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EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Art. 107 – Da extinção da punibilidade


Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como
criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos
crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
VII – (Revogado pela Lei n.º 11.106, de 2005).
VIII – (Revogado pela Lei n.º 11.106, de 2005).
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

A punibilidade vem como resultado da responsabilidade penal do réu pelo


crime que cometeu, dela decorre o direito de o Estado fazer cumprir a pena.
“A punição é a consequência natural da realização da ação típica,
antijurídica e culpável. Porém, após a prática do fato delituoso podem
ocorrer as chamadas causas extintivas, que impedem a aplicação ou
execução da sanção respectiva.” (BITENCOURT, Cezar Roberto. Código
Penal Anotado, 2.ª Ed., Editora Revista dos Tribunais, pág. 394, 1999).

Em corolário a isso, a extinção da punibilidade resulta na supressão do


direito do Estado de impor a pena, não havendo como ele querer vê-la
cumprida. As circunstâncias mais relevantes para tanto estão condensadas
no artigo 107 do Código Penal, mas a legislação pode criar outras.

Inciso I – Morte do agente – a morte é causa extintiva da punibilidade


porque a pena é personalíssima, não se transmitindo aos herdeiros do
condenado. Falecendo o autor do fato, não há espaço à aplicação da pena.
É importante destacar que os efeitos civis da sentença condenatória
(notadamente o dever de indenizar) não se extinguem com a morte do
agente, alcançando limite das forças de seu espólio;

A prova da morte se dá mediante certidão de óbito.

Inciso II – Anistia, Graça ou indulto – A anistia é identificada pela doutrina


como um esquecimento jurídico da infração penal, que se dá através de lei
e extingue a punibilidade em face de determinados fatos. Contudo, ela não
alcança o dever da indenização civil, por só abranger os efeitos penais.

Compete ao Congresso Nacional concedê-la (artigo 48, inciso VIII, da


Constituição Federal);

– A graça é ato do Presidente da República, que tem o objetivo de favorecer


pessoa determinada;

– O indulto também é atribuição do Presidente da República, mas se volta a


um número interminado de pessoas, ele se difere da graça por sua
impessoalidade. A graça e o indulto servem para extinguir ou comutar
penas.

A graça e o indulto são prerrogativas do Presidente da República (artigo 84,


inciso XII, da Constituição Federal).

Inciso III – Abolítio Criminis – Ao deixar de considerar criminosa uma


conduta prevista em lei como tal, o delito já não existe mais no mundo
jurídico. Assim também não haverá razão à punição do autor do fato.

Inciso IV – Prescrição, Decadência ou Perempção – A prescrição trata-


se uma garantida do autor do fato, que não pode ser obrigado a aguardar
indefinidamente uma resposta estatal ao delito que praticou. O dever de
punir do estado (jus puniendi) tem um limite temporal, chamado de
prescrição.

A decadência é a extinção do direito de promover a ação penal privada, a


representação nos crimes de ação penal condicionada a ela ou a denúncia
substitutiva da ação penal pública, como regra seu prazo é de 06 (seis)
meses.

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A perempção ocorre dentro da ação penal privada, quando a parte autora
deixa de praticar determinado ato processual, em que sua desídia faz
presumir o desinteresse na responsabilização do autor do fato

Inciso V – A renúncia ao direito de queixa e o perdão aceito – A renúncia


ao direito de queixa vem antes de inaugurada a ação penal e demonstra o
desinteresse da vítima em promovê-la. Já o perdão do ofendido ocorre no
curso da ação penal e somente nesta hipótese se cogita possível que seja
recusada pelo auto do fato.

Inciso VI – A retratação do agente - Nas hipóteses dos crimes de calúnia,


difamação, falso testemunho e falsa perícia a retratação do autor do crime
evita a imposição da pena, exime-o dela. Na injúria, contudo, não há espaço
à retratação.

Inciso IX - O Perdão Judicial - É possível o delinquente ser perdoado do


crime que cometeu quando, em determinadas hipóteses previstas em lei, o
resultado de sua conduta lhe atingir de foma tão severa que a imposição da
pena se mostra desnecessária e, até mesmo, demasiada.

Um bom exemplo de quando é possível o perdão judicial é o do homicídio


culposo em que o autor do fato mata o próprio filho. Tal é o sofrimento que
suporta por sua conduta desastrosa que o Juiz pode, neste caso, deixar de
aplicar a pena (art.121, § 5.º, do CP).

Postado por Lenoar B. Medeiros às 22:11 15 comentários


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Art. 108 – Extinção da punibilidade de


pressupostos, elementos ou circunstâncias do
crime, assim como de crimes conexos

Art. 108 – A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto,


elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se
estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um
deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante
da conexão.

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O artigo em análise disciplina duas situações distintas:

1.ª – Quando uma conduta criminosa for pressuposto para outro crime ou
quando alguns dos elementos ou circunstâncias agravantes dele, em sendo
delitos autônomos, sofrerem extinção da punibilidade, preservam-se todos
esses (pressupostos, elementos ou circunstâncias) no delito que os agrega.
2.ª – Nos crimes conexos, a agravação da pena pela conexão não será
afetada se for extinta a punibilidade em face de um dos delitos.

Postado por Lenoar B. Medeiros às 22:10 1 comentários


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Art. 109 - Prescrição antes de transitar em julgado


a sentença

Art. 109 – A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,


salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-
se:
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e
não excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não
excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não
excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo
superior, não excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.
Prescrição das penas restritivas de direito.
Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os
mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.

A Prescrição é a perda do direito de punir o autor do fato pelo decurso do


prazo em que o delito poderia ter sido conhecido, ou a pena executada, pelo
Poder Judiciário. No direito penal, ela segue o escalonamento de prazos
previsto no artigo 109 do Código Penal e será tanto maior quanto for a pena

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máxima para o crime ou a pena fixada na sentença condenatória transitada
em julgado.

A exceção está nos crimes imprescritíveis. Previstos como tais na


Constituição Federal de 1988 (art. 5.º, incisos XLII e XLIV), a punição pela
prática do racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático não se submete aos prazos
previstos na Lei Penal.

À compreensão da prescrição no âmbito penal, contudo, recomenda-se


uma análise conjunta dos artigos 109 e 110 do Código Penal, notadamente
pela remissão que o primeiro faz ao segundo.

Da regra do caput do artigo 109 do Código Penal extrai-se como premissa


maior que, no cálculo da prescrição, a pena a ser considerada é a máxima
cominada ao crime pelo legislador.

Não será assim, contudo, quando após decurso da ação penal sobrevier
sentença condenatória transitada em julgado, pois, nesta hipótese, usa-se
como parâmetro a pena fixada pelo Juízo. Ainda, prazo prescricional pela
pena fixada em definitivo só valerá a partir da data do recebimento da
denuncia ou queixa, o que se verá no § 1.º do artigo 110.

Por fim, sem embargo à sua afetação processual, já que ontologicamente


vinculada ao exercício do direito de ação, a doutrina tem a prescrição como
direito material do autor, pois prevista no Código Penal. Daí é que se
sustenta o início da sua contagem como sendo um prazo de direito material,
que se conta, então, a partir do dia em que ocorrido o evento delituoso, sem
qualquer prorrogação quando de sua extinção.

Postado por Lenoar B. Medeiros às 22:09 0 comentários


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Art. 110 – Prescrição depois de transitar em


julgado a sentença final condenatória

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença


condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos
fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o
condenado é reincidente.

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§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em
julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-
se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por
termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

O artigo 110 e seu §1.º estabelecem um marco para aferição do prazo


prescricional individualizado ao fato delituoso em concreto, que será a pena
fixada na sentença condenatória transitada em julgado.

O caput disciplina o que a doutrina denomina prescrição da pretensão


executória. Depois de transitada em julgado a sentença condenatória (a que
se tornou definitiva por não haver mais recurso contra ela), não se fala mais
em prescrição do direito de ação, porquanto este restou tempestivamente
exercido, remanescendo, apenas, a pretensão quanto ao cumprimento da
pena. O prazo para exigir o cumprimento dela, então, rege-se pela
prescrição considerada a partir da pena fixada na decisão final.

O §1.º do artigo 110 do Código Penal, por seu turno, trata da prescrição
retroativa. Sobre ela, contudo, é forçoso reconhecer inicialmente que, na
recente alteração operada pela Lei n.º 12.234/10, o legislador não primou
pela melhor redação ao editar a norma.

Efetivamente, apesar de, numa primeira vista do referido dispositivo legal,


perceber-se que a prescrição retroativa entre o recebimento da denúncia e
a publicação da sentença condenatória se mantém porque a contrario
sensu foi vedada tal prescrição apenas para eventos anteriores à denúncia
ou queixa, uma leitura mais acurada da lei mostrará que o legislador pecou
pela falta de precisão quando da redação da norma. Isso, entretanto, será
comentado no final do tópico.

A matéria da prescrição retroativa sofreu importante alteração com a


publicação da Lei n.º 12.234/10, a partir da qual não mais se compreende
possível computar tal modalidade para eventos anteriores ao oferecimento
da denúncia ou da queixa, aplicando-se ela somente quando considerado o
prazo entre o recebimento da peça acusatória e a publicação da sentença
condenatória, pelas razões de interpretação já expostas.

Noutros termos, atualmente, a prescrição que corre entre a data do fato e a


do recebimento da denúncia ou queixa só pode ter por base a pena máxima

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cominada ao delito, nada mais importando, para nesse fim, a pena cominada
ao final do processo.

Disso não se pode concluir, contudo, que a prescrição não tem início antes
de recebida a denúncia ou queixa. Aqui a prescrição corre sim, mas pela
pena máxima cominada ao delito, seguindo fielmente a regra do artigo 109
e seus incisos.

Por seu turno, a prescrição pela pena projetada, em perspectiva ou virtual


(aquela em que, pelas características do fato praticado e situação do autor,
antes do início da ação já se imagina qual será a pena máxima aplicável ao
caso, para então verificar se houve prescrição retroativa), que era rechaçada
pelos Tribunais, por força da súmula 440 do Superior Tribunal de Justiça,
mas usualmente acolhida na justiça de primeiro grau, restou completamente
descartada com a revogação do §2.º do Código Penal.

Além disso, a alteração do tratamento dado à prescrição criou duas


situações a serem notadas pelo operador jurídico, já que, em sendo norma
mais gravosa, a Lei n.º 12.234/10 não regulamenta situações pretéritas, que
seguem regidas pela antiga redação do art. 110 e § 1.º do Código Penal,
assim como do seu revogado §2.º.

Tem-se então que, para os fatos praticados até 05 de maio de 2010 (um
dia antes da entrada em vigor da nova regra), a prescrição pela pena fixada
na sentença condenatória é aplicável ao período compreendido entre a data
do fato e a do recebimento da denúncia ou queixa (prescrição retroativa).
Visualizando-se possível em relação àqueles, também, a prescrição pela
pena projetada.

A prescrição dos fatos praticados a partir de 06 de maio de 2010 (data da


entrada em vigor da nova regra), por seu turno, segue pela pena máxima
cominada ao delito, isso quando considerado o período entre a data do fato
delituoso e a data do recebimento da denúncia ou queixa.

Sem embargo, mantém-se inalterado o tratamento dado à prescrição


retroativa ocorrida entre a data do recebimento da denúncia ou queixa e a
publicação da sentença condenatória, assim como a verificada a partir do
trânsito em julgado (prescrição da pretensão executória), pois, nas duas
situações, ela será regulada pela a pena fixada na sentença condenatória,
e não mais pela pena máxima prevista no tipo penal.

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Nas hipóteses dos artigos 109 e 110 do Código Penal, então, é possível
imaginar um quadro resumido para melhor entendimento da prescrição
retroativa, antes e depois da Lei n.º 12.234/10:

Fatos praticados antes da Lei n.º 12.234/10:

1.º Data do fato 2.º Data do recebimento da 3.º Data do trânsito em julgado
denúncia ou queixa

– Prescrição entre a data do fato – Prescrição entre o recebimento – Prescrição da pretensão


e a do recebimento da denúncia da denúncia ou queixa e a executória: a que corre a partir do
ou queixa. publicação da sentença trânsito em julgado da sentença
condenatória: condenatória, sendo o prazo
– Tem por base a pena fixada
dentro do qual o Estado pode
pelo Juízo quando do trânsito – Tem por base a pena fixada
exigir o cumprimento da pena.
em julgado (extinto § 2.º do pelo Juízo quando do trânsito em
artigo 110 do Código Penal). julgado (§ 1.º do artigo 110 do – Tem por base a pena fixada
Código Penal). pelo Juízo quando do Trânsito em
julgado (art. 110, caput, do
Código Penal).

Fatos praticados depois da Lei n.º 12.234/10:

1.º Data do fato 2.º Data do recebimento da 3.º Data do trânsito em julgado
denúncia ou queixa

– Prescrição entre a data do fato – Prescrição entre o recebimento – Prescrição da pretensão


e a do recebimento da denúncia da denúncia ou queixa e a executória: a que corre a partir do
ou queixa. publicação da sentença trânsito em julgado da sentença
condenatória: condenatória, sendo o prazo
– A possibilidade de retroagir a
dentro do qual o Estado pode
prescrição pela pena fixada no – Tem por base a pena fixada
exigir o cumprimento da pena.
caso para antes do recebimento pelo Juízo quando do trânsito em
da denúncia ou queixa foi julgado (§ 1.º do artigo 110 do - Tem por base a pena fixada pelo
descartada pela Lei n.º Código Penal). Juízo quando do Trânsito em
12.234/10, pois o § 1.º do art. julgado (art. 110, caput, do
110 do Código Penal impede o Código Penal).
uso de tal método nesta
hipótese. Assim, neste caso, a
prescrição corre pela pena
máxima cominada ao delito.

Obs¹: Outras causas interruptivas da prescrição, notadamente as previstas


no artigo 117 do Código Penal, podem ocorrer no curso do processo, não
se podendo considerar as situações acima descritas como regra geral
absoluta a todas as hipóteses de interrupção da prescrição.

Obs²: A prescrição intercorrente – a que corre perante os tribunais,


considera a pena fixada no caso concreto, fluindo entre a data da publicação

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da sentença condenatória recorrível e a da sessão do julgamento pelo
Tribunal.

Parte da doutrina sustenta que a inovação na matéria da prescrição não


quis apenas extinguir a prescrição retroativa que se admitia entre a data do
fato e a do recebimento da denúncia ou queixa, pois o texto atualmente em
vigor permite o entendimento de que houve uma revogação total acerca da
prescrição retroativa (incluída, também, aquela verificada entre o
recebimento da denúncia/queixa e a publicação da sentença). De outro lado,
a revogação parcial dessa modalidade de prescrição também violaria o
princípio da proporcionalidade, por não haver justificativa para uma
prescrição ser mais severa durante a investigação policial e mais branda
quando do processamento da ação penal e da aplicação da pena[1].

Por fim, outra a crítica à redação do referido dispositivo legal:

Ao tentar restringir a incidência da prescrição retroativa, vedando-a em face


de eventos anteriores à denúncia ou queixa, em uma exegese
lógica/gramatical do dispositivo, a forma como foi redigida acaba por
esvaziar tal objetivo.

Isso porque, como está escrita, ela recusa incidência da prescrição


retroativa para eventos anteriores à denúncia ou queixa apenas quando
estes não ocorrerem, ou seja, tão somente quando a hipótese
for nenhuma. Explico.

Eis a redação atual do §1.º do artigo 110 do Código Penal:

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em


julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se
pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo
inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

O destaque em negrito foi proposital e dele se conclui que, como dito antes,
em face de eventos anteriores à denúncia ou queixa (entre a data do fato e
o recebimento da denúncia ou queixa), a prescrição retroativa pela pena
aplicada não se opera quando não incidirem as hipóteses que a autorizam.

É que, tendo o legislador empregado a expressão nenhuma, que mantém


relação antagônica, assim como de negação, comalguma, deve se
reconhecer que, quando alguma hipótese de prescrição ocorrer, não se

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poderá opor a ela a proibição de incidência da prescrição retroativa contida
no referido texto legal, justamente porque já não se trata de nenhuma
hipótese, sendo, então, alguma hipótese específica.

Com efeito, a interpretação lógica/gramatical das premissas contidas no §


1.º do artigo 110 do Código Penal impede sua incidência nos moldes que,
aparentemente, foi pretendido pelo legislador, já que ele acaba negando os
efeitos da prescrição retroativa a partir do fato delituoso (diz que não pode)
apenas quando não houver hipóteses de incidência, ou seja, em nenhuma
hipótese.

Efetivamente, o legislador nega a eficácia da prescrição retroativa apenas


em face de um campo vazio de hipóteses de prescrição, acontrario sensu,
havendo uma hipótese, poderá esta ter por termo inicial data anterior à
denúncia ou queixa.

Em mesmo sustentando que ao dizer “nenhuma” o legislador quis empregar


o sentido de “nem uma hipótese” ou “sequer em uma hipótese”, ainda assim
isso não impede a conclusão que a partícula anterior (“...não podendo...”)
recusaria justamente vigor da conjunção “nem” ou do advérbio “sequer”,
pelo que, também por esse aspecto, se afiguraria plenamente possível a
incidência da prescrição retroativa a fatos anteriores à denúncia ou queixa,
como é o delito em si mesmo considerado.

De outro lado, caso o legislador pretendesse, efetivamente, vedar a


incidência da prescrição retroativa para eventos anteriores à denúncia ou
queixa, andaria muito melhor se utilizasse e expressão “... não podendo,
em qualquer hipótese...” ou “... não podendo, em hipótese
alguma...”, dando ao texto legal a seguinte redação:

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em


julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se
pela pena aplicada, não podendo, em qualquer hipótese (ou hipótese
alguma), ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

Contudo, por não ser tão claro como parece que deveria ter sido, o
legislador transfere-se ao jurista a árdua tarefa de encontrar o exato sentido
da norma, assim como a medida adequada do direito de punir do Estado em
face do direito de liberdade do cidadão.

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Apesar de ainda não ter encontrado doutrina a respeito do tema em
particular, compreendo que, por sua relevância, a crítica à redação da norma
não poderia passar em branco.

[1] JESUS, Damásio Evangelista de. Extinção da Prescrição Retroativa, in Revista Magister
de Direito Penal e Processual Penal, Edição 37 AGO/SET 2010.

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