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Física Médica I

Elementos químicos naturais são aqueles encontrados na natureza​. Encontram-se,


basicamente, entre o Hidrogênio (Z = 1) e o Urânio (Z = 92). ​Elementos químicos sintéticos​, por
outro lado, ​são aqueles cujos átomos são produzidos artificialmente/sinteticamente em
laboratórios​. Os elementos com número atômico superior ao do Urânio são todos artificiais.
Observação:​ alguns dos elementos com Z < 92 são artificiais.

O número de nêutrons no núcleo de um elemento pode ser variável, pois eles não possuem
carga elétrica (entretanto possuem massa). Sendo assim, um mesmo elemento químico pode
ter massas diferentes. ​Átomos de um mesmo elemento com massas diferentes são
denominados isótopos​.
● O Hidrogênio, por exemplo, possui três isótopos: Hidrogênio (1 próton), Deutério (1 próton e
1 nêutron) e o Trício/Trítio (1 próton e 2 nêutrons)​;
● O Urânio também apresenta 3 isótopos na natureza: U-234 (92 prótons e 142 nêutrons),
U-235 (92 prótons e 143 nêutrons; usado em reatores), U-238 (92 prótons e 146 nêutrons)​.

O esquecimento de uma rocha de Urânio sobre um filme fotográfico virgem levou a descoberta
de um fenômeno interessante: o filme foi marcado por alguma coisa que saía da rocha, na
época denominada de raios ou radiações. Foi observado que outros elementos com massas
próximas à do Urânio, como Rádio e Polônio, também tinham a mesma propriedade. O
fenômeno foi denominado radioatividade e os elementos que apresentavam essa propriedade
foram chamados de elementos radioativos.

Comprovou-se que um núcleo muito energético, por ter excesso de partículas ou de carga,
tende a estabilizar-se, emitindo algumas partículas. Sendo assim, ​o fenômeno da
radioatividade nada mais é do que a emissão de partículas pelo núcleo de um elemento muito
energético e instável, buscando estabilidade​.
Um dos processos de estabilização de um núcleo com excesso de energia ​é a emissão de um
grupo de partículas positivas, constituídas de 2 prótons e 2 nêutrons, e da energia a elas
associadas. Essas partículas são chamadas de partículas alfa e devido a composição do seu
núcleo são semelhantes aos núcleos de Hélio ​(importante: apesar de se assemelharem a
núcleos de He, ​não o são​).
Outra forma de estabilização é através da emissão de uma partícula negativa resultante da
conversão de um nêutron em um próton, a partícula beta (importante: esta partícula, apesar da
carga negativa como a de um elétron, ​não o é uma vez que é emitida pelo núcleo​). Além
disso, ​caso haja excesso de cargas positivas (prótons), é emitida uma partícula beta positiva,
chamada pósitron, resultante da conversão de um próton em um nêutron​. Portanto, a radiação
beta é constituída de partículas emitidas por um núcleo, quando se da transformação de
nêutrons em prótons (partículas beta) ou de prótons em nêutrons (pósitrons).
Geralmente, após a emissão de uma partícula alfa ou beta, o núcleo resultante deste processo,
ainda com excesso de energia, procura estabilizar-se​. ​O excesso de energia é emitido em
forma de onda eletromagnética, de mesma natureza da luz, denominada radiação gama​.
A ​1ª Lei da Radioatividade Natural enuncia que ​quando um radioisótopo emite uma partícula
alfa, originará um novo elemento que apresenta redução de 2 unidades em seu número
atômico (Z’ = Z - 2) e redução de 4 unidades em seu número de massa (A’ = A - 4)​.
242
Exemplo: P u94 → 4 α2 + 238 U 92

A ​2ª Lei da Radioatividade enuncia que ​quando um radioisótopo emite uma partícula beta, o
novo elemento possuirá um número atômico maior em 1 unidade (Z’ = Z + 1) e o seu número
de massa praticamente não sofre alteração (A’ = A)​.
234
Exemplo: T h90 → β −1 + 234 P a91
Observação: a desintegração de um nêutron no núcleo de um radioisótopo instável gera: um
próton, uma partícula beta, um antineutrino e radiação gama. Por isso o número atômico
aumenta em uma unidade, já que nesse núcleo houve a formação de um novo próton.

Sendo assim, como descrito, as radiações nucleares podem ser de 2 tipos:


● Partículas: possuindo massa, carga elétrica e velocidade dependente do valor de sua
energia;
● Ondas Eletromagnéticas: não possuem massa e propagam com a velocidade de 3x10​8 m/s,
para qualquer valor de energia, além de serem da mesma natureza da luz.
A identificação desses diferentes tipos de radiação foi feita utilizando-se de uma porção de
material radioativo, com o feixe de radiações passando por entre duas placas polarizadas com
um forte campo elétrico.

Para melhor compreender a velocidade e capacidades das partículas radioativas seguem


exemplos do ​poder de penetração das radiações​:
● Alfa: apesar de bastante energéticas, as partículas alfa são facilmente barradas pela pele
humana;
● Beta: são mais penetrantes e menos energéticas que as partículas alfa, conseguem
atravessar alguns milímetros de pele;
● Gama: são as mais penetrantes das três formas de emissão e tem capacidade de
ultrapassar não apenas partes do corpo humano, mas também parcialmente paredes de
concreto/placas de chumbo (observação: são barradas por grossas paredes de concreto e
placas de chumbo).
Como visto, o excesso de energia em núcleos atômicos tende a ser liberado para que os
núcleos se estabilizem, ​emitindo partículas alfa, beta ou gama​. ​Em cada emissão de uma
dessas partículas, há uma variação do número de prótons no núcleo, isto é, o elemento se
transforma ou se transmuta em outro, de comportamento químico diferente​. Essa transmutação
também é conhecida como desintegração radioativa, designação não muito adequada, porque
dá a ideia de desintegração total do átomo e não apenas da perda de sua integridade. ​Um
termo mais apropriado é decaimento radioativo, que sugere a diminuição gradual de massa e
atividade​.

Os núcleos instáveis de uma mesma espécie (mesmo elemento químico) e de massas


diferentes são denominados radioisótopos​. ​Estes não realizam todas as mudanças ao mesmo
tempo. As emissões de radiação são feitas de modo imprevisto e não se pode prever o
momento em que um determinado núcleo isolado irá emitir radiação​. Entretanto, ​para a grande
quantidade de átomos existente em uma amostra é razoável esperar-se um certo número de
emissões ou transformações em cada segundo​. ​Essa “taxa” de transformações é denominada
atividade da amostra​.
Sendo assim, ​a atividade de uma amostra é o número de emissões/transformações esperadas
em uma amostra radioativa por segundo​. Sua unidade é o becquerel (1 Bq = 1 decaimento por
segundo) ou o curie (1 Ci = 3,7x10​10​ Bq = 3,7x10​10​ decaimentos por segundo).

Cada elemento radioativo, seja natural ou sintético, se transmuta ou decai a uma velocidade
que lhe é característica. ​Para se acompanhar a duração ou “vida” de um elemento radioativo foi
preciso estabelecer uma forma de comparação. A meia-vida de um elemento radioativo é
justamente essa forma de comparação e quantifica o tempo para que um elemento radioativo
tenha sua atividade reduzida à metade da atividade inicial​. Assim, para cada meia-vida que
passa, a atividade vai sendo reduzida à metade da anterior, até atingir um valor insignificante,
que não permite mais distinguir suas radiações das do meio ambiente.
Fórmulas:​ A = A0 · e−μt
T 1 = lnμ2
2
em que A​0 é atividade inicial (em t = 0); t é o tempo; e μ é uma constante, que depende do
radioisótopo.

O decaimento de um núcleo (“pai”) no estado metaestável em um outro núcleo (“filho”) pela


emissão de um fóton gama é chamado de transição isomérica. Os núcleos “filhos” de um “pai”
radioativo podem ser metaestáveis. Não há diferenças entre o decaimento por emissão gama
de um estado excitado ou um metaestável, apenas o tempo de vida médio é maior para o
metaestável.
Observação: um estado metaestável ​qualquer estado do sistema diferente do estado de
equilíbrio mais estável - diferente do equilíbrio termodinâmico - que tenha consigo associado
uma restrição que impeça a transição imediata deste para o estado mais estável sem alguma
perturbação significativa de origem geralmente externa ao sistema. O sistema pode assim
permanecer por longos tempos no estado metaestável sem transitar para o estado mais
estável.
Devido à sua meia-vida relativamente longa (da ordem de horas/dias), os radionuclídeos
metaestáveis são de grande importância na medicina nuclear, pois eles são fontes de fótons
gama relativamente “puros”. Isso por que a medicina utiliza-se, geralmente, de elementos que
emitem como única, ou principal, partícula os fótons gama​.
O radionuclídeo atualmente mais largamente utilizado em medicina nuclear é o Tecnécio-99m
(​99m​Tc), que é ​metaestável e é o radioisótopo “filho” do Molibdênio (​99​Mo). Ele ​é um emissor
gama puro​ e emite fótons gama de energia de 140 keV e com meia-vida física de 6 h.

O Tecnécio é radioativo justamente porque é arranjado por fusão nuclear com Deutério em
aceleradores de partículas feitos de Molibdênio. Foi o primeiro elemento a ser feito
artificialmente pelo homem, daí seu nome que deriva da palavra grega "technetos", que
significa artificial.
Este elemento poderia apresentar diversas aplicações como, por exemplo, em aços
protegendo-os da corrosão, porém devido a problemas com a sua produção (em reatores
nucleares), estas aplicações são muito limitadas.

Define-se como ​vida-média (λ) de um radioisótopo como a ​média aritmética do tempo de vida
de todos os átomos de uma determinada massa deste isótopo. Como consequência, a vida
média é o tempo médio que um isótopo instável leva para decair.
Como a probabilidade de um átomo decair é proporcional à quantidade total de átomos que
restam, os átomos demoram mais tempo para desintegrar a medida que diminui o número de
átomos residuais. Como consequência, ​o período de tempo da vida-média é superior a da
meia-vida.
T1
Fórmula:​ λ = ln 2
2

A medicina nuclear (ou simplesmente cintilografia) permite a obtenção de informações


fundamentalmente fisiológicas. Além disso, apresenta a vantagem de ​apresentar estas
informações na forma de imagens. Para se obter estas imagens ​é necessário que se marquem
as áreas de interesse, geralmente um órgão ou parte deste, com um fármaco ligado a um
radionuclídeo, chamado de radiofármaco, que tenha afinidade por aquele órgão ou estrutura.

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