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Sumário

1. História do Psicodrama.............................................................................................1
2. O Que é Psicodrama.................................................................................................6
3. Teoria da Técnica......................................................................................................9
4. Técnicas..................................................................................................................22
Referências Bibliográficas...........................................................................................29
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A HISTÓRIA E A TÉCNICAS DO PSICODRAMA

1. HISTÓRIA DO PSICODRAMA

Jacob L. Moreno foi um psiquiatra romeno, de origem judaica, que estudou


Medicina em Viena entre os anos de 1909 a 1917, quando então completara 28
anos.

Sua paixão pelo teatro vem da infância. Conta-se que gostava de reunir
amigos para representar. A adolescência em Viena foi a fase mais mística de sua
vida. Segundo seu biógrafo René F. Marineau "Moreno começou a reunir um grupo
de amigos e discípulos à sua volta em 1908. Juntos criaram a 'religião' centrada em
criatividade, encontros e anonimato. Ajudavam pobres e refugiados, deixavam
crescer a barba e dedicavam um bocado de tempo a discutir questões teológicas e
filosóficas". (Marineau, 1992, p. 41). Durante o período em que cursou a escola de
Medicina, editou com um grupo de intelectuais o jornal Daimon ( palavra grega que
pode significar tanto o bom como o mau espírito; é o 'duplo interior' de cada
indivíduo) onde publicou algumas poesias e artigos como 'A divindade como
comediante', onde já fala da inversão de papéis uma das principais técnicas da
futura teoria do psicodrama, utilizando-se de seus conhecimentos do método
socrático de ensinar. No artigo "Convite ao Encontro", publicado em três etapas,
Moreno edita o poema afirmando sua visão de que a pessoa é mais importante do
que sua produção, "Mais importante do que a evolução da criação, é a evolução do
criador" (Marineau, 1992, p. 59) , a dialógica da relação que implica na inversão de
papéis, na percepção intuitiva do outro, e finalmente a idéia de reunião, de encontro,
à semelhança de seu contemporâneo, o filósofo existencialista Martin Buber. Buber
diz que no princípio era a relação Eu-Tu, Moreno afirma que no princípio era a ação
e o grupo. Ou seja, o importante é o fazer contextualizado.

Moreno também fazia um trabalho com crianças nas praças, onde ele
desenvolvia jogos dramáticos, criava histórias e observava a espontaneidade e a
enorme capacidade criativa das crianças, o que ele atribuiu ao fato das crianças
serem mais livres das "conservas culturais". Mais tarde, seu trabalho com um grupo
de prostitutas já mostrava o outro lado da moeda: pessoas que eram segregadas do
resto da sociedade, não por questões religiosas ou étnicas, mas pelo tipo de
ocupação. Moreno não tinha interesse em reformar ou ajudar economicamente
aquelas mulheres. Desenvolveu sim um trabalho de grupo em que ele começou a
formular seus conceitos de psicoterapia de grupo através da ajuda mútua, do
reconhecimento dos direitos como cidadãs, do desenvolvimento de papéis no grupo,
da percepção do indivíduo como agente terapêutico do outro, a mutualidade, as
ações co-conscientes e co-inconscientes, co-responsabilidade, co-criação, a
espontaneidade, a criação como processo contínuo.

Em 1922, Moreno alugou um teatro, propriedade do pai de uma famosa atriz


na época, a que dá o nome de Teatro de Espontaneidade. Todas as noites ali se
reuniam atores de projeção para representar dramas do cotidiano com intensa
participação do público.
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É quando Moreno começa a desenvolver sua proposta de psicodrama,


sociodrama e axiodrama. Ele propõe uma inversão de papéis entre os atores e o
público, no qual o público passa a representar seus dramas cotidianos no espaço
cênico. Esse espaço é composto pelo palco, o protagonista ou cliente, um diretor ou
terapeuta e o público ou platéia. Através do uso de técnicas como a inversão de
papéis, o duplo, o espelho, a concretização da imagem de um sentimento, uma
emoção, da interpolação de resistência, entre outras, as pessoas desenvolvem uma
nova percepção sobre si mesmas, sobre os outros e sobre o ambiente, permitindo o
surgimento do novo, da eventualidade, da resposta nova, uma nova linguagem
resignificada. Portanto, o espaço cênico é multidimensional, vivencial pois inclui o
verbal, o corporal, gestual, a cultura, o jogo, a imaginação, personificados no
momento, ou seja no aqui e agora.

Em 1925 Moreno foi para Nova Iorque, onde mais tarde comprou um
sanatório e desenvolveu a metodologia do Psicodrama até a morte em 1974, aos 85
anos de idade. Foram os anos de crescimento e amadurecimento da teoria e da
técnica. Ele propôs as três etapas da sessão psico, socio ou axiodramática: o
aquecimento, a dramatização e o compartilhar.

Cada uma das etapas representa um momento diferente no processo. No


aquecimento se trabalha com a idéia de aleatoriedade através de jogos que
envolvem a linguagem verbal, do corpo e a imaginação. Na dramatização alguma
situação já adquiriu significado para o grupo, para o protagonista emergente ou
mesmo para um único indivíduo no caso da terapêutica bi-pessoal (apenas
terapeuta e cliente no setting psicoterápico). No compartilhar é quando há troca de
sentimentos, impressões e reflexões sobre o acontecido em cena. É o momento de
dar significado aos conteúdos da cena.

Para Moreno há uma intencionalidade na cena: dar fluência à espontaneidade


e à criatividade, através da contextualização da problemática, da ação dramática, do
encontro, do olhar do outro, do olhar sobre si mesmo. Desta maneira ele acreditava
que as pessoas estavam transformando seus papéis, dando-lhes nova visibilidade,
podendo desempenhá-los mais adequadamente às necessidades do contexto.

Para Moreno, a teoria dos papéis é um dos constritos fundamentais do


psicodrama. Na sua concepção de desenvolvimento bio-psico-social, o bebê nasce
numa matriz de identidade, ou seja, numa família ou ambiente e já começa a
desempenhar papéis fisiológicos, psicossomáticos, culturais e imaginários que são
os psicodramáticos. A mãe, ou pessoa que cuida é o primeiro ego-auxiliar e é a partir
desse desempenho interativo de papel e contra papel, que o "eu" se desenvolve. Os
papéis se transformarão até o resto da vida da pessoa, e sua concepção de saúde
mental considera o número, a adequação e a flexibilidade dos papéis características
fundamentais. A doença seria uma inadequação no desempenho desses papéis.

Talvez seja interessante tecer aqui algumas considerações teóricas sobre as


afinidades do psicodrama com o Estruturalismo, a Hermenêutica e o Pragmatismo.
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A Hermenêutica enquanto visão filosófica tem a preocupação com a


compreensão do sentido, da interpretação, do entendimento do ser. Sua origem vem
dos estudos bíblicos, que através da interpretação da linguagem, atribuía-lhes
sentido e compreensão religiosos e também históricos. Portanto, não há como negar
uma visão essencialista da hermenêutica, no sentido heideggeriano que "visa trazer
à luz o ser, pesquisar o sentido do ser enquanto desvelamento, manifestação"…"que
revele o 'ente que nós somos', o será, o Dasein".

É nessa medida que Heidegger tem afinidades com a fenomenologia. Husserl


propõe o "método que pretende explicitar as estruturas implícitas da experiência
humana do real, revelando o sentido dessa experiência através de uma análise da
consciência em sua relação com o real"…"voltando-se sobretudo para a análise das
essências, entendidas como unidades ideais de significação, elementos constitutivos
do sentido de nossa experiência".

Em vários momentos de sua obra, Moreno afirma que "o desempenho de


papéis é anterior ao surgimento do eu. Os papéis não emergem do eu; é o eu que
emerge dos papéis". (Moreno, 1997, p. 25).

Essa afirmativa é muito importante na proposta psicodramática, pois se


considerarmos o "eu" aqui citado como plano essencial que dá unidade estrutural à
pessoa, podemos interpretar que o autor compreende que ela não é uma unidade
dada a prioristicamente, mas a posteriori à ação da pessoa no mundo [no
desempenho dos papéis sociais, psicológicos e fisiológicos]. Diríamos que nessa
medida Moreno estaria mais próximo filosófico-metodologicamente da afirmativa
sartriana de que "a existência precede a essência". Entretanto, nota-se um ceticismo
bem humorado de Moreno em relação a questão da coisa em si (numero), a
essência do ser e também da verdade. Escreve ele: "O psicodrama pode ser
definido, pois, como a ciência que explora a "verdade" por métodos dramáticos. Uma
outra definição de psicodrama pode ser dada em contraste com a das Ding an sich
[a coisa em si] de Kant, sendo então o psicodrama das Ding ausser sich [a coisa fora
de si]…A frase alemã ausser sich tem uma outra e significativa implicação. Ela
também quer dizer "alguém que está fora de si, que perdeu as estribeiras e o
controle".

A partir deste jogo de palavras Moreno dá a entender que concebe os dois


planos: da coisa em si e a realidade da nossa experiência (o fenômeno) que seria a
ação de desempenharmos papéis no mundo e assim construirmos nosso self (8).
Portanto, ele não supõe uma realidade em si a priori, e passa a ocupar-se com os
movimentos de ação, interação, construção da pessoa, dos grupos, das sociedades.
Sua definição de protagonista no psicodrama deriva desse jogo de palavras e
também do teatro grego: "Protagonista significa um homem tomado de frenesi, um
louco. Um teatro para o psicodrama é, portanto, um teatro do homem enlouquecido,
um público de loucos que olha para um deles, que continua sua vida no palco".
(Moreno, 1997, p. 61).

Vale ressaltar, que em primeiro lugar, Moreno não tratava a "loucura"


enquanto doença da estrutura da mente, alheia ao sofrimento da pessoa, de sua
inserção familiar e social.
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Ele costumava dramatizar os delírios e, no contexto do cenário


psicodramático, com o auxílio das técnicas psicodramáticas ajudar o protagonista a
olhar para si mesmo, reconhecer-se a si mesmo e ao outro. Em segundo lugar, vale
reprisar, o espaço cênico é um espaço existencial, multidimensional no qual a ação
dramática se desenvolve no imaginado ou "como se" para dar visibilidade ao que
nos escapa do olhar viciado do cotidiano, a aquilo que "foge ao controle".

Assim, do ponto de vista conceitual vamos encontrar afinidades, mas também


divergências com o existencialismo. Por exemplo, Kierkegaard dizia que o homem
acreditava que Deus o havia criado, mas de fato era o ser humano que 'criava' Deus.
Como todos os filósofos existencialistas acreditava na condição de liberdade do ser
humano e na situação de construir o sentido de sua existência. Entretanto, para
Moreno o indivíduo não cria Deus, ele é Deus. Isso lhe valeu vários mal entendidos
ao longo de sua vida pois, como ele próprio explica, Deus enquanto possibilidades
infinitas, potencialidade de criar seu ambiente, sua linguagem e criar-se no mundo
na relação com o outro. Há certamente algo de bergsoniano na noção de tempo e
espaço em Moreno. O espaço cênico é o espaço das multiplicidade, das infinitas
possibilidades, onde o tempo são todos os tempos. Presente, passado e futuro na
intensidade do Momento.

Outra questão é a da liberdade: para Moreno o ser humano está sempre num
movimento de conquistar, construir sua liberdade e o psicodrama apenas o ajuda a
fazer isso, a lidar com as tensões entre as "conservas culturais", ou seja, as
tradições da cultura (mitos, crenças, hábitos de linguagem) repetitivas e
massificantes, que atrapalham o movimento da espontaneidade enquanto prontidão,
para o ato, vontade de ser livre, e criatividade enquanto ação no mundo e sobre si
mesmo através do olhar (o encontro, o compartilhar) do outro que dá a dimensão do
social, do cultural, do compartilhado, do contextualizado. Por fim, para Moreno, o ser
humano não constrói o sentido de sua existência, mas sim constrói o seu existir. Não
há a preocupação com a interpretação, mas sim com o fazer e o pensar sobre o que
foi ou está sendo feito. No como do aqui e agora, mais do que no porque do
passado.

Moreno foi um crítico do que denomina Daseinsanalise ou Análise Existencial,


apesar de ter sofrido influência de filósofos existencialistas. Compreendo que,
apesar de ficarmos tentados a considerar o psicodrama uma hermenêutica, pelos
mesmos motivos que o aproximamos da fenomenologia e do existencialismo, ele
não resiste a alguns pressupostos paradigmáticos destas alternativas, como por
exemplo ser uma ciência do ser, do espírito, da interpretação. Como afirma Moreno,
o psicodrama é a ciência da ação e escreve: "o ato é anterior à palavra e a "inclui".
(Moreno, 1983, p. 125).

Há, por outro lado, aqueles que aproximam Moreno do Estruturalismo, e isso
tem fundamento no próprio fazer moreniano e na sua história.

Antes de propor o Teatro da Espontaneidade, ele propos o "teatro recíproco".


Em 1920, como escreve Marineau, "Moreno usava seu próprio consultório ou ia à
casa das pessoas para explorar novos meios para sair de situações psicológicas
difíceis.
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Convocava membros próximos da família e da comunidade mais ampla. Iria


representar de novo situações que tinham inicialmente trazido sofrimento,
descobrindo que esta nova representação levaria à desdramatização e que a
liberação muitas vezes ocorre mediante o riso…O 'teatro recíproco' [tem afinidade]
com a teoria sistêmica e é precursor da terapia familiar e comunitária".

A noção de papel e contrapapel desenvolvida por Moreno, a sociometria, ou


seja, uma medida das interações grupais no aqui e agora, a partir de diversos
critérios estabelecidos pelo próprio grupo, deram origem a diversos estudos sobre a
propriedade da abordagem sociodramática no tratamento sistêmico-construtivista
dos conflitos nas relações familiares, individuais e grupais.

Na medida em que o psico, socio ou axiodrama contextualizam as relações,


os valores e crenças dos grupos e dos indivíduos nos grupos, é bastante
compreensível que a metodologia proposta por Moreno ofereça um instrumental
terapêutico rico não apenas nas abordagens familiares, mas também nas grupais e
individuais; nos processos de treinamento e de aprendizagem.

Nos conceitos de rede social, "conservas culturais", de papéis, de matriz de


identidade, de "eu" e de self, apenas para citar alguns, implicam a noção de
estrutura enquanto configuração possível, real e atual. Implicam virtualidade e não
padrões evolutivos de desenvolvimento. Moreno é um apaixonado pelo movimento,
pela intensidade do momento, pela complexidade bio-socio-antropocultural da
pessoa e suas relações. Apesar de referir-se a 'estruturas' mentais, no meu
entender, a circunstancialidade dos papéis, sua funcionalidade, não permite uma
leitura que suponha uma estrutura a priorística do psiquismo, do comportamento
humano, da sociedade.
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2. O QUE É PSICODRAMA

O Psicodrama é uma técnica psicoterápica cujas origens se acham no Teatro,


na Psicologia e na Sociologia. Do ponto de vista técnico, constitui, em princípio, um
processo de ação e de interação. Seu núcleo é a dramatização. Diferentemente das
psicoterapias puramente verbais, o Psicodrama faz intervir, manifestamente, o corpo
em suas variadas expressões e interações com outros corpos. Esta intervenção
corporal envolve o compromisso total com o que se realiza, compromisso que é
fundamental para a terapia e, consequentemente, para o indivíduo e para o
desenvolvimento com seus semelhantes. No Psicodrama não se deixa de fato o
verbal, mas, pelo contrário, hierarquizam-se as palavras ao incluí-las em um
contexto mais amplo, como é dos atos. Assim, o indivíduo responsabiliza-se pelo
que diz e pelo que faz. Do ponto de vista psicoterápico, esta participação corporal
demonstrou de maneira convincentes e inconscientes do paciente, assim como sua
conduta e quadros patológicos.

De uma forma simples, dizemos que o psicodrama se baseia no jogo de "faz


de conta" que surge naturalmente no ser humano. A natureza oferece à espécie
humana a capacidade de realizar "ações simbólicas". Normalmente a criança, a
partir dos 4 ou 5 anos de idade, resolve muitas de suas dificuldades e
correspondentes tensões emocionais realizando "sessões de faz de conta".

O psicodrama é pois uma teoria psicológica e um método psicoterapêutico


que tem como instrumento central a "ação simbólica", ou "jogo de faz de conta", ou
dramatização.

Nesse jogo "faz de conta", tudo é possível. Pode-se viver qualquer tipo de
emoção, qualquer situação próxima à realidade ou as fantasias mais complexas ou
absurdas. Pode-se matar, pode-se morrer.

"Diferentemente das psicoterapias normalmente verbais, o Psicodrama faz


intervir manifestamente o corpo em suas variadas expressões e interações com
outros corpos. No Psicodrama não se deixa de lado o verbal, mas, pelo contrário,
hierarquizam-se as palavras em um contexto mais amplo, como é o dos atos.

"O Psicodrama, ademais, é uma técnica de psicoterapia direta, isto é, nela o


processo terapêutico se realiza no "aqui e agora", com todos os elementos
emocionais constitutivos da situação patológica que se expressam através dos
personagens e circunstâncias concorrentes".

Embora em certas situações as sessões de Psicodrama possam ser


individuais, o método se realiza plenamente em grupo.

Historicamente, o Psicodrama representa o ponto decisivo Na passagem do


tratamento do indivíduo isolado, para o tratamento do indivíduo em grupos; do
tratamento do indivíduo com métodos verbais para o tratamento com métodos de
ação.
Como vemos a "ação" é o que se busca objetivar. A ação do passado, por exemplo
uma recordação da infância, sua objetivada através da ação presente.
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O Psicodrama é fenomenológico gestáltico. Não interpreta. Procura criar


condições, através do "jogo de faz de conta", para que o fenômeno ocorra no "aqui e
agora".

2.1 Significado de Psicodrama

A louca paixão não funciona como renovação do sofrimento; pelo contrário,


confirma a regra geral: toda e qualquer segunda vez verdadeira é a libertação da
primeira.

Libertação é uma definição exagerada do que ocorre, pois a completa


repetição de um processo faz com que o seu assunto pareça absurdo ou ridículo.
Obtém-se, a respeito de nossa própria vida, a respeito de tudo o que fizemos e
fazemos, o ponto de vista do criador – a experiência da verdadeira liberdade, a
liberdade em relação à nossa própria natureza. A primeira vez faz com que a
segunda vez redunde em riso. Falamos, comemos, bebemos, procriamos,
dormimos, estamos despertos, escrevemos, lutamos, discutimos, ganhamos,
perdemos, morre-se também, na segunda vez – de maneira psicodramáticas. Mas a
mesma dor não afeta o ator e espectador como dor, a mesma carência não os afeta
como carência, o mesmo pensamento não os afeta como pensamento.

É algo indolor, inconsciente, impensado, imortal. Cada figura viva nega-se e


resolve-se a si mesma através do psicodrama. Vida e psicodrama compensam-se
mutuamente e afundam-se no riso. É a forma final de teatro.

O Teatro para a esponeidade foi o desencadeamento da ilusão. Mas essa


ilusão, passada ao ato pelas pessoas que a viveram na realidade, é o
desencadeamento da própria vida. O teatro das coisas últimas não é a repetição
eterna do mesmo, por necessidade eterna, mas o oposto disso. É a repetição
autogerada e autocriada de si mesmo. Prometeu apossou-se de suas correntes, não
para se conquistar nem para se destruir. Ele, como um criador, produziu-se de novo
e provou, mediante o psicodrama, que a sua existência agrilhoada foi obra do seu
próprio livre arbítrio.

2.2 Psicoterapia e Psicodrama

Qualquer situação de vida que de alguma maneira ofereça algum


esclarecimento em relação ao objeto de busca, alguma sistematização técnica em
relação à busca e algum controle sobre as variáveis de comportamento de si mesmo
e do outro funciona como um processo acelerador do desenvolvimento psíquico, e
dentre os processos aceleradores do desenvolvimento psíquico conhecidos, o mais
completo e eficiente chama-se Psicoterapia. A Psicoterapia clareia e conscientiza o
objeto de busca, na medida em que norteia o indivíduo sobre as faltas externas.
Ajuda a conscientizar o medo de ser submetido e ao mesmo tempo a necessidade
que se tem de alguém que cobre determinados limites. É um conjunto de
procedimentos inter-relacionais que possibilita a orientação adequada e aceleração
sistematizada do processo de busca.
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Um dos objetivos do Psicodrama, do Sociodrama e da Psicoterapia de Grupo


é descobrir, aprimorar e utilizar os meios que facilitem o predomínio de relações
bélicas sobre relações transferenciais, no sentido moreniano. À medida que as
distorções diminuem e que a comunicação flui, criam-se condições para a
recuperação da criatividade e da espontaneidade. Moreno pretendia que a ação
dramática terapêutica levasse a algo mais do que a mera repetição de papéis tais
como são desempenhados do quotidiano. A ação dramática permite insights
profundos por parte do protagonista e do grupo, a respeito do significado dos papéis
assumidos.

Para Moreno, toda ação é interação por meio de papéis. Para agir em
conjunto ou de forma combinada as pessoas precisam de um tempo de preparação.
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3. TEORIA DA TÉCNICA

3.1 Matriz de Identidade

A Matriz de Identidade é a placenta social da criança, o ‘oocus onde se


prende. Do mesmo modo que o embrião e posteriormente o feto implementam-se na
placenta e dela se nutrem e dependem, o recém-nascido implanta-se no grupo
social do qual depende para suas necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais.

Perceber mudanças ao nível da relações interpessoais e mesmo da


personalidade de seus integrantes. A implantação de um novo membro em um grupo
social desencadeia uma série de reações grupais e individuais específicas,
características e preparatórias.

Este conjunto facilita a inclusão do novo integrante no grupo, sua assimilação


e, é fundamental importância: a manutenção da unidade e equilíbrio grupais.

Neste ambiente particular a Matriz de Identidade, o recém-nascido


desenvolve um contato vivencial que lhe permite incorporar, num nível primário, as
características grupais e assimilar assim as pautas de seu meio.

No seu início, a Matriz de Identidade está ligada basicamente aos processos


fisiológicos. Como a evolução da criança vincula-se aos processos psicológicos e
sociais. A Matriz de Identidade a ela a fundamental tarefa de transmitir a herança
cultural do grupo a que pertence o indivíduo. Isto se faz através dos papéis
existentes em cada Matriz de Identidade existente em uma determinada quantidade
de papéis que são oferecidos à criança.

Esse processo é variável no tempo de duração, e ocorre as características:


COAÇÃO, COEXITÊNCIA e a COEXPERIÊNCIA, e se desenvolve em cinco etapas:

1ª etapa:- corresponde à identidade total entre a criança e a outra pessoa. O


acontecimento, o ato ocorre sem que a criança possa diferenciar o que é próprio
dela do que lhe é estranho.

2ª etapa:- consiste no fato de que a criança concentra sua atenção "no outro e
estranha parte dele".

3ª etapa:- consiste na delimitação da outra parte, separando-a de outras


experiências e de si mesma.

4ª etapa:- consiste em jogar ativamente o papel da outra parte com coisas.

5ª etapa:- consiste em jogar ativamente o papel da outra parte com pessoas


que, por sua vez, jogam o papel da criança.
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Segundo Moreno as cinco etapas são as bases psicológicas para todos os


processos de desempenho de papéis e para fenômenos tais como a imitação, a
projeção e a transferência.

Uma Matriz de Identidade que tem poucos papéis para oferecer à criança
levará menos tempo para se dissolver, do que aquela que oferece muitos papéis,
como é o caso das crianças dos meios urbanos.

3.2 Espontaneidade

A palavra espontaneidade vem do latim "sponte"; de livre vontade.

Espontaneidade no sentido moreniano é a capacidade de um organismo


adaptar-se adequadamente a novas situações.

A Espontaneidade acha-se em um zona intermediária entre a influência


genética e a ambiental embora receba influência de ambas. Dela dependem as
novas respostas, que são a resultante de novas combinações geradas pelo fator
Espontaneidade no organismo, e que se manifestam sob a forma de inventiva e de
criatividade.

Nos primeiros anos de vida a criança depende fundamentalmente dela, logo,


ao desenvolverem-se a memória e a inteligência, a Espontaneidade é posta a seu
serviço, onde participa de diversos atos da vida como complemento das normas
aprendidas.

A Espontaneidade é um fator fundamental para adaptação do indivíduo, ao


seu meio ambiente sem que sua adequação signifique destruição ou perda de suas
liberdades mas, muito contrário, uma maior possibilidade de exercê-las e
desenvolvê-las nesse mesmo meio. Ao participar vivencialmente deste meio, o
indivíduo desfruta dele e o engrandece.

A Espontaneidade funciona somente no momento em que surge, pode ser


comparada metaforicamente a uma lâmpada que se acende e graças à qual tudo
fica claro em casa. Quando a luz apaga, as coisas permanecem ocupando o mesmo
lugar na casa, mas uma qualidade essencial desapareceu.

3.2.1 Ab-reação e Espontaneidade

A diferença entre ab-reação e processo psicodramático é qualitativa e


quantitativa. O paciente, os egos auxiliares, assim como o publico, apresentam
diversas ab-reações que são integradas na produção psicodramática.

A produção psicodramática consiste em cenas estruturadas, cada cena em


papéis estruturados e cada papel em interações estruturadas. As várias ab-reações
estão obviamente entrelaçadas numa sinfonia de gestos, emoções, impulsos e
interações.
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Para que a produção seja requerida uma considerável dose de emoção,


pensamento e aptidões científicas e artísticas. Embora criadas em ensaio prévio e
sem pretensões estéticas, podem ser comparadas, como documentos humanos.

3.3 Acting Out

Segundo a Enciclopédia Britânica, Acting é a habilidade para reagir a um


estímulo imaginário. Significa também: representação, desempenho, ação.

Moreno utiliza este termo, que tem origem no teatro, para designar o processo
de concretização em atos, dos pensamentos e das fantasias.

O protagonista cria através do Acting Out no cenário, determinados aspectos


de seu mundo interior, mundo este resultante de suas experiências passadas e
atuais, bem como sonhos e fantasias. Neste atuar terapêutico, o protagonista irá
mostrando-nos seu perfil psicológico, suas particularidades, suas características, as
situações que lhe são conflitivas, e suas maneiras de encará-las, suas técnicas
defensivas, os caminhos seguidos para encontrar soluções ou eludir
responsabilidades, etc. Em outros termos, ele apresenta uma visão acabada de si
mesmo em interação com seus semelhantes. Para consegui-lo foi necessário que o
Protagonista compartilhasse seus personagens internos com os Ego Auxiliares, os
quais ao assumi-los vão desembaraçando-o desses personagens, deixando-o com
maior liberdade de ação e mais comprometido com seu próprio papel.

Moreno considera dois tipos de Acting Out: o Terapêutico e o Irracional.

O Terapêutico é que realiza durante a dramatização e, portanto, sob controle


terapêutico.

O Acting Out Irracional é que ocorre fora da sessão, sem devido controle, ou
então, dentro da sessão como forma de escape da dramatização.

3.3.1 Acting Out e Espaço

O protagonista deve situar-se e situar-nos em um ambiente determinado, com


determinadas característica e particularidades, que devem incidir, como nas
experiências prévias, simultânea e não sucessivamente. Tais marcas estão
intimamente relacionadas com os fatos e momentos em que ocorreram. A
reconstrução destas imagens, muitas vezes pouco nítidas, costuma dar-se no
transcurso da dramatização e à medida que o Protagonista vai liberando sua
Espontaneidade. Em alguns casos, basta a reconstrução espacial para que o
Protagonista obtenha o insight do conflito colocado.

A reconstrução espacial dá um real contexto aos fatos, enriquecendo a


investigação e as possibilidades terapêuticas.
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3.3.2 Acting Out e Tempo

O Psicodrama é uma técnica na qual a dimensão temporal é concretizada em


um presente real, vibrante e compartilhado. Tanto os fatos passados mais remotos
como as projeções futuras mais longínquas são vividas no "aqui e agora" conosco.

O Psicodrama não se limita somente â compreensão genética do passado,


mas, além disso, integra-o no presente e o projeta no futuro. Desta maneira, explora
os possíveis vetores a serem seguidos pelo Protagonista, com toda a minuciosidade
e liberdade que permite o "como se" do Cenário.

A isto o insight é resultante da inversão de papéis, onde o Protagonista passa


de algoz a vítima, e o que surge das dramatizações chamadas "projeção no futuro",
mas quais o Protagonista mostra aspectos de sua vida futura, após um tempo
determinado, e a influência que os fatos atuais possam ter nela.

3.3.3 Acting Out e Memória Corporal

Cada ato, cada atitude postural tem sua história. Esta história é dupla, filho e
ontogentética. O desenvolvimento da espécie e do ser se superpõem e constituem a
memória corporal.

A dramatização, ao levar para ação as imagens internas, estimula e facilita a


mobilização de imagens somáticas, vinculadas aos atos que se estão realizando,
imagens estas que podem complementar ou entorpecer a dramatização. Basta
adotar-se uma atitude postural qualquer para que sua imagem significativa apareça
em nossa consciência.

A partir do ato ou da atitude postural podemos também chegar aos conteúdos


atuais são presentes na consciência. Nestes casos, as imagens somáticas
mobilizadas pelos atos vão lentamente libertando as imagens mentais.

Outras ocasiões dá-se livre curso à expressão corporal até detectar pelos
movimento, deslocamentos e inter-relações, um conflito determinado. Insiste-se
então no sintoma, acentuando-o, se necessário, até que apareça o conteúdo e se
compreenda seu significado.

Por fim o acting out terapêutico é um valioso colaborado da Psicoterapia


sempre e quando não é usado indiscriminadamente, já que a mobilização de
material não basta para curar: é necessário que mesmo seja canalizado pelo Diretor
com vistas à Catarse de Integração.
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3.4 Papel

O termo inglês role(= papel), originário de uma antiga palavra francesa que
penetrou no francês e inglês medievais, deriva do latim rotula. Na Grécia e em Roma
Antiga, as diversas partes da representação teatral eram escritas em "rolos" e lidas
pelos pontos aos atores que procuravam decorar seus respectivos "papéis".

Só nos séculos XVI e XVII, com o surgimento do teatro moderno é que as


partes dos personagens teatrais foram lidas em "rolos" ou fascículos de papel. Desta
maneira cada parte cênica passou a ser designada como um papel ou role.

A moderna teoria dos papéis teve sua origem lógica no teatro, do qual tomou
suas perspectivas.

O papel no psicodrama é a forma de funcionamento que o indivíduo assume


no momento específico em que reage a uma situação específica, na qual outras
pessoas ou objetos estão envolvidos.

A teoria dos papéis não está limitada a uma só dimensão, a social. A teoria
psicodramática dos papéis é mais abrangente. Leva o conceito do papel a todas as
dimensões da vida; começa com o nascimento e continua toda a vida do indivíduo e
do social.

A teoria dos papéis não pode ser limitada aos papéis sociais; ela deve incluir
três dimensões: papéis sociais; papéis psicossomáticos e papéis psicodramáticos,
que constituem a expressão da dimensão psicológica do eu.

3.4.1 Papel Psicossomático

Os Papéis Psicossomáticos são aqueles ligados a funções fisiológicas


indispensáveis relacionados com o meio: comer, dormir, defecar, etc. Nestes casos,
é no exercício da função que vão sendo manifestados os papéis e, através deles o
organismo. Os Papéis Psicossomáticos estabelecem o nexo entre o ambiente e o
indivíduo. Constituem os tutores sobre os quais se vais desenvolver o Eu.

3.4.2 Papel Social

O Papéis Sociais são os papéis correspondentes às funções sociais


assumidas pelo indivíduo e por intermédio dos quais se relaciona com seu ambiente.
Os papéis sociais são adquiridos na Matriz de Identidade dos grupos aos quais se
vão pertencendo, pelo que seu número e características dependerão da referida
Matriz. Desta maneira, papéis normais para um critério regional determinado podem
ser patológicos para outro grupo social que seja regido por normas diferentes.
14

Por outro lado, cada cultura está caracterizadas por certo número de papéis
que oferece com maior êxito a seus integrantes, os quais podemos detectar e
classificar por meio de testes específicos de forma individual, grupal e comunitária.

3.4.3 Papel Psicodramático

Os Papéis Psicodramáticos expressam a dimensão fisiológica e os papéis


sociais a dimensão social e a dimensão psicológica do Eu. São todos aqueles
papéis que surgem da atividade criadora do indivíduo. Envolvem tanto os papéis
preexistentes como aqueles de fantasia, já que os caracteriza é o matriz criativo que
se lhes imprime e não o seu caráter em si.

O sentimento de realização pessoal surge da concretização da capacidade


criadora através dos papéis sociais, ou seja, quando o estereótipo social são dadas
tais características que levam o indivíduo a identificar-se com ele e a senti-lo como
uma criação pessoal. A rejeição e a negação dos papéis que diariamente se deve
assumir conduz a uma maior insatisfação pessoal, frente à incapacidade de
modificar o papel ou desprender-se dele e escolher ou desenvolver um mais
adequado.

O Psicodrama, ao analisar detidamente os papéis atuais e investigar suas


possibilidades, entre completamente neste fundamental aspecto, a partir do qual
realiza seu trabalho psicoterápico e psicoprofilático. O Sociodrama cumpre funções
similares em nível grupal.

3.4.5 A Função do Papel

A função do papel é penetrar no inconsciente, desde o mundo social, para


dar-lhe forma e ordem.

Espera-se que todo o indivíduo esteja à altura do seu papel oficial na vida,
que um professor atue como professor, um aluno como aluno e assim por diante.
Mas o indivíduo anseia por encarnar muito dos papéis do que aqueles que lhe é
permitido desempenhar na vida.

Todo e qualquer indivíduo está cheio de diferentes papéis em que deseja


estar atio e que nele estão presentes em diferentes fases do desenvolvimento. É em
virtude da pressão ativa que essas múltiplas unidades individuais exercem sobre o
papel oficial manifesto que se produz amiúde um sentido de ansiedade.

O papel é a unidade da cultura; o ego e papel estão contínua interação.


15

3.5 Inciadores

Os iniciadores são focos de estimulação que iniciam reações em cadeia


preparatória de um ato. Constituem o primum movens do aquecimento. Dividem-se
em: físicos, mentais, sociais e psicoquímicos.

Os iniciadores físicos encontram-se em nível corporal e podem ser ativados


conscientemente com o movimento (mímicas, gestos, etc.). Em geral desencadeiam
atos com pouco conteúdo mental.

Os iniciadores mentais partem das recordações, vivências e fantasias,


desencadeando atos mais complexos, cheios de conteúdos e com maiores
possibilidades de desenvolvimento e interação.

Os iniciadores sociais partem de "ações sociais intencionais" que


desencadeiam atos tendentes a intensificar as relações interpessoais.

Os iniciadores psicoquímicos são aqueles que por sua ação estimulante ou


sedativa facilitam o aquecimento.

Habitualmente, os iniciadores interagiam e, salvo em casos especiais, ano se


costuma recorrer isoladamente a um deles.

3.6 Tele

Moreno introduziu o termo Tele para designar o conjunto de processos


perceptivos que permitem ao indivíduo uma valorização correta de seu mundo
circundante.

Ao nascer, a criança não distingue entre o eu e o não-eu, e sobrevive graças


aos cuidados de um Ego-Auxiliar: a mãe. A medida que vai se desenvolvendo o
sistema nervoso e os órgãos dos sentidos amadurecem, adquire paulatinamente a
não do eu e não-eu, e começa a responder aos estímulos externos com atração ou
rejeição. Este é o primeiro reflexo social que indica a emergência do fator Tele e
constitui o núcleo dos posteriores pautas de atração ou rejeição e das emoções
especializadas. À medida que a criança evolui, o fator Tele adquire maior
complexidade. Partindo de uma Tele indiferenciada para a Matriz de Identidade, na
qual se confundem pessoas e coisas, fantasia e realidade, e onde se reage com
atração – Tele Positiva – e com rejeição – Tele Negativa – passa-se a um período no
qual a Tele começa a ramificar-se, na proporção que aumenta a capacidade
discriminativa da criança. Surge, assim, a Tele para pessoas e a Tele para objetos, a
tele para objetos reais e a tele para objetos imaginários.

O desenvolvimento sem alterações dos sistema Tele é praticamente


imposível, dadas as múltiplas circunstâncias que deve suportar o indivíduo ao longo
de sua evolução. O conjunto de alterações psicopatológicas da Tele constitui a
Transferência.
16

O significado do termo "Transferência" em Psicodrama difere do significado


psicanalítico no que concerne ao grau de contaminação dos vínculos que lhe atribui
a Psicanálise. Psicodramaticamente, considera-se que existem vínculos e
apreciações corretas, não transferenciais, ou seja, não deformadas por projeções do
paciente. Estas são as apreciações feitas pelo sistema Tele. Por exemplo, em
Psicodrama considera-se que o paciente pode, em certas ocasiões, perceber e
valorizar corretamente o terapeuta (Tele) e em outras ocasiões projetar
(Transferência) seus conflitos internos. Esta posição do Psicodrama condiciona
atitudes terapêuticas definidas. Assim é que se confirma o paciente nas suas
apreciações corretas, para evitar a confusão que lhe ocasionaria o descrédito de seu
aparelho receptor.

3.6.1 Tele e Contratransferência

Um mínimo de estrutura tele e resultante coesão da interação entre os


terapeutas e os pacientes é um pré-requisito indispensável para que tenha êxito o
psicodrama terapêutico em curso.

Se os egos auxiliares estão perturbados é em virtude de:

1º) Problemas próprios não resolvidos;

2º) Protesto contra o diretor psicodramático;

3º) Mau desempenho dos papéis que lhes foram atribuídos;

4º) Conflito interpessoais entre eles, geram uma atmosfera que se reflete na
situação terapêutica.

Portanto é óbvio que se os fenômenos de transferência e contratransferência


dominam o relacionamento entre os terapeutas auxiliares e com os pacientes, o
progresso terapêutico será grande prejudicado. O fator decisivo para o progresso
terapêutico é a tele.

3.7 Zona

Zona é o conjunto de elementos próprios e alheios, atuantes e presentes, que


intervêm no exercício de uma função indispensável.

A Zona Oral não é somente a boca, mas a pele e a mucosa dos lábios, as
bochechas, a língua, o istmo das fauces e as unidades neuromusculares
correspondentes, por um lado, e, o mamilo, o seio, o leite, o ar, a transpiração e o
odor maternos, por outro.

A Zona envolve, pois elementos orgânicos e extra-orgânicos que estabelecem


sólidos laços de união entre o indivíduo e seu ambiente.
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Estes laços são reforçados cada vez que a Zona entre em funcionamento, ou
seja, quando todos os seus componentes coincidem em um foco.

Para que a Zona entre em funcionamento, todos os seus elementos devem


coincidir em um foco, é óbvio que o estudo psicopatológico e o tratamento dos
transtornos vinculados à Zona devem englobar também todos os seus elementos.

Estímulos Papel
Aquecimento Iniciador Aquecimento
Fisiológicos Psicossomático
Indicadores -> Inespecíficos-> Específico(Foco)-> Específico-> Ato->Inespecífico

3.8 Catarse

Com teoria da espontaneidade, Moreno não chegou a ultrapassar o nível de


eficácia da ab-reação. E, no entanto, pretende muito mais do que dar uma simples
técnica de relaxamento e de sedação. O efeito psicodramático é, por excelência, o
de liberação. Ou seja, a libertação dos conflitos interiores através da arte dramática
que corresponde á noção familiar de catarse.

Para Moreno, visa, sobretudo à liberação do ator dos personagens que ele
retira de dentro de si, sendo a liberação do espectador efeito secundário. O
psicodrama é uma catarse integração onde o sujeito toma posse de papéis jamais
imaginados que viviam nele em estado potencial.

A cartase é mais do que a identificação inconsciente do sujeito com os


personagens que vivem os acontecimentos dramáticos. É o retorno à matriz de
identidade primitiva. De fato, o sentimento dramático não nasceria se o sujeito
fingisse ou guardasse reserva interior. Representar é mais do que representar. O
dramático não se acomoda com o simples lúdico. É preciso se comprometer com a
ação representada até se perder inteiramente dentro dela. É então que se efetua a
identidade dentro de si mesmo com a do personagem cujo o papel se assumiu,
identidade tão estreita que não permite mais solilóquio. E este compromisso total é
purificador porque é gratuito.

Quanto às condições em que o psicodrama se desenvolve, não passam de


uma representação. O sujeito nada arrisca, está fora da vida real. Seus propósitos e
atos, por mais vivos que sejam, não têm conseqüências práticas. Ele está protegido
pela ficção. Até aqui, tudo isto não é muito diferente da psicanálise, que, também por
ter uma atmosfera compreensiva, favorece a libertação de sentimentos.

3.9 O Diretor

O Diretor é propenso a desenvolver um padrão persistente e impô-la ao


sujeito, quer agrade ou não a este. Contudo, o elemento subjetivo nessa tendência –
talvez o próprio viés do diretor – deve ser cuidadosamente investigada, em cada
caso individual, a fim de pesar o efeito que pode exercer sobre o começo, o curso e
os resultados de todo o processo psicodramático.
18

Em uma análise revelou numerosos fatores subjetivos significativos no diretor


que interferem, em parte, no padrão e distorcem o tratamento e os resultados.
Representam, em sua totalidade, o que pode ser chamado "erro psicodramático"
injetado na situação pela personalidade do diretor.

Uma tal análise do diretor tem dois resultados:

1º) proporcionar-nos uma imagem clara de sua limitações;

2º) todas as suas limitações podem ser corrigíveis por meio do adestramento
da espontaneidade.

Na forma coletiva de psicodrama, o diretor abre uma discussão com os


membros do público, de tempos em tempos. A discussão relaciona-se com a
produção que acabou de ser representada. Os membros do público, um após outro,
podem apresentar observações. Podem referir-se aos seus próprios problemas, na
medida em que estes são idênticos à situação no palco ou dela diferem. Isso leva
amiúde a que qualquer indivíduo no grupo suba ao palco e apresente a sua própria
versão do mesmo conflito.

O Diretor deve aproveitar a oportunidade de analisar o material obtido dos


novos sujeitos e tentar instigar cada membro do público a definir o seu próprio lugar
e identidade entre as categorias de comportamento dos papéis que presenciou

3.9.1 A função do Diretor

O Diretor psicodramático tem três funções:

1º) é um produtor;
2º) é um terapeuta principal;
3º) é um analista social.

Como produtor é um engenheiro de coordenação e produção. Ao invés de


autor teatral, ele procura encontrar primeiro o seu público e os seus personagens,
extraindo dele o material para um enredo ou roteiro.

Como agente terapêutico, a responsabilidade pelo valor terapêutico da


produção total cai sobre os seus ombros. É uma função de orientação geral, cujas
manipulações estão, com freqüência, cuidadosamente disfarçadas. A sua tarefa
consiste em fazer os sujeitos atuarem naquele nível de espontaneidade que
beneficia os seu equilíbrio total.

A função de investigador social, é uma espécie de "superego auxiliar".

O diretor pode descrever e esboçar as considerações psicológicas que


determinam a sua seleção de uma abordagem ou método de tratamento.
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3.10 Ego auxiliar

O Ego Auxiliar tem três funções:

 de ator, representando os papéis exigidos pelo mundo do sujeito;


 de guia, um agente terapêutico;
 de investigador social.

O ego auxiliar é analisado como um investigador social enquanto está em


operação – funcionamento não como um observador mas como um agente atuante.
É enviado ao palco pelo diretor, com instruções para retratar um certo papel e, ao
mesmo tempo, para observar-se rigorosamente em ação; para registar
continuamente, enquanto procede ao aquecimento preparatório do papel, o que
esse papel influi nele como ele o desempenha.

Enquanto suas experiências ainda estão frescas imediatamente após a cena,


pode registrar as suas reações pessoais. Assim, o ego auxiliar representa um novo
instrumento na investigação social. Aqui o observador participante converte-se em
"ator participante". A sua tarefa consiste em assumir papel.

O ego auxiliar em ação não só sente como faz; como ele está construindo e
reconstruindo um sujeito presente ou ausente numa relação específica de papéis.
Com freqüência, importa pouco se a reconstrução não é uma cópia idêntica de uma
situação natural, na medida em que ele projeta a atmosfera dinâmica da situação;
esta pode ser mais impressionante do que à sua cópia idêntica.

3.10.1 Auto-Apresentação

A apresentação pode relacionar-se com situações passadas, presentes e


futuras. O paciente é solicitado a retratar não só situações que viveu mas também
que as duplique completamente. Pede-se-lhe também que retrate essas situações
com tantos detalhes quanto possível, em colaboração com um parceiro, se
necessário.

Se, nessas situações, for um personagem solitário, poderá psicodramatizá-las


sozinho. Mas se o paciente tem em mente certos parceiros concretos – sua esposa,
seu amigo ou alguma outra pessoa – então é desejável que esses imaginados
parceiros concretos estejam presentes e representem com ele a situação no palco.
Se a pessoa concreta que ele imagina não for acessível, pede-se-lhe que escolha
entre as pessoas presentes alguma que se pareça com ela. Se o paciente tem
sonhos é solicitado a psicodramatizar o sonho tão exatamente quanto possível. É
desejável que o paciente seja preparado pelo por um ego auxiliar para essas
situações projetadas.

A auto-apresentação consiste na representação simples das personagens e


situações da vida do Protagonista, representação sempre dirigida por ele mesmo,
sendo ou não ajudado por um ego auxiliar.
20
21

3.10.2 Resistência

O termo "resistência" é usado num sentido operacional. Significa, que o


protagonista não quer participar na produção. Como superar essa resistência inicial
é um desafio à habilidade do terapeuta. Este poderá decidir a intervenção de um ego
auxiliar para desempenhar o papel de "duplo" do protagonista.

Quebrar a resistência é a chamada "técnica simbólica", a qual parte de uma


produção simbólica a fim de que o medo de envolvimento pessoal seja eliminado
como causa da resistência.

Uma outra forma de "remover a resistência" é o uso das relações


significativas existentes entre membros do grupo.

A importância da resistência é ser dirigida contra as personalidade "privadas"


do terapeuta principal ou dos egos auxiliares. Em tais casos, pode ser necessário
substituir o terapeuta ou os egos auxiliares, ou mesmo reestruturar o grupo para
satisfazer as necessidades do paciente.

3.10.3 Desdobramento do Eu

Nesta técnica, o Ego Auxiliar coloca-se ao lado do Protagonista, procurando


adotar ao adotar ao máximo a atitude postural e afetiva deste. Sua missão é de
expressar todos aqueles pensamentos, sentimentos e sensações que, por uma ou
outra razão, o Protagonisata não percebe ou evita explicitar.

O Desdobramento do Eu, via regra, não intervém diretamente no diálogo, e o


que é dito por ele, não é levado em conta pelo interlocutor do Protagonista. É , pois,
uma espécie de consciência auxiliar.

3.10.4 O Surgimento do Eu

O desempenho de papéis é anterior ao surgimento do eu. Os papéis não


emergem do eu; é o eu quem emerge atraente para o cientista especializado em
sociometria e comportamento mas que talvez seja rejeitada pelos aristotílicos,
teólogos e metapsicológicos. O sociometrista sublinhará que o desempenho de
papéis não é um traço exclusivamente humano, visto que os animais também
desempenham papéis; ele podem ser observados assumindo papéis sexuais, papéis
de construtores de ninhos e papéis de líderes, por exemplo.

Em constrate, os aristotélicos afirmarão que se deve postular a existência de


um eu latente, como algo preexistente a todas as manifestações de papéis. Se não
fosse a estrutura do eu, os fenômenos do papel seria carentes de significado e
direção.
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3.10.5 Realização Simbólica

Realização Simbólica consiste na realização de acontecimentos não reais,


que simbolizem outros acontecimentos.

Por exemplo, se ao Protagonista se torna impossível enfrentar o Chefe e


dizer-lhe o que pensa dele, abandona-se esta cena e se inventa outra com
personagens diferentes, mas com conteúdo semelhante.

Esta técnica é muito usada com crianças.


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4. TÉCNICAS

As técnicas do Psicodrama são numerosas e algumas têm aplicações muito


específicas. A seguir, estará as mais comuns.

4.1 Aquecimento

O Aquecimento é um conjunto de procedimentos que intervém na preparação


de um organismo para que se encontre em ótimas condições para a ação. Deste
ponto de vista devemos considerar dois tipos de aquecimento: o inespecífico e o
específico.

Por exemplo: todos os exercícios prévios que realiza o atleta antes da prova,
a fim de preparar o organismo para o esforço, constituem um aquecimento
inespecífico e aqueles dirigidos a estimular especialmente determinadas unidades
neuromusculares que vão participar de uma ação específica, constituem um
aquecimento específico.

4.1.1 Aquecimento Inespecífico

O aquecimento inespecífico corresponde ao primeiro período da sessão,


durante o qual o Diretor entra em contato com o Auditório com fim de realizar uma
atividade comum. Consiste em um conjunto de procedimentos destinado a
centralizar a atenção do Auditório, diminuir os estados de tensão e facilitar a
interação.

4.1.2 Aquecimento Específico

O aquecimento específico é aquele que se realiza com o Protagonista,


emergente do grupo. Corresponde ao conjunto de procedimentos destinados à
preparação do Protagonista para que este se encontre nas melhores condições para
dramatizar.

Da mesma forma que no aquecimento inespecífico é o Diretor quem deve


realizá-lo. Começa com o encontro entre o Diretor e o Protagonista e prossegue com
a seleção das cenas a serem dramatizadas, com a construção do contexto
dramático e definição dos personagens que irão intervir. O protagonista encontra-se
agora no Cenário, diferenciado do resto do grupo, frente a ele e próximo à
dramatização.

Aquecimento Específico ao Protagonista: Aquecimento específico ao


protagonista é um conjunto de métodos preparatórios para que o Protagonista se
encontre melhores condições para dramatizar. A atenção é centralizada no
Protagonista e ele, juntamente com o Diretor, planejam a dramatização. Deste modo,
o Protagonista, ajudado pelo Diretor, vai reconstituindo o local dos fatos pelo cenário
psicodramático, colocando personagens e objetos e instruindo os Egos Auxiliares.
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Teremos assim o contexto dramático tranqüiliza e facilita a atuação do


Protagonista, o qual por sua vez, despojado de seus personagens internos, poderá
desempenhar seu próprio papel mais plenamente.

Aquecimento Específico para Papel: É o que realiza com o fim de preparar o


Protagonista para fazer um papel determinado.

Iniciada a dramatização, o Protagonista irá fazendo papéis diversos com


maior ou menor êxito. Em alguns casos sua dificuldade pode chegar a perturbar ou
deter a dramatização. Diante inconveniente, procura-se investigar o papel para
determinar suas características e possíveis deformações patológicas, bem como sua
relação com a cena dramatizada.

Em algumas ocasiões, quando a deformação do papel é pequena, basta


muda o contexto ou fazer um aquecimento mais prolongado para que o papel possa
ser feito. Se isto não ocorre, procura-se investigá-lo em profundidade e em
diferentes contextos. Chegamos assim à parte manifestante terapêutica:
Dramatização.

Aquecimento Preparatório: Os estados espontâneos são gerados por vários


dispositivos de arranque. O sujeito coloca o seu corpo e mente em movimento,
usando atitudes corporais e imagens mentais que o levam a alcançar esse estado.
Dá-se o nome de processo de aquecimento preparatório.

O processo de aquecimento preparatório pode ser estimulado por agentes


corporais de arranque (um complexo processo físico), por agentes mentais de
arranque (sentimentos e imagens no sujeito) e por agentes psicoquímicos de
arranque (a estimulação artificial álcool)

Através do processo de aquecimento preparatório expressam-se muitos


papéis que o indivíduo raramente ou nunca vive em sua rotina cotidiana e que até
em seus sonhos e divagações rara e ligeiramente são aflorados.

Um indivíduo em sua rotina diária, pode estar limitado a um pequeno número


de papéis e situações mas as potencialidades de sua personalidade para papéis são
praticamente infinitas. Vivemos apenas uma pequena parcela da extensão de nossa
personalidade, cuja maior parte se mantém sem uso nem desenvolvimento.

4.2 Dramatização

O paciente propôs-nos um problema, um conflito. Com ele, reconstruímos o


contexto correspondente, e através do jogo de papéis descobrimos certos papéis
que não consegue realizar e certas situações nas quais não pode atuar. Nossa
atenção deve, então, dirigir-se para tais papéis e situações.

Exemplo: em um Sociodrama, durante o aquecimento inespecífico destaca-se


um Protagonista que evidentemente está passando por um momento de crise.
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Um de seus companheiros faz-lhe uma pergunta sobre um tema banal e


recebe como resposta uma agressão desproporcionada. O Diretor investiga o que
ocorre, atentando especialmente para a forma depreciativa que o indivíduo adotou e
para a reação que desencadeia em seu interlocutor. Ele responde que está nervoso
porque, pouco antes de chegar, um guarda de trânsito multou-o injustamente. Com
esse tema inicia-se a primeira dramatização do fato.

O Protagonista cruza com sue carro um sinal com luz amarela. O guarda o
detém e lhe diz que passou com luz vermelha. O indivíduo insiste que não foi assim.
O guarda pede-lhe os documentos do carro e a carta diz que irá multa-lo. O
Protagonista reclama brandamente. Os documentos lhe são devolvidos juntamente
com o aviso da multa e ele se vai. A cena é repetida e o Diretor determina que ela se
prolongue.

Os novos elementos que surgem são recriminações do Protagonista contra os


guardas de trânsito, dizendo que nada fazem para evitar acidentes, que estão
sempre ocupados com outras coisas, descuidando de suas funções específicas,
exceto quando se trata de multar. Invertem-se os papéis, o papel de guarda que o
Protagonista faz é muito mais incisivo, embora admita o diálogo.

Volta-se a repetir a cena cada qual no seu papel original. Dá-se ao Ego
Auxiliar a diretriz de que atue depoticamente. O Protagonista se enfurece, diminui o
tom de voz mas nada diz demais. Ao terminar a cena e retirar-se, insulta-o em voz
baixa.

Repete-se mais uma vez a cena, convidando-se previamente o Protagonista a


dizer ao guarda tudo o que pensa dele durante a dramatização e não após. Ao
chegar neste ponto o Protagonista levanta e expressa em voz baixa o que sente, na
realidade procurando enfrentar fisicamente seu interlocutor. O Diretor comenta sua
dificuldade de falar em voz alta e verbaliza suas emoções, o que faz com que ele se
sinta impelido a atua fisicamente. Ele responde que não quer ser nenhum berrador
de boca suja como seu pai. (Neste momento, o paciente relacionou a situação com a
familiar).

A cena seguinte é uma repetição do anterior, porém com uma variante


sugerida pelo mateiral: a inclusão da mãe. Ela chega em plena discussão e
intercede por ele repetidas vezes, até que o Protagonista, elevando a voz pelo
primeira vez, diz-lhe que se cale e que não se meta em seus assuntos. Antes está
atitude à figura feminina, substitui-se o que fazia o papel de guarda por outro Ego
Auxiliar, agora feminina, o que dura pouco, pois o Protagonista alega que não
poderá agredi-la e que necessita de uma figura forte, um homem. Pede-se então
que se não puder verbalizar utilize uma só vogal para expressar-se mas procurando
fazê-lo em voz alta e, se possível gritando. O Protagonista se levanta, caminha
nervoso, xinga, até em certo momento grita "Basta, basta", leva a mão à boca,
sentindo-se perturbado pelo que fez.

Induzir o Protagonista a gritar era importante para verificar o grau de inibição


verbal e expressiva frente à figura materna. Gritar com ele, significava assumir o
papel de pai. Junto conseguindo fazê-lo significava manter o papel de filho com
todas as suas implicações.
26

Embora o episódio do guarda tenha sido desagradável, o impacto emocional,


que lhe causou foi desproporcionado. Sua irritação e seu ódio constituíram, em
realidade, tentativas de negar a falta de segurança para responder adequadamente
a uma medida punitiva. A impossibilidade de gritar e verbalizar devia estar
intimamente relacionadas com o medo e a necessidade de chorar e pedir ajuda,
como agora estava ocorrendo.

O Protagonista lutou consigo mesmo para não chorar até que o Diretor
colocou a mão em seu ombro. Neste momento, caiu o resto de suas defesas e então
deu livre curso a suas emoções. O grupo, que acompanhava passo a passo o
processo psicodramático, compartilhou o sucesso com a mesma intensidade afetiva
e, posteriormente, quando o Protagonista se separou do Diretor, os outros membros
se aproximaram dele, e com suas palavras, gestos e presença física fizeram-no
sentir que pertencia ao grupo. Enquanto isso o Diretor e os Ego Auxiliares foram
esquecidos e deixados de lado. Teve lugar a Catarse de Integração. Atrás das
lágrimas e do sofrimento aparecem alegria, a tranqüilidade e a sensação de
enriquecimento de dá a reincorporação do Eu de todas aquelas energias utilizadas
para manter dissociasses e atitudes falsas.

Do ponto de vista grupal, o episódio agressivo, de começo criou um clima de


tensão e expectativa ante a possibilidade de um choque mais áspero no curso da
dramatização, porém as vãs tentativas do Protagonista de fazer sue papel agressivo
no "como se" do cenário diminuíram a predisposição do auditório contra o
Protagonista; lentamente o grupo foi se identificando com ele. Esta experiência, ao
serem vividas em comum, compartilhadas, desenvolve sólidos laços afetivos e
cimenta as bases de uma melhor e mais ampla comunicação – isto é a
dramatização.

A dramatização será fundamentalmente o de diminuir a tensão do campo e


fornecer aos Protagonista elementos instrumentais como os quais possa jogar
dramaticamente e encontrar soluções.

Este jogar dramático corresponde ao ato de aprender, como a Dramatização,


corresponde ao núcleo de aprendizagem.

No ato de aprender, no drama, é onde se focalizam os esforços e onde se


utilizam amplamente as técnicas psicodramáticas.

Em conjunto com as técnicas têm a faculdade de despertar um interesse


comum no que ocorre o "aqui e agora", obtendo-se com isto um elemento básico
para a aprendizagem como é a atenção, além do fato de que o processo de objetivar
e concretizar, no Cenário, idéias e conceitos compromete profundamente os
Protagonistas e fornece ao grupo fatos recém-acontecidos com os quais pode
operar nas mais diversas direções. Como toda crítica verbal deve ser acompanhada
de demonstração no plano dos fatos, o compromisso envolve tanto o Auditório como
os Protagonistas.
27

4.3 Técnicas Clássicas

4.3.1 Espelho

Esta técnica é de manejo mais delicado, pois o Protagonista pode senti-la


como zombaria, e não como um espelho de si mesmo o fato do Ego Auxiliar imitá-lo
em todos os seus movimentos e expressões. Na sua aplicação deve-se recorrer a
um Ego Auxiliar que se sentia à vontade com o Protagonista e que haja captado
claramente suas atitudes típicas.

4.3.2 Inversão de Papéis

Esta Técnica consiste em trocar o papel que o Protagonista está fazendo com
o do seu interlocutor ou interlocutores.

4.3.3 Solilóquio

Esta Técnica não requer a intervenção do Ego Auxiliar. Consiste em dizer em


voz alta o que se está pensando, seja como referência ao diálogo que se está
desenrolando, ou em relação ao outro tema qualquer que ocorra ao indivíduo
naquele momento.

O Solilóquio é utilizado apenas com a finalidade de explicitar o pensamento


do Protagonista. Pode ser utilizado por qualquer das personagens em jogo, inclusive
o Diretor.

4.3.4 Dramatização de Cena Aberta

Dramatização de Cena Aberta é o manejo técnico que pode ao paciente para


montar, na sessão, a situação concreta que ele quer trabalhar. A ação dramática é
externa.

A Cena Aberta envolve:

 montagem de um cenário em que a ação se desenrola (ex. casa, sala,


escola)
 definição do tempo em que a ação se passa (manhã, Domingo de tarde,
etc.)
 colocação dos personagens envolvidos na cena (ex. pais, chefe, amigo,
etc.)
 a interação desses personagens – que é manejada com todas as técnicas
do psicodrama clássico (duplo, espelho, solilóquio, inversão de papéis e
interpolação da resistência).
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É extremamente importante a colaboração do diretor nesta montagem de


cena. Mediante breves perguntas, feitas a título de se localizar e de entender o que
o paciente está mostrando, ele vai, ao mesmo tempo, auxiliando-o a se aquecer e
aquecendo a si próprio.

É importante auxiliar o paciente a se ater a um certo número de detalhes,


alguns absolutamente supérfluos à primeira vista, mas que o colocam
crescentemente em contato com memórias e emoções associados a eles.

4.4 Jogo Dramático

O Jogo Dramático é aquele que tem dramaticidade. Para o teatro a cena


dramática é aquela que expressa algum conflito; sem conflito não há dramaticidade
e a cena é vazia. O objetivo do jogo dramático é permitir uma aproximação
terapêutica do conflito, através do jogo.

A finalidade do Jogo Dramático é propiciar um relaxamento do campo


terapêutico, que seja possível uma aproximação sutil do material conflitivo. Ele
propõe o abandono da lógica formal e um adentrar na lógica da fantasia,
resgatando, conteúdos inconscientes que, de outra forma, dificilmente serial
percebidos.

O jogo dramático tem sua regras, que, neste caso, aparecem como
dramatizações com estruturas mais ou menos definidas a priori pelo terapeuta, nas
quais o paciente atuará, recheando-as com seus conteúdos.

4.5 Sociodrama

O procedimento no desenvolvimento de um sociodrama difere, em muitos


aspectos, do procedimento psicodramático.

Na sessão psicodramática, a atenção do diretor e de sua equipe concentra-se


no indivíduo e em seus problemas privados. Na medida em que estes vão se
desenrolando diante de um grupo, os espectadores são efetuados pelos atos
psicodramáticos na proporção das afinidades existentes entre os seus próprios
contextos de papéis e o contexto grupal no psicodrama é, num sentido mais
profundo, centrada no indivíduo. O público é organizado de acordo com um
síndrome mental que todos os indivíduos participantes têm em comum; e o propósito
do diretor é alcançar cada indivíduo em sua própria esfera, separado dos outros. Ele
está usando a abordagem de grupo apenas para atingir terapeuticamente mais de
um indivíduo na mesma sessão. A abordagem grupal no psicodrama interessa-se
por um grupo de indivíduos privados, o que, num certo sentido, torna o próprio grupo
privado.

O sociodrama baseia-se no pressuposto tácito de que o grupo formado pelo


público já está organizado pelos papéis sociais e culturais de que, em certo grau,
todos os portadores da cultura compartilham.
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Portanto, é incidental a questão de saber quem são os indivíduos, ou por


quem o grupo está composto ou quantos o formam. É o grupo, como um todo, que
tem de ser colocado no palco para resolver os seus problemas, porque o grupo, no
sociodrama, corresponde ao indivíduo no psicodrama. Mas como o grupo é apenas
uma metáfora e não existe per se, o seu conteúdo real são as pessoas inter-
relacionadas que o compõem, não como indivíduos privados mas como
representantes da mesma cultura. O sociodrama, portanto, para tornar-se eficaz,
deve ensaiar a difícil tarefa de desenvolver métodos de ação profunda, em que os
instrumentos operacionais sejam tipos representativos de uma dada cultura e não de
indivíduos privados.

4.6 Psicodrama com Marionetes

Esta técnica é muito utilizada no tratamento de crianças, mas como um


complemento ou um recurso técnico para ser usado em alguns períodos durante os
quais o nível de angústia é elevado. Tem uma indicação precisa na psicoprofilaxia
cirúrgica, mas, também nesse caso, como parte da preparação, já que o que se
preocupa é um contato interpessoal mais completo e acabado.

4.7 Psicomúsica

O Psicodrama estimulou a um esforço paralelo no campo da música no qual


foi chamado de Psicomúsica. A música se converteu em habilidade profissional e
propriedade de uma elite. Os compositores, os cantores e instrumentistas
adestrados, os construtores e proprietários de instrumentos, não obstante todos os
esforços de divulgação do ensino de canto e execução instrumental, reduziram a
maior parte da humanidade a ouvintes ou a desiludidos e frustrados cantores
instrumentistas.

4.8 Psicodança

Psicodança é a expressão de conflitos, estados de ânimo, situações, etc.;


através da dança, com ou sem música. Pode ser utilizada como uma técnica a mais
dentro de um Psicodrama amplo, ou como única técnica e tratamento. Neste caso,
todas as técnicas de Psicodrama são adaptadas a esta forma de expressão,
inclusive os Egos Auxiliares, os quais devem ter um treinamento especial em
Psicodança.

4.9 Psicodrama Bipessoal

O Psicodrama Bipessoal se designa a abordagem terapêutica oriunda do


psicodrama, que não faz uso de egos auxiliares e atende apenas um paciente de
cada vez, configurando uma situação de relação bipessoal, ou seja, um paciente e
um terapeuta.
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O termo Psicodrama Bipessoal é simples e sintético: diz claramente ser


psicodrama e incluir apenas duas pessoas.

A evolução do enquadre das técnicas psicoterápicas iniciou-se com a situação


bipessoal na psicanálise, seguindo-se a terapia individual no grupo e, mais tarde, a
terapia grupal propriamente dita.

4.10 Psicodrama Psicanalítico

O Psicodrama Psicanalítico não é uma mistura informe Psicodrama e


Psicanálise, mas sim uma técnica regulamentada na qual o uso indiscriminado da
interpretações psicanalíticas pode ser contraproducente ou inoperante.

A Psicanálise acaba por ter pouco poder sobre os afetos; ao visar só a


descarga emocional, o psicodrama produz efeitos, talvez espetaculares mas
efêmeros. Sua complementaridade nos parece cada vez mais necessária.

Os princípios do Psicodrama Psicanalítico é em criar numa situação que


permita ao paciente ser; nesta situação, onde propõem em viver experiências que o
levem a provar (sensações, afetos, fantasias, identificações, projeções, desejos
articulados pelo mecanismo de defesa), desencadear nele um trabalho psíquico de
simbolização afim de conhecer o sentido e o alcance do que ele prova; ser provar e
conhecer, que são três níveis sobre os quais opera o trabalho do psicanalista na
cura clássica individual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Anzieu, D. (1981). Psicodrama Analítico Rio de Janeiro: Campus.


Bustos, D. M. (1992). Novos Rumos em Psicodrama. São Paulo: Ática
Bustos, D.M. (1982). O Psicodrma: Aplicações da Técnica Psicodramática. 2.ed. São
Paulo: Sumus.
Cukier, R. (1992). Psicodrama Bipessoal. São Paulo: Ágora
Kestermberg, R. (1989). O Psicodrama Psicanalítico. Campinas: Papirus.

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