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RESUMO
O presente trabalho realizou um estudo junto às obras dos grandes pensadores, filósofos e
educadores cujo trabalho deu base para uma proposta de reestruturação da Educação. Uma
Educação voltada a valores espirituais surgiu diante da necessidade e transformação que
nossa sociedade atravessa. Procura-se aqui reconstruir conceitos tais como: Liberdade,
Autonomia, Criatividade, Cooperativismo, Democracia e Espiritualidade como alavancas
para o surgimento de uma proposta de Educação. Novos modelos educacionais que visem à
promoção integral do ser através da educação formal oferecida às crianças e adolescentes,
onde se tem como objetivo maior desenvolver o pensamento crítico a respeito de tudo e
todos, sugerindo a libertação dos diversos dogmas que permeiam o processo educativo nas
instituições e na sociedade. A motivação maior que nos levou a trabalhar este tema foi de,
nos processos de interação com escolas e organização voltadas a educação, percebermos
como as crianças ainda são visualizadas e como um ser em processo de desenvolvimento é
educado. Um comportamento ainda retrógrado, voltado apenas à manutenção das relações
comerciais, uma relação onde o ter suplanta o ser, causando um engessamento de todos os
potenciais infantis, logo uma formação cruel e injusta de adultos pré-concebidos num
mundo onde o produzir é meta fim, contrário aos ideais dos grandes filósofos que tinham no
ser seu fim em si mesmo.
INTRODUÇÃO
Visando discorrer de tão importante assunto, este artigo desdobrou-se em três capítulos.
No primeiro capítulo relatamos a Educação através dos tempos, seus grandes pensadores e
colaboração para uma educação voltada ao ser. No segundo capítulo trataremos da educação
atual, seus problemas mais gritantes, e o comportamento da sociedade diante dos resultados
que esta educação mostra. No terceiro capítulo, analisados os aspectos base, será apresentada
a proposição de um modelo de educação mais voltada à integralidade do ser, ser este
biopsicossocial-espiritual, sem o arcabouço das religiões, dogmas e outros preceitos que
fomentam preconceitos diversos do mundo na qual estão mergulhados os processos
educacionais.
Versar sobre a história da Educação nos leva de volta ao início dos processos
educativos, onde Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, São Thomaz de Aquino,
Pestalozzi, Rousseau, iniciaram reflexões sobre os processos educacionais. Debruçar sobre
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educação, seu histórico, nos fará entender melhor o caminho por ela traçado até os dias de
hoje.
Nas sociedades tribais não existiam a educação na forma de escola. Homens, mulheres e
crianças eram iguais em direitos, e as crianças a partir dos sete anos, precisavam cuidar de si
mesmas. O patriarca, o chefe na família era quem se responsabilizava pelo processo
educativo. A educação era em conjunto com a família e comunidade através das experiências,
imitação tanto de maneira consciente como inconsciente. Uma “educação da vida através da
vida”. Assim a educação se dava naturalmente através da prática diária. "(...) a educação
nesta comunidade primitiva era uma função espontânea da sociedade em conjunto, da mesma
forma que a linguagem e a moral". (PONCE, 1981, p. 19).
Assim a criança era inserida nos costumes e hábitos da comunidade. Não havia
acúmulos de bens, tudo que era produzido era para fins de subsistência local e tinha a
liberdade como característica máxima. Sem distinção hierárquica, os que planejavam,
administravam ou executavam eram considerados iguais, pois toda função era considerada útil
no processo. A educação era responsabilidade de toda comunidade, e não havia castigos.
Garantia-se assim que os valores morais e éticos circulassem na mais pura integridade através
das gerações. Era objetivo educacional tornar imperativo que, o desejo da comunidade,
embora respeitasse o fragmento do individual, era o que mais importava. Maria Lúcia Aranha
(2006, p. 35), comenta que em tais sociedades primitivas: “Os mitos e os ritos são
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Assim o bem social era prioridade na educação primitiva que tinha contornos da
Educação Natural, pois cada individuo absorvia de maneira própria e natural tudo o que lhe
era transmitido.
A domesticação dos animais e seu uso no trabalho ao lado do homem fez esta sociedade
sair da produção para subsistência para a produção do suficiente e para o acúmulo. Esse
excedente deu início ao intercâmbio de bens, alcançando grande proporção, gerando então
grandes diferenças nas fortunas. Aqui está incutido o germe da ciência, cultura e ideologia.
Surge entre dois mil e dois mil e quinhentos anos. Aqui surge a escrita.
Dentro desta nova estrutura social, o conhecimento era necessário e requerido para
exercício destas mesmas funções.
A partir deste momento a educação ganha aspectos coercitivos. Não muito tempo se
passa e os próprios administradores indicavam seus substitutos. Aqui tem início o que
conhecemos: a escola a serviço de uma classe.
Na China a imitação é o método utilizado, uma educação ruidosa, com repetições até a
completa memorização. Dividida em classes, tinham como segmentos a cultura e o trabalho.
Com conhecimento restrito, a escrita tinha caráter centrado em modelo fechado de escola,
sendo distinto para os filhos dos funcionários e para o povo e a maior parte da comunidade
ficava excluída, sendo então atribuída a família a responsabilidade pela educação.
Com regras rígidas, a educação era tratada nos livros sagrados que, procuravam moldar
e engessar as pessoas, tendo toda sua sustentação em bases religiosas.
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2 EDUCAÇÃO CLÁSSICA
Durante o século V a. C. Surge uma proposta de educação que visa preparar o homem
com algo mais que a antiga educação propunha. Tinha o ideal de formar além do homem, o
cidadão. Eis a Paidéia cujo objetivo é a educação que se pautava no desenvolvimento
individual do ser, preparando-o para o exercício da cidadania plena, com ideais de liberdade
moral e política. Diz respeito a toda a cultura grega, num sentido muito maior. Toda a
produção grega é o que forma a Paidéia grega. Um entendimento da espiritualidade humana,
de importância imensurável para toda a posteridade que teve inicio no templo de Sófocles no
século IV.
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Termo sumério que significa "Casa de Tabuinhas
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Nesta educação, as crianças viviam com as famílias durante toda a primeira infância,
seguindo as tradições religiosas. As escolas eram exclusivas para um grupo seleto
(comerciantes ricos e as famílias tradicionais). Aqui não havia investimento na educação
infantil, pois a criança não era valorizada.
1º- Educação Heroica – tinha a família, caráter patriarcal. Os jovens eram preparados
para as guerras com o treinamento para manejo das armas e também a dança, o canto e a
oratória, ensinamentos sobre boas maneiras e a astúcia. Esta era ministrada nos palácios e
castelos.
3º- Educação Ateniense –as atividades educacionais se davam em torno dos certames
esportivos. O processo educacional na criança se dividia entre a ginástica e a música. A
educação era aplicada num espaço chamado de palestra (campo de jogos).
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Neste modelo de educação, existia a divisão de classes sociais. Os meninos das classes
mais abastadas recebiam aulas com professores particulares. Aprendiam a ler, escrever em
latim e no grego, agricultura, geografia, arquitetura e a matemática.
Era uma educação voltada á moralidade onde a família exercia importante papel. Os
meninos das classes menos favorecidas, por necessitarem trabalhar, não podiam estudar no
período necessário, se via assim, a desigualdade também no acesso a educação de qualidade.
A característica principal da educação romana era a imitação onde o jovem deveria
desenvolver virtudes como: prudência, coragem, audácia, honestidade e piedade. Era uma
educação prática: “aprendia-se a fazer, fazendo”.
busca da verdade, do saber. Provocando o aprendiz a uma busca em si mesmo dos valores
morais, o conhecimento do mundo e de si mesmo. Onde não reina uma verdade absoluta. A
cada resposta uma nova pergunta surgia. Onde todas as ideias são valorizadas e questionadas,
analisadas por cada um que as parturejou2. Através deste método, a arte da persuasão pela
retórica, municiava os indivíduos de ferramentas para o exercício da cidadania, visando à
transformação da sociedade.
Sócrates acreditava que a virtude era conquista indispensável ao ser, sendo a mais
importante das delas, sendo esta virtude conquista do próprio ser através do conhecimento de
sua individualidade e análise do auto desenvolvimento espiritual em detrimento do material.
Assim o ser conquistaria vivência plena e harmônica.
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É uma flexão de parturejar: Amar, suspirar.
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Thomaz de Aquino em sua teoria cria a transformação por meio do conhecimento. Para
o caminho da felicidade, meta fim do homem na visão de Thomaz de Aquino, deveria o
homem usar da razão e da prudência no desenvolvimento de sua essência. Essência Divina
em cada ser de encontro à felicidade.
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“Tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo degenera
entre as mãos do homem. Ele força uma terra a alimentar as produções de
outra, uma árvore a carregar os frutos de outra. Mistura e confunde os
climas, os elementos, as estações. Mutila seu cão, seu cavalo, seu escravo.
Perturba tudo, desfigura tudo, ama a deformidade e os monstros. Não quer
nada de maneira como a natureza o fez, nem mesmo o homem; é preciso
que seja domado por ele, como um cavalo adestrado; é preciso apará-lo à
sua maneira, como uma árvore de seu jardim” (Rousseau, Emile, 2004, p.7)
“Ela não deve ser nem animal, nem homem, mas criança; é preciso sentir
sua fraqueza, sem sofrer com ela; precisa depender dos outros, e não
obedecer; precisa pedir e não ordenar. Ela está submetida aos outros
apenas por suas necessidades e porque eles veem melhor o que lhe é útil e
o que pode contribuir para a sua conservação ou prejudicá-la. Ninguém tem
o direito, nem mesmo o pai, de ordenar à criança o que não lhe serve pra
nada”. (Rousseau, Emile, 2004, p.310)
Uma educação com vistas à liberdade, autonomia do ser, onde os ideais fraternos sejam
alavanca de crescimento interior em busca de igualdade. Era este tripé que compunha o
iluminismo, época em que a razão veio iluminar os céus de uma nova era, propondo uma
visão igualitária de justiça e fraternidade pra todos. Onde o exercício da liberdade seja
constante. Em uníssono para a construção de um mundo melhor.
a educação integral do ser que desenvolvesse o coração, a mente e as mãos levando então este
ser a dignidade da pessoa humana em todos os aspectos. O desafio da educação em Pestalozzi
é despertar o ser moral, fomentando sua autoconstrução. Enfim, a educação modeladora e
repressora tem seu papel repensado, modificado.
A educação não pode ser arbitrária, engessada, automática, pois o educador deve
relacionar-se com o educando de maneira integralizada, pois somos parte de um todo em tudo,
rumo ao processo de autoeducação, processo este que deve ser fomentado pelo educador. O
processo do educar deve ser permeado de amor.
3 A ESCOLA HOJE
A escola de uma maneira geral visa preparar o cidadão para a vida em sociedade. Mas o
que a escola se prontifica a fazer com todos os recursos disponíveis que a cultura comum
detém? A escola nos dias atuais repassa de maneira automatizada conteúdos, lições,
propostas, ensaios. Tudo de maneira engessada, inflexível. O papel da escola nos dias de hoje
está complexo por uma série de fatores inerentes ao modelo social vigente.
Esta escola que hoje atua, visa somente manter o sistema capitalista que impera. Este
modelo educacional é antissocial, tem medo dos questionamentos, emperra a criatividade,
engessa a autonomia, marginaliza a rebeldia, despreza a criatividade, o novo. Neste modelo
hoje existente de escola, não há interesse na formação de seres pensantes, capazes de críticas
conscientes. É interesse desta sociedade dominante e capitalista, que a escola apenas adestre
a reprodução, às ideologias já disseminadas. Seres pensantes são altamente perigosos, pois
podem facilmente mobilizar mudanças e processos transformadores que não interessam ao
modelo econômico selvagem vigente. Seres educados integralmente são seres plenos e os
plenos não aceitam migalhas, buscam o todo para todos. Sócrates fez muitos inimigos quando
incitava o povo a pensar, a duvidar, a questionar. A escola não ensina o pensar livre,
Socrático. A escola adestra o pensar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dissertar sobre um ideal de educação, de escola, nos remonta aos grandes filósofos
citados neste artigo. Onde o pensar, o criticar, a análise, a proposta de integralidade do ser é
colocada de maneira sistematizada, metodizada. A educação precisa ser colocada como
proposta e ferramenta de transformação do ser, logo, de toda a sociedade, das relações entre
os homens. Onde a cooperação seja ferramenta de inclusão social, tendo garantido seu direito
a liberdade e a justiça.
Adentrar os muros das escolas não é tarefa fácil, pois que esta está cercada pelos
interesses do mercado dominante e uma sociedade alienada. Abrir-se ao novo, ao pensar
coletivo, aos interesses da maioria, ao pensar que inclui, que projeta transformações, que
promove ações com bases conscientes que aliem teoria e prática é o grande desafio que o
mundo todo propõem como novo paradigma educacional, tendo o individuo enquanto ser
consciente e a sociedade como meta fim da transformação, é trabalho longo e auspicioso, a
que deve estar voltada toda a ação educacional, do fazer pedagógico. Dotar o ser do exercício
do pensar crítico, do conhecer a realidade social, do meio, deve serbase da proposta
educacional que precisa estar centralizada no ser humano e no desenvolvimento de seus
potenciais como fomento da educação integral do ser.
Compreender o ser como indivíduo que constrói, se reconstrói, aprende e ensina através
das emoções, da razão, da intuição. Desfragmentar o saber, integrar, dar continuidade.
Entender o ser enquanto mente-espírito, integrado ao todo, conectado a tudo. Fomentar o
desenvolvimento moral, social, intelectual, espiritual para que o SER sinta-se parte de um
todo, com autonomia, responsabilidade, partícipe do seu próprio desenvolvimento e
contribuindo para o desenvolvimento do seu semelhante. Esta é a escola ideal, a que ensina a
pensar, proporcionando a educação integral do ser.
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REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, Santo. De Magistro. Tradução de Ângelo Ricci. São Paulo: Abril Cultural,
1973.
ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação. 2 ed. Ver. Atual. São Paulo: Moderna, 1996.
PONCE, A. Educação e luta de classe. São Paulo: Cortez Editora e Autores Associados,
1981.
STEINER, Rudolf. A filosofia da liberdade: fundamentos para uma filosofia moderna: São Paulo:
Antroposófica, 1983.
TOMÁS DE AQUINO. Sobre o ensino (de magistro) e os sete pecados capitais. Trad. Luiz
Jean Lauand. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
VEIGA, Ilma P.A. "Escola, currículo e ensino". Ira: I.P.A. Veiga e M. Helena Cardoso
(org.) Escola fundamental: Currículo e ensino. Campinas, Papirus, 1991.