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A n dr é a Pr e s a s Ro c h a*
1. INTRODUÇÃO
Visamos, no presente trabalho, realizar uma abordagem sintética, porém
analítica, das questões mais recorrentes no cotidiano do operador do Direito
do Trabalho relativas à isonomia salarial.
Centraremos o nosso estudo no exame da proteção lato sensu do salário
conferida pelo nosso ordenamento jurídico. Assim é que analisaremos tanto as
regras de proteção diretamente dirigidas ao salário, quanto aquelas direciona-
das ao trabalhador, mas tendo em vista o salário por ele percebido.
Esquadrinharemos, inicialmente, as formas de proteção contra discrimi-
nações salariais oferecidas pelo nosso ordenamento, dando uma maior ênfase
à equiparação salarial por identidade, em virtude de se tratar do método mais
comumente utilizado na práxis forense. Ainda nesse caminho, traçaremos
breves linhas acerca de outras formas antidiscriminatórias albergadas pela
ordem jurídica, a exemplo daquelas ocorridas em situações de substituição
de empregados, de adoção de quadro de carreira pelo empregador e de
terceirização, dentre outras.
Ao depois, cuidaremos das regras de proteção ao salário de per si,
oportunidade em que examinaremos alguns dos princípios juslaboristas
aplicáveis nesta seara. Veremos, então, que o salário constitui uma das
preocupações centrais do Direito do Trabalho, tanto que as garantias sobre
ele estendidas direcionam-se até mesmo contra a imprevidência do próprio
empregado beneficiário.
2. ISONOMIA SALARIAL
2.1. Evolução histórica
Derivado do princípio geral da isonomia, apresenta-se a igualdade
salarial como uma garantia de que a todo trabalho igual deve corresponder
pagamento igual.
Historicamente, o princípio em tela apareceu pela primeira vez na
Carta de 1934, sendo, a partir de então, mantido, com pequenas alterações,
nos textos constitucionais que se seguiram. Com efeito, já desde 1934 se
proibia diferença de salário para um mesmo trabalho por motivo de idade,
sexo, nacionalidade ou estado civil. A Carta de 1946 repetiu a redação do
texto de 1934, ao passo que a CF/67 omitiu a proibição de discriminação em
razão da idade. A Emenda Constitucional de 1969, por seu turno, dilatou
o princípio isonômico para alcançar as admissões de empregados.
A Constituição da República atual assegura a igualdade de forma
ampla (art. 5º, XXX e XXXI), estendendo a proibição de diferenças, antes
restrita aos salários, também ao exercício de funções e de critério de
admissão. Reinclui, ainda, em seu bojo a proibição de discriminação.
por motivo de idade, embora deixe de tratar das diferenças em razão da
nacionalidade.
No cenário mundial, a primeira vez em que a questão da igualdade
recebeu amparo legislativo ocorreu no México, na Constituição de 1917,
que garantia salário igual para trabalho igual sem discriminação de sexo
ou nacionalidade. Depois disso, o princípio isonômico foi estendido pelo
mundo com o Tratado de Versalhes, de 1919, e, com o passar dos anos, a
regra da proibição de tratamento desigual repetiu-se em diversos textos,
a exemplo da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), do
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966)
e em diversas Convenções (n. 82, 100, 111 e 117) e Recomendações (n. 90
e 111) da OIT.
2.2. Proteção contra discriminações salariais
A ordem jurídico-trabalhista oferece proteção contra discriminações
gerais, envolvendo, por exemplo, tipos variados de empregados (mulher,
menor e portador de deficiência) e de situações contratuais, ao lado da prote-
ção contra discriminações que repercutem diretamente na temática salarial.
Disso se conclui que a possibilidade de equiparação vai além dos salários,
abarcando condições ínsitas ao contrato de trabalho, a exemplo dos dias
de férias, dos valores das diárias, da concessão de prêmios, dentre outras.
Nos interessa, neste estudo, o exame da proteção dirigida contra as
discriminações salariais. De acordo com a legislação trabalhista, referida
proteção se desdobra em cinco situações mais comuns: as que envolvem
a equiparação salarial, que pode ser por identidade, por analogia ou por
equivalência; aquelas decorrentes da organização dos trabalhadores em
quadro de carreira; as que tratam do empregado substituto provisório; as
resultantes de desvio funcional; e as que dizem respeito aos trabalhadores
submetidos à terceirização.
1 Cf. Damasceno, Fernando Américo Veiga. “Equiparação salarial”. São Paulo:LTr, 1980, p. 30
e seguintes. Apud VIANA, Márcio Túlio. “Equiparação salarial”. In: BARROS, Alice Monteiro
de (coord.). “Curso de direito do trabalho: estudos em memória de Célio Goyatá”. 3ª ed. v. I. São
Paulo: LTr, 1997, p. 274.
Cargo consiste na posição que o empregado ocupa na empresa. Função
é o trabalho que a pessoa efetivamente exerce, enquanto tarefas são as
atribuições que compõem a função. Disso se dessume que uma função
pode englobar uma única tarefa ou um feixe de tarefas reunidas em um
todo unitário2.
A identidade de que cuida a CLT deve ser efetiva, isto é, a lei não se
satisfaz com a simples semelhança ou aproximação das funções. Nada obs-
tante, presumem-se idênticas as funções (presunção juris tantum) quando
os cargos ocupados possuem a mesma denominação.
Não há óbice à equiparação quando as funções desempenhadas sejam
de confiança, ou mesmo quando se trate de trabalho intelectual.
Identidade produtiva não se confunde com identidade de produção.
Aquela é relativa e diz respeito à capacidade de produzir, devendo, assim,
ser aferida tendo em vista a conjugação dos meios de produção coloca-
dos à disposição do empregado, dentre os quais inclui-se o fator tempo.
Produção, por seu turno, refere-se ao ato de produzir, sendo, pois, vista
em sentido absoluto. É diferencial quantitativo na aferição do trabalho
comparado.
A identidade qualitativa pertine ao requisito legal da “mesma perfeição
técnica”. Deve ser avaliada concretamente, de acordo com as exigências
relativas à fabricação do produto ou à execução do serviço. É diferencial
qualitativo na aferição do trabalho comparado.
A identidade do empregador somente apresenta dificuldades quando
se trata de grupo empresarial, dissentindo a jurisprudência sob tal aspecto3.
incidência do artigo 461 da CLT. É que a formação de grupo econômico não retira das empresas
que o integram a autonomia administrativa e gerencial, independentemente da localização e/ou
utilização de recurso humano comum. Tais circunstâncias encontram-se no âmbito deliberativo
das empresas. A hipótese não traduz a figura do empregador único. Está presente, apenas,
quando da ocorrência de prestação de serviço comum às unidades econômicas, o que não é o
caso dos autos. Revista conhecida e provida” (TST-RR - 11090/2002-900-02-00, Relator – Juíza
Convocada Helena e Mello, DJ - 19/12/2002).
4 No caso do grupo de empregadores rurais não há solidariedade ativa, pelo que deve ser recha-
çada a possibilidade de equiparação salarial entre empregados vinculados a empresas distintas
do grupo. Com efeito, no caso do grupo rural, a lei fala que os integrantes do grupo “serão
responsáveis solidariamente nas obrigações decorrentes da relação de emprego” (art. 3º, §2º, Lei
n. 5.889/73), excluindo, desse modo, a solidariedade ativa, ensejadora da figura do empregador
único. Já no caso do grupo de empregadores urbanos, o art. 2º, §2º, da CLT, é claro ao atribuir
solidariedade aos integrantes do grupo para os efeitos da relação de emprego, nisso englobando,
portanto, tanto a solidariedade ativa (empregador único), quanto a passiva.
5 Súmula n. 6, do C. TST: “EQUIPARAÇÃO SALARIAL. ART. 461 DA CLT. (incorporação
das Súmulas nºs 22, 68, 111, 120, 135 e 274 e das Orientações Jurisprudenciais nºs 252, 298 e 328
da SBDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005
I - Para os fins previstos no § 2º do art. 461 da CLT, só é válido o quadro de pessoal organizado
em carreira quando homologado pelo Ministério do Trabalho, excluindo-se, apenas, dessa exi-
gência o quadro de carreira das entidades de direito público da administração direta, autárquica
e fundacional aprovado por ato administrativo da autoridade competente. (ex-Súmula nº 6 - Res.
104/2000, DJ 18.12.2000)
II - Para efeito de equiparação de salários em caso de trabalho igual, conta-se o tempo de serviço
na função e não no emprego. (ex-Súmula nº 135 - RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ 15.10.1982)
III - A equiparação salarial só é possível se o empregado e o paradigma exercerem a mesma
função, desempenhando as mesmas tarefas, não importando se os cargos têm, ou não, a mesma
denominação. (ex-OJ nº 328 - DJ 09.12.03)
IV - É desnecessário que, ao tempo da reclamação sobre equiparação salarial, reclamante e
paradigma estejam a serviço do estabelecimento, desde que o pedido se relacione com situação
pretérita. (ex-Súmula nº 22 - RA 57/70, DO-GB 27.11.1970)
V - A cessão de empregados não exclui a equiparação salarial, embora exercida a função em
órgão governamental estranho à cedente, se esta responde pelos salários do paradigma e do
reclamante. (ex-Súmula nº 111 - RA 102/1980, DJ 25.09.1980)
VI - Presentes os pressupostos do art. 461 da CLT, é irrelevante a circunstância de que o desnível
salarial tenha origem em decisão judicial que beneficiou o paradigma, exceto se decorrente de
vantagem pessoal ou de tese jurídica superada pela jurisprudência de Corte Superior. (ex-Súmula
nº 120 - Res. 100/2000, DJ 18.09.00)
VII - Desde que atendidos os requisitos do art. 461 da CLT, é possível a equiparação salarial de
trabalho intelectual, que pode ser avaliado por sua perfeição técnica, cuja aferição terá critérios
objetivos. (ex-OJ nº 298 - DJ 11.08.2003)
VIII - É do empregador o ônus da prova do fato impeditivo, modificativo ou extintivo da equi-
paração salarial. (ex-Súmula nº 68 - RA 9/77, DJ 11.02.1977)
IX - Na ação de equiparação salarial, a prescrição é parcial e só alcança as diferenças salariais
vencidas no período de 5 (cinco) anos que precedeu o ajuizamento. (ex-Súmula nº 274 - Res.
121/2003, DJ 21.11.2003)
X - O conceito de “mesma localidade” de que trata o art. 461 da CLT refere-se, em princípio,
ao mesmo município, ou a municípios distintos que, comprovadamente, pertençam à mesma
região metropolitana. (ex-OJ nº 252 - Inserida em 13.03.2002)”.
A fim de que seja possível a equiparação é necessário, ainda, que
equiparando e paradigma prestem serviços na “mesma localidade”. Esta
expressão tem sido entendida na jurisprudência como mesmo município
ou mesma região metropolitana (súmula 6, inciso X, do TST).
O diferença de tempo de serviço na função, e não no emprego, entre
equiparando e paradigma, não poderá ser superior a dois anos (Súmula
6, inciso II, do TST). Questão interessante surge quando o paradigma
exerce a função em períodos descontínuos. Nesses casos, a jurisprudência
tem entendido que os períodos devem ser somados, para se justificar o
tratamento diferenciado6.
Sobremais, é necessário que equiparando e paradigma tenham sido
contemporâneos na função, ou seja, que hajam laborado conjuntamente,
de forma permanente, em algum momento, encarecendo-se a coincidên-
cia temporal no exercício das mesmas funções pelos empregados, em
caráter permanente. A simples coincidência eventual não tem o condão
de caracterizar a contemporaneidade.
7 Sussekind, Arnaldo; Maranhão, Délio; Vianna, Segadas; Teixeira, Lima. “Instituições de direito
do trabalho”. 22ª ed. Vol. 1. São Paulo: LTr, 2005, p. 439.
em que se subdivide cada categoria ou cada cargo”8, não havendo, portanto,
possibilidade de promoção para categoria ou cargo diverso. Sem embargo,
a transposição de uma categoria para outra, ou de um cargo para outro,
constitui reclassificação, a qual, por seu turno, não necessita obedecer aos
critérios alternativos de antiguidade e merecimento, podendo o empre-
gador, livremente, estabelecer essa forma de acesso com base apenas no
merecimento. As normas para a homologação do quadro de carreira estão
dispostas na Portaria n. 08/87, do Ministério do Trabalho.
Em regra, o quadro de carreira exclui a possibilidade de equiparação sala-
rial, haja vista que a própria existência do quadro organizado justifica as even-
tuais desigualdades, na medida em que permite ao empregado fazer carreira.
Pode ocorrer, contudo, do quadro não elidir a equiparação. São hipó-
teses de exceções à própria exceção legal. Tal o que sucede, por exemplo,
quando o quadro, malgrado existente, não é homologado pelo Ministério
do Trabalho ou é homologado irregularmente9, caso em que o empregador
não poderá evitar eventual ação equiparatória. Nessas duas situações, ao
empregado fica ainda aberta a via da ação de enquadramento. Gize-se
que, no tocante à administração pública direta, autárquica e fundacional,
é dispensada a homologação do quadro, bastando a aprovação do ato pela
autoridade competente.
Outrossim, o quadro de carreira não elimina a equiparação quando
o cargo não está previsto no quadro, quando o paradigma encontra-se
enquadrado incorretamente, ou quando o paradigma receba salário supe-
rior, embora ocupando o mesmo cargo que o equiparando. Em síntese,
pode-se dizer que sempre caberá equiparação salarial quando o quadro
não atender os requisitos legais, ou quando não solucionar a desigualdade
salarial, quebrando a isonomia.
De todo modo, cumpre esclarecer que, mesmo existindo quadro de
carreira devidamente homologado, sempre há a possibilidade de existirem
falhas no enquadramento, e, nessas hipóteses, faculta-se ao empregado
ajuizar ação de enquadramento, visando a correção das eventuais distor-
ções quanto ao seu posicionamento no quadro. Isso é o que ocorre, por
exemplo, com o empregado preterido em promoção.
8 Ibidem, p. 439.
9 Exemplo de quadro homologado irregularmente é aquele em que não são observados os
critérios legais de promoções alternadas, por merecimento e antiguidade.
concessionárias de serviços público federais, estaduais ou municipais,
que, por fôrça de encampação ou transferência dêsses serviços tenham,
a qualquer tempo, sido absorvidas por emprêsa pública ou sociedade de
economia mista, constituirão quadro especial, a ser extinto à medida que
se vagarem os cargos ou funções” (art. 1º), e “não servirão de paradigma
para aplicação do disposto no artigo 461 e seus parágrafos da Consolidação
das Leis do Trabalho” (art. 2º).
Ressalte-se que referido Decreto-Lei aplica-se apenas às hipóteses em
que a concessionária é absorvida por empresa estatal, restringindo-se a
vedação à possibilidade de equiparação entre os empregados da conces-
sionária e os trabalhadores da estatal.
2.2.2.3. Terceirização
Nas relações de trabalho terceirizado temporário, entabuladas com
arrimo na Lei n. 6.019/74, há norma específica determinando que o tra-
balhador temporário perceba remuneração equivalente à percebida pelos
empregados da mesma categoria na empresa tomadora ou cliente (art. 12).
O problema surge na chamada terceirização permanente. Quando
a terceirização - realizada por empresas privadas - é considerada ilícita,
nenhuma dificuldade se apresenta, uma vez que se reconhece a formação
do vínculo diretamente com o tomador.
Entretanto, se a relação jurídica fundada em terceirização ilícita se
10 Sussekind, Arnaldo; Maranhão, Délio; Vianna, Segadas; Teixeira, Lima. Op. cit., p. 436.
der com ente da administração pública, na qual não há possibilidade de
formação direta do vínculo, em virtude de expressa vedação constitucional,
poderão emergir distorções salariais, ofensivas ao Princípio da Isonomia.
Também poderá surgir situação discriminatória nas terceirizações lícitas,
empreendidas por empresas privadas.
São, pois, duas as situações fáticas em que poderão aparecer discri-
minações salariais difíceis de solucionar: terceirização ilícita com entes da
administração pública direta e indireta; e terceirização lícita em que há
tratamento discriminatório entre o trabalhador terceirizado e o trabalha-
dor inserido em categoria ou função equivalentes na empresa tomadora.
Entendemos que, nos dois casos, deve ser afastada a condição discri-
minatória aplicando-se o art. 5º, caput, da Constituição Federal, em con-
junto com o art. 3º, parágrafo único, da CLT. Além disso, sempre se poderá
invocar a incidência, por analogia, do art. 12, da Lei n. 6.019/74, pois, se
é vedado o tratamento diferenciado quando a terceirização é temporária,
com mais razão deve ser obstada a discriminação salarial em hipóteses de
terceirização permanente.
11 Pinto, José Augusto Rodrigues. “Curso de direito individual do trabalho”. 4ª ed. São Paulo:
LTr, 2000, p. 290.
3.1.3. Princípio da integralidade do salário
Excepcionadas as deduções decorrentes de adiantamentos, de dispo-
sitivos de lei e normas coletivas (art. 462, CLT), não se admitem outros
abatimentos nos salários do empregado, nisso residindo o princípio da
integralidade, segundo o qual deve o salário ser integralmente pago.
Portanto, de fora a parte as deduções previstas em lei e em normas
coletivas, veda-se, no sistema brasileiro, qualquer outro abatimento salarial.
Predito princípio tem o objetivo de evitar que o empregado seja coagido
ou induzido pelo empregador a utilizar-se de armazéns ou serviços por
este fornecidos. Em suma, pode-se dizer que no Brasil é vedada a prática
do denominado truck system, expediente que consiste no pagamento do
salário por meio de utilidades, vales, bônus, ou quaisquer outras formas
representativas de moeda.
São descontos autorizados por lei aqueles atinentes a adiantamen-
tos, contribuições previdenciárias, contribuição sindical (art. 547, CLT),
imposto de renda, aviso prévio devido pelo empregado (art. 487, §2º, CLT),
indenizações por danos dolosos ou culposos, estes desde que existente
previsão contratual12, para quitar débito de habitação adquirida junto ao
Sistema Financeiro Habitacional (Lei n. 5.725/97), para quitar emprésti-
mos, financiamentos e operações de arrendamento mercantis concedidos
por instituições financeiras e outras mencionadas na Lei n. 10.820/03.
Os adiantamentos salariais superiores ao valor mensal da remunera-
ção perdem, segundo alguns, o caráter salarial, passando a assumir índole
de dívida civil, em face da sua desproporcionalidade. Outros defendem
que a dedução dos abatimentos deve limitar-se a um mês da remuneração
do empregado, em atenção à regra de compensação emanada do art. 477,
§5º, da CLT.
Consoante Súmula 342, do TST, “Descontos salariais efetuados
pelo empregador, com a autorização prévia e por escrito do
empregado, para ser integrado em planos de assistência odontológica,
médico-hospitalar, de seguro, de previdência privada, ou de entidade
cooperativa, cultural ou recreativo-associativa de seus trabalhadores,
em seu benefício e de seus dependentes, não afrontam o disposto no
art. 462 da CLT, salvo se ficar demonstrada a existência de coação ou
de outro defeito que vicie o ato jurídico”.
3.1.4. Princípio da pontualidade no pagamento
As garantias que cercam o pagamento do salário distribuem-se em
13 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. “Curso de direito do trabalho”. 19ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 799-800.
14 Súmula n. 258, TST: “SALÁRIO-UTILIDADE. PERCENTUAIS - Nova redação - Res.
121/2003, DJ 21.11.2003. Os percentuais fixados em lei relativos ao salário “in natura” apenas
se referem às hipóteses em que o empregado percebe salário mínimo, apurando-se, nas demais,
o real valor da utilidade”.
15 Interessante a seguinte decisão sobre o tema: “IMPENHORABILIDADE DE VALORES
NA CONTA DE SALÁRIOS E OUTROS PROVENTOS NO PROCESSO DO TRABALHO.
APLICAÇÃO DO ARTIGO 649 CPC. LEITURA DO TEXTO. PROTEÇÃO AO DIREITO DO
TRABALHADOR. Têm sido objeto de recursos ou, até, de mandados de segurança o desfazi-
mento de atos praticados por juízos do trabalho, nos processos de execução, que determinam
a apreensão de bens do executado - geralmente, pessoa física, responsável solidariamente pelos
débitos oriundos do contrato de trabalho, pela teoria da desconsideração da personalidade
jurídica do empregador, agora consagrada pelo Código Civil de 2002. É que, não havendo bens
do executado que garantam o cumprimento da obrigação imposta pela sentença com força de
coisa julgada, o auto de penhora traz relacionada a constrição de saldo de depósito efetivado
em conta corrente de banco, como primeiro bem a ser penhorado, nos termos do artigo 655 do
CPC, por preceituação expressa do artigo 882 da CLT. Ocorre que, por sua vez, o executado
solidário apresenta argumento de que tal conta bancária é destinada a receber créditos de salários
ou proventos de toda ordem - inclusive, de aposentadoria - percebidos por ele, sócio da empresa,
que teve contra si a sentença condenatória. Neste caso, com apoio no artigo 649 do CPC, tem-
se entendido que os valores ali depositados, de toda ordem, são impenhoráveis, decidindo os
3.2.2. Proteção contra familiares do empregado e contra a sua pró-
pria imprevidência
O salário deve ser pago diretamente ao empregado, ainda que menor
de 18 anos (art. 439, CLT). Ressalte-se que, quanto ao menor de 18 anos,
apenas na rescisão contratual é que ele deverá estar assistido pelos respon-
sáveis legais, muito embora o adimplemento deva ser feito ao empregado.
Outrossim, não se admite, dada a índole alimentar do salário, a estipu-
lação em favor de terceiro, a cessão de crédito trabalhista, enfim, qualquer
forma contratual que leve o empregado a se despojar do seu crédito salarial
em favor de outrem, frustrando-lhe a função alimentar.
4. CONCLUSÃO
Como dissemos à guisa de introdução, o salário representa um dos
assuntos mais vibrantes do Direito do Trabalho, não só pelo fato da ordem
jurídica preocupar-se sobremaneira com a sua proteção, mas também, e
principalmente, porque dele depende a subsistência do trabalhador. Aliás,
não é à toa que diversos tratados jurídicos já foram escritos sobre o tema.
Persistem, contudo, acaloradas discussões doutrinárias e jurispru-
denciais acerca do nível de proteção outorgado ao salário, como vimos,
por exemplo, ao tratarmos da amplitude do conceito de empregador para
fins de equiparação salarial, ou mesmo da impenhorabilidade do salário.
Por tais razões, resolvemos direcionar o nosso estudo para o exame das
formas de proteção ao salário existentes em nosso ordenamento jurídico,
visando, desse modo, sintetizá-las numa ordem lógica, para facilitar a sua
compreensão.
O nosso escopo foi, portanto, o de realizar uma análise simples do
assunto, mas de um ângulo amplo, conferindo, assim, uma visão geral
sobre o tema. Esperamos que tenhamos atingido esse objetivo.
5. Bibliografia (citada e/ou consultada)
BARROS, Alice Monteiro de. “Curso de direito do trabalho: estudos em memó-
ria de Célio Goyatá”. 3ª ed. Vol. I. São Paulo: LTr, 1997.
________. “Curso de direito do trabalho”. São Paulo: LTr, 2005.
DELGADO, Mauricio Godinho. “Curso de direito do trabalho”. São Paulo:
LTr, 2002.
GOMES, Orlando; e GOTTSCHALK, Elson. “Curso de direito do trabalho”.
17ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
MANUS, Pedro Paulo Teixeira. “Direito do trabalho”. 9ª ed. São Paulo: Atlas,
2005.
MARTINS, Sergio Pinto. “Direito do trabalho”. 21ª ed. São Paulo: Atlas, 2005.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. “Curso de direito do trabalho”. 19ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2004.
PINTO, José Augusto Rodrigues. “Curso de direito individual do trabalho”. 4ª
ed. São Paulo: LTr, 2000.
RODRIGUEZ, Américo Plá. “Princípios de direito do trabalho”. 3ª ed. São
Paulo: LTr, 2004.
SUSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas; TEIXEIRA
FILHO, João de Lima. “Instituições de direito do trabalho”. 22ª ed. Vol. 1.
São Paulo: LTr, 2005.
trabalhador tem preferência sobre todos os bens, sob pena, mesmo, de o devedor ser enquadrado
nas leis penais, quando o nosso legislador se dignar de regular tal crime. Ou, enquanto não
o faz, ter a garantia do seu recebimento, mesmo em processo de natureza civil. Concluindo,
não se pode admitir que a Justiça do Trabalho, que é também denominada Justiça Operária,
proteja o empregador - ou os seus sócios - em prejuízo do trabalhador, em verdadeira inversão
dos valores e em desrespeito ao que preceitua o artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil
brasileiro, impondo que, ‘na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e
às exigências do bem comum’” (TRT 3ª R 3ª Turma 00732-2002-103-03-00-0 AP Rel. Juiz Bolívar
Viegas Peixoto DJMG 26/02/2005 P.05).