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Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Professor Rafael Otoniel

Estrutura Fina da Matéria

1 Introdução
Por volta de 1910, experiências de espalhamento de raios X por átomos, efeito fotoelétrico, e outras,
mostraram que os átomos deveriam conter elétrons. Essas experiências revelaram que o número Z de
elétrons num átomo era da ordem da metade do peso atômico A do átomo. Em condições de equilı́brio,
os átomos devem ser neutros, de modo que o número de cargas negativas seja igual ao número de cargas
positivas. Assim, um átomo neutro deve conter uma carga negativa −Ze, onde e é a carga do elétron, e
uma carga positiva de mesmo valor em módulo. Como a massa do elétron é muito menor que a massa
do átomo, praticamente toda a massa do átomo deveria estar associada à massa das cargas positivas. A
partir dessas considerações, J. J. Thomson propõe o primeiro modelo atômico, segundo o qual os elétrons
estariam localizados no interior de uma distribuição contı́nua de cargas positiva. Para ele, a forma da
distribuição de cargas positivas deveria ser esférica de raio da ordem de 10−10 m, valor este obtido a
partir da densidade de um sólido e do número de Avogadro. Por causa de repulsões mútuas, os elétrons
estariam distribuı́dos uniformemente na esfera de carga positiva, numa configuração que ficou conhecida
como “pudim de passas”.
Entretanto, em 1910 Ernest Rutherford estudou o espalhamento de partı́culas α por finas pelı́culas de
metal e verificou que seus resultados experimentais estavam em total desacordo com o modelo atômico
de Thomson. Assim, Rutherford propôs um novo modelo para a estrutura atômica, onde todas as cargas
positivas do átomo, e, portanto, essencialmente toda a sua massa ficaria concentrada numa região pequena
denominada de núcleo.
O modelo atômico de Rutheford inspirou Niels Bohr a imaginar uma separação no domı́nio fı́sico dos
átomos, em que os elétrons estariam associados às propriedades quı́micas dos elementos, enquanto que o
núcleo seria responsável por comportamentos radioativos. Essa proposta revelava uma correlação entre o
número de elétrons no átomo e a sua localização na tabela periódica dos elementos.
Evidências do comportamento quântico da matéria já tinham sido observados muito antes da época
de Bohr e Rutherford. Um das evidências mais notáveis desse comportamento é a emissão do espectro
eletromagnético por átomos.
Usando uma fonte, que consiste de uma descarga elétrica em um meio que contém um gás monoatômico,
como átomos de hidrogênio (átomo de um elétron). Devido às colisões com elétrons da descarga, os átomos
são colocados fora do equilı́brio, ficando excitados. Ao retornarem ao estado normal, os átomos liberam o
excesso de energia emitindo radiação eletromagnética, na região do visı́vel. Se essa radiação for colimada
por uma fenda e, ao atravessar um prisma de vidro ou uma rede de difração, pode ser separada em linhas
espectrais discretas.
Diferentemente do espectro contı́nuo da radiação eletromagnética emitida por um um corpo negro,
a radiação eletromagnética emitida por um átomo livre está concentrada em um número discreto de
comprimentos de onda. Cada espécie de átomo tem o seu espectro caracterı́stico que o identifica. Em
geral, os átomos contêm um número muito grande de linhas espectrais, dificultando caracterizar os seus
espectros. Entretanto, por conter somente um elétron, o átomo de hidrogênio apresenta um espectro
relativamente simples.

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A primeira interpretação empı́rica bem sucedida atribuı́da ao espectro do átomo de hidrogênio foi
apresentada por Johan Jakob Balmer em 1885. Baseado na regularidade das linhas espectrais do hidrogênio
na região do visı́vel Balmer propôs o seguinte comportamento para os comprimentos de onda observados,
conhecido como Série de Balmer:
n2
λ = 364,6 2 (1)
n −4
onde λ é medido em nm e n = 3, 4, 5, .... correspondem, respectivamente, as linhas α, β, γ, .... do espectro
eletromagnético.
O resultado para o átomo de hidrogênio foi generalizado em 1890 por Johannes Robert Rydberg quando
observou se que a eq.1 poderia ser escrita em termos do número de onda k:
1 1 1
 
k = = RH 2 − 2 (2)
λ 2 n
onde RH = 10967757,6 m−1 é a constante de Rydberg para os espectros do hidrogênio na região do visı́vel.
Para outras possı́veis séries de linhas espectrais do hidrogênio além do espectro visı́vel observada por
Balmer, a eq.2 pode ser generalizada para:
!
1 1 1
k = = RH 2
− 2 , sendo n2 < n1 (3)
λ n2 n1

Modelo Atômico de Bohr


A motivação principal de Bohr para propor o seu modelo atômico foi a regularidade dos espectros atômicos
observados por Balmer e Rydberg, utilizando as idéias da Mecânica Quântica. O modelo atômico de Bohr
tem como base os seguintes postulados:
1 - Os elétrons no átomo podem se mover somente em órbitas circulares discretas, as quais definem os
estados estacionários, de onde não emitem radiação eletromagnética (regime estacionário).
2 - A emissão de radiação eletromagnética ocorre somente quando o elétron faz uma transição de um
estado estacionário para outro.
Para manter o elétron de massa m em (i) órbita circular de raio r com velocidade v, a força centrı́peta
que atua sobre ele é a força elétrica, tal que Feletrica = Fcentripeta :

1 Ze2 v2
= m (4)
4πεo r2 r
Por causa da presença de uma força central coulombiana, ocorrendo na direção radial, não há torque e
o (ii) momento angular L do sistema é uma constante de movimento. O módulo do momento angular
conservado L é quantizado e pode ser escrito em termos da constante de Planck (h̄ = h/2π):

L = mvr = nh̄ (5)

Da eq.5 pode-se obter v = nh̄/mr e substituir na eq.4:


!2
1 Ze2 m nh̄
2
=
4πεo r r mr

de onde se obtem o raio da órbita r (“constante”) em termos do orbital n e do número atômico Z do


átomo:
n2 h̄2 n2
rn = 4πεo = a0 n = 1,2,3... (6)
mZe2 Z
onde a0 = (4πεo h̄2 )/(me2 ) ' 0,05 nm é o Raio de Bohr. Consequentemente, a velocidade do elétron nesta
órbita circular é
1 Ze2
v= n = 1,2,3...
4πεo nh̄

2
A (iii) energia total E do sistema de duas partı́culas é dada por E = K + V , onde

1 1 Ze2 1 Ze2
K = mv 2 = e V =−
2 4πεo 2r 4πεo r
são, respectivamente, a energia cinética e a energia potencial. Assim, a energia total será:

1 Ze2
E=− (7)
4πεo 2r
Assim como o raio orbital rn é quantizado, tem-se também quantização na energia total E quando se
substitui a eq.6 na eq.7:
mZ 2 e4 1
En = − n = 1,2,3... (8)
(4πεo )2 2h̄2 n2
sendo o estado de menor energia para n = 1.
Em uma transição de um elétron de um estado excitado inicial Ei para um estado final Ef ocorre a
emissão de um fóton com energia hν = Ei − Ef . A (iv) frequência do fóton emitido é dada por:

Ei − Ef Ei − Ef
ν= =
h 2πh̄
Substituindo a eq.8, obtem-se:
mZ 2 e4
!
1 1 1
ν=− − 2 (9)
2πh̄ (4πεo )2 2h̄2 2
ni nf
O vetor de onda k pode ser obtido em termos da frequência ν através da relação:
1 ν
k= =
λ c
onde c = λν é a velocidade da luz. Substituı́ndo ν dado pela eq.9 e reagrupando termos, obtem-se:
2
me4
" # !
1 1 1
k= 3 Z2 2
− 2
4πεo 4πh̄ c nf ni
!
2 1 1
k = RH Z 2
− 2 ni > nf (10)
nf ni
O termo entre colchetes é a constante de Rydberg RH .
Para o átomo de hidrogênio, Z = 1. As linhas espectrais emitidas na região do visı́vel são as linhas
da série de Balmer, onde o estado de energia final das transições é aquele em que nf = 2. Dessa forma, a
eq.10 se torna equivalente à equação empı́rica proposta por Balmer (eq.2).

2 Objetivos
Esse experimento tem como objetivos: i ) obter experimentalmente o valor da constante de Rydberg
RH e, a partir desta, ii ) obter o valor da constante de Planck.

3 Aparato Experimental
O experimento consiste em observar as linhas espectrais da estrutura fina do hidrogênio. Uma lâmpada
de contendo gás monoatômico de hélio, sob determinadas condições (fonte de luz), faz com que os átomos
excitados ao retornarem para seus estados fundamentais (ou de menor energia) emitem luz visı́vel. Essa

3
Figura 1: Esquema representativo do experimento para observar a estrutura fina (espectro atômico).

luz é difratada por uma rede de difração localizada sobre a parte fixa de um goniômetro graduado, como
mostra o esquema da figura 1.
A luz difratada evidencia as linhas espectrais em diferentes posições em um anteparo e com diferentes
frequências ν (cores). A lente ocular pode se mover junto com a parte móvel do goniômetro, tal que as
linhas espectrais podem ser facilmente visualizadas.
A figura 1 mostra em detalhe como se faz a leitura da posição angular da linha espectral no goniômetro
através da lupa.

4 Procedimento, Dados e Análises Experimentais

Cuidados a serem tomados


• Procure compreender as conexões elétricas no sistema e verificar (e prevenir) a ocorrência de qualquer
erro de montagem. Verifique as tensões do equipamento e aquelas fornecidas no laboratório.
• Verifique se o equipamento está aterrado.

Medidas
1. Utilizando a lâmpada de He, meça as posições angulares das linhas espectrais e anote tabela, para
sua respectiva cor.

2. Utilize a Lei de Bragg (nλ = dsenθ) para determinar os comprimentos de onda λ.

3. Repita a medida 5 vezes e tome um valor médio hλi.

4. Utilizando os valores médios de λ, calcule os respectivos números de onda k = 1/λ.

5. Faça um gráfico em papel log-log dos números de onda em função dos estados iniciais de energia
(k × ni ).

6. Ajuste a curva obtida e determinte, pelos dados do ajuste, o valor da constante de Rydberg RH .

4
7. Utilize a eq.10 e o valor de RH obtido experimentalmente pelo gráfico para determinar o valor da
constante de Planck h.

8. Compare os valores de RH e h obtidos experimentalmente com os valores encontrados na literatura.

Referência
Manual PHYWE: Estrutura Fı́sica da Matéria P2510600

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