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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR MARCONDES D’ÂNGELO DA 25ª

CÂMARA DE DIREITO PRIVADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Processo n.º 1006996-63.2000.8.26.0562

Apelação

JOSÉ ALMEIDA MARIA, já qualificado, vem, tempestiva e oportunamente interpor EMBARGOS


DECLARATÓRIOS em face do Acórdão de fls., pelos fatos e fundamentos que, em consecutivo,
passa a expor:

1 – DO CABIMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS:

São cabíveis os presentes Emabrgos, vez que opostos oportuna e tempestivamente na forma do
Art. 1022 do Código de Processo Civil vigente.
2 – DA NECESSIDADE DO MANEJO DOS PRESENTES EMBARGOS DECLARATÓRIOS:

É necessária a interposição dos presentes embargos eis que o acórdão se encontra eivado de
erro material e omissão conforme demonstrar-se-á mais adiante, bem como para fins de
prequestionamento objetivando a interposição de Recurso Especial.

3 – RAZÕES DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS:

Interpõe-se os presentes embargos vez que no Acórdão que negou provimento ao apelo da
parte contrária, muito embora tenha primado pela qualidade técnica quando da apreciação do
mérito, esposando o apreço à segurança jurídica em detrimento do credor desidioso, referido
acórdão não ostentou a mesma sensatez quando se dispôs acerca dos honorários
sucumbenciais.

Afirma-se isso em razão do erro material e da omissão ao curso da redação adotada, a qual
toma-se a liberdade de reproduzir, verbis:

“Rejeitado o apelo, de rigor a majoração da honorária


advocatícia sucumbencial ( artigo 85,parágrafo 11, do
Código de Processo Civil ), de 10% ( dez por cento), para
12% ( doze por cento ) sobre o valor da causa, este
declinadona inicial em R$ 6.392,70 ( seis mil, trezentos e
noventa e dois reais e setenta centavos ), devidamente
atualizado, descabido o pedido de incidência sobre o
montante da condenação.” (grifei)

Constata-se que há erro material uma vez que, ao aplicar o Artigo 85, §11, do Código Processual
Civil, os julgadores excluíram a aplicabilidade da redação legislativa insculpida no §2º do mesmo
Artigo, desviando-se para a exceção e omitiram-se quando não utilizaram os mecanismos de
regra ao invés da exceção para delimitar a hipótese de incidência dos honorários sucumbenciais.

Vejamos o referido artigo e seus parágrafos para que se aclare o aduzido:


“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar
honorários ao advogado do vencedor.

(...)

§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez


e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não
sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado
da causa, atendidos:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido


para o seu serviço.

(...)

§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os


honorários fixados anteriormente levando em conta o
trabalho adicional realizado em grau recursal,
observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º,
sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de
honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar
os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a
fase de conhecimento.”(grifei)

Excelências, fica evidente que, na redação do V. Acórdão, IGNOROU-SE que o §2º do Código de
Processo escalona as hipóteses de escolha da base de incidência dos honorários sucumbenciais.
Quando o legislador utilizou a expressão “ou, não sendo possível mensurar”, consagrou ali uma
hipótese excludente, isto é, SE o proveito econômico não for liquidável - o que no caso concreto
é, pois a ação versa sobre obrigação pecuniária em prestações sucessivas e mensais, de valor
determinado – RESTA INAPLICÁVEL a utilização do valor atualizado da causa como base de
incidência dos honorários sucumbenciais.
Deste modo, os presentes Embargos são, em primeira análise, a via mais adequada para a
correta aplicação da Lei Processual, privilegiando-se a exegese adequada, a qual impõe ao
julgador que vincule a incidência de honorários sucumbenciais ao proveito econômico
liquidável, o que existe ipso facto.

Citando Marcus Vinicius Furtado Coelho1:

“Em parecer proferido a pedido do Conselho


Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o
professor Luciano Benetti registra que os
honorários sucumbenciais possuem uma
função sistêmica na prestação jurisdicional que
supera seu mero impacto monetário às partes
envolvidas nos litígios. A partir do ferramental
teórico da Análise Econômica do Direito, ele
observa que "a função sistêmica dos
honorários sucumbenciais extrapolam a mera
remuneração dos advogados vencedores de
litígios – antes, eles operam como 'majorador'
do risco (e do custo mesmo) associado à
litigância, criando incentivos adicionais contra
a litigância predatória ou frívola".

Para ele, mecanismos como a estrutura de


sucumbência – que compreende os honorários
de sucumbência – precificam o risco envolvido
na demanda judicial. Nesse aspecto, caso o
risco de sucumbência seja elevado, os
honorários de sucumbência acabam operando
como um potencializador do risco
sucumbencial/financeiro: afinal, por disposição
expressa do art. 85, § 2º, do Código de
Processo Civil, os honorários de sucumbência
são calculados entre o mínimo de 10% e o
máximo de 20% do proveito econômico obtido
pela parte vencedora, ou valor atualizado da
causa.

Assim, conclui Benetti que se o sistema


brasileiro não possuísse o instituto dos
honorários sucumbenciais, ou o tivesse de
forma mitigada (fora da baliza estabelecida
pelo Novo CPC), veríamos, seguramente, uma

1
Disponível em https://www.migalhas.com.br/CPCMarcado/128,MI293782,101048-
art+85+do+CPC+Fixacao+dos+honorarios+sucumbenciais. Acesso em 06/06/2019.
tendência de aumento nos litígios de natureza
frívola ou predatória. Nesse caso, perderíamos
forte mecanismo contra a excessiva
judicialização de demandas que já assola o
sistema jurisdicional brasileiro, que voltaria a
se acentuar.”

A aplicação adotada pelos Julgadores, com a devida vênia, buscou mitigar os honorários
sucumbenciais, quando adotou hipótese excepcional ao invés da regra ao determinar a base de
cálculo dos honorários advocatícios, e a sua majoração – consolidada jurisprudencialmente
como obrigatória pelo STJ apud AgInt nos EREsp 1539725/DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/08/2017, DJe 19/10/2017 – em 2% (dois por cento)
sobre a mesma e equivocada base de cálculo, resulta por fim em verdadeiro aviltamento da
remuneração do Advogado.

A teor disso, vale ressaltar que tais honorários possuem natureza alimentar, na forma da Súmula
Vinculante 47:

“Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou


destacados do montante principal devido ao credor
consubstanciam verba de natureza alimentar cuja
satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou
requisição de pequeno valor, observada ordem especial
restrita aos créditos dessa natureza.”

Logo Excelências, seu aviltamento a ninguém favorece, ainda quando enseja que o Advogado
teria, em hipótese, “ganhos exagerados” nas verbas sucumbenciais, vez que possuem
“honorários privados vultosíssimos” como propalado pelo presidente da AJUFE num passado
não tão distante2. Tal pensamento não passa de pura balela, ainda mais tratando-se de um
processo com 19 (dezenove) anos de tramitação. Este advogado não crê que nenhum dos
Julgadores espose este tipo de tese, porém, legar os honorários sucumbenciais à mingua,
somente favorece esse tipo de afirmação lamentável como a supramencionada.

2
Disponível em https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI273525,101048-
Lamachia+lamenta+Ajufe+justificar+auxiliomoradia+com+base+em+ganhos
4 – REQUERIMENTOS:

Requer o embargante sejam providos os presentes EMBARGOS DECLARATÓRIOS nos seguintes


termos:

a) Provimento para que seja alterada a base de incidência dos honorários sucumbenciais,
atendendo à boa exegese da norma processual, aplicando-se, na forma da Lei, a
incidência sobre o valor do proveito econômico, eis que trata-se de causa líquida em
detrimento do valor da causa, o qual somente se justifica aplicar quando a causa não for
mensurável, a teor da boa norma processual.
b) Provimento para que sejam majorados os honorários sucumbenciais ao patamar
máximo de 20% (vinte por cento), respeitando a limitação presente no Código de
Processo Civil, para assim reconhecer e avivar a finalidade precípua dos honorários
sucumbenciais.
c) Em caso de manutenção da redação combatida, reconhecer o Prequestionamento do
Art. 85, §2º do Código de Processo Civil, uma vez que a interpretação adotada no julgado
fere o mens lege e a teleologicidade do referido Artigo, devendo assim a Corte Especial
corrigir tal conflito para uniformizar a jurisprudência e a interpretação da referida
norma.

5 – DEMAIS REQUERIMENTOS:

a) Intimação da outra parte para apresentar contra-razões no prazo legal.


b) Intimações e notificações na pessoa do signatário sob pena de nulidade.

Ita Speratur Justitia!

Santos, 06 de junho de 2019.

NILO NÓBREGA DOS SANTOS - OAB/SP 250.797

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