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15/12/2018

À TARDE:

História da Sexualidade – A vontade de Saber. Cap. V: Direito de morte e direito sobre a vida.
Michel Foucault.

Talvez porque enceto, neste diário virgem, esta entrada acerca de Foucault logo após ler
Schopenhauer, eu me lembro muito pouco do último capítulo de La Volunté de Savoir, capítulo
bastante denso e, ironicamente me lembro, esclarecedor. Sem medo de contradizer-me,
acredito que o texto do francês contemporâneo é bem menos claro e fluído do que o texto do
moderno excrescente. Mas, claro, não poderia haver comparação mais injusta! A primeira obra
do projeto da História da Sexualidade é um dos pilares do pensamento de Foucault, pois lá
encontramos, em grande medida, a fundação de sua noção de biopoder e um mapa das relações
entre os dois principais regimes de poder: por um lado, o regime do poder soberano nas
sociedades de sanguinidade, aquelas que vêm antes do século XVII, acrescentando-se à esse
lado também as sociedades que desenvolveram os primeiros rudimentos da biopolítica, já no
XVII e XVIII, e, por outro lado, o regime do micropoder nas sociedades disciplinares, pululantes
a partir do século XIX em diante.

Seguindo o conselho de Schopenhauer, esse capítulo, bem como toda essa obra, merece ser
lida novamente. Só após a releitura, bem como um fichamento desse capítulo, é que voltarei a
escrever sobre ele aqui.

À NOITE

Do ofício do escritor. Cap II: Da leitura e dos livros. Arthur Schopenhauer

Os ensaios sobre estilo, escrita e leitura que Schopenhauer integrou aos Parerga e Paralipomena
(1851) são bastante límpidos, cristalino em suas indicações para uma boa formação. O capítulo
que li, acerca da leitura e da literatura, divide-se, ao menos ao primeiro passeio dos olhos sobre
o texto, em duas temáticas: a da leitura enquanto processo de digestão, e, por extensão, da
formação intelectual enquanto processo análogo manutenção corporal; de outro lado, a
temática da história da verdadeira literatura, contraposta às escrevinhações e palavrórios
diletantes que se acumulam aos montes nos anais da história da mediocridade humana,
principalmente desde o advento do mercado literário.

Chamou-me a atenção principalmente os apontamentos acerca da necessária seleção das obras


a serem lidas por quem quer formar-se com qualidade, acrescentando-se a esses os
pensamentos acerca da natureza da leitura nutritiva do espírito. Percebo muitos ecos dos
pensamentos aqui desferidos nesse sentido em um autor posterior, confesso discípulo de
Schopenhauer, Nietzsche, especialmente ao comparar o processamento de informações e a
aquisição de bases intelectuais que se dá através da leitura aos processos de nutrição corporal,
na chave da digestão. Nesse sentido, a máxima que lemos nesse capítulo, que reza algo como
“a arte de não ler é essencial à boa leitura” (Cf. p.146), princípio de seleção, parece reverberar
na máxima nietzschiana, segundo qual “a sabedoria impõe limites ao próprio conhecimento”
(Crepúsculo dos ídolos).

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