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Art8 N12 PDF
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RESUMO: O objetivo deste trabalho é analisar a correlação entre o módulo de deformação longitudinal
do concreto e sua resistência à compressão. Diversos resultados experimentais realizados no Brasil e
disponíveis na bibliografia são utilizados para testar a validade das fórmulas de projeto apresentadas na
NBR-6118 e no CEB/90. Do estudo realizado, conclui-se que a fórmula do CEB é a que melhor representa
a correlação entre o módulo de deformação longitudinal e a resistência à compressão do concreto. Sugere-
se que essa fórmula seja incorporada na próxima revisão da NBR-6118.
ABSTRACT: The subject of this work is to analyze the correlation among the modulus of elasticity of
concrete and its compressive strength. Several experimental results accomplished in Brazil and available in
the bibliography are used to test the design equations presented in NBR-6118 and in CEB/90. Of the
accomplished study, it is concluded that the formula of CEB is what best represents the correlation among
the modulus of elasticity and the compressive strength of concrete. It is suggested that this formula is
incorporated in the next revision of NBR-6118.
1. INTRODUÇÃO 1
σc
Ec
O concreto apresenta um comportamento não-
fc
linear, quando submetido a tensões de certa
magnitude. Esse comportamento é conseqüência
da microfissuração progressiva que ocorre na
interface entre o agregado graúdo e a pasta de Ecs
cimento.
O diagrama tensão-deformação (σc − εc ) , obtido
1
0,4fc
em um ensaio de compressão simples, é da forma
indicada na fig. 1, onde se observa que não há
proporcionalidade entre tensão e deformação. O
trecho descendente do diagrama é obtido em um εo εu εc
ensaio com velocidade de deformação controlada.
Na fig. 1, E c é o módulo de deformação Fig. 1 - Diagrama tensão-deformação do concreto
longitudinal tangente, representando a inclinação (compressão simples)
da reta tangente à curva na origem do diagrama.
Analogamente, o módulo secante E cs No Brasil, esses valores de módulo de
deformação longitudinal são determinados
representa a inclinação da reta que passa pela
conforme as prescrições da NBR-8522[1].
origem e corta o diagrama no ponto
Experimentalmente, verifica-se que o módulo
correspondente a uma tensão da ordem de 0,4 f c ,
de deformação longitudinal depende do valor da
sendo f c a resistência à compressão simples. resistência à compressão do concreto. O mesmo
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E cs = 0,85E c (2)
Fig. 2 – Variação dos módulos de deformação com
a resistência à compressão do concreto
A expressão (1) é válida para concretos feitos
com agregados de quartzo (granito e gnaisse). Essa
Da fig. 2, constata-se que, dentro do campo de
expressão deve ser multiplicada por 1,2 se forem
validade da NBR-6118, ela fornece um módulo
usados agregados de basalto, por 0,9 para
tangente quase sempre menor que o módulo
agregados de calcário e por 0,7 para agregados de
tangente do CEB. Isto pode induzir o projetista a
arenito.
optar pelo módulo da NBR-6118, como medida de
precaução. Entretanto, em algumas verificações,
b) Relação da NBR-6118
como na avaliação do comportamento global da
estrutura, a NBR-6118 permite utilizar o módulo
De acordo com a NBR-6118, o módulo
tangente Ec , enquanto o CEB sempre recomenda
tangente pode ser estimado em função da
resistência característica f ck , através da expressão o uso do módulo secante Ecs . Neste caso, o
módulo secante do CEB será menor que o módulo
E c = 5600 f ck , MPa (3) tangente da NBR-6118, ficando a favor da
segurança.
Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.12, p.81-91, Outubro, 2008 83
Na verdade, a discussão anterior não tem equação (1), considera-se o valor real de f cm ,
amparo científico. O modelo de cálculo deve ser obtido nos ensaios.
escolhido, não pelo fato de que ele fornece o Deve-se salientar que o módulo de deformação
menor valor para o módulo, mas porque ele é mais longitudinal do concreto depende de diversos
consistente com os resultados experimentais. Para fatores, sendo a resistência à compressão apenas
isto são feitos os ensaios, os quais servem de base um deles. Assim, é de se esperar uma grande
para a aferição dos modelos teóricos. Se o modelo dispersão de resultados quando se compara Ec (ou
A fornece um valor maior para o módulo, mas ele
é mais consistente com os resultados Ecs ) com f cm . Os modelos de previsão dão
experimentais que o modelo B, o modelo A é o apenas uma estimativa do valor médio do módulo
que deve ser adotado nas normas de projeto. de deformação longitudinal em função da
Apesar de ter considerado todas as expressões resistência à compressão do concreto, o que é útil
do CEB/90 para a modelagem das propriedades do na fase de projeto. Esses modelos não podem ser
concreto, a NBR-6118 adotou a expressão do ACI utilizados, de forma alguma, para controle do
para previsão do módulo de deformação concreto produzido na obra.
longitudinal. Em vista desse fato, torna-se natural
o seguinte questionamento: “há evidência 3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS
experimental de que os concretos produzidos no USADOS PARA AFERIÇÃO DOS MODELOS
Brasil se comportam de acordo com as equações
(3) e (4), ou a opção da NBR-6118 por essas Os resultados experimentais, utilizados para a
formulações terá sido arbitrária?”. O objetivo deste verificação dos dois modelos de previsão do
trabalho é desvendar esse mistério! módulo de deformação longitudinal do concreto,
Deve-se observar que a NBR-6118 propõe a foram realizados por diversos autores e encontram-
avaliação do módulo de deformação longitudinal se disponíveis na bibliografia. Todos os ensaios
em função da resistência característica f ck , foram realizados no Brasil, com materiais
enquanto o CEB adota uma correlação com a disponíveis na região.
Em alguns casos, os autores dos ensaios
resistência média f cm . Além disso, a NBR-6118
optaram pela determinação do módulo tangente
adota uma correlação com base na raiz quadrada Ec . Em outros, foram determinados os valores do
da resistência, enquanto o CEB adota uma
correlação com base na raiz cúbica. módulo secante Ecs . Em todos os casos, esses
A rigor, o módulo de deformação longitudinal módulos foram determinados conforme as
do concreto é uma função de sua resistência média recomendações da norma brasileira NBR-8522 [1].
f cm e não da resistência característica f ck . Desse Na tabela 1, apresenta-se a relação de todos os
modo, quando a resistência média real do concreto ensaios utilizados como banco de dados. Nessa
for conhecida, ela deve ser usada diretamente na tabela constam o número da referência
expressão (1). Na fase de projeto, a resistência bibliográfica, a unidade da federação onde os
média deve ser estimada, podendo-se adotar ensaios foram realizados, o ano da publicação, o
f cm = f ck + 8 MPa, conforme sugere o CEB/90. tipo de agregado utilizado no concreto, o número
Desse modo, quando se comparam essas de pares de valores ( f cm , Ec ) ou ( f cm , Ecs )
formulações com resultados experimentais, deve- disponíveis na publicação e o tipo de módulo que
se usar a correlação direta entre o valor médio do foi determinado ( Ec ou Ecs ). Todos os pontos
módulo de deformação longitudinal, Ec ou Ecs , e foram considerados na análise numérica, ou seja,
a resistência média à compressão f cm , obtidos nos nenhum resultado publicado foi descartado. O
número total de pontos é NP=424.
corpos de prova ensaiados. Em geral, empregam-
se dois ou três corpos de prova para a
determinação desses valores médios, para cada
traço de concreto.
Assim, no estudo feito a seguir adota-se f cm ,
no lugar de f ck , nas expressões (3) e (4). Na
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próprio CEB/90.
50
Ensaios da
40
35
30
NBR-6118
Fig. 4 – Modelo da NBR-6118 e resultados da melhor ajuste
ref.[6] 25
5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
4.2 Resultados experimentais da referência 7 1/2
(fcm) , com fcm em MPa
Nas figuras 5 e 6, comparam-se os resultados Fig. 6 – Modelo da NBR-6118 e resultados da
experimentais da ref.[7] com os modelos do CEB e ref.[7]
da NBR-6118, respectivamente.
4.3 Resultados experimentais da referência 8
50
Nas figuras 7 e 8 são apresentados os resultados
Ensaios da
correspondentes aos ensaios divulgados na ref.[8].
45 Ref. [7]
40
Ensaios da
Módulo secante Ecs (GPa)
40
36
Ref. [8]
35
32
30
CEB 28
melhor ajuste
25
24 CEB
1.4 1.6 1.8 2.0 2.2
melhor ajuste
(fcm/10)1/3 , com fcm em MPa
20
Fig. 5 - Modelo do CEB e resultados da ref.[7] 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2.0
1/3
Para esses concretos, os coeficientes de (fcm/10) , com fcm em MPa
correlação foram r = 0,85 , para o modelo do CEB, Fig. 7 - Modelo do CEB e resultados da ref.[8]
e r = 0,91 , para o modelo da NBR-6118,
indicando um melhor ajuste do modelo da NBR- A fig. 7 mostra que a reta correspondente ao
6118. Entretanto, observando a fig. 5, constata-se modelo do CEB é paralela à reta de mínimos
que a reta correspondente ao modelo do CEB é quadrados. Logo, esse modelo é capaz de
praticamente paralela à reta de mínimos representar os resultados experimentais, bastando
quadrados. Isto indica que esse modelo será capaz
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20
CEB
Módulo secante Ecs (GPa)
melhor ajuste
10
0.8 1.2 1.6 2.0
Ref. [9]
40 4.5 Resultados experimentais da referência 10
36
20
Ensaios da
CEB
20
Módulo secante Ecs (GPa)
Ensaios da
Módulo secante Ecs (GPa)
20
NBR-6118 Ref. [10]
32
melhor ajuste
10
2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 28
1/2
(fcm) , com fcm em MPa
Fig. 12 – Modelo da NBR-6118 e resultados da
24 NBR-6118
ref.[9] – módulo secante
melhor ajuste
Os coeficientes de correlação, para os módulos
20
secantes, são iguais a:
4.0 5.0 6.0 7.0 8.0
• CEB/90: r = 0,82 ; 1/2
(fcm) , com fcm em MPa
• NBR-6118: r = 0,81 .
Fig. 14 – Modelo da NBR-6118 e resultados da
Observa-se que o modelo do CEB se ajustou ref.[10]
muito bem aos resultados obtidos para o módulo
tangente (fig. 9). Por outro lado, o módulo secante, Para esses concretos, os coeficientes de
calculado como Ecs = 0,85Ec , ficou abaixo dos correlação foram r = 0,92 , para o modelo do CEB,
valores de ensaio (fig. 11). Isto ocorreu porque os e r = 0,96 , para o modelo da NBR-6118,
resultados experimentais indicaram uma relação indicando um melhor ajuste do modelo da NBR-
E cs Ec = 0,94 . Logo, a consideração de 6118.
88 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.12, p.81-91, Outubro, 2008
Ref. [11]
40 32
Ref. [11]
28
30
24
20
NBR-6118
20 CEB
melhor ajuste
10 melhor ajuste
3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 16
1/2 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0
(fcm) , com fcm em MPa 1/3
(fcm/10) , com fcm em MPa
Fig. 16 – Modelo da NBR-6118 e resultados da
ref.[11] Fig. 17 – Modelo do CEB e resultados da ref.[11],
considerados como módulos secantes
Os seguintes coeficientes de correlação foram
encontrados:
• CEB/90: r = 0,73 ;
• NBR-6118: r = 0,67 .
Observa-se que os dois modelos fornecem
valores do módulo tangente Ec superiores aos
resultados experimentais. Há uma pequena
Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.12, p.81-91, Outubro, 2008 89
Ensaios da
35 Ref. [11] E cs = a f cm + b , onde a e b são constantes. Por
esse motivo, o próprio CEB abandonou sua
30 formulação inicial, que tinha por base a raiz
quadrada da resistência [12].
25
50
Todos os
20
40
ensaios
NBR-6118
melhor ajuste
15
30
3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0
A partir desses valores e da análise das figuras particular, a fórmula da NBR-6118 se ajuste
19 e 20, pode-se concluir, sem sombra de dúvidas, melhor que a fórmula do CEB.
que o modelo do CEB/90 é o mais adequado para Entretanto, do ponto de vista do projetista e das
representar o comportamento de um conjunto de normas que regulamentam o projeto estrutural, o
concretos de diferentes origens. Na verdade, isto é mais importante é dispor de uma equação simples,
o que interessa ao projetista da estrutura, pois na que seja capaz de representar o comportamento de
fase de projeto ele não sabe qual concreto será todos os concretos usualmente utilizados, em
utilizado na obra. Assim, é desejável que se termos de um comportamento médio.
disponha de um modelo de previsão do módulo Nesse sentido, não resta a menor dúvida de que
que possa ser utilizado com boa confiabilidade. a equação do CEB/90 é mais adequada do que a
A rigor, nenhuma fórmula simples, como as equação da NBR-6118. Estranhamente, a NBR-
duas aqui analisadas, pode prever com certeza o 6118 adotou todas as equações do CEB/90 para a
módulo de deformação longitudinal de todos os modelagem das propriedades do concreto, exceto a
concretos. Para isto, é necessário realizar ensaios equação que fornece o módulo de deformação
na obra e obter as correlações apropriadas, se longitudinal.
assim for desejado. Entretanto, se o objetivo for Sugere-se que, na futura revisão da NBR-6118,
sugerir uma fórmula única para fins de projeto seja adotada a equação do CEB/90 para avaliar o
estrutural, essa fórmula deve ser aquela proposta módulo de deformação longitudinal do concreto na
pelo CEB. fase de projeto. Em todas as verificações, locais ou
de comportamento global, onde se emprega uma
6. CONCLUSÕES análise elástica linear, deve-se adotar o módulo
secante. O módulo tangente só deve ser utilizado
O módulo de deformação longitudinal do na modelagem das equações constitutivas do
concreto varia com sua resistência à compressão, concreto, quando for realizada uma análise não-
como já se sabe de longa data. Entretanto, existem linear.
diversos fatores relacionados com a composição
do concreto, os quais influenciam no valor do REFERÊNCIAS
módulo de deformação. Desse modo, qualquer
correlação entre o módulo e a resistência à 1. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
compressão está sujeita a erros, que podem ser NBR-8522: Concreto - Determinação do
bastante grosseiros. módulo estático de elasticidade à compressão.
As equações que correlacionam Ec com f c são Rio de Janeiro, 2008.
muito úteis na fase de projeto, mas não servem 2. Comité Euro-International du Béton. CEB-FIP
para controle de qualidade de um concreto em Model Code 1990. Published by Thomas
particular. Esse controle deve ser feito por meio de Telford, London, 1993.
ensaios com o concreto utilizado na obra. 3. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
A equação proposta na NBR-6118 não foi NBR-6118: Projeto de Estruturas de Concreto.
obtida a partir de ensaios realizados no Brasil, Rio de Janeiro, 2003.
como tem sido aventado. Essa equação foi retirada 4. American Concrete Institute. Building Code
do ACI, sofrendo apenas um pequeno Requeriments for Structural Concrete (ACI
arredondamento no coeficiente que multiplica 318-95) and Commentary (ACI 318R-95).
Detroit, 1995.
f ck . Portanto, não se trata de uma equação
5. Araújo, J. M. O módulo de deformação
original que representa os concretos produzidos no longitudinal do concreto. Revista Teoria e
Brasil. Prática na Engenharia Civil, Rio Grande: Ed.
Neste trabalho, foram analisados 424 resultados Dunas, n. 1, p. 9-16, nov. 2000 (disponível em:
de ensaios, realizados em diversas regiões do <http://www.mikrus.com.br/~revistatpec>).
Brasil, por diferentes pesquisadores. Desse estudo, 6. Ferrari, A. A.; Flor, J. M.; Calixto, J. M.
pode-se constatar que nenhuma fórmula é infalível, Propriedades mecânicas do concreto de alto
quando se analisam concretos particulares. É desempenho fabricado com diversos materiais.
possível que, para um determinado concreto em International Congress on High-Performance
Concrete, and Performance and Quality of
Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.12, p.81-91, Outubro, 2008 91