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Handout 1

Conjuntos e operações com conjuntos

August 6, 2019

Abstract
As explicações adicionais dadas em sala de aula e o estudo das
obras indicadas são essenciais para o entendimento do assunto. Ou
seja, não se restrinja a estas notas.

Contents
1 Conjuntos 2

2 Igualdade, ou identidade de conjuntos 3

3 Conjuntos notáveis 3

4 Subconjunto 4

5 Interseção de conjuntos 4

6 União de conjuntos 6

7 Diferença 6

8 Produto cartesiano 7

9 Conjunto potência 7

”Ninguém nos expulsará do paraı́so criado por Cantor.”


David Hilbert, referindo-se às crı́ticas à teoria de conjuntos
criada por Cantor.

1
1 Conjuntos
Trabalharemos inicialmente em uma teoria informal (não axiomatizada)
de conjuntos unicamente visando introduzir os conceitos principais dos
quais necessitaremos por enquanto. Mais tarde, outras noções serão intro-
duzidas, assim como aspectos axiomáticos.
Denotaremos os conjuntos por letras como A, B, C, . . ., eventualmente
com ı́ndices, e seus elementos por x, y, z, . . . , a, b, c, . . ., e também ı́ndices
serão permitidos. A relação básica é a de pertinência, ‘∈’, usada assim:
quando escrevemos x ∈ A, queremos dizer que x é elemento de A, que
pertence a A, que é membro de A ou qualquer outra expressão que indique
isso. A negação desse fato é escrita x < A. Obviamente, tem-se que, para
quaisquer x e A, vale a Lei do Terceiro Excluı́do a ∈ A ∨ x < A, ainda que
não possamos saber qual é o caso.1
Um conjunto A cujos elementos são a, b e c é escrito

A = { a, b, c}.

Muitas vezes não somos capazes de listar todos os elementos de um


conjunto, e então usamos formas alternativas, como as abaixo, as quais
via de regra dependem que ”entendamos” o contexto (ou seja, nada há de
muito rigoroso):

1. A = {1, 2, 3, . . . , 35}, o conjunto dos números naturais entre 1 e 35.

2. N = {0, 1, 2, 3, . . .}, o conjunto dos números naturais.

3. Na maioria das vezes, fornecemos uma intensão (com ”s”), uma fórmula
de uma linguagem adequada, para especificar as condições que um
objeto deve cumprir para pertencer ao conjunto. Por exemplo, pode-
mos ter as seguintes situações:

(a) Caso geral: A = { x : F ( x )}, denotando o conjunto A cujos


elementos são os x que cumprem a condição F ( x ).
(b) A = { x ∈ R : 1 ≤ x ≤ 3}, o conjunto dos números reais
compreendidos entre 1 e 3, inclusive. Repare que nesse caso,
F ( x ) é definida por F ( x ) ↔ 1 ≤ x ≤ 3.
(c) A = { x : x é filósofo}, denotando o conjunto dos filósofos,
ainda que não saibamos a sua extensão. Isso não importa: o
1A matemática usual é baseada na lógica clássica, a lei do terceiro excluı́do é uma lei
dessa lógica, assim, para qualquer α, tem-se que α ∧ ¬α.

2
conjunto é, como dito antes, caracterizado pelos seus elementos,
no caso, pelos filósofos. Claro que não podemos saber quem são
todos os filósofos, mas o conjunto é bem determinado.

2 Igualdade, ou identidade de conjuntos


Entre conjuntos, a identidade ou igualdade é dada pela seguinte suposição:

Princı́pio (axioma) da Extensionalidade Dois conjuntos A e B são iguais


se e somente se têm os mesmos elementos. Nesse caso, não são na verdade
”dois”, mas um só conjunto.
Ou seja, um conjunto é determinado pela sua extensão (pelos seus el-
ementos). Intuitivamente, se soubermos quais são os elementos de um
conjunto, sabemos qual é o conjunto.
Suponha os seguintes conjuntos:

1. A = {2, 3}

2. B = { x : x = 2 ∨ x = 3}

3. C = { x : x2 − 5x + 6 = 0}

Pelo princı́pio da extensionalidade, esses três conjuntos são iguais, ape-


sar de que são dados por intensões diferentes. Nossa teoria é extensional,
obedecendo o referido princı́pio.

3 Conjuntos notáveis
Conjunto vazio Existe um único conjunto que não tem elementos, chamado
de conjunto vazio, e denotado pela letra (do alfabeto norueguês) ‘∅’.
Outra notação para o conjunto vazio:

{ }.

O fato do conjunto vazio ser um conjunto é mera conveniência, da


mesma forma por que 1 não é um número primo.

3
Conjunto universal A teoria intuitiva admite a existência de um con-
junto que tem como elementos todos os conjuntos, denotado por U . Como
a lei reflexiva da identidade, a saber, ∀ x ( x = x ) é uma lei da lógica clássica
(que está sendo pressuposta), podemos definir o conjunto universal da
seguinte forma:
U = { x : x = x }, (1)
cuja intensão é cumprida por todas as coisas (na teoria intuitiva, não são
especificadas as entidades que podem ser elementos de um conjunto; para
isso necessitamos das teorias axiomáticas).

4 Subconjunto
D EFINIÇ ÃO 1 (S UB -C ONJUNTO ) Um coonjunto A é sub-conjunto de um con-
junto B se e somente se todo elemento de A é também elemento de B; em sı́mbolos,

A ⊆ B : = ∀ x ( x ∈ A → x ∈ B ). (2)

Diz-se que A é sub-conjunto próprio de B, e denota-se isso por

A⊂B (3)

se e somente se A ⊆ B mas A , B.

E XERC ÍCIO 1 Provar o seguinte:

1. A ⊆ A

2. A ⊆ B ∧ B ⊆ A ↔ A = B (outra forma do Princı́pio da Extensionalidade)

3. ∅ ⊆ A para qualquer A

5 Interseção de conjuntos
A interseção dos conjuntos A e B, denotada A ∩ B, é definida assim:

A ∩ B : = { x : x ∈ A ∧ x ∈ B }, (4)

onde ‘:=’ significa ”igual por definição”, ‘∧’ é a conjunção lógica e ‘:’ pode
ser lido como ”tal que”. Isso vale para as demais definições que se seguem.
A definição pode ser estendida para um número qualquer de conjuntos,
mas por enquanto falaremos unicamente em quantidades finitas.

4
Nota – Álgebra de Boole Para os exercı́cios que virão a seguir, você pre-
cisará saber que os conectivos da lógica proposicional clássica, conjunção
(∧), disjunção (∨), negação (¬), formam uma Álbebra de Boole, satisfazendo
as seguintes propriedades, para quaisquer proposições α, β e γ, onde 0
denota uma contradição e 1 denota uma tautologia:

1. (Associatividade) α ∧ ( β ∧ γ) ↔ (α ∧ β) ∧ γ, α ∨ ( β ∨ γ) ↔ (α ∨ β) ∨
γ.

2. (Comutatividade) α ∧ β ↔ β ∧ α, α ∨ β ↔ β ∨ α.

3. (Distributividade) α ∧ ( β ∨ γ) ↔ (α ∧ β) ∨ (α ∧ γ), α ∨ ( β ∧ γ) ↔
( α ∨ β ) ∧ ( α ∨ γ ).
4. α ∧ 1 ↔ α, α ∨ 1 ↔ 1

5. α ∧ 0 ↔ 0, α ∨ 0 ↔ α

6. α ∧ ¬α ↔ 0, α ∨ ¬α ↔ 1

7. (Idempotências) α ∧ α ↔ α, α ∨ α ↔ α

8. (Absorções) α ∧ (α ∨ β) ↔ α, α ∨ (α ∧ β) ↔ α

Um exemplo paradigmático de uma álgebra de Boole é dada pelo con-


junto das partes de um conjunto dado munido das operações de união,
interseção e diferença (complementar relativo ao conjunto original).

E XERC ÍCIO 2 Provar as seguintes igualdades:

1. (Associatividade) A ∩ ( B ∩ C ) = ( A ∩ B) ∩ C

2. (Comutatividade) A ∩ B = B ∩ A

3. A ∩ ∅ = ∅

4. A ∩ A = A

5. A ⊆ B → A ∩ B = A

D EFINIÇ ÃO 2 (C ONJUNTOS D ISJUNTOS ) Os conjuntos A e B são disjuntos se


e somente se A ∩ B = ∅.

E XERC ÍCIO 3 Dê exemplos de conjuntos disjuntos.

5
6 União de conjuntos
A união dos conjuntos A e B, denotada A ∪ B, é definida assim:

A ∪ B : = { x : x ∈ A ∨ x ∈ B }, (5)

onde ‘:=’ significa ”igual por definição”, ‘∨’ é a conjunção lógica.

E XERC ÍCIO 4 Provar as seguintes igualdades:


1. (Associatividade) A ∪ ( B ∪ C ) = ( A ∪ B) ∪ C

2. (Comutatividade) A ∪ B = B ∪ A

3. A ∪ ∅ = A

4. A ∪ A = A

5. A ∩ ( B ∪ C ) = ( A ∩ B) ∪ ( A ∩ C )

6. A ∪ ( B ∩ C ) = ( A ∪ B) ∩ ( A ∪ C )

7. A ⊆ B → A ∪ B = B

7 Diferença
D EFINIÇ ÃO 3 (D IFERENÇA ENTRE CONJUNTOS ) A − B := { x : x ∈ A ∧
x < B }.
A diferença também se escreve A \ B.

Se B ⊆ A, a diferença A − B é dita complementar de B relativamentre


a B, denotada como segue:

{ A ( B) := A − B.

Se considerarmos o conjunto universal, então o complemento de um


conjunto A relativamente a U é o conjunto de todos os objetos que não
pertencem a A:
{U ( A ) : = { x : x < A } .

E XERC ÍCIO 5 Provar o seguinte:


1. A − ∅ = A

2. A − A = A

6
3. A − B = A − ( A ∩ B)

4. Se A e B são disjuntos, então A − B = A.

E XERC ÍCIO 6 Mostre que hP ( A), ∩, ∪, { A ( X )i, para A qualquer e X ⊆ A, é


uma álgebra de Boole, onde 1 = A e 0 = ∅.

8 Produto cartesiano
D EFINIÇ ÃO 4 (PAR O RDENADO ) Dados dois conjuntos A e B, o par-ordenado
cujo primeiro elemento é A e o segundo elemento é B, denotado por h A, Bi, é
definito como segue (definição de Wiener-Kuratowski):

h A, Bi := {{ A}, { A, B}}. (6)

O produto cartesiano de A e B (nessa ordem) é definido como segue:

A × B := {h x, yi : x ∈ A ∧ y ∈ B}. (7)
A definição pode ser estendida para mais de dois conjuntos.

E XERC ÍCIO 7 Provar o seguinte:

1. A × ∅ = ∅

2. Em geral, A × B , B × A

3. (Teorema Fundamental) h A, Bi = hC, D i se e somente de A = C e B = D.


(Enderton 1977, p.36)

4. Encontre outras definições para o produto cartesiano A × B. O importante


não é a definição adotada, mas o Teorema Fundamental.

9 Conjunto potência
Dado um conjunto A, o conjunto potência de A, ou conjunto das partes de
A, ou ainda conjunto dos sub-conjuntos de A, denotado P ( A), é definido
como segue:

P ( A ) : = { B : B ⊆ A }. (8)

E XERC ÍCIO 8 Responda:

7
1. O que é P (∅)?

2. Se A = {1, 2, 3}, o que é P ( A)?

3. Mostre que A ⊆ B se e somente se A ∈ P ( B).

REFERÊNCIAS
Enderton, H. B. (1977), Elements of Set Theory. New York: Academic
Press.
Lipschutz, S. (1998), Set Theory and Related Topics. 2nd ed., McGraw-Hill
(Col. Schaum).

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