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Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Difração de Elétrons
Roteiro elaborado pelo professor Rafael Otoniel com base no manual do fabricante.

1 Objetivos
Esse experimento tem como objetivo verificar o comportamento ondulatório de um feixe de elétrons,
através do fenomeno de difração com diferentes energias do feixe de elétrons. Neste experimento será
possı́vel:
a) Calcular os comprimentos de onda dos elétrons, a partir das diferentes energias do potencial acelerador;
b) Encontrar as distâncias interplanares do cristal de grafite;
c) Determinar da constante de Planck h.

2 Introdução
Apesar de todas as evidências de que o elétron é uma partı́cula, como observado diretamente ou
indiretamente nas experiências de razão carga/massa, do efeito fotoelétrico, e experimento de Franck-
Hertz, pode-se mostrar, experimentalmente, que o elétron apresenta uma caracterı́stica ondulatória. Essa
“dualidade da matéria-onda” apareceu durante desenvolvimento da mecânica quântica, em analogia à
“dualidade onda-partı́cula” da luz. Na experiência do efeito fotoelétrico havia sido mostrado que a luz,
que na época era considerada uma onda eletromagnética, tinha todas as caracterı́sticas de uma partı́cula,
sendo que esta “partı́cula” até foi chamada de fóton.
Em 1924, Louis De Broglie propôs que, assim como uma onda pode apresentar caracterı́sticas corpus-
culares, a matéria convencional (corpuscular por “natureza”) também poderia se comportar como uma
onda. Essa ideia da complementaridade da matéria rendeu a De Broglie o prêmio Nobel em 1929. O fato
é que o elétron é uma grandeza puramente quântica, obedece às leis da mecânica quântica, e por isso não
pode ser comparado com partı́cula ou com onda (conceitos puramente clássicos).
Essa proposta de De Broglie instigou os pesquisadores experimentais, que logo começaram a realizar
experimentos para identificar essa nova faceta da matéria. Em 1927 dois experimentos diferentes foram
realizados: um por G. P. Thomson (filho de J. J. Thomson, prêmio Nobel de 1906 pela descoberta do
elétron como partı́cula!) e outro por C. J. Davisson e L. H. Germer. O primeiro trabalhou diretamente
com difração por folhas finas de metais, enquanto os últimos realizaram experimentos de reflexão de
elétrons de 54 eV incidindo num monocristal de Ni. Thomson e Davisson receberam seu Nobel de 1937
pela comprovação da dualidade da matéria-onda.
De Broglie postulou que partı́culas materiais (não-relativı́sticas e monoenergéticas) de massa m e
velocidade v teriam um comprimento de onda λ associado ao seu momento através da constante de Planck
do tipo:
h
λ= (1)
p

1
e uma energia cinética:
1
Ec = hν = mv 2 (2)
2
fazendo a ligação entre a caracterı́stica ondulatória e a corpuscular.
Das idéias de von Laue e dos Bragg, sabia-se que sólidos cristalinos funcionavam como rede de difração
para raios-X, cuja energia era relativamente alta de modo que o comprimento de onda fosse da ordem do
espaçamento atômico. Elétrons acelerados a energias similares, segundo a idéia de de Broglie, deveriam
apresentar comportamento similar e dar origem a um padrão de difração, cujos ângulos onde se espera
interferência construtiva dos feixes espalhados seguiriam a lei de Bragg:

2dsenθ = nλ (3)
Hoje, a difração de elétrons é uma ferramenta muito comum usada na caracterização de cristais. Esta
técnica pode ser encontrada em microscópios eletrônicos de transmissão, assim como em câmaras de LEED
(low energy electron difraction) ou de RHEED (reflection high energy electron diffraction) utilizadas para
verificação em tempo real da qualidade de crescimento de sólidos em algumas técnicas modernas.

3 Descrição do Experimento
O tubo de difração de elétrons é composto basicamente de um canhão de elétrons, um cristal de grafite
plano, e uma tela fluorescente para a visualização do fenômeno. Os elétrons são produzidos pelo efeito
termoiônico em um filamento aquecido. Uma série de grades e aberturas permitem gerar um feixe de
elétrons colimado, através de potenciais elétricos adequados. Este feixe incide numa lâmina plana muito
fina (transparente para os elétrons) de grafite, como mostra a figura 1. O grafite é um cristal composto de
monocamadas de carbono ligadas entre si por fracas forças de van der Waals. Em uma monocamada, cada
carbono está ligado a outro por orbitais hı́bridos sp2 covalentes. Estas ligações sp2 fazem entre si ângulos
de 120o , tal que a rede cristalina tenha uma geometria hexagonal. A rede do grafite é composta por planos
principais de átomos de carbono (monocamadas) afastados entre si de distâncias “d ” bem caracterı́sticas,
as quais foram determinadas por difração de raios-x.
Em uma lâmina de grafite monocristalina observa-se seis pontos de máximos de difração (devido à
simetria hexagonal). Contudo, a lâmina de grafite utilizada nesse experimento não é monocristalina!
Cada microcristal contribui com seis pontos, mas como suas orientações em relação ao feixe são aleatórias,
os máximos de difração dão origem a cones de difração, que são projetados sobre a tela fluorescente,
observando-se, então, cı́rculos concênctricos, conhecidos como anéis de Debye-Scherrer, de raios r.
Os elétrons provenientes do catodo aquecido C (veja figura 1) são acelerados pelo campo elétrico gerado
no sistema de eletrodos G1...G4. O eletrodo G1 (denominado cilindro de Wehnelt), com potencial negativo
em relação ao catodo, permite a passagem de um fino feixe de elétrons, o qual é submetido a uma pequena
tensão de aceleração preliminar através da grade G2. Os elétrons são então fortemente acelerados pela alta
tensão VA positiva em G3. O feixe de elétrons é finalmente focalizado por meio do ajuste dos potenciais
em G3 e G4 e incide sobre um alvo de grafite policristalino, sendo difratado em determinadas direções.
A partir daı́ os feixes difratados penetram no bulbo esférico de vidro, dando origem a uma série de anéis
na parte do bulbo coberta internamente com um material fluorescente. A geometria do tubo é tal que a
distância entre o cristal de grafite e a tela fluorescente é L = 127 ± 3 mm, que corresponde ao diâmetro
(2R) da parte esférica do bulbo.
Os elétrons de massa m e carga e acelerados pelo potencial VA adquirem energia cinética correspondente
à energia elétrica eVA tal que, escrita em termos do momento p = mv:

1 2 p2 q
mv = = eVA ⇒ p= 2meVA (4)
2 2m

2
Figura 1: Esquema da montagem e alimentação de energia para o tubo de difração de elétrons.

De acordo com a teoria de De Broglie, considerando os elétrons como partı́culas materiais, pode-se
associar a essas ‘partı́culas’ a um comprimento de onda dado pela equação (1). Subsitituı́ndo o momento
da eq.(4) no comprimento de onda de De Broglie dado na eq.(1), temos:
h h
λ= √ ⇒ λbroglie = √ (VA )−1/2 (5)
2meVA 2me
A equação (5) representa o comprimento de onda associado ao elétron, onde h = 6,63x10−34 J.s,
m = 9,11x10−31 kg e e = 1,602x10−19 C. É importante ressaltar que para as tensões VA utilizadas nesse
experimento, a massa relativı́stica do elétron pode ser substituı́da pela sua massa em repouso, assumindo
um erro da ordem de 0,5%.
Quando o feixe de elétrons incide sobre uma rede cristalina é espalhado, tal que as interferências
construtivas ocorrem de acordo com a condição de Bragg (eq.(3)):

2dsenθ = nλbragg (6)


onde d é a distância entre os planos que definem a rede cristalina considerada (cristais de grafite - figura 2),
θ corresponde ao ângulo entre o feixe incidente e os planos da rede (ângulo de Bragg) e λ é o comprimento
de onda associado ao feixe de elétrons.
De acordo com a figura 1, o ângulo de espalhamento α corresponde ao dobro do ângulo de incidência
θ, que pode ser calculado a partir do raio r do anel de interferência, onde:
r
sen2α = (7)
R
onde R = 6,35 cm é o raio do bulbo. Sendo sen2α = 2senα.cosα e, para pequenos ângulos de α onde
cosα ' 1, tem-se que sen2α ' 2senα = 2sen2θ ' 4senθ. Assim a eq.(7) se torna:
r r
sen2α ' 4senθ = ⇒ senθ = (8)
R 4R
onde α = 2θ. Subsitituı́ndo a eq.(8) na condição de Bragg (eq.(6)) e evidenciando r:
r 2R
 
2d = nλ ⇒ r = nλ (9)
4R d
Assim, conhecendo-se o comprimento de onda λ dos elétrons, é possı́vel determinar as distâncias inter-
planares d de uma rede cristalina qualquer, medindo-se os raios r dos anéis de Debye-Scherrer, sendo R

3
um parâmetro experimental (raio do bulbo). λ é calculado à partir da equação (5) e depende dos valores
de VA .
Em particular, a estrutura cristalina do grafite pode ser entendida a partir do arranjo esquemático
mostrado na figura 2. Cada átomo de carbono encontra-se ligado covalentemente a três outros átomos,
numa estrutura hexagonal, onde a distância entre cada par de átomos de carbono é de 1,42 Å. As duas
distâncias interplanares responsáveis pelos dois anéis mais internos de difração (n = 1) correspondem
às famı́lias de planos indicadas na figura 2(b), sendo dadas por d1 = 2,13 Å e d2 =1,23 Å.

Figura 2: (a) e (b) Representação esquemática de um cristal de grafite e dos seus principais planos cris-
talinos. (b) Monocamada de grafite (grafeno).

4 Procedimento, Dados e Análises Experimentais

Cuidados a serem tomados


• Procure compreender as conexões elétricas no sistema e verificar (e prevenir) a ocorrência de qualquer
erro de montagem, conferindo sempre com os esquemas apresentados neste roteiro.
• Durante todo o processo de medida, observe se há ocorrência de “efeito cascata”, quando o sistema
entra em curto-circuito e um clarão é subitamente observado na ampola. Se isso acontecer reduza ime-
diatamente a tensão aplicada na fonte de alta tensão e aguarde em torno de 20 minutos para reiniciar o
experimento.
• No caso de ocorrer faiscamento em qualquer das conexões elétricas reduza a tensão aplicada na fonte
de alta tensão e chame o(a) professor(a) e/ou técnico(a) do laboratório.
• O ponto fortemente luminoso no centro da do tubo pode danificar o material fluorescente nele
depositado. Para evitar isso, reduza a intensidade do feixe luminoso após a tomada das medidas.
• Após as medidas, desligue as fontes de tensão.

Medidas
1. Ajuste as tensões nos eletrodos G1, G3 e G4 de forma que os anéis de interferência possam se
observados com nitidez (com a sala escurecida). Inicie com os seguintes valores de referência: tensão
em G1 ≈ -35 V; tensão em G2 = 300 V (fixa); tensão em G4 ≈ 250 V; tensão de aceleração em G3
(VA ) ≈ 4,5 kV (lido diretamente na fonte de alta tensão).

4
2. Determine os diâmetros di dos dois anéis de interferência mais internos com o paquı́metro (de
plástico!), tomando a média dos diâmetros interno di,int e externo di,ext de cada anel, onde di =
(di,ext + di,int )/2, sendo i = 1, 2.

3. Varie a tensão VA de aproximadamente 0,5 em 0,5 kV, tomando sempre as medidas dos diâmetros
dos dois anéis de interferência mais internos. Faça ao todo de 7 a 10 medições. Organize os dados
na tabela 1 “Medida 1”. Não ultrapasse o valor de 8,0 kV. (Lembre-se que os dois anéis
mais internos correspondem aos primeiros padrões de difração, n = 1, de dois planos interplanares
diferentes: d1 = 2,13 Å e d2 =1,23 Å.)

4. Efetue o conjunto de medidas acima três vezes, alternando a pessoa que lê os diâmetros com o
paquı́metro, de modo a minimizar erros acidentais. Anote os dados nas tabelas 2 e 3 “Medida 2” e
“Medida 3”, respectivamente.
Importante: Faça apenas uma medida (para os dois anéis) para cada tensão VA para minimizar o
tempo de incidência do feixe na superfı́cie fluorescente. Evite fazer as três medidas de uma vez para
não danificar a superfı́cie fluorescente! Complete uma tabela por vez.

5. Encontre os valores médios di,med dos diâmetros di=1,2 de cada medida e determine os raios médios
ri,med = di,med /2. Anote os valores de ri,med na tabela 4 “DADOS”.

Análise dos Dados


⇒ Comprimentos de onda

6. Utilize a equação (5) para determinar os comprimentos de onda λBroglie dos feixes eletrônicos para
cada tensão VA aplicada. Organize esses dados na tabela 4.

7. Tomando agora os valores esperados d1 = 2,13 Å e d2 =1,23 Å (veja figura 2), determine os
comprimentos de onda λBragg,1 e λBragg,2 a partir dos respectivos valores experimentais de r1 e r2 , de
acordo com a equação (9), onde n = 1 (primeiro anel de difração para cada d). Tome o valor médio
e anote na tabela 4. Compare λBroglie e λBragg e discuta os resultados obtidos.

⇒ Distâncias interplanares

8. Monte um gráfico de r em função de λBroglie para os dois anéis de interferência mais internos e
determine por regressão linear os valores experimentais das distâncias interplanares d1 e d2 . Para o
ajuste linear do gráfico, tome o coeficiente angular de cada curva rxλ e combine com a equação (9).
Compare os valores experimentais de d1 e d2 com os valores esperados.

⇒ Constante de Planck

9. Utilize os valores dos comprimentos de onda λBragg(medio) , calculados no item 7, e faça um gráfico de
1
λBragg em função de (VA )− 2 . Obtenha a partir desse gráfico, combinando os parâmetros obtidos com
a equação (5), um valor para a constante de Planck h. Compare seu resultado com h estabelecido
na literatura.

Referências
Manual PHYWE Manual do Usuário: Difração de Elétrons P2511300

5
Resultados
d1 =

d2 =

h=

6
7
8

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