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A ESCOLA PENSA ENSINAR OU ENSINA A PENSAR

Claudia Cruz Albiani Costa


Edileusa Soares Amorim Cruz
Janaína Mendes Leite
Valdineia Rosa dos Santos
Curso: Pedagogia
Polo: Vitória/ ES
Orientadora: Prof.ª Esp. Aline Vieira da Cruz

RESUMO

O presente trabalho realizou um estudo junto às obras dos grandes pensadores, filósofos e
educadores cujo trabalho deu base para uma proposta de reestruturação da Educação. Uma
Educação voltada a valores espirituais surgiu diante da necessidade e transformação que
nossa sociedade atravessa. Procura-se aqui reconstruir conceitos tais como: Liberdade,
Autonomia, Criatividade, Cooperativismo, Democracia e Espiritualidade como alavancas
para o surgimento de uma proposta de Educação. Novos modelos educacionais que visem à
promoção integral do ser através da educação formal oferecida às crianças e adolescentes,
onde se tem como objetivo maior desenvolver o pensamento crítico a respeito de tudo e
todos, sugerindo a libertação dos diversos dogmas que permeiam o processo educativo nas
instituições e na sociedade. A motivação maior que nos levou a trabalhar este tema foi de,
nos processos de interação com escolas e organização voltadas a educação, percebermos
como as crianças ainda são visualizadas e como um ser em processo de desenvolvimento é
educado. Um comportamento ainda retrógrado, voltado apenas à manutenção das relações
comerciais, uma relação onde o ter suplanta o ser, causando um engessamento de todos os
potenciais infantis, logo uma formação cruel e injusta de adultos pré-concebidos num
mundo onde o produzir é meta fim, contrário aos ideais dos grandes filósofos que tinham no
ser seu fim em si mesmo.

Palavras-chave: Educação, Ser, Autonomia, Espiritualidade, Integral.


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INTRODUÇÃO

Visando discorrer de tão importante assunto, este artigo desdobrou-se em três capítulos.
No primeiro capítulo relatamos a Educação através dos tempos, seus grandes pensadores e
colaboração para uma educação voltada ao ser. No segundo capítulo trataremos da educação
atual, seus problemas mais gritantes, e o comportamento da sociedade diante dos resultados
que esta educação mostra. No terceiro capítulo, analisados os aspectos base, será apresentada
a proposição de um modelo de educação mais voltada à integralidade do ser, ser este
biopsicossocial-espiritual, sem o arcabouço das religiões, dogmas e outros preceitos que
fomentam preconceitos diversos do mundo na qual estão mergulhados os processos
educacionais.

Como conclusão, apresentaremos uma proposição educacional que integre todos os


aspectos do ser. O ser biopsicossocial-espiritual, suas interações e potenciais, suas dinâmicas
e fragilidades, seus aspectos cognitivos e os processos de aprendizagem. Uma educação
voltada aos aspectos espirituais do ser na sua totalidade. Esta educação promoverá em todos
os envolvidos uma mudança na maneira de relacionarem-se, uma visão de igualdade entre
todos, respeitando-se cada indivíduo como único. Este espaço de convívio deixa de ser uma
arena de disputa entre o mais fraco e o mais forte, entre quem ensina e quem aprende.
Transforma-se então um espaço de ajuda mútua, onde todos são aprendizes e educadores.
Todas as relações profissionais e educacionais terão por base um olhar de dignidade, onde
todos conscientizados de seus papéis estarão formando comunidades, estados, países mais
justos, igualitários e fraternos. Eis o papel da educação: capacitar às potencias físicos, mentais
e espirituais do ser, formando homens de bem.

1 UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Versar sobre a história da Educação nos leva de volta ao início dos processos
educativos, onde Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, São Thomaz de Aquino,
Pestalozzi, Rousseau, iniciaram reflexões sobre os processos educacionais. Debruçar sobre
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educação, seu histórico, nos fará entender melhor o caminho por ela traçado até os dias de
hoje.

Entender os variados contextos do seu desenvolvimento, visualizar os processos, nos


trará bases seguras para proposições viáveis, respeitando seus pensadores e angariando
informações necessárias a um olhar sistêmico sobre a Educação, sua história e seu futuro.
Vamos entender a educação como um processo necessário a todas as sociedades. Inerente ás
transformações que foram vivenciadas por estas sociedades ao longo dos tempos.
Compreenderemos o poder de transformação, inclusão, exclusão e demais modificações pelo
qual passaram, passa e passará, a sociedade de uma maneira geral e como a educação interage
nestas transformações.

1.1 PERÍODO PRIMITIVO

Nas sociedades tribais não existiam a educação na forma de escola. Homens, mulheres e
crianças eram iguais em direitos, e as crianças a partir dos sete anos, precisavam cuidar de si
mesmas. O patriarca, o chefe na família era quem se responsabilizava pelo processo
educativo. A educação era em conjunto com a família e comunidade através das experiências,
imitação tanto de maneira consciente como inconsciente. Uma “educação da vida através da
vida”. Assim a educação se dava naturalmente através da prática diária. "(...) a educação
nesta comunidade primitiva era uma função espontânea da sociedade em conjunto, da mesma
forma que a linguagem e a moral". (PONCE, 1981, p. 19).

Assim a criança era inserida nos costumes e hábitos da comunidade. Não havia
acúmulos de bens, tudo que era produzido era para fins de subsistência local e tinha a
liberdade como característica máxima. Sem distinção hierárquica, os que planejavam,
administravam ou executavam eram considerados iguais, pois toda função era considerada útil
no processo. A educação era responsabilidade de toda comunidade, e não havia castigos.
Garantia-se assim que os valores morais e éticos circulassem na mais pura integridade através
das gerações. Era objetivo educacional tornar imperativo que, o desejo da comunidade,
embora respeitasse o fragmento do individual, era o que mais importava. Maria Lúcia Aranha
(2006, p. 35), comenta que em tais sociedades primitivas: “Os mitos e os ritos são
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transmitidos oralmente, e a tradição se impõe por meio da crença, permitindo a coesão do


grupo e a repetição dos comportamentos considerados desejáveis”.

Assim o bem social era prioridade na educação primitiva que tinha contornos da
Educação Natural, pois cada individuo absorvia de maneira própria e natural tudo o que lhe
era transmitido.

1.1.1 A DIVISÃO DE CLASSES

Um baixo rendimento do trabalho humano e o aparecimento da propriedade particular é


a causa provável do surgimento das classes sociais. Com técnicas muitos rudimentares,
desenvolver as atividades que a vivência tribal exigia, tornou-se um fardo muito pesado para
os membros destas, pois o trabalho era muito cansativo.

A domesticação dos animais e seu uso no trabalho ao lado do homem fez esta sociedade
sair da produção para subsistência para a produção do suficiente e para o acúmulo. Esse
excedente deu início ao intercâmbio de bens, alcançando grande proporção, gerando então
grandes diferenças nas fortunas. Aqui está incutido o germe da ciência, cultura e ideologia.

Com o aumento dos rendimentos veio o valor do trabalho e a necessidade de escravizar


os prisioneiros de guerras para produzir mais e mais. A produção excedente fomentou o
comércio local e os longínquos. A função dos administradores passa então a ser hereditária.
Afirma-nos Ponce (1981, p.27) quanto à transição do primitivo para esta sociedade: (...) “os
funcionários, que representava os interesses comunais costumavam ser eleitos entre os
membros da mesma família”. Cada organizador educa seus parentes para desempenho de seu
cargo e predispunha o resto da comunidade para que os elegessem”.

Terra, rebanhos, escravos se tornam propriedades privadas da família que também


passam a serem donas dos homens, caracterizando a escravidão em si.
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1.1.1.1 EDUCAÇÃO ORIENTAL

Surge entre dois mil e dois mil e quinhentos anos. Aqui surge a escrita.

Este momento marca uma transformação na educação.

[...] com o desaparecimento dos interesses comuns a todos os membros


iguais de um grupo e sua substituição por interesses distintos, pouco a
pouco antagônicos, o processo educativo, que até então era único, sofreu
uma partição: a desigualdade econômica entre os “organizadores” – cada
vez mais exploradores – e os “executores” – cada vez mais explorados –
trouxe, necessariamente, a desigualdade das educações respectivas
(PONCE, 1981, p. 25).

Dentro desta nova estrutura social, o conhecimento era necessário e requerido para
exercício destas mesmas funções.

A partir deste momento a educação ganha aspectos coercitivos. Não muito tempo se
passa e os próprios administradores indicavam seus substitutos. Aqui tem início o que
conhecemos: a escola a serviço de uma classe.

Surgem os deuses, a submissão dos filhos e da mulher, a figura paterna e ainda a


separação entre os trabalhadores e os sábios estudiosos.

Para os hebreus, as atividades educacionais eram em torno do templo e em algumas


casas, com metodologia de memorização e castigos.

No Egito as crianças, a partir dos 06 e 07 anos, frequentavam a escola. Estes aprendiam


a ler, escrever e contar. E para os funcionários, as escolas eruditas ou superiores ensinam
astronomia, matemática, poesia além da leitura e da escrita.

Na China a imitação é o método utilizado, uma educação ruidosa, com repetições até a
completa memorização. Dividida em classes, tinham como segmentos a cultura e o trabalho.
Com conhecimento restrito, a escrita tinha caráter centrado em modelo fechado de escola,
sendo distinto para os filhos dos funcionários e para o povo e a maior parte da comunidade
ficava excluída, sendo então atribuída a família a responsabilidade pela educação.

Com regras rígidas, a educação era tratada nos livros sagrados que, procuravam moldar
e engessar as pessoas, tendo toda sua sustentação em bases religiosas.
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Na Babilônia, era nos templos que tudo acontecia: a literatura, a matemática e a


astronomia. Foi à escrita cuneiforme o ponto alto da educação, sendo a oralidade, base para a
transmissão do conhecimento. Foi também no templo que ocorreu o aperfeiçoamento da
escrita por meio dos sacerdotes, camponeses, artistas, artesões e os escribas. Os escribas para
poderem ser classificados como profissionais qualificados precisavam passar um período na
edubba1 – local onde eram treinados e educados e estariam da juventude até a idade adulta.
Alicerçando o ensino, estava a literatura.

A educação hindu acontecia de maneira improvisada, em qualquer lugar. A sociedade


dividida em castas (brâmanes, xátrias, vaiciais e sudras), sendo os sudras e párias, excluídos
da educação formal. Somente os brâmanes tinham acesso à educação literária.

No modelo egípcio, a memorização e o castigo eram primícias desta educação que,


através dos livros sagrados eram aplicados os ensinamentos de arte e arquitetura tendo como
regime o internato ou semi-internato, sendo a escrita, leitura, ginástica, cálculo e natação a
instrução em si. A educação superior, ministrada em colégios sacerdotais, tinha era muito
organização e dispunha de uma vasta biblioteca que eram destinadas aos escribas e outro do
Estado.

2 EDUCAÇÃO CLÁSSICA

Durante o século V a. C. Surge uma proposta de educação que visa preparar o homem
com algo mais que a antiga educação propunha. Tinha o ideal de formar além do homem, o
cidadão. Eis a Paidéia cujo objetivo é a educação que se pautava no desenvolvimento
individual do ser, preparando-o para o exercício da cidadania plena, com ideais de liberdade
moral e política. Diz respeito a toda a cultura grega, num sentido muito maior. Toda a
produção grega é o que forma a Paidéia grega. Um entendimento da espiritualidade humana,
de importância imensurável para toda a posteridade que teve inicio no templo de Sófocles no
século IV.

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Termo sumério que significa "Casa de Tabuinhas
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Com Demócrito (469-370 a.C.) a Paidéia assume a caracterização de uma


educação espiritual, a qual se torna um bem inalienável de cada um.
Diferentemente dos sofistas, cuja atividade educacional buscava a
realização da vida prática/política, aqui educação presta socorro à vida
enquanto “refúgio no infortúnio” (RITTER; GRÜNDER, 2000, col.36).

Representada por Sócrates, Aristóteles e Platão, retrata a educação ocidental


compreendendo Roma e Grécia.

Nesta educação, as crianças viviam com as famílias durante toda a primeira infância,
seguindo as tradições religiosas. As escolas eram exclusivas para um grupo seleto
(comerciantes ricos e as famílias tradicionais). Aqui não havia investimento na educação
infantil, pois a criança não era valorizada.

2.2 EDUCAÇÃO GREGA

A educação Grega dividiu-se em quatro períodos:

1º- Educação Heroica – tinha a família, caráter patriarcal. Os jovens eram preparados
para as guerras com o treinamento para manejo das armas e também a dança, o canto e a
oratória, ensinamentos sobre boas maneiras e a astúcia. Esta era ministrada nos palácios e
castelos.

2º - Educação Espartana – Tinha como objetivo final formar soldados fortes e


competentes o bastante para as guerras. “[...] o espartano vivia permanentemente com a espada
em punho [...]” (PONCE, 1981, p. 40). Era necessário aprender a obedecer às ordens
superiores e a falar somente o necessário. Para as meninas, as atividades tinham como intuito
prepará-las fisicamente, pois estando saudáveis poderiam dar a luz a soldados também
saudáveis e fortes para os combates nas guerras.

3º- Educação Ateniense –as atividades educacionais se davam em torno dos certames
esportivos. O processo educacional na criança se dividia entre a ginástica e a música. A
educação era aplicada num espaço chamado de palestra (campo de jogos).
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4º - Educação Helenística – Aqui a educação de privada passa a ser publica,


responsabilidade dos municípios e cidades. Há uma valorização da educação. O saber
erudito toma conta nos grupos superiores. Nascem as escolas filosóficas. Com disciplinas
duras e métodos de memorização e castigos físicos. Neste período a escrita, a leitura e o
cálculo tem um grande desenvolvimento.

2.2.2 EDUCAÇÃO ROMANA

Neste modelo de educação, existia a divisão de classes sociais. Os meninos das classes
mais abastadas recebiam aulas com professores particulares. Aprendiam a ler, escrever em
latim e no grego, agricultura, geografia, arquitetura e a matemática.

Era uma educação voltada á moralidade onde a família exercia importante papel. Os
meninos das classes menos favorecidas, por necessitarem trabalhar, não podiam estudar no
período necessário, se via assim, a desigualdade também no acesso a educação de qualidade.
A característica principal da educação romana era a imitação onde o jovem deveria
desenvolver virtudes como: prudência, coragem, audácia, honestidade e piedade. Era uma
educação prática: “aprendia-se a fazer, fazendo”.

2.2.2.2 Os grandes pensadores da educação

SÓCRATES, filósofo grego, nascido em Atenas em 470 A. C. Sócrates concebia o


homem com ser de espírito e corpo. Pensava a educação como um processo de externalizar o
que já existia no ser. Assim a figura do educador tinha como função, fomentar o caminho da
interiorização, do autoconhecimento como forma de resplandecer sua inteligência e sua
consciência. Utilizava do método dialógico onde era permitido ao aluno, questionar, contestar
toda informação recebida do mestre educador. Assim o educador tem como linha educacional
o diálogo, a troca de ideias, o parto de ideias, a maiêutica. Sócrates não deixou obra escrita.
Preferia o contato direto com os indivíduos durante os diálogos. Foi Platão e outros filósofos
que disseminaram suas ideias. Vemos em Sócrates uma valorização da autonomia do ser em
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busca da verdade, do saber. Provocando o aprendiz a uma busca em si mesmo dos valores
morais, o conhecimento do mundo e de si mesmo. Onde não reina uma verdade absoluta. A
cada resposta uma nova pergunta surgia. Onde todas as ideias são valorizadas e questionadas,
analisadas por cada um que as parturejou2. Através deste método, a arte da persuasão pela
retórica, municiava os indivíduos de ferramentas para o exercício da cidadania, visando à
transformação da sociedade.

“Na realidade, a Filosofia que Sócrates professou em vida não é um simples


processo teórico de pensamento, mas funcionou como um convite a pensar
e uma forma de reeducação do pensar. A Filosofia socrática possui um
sentido educativo por excelência, tanto quanto sua concepção de Educação
esta baseada num método filosófico e numa filosofia”. (SILVA E PAGNI,
2007, pg.29).

Sócrates acreditava que a virtude era conquista indispensável ao ser, sendo a mais
importante das delas, sendo esta virtude conquista do próprio ser através do conhecimento de
sua individualidade e análise do auto desenvolvimento espiritual em detrimento do material.
Assim o ser conquistaria vivência plena e harmônica.

ARISTÓTELES viveu na Grécia do século IV(384-322) a.C. Nasceu em Estagira, na


Macedônia. Aristóteles afirma em seu livro “Ética e Nicômaco”, que “todos os homens tem
por natureza, o desejo de conhecer”. Nesta obra, Aristóteles discorre sobre duas espécies de
virtudes: a intelectual e a moral. Sendo a primeira gerada e alimentada pelo ensino,
requerendo experiência e tempo. Já a virtude moral, vem como resultado do hábito. Como
entendimento chegamos à conclusão que Aristóteles cria que as virtudes são contrárias a
natureza do homem, sendo os homens, portanto, adaptados por natureza a recebê-las e a
tornarem-se perfeitos. Segundo Aristóteles

“... os legisladores tornam bons os cidadãos pelos hábitos que lhes


incutem.... e ainda mais: é das mesmas causas e dos mesmos meios que
se gera e se destrói toda virtude, assim como toda arte: de tocar lira,
surgem os bons e os maus músicos, isto também vale para os arquitetos e
todos os demais; construindo bem tornam-se bons arquitetos; construindo
mal, maus.Se não fosse assim não haveria necessidade de mestres, e
todos os homens teriam nascidos bons ou maus em seu oficio.”
(ARISTÓTELES, 1979, p.67)

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É uma flexão de parturejar: Amar, suspirar.
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Aristóteles reconhece a imitação como forma de instrumento de educação da sociedade,


mais diretamente no ensino. A educação em Aristóteles tinha com fim a felicidade.

AGOSTINO DE HIPONA-SANTO AGOSTINHO- nasceu no município de Tagaste na


África em 354, sendo um dos mais importantes teólogos e filósofos no período inicial do
Cristianismo. Figura importante na História da Educação tem Santo Agostinho uma
importante obra, onde discorrer com grande conhecimento sobre a educação a obra intitulada
De Magistro (Do Professor). Após redirecionar seus estudos e com novo olhar, escreveu
sobre o tema na obra “Retratações". Agostinho introduziu na educação uma forma onde o
professor não excede nas informações repassadas aos alunos, focando sempre um ponto a
cada vez, até a compreensão, sem ansiar por interrogações e buscando sempre resolução das
questões. Sua metodologia influenciou muitos educadores do Ocidente. Acreditava que o
educador deveria ser simples, claro, paciente, gerando simpatia e felicidade. O ato de ensinar,
segundo Agostinho “era o maior ato de caridade” que tinha como objetivo fim voltar o
homem a Deus, em busca das suas verdades interiores.

THOMAZ DE AQUINO - (1225-1274) - nasceu no castelo de Roccasecca, em Aquino,


na região do Lácio, no sul da Itália. Considerado o maior dos mestres escolásticos teve a
alcunha de Doctor Angelicus. São Tomaz acreditava o homem como individualidade
intelectual, donde vinha sua dignidade. Acreditava ser pela educação com o exercício da
liberdade e responsabilidade, que o homem alcançaria a sabedoria. Para Thomas de Aquino
existem dois modos de adquirir sabedoria: por si mesmo, de maneira natural e através do seu
mestre, sendo o mestre presença insubstituível nesta busca pela sabedoria e conhecimento.

“Assim, para além do exercício da inteligência realizado pelo aluno, a acção


do mestre condiciona a instrução de tal modo que, na sua ausência, pode
faltar (falhar) a aprendizagem, até porque, em muitos casos, o mestre tem
de proceder à remoção de tudo o que pode ser obstáculo ou entrave ao reto
exercício das faculdades do discípulo.” (GALINO, 1981, p. 551)

Thomaz de Aquino em sua teoria cria a transformação por meio do conhecimento. Para
o caminho da felicidade, meta fim do homem na visão de Thomaz de Aquino, deveria o
homem usar da razão e da prudência no desenvolvimento de sua essência. Essência Divina
em cada ser de encontro à felicidade.
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JEAN-JACQUES ROUSSEAU – Nasceu em Genebra, Suíça (1712-1778). Filósofo,


escritor, teórico político. Líder da Revolução Francesa inaugurou a Era da Razão como
resposta aos anseios da sociedade da época. Liberdade, igualdade e fraternidade eram os
lemas revolucionários que acercaram também toda sua proposta de educação.

Rousseau em “Discurso sobre a Desigualdade (1754) afirma:” o homem é naturalmente


bom. É só devido às instituições que se torna mal”.

“Tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo degenera
entre as mãos do homem. Ele força uma terra a alimentar as produções de
outra, uma árvore a carregar os frutos de outra. Mistura e confunde os
climas, os elementos, as estações. Mutila seu cão, seu cavalo, seu escravo.
Perturba tudo, desfigura tudo, ama a deformidade e os monstros. Não quer
nada de maneira como a natureza o fez, nem mesmo o homem; é preciso
que seja domado por ele, como um cavalo adestrado; é preciso apará-lo à
sua maneira, como uma árvore de seu jardim” (Rousseau, Emile, 2004, p.7)

Sua obra Emilio ou da Educação é um tratado, uma proposta para um modelo de


educação para a formação de uma nova sociedade, formada por um novo homem, uma
proposta para a reconstrução de toda humanidade através da educação. Em Rousseau a boa
educação era caminho para a formação de bons cidadãos. Rousseau respeitava cada estágio
da infância, sendo valorizada sua liberdade e felicidade.

“Ela não deve ser nem animal, nem homem, mas criança; é preciso sentir
sua fraqueza, sem sofrer com ela; precisa depender dos outros, e não
obedecer; precisa pedir e não ordenar. Ela está submetida aos outros
apenas por suas necessidades e porque eles veem melhor o que lhe é útil e
o que pode contribuir para a sua conservação ou prejudicá-la. Ninguém tem
o direito, nem mesmo o pai, de ordenar à criança o que não lhe serve pra
nada”. (Rousseau, Emile, 2004, p.310)

Uma educação com vistas à liberdade, autonomia do ser, onde os ideais fraternos sejam
alavanca de crescimento interior em busca de igualdade. Era este tripé que compunha o
iluminismo, época em que a razão veio iluminar os céus de uma nova era, propondo uma
visão igualitária de justiça e fraternidade pra todos. Onde o exercício da liberdade seja
constante. Em uníssono para a construção de um mundo melhor.

JOHANN HEINRICH PESTALOZZI –Nasceu em Zurique, Suíça no século XVIII


(1746-1827). Discípulo de Rousseau, Pestalozzi em sua doutrina pedagógica, afirma ser a
formação do caráter mais importante que a aquisição de conhecimentos. Tinha com ambição
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a educação integral do ser que desenvolvesse o coração, a mente e as mãos levando então este
ser a dignidade da pessoa humana em todos os aspectos. O desafio da educação em Pestalozzi
é despertar o ser moral, fomentando sua autoconstrução. Enfim, a educação modeladora e
repressora tem seu papel repensado, modificado.

“A meta para o qual o método [criado por Pestalozzi] tende constantemente


e em todas as coisas, é de atingir, vivificar e fortificar o que há de
verdadeiramente humano, espiritual e moral na criança. Em outros termos,
ele considera e trata a criança, desde o primeiro momento, como uma
natureza humana, espiritual e moral e reconhece nele principalmente esta
existência e esta atividade”...). (PESTALOZZI, 1927-1980, vol. 28: 298)

A educação não pode ser arbitrária, engessada, automática, pois o educador deve
relacionar-se com o educando de maneira integralizada, pois somos parte de um todo em tudo,
rumo ao processo de autoeducação, processo este que deve ser fomentado pelo educador. O
processo do educar deve ser permeado de amor.

3 A ESCOLA HOJE

A escola de uma maneira geral visa preparar o cidadão para a vida em sociedade. Mas o
que a escola se prontifica a fazer com todos os recursos disponíveis que a cultura comum
detém? A escola nos dias atuais repassa de maneira automatizada conteúdos, lições,
propostas, ensaios. Tudo de maneira engessada, inflexível. O papel da escola nos dias de hoje
está complexo por uma série de fatores inerentes ao modelo social vigente.

É excludente, pois ainda privilegia grupos. A economia ainda rege as metodologias


educativas, onde as crianças precisam ser moldadas para serem futuros profissionais que
deverão dar continuidade ao processo produtivo, numa economia de mercado repressora e
ainda escravocrata, mesmo que de maneira disfarçada.

“A pedagogia do mercado, no fundo, não prepara para a vida, como


pretender fazer crer, porque restringe o jovem ao que domina no momento.
Ela atrela o jovem, na verdade, ao passado. A pedagogia que procura seu
norte no próprio ser humano liberta, porque conta com o futuro. Ela ensina
exercitando habilidades, e não inculcando informações”. (VEIGA, 1996,
p.22).
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Um altíssimo índice de repetência, crianças analfabetas e/ou analfabetas funcionais,


mesmo em séries mais avançadas estão dentro desta escola que, deveria ser o ambiente com
propostas e ações para a inclusão social justa, acontece um processo inverso ao que as Leis de
Diretrizes e Bases propõem á educação. Reproduz o egoísmo, a competição e o
individualismo dilacerantes. Fale-se de cooperação, mas não vivência a mesma. A proposta
primeira é preparar bons profissionais, para o mercado de trabalho. A proposta de preparar
cidadãos para a vida em comunidade, em processo de fraternidade e justiça fica a guisa de
outras instituições, por vezes, religiosas que acabam detendo um pseudopoder sobre o mais
fragilizado diante das dificuldades relacionadas á família e a sociedade de maneira geral.
Óbvio não ser a escola a única tábua de salvação para a harmonia social, mas a escola deveria
atuar como pedra filosofal, de questionamentos, de proposição de mudanças reais e justas.

“A educação não pode, por si só, resolver problemas desencadeados pela


ruptura (quando se verifica tal ocorrência) do vínculo social; no entanto,
existe a expectativa de que ela contribua para o desenvolvimento do desejo
de conviver, elemento básico da coesão social e da identidade nacional”.
(Relatório Delors, 2010 UNESCO, p.28).

Esta escola que hoje atua, visa somente manter o sistema capitalista que impera. Este
modelo educacional é antissocial, tem medo dos questionamentos, emperra a criatividade,
engessa a autonomia, marginaliza a rebeldia, despreza a criatividade, o novo. Neste modelo
hoje existente de escola, não há interesse na formação de seres pensantes, capazes de críticas
conscientes. É interesse desta sociedade dominante e capitalista, que a escola apenas adestre
a reprodução, às ideologias já disseminadas. Seres pensantes são altamente perigosos, pois
podem facilmente mobilizar mudanças e processos transformadores que não interessam ao
modelo econômico selvagem vigente. Seres educados integralmente são seres plenos e os
plenos não aceitam migalhas, buscam o todo para todos. Sócrates fez muitos inimigos quando
incitava o povo a pensar, a duvidar, a questionar. A escola não ensina o pensar livre,
Socrático. A escola adestra o pensar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dissertar sobre um ideal de educação, de escola, nos remonta aos grandes filósofos
citados neste artigo. Onde o pensar, o criticar, a análise, a proposta de integralidade do ser é
colocada de maneira sistematizada, metodizada. A educação precisa ser colocada como
proposta e ferramenta de transformação do ser, logo, de toda a sociedade, das relações entre
os homens. Onde a cooperação seja ferramenta de inclusão social, tendo garantido seu direito
a liberdade e a justiça.

Liberdade, justiça e fraternidade só são alcançadas onde as sociedades são educadas


para isto.

Adentrar os muros das escolas não é tarefa fácil, pois que esta está cercada pelos
interesses do mercado dominante e uma sociedade alienada. Abrir-se ao novo, ao pensar
coletivo, aos interesses da maioria, ao pensar que inclui, que projeta transformações, que
promove ações com bases conscientes que aliem teoria e prática é o grande desafio que o
mundo todo propõem como novo paradigma educacional, tendo o individuo enquanto ser
consciente e a sociedade como meta fim da transformação, é trabalho longo e auspicioso, a
que deve estar voltada toda a ação educacional, do fazer pedagógico. Dotar o ser do exercício
do pensar crítico, do conhecer a realidade social, do meio, deve serbase da proposta
educacional que precisa estar centralizada no ser humano e no desenvolvimento de seus
potenciais como fomento da educação integral do ser.

Compreender o ser como indivíduo que constrói, se reconstrói, aprende e ensina através
das emoções, da razão, da intuição. Desfragmentar o saber, integrar, dar continuidade.
Entender o ser enquanto mente-espírito, integrado ao todo, conectado a tudo. Fomentar o
desenvolvimento moral, social, intelectual, espiritual para que o SER sinta-se parte de um
todo, com autonomia, responsabilidade, partícipe do seu próprio desenvolvimento e
contribuindo para o desenvolvimento do seu semelhante. Esta é a escola ideal, a que ensina a
pensar, proporcionando a educação integral do ser.
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REFERÊNCIAS

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1973.
ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação. 2 ed. Ver. Atual. São Paulo: Moderna, 1996.

ARISTÓTELES. Ética e Nicômaco. Trad. por Vincenzo Cocco e notas de Joaquim de


Carvalho. São Paulo: Abril Cultural, 1993.

DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a


descobrir. São Paulo: Cortezo. p. 89-102, 1996.
GALINO, MaríaÁngeles. Historia de laeducación - EdadesAntiguay Media. Madrid:
Editorial Gredos, 1981.
PAGNI, P. A.; SILVA, D. J. Introdução à Filosofia da Educação: temas contemporâneos e
história. São Paulo: AVERCAMP, 2007.
PESTALOZZI, J.H. Antologia de Pestalozzi. Trad. Lorenzo Luzuriaga. Buenos Aires:
Editorial Losada S.A., 1946.

PONCE, A. Educação e luta de classe. São Paulo: Cortez Editora e Autores Associados,
1981.

ROUSSEAU, J-J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

RITTER, Joachim, GRÜNDER Karlfried (Eds.). HistorischesWörterbuch der Philosophie.


Vol. 9 Schabe, Basilia, 1995.

STEINER, Rudolf. A filosofia da liberdade: fundamentos para uma filosofia moderna: São Paulo:
Antroposófica, 1983.

TOMÁS DE AQUINO. Sobre o ensino (de magistro) e os sete pecados capitais. Trad. Luiz
Jean Lauand. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

VEIGA, Ilma P.A. "Escola, currículo e ensino". Ira: I.P.A. Veiga e M. Helena Cardoso
(org.) Escola fundamental: Currículo e ensino. Campinas, Papirus, 1991.

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