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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

MÓDULO - RECURSOS E AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO

Professor: Guilherme Madeira Dezem

1. Material pré-aula

a. Tema

Habeas corpus

b. Noções Gerais

b.1. Origem histórica, definição e natureza jurídica

A liberdade de locomoção é um direito fundamental e historicamente


conquistado com a revolução francesa, conhecido como direito de 1ª
geração, e que possui previsão expressa na Constituição federal
brasileira de 1988:

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,


podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
ou dele sair com seus bens;

Por conseguinte, o constituinte previu expressamente o habeas


corpus como remédio constitucional para a garantia desde direito
fundamental, in verbis:

LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou


se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

Conceitua-se o habeas corpus como uma ação autônoma de


impugnação, de caráter penal, constitucionalmente assegurada como
garantia fundamental (art. 5º, LXVIII) e que tem por finalidade a
proteção da liberdade de locomoção própria ou alheia, contra a
ilegalidade ou abuso de poder, garantindo assim a nossa prerrogativa
de ir, vir ou ficar.

Em que pese ter sido regulamentado pelo Código de Processo Penal
no título destinado aos recursos, sua natureza jurídica é de ação
penal popular constitucional voltada à proteção da liberdade de
locomoção.
As ações de habeas corpus são gratuitas, como disposto no próprio
art. 5.º, LXXXVII, da Constituição Federal. Além da previsão legal no
artigo 5º da CF pertinente ao Habeas Corpus, o Código de Processo
Penal também faz alusão da referida ação no art. 647 do CPP,
segundo o qual "Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar".
Na diferenciação quanto ao mandado de segurança, explica-se que o
mandado de segurança e o habeas corpus são institutos correlatos,
diferenciando-se quanto ao fim que visam proteger. Enquanto o
habeas corpus protege apenas direito líquido e certo tangente à
liberdade individual, o mandado de segurança atua de forma
subsidiária para protege qualquer outro direito líquido e certo.
De certo, portanto, que o habeas corpus não discute todo e qualquer
direito, sendo garantido apenas para específicos casos. Assim, por
exemplo, a referida ação não é cabível para discutir acerca do
impeachment, que enseja aplicação de sanção de natureza político-
administrativo, e não pena privativa de liberdade. E também não será
o remédio cabível a outros tipos de liberdade, como de expressão,
social, crença, religião, etc.
No que se refere a origem do habeas corpus no mundo, há duas
correntes:

Alguns apregoam que este instituto surgiu em consequência de uma


ação contemplada no Direito Romano, chamada de interdictum de
libero homine exhibendo, pela qual se facultava a todo cidadão o
direito de reclamar a liberdade ao homem que estivesse ilegalmente
preso. Outros afirmam que a sua origem remonta ao ano de 1679, na
Espanha, por ocasião do reinado de Carlos II. Sem embargo destas
opiniões, a maioria dos escritores sustenta que o writ teve sua
origem remota na Constituição da Inglaterra de 1215 (Magna Charla
Libertatum), outorgada pelo Rei João-Sem-Terra.1

Aprofundando a origem história, Nucci dispõe:


1
AVENA, Noberto. Processo Penal. 10ª Edição. Editora Forense, 2018.

O absolutismo dos reis, na Idade Média, é historicamente reconhecido


como um dos males mais visíveis à liberdade individual em todos os
seus aspectos. A cobrança abusiva de impostos, muitos dos quais
possuíam nítido caráter confiscatório, associada ao poder de prender
qualquer pessoa, desprovida do devido processo legal, evidenciava
esse totalitarismo, que, sem dúvida, desagradou à própria elite de
vários lugares. Particularmente, na Inglaterra, emergiu a Magna
Carta, imposta pelos barões ao Rei João Sem Terra, para que
respeitasse as liberdades mínimas dos cidadãos.
Um dos mais relevantes passos nessa direção foi a instituição do
Tribunal do Júri, oferecendo julgamentos imparciais, realizado por
seus pares – pessoas do povo, desvinculadas do poder real -, além de
estabelecer o princípio da legalidade: ninguém deve ser processado
ou preso senão pela lei da terra (by the law of the land), que,
posteriormente, transformou-se na expressão devido processo legal
(due processo of law).
Direitos fundamentais – como a legalidade e o juiz imparcial – de
nada serviriam a menos que se criassem instrumentos dinâmicos
para assegurar os ganhos relativos à liberdade individual. Nesse
cenário, surgiu o habeas corpus, hoje intitulado remédio heroico,
para obter do Poder Judiciário a ordem de soltura ou o salvo-conduto,
evitando-se constrangimentos ilegais.
Professa Pontes de Miranda que ‘os princípios essenciais do habeas
corpus, vêm, na Inglaterra, do ano 1215. Foi no capítulo 29 da
Magna Charta libertatum que se calcaram, através das idades, as
demais conquistas do povo inglês para a garantia prática, imediata e
utilitária da liberdade física (no free man shall be taken, or
imprisoned, or disseized, or outlawed, or exiled, or any wise
destroyed; nor we will go upon him, nor send upon him, but by the
lawful juldgment of his peers or by the law of the land. To none will
we deny or delay, right or justice)’.
Destaca, ainda, que, aos ingleses, cultivadores originários desse
instrumento de proteção, sempre foi muito cara a liberdade física de
ir e vir, porque matar um cidadão, injustificadamente, provocaria
alarme social imediato, mas o encarceramento de uma pessoa ‘é
arma menos pública. Ninguém a percebe, ou poucos poderão dela ter
notícia. Oprime às escuras, nas prisões, no interior dos edifícios, nos
recantos. É violência silenciosa, secreta, ignorada, invisível; portanto,
mais grave e mais perigosa do que qualquer outra’.

Afirma Thiago Bottino do Amaral que ‘a aristocracia inglesa, vitoriosa
com a Magna Carta, mas em luta constante por sua afirmação,
percebeu a necessidade de uma regulamentação que afirmasse a
força do habeas corpus, enunciando, mais de quatrocentos anos
depois, o Habeas Corpus Act, em 1679. (...) Com o Ato, a força do
habeas corpus se revelou, então, com toda sua eficácia e energia ao
se instituir um novo rito, mais célere, com previsão de multas e
outras penalidades àqueles que o descumprissem, prazo para a
apresentação do preso perante a Corte, proibição de transferência do
preso de uma prisão para a outra sem consentimento da autoridade
competente, além da proibição (hoje elementar) de que a pessoa que
fosse posta em liberdade por meio de uma ordem de habeas corpus
fosse presa novamente pelo mesmo motivo. (...) O Habeas Corpus
Act de 1816 supriu a ausência para o sujeito que não estivesse sendo
acusado da prática de um crime. Garantiu-se a liberdade de
locomoção a qualquer um’.
Em suma, o habeas corpus nasceu na Inglaterra, porém com raízes
no direito romano. Depois, estendeu-se por toda a parte, em
constituições ou leis ordinárias, como aspiração de todos os que
lutam pela liberdade individual.
Nos Estados Unidos, seguindo tradição britânica de apoio à liberdade
individual, editou-se, em 1868, a XIV Emenda, preceituando que
‘nenhum Estado poderá fazer ou executar leis restringindo os
privilégios ou as imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos; nem
poderá privar qualquer pessoa de sua vida, liberdade, ou bens sem
processo legal, ou negar a qualquer pessoa sob sua jurisdição a igual
proteção das leis’.
Na lembrança de Ary Azevedo Franco, ‘maior amplitude teve,
entretanto, o instituto do habeas corpus nos Estados Unidos da
América do Norte, estendendo-lhe a jurisprudência o âmbito ao
conhecimento da constitucionalidade da lei federal ou estadual, desde
que seja esta a causa determinante da coação arguida pelo
paciente’.2

No Brasil, o habeas corpus foi introduzido com a vinda de D. João VI,


quando foi expedido o Decreto de 23 de maio de 1821.


2
NUCCI, Guilherme. Habeas Corpus. Rio de Janeiro: Forense, 2014

No Brasil havia inicialmente textos legislativos que previam as
chamadas Cartas de Seguro. Após a partida de D. João VI para
Portugal D. Pedro I emite o Dec. de 23.05 de 1821 que pode ser
considerado nosso Bill of Rights e assim estabelece em um dos mais
belos textos da nossa história legislativa: "Constando-me que alguns
Governadores, Juízes Criminais e Magistrados, violando o sagrado
depósito da jurisdição que se lhes confiou, mandam prender por mero
arbítrio e antes de culpa formada, pretextando inúmeras denúncias
em segredo, suspeitas veementes e outros motivos horrorosos à
humanidade, para impunemente conservar em masmorras, vergados
com os pesos de ferros, homens que se congregavam por os bens
que lhes oferecera a instituição das Sociedades Civis, o primeiro dos
quais é sem dúvida a segurança individual." Este belo texto previa o
direito à liberdade, mas não fazia menção ao habeas corpus3.

A Constituição do Império o texto constitucional não consagrou


explicitamente o remédio supracitado, porém, pela redação de seu
art. 179, VIII, podia-se subtrair a ideia de existência desde então do
habeas corpus:

Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos
declarados na lei; e nestes dentro de 24 horas contadas da entrada
da prisão, sendo em cidades, vilas ou outras povoações próximas aos
lugares da residência do juiz e nos lugares remotos dentro de um
prazo razoável, que a lei marcará, atenta a extensão do território, o
juiz por uma nota por ele assinada, fará constar ao réu o motivo da
prisão, os nomes do seu acusador, e os das testemunhas, havendo-
as.

Em que pese esta omissão constituinte, o Código de Processo


Criminal de 1932 saltou à evolução dos direitos fundamentais ao
prevê-lo expressamente, assim como o Código Criminal de 1830 que
assim era disposto:

Art. 183. Recusarem os Juizes, á quem fôr permittido passar ordens


de - habeas-corpus - concedel-as, quando lhes forem regularmente
requeridas, nos casos, em que podem ser legalmente passadas;
retardarem sem motivo a sua concessão, ou deixarem de proposito, e


3
MADEIRA.

com conhecimento de causa, de as passar independente de petição,
nos casos em que a Lei o determinar.
Art 184. Recusarem os Officiaes de Justiça, ou demorarem por
qualquer modo a intimação de uma ordem de - habeas-corpus - que
lhes tenha sido apresentada, ou a execução das outras diligencias
necessarias para que essa ordem surta effeito. Penas - de suspensão
do emprego por um mez a um anno, e de prisão por quinze dias a
quatro mezes.
Art. 185. Recusar, ou demorar a pessoa, a quem fôr dirigida uma
ordem legal de - habeas-corpus - e devidamente intimada, a
remessa, e apresentação do preso no lugar, e tempo determinado
pela ordem; deixar de dar conta circumstanciada dos motivos da
prisão, ou do não cumprimento da ordem, nos casos declarados pela
Lei. Penas - de prisão por quatro a dezaseis mezes, e de multa
correspondente á metade do tempo.
Art. 186. Fazer remesea do preso á outra autoridade; occultal-o, ou
mudal-o de prisão, com o fim de illudir uma ordem de habeas-corpus
- depois de saber por qualquer modo que ella foi passada, e tem de
lhe ser apresentada. Penas - de prisão por oito mezes a tres annos, e
de multa correspondente á metade do tempo.
Art. 187. Tornar a prender pela mesma causa a pessoa, que tiver
sido solta por effeito de uma ordem de - habeas-corpus passada
competentemente. Penas - de prisão por quatro mezes a dous annos,
e de multa correspondente á metade do tempo. Se os crimes, de que
tratamos tres artigos antecedentes, forem commettidos por
empregados publicos em razão, e no exercicio de seus empregos,
incorrerão, em lugar de pena de multa, na de suspensão dos
empregos; a saber: no caso do artigo cento oitenta e cinco, por dous
mezes a dous annos; no caso do artigo cento oitenta e seis, por um a
quatro annos; e no caso do artigo cento oitenta e sete, por seis
mezes a tres annos.
Art. 188. Recusar-se qualquer cidadão de mais de dezoito annos de
idade, e de menos de cincoenta, sem motivo justo, a prestar auxilio
ao Official encarregado da execução de uma ordem legitima de -
habeas-corpus - sendo para isso devidamente intimado. Penas - de
multa de dez a sessenta mil réis.

Finalmente, posteriormente à legislação federal, a Carta republicana


de 1891, impôs o instituto do habeas corpus pela primeira vez em um
texto constitucional, no artigo 72, 22º parágrafo, in veerbis: “Dar-se-

á o habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer ou se achar em
iminente perigo de sofrer violência, ou coação, por ilegalidade, ou
abuso de poder”.
Vê-se que a previsão constitucional do habeas corpus foi consagrada
na constituição de 1891 e em todas as posteriores, tendo ocorrido
alguns momentos de infelicidade, como foi o caso da suspensão do
habeas corpus em 19364, pelo Dec. 702, que foi restabelecido com
ressalva, na CF de 1937, na qual não se concedia o habeas corpus
quando estivesse declarado de Estado de Guerra, em que o habeas
corpus novamente seria suspenso. E também na infelicidade da CF de
1967:

não tardaria a voltar os tristes períodos de limitação democrática e o


Ato Institucional 5 (13 de dezembro de 1968) suspendia o direito de
habeas corpus para crimes políticos, contra a segurança nacional, a
ordem econômica e social e a economia popular.AI-5, art. 10. Fica
suspensa a garantia do habeas corpus nos casos de crimes políticos,
contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a
economia popular.

Além da previsão no ordenamento jurídico interno, assevera-se que o


habeas corpus tem amparo em documentos internacionais de
proteção aos direitos humanos, tais como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1948), em seu art. 8º; a Convenção Europeia, no
art. 5º, inciso 4 e também a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, no art. 7º.

b.2. Pressupostos e competência de julgamento

Diferentemente dos recursos no processo penal, os quais têm como


pressuposto a existência de um processo e de uma decisão não
transitada em julgado, o habeas corpus poderá ser manejado como

4
"Art. 1.º É equiparada no estado de guerra, pelo prazo de noventa dias e em todo
o territorio nacional, a commoção intestina grave articulada em diversos pontos do
paiz desde novembro de 1935, com a finalidade de subverter as instituições
politicas e sociaes. Art. 2.º Durante o periodo a que se refere o artigo anterior,
ficarão mantidas, em toda sua plenitude, as garantias constantes dos numeros 1,
5, 6, 7, 10, 13, 15, 17, 18, 19, 20, 28, 30, 32, 34, 35, 36 e 37, do art. 113 da
Constituição da Republica, ficando suspensas, nos termos do art. 161, as demais
garantias especificadas no citado art. 113 e bem assim as estabelecidas, explicita
ou implicitamente, no art. 175 e em outros artigos da mesma Constituição."

ação e de ação com função de meio de impugnação. Servirá de ação
quando não houver nem mesmo a existência de um processo ou
decisão a ser impugnada, ou, inclusive, para de rescindir a coisa
julgada. Terá a função de impugnação de decisão judicial quando se
impor a revisão do ato contra o qual foi investido, como ocorre nas
hipóteses de impetrar o remédio constitucional a fim de reformar
decisão que indeferiu pedido de liberdade provisória.
No que pertine à competência, esta é firmada a partir da autoridade
coatora, ou seja, leva-se em consideração a competência para julgar
criminalmente a autoridade coatora.
Por exemplo: Delegado de polícia como autoridade coatora, o órgão
competente é o juiz de direito. Se o juiz de direito ou promotor de
justiça forem a autoridade coatora, competirá ao Tribunal de Justiça.
Se for algum membro do Tribunal de Justiça, competirá ao STJ, e,
por fim, se for membro do STJ, competirá ao STF.
No juizado especial criminal, se o ato for proferido pelo Juiz de
Direito, a competência será da Turma Recursal. Por outro lado, se a
decisão coatora for da Turma Recursal, o STF entende que a
competência será dos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais
Federais.
Competirá ainda ao STF se o paciente for o Presidente da República,
o Vice-Presidente, membro do Congresso Nacional, ministro do
Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República, ministro
de Estado, o Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica,
membro de Tribunal Superior ou do Tribunal de Contas da União ou
chefe de missão diplomática de caráter permanente (art. 102, I, d,
da CF).
Será, porém, do STJ a competência se o coator ou paciente for
Governador de Estado ou do Distrito Federal, desembargador dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, membro dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho,
membro dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais ou quando o
coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou
Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral (art. 105, I, c, da CF).
Em caso de decisão dos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais
Federais, a competência será do STJ. Contra as decisões do STJ
caberá Habeas corpus para o STF.

b.3. Espécies

O habeas corpus pode ser classificado em 4 espécies:

i) Preventivo:
Também tem a forma chamada salvo-conduto. É cabível para evitar
lesão à liberdade de locomoção, desde que haja fundado receio de
que irá ocorrer.
Acerca desta classificação, dispõe Victor Eduardo Rios Gonçalves5:

É com base no caráter preventivo do habeas corpus que se exerce o


controle de legalidade da persecução penal, pois o evento prisão, em
maior ou menor probabilidade, afigura-se possível quando instaurado
inquérito policial ou ajuizada ação penal. Por esse motivo, permite-
se, em certos casos, até mesmo o trancamento de inquérito ou de
ação penal pela via do habeas corpus, desde que o fato apurado, por
exemplo, seja evidentemente atípico ou que já esteja extinta a
punibilidade. Consolidou-se, entretanto, o entendimento segundo o
qual não é cabível habeas corpus para discutir matéria relativa a
processo cujo crime é apenado exclusivamente com multa, pois não
se estaria tutelando liberdade de locomoção.
Nesse sentido, a Súmula n. 693, do Supremo Tribunal Federal: “Não
cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou
relativo a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada”. Também por não haver risco de
restrição à liberdade de locomoção do indiciado ou réu, o Supremo
editou a Súmula n. 695, segundo a qual “não cabe habeas corpus
quando já extinta a pena privativa de liberdade”.

ii) Repressivo / liberatório / corretivo:


Impetrado após consumada a privação da liberdade, ou seja, após o
indivíduo já ter tido seu direito fundamental de liberdade violado.

iii) Individual

iv) Coletivo


5
Direito Processual Penal esquematizado. 7ª Ed. Editora Saraiva, 2018.

O habeas corpus coletivo foi amplamente aceito, principalmente, com
o julgamento ocorrido no dia 20 de fevereiro de 2018 pelo STF na 2ª
Turma, que concedeu a ordem coletiva para determinar a
substituição da prisão preventiva por domiciliar de mulheres presas,
em todo o território nacional, que sejam gestantes ou mães de
crianças de até 12 anos ou de pessoas com deficiência, sem prejuízo
da aplicação das medidas alternativas previstas no artigo 319 do
Código de Processo Penal (CPP)6.

b.4. Procedimento

O procedimento do Habeas Corpus, em razão da sua própria natureza


e da finalidade de se garantir a liberdade individual, que é direito
fundamental do indivíduo, exige forma mais célere e eficaz.
Sua principal característica é ser um procedimento de cognição
sumária, e, portanto, inadmissível a instrução probatória.
Em síntese, o procedimento se refere às seguintes etapas:
impetração do habeas corpus através da petição inicial, dirigida ao
órgão ad quem de quem proferiu o ato ilegal; pedido de informações
à autoridade coatora (ato facultativo) e a resposta deste pedido;
parecer do Ministério Público sobre o mérito do habeas corpus e
julgamento.
Este procedimento segue o rito sumário, e, por vezes (em sua
maioria), a parte impetrante se vale da medida liminar para fazer
cessar o ato ilegal. No que se refere à esta medida, nota-se que não
há previsão expressa para sua concessão em habeas corpus, porém,
por aplicação analógica do procedimento aplicado ao Mandado de
Segurança, preenchidos os requisitos do fumus boni juris do
periculum in mora, a medida torna-se passível de ser concedida.
É evidente que a liminar é a medida justa que se impõe nos casos em
que há uma patente violação ou ameaça à liberdade de locomoção.
Será devidamente concedida quando estiver diante de fatos
manifestamente ilegais ou de fatos cujo autor do delito não apresenta
perigo ou até mesmo quando não preenchidos os requisitos
necessários para se impor uma eventual e futura prisão.
Nos casos em que for cabível a concessão da liminar aos olhos do
julgador, será concedida até antes mesmo das informações prestadas
pela autoridade coatora, ou seja, logo que distribuída a inicial. Assim,


6
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=370152

nos casos em que a decisão do mérito do habeas corpus caiba a um
determinado tribunal, por órgão colegiado, a decisão de concessão da
liminar é incumbida monocraticamente ao relator. Dessa forma, o
relator designado profere a decisão de concessão ou não da liminar, e
apenas posteriormente remete o writ para apreciação do mérito a ser
realizada pela câmara e demais julgadores.
O habeas corpus é, portanto, o remédio constitucional que tutela a
liberdade de locomoção quando a sua constrição ou sua ameaça
forem patentemente ilegal, cuja demora torna-se em privação
ilegítima da liberdade.
Em que pese o procedimento do habeas corpus ser o mais célere de
todos os outros recursos e ações autônomas previsto no
ordenamento jurídico processual penal, no caso de indeferimento de
liminar, o que de fato a sociedade se depara na prática forense é com
a lentidão do julgamento do mérito. Por essa razão, a resposta
encontrada por uma determinada época foi a impetração de novo
habeas corpus para o novo tribunal ad quem, mesmo sem aguardar o
julgamento do mérito, quando a liminar fosse indeferida.
Nesse diapasão, o STF então sumulou o seguinte entendimento: “não
compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus
impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido
a tribunal superior, indefere a liminar” (Sum. 691).
Este posicionamento do Supremo Tribunal Federal teve como
finalidade em evitar a impetração em excesso de habeas corpus. No
entanto, a verdade que se consubstanciou foi que há casos em que a
ilegalidade é tão manifesta que não se encontrou outro caminho
senão em não conhecer o habeas corpus impetrado pela parte,
porém, conceder de ofício a ordem pretendida.
Ademais, o entendimento sumulado possibilitou que a parte
impetrante, a fim de evitar maior lesão ao seu direito fundamental
garantido constitucionalmente, ao invés de requerer apreciação da
liminar que fora indeferida por meio de novo habeas corpus que não
seria conhecido, passou a requerer ao Tribunal ad quem uma decisão
de determinação de celeridade ao tribunal de origem para que
realizasse um julgamento do mérito do habeas corpus de forma mais
célere.
Fato é que, atualmente, na prática, evidencia-se a impetração de
habeas corpus ao tribunal ad quem a fim de ser concedida ordem de
ofício.

No que se refere aos dispositivos expressos no Código de Processo
Penal, dispõe o art. 656 que “recebida a petição de habeas corpus, o
juiz, se julgar necessário, e estiver preso o paciente, mandará que
este lhe seja imediatamente apresentado em dia e hora que
designar”.
Na prática, trata-se de um dispositivo em total desuso, na medida
que este ato é substituído pelo pedido de informações à autoridade
coatora. Ademais, importante salutar que este pedido de informações
também é um ato facultativo, e que possui previsão apenas para
habeas corpus cuja competência originária seja do Tribunal. Porém,
também por analogia, aplica-se a faculdade aos órgãos.
Analisa-se os artigos referentes ao pedido de informações:

Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o


presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada como
coatora informações por escrito. Faltando, porém, qualquer daqueles
requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for
apresentada a petição.

Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordenadas, se o


presidente entender que o habeas corpus deva ser indeferido in
limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou turma,
para que delibere a respeito.

Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas


corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar-
se o julgamento para a sessão seguinte.
Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos.
Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na votação,
proferirá voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a
decisão mais favorável ao paciente.

Como já exposto, o procedimento do habeas corpus não admite


instrução probatória, vez que se consubstancia em uma cognição
sumária e não exauriente. Logo, a parte não poderá impetrar o
remédio constitucional a fim de requerer algum ato de instrução
probatória. No entanto, não significa dizer que o habeas corpus não
admite produção de provas. Estas serão admitidas para comprovar
cabalmente o ato ilegal, porém, serão provas pré-constituídas, que
não demandam instrução pelo juiz. E ainda, não se exclui a

possibilidade de produção de provas de ofício em sede de habeas
corpus. Apesar de não usual, esta prática é viável principalmente no
habeas corpus preventivo.
O ônus da prova pré-constituída é do impetrante, assim como dispõe
a súmula no 692 do STF: "Não se conhece de habeas corpus contra
omissão de relator de extradição, se fundado em fato ou direito
estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele
provocado a respeito”.
No que tange ao órgão ministerial, apesar de não haver previsão
legal para sua participação como custus legis nos habeas corpus
impetrados em primeiro grau, por determinação legal, sua
participação é obrigatória nos casos de segundo grau. Ademais, o
Ministério Público deve ser intimado de todo ato oriundo de habeas
corpus, por ter interesse de recorrer, seja ato de concessão ou
denegatória da ordem.
Por fim, elenca-se as duas principais hipóteses de cabimento:

a) impetração de HC após o trânsito em julgado de sentença


condenatória, para rediscutir a condenação, caso seja equivocada
(error in judicando ou errar in procedendo) e haja prova pré-
constituída disso.
b) utilização de habeas corpus para trancar o inquérito policial ou a
ação penal quando houver flagrante ilegalidade, desde que haja
atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a ausência de
elementos indiciários demonstrativos de autoria e prova da
materialidade, ou seja, falta de justa causa para a ação penal. No que
pertine à investigação, por não necessitar de justa causa e provas
suficientes, a medida de trancamento é sempre excepcional.

c. Legislação

- Constituição Federal, art. 5º, LXVIII e LXXVII


- Constituição Federal, art. 102, I, d e i; II, a
- Constituição Federal, art. 105, I, c; II, a
- Código de Processo Penal, Livro III, Título II, Capítulo X

d. Julgados/Informativos

STF, súmula nº 606: Não cabe habeas corpus originário para o


Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do plenário, proferida em
habeas corpus ou no respectivo recurso

STF, súmula nº 691: Não compete ao Supremo Tribunal Federal


conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que,
em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.

STF, súmula nº 693: Não cabe habeas corpus contra decisão


condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por
infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.

STF, súmula nº 695: Não cabe habeas corpus quando já extinta a


pena privativa de liberdade.

Informativo 646, maio de 2019 – STJ:


O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus,
ainda que se trate de matéria não criminal, é de 5 dias.
O art. 1.003, § 5º, do CPC/2015, afirma que "excetuados os
embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para
responder-lhes é de 15 (quinze) dias" e o art. 994, V, do CPC/2015,
afirma ser o recurso ordinário uma modalidade recursal sujeita à
disciplina pelo CPC/2015. Ocorre que é preciso também examinar o
conteúdo do art. 1.027, II, "a" e "b", do CPC/2015, que delimita,
especificamente, as hipóteses em que o recurso ordinário
constitucional se submeterá, do ponto de vista procedimental, ao
regime recursal instituído pelo CPC/2015. Percebe-se, pois, que o
CPC/2015 excluiu de sua regência o recurso ordinário em habeas
corpus, não tendo o legislador sequer realizado a ressalva de que o
CPC/2015 se aplicaria, por exemplo, aos recursos ordinários em
habeas corpus de matéria não criminal (prisões decorrentes de
obrigações alimentares, acolhimentos institucionais, etc.), o que
poderia demonstrar o eventual desejo consciente de tratar, de modo
distinto, os recursos ordinários em habeas corpus cíveis e criminais.
Ademais, como se percebe do art. 1.072, IV, do CPC/2015, foram
textualmente revogados alguns artigos específicos da Lei n.
8.078/1990, não havendo, contudo, menção à revogação do art. 30

do mesmo diploma legal. Não se pode olvidar, que esta Corte tem
precedente no sentido de que a Lei n. 8.038/1990 não foi
integralmente revogada pelo CPC/2015, de modo que permanecem
em vigor as regras não expressamente excluídas do ordenamento
jurídico. Diante desse cenário, é preciso concluir que o prazo para
interposição de recurso ordinário em habeas corpus, ainda que se
trate de matéria não criminal, continua sendo de 5 dias, nos termos
do vigente art. 30 da Lei n. 8.038/1990, lei especial que prevalece,
no particular, sobre a lei geral (RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy
Andrighi, por unanimidade, julgado em 09/04/2019, DJe
12/04/2019).

Informativo 644, abril de 2019 – STJ: Compete à Terceira Seção


do STJ processar e julgar habeas corpus impetrado com fundamento
em problemas estruturais das delegacias e do sistema prisional do
Estado.
Inicialmente, registre-se que, nos termos do art. 9 do RISTJ, em
matéria de habeas corpus, a regra geral é que eles sejam
processados e julgados pela Terceira Seção, somente ingressando na
competência da Primeira e da Segunda Seções quando se referirem
às suas respectivas matérias. Ademais, a competência da Primeira
Seção estará restrita à matéria de direito público não abrangida
predominantemente pelo direito penal. Na hipótese, fundamentando-
se na dignidade da pessoa humana, a impetrante pleiteia a
substituição de prisões provisórias - tanto decorrentes de prisões em
flagrante como do cumprimento de mandados de prisão preventiva -
por medidas cautelares diversas da prisão, as quais estão previstas
no art. 319 do Código de Processo Penal. Embora a suposta
ilegalidade das prisões surja de problemas na estrutura das
delegacias e do sistema prisional do Estado, o pleito é de concessão
de medidas processuais penais que afetam diretamente o direito do
Estado de manter sob custódia as pessoas investigadas e acusadas
do cometimento de crimes diversos e o direito de liberdade de tais
pessoas em conflito com os interesses da sociedade. Assim, a relação
jurídica litigiosa apresenta ligação por demais estreita com o direito
penal para ser considerada de direito público em geral. Somente de
forma mediata, isto é, em plano secundário, emergem questões de
ordem administrativa (CC 150.965-DF, Rel. Min. Raul Araújo, por
unanimidade, julgado em 20/02/2019, DJe 22/03/2019)

Informativo 631, setembro de 2018 – STJ:
Cabe Habeas Corpus para impugnar decisão judicial que determinou
a retenção de passaporte.
A questão controvertida está em definir se a ordem de suspensão do
passaporte e da carteira nacional de habilitação, expedida contra o
executado, no bojo de execução por título extrajudicial (duplicata de
prestação de serviço), consubstancia coação à liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder, a ser combatida por
meio de habeas corpus. Sobre o tema, observa-se que, no âmbito da
seara penal, que as Turmas da Terceira Seção deste Tribunal
reconhecem a viabilidade de questionamento da apreensão do
passaporte por meio do habeas corpus, por entenderem que tal
medida limita a liberdade de locomoção, ainda que a constatação da
ilegalidade, que conduziria à concessão da ordem, no caso concreto,
não se confirme (RHC 97.876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por
unanimidade, julgado em 05/06/2018, DJe 09/08/2018).

Informativo 625, junho de 2018 – STJ: Execução penal. Remição.


Trabalho em período anterior ao início da execução. Possibilidade se
posterior à prática do delito.
Inicialmente cumpre salientar que a impetrante pretende que se faça
uma analogia in bonam partem, aplicando-se, no caso em apreço -
relativo ao instituto da remição -, o entendimento adotado quanto à
detração, aproveitando-se, na execução em curso, o período
trabalhado no cumprimento da pena de processo anterior. Sabe-se
que este Superior Tribunal de Justiça firmou orientação quanto à
impossibilidade de remição por trabalho executado em momento
anterior à prática do delito referente à pena a ser remida. No caso
denota-se que o trabalho em questão foi realizado em momento
posterior à prática de um dos delitos cuja condenação se executa, de
modo que, nesta hipótese, ainda que anterior ao início da execução,
é possível a remição da pena pelo trabalho relativamente ao delito
praticado anteriormente. Embora haja a possibilidade de o condenado
remir o tempo de cumprimento da reprimenda pelo exercício do
trabalho, como forma de implementar o objetivo ressocializador da
pena, integrando-o, gradativamente, ao convívio social, a concessão
de benefícios não pode favorecer o estímulo à prática de novas
infrações penais. Por isso, entende-se não ser possível a detração ou
a remição em processo distinto, dos dias trabalhados durante a
execução de pena já extinta. O que se pretende evitar é o estímulo à

prática de novos delitos, ou seja, que, em razão de eventual "crédito"
já constante em seu favor, o apenado cometa uma nova infração,
sobre a qual pretenderia eventual abatimento em razão do trabalho
já realizado, o que, com efeito, não pode ser admitido. Todavia,
observa-se que, não se trata de fato praticado após o trabalho
realizado pelo apenado, mas de delito anterior ao labor, de modo que
não há falar em estímulo ou em "crédito", pois a infração já havia
sido praticada. Por essa razão, não se verifica similitude entre as
hipóteses de vedação de incidência do instituto da remição, devendo,
nesse contexto, ser dado o mesmo tratamento utilizado para a
detração. (STJ, HC 420.257-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por maioria,
julgado em 19/04/2018, DJe 11/05/2018).

EMENTA: HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.


CONCUSSÃO. PRISÃO PREVENTIVA. PERICULUM LIBERTATIS.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA FORMADA POR POLICIAIS CIVIS.
PERICULOSIDADE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
CONTEMPORANEIDADE. MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA
PRISÃO. POSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO. 1. A prisão preventiva constitui medida excepcional
ao princípio da não culpabilidade, cabível, mediante decisão
devidamente fundamentada e com base em dados concretos, quando
evidenciada a existência de circunstâncias que demonstrem a
necessidade da medida extrema, nos termos do art. 312 e seguintes
do Código de Processo Penal. 2. Hipótese em que a decisão de
primeiro grau não apresentou argumentos suficientes à manutenção
da prisão cautelar, o que caracteriza nítido constrangimento ilegal. A
imposição de prisão, sem indicação de reiteração e com possibilidade
concreta de se prolongar por anos (48 os denunciados), é
desproporcional, podendo a segregação ser substituída por cautelares
outras nos termos do art. 319 do Código de Processo Penal. 3. A
prisão cautelar deve ser imposta somente como ultima ratio, sendo
ilegal a sua determinação quando suficiente a aplicação de medidas
cautelares alternativas. No caso, a decisão impugnada não afastou,
fundamentadamente, com relação ao paciente, a possibilidade de
aplicação das medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de
Processo Penal. 4. A falta de contemporaneidade, considerando a
data dos crimes imputados ao paciente e a data em que foi
determinada a sua prisão, nos termos da jurisprudência desta Casa e
do próprio Supremo Tribunal Federal, desautoriza a restrição mais

drástica. Precedentes. 5. Ordem concedida a fim de substituir a
prisão preventiva imposta ao paciente, decretada nos autos do
Processo n. 00216668920188190206, impondo-lhe as medidas
cautelares previstas no Código de Processo Penal, em seu art. 319,
consistentes em: a) comparecimento periódico em juízo, no prazo e
nas condições fixadas pelo Juízo de primeiro grau, para informar e
justificar atividades; b) proibição de ausentar-se da comarca sem
autorização judicial; c) proibição de manter qualquer tipo de contato
com os corréus e com as testemunhas; d) suspensão do exercício de
função pública; e e) monitoração eletrônica, sem prejuízo da
aplicação de outras cautelas pela instância a quo, ou de decretação
da prisão preventiva, em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força das cautelares ou caso haja motivos
concretos e supervenientes para tanto. (HC 480.274/RJ, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 07/05/2019,
DJe 14/05/2019)

EMENTA: HABEAS CORPUS. LIVRAMENTO CONDICIONAL.


REVOGAÇÃO. TRANSCURSO DE CONSIDERÁVEL LAPSO TEMPORAL.
CUMPRIMENTO REGULAR DAS CONDIÇÕES PELO APENADO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Nos termos da Regra 4, das chamadas "Regras de
Mandela", instituídas pelas Nações Unidas, além da busca pela
proteção da sociedade contra a criminalidade, pela redução da
reincidência e pela punição em razão da prática de crime, também
constitui objetivo do sistema de justiça criminal a reabilitação social e
a reintegração das pessoas privadas de liberdade, assegurando-lhes,
na medida do possível, que, ao retornarem à sociedade, sejam
capazes de levar uma vida autossuficiente, com respeito às leis. 2.
Constitui, pois, constrangimento ilegal sanável pelo habeas corpus a
revogação de livramento condicional depois de transcorrido mais de 2
anos de sua concessão pelo Juízo das Execuções Criminais, quando
inequivocamente demonstrado que o apenado cumpre, com
regularidade, as condições impostas para concessão da benesse. 3.
Não se pode permanecer insensível à situação daquele que, depois de
anos segregado da vida em sociedade, convivendo, por seus graves
erros, com as mazelas do confinamento, não apenas apresenta bom
comportamento carcerário e condições subjetivas reconhecidas em
avaliações social e psicológica, mas, ao deixar provisoriamente os
limites impostos pelas grades e enfrentar as barreiras impostas para
a superação dos deslizes do passado, efetivamente reencontra sua

dignidade no seio de sua família e no emprego lícito, com registro em
sua carteira de trabalho, buscando, agora, a retidão em sua conduta.
4. Ordem concedida para, ratificada a liminar, permitir ao paciente
que permaneça sob livramento condicional, enquanto cumpridos os
requisitos para a concessão da benesse, impostos pelo Juízo das
Execuções Criminais. (HC 360.907/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 12/02/2019, DJe
08/03/2019)

EMENTA: “Habeas Corpus”. Importação de sementes de maconha.


Pequena quantidade. Material que não possui substâncias psicoativas,
notadamente o princípio ativo da “cannabis sativa L.”
(tetrahidrocanabinol ou THC). Conduta destituída de tipicidade penal.
Doutrina. Precedentes. Ausência de justa causa que impede a
legítima instauração de “persecutio criminis”. Necessária extinção do
procedimento penal. Pedido deferido.
– A semente de “cannabis sativa L.” não se mostra qualificável como
droga, nem constitui matéria-prima ou insumo destinado a seu
preparo, pois não possui, em sua composição, o princípio ativo da
maconha (tetrahidrocanabinol ou THC), circunstância de que resulta a
descaracterização da tipicidade penal da conduta do agente que a
importa ou que a tem em seu poder.
– Disso resulta que a mera importação e/ou a simples posse da
semente de “cannabis sativa L.” não se qualificam como fatores
revestidos de tipicidade penal, essencialmente porque, não contendo
as sementes o princípio ativo do tetrahidrocanabinol (THC), não se
revelam aptas a produzir dependência física e/ou psíquica, o que as
torna inócuas, não constituindo, por isso mesmo, elementos
caracterizadores de matéria-prima para a produção de drogas.(STF –
Monocrática – HC 143.890 – rel. Celso de Mello – j. 13.05.2019 –
public. 15.05.2019 – Cadastro IBCCRIM 6040)

EMENTA: 1. A decisão que se pretende desconstituir transitou em


julgado, sendo o writ, portanto, manejado como sucedâneo de
revisão criminal (v.g. RHC nº 110.513/RJ, Segunda Turma, Relator o
Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 18/6/12). 2. Todavia, a Segunda
Turma (RHC nº 146.327/RS, Relator o Ministro Gilmar Mendes,
julgado em 27/2/18) assentou, expressamente, a cognoscibilidade de
habeas corpus manejado em face de decisão já transitada em julgado

em hipóteses excepcionais, desde que líquidos e incontroversos os
fatos postos à apreciação do Supremo Tribunal Federal. 3. O
conhecimento da impetração bem se amolda ao julgado paradigma.
4. O paciente foi condenado pelo delito de posse de munição de uso
restrito (art. 16 da Lei nº 10.826/03), sendo apenado em 3 (três)
anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime fechado e ao
pagamento de 11 dias multa. 5. Na linha de precedentes, o porte
ilegal de arma ou munições é crime de perigo abstrato, cuja
consumação independente de demonstração de sua potencialidade
lesiva. 6. A hipótese retratada autoriza a mitigação do referido
entendimento, uma vez que a conduta do paciente de manter em sua
posse uma única munição de fuzil (calibre 762), recebida, segundo a
sentença, de amigos que trabalharam no Exército, não tem o condão
de gerar perigo para a sociedade, de modo a contundir o bem jurídico
tutelado pela norma penal incriminadora. 7. É certo que a sentença
condenatória reconheceu a reincidência do paciente. Porém, bem
apontou a Procuradoria-Geral da República que a questão “está
pendente de análise em sede de revisão criminal, porque, ao que
parece, a condenação que gerou a reincidência refere-se ao
homônimo ‘José Luiz da Silva Gonçalves’.” 8. Não há, portanto, óbice
à aplicação do princípio da insignificância na espécie, sendo de rigor
seu reconhecimento. 9. Ordem concedida para, em razão do princípio
da insignificância, reconhecer a atipicidade material da conduta
imputada ao paciente. (STF – 2.ª T. – HC 154.390 – rel. Dias Toffoli –
j. 17.04.2018 – public. 07.05.2018)

EMENTA: Habeas corpus. Autorização para realização de curso


externo. Paciente em cumprimento de pena no regime semiaberto.
Pleito indeferido. Constrangimento ilegal verificado. Decisão
fundamentada na gravidade do crime praticado pelo sentenciado.
Circunstância sopesada na condenação, aplicação da pena e no
regime prisional imposto. Preenchidos os requisitos dos arts. 122 e
123 da LEP. As saídas para cursos estão em consonância com o
intuito ressocializador da pena. Liminar confirmada. Ordem
concedida. (TJSP – 11.ª Cam. Crim. – HC 2109598-
25.2018.8.26.0000 – rel. Salles Abreu – j. 04.07.2018 – public.
05.07.2018)

EMENTA: Habeas Corpus com pedido de liminar. Ameaça no âmbito


das relações domésticas e Descumprimento de medidas protetivas.

Prisão preventiva. Paciente primário. Desproporcionalidade da
medida, diante do tempo que perdura a custódia cotejado com as
eventuais sanções que lhe serão impostas, se for condenado.
Concessão da liberdade provisória, mediante o cumprimento de
medidas protetivas de urgência (art. 22, III, a, b e c, da Lei nº
11.340/06), acrescidas das medidas cautelares dos incisos I, IV e V
do art. 319 do CPP. Medidas adequadas, in casu, em razão da
gravidade concreta dos delitos e do comportamento externado pelo
paciente (reiteração de ameaças), sem prejuízo de nova aplicação da
Lei nº 13.641, de 3.4.2018. Constrangimento ilegal verificado. Ordem
concedida, com determinação. (TJSP – 5.ª Cam. Crim. –
HC 2120982-82.2018.8.26.0000 – rel. Juvenal Duarte – j.
05.07.2018 – public. 05.07.2018)

EMENTA: habeas corpus – ato individual. O habeas corpus mostra-se


adequado quer se trate de ato individual, quer de colegiado. Prisão
preventiva – imputação. A gravidade da imputação, considerado o
princípio da não culpabilidade, é insuficiente, por si só, a levar à
prisão provisória. Prisão preventiva – documentos – destruição –
suposição. Descabe implementar a prisão preventiva a partir da
suposição de que, solto, o acusado venha a destruir documentos que
sirvam de prova do delito. (STF, HC 140269, rel. Min. Marco Aurélio,
1ª T., julgado em 06/03/2018)

EMENTA: Habeas Corpus - Condução de veículo automotor com


capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool -
Indeferimento de prova requerida pela defesa, tempestivamente, em
sede de resposta à acusação (expedição de ofício ao IML visando a
obtenção de esclarecimentos complementares) - Cerceamento de
defesa, caracterizado - Essencialidade da produção da prova ao
deslinde da ação penal - Liminar ratificada para condicionar o
encerramento da instrução criminal à juntada de referida prova, já
requisitada pelo e. juízo a quo - Constrangimento ilegal, verificado -
Ordem concedida. (TJSP – 5.ª Câm. Crim. – HC 2093289-
26.2018.8.26.0000 – rel. Juvenal Duarte – j. 07.06.2018 – public.
18.06.2018).

EMENTA: Habeas Corpus. Execução penal. Alegação de


constrangimento ilegal ante a conversão da pena restritiva de direitos
em privativa de liberdade, sem a prévia realização de oitiva do

paciente. Pleito objetivando a anulação da decisão coatora, bem
como a realização de oitiva de justificação. Cabimento. Mandado de
prisão cumprido. Ausência de falta grave ou cometimento de novo
crime. Autoridade coatora deve realizar a oitiva de justificação do
paciente e reconverter a reprimenda, caso este se comprometa a
cumprir, de imediato, a pena restritiva de direito. Ordem concedida.
(TJSP – 16.ª Câm. Crim. – HC 2034244-91.2018.8.26.0000 –
rel. Guilherme de Souza Nucci – j. 08.06.2018 – public. 19.06.2018).

e. Leitura sugerida

- DEZEM, Guilherme Madeira. Curso de Processo Penal. 5ª Edição.


Editora Saraiva: 2019.

- ESTEFAM, André. A Nova Teoria Brasileira do Habeas Corpus. In:RT


nº 921, p. 447-467.

- TORON, Alberto Zacharias. Habeas Corpus – controle do devido


processo legal: questões controvertidas e processamento do writ. São
Paulo, Revista dos Tribunais. 2017.

f. Leitura complementar

- FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

- LOPES JR., Aury. A moda é dar habeas corpus ‘de ofício’, mas só
quando eu quero. Disponível em
http://www.conjur.com.br/2014-ago-22/moda-dar-habeas-corpus-
oficio-quando-eu-quiser

- MOURA, Maria Thereza de Assis. Justa causa para a ação penal. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

- _______________. Habeas corpus na Reforma do Código de


Processo Penal. In: Revista do Advogado: Associação dos Advogados
de São Paulo; Ano XXXI, setembro de 2011, n. 113, p. 83-91.

- _______________; MAHMOUD, Mohamad Ale Hasan. Motivação da


sentença condenatória e o habeas corpus perante o Superior Tribunal

de Justiça. In: LIMA, Marcellus Polastri.; SANTIAGO, Nestor Eduardo
Araruna. A Renovação Processual Penal após a Constituição de 1988:
estudos em homenagem ao professor José Barcelos de Souza. Rio de
Janeiro: Lumen Júris, 2009, p. 213-226.

- MOSSIN, Heráclito Antônio. Habeas corpus – Antecedentes


Históricos, Hipótese de impetração, Processo, competência e
recursos, Modelos de Petição e Jurisprudência. São Paulo: Ed. Manole
Ltda, 2013.

- NUCCI, Guilherme de Souza. Habeas Corpus. Rio de Janeiro:


Forense, 2014.

- PONTES DE MIRANDA, Francisco. História e prática do habeas


corpus. Atualizada por Vilson Rodrigues Alves. Bookseller, 2007.

- TORON, Alberto Zacharias. Inconstitucionalidade das restrições ao


habeas corpus. In: Advocacia criminal: direito de defesa, ética e
prerrogativas, coord. Diogo Malan e Flávio Mirza. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2014.

- _____________________; Habeas Corpus - Controle do Devido


Processo Legal - Questões Controvertidas e de Processamento do
Writ. Editora Revista dos Tribunais. 2017.

- AVENA, Noberto. Processo Penal. 10ª Edição. Editora Forense,


2018.

- BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 6ª Edição. Revista dos


Tribunais, 2018.

- BRITO, Alexis Couto de., et al. Processo Penal Brasileiro. 3ª Ed.


Editora atlas. 2015.

- BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 13ª Ed. São


Paulo: Saraiva, 2019.

- LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 16ª Edição. Ed. Saraiva,
2019.

- TOURINHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 18ª
Edição, 2018.

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