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10. ATUALIDADE DA TEOLOGIA PROFÉTICA

As pessoas que desconhecem os escritos proféticos, ao ouvi-los têm a nítida impressão


de alguém que fez uma análise da realidade atual. Pois, eles dirigem palavras duras contra os
reis, príncipes de Israel e Judá, de juízes, magistrados, comerciantes, sacerdotes e profetas, o
povo, não poupando ninguém. É a constatação de que o ser humano não evoluiu, antes,
regrediu e tornou-se mais sutil e refinado na prática do mal, conquistando formas, mais
sofisticadas e poderosas, motivadas pela ganância do: ter mais, de poder, de status, de fama,
de prazer, com uma ambição ilimitada, desrespeitando os direitos constitucionais e a
dignidade humana.

O anuncio e a denúncia das injustiças sociais

O anúncio da Palavra de Deus, pelos profetas é muito intensa, e constante junto ao


povo, as autoridades, os comerciantes que exploravam e não praticavam o direito e a justiça:
“Ouvi, pois, isto, chefes da casa de Jacó e dirigentes da casa de Israel, vós que execrais a
justiça, que torceis o que é direito, vós que edificais Sião com o sangue e Jerusalém com a
injustiça! Seus chefes julgam por suborno, seus sacerdotes decidem por salário e seus
profetas vaticinam por dinheiro” (Mq 3,9-11).

Amós denuncia a injustiça cometida na casa de Israel, contra os pobres: “Porque


vendem o justo por dinheiro e o indigente por um par de sandálias. Eles esmagam sobre o pó
da terra a cabeça dos fracos e tornam torto caminho dos pobres; um homem e seu pai vão à
mesma jovem para profanar o meu santo nome. Eles se estendem sobre vestes penhoradas,
ao lado de qualquer altar, e bebem vinho daqueles que estão sujeito a multas, na casa de seu
deus” (Am 2,6-8).

Entre as maldições que o profeta Isaías profere contra os habitantes de Jerusalém: “Ai
dos que se apegam à iniquidade, arrastando-a com as cordas da mentira... Ai dos que ao mal
chamam bem e ao bem mal, dos que transformam as trevas em luz e a luz em trevas, dos que
mudam o amargo em doce e o doce em amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios
olhos e inteligentes na sua própria opinião... Ai dos que absolvem o ímpio mediante suborno e
negam ao justo sua justiça!” (Is 5,18.20.22-23).
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Do mesmo modo Jesus denuncia constantemente a hipocrisia e vaidade dos escribas e


dos fariseus: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus
diante dos homens! Porque vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que querem! Aí de
vós hipócritas que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito... Ai de vós condutores
de cegos... Ai de vós que pagais o dízimo da hortelã, do gominho e do endro, mas omitis as
coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Importava praticar
estas coisas sem omitir aquelas. Ai de vós hipócritas que limpais o exterior do copo e do prato,
mas por dentro estais cheios de rapina e de intemperança... Ai de vós... sois semelhantes a
sepulcros caiados que por fora parecem belos, mas por dentro são cheios de ossos de mortos
e de toda a podridão. Ai de vós... que edificais os túmulos dos profeta e enfeitais os sepulcros
dos justos....” (Mt 23,13-32).

Denunciam o falso culto a Deus

Não escapam à crítica dos profetas o falso culto, o banquete sagrado, que seguia
depois dos sacrifícios oferecidos a “seu deus”, trata-se sem dúvida do Deus de Israel, que foi
rebaixado ao nível dos ídolos pagãos, porque ele é honrado com bens tirados dos pobres e
infelizes, sob a aparência de legalidade: multa ou confisco dos bens de devedor que não pode
pagar.

Jeremias denuncia de todo o tipo de crimes praticados pela sociedade: “Não é assim?
Roubar matar, cometer adultério, jurar falso, queimar incenso a baal, correr atrás de deuses
estrangeiros, que não conheceis, depois virdes e vos apresentardes diante de mim neste
templo, onde o meu nome é invocado , e dizer: “Estamos salvos”, para continuar cometendo
essas abominações! Este templo onde meu nome é invocado, será por ventura um covil de
ladrões a vossos olhos? Mas eis que também eu vi, oráculo do Senhor” (Jr 7,9-11). O profeta
não tolera incoerência de vida, pois, estão conscientes de suas contradições, pecados, e
continuam oferecendo sacrifícios, ofertas e culto a Deus, como se não fosse necessário viver
de acordo com a fé que professa.

Jesus retoma o profeta Jeremias e confirma no seu tempo, que o lugar sagrado
reservado ao seu Pai é para a oração, pois, nele se manifestava a sua glória, e no, entanto
este lugar havia sido transformado, numa casa de comércio, em “um covil de ladrões” (Mt
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21,12-13). Mas, a esperança de conversão e mudança é a palavra mais forte, pronunciada


pelos profetas e por Jesus Cristo.

Anuncia esperança, a misericórdia e o perdão

Mesmo que os profetas e Jesus não fossem condescendentes com as injustiças, a


desigualdade social, a exploração do povo pobre e sofrido, sinais visíveis da transgressão da
aliança, sofressem as consequências de sua infidelidade, se arrependiam e retomavam o
caminho para Deus, foram acolhidos no perdão e na misericórdia de Deus anunciada por meio
dos profetas: “Volta ao Senhor teu Deus, pois tropeçaste em tua falta. Tomai convosco
palavras e voltai ao Senhor e dizei-lhe: “Perdoa toda a culpa, aceita o que é bom. Em lugar de
touros nós queremos oferecer nossos lábios. A Assíria não nos salvará, não montaremos a
cavalo e não diremos mais “nosso Deus! À obra de nossas mãos, porque é em ti que o órfão
encontra misericórdia”. Diz o Senhor que curará a apostasia deles e os amará com
generosidade, pois a sua ira afastou-se dele (cf. Os 14,2-5).

A atitude, a prática e os ensinamentos de Jesus sobre a misericórdia e o perdão são


constantes até mesmo ao ser pendurado na cruz, profere o seu ato de amor extremo e toma a
atitude mais radical diante maior injustiça, da paixão mais violenta e cruel a que foi
submetido: “Chegando ao lugar da caveira, lá o crucificaram, nem como os malfeitores, um à
direita e outro à esquerda. Jesus dizia: Pai perdoa-lhes: não sabem o que fazem” (Lc 23,33-
34).
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Conclusão

A Teologia Bíblica Profética é um tema muito amplo. Seria impossível abordá-lo em


profundidade em tão poucas páginas. A pesquisa apresentou os profetas situados no seu
contexto histórico, com os problemas próprios e específicos de cada período, seguido do
posicionamento dos profetas à luz da realidade do seu período. Contemplou-se também a
releitura que foi feita de cada profeta seja no Primeiro quanto no Segundo Testamento com os
enfoques que foram retomados de diferentes contextos e iluminadores no novo contexto em
que foram inseridos.

As grandes visões ou intuições dos profetas sobre o Deus são a experiência do Deus
Um, do Deus santo, do Deus justo, do Deus que vem em defesa dos pobres, pequenos e
indefesos, do Deus que é misericórdia e perdão, revelado até o ato supremo de entrega e
abandono do seu Filho Jesus.

O que faz com seja indiscutível a atualidade da Teologia Bíblica Profética, numa
sociedade que anda doente pelas injustiças, pela ganância dos grandes e poderosos, pela
manipulação da verdade, pela falsidade dos que são capazes de brincar de fazer de justiça e,
no entanto agem por suborno, vaidade, por prepotência, cujas leis são eles próprios.

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