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Introdução
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2010 2019
2. Sobre a ‘inelasticidade’
Penso que com, ou sem a inelasticidade, a tendência do uso dos venenos agrícolas no
Brasil é crescente por se tratar, entre os grandes players do mercado de commodities
agrícolas, naquele com o maior potencial de expansão da área cultivada. E a
incorporação de áreas ao processo agrícola será vital para o atendimento da
demanda alimentar e de matérias primas no mundo tendo em vista a tendência global
de crescimento decrescente da produtividade agrícola, e mesmo, da estagnação da
produtividade em muitas regiões do planeta. No Brasil, a produtividade ainda se
mantém com crescimento positivo nas regiões de expansão da fronteira mediante o
uso ultraintensivo dos agroquímicos, o que não se verifica nas regiões de colonização
antiga1.
Em segundo lugar, é claro que num contexto de preços elevados dos agrotóxicos, e
supondo a simetria nos padrões de eficácia entre o produto de referência e o
genérico, há a tendência de uma maior parcimônia dos fazendeiros no uso desses
produtos; em outros termos, de observância da rigidez das prescrições. Mas esse
próprio fato reforça o entendimento que, em virtude das circunstâncias peculiares do
agronegócio no Brasil, o uso dos agrotóxicos reflete fenômeno de elasticidade-preço.
1
Sobre o tema da produtividade no Brasil, vale citar art. divulgado na Revista Agroanalysis/FGV, intitulado:
“Prudência” é a palavra de ordem, por Marcello Brito, em 05/07/2019. Diz o autor: “Transformamo-nos numa
nação que é referência mundial na produção de grãos e proteína hoje, vencendo vários desafios ao longo dos últimos vinte
anos. O que possibilitou que elevássemos o Valor Bruto da Produção (VBP) de cerca de R$ 185 bilhões, em 1999, para os
quase R$ 600 bilhões atuais foram as vantagens naturais – como clima e área disponível –, tecnologia, pesquisas
desenvolvidas pelos produtores com a inestimável colaboração de vários institutos de pesquisa, uma moderna gestão
empresarial e crédito subsidiado. Mas, ao mesmo tempo, estamos cientes de que não devemos parar de avançar, até pelo
fato de já ter sido detectada uma preocupante estagnação nos ganhos de produtividade em segmentos vitais do
agronegócio”. (grifamos)
2
Fontes dos dados: uso de agrotóxicos: http://www.ibama.gov.br/agrotoxicos/relatorios-de-comercializacao-
de-agrotoxicos#historicodecomercializacao
Área e produção de grãos: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras?start=10
3. O Brasil “precisa aprovar” as moléculas novas dificultadas pelas normas do país
Nos anos de 2018 e 2019, até 03 de julho, a União Europeia aprovou ou revalidou os
registros de 29 agrotóxicos3. De plano, chama a atenção que enquanto na União
Europeia que envolve 28 países foram registrados / renovados 29 agrotóxicos no período
considerado, no Brasil, somente até esta data de 2019 foram aprovados registros de 239
venenos agrícolas, ou mais de oito vezes. A propósito, o Brasil liberou mais agrotóxicos
em 2019, do que a UE desde 2011 (228 ingredientes ativos aprovados).
3
Fonte: http://ec.europa.eu/food/plant/pesticides/eu-pesticides-
database/public/?event=activesubstance.selection&language=EN
(iv) Trifloxystrobin – fungicida com aplicação nas culturas de abacaxi, abóbora,
abobrinha, acelga, acerola, alface, algodão, alho, almeirão, ameixa, amendoim,
arroz, aveia, banana, batata, berinjela, beterraba, brócolis, etc;
(v) Bordeaux mixture – famosa calda bordalesa; fungicida tradicional largamente
utilizado no Brasil;4
(vi) Copper oxide – fungicida e bactericida;
(vii) Copper hydroxide - fungicida e bactericida;
(viii) Copper oxychloride - fungicida e bactericida;
(ix) Tribasic copper sulfate - fungicida e bactericida;
(x) methoxyfenozide – inseticida usado no Brasil nas culturas de algodão, café,
cana-de-açúcar, feijão, maçã, milho, soja, tomate e trigo.
4
https://www.agrolink.com.br/upload/noticias/anexos/2019-04-08-oficio-prioridades.pdf
(iv) Pethoxamid - herbicida pré-emergência e pós-emergência precoce para
controlar algumas gramíneas e ervas daninhas de folhas largas. A
pethoxamida foi desenvolvida pela japonesa Tokuyama Corporation em
cooperação com a japonesa Arysta LifeScience e a alemã Stähler Agrochemie.
Com processo de registro na UE desde 2000, foi finalmente registrada em
2006, tendo a validade expirada em 2016. Portanto, foi renovada pela UE. Sem
monografia no Brasil, provavelmente por falta de interesse;
(v) Fenpicoxamid – esta, sim, parece uma novidade. Novo fungicida antibiótico
com uma nova classe de química. Tem um baixo risco para a saúde humana.
Parece degradar rapidamente nos solos e é instável na água. Também tem
uma baixa toxicidade para as aves, mas representa um risco muito maior para
os organismos aquáticos. Sem monografia no Brasil, mas com aplicação
limitada ao trigo, centeio, arroz e banana;
(vi) Flutianil –fungicida hortícola que, de acordo com a University of Hertfordshire,
tem solubilidade muito baixa e é volátil. É persistente nos solos. Tem uma
baixa toxicidade em mamíferos, mas existem algumas preocupações em
relação aos efeitos sobre a reprodução e a carginogenicidade. Começou a ser
comercializada em 2008. Sem monografia no Brasil, mas de aplicação limitada;
(vii) Tribenuron – introduzido pela DuPont em 1986; portanto, molécula antiga.
Registrado na UE desde 2011 e um herbicida de ação foliar, pós-emergente,
usado para controlar ervas daninhas de folhas largas em cereais e outras
culturas. Sem monografia no Brasil.
Quanto aos oito biopesticidas registrados (ou renovados) na UE em 2018 e 2019, vale
dizer que traduzem clara prioridade daqueles países no avanço das formas de controle
biológico. A propósito, na lista de prioridades do MAPA para o registro de agrotóxicos
em 2019, não consta um único agente natural para o controle de pragas e doenças. Os
biopesticidas registrados/renovados em 2018 e 2019 na UE são: