
14 Edison Carneiro
toria.
A tua primeira inscrição em baixo-relevo foi uma chicotada
[no lombo.
[ferro.
16 Edison Carneiro
Religiões Negras 17
(8) Caio Prado Júnior, op. cit., pg. 179, e Livio Xavier,
negros bantus.
Os negros bantus, originários do Sul da Afri-
ca (Angola, Congo, Moçambique), foram locali-*
O FETICHISMO GÊGE-NAGÔ
O FETICHISMO GÊGE-NAGÔ
34 Edison Carneiro
Religiões Negras 35
Ôxalá-rei ô i, babá ô é
ôxalá-rei
Odé mi ôrixalá rou
ôxalá-rei babá, ôrixalá
ôxalá-rei ô mãe de Deus
Babá ôrixalá-rei
44 Edison Carneiro
(18) Arthur Ramos (op. cit., pg. 37) diz que " Omólú não
pode ser festejado dentro do terreiro em companhia dos outros
orixás o que não tive ocasião de observar.
chista, é numa
o costume de dar comida às crianças
grande bacia, que se coloca no chão, sobre uma
esteira, onde se assenta a meninada para comer em
48 Edison Carneiro
A RAINHA DO MAR
A RAINHA DO MAR
(pg. 36.
.
58 Edison Carneiro
da ilha a esperança,
luz, vida e alegria.
LITURGIA FETICHISTA
LITURGIA FETICHISTA
Religiões Negras 67
— Ôkê! Ôkê!
Então o santo penetrou no meio das feitas e dansou
também. O santo era Xangô, o deus do raio e do trovão,
e trazia contas brancas pintalgadas de vermelho sobre o
vestido branco. Veio e reverenciou Jubiabá, que estava
no meio dos ògans e era o maior de todos os pais-de-santo.
"
68 Edison Carneiro
Religiões Negras 69
Reverenciavam o santo:
— Ôkê! Ôkê!
E Ômólú, que dansava entre as feitas, veio e reve-
renciou Antonio Balduíno. Depois reverenciou pessoas da
assistência que podiam entrar para a casa. Reverenciou o
Gordo, reverenciou o estudante negro que era geralmente
simpatizado, reverenciou o homem calvo, reverenciou Ro-
que e vários outros.
Agora todos estavam excitados e todos queriam dan-
sar. ômólú vinha e tirava mulheres da assistência para
dansar. Antonio Balduíno movia o tronco como si estivesse
70 Edison Carneiro
— Eu caio já na dansa. . .
Religiões Negras 71
72 Edison Carneiro
76 Edison Carneiro
Religiões Negras 79
82 Edison Carneiro
Religiões Negras 83
a festa . .
IV
OS CANDOMBLÉS DE CABOCLO
OS CANDOMBLÉS DE CABOCLO
88 Edison Carneiro
Ele já chegou,
ele já chegou,
ele já chegou d'Aloanda.
Ele já chegou,
tatè.
Religiões Negras 89
Nô abuké
ké-ké
ô maiongá.
Nô abuké
ké-ké'ké
nussèrê wá.
agô.
Banda Munxá irá,
agôlêlê.
me dá licença.
E dansa.
Estas canções — às quais apliquei as mesmas
regras da ortografia nagô (2), — desafiam a
ciência dos etnologos. Haverá quem possa inter-
pretar esta salada de palavras? Às vezes, porém,
os cânticos são mais inteligíveis. Neste, para Yê-
manjá, por exemplo:
ô Maria,
na mesa do aioká
Êh, Cauan!
Oiti a cobra, Cauan!
Êh, Cauan!
Peg'a cobra, Cauan!
Êh, Canan!
Quem me pega essa bicha, Canan!
guaiá-ê, aiyê
guaiá-ê, aiyê
guaiá-ê, aiyê
:
92 Edison Carneiro
2) Conzenzat^en hôxi
Conzêrê moná kalá
Conzenzara
En hôxi inpanzi sêrê moná de lê
3) Comunzenzara assenzarôxa
Comundêrê aturamô
Comunzenzara assenzarôxa
I, pgs. 49-54).
: :
Religiões Negras 93
A irá irá
ôgiin de lê
A irá irá
Monxilê, monxilá
Xangô de lê ô de lá
Bêrê kê turê
Bêrê kê turê
Maiumbá Ôssialá d'ôri ijena bêrê
Kê turê babá
l )
1
Êh, a Sereia!
A Sereia brinca na areia!
3) Ycmanjá vem,
vem do mar,
1) Caça,
caça, caçado!
Eu gostei de vê caça!
2) Caça,
caça no Canindé!
4) Atirei no pass'o,
mas não foi pra matá.
5) Ó sê o caçado,
Religiões Negras 95
E Yansan
{Lembá, Alembá. .
.), o Caboclo Jací, o Ca docIo
Katendê e outros muitos.
1) Amêruê wê wê
Amêruá wá wá
Amêruê wê wê
Congo em Malembá wá zuá
2) Ô Lembá, Lembá!
Ô Lembá, ô Lembê!
ô Lembá de lê!
3) Alembá
Zania pombo para kê nan!
4) Alembá,
Ngana môtí ô
96 Edison Carneiro
1) Katendê-ê-ê
Katendê-ê-ê
Katendê-ê-ê
Ganga Aloanda-ê
2) Katendê
ladjina
óró makvê
3) Katendá Congonjira
Katendá-ê
*
Ké umbanda
kê min ké
Todo mundo min ké,
Umbanda
Religiões Negras 97
A quitanda de yayá
— Comunzenzá,
que bela quitanda! —
A quitanda de yôyô
1) Congojira jakundandô
Ayá ô rêrê
3) Aê Congombira de lê
Aê Congombira de lá
Congombira de Malembê
do lado de Cambinda :
Cambinda ran-ran-rau
0 Cambinda
, ,
98 Edison Carneiro
E f
hora, hora, hora,
é hora agora.
do lado de Cabula:
1) Kutala Zungê
Oiá timbê
2) Unlêtála mole
Unlétála kókó
Religiões Negras 99
olhos.
é possível. .
. ), me garantiram que, então, ao con-
trario do que acontece hoje, a orquestra era consti-
OS NEGROS MALÊS
.
OS NEGROS MALÊS
OS INSTRUMENTOS MUSICAIS
DOS NEGROS
. . .
OS INSTRUMENTOS MUSICAIS
DOS NEGROS
t
OS INSTRUMENTOS MUSICAIS DOS NEGROS
chistas da Bahia.
(mu) ficou "na bôca " do negro. Brevemente, o termo será caxixí
mesmo. E, note-^se, caxixí, melhor caxixís, significam, na Bahia,
minúsculos objetos de barro, moringas, panelas, urinóis, — regalo
da meninada.
114 Edison Carneiro
(2) Nina Rodrigues, op. cit., pg. 294. — Este clan tote-
mico existiu, e possivelmente ainda existe, no Brasil. A tartaruga
{awon, em nagô) entra ainda em vários contos populares do Brasil
(Nina Rodrigues, op. cit., pgs. 274-301), ajudada poderosamente
pelo ciclo ameríndio dos contos do jabotí.
:
W baré
é tirirí lònan
1) ôxalá pê wá já
Iabá ôdê iyiná bukê
pê wá já Iabá ôdê
óbêrí kankan
2) ê mópan sê ô
ê mópan sê ô
— Babá robô mópan sê ô
Imbirê tatá
Imbirê
Cânticos de Óxóssi:
1) — Kô pê nin kô pê
lódê, ônipdpô nin lódê,
— O dê pá awó
arôlê êkun ôssô awô
ré kô ré ô
— Kô pê nin ônipapô
lódê,
— Kô pê nin lódê
u
0 chefe desta aldeia não nos considera bons
caçadores e por isso o bom caçador (Óxóssi) ma-
tou a onça e traz a pele a-tiracolo."
Cântico de Êxú:
Cânticos de Ômólú
1) ômólú mi farai
ômólú mi farai tôtô
2) ê i ê ijena
Ê i ê ijena
Akô ijena
cauções."
Cântico de Yansan :
Oyá! Oyá!
Oyá êdê
Oyá êdê nussan burá
Cânticos de Ôxún:
1) Ôni a jébé
Uòni ôxún adêrê
2) En kenyien ô
lôrê ô
UÔgún bá gbá dá ô
D'Ôgún bá gbá dá
A kôrô bá gbá dá ê
Uôgún bá gbá dá
1) A ôdê rêssê
O ki é Yêmanjá
Akóta guê legue a ôiô
Êró fi rilá
2) ô yiná ará wê
ô yiná mambo
Mabô xá rê nun
Mabô xá rê wá
Religiões Negras 123
2) A ê aká indé
Ê aká indé
Ká indé ká indadô
Uma subia
e a outra descia.
1) Bêrêrê ô
Nanan
Êkú aba
2) Anamburucú
Nanamburucú ké tumê
Araê rêrêrê ayá
:
3) Ê Nanan burá ió
ê Nanan ê
Nanan
Cânticos de õxunmarê:
1 ) Õxunmarê
que bela sereia
lavando os milagres
da mãe das Candeias.
2) Õxunmarê Vôkê
Õ kêrêrê
ô Kinimbá!
Kinimbá
Babá ôkêj Kinimbá!
Xalô ajô no aiyê, Kinimbá!
Cântico de Yêmanjá
Cântico de Oxalá:
A ò lêlê
ôxalá
Agua lá na costa de ôxalá
A MAGIA FETICHISTA
A MAGIA FETICHISTA
Eu sou caboclinho.
Eu só visto pena.
Eu só vim ent terra
— Quem fez?
— Hum! — e sorriu banguela.
ta Barbara.
O ESTADO DE SANTO
O ESTADO DE SANTO
da iniciada.
Em geral, a musica, a dansa, as sugestões do
ambiente, bastam para provocar o estado de santo.
Afora essa modalidade (possessão provocada,
segundo o termo técnico), ha ainda a possessão
espontânea. Nina Rodrigues cita casos de posses-
são espontânea, em que a iniciada volta dos matos
coberta de folhas de urtiga, come mechas acesas
ou sobe em arvores (2). De outras soube eu que
se despiam e rojavam pelo chão, depois de beber
agua em quantidade capaz de dessedentar um ca-
por pentear.
Religiões Negras 143
O SINCRETISMO RELIGIOSO
O SINCRETISMO RELIGIOSO
o seguinte quadro:
1) — gêge-nagô;
2) — gêge-nagô-mussulmí
; ;
3) — gêge-nagô-bantu ;
4) — gêge-nagô-mussulmí-bantu
5) — gêge-nagô-mussulmí-bantu-caboclo;
6) — gêge-nagô-mussulmí-bantu-caboclo-es-
pirita
7) — gêge-nagô-mussulmí-bantu-caboclo-es-
pirita-catolico,
no reinado de ôxalá.
no reinado de Yêmanjá.
ESTATÍSTICAS
.
ESTATÍSTICAS
Goiaz
Brancos 7.273
Mulatos 15.585
Negros 7.992
Negros (escravos) 19.285
50.135
Negras 4.754
Negras (escravas) 7.868
12.622
4.913.293
Brancos 59 %
Mulatos e mestiços 30 %
Negros 10 %
Brancos 51 °/o
Mulatos 22%
Negros 14%
Caboclos 11%
índios 2%
A aceitar estas porcentagens do pro. Roquet-
te-Pinto, o negro entraria com a soma de 5.600.000
habitantes para a população nacional (40.000.000
em 1930).
E isto é tudo (9).
Mas se vê, com toda a clareza, que estas esta-
tísticas, apesar do esforço desinteressado que re-
presentam para a solução dos nossos problemas,
não podem ser suficientes.
E dizer-se que o estudioso tem de trabalhar
apenas (ou, como se diz na Bahia, — a muito fch
vor) com estas cifras irritantemente "aproxi-
madas" . .
regular ?
O bonde pára.
Através da nuvem de mosquitos, que a luz e
a algazarra inquietam, conseguimos ver o farran-
cho, que vem para o nosso lado, precedido por um
negro que agita um archote.
Saltamos.
A poeira nos envolve, os mosquitos nos ata-
cam. Estamos mesmo nas margens do Dique . .
v, x e z.
olho. O
p vale kp, ficando o k "na boca". Ex.
ópá, bengala, irépó, amizade. O r é sempre brando,
mesmo depois de consoante ou no principio das pa-
lavras. Ex. : êrankô, animal, ilê iyanrin, areal.
Nota 5
Introdução 7
Religiões negras 19
O fetichismo gêge-nagô 29
A rainha do mar 51
Liturgia fetichista 61
Os candomblés de caboclo 85
DEMCO 38-297
ESTAB. GRAPHICO PHCENIX
Rua Lavapés, 618 - São Paulo
VALOR DESTE LIVRO
Continuando os estudos
Arthur
iniciados pelo prof.
Ramos, na Bahia, o joven
escriptor Edison Carneiro
dá-nos, neste livro, curio-
sos aspectos das religiões
e dos ritos dos candom-
blés.
m 1193
Civilização Brasileira S. A.
LIVROS PUBLICA
I - Arthur Ramos — O NEGRO BRASILEIRO.
// - Nina Rodrigues — O ANIMISMO FETI-
CHISTA DOS NEGROS BAHIANOS.
III - Bns'os de Avila — QUESTÕES DE AN-
THROPOLOGIA BRASILEIRA.
IV - Arthur Ramos — O FOLK-LORE NEGRO
DO BRASIL.
V - Josué de Castro — ALIMENTAÇÃO E RAÇA.
VI - Octávio Rodrigues — HEREDITARIEDADE
E EUGENIA.
V// - Edison Carneiro — RELIGIÕES NEGRAS.
CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S. A.
RUA SETE DE SETEMBRO, 162 - RIO DE JANEIRO