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III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010

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ANÁLISE DE DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS E AMBIENTAIS NA


CIDADE DO RECIFE E A DENGUE NO PERÍODO: 2000-2006
LORENA IUMATTI SIQUEIRA CARNEIRO
ANA LÚCIA BEZERRA CANDEIAS

Universidade Federal de Pernambuco - UFPE


Centro de Tecnologia e Geociências - CTG
Departamento de Engenharia Cartográfica, Recife, PE
lorena.iumatti@gmail.com;analucia@ufpe.br

RESUMO – Este trabalho mostra um estudo na cidade do Recife sobre o desenvolvimento da dengue
com abordagem SIG. Foram obtidos o número de casos de dengue por bairro, para os anos de 2000 a
2006. Também foram usados dados sócio-econômicos e ambientais para mapeamento da dença.

ABSTRACT – This work presents a study of Recife town about dengue disease with GIS approach.
Number of Dengue case during 2000 to 2006, socio-economic and environmental data is used to mapping
this disease.

1 INTRODUÇÃO necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em


conseqüência da doença.
O SIG facilita a análise e o planejamento das Para se montar um SIG sobre o tema proposto é
ações de controle, uma vez que permite a visualização na necessário conhecer como a dengue é transmitida e como
forma de mapas dos casos registrados das doenças e a é feita a sua disseminação nas áreas urbanas. Além disso,
delimitação das áreas a serem trabalhadas. Outro aspecto a obtenção de tabelas de casos de dengue na área
importante do uso desses sistemas é o armazenamento de analisada, e dados afins bem como dados
outras informações que, cruzadas, podem explicar o georreferenciados serão importantes na análise.
comportamento da doença e a partir do resultado, apontar A dengue é causada por um vírus e transmitida
soluções para o combate eficaz. pela picada de um mosquito, o Aedes aegypti. Há dois
No que diz respeito às doenças transmitidas por tipos de dengue: a clássica e a hemorrágica. Os
vetores, grupo no qual se situa a dengue, são utilizados transmissores de dengue, principalmente o Aedes aegypti,
tradicionalmente mapas tanto para avaliações que pica durante o dia, proliferam-se dentro ou nas
epidemiológicas como principalmente, para respaldar as proximidades de habitações em qualquer recipiente com
atividades de controle. O mapa é necessário para que se água limpa. As bromélias, que acumulam água na parte
faça o planejamento de ações, bem como para que o central, também podem servir como criadouros. A
pessoal de campo saiba a localização e a delimitação da transmissão da dengue é mais comum em cidades.
área onde serão realizadas as atividades de controle (Lima O mosquito transmissor da Dengue prefere o
et al, 2009 ) . ambiente urbano, sendo raro encontrá-lo em florestas. Por
A criação um SIG que permita a integração e o causa disso, geralmente limita sua atuação aos cômodos e
armazenamento dos dados convencionais existentes e sua residências próximas ao local de sua eclosão.
espacialização contribuirão para tomada de decisões mais O mosquito percorre uma área de raio de
adequadas a fim de conter a endemia. O SIG facilitará o aproximadamente 500 metros, exceto quando é
planejamento e a avaliação das ações de controle, transportado por veículos.
tornando possível a visualização dos resultados das ações Após a postura dos ovos pela fêmea, a
através de mapas. Os fatores de risco ou associação e os milímetros acima do nível da água, tem início o período
casos da doença são cruzados para tentar explicar o de incubação dos ovos. Em condições ideais a incubação
comportamento da endemia e encontrar as melhores dura de 2 a 3 dias, porém os ovos podem se manter
estratégias de combate. viáveis até um ano. O desenvolvimento embrionário é
A dengue é um dos principais problemas de influenciado pelas condições de temperatura e umidade.
saúde pública no mundo. A Organização Mundial da Com o aumento das chuvas, o nível da água sobe,
Saúde (OMS) estima que 80 milhões de pessoas se possibilitando a eclosão dos ovos postos meses antes.
infectem anualmente. Cerca de 550 mil pessoas No Brasil, as condições socioambientais são
favoráveis à expansão do mosquito transmissor da
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doença, o que possibilita a dispersão desse vetor. Além 1.1 Município de Recife-PE
disso, os métodos tradicionalmente empregados no
combate às doenças transmitidas por vetores, No estado de Pernambuco, o município de Recife
essencialmente centrados no combate químico, sem faz parte dos municípios prioritários. O levantamento total
participação da comunidade, sem integração inter-setorial de casos de dengue entre os anos de 2000 a 2006 estão no
e com pequena utilização do instrumental epidemiológico gráfico 1.1.
mostraram-se incapazes de conter o vetor ( MS 2009).
A elaboração de programas permanentes, o Casos de Dengue por Ano (2000 a 2006)
desenvolvimento de campanhas de informação e de
45000
mobilização das pessoas e o fortalecimento da vigilância 40000
epidemiológica e entomológica para ampliar a capacidade 35000

N° de Casos
de predição e de detecção precoce de surtos da doença são 30000
25000
algumas das estratégias adotadas pelo Ministério da 20000
Casos de Dengue
Saúde no controle a doença. 15000
O Programa Nacional de Controle da Dengue 10000
5000
(PNCD) caracteriza as áreas do país de acordo com a taxa 0
de incidência: 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ano
· Áreas de baixa incidência: regiões, estados ou Gráfico 1.1 – Casos de Dengue por Ano no Município de
municípios com taxa de incidência menor que 100 Recife. Fonte: Secretaria de Vigilância de Saúde
casos por 100.000 habitantes;
Recife é a capital do Estado de Pernambuco e
· Áreas de média incidência: regiões, estados ou situa-se no litoral nordestino. Ocupa uma posição central,
municípios com taxa de incidência entre 100 e 300 a 800 km das outras duas metrópoles regionais, Salvador
casos por 100.000 habitantes; e Fortaleza, disputando com elas o espaço estratégico de
influência na Região. Seu clima quente e úmido, de
· Áreas de alta incidência: regiões, estados ou municípios temperatura média de 25,2°C favorece a proliferação do
com taxa de incidência maior que 300 casos por mosquito transmissor da dengue.
100.000 habitantes. Com uma área de aproximadamente 219,493
km², sua composição territorial é de 67,43% de morros
(Chãs/ Tabuleiros e Colinas), 23,26% de planícies, 9,31%
O PNCD encontra-se implantado em todos os de zona aquática (Litorânea e Baixo Estuário) e 5,58% de
municípios brasileiros. No entanto, tendo em vista os Zonas Especiais de Preservação Ambiental – ZEPA
aspectos populacionais e epidemiológicos foi selecionado (Figura 1(a)).
um grupo de municípios prioritários, definidos segundo O município é composto por 94 bairros, dividida
os critérios: capitais de estados e suas regiões político administrativamente em seis distritos sanitários
metropolitanas, municípios com população igual ou (Regiões Político-Administrativas – RPA-1; RPA-2;
superior a 50000 habitantes e municípios com risco de RPA-3; RPA-4; RPA-5; RPA-6) distribuídos nas regiões
introdução de novos sorotipos de dengue ( MS – Controle centro, norte, noroeste, oeste, sudoeste e sul,
da Dengue no Brasil). respectivamente (PCR) (Tabela 1 e Figura 1 (b)).

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(a) Mapa 1.1 – Ambientes no Município de Recife. (b) Mapa 1.2 – Divisão da Cidade do Recife
por Distritos Sanitários.
Figura 1 – Representação dos ambientes e a divisão dos distritos sanitários no Município de Recife.

Tabela 1 – Divisão Político – Administrativa do município de Recife.

DISTRITO SANITÁRIO I DISTRITO SANITÁRIO II DISTRITO SANITÁRIO III


(RPA – 1) (RPA – 2) (RPA – 3)
Aflitos, Alto do Mandu, Apipucos, Derby,
Dois Irmãos, Espinheiro, Graças, Jaqueira,
Arruda, Campina do Barreto, Campo Grande, Monteiro, Parnamirim, Poço, Santana,
Boa Vista, Cabanga, Coelhos, Ilha Encruzilhada, Hipódromo, Peixinhos, Ponto Sítio dos Pintos, Tamarineira, Alto José
Joana Bezerra, Ilha do Leite, de Parada, Rosarinho, Torreão, Água Fria, Alto Bonifácio, Alto José do Pinho, Mangabeira,
Paissandu, Recife, Santo Amaro, Santa Terezinha, Bomba do Hemetério, Morro da Conceição, Vasco da Gama,
Santo Antônio, São José e Soledade. Cajueiro, Fundão, Porto da Madeira, Beberibe, Brejo da Guabiraba, Brejo de Beberibe,
Dois unidos e Linha do Tiro. Córrego do Jenipapo, Guabiraba,
Macaxeira, Nova Descoberta, Passarinho,
Pau Ferro, Casa Amarela e Casa Forte.

DISTRITO SANITÁRIO IV DISTRITO SANITÁRIO V DISTRITO SANITÁRIO VI


(RPA – 4) (RPA – 5) (RPA – 6)
Cordeiro, Ilha do Retiro, Iputinga, Afogados, Areias, Barro, Bongi, Caçote,
Madalena, Prado, Torre e Zumbi, Coqueiral, Curado, Estância, Jardim São Paulo, Boa Viagem, Brasília Teimosa, Cohab,
Engenho do meio, Torrões, Caxangá, Jiquiá, Mangueira, Mustardinha, San Martin, Ibura, Imbiribeira, Ipsep, Jordão e Pina.
Cidade Universitária e Várzea. Sancho, Tejipió e Totó

A cidade do Recife tem 1.422.905 habitantes, da cidade com 90,68 hab/ha. A região menos densa é a
segundo o Censo Demográfico 2000 do IBGE, onde noroeste – RPA 3 (36,38 hab/ha) o que se explica pela
24,9% situa-se na Região Sul – RPA 6, que é a mais presença das matas da Guabiraba / Pau Ferro, Sítio dos
populosa do Recife. Em situação inversa encontra-se a Pintos e Dois Irmãos.
RPA 1, com apenas 5,5% da população da cidade; fato A densidade domiciliar (habitantes por
explicado por ser a região que concentra o centro domicílio) apresenta-se de maneira equilibrada na cidade,
tradicional de comércio e serviços da cidade e o menor variando de 3,52 a 3,93 hab/dom.
número de domicílios representando, no conjunto da Dentro do macrozoneamento, estabelecido pela
cidade, 5,9%. Lei 16.176/96 – Lei de Uso e Ocupação do solo em vigor,
A RPA 2 é a mais densa da cidade 144,05 são estabelecidas Zonas de Diretrizes Específicas – ZDE.
habitantes por hectare cuja população de 205.986 Neste estudo, será levado em consideração apenas as
habitantes, ocupa fortemente os morros da zona norte. A Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, que
ocupação de morros, contribuindo para o adensamento da apresentam as seguintes características:
cidade, se repete na RPA 6, que é a segunda mais densa

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- Áreas de assentamentos habitacionais da gerada a partir dos dados da PCR/SEPLAM/DEAM e foi


população de baixa renda, surgidos espontaneamente, usada para fazer comparações com o número de casos de
existentes, consolidados ou propostos pelo poder público, dengue, como será mostrado na metodologia.
onde haja possibilidade de consolidação fundiária. A quantidade de ZEIS e áreas pobres na cidade é
importante, por causa da tendência desses lugares de ter
Existem 393 áreas pobres na cidade do Recife, uma densidade populacional maior. Como o mosquito
segundo levantamento feito pela URB-Recife. A maioria transmissor da dengue prefere ambientes urbanos, é
destes localiza-se na RPA 3 – região noroeste – 28,50 e na possível que haja uma associação entre a quantidade de
RPA – 6 – região sul – 23,41%. O IBGE considera como casos de dengue em um bairro e a área total ocupada pela
favelas apenas 64 destes assentamentos, que população de baixa renda. Assim como, a área verde
correspondem integralmente a um setor censitário e disponível em cada bairro, deveria afastar o mosquito, já
totalizam uma população de 124.064 habitantes, ou 9,22% que este prefere os ambientes urbanos.
da população do Recife (para o ano de 1996). Para o O trabalho consiste em analisar os fatores
IBGE 27% da população favelada encontra-se na RPA 5. disponíveis a fim de caracterizar um ambiente mais
A região centro tem 30,4% de sua população residente em propício para a proliferação da Dengue e aplicar políticas
favela. É importante esclarecer que o IBGE considera de prevenção.
como favela o “conjunto constituído por mais de 50
unidades habitacionais, ocupando ou tendo ocupado, até Tabela 2 – Tabela que Armazena a Densidade de
período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou Vegetação por Habitante para Cada Bairro.
particular), dispostas em geral, de forma desordenada e
densa; e carentes, em sua maioria, em serviços públicos
essenciais”.
As ZEIS correspondem a 66 áreas (Figura 2),
que totalizam uma população estimada de 636.699
habitantes, o que corresponde a 47,30% da população do
Recife, ocupando uma área de 2.617,41ha ou 11,91 da
área total do município. As regiões que têm a maior
população em ZEIS são RPA 2 (133.838), RPA 3
(151.643) e RPA 5 (121.422), o que corresponde a mais
de 60% da população da RPA 2 e mais de 50% da
população das outras duas regiões.

Figura 2 – Localização das ZEIS

A Lei Orgânica e o Plano Diretor exigem 12m² de


área verde por habitante; a cidade encontra-se bem abaixo
deste índice (1,4m²/hab). A tabela 2 mostra a quantidade
de área verde por habitante (m²/hab) para cada bairro e o Figura 3 – Índice de Vegetação por habitante por Bairro
Figura 3 mostra os dados e forma de mapa. Essa tabela foi

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2. METODOLOGIA DO TRABALHO lixo pode gerar ambientes (aquários) propícios para a


postura dos ovos do mosquito, principalmente no período
Para a realização deste estudo, foi usado um de chuvas. A falta de abastecimento de água faz com que
computador com processador Pentium 4, 2.8 GHz, com as pessoas armazenem água em reservatório que também
sistema operacional Windows XP Home Edition, sp3. O tem alto potencial para o desenvolvimento dos mosquitos.
programa usado para fazer as análises espaciais foi o Nesta fase, então foram obtidos o número de
ArcGIS 9.2. casos de dengue por bairro, entre os anos de 2000 a 2006
A metodologia do trabalho consistiu em quatro através da SVS, número de áreas pobres e ZEIS no
etapas, sendo elas o estudo teórico, o levantamento dos município, fatores sociais sobre cada bairro e índice de
dados, a modelagem e armazenamento dos dados e o vegetação por habitante por bairro. Também foram
desenvolvimento dos relatórios para a apresentação dos obtidos arquivos shapes através do IBGE e alguns usados
resultados. em disciplinas acadêmicas.
O estudo teórico foi realizado durante todo o A fase seguinte à coleta dos dados foi a
período de desenvolvimento do projeto (agosto de 2008 a modelagem e o armazenamento dos dados. O
julho de 2009), mas teve atenção especial entre os meses armazenamento foi feito em forma de tabelas, usando
de agosto de 2008 a janeiro de 2009. O estudo foi feito como identificador comum o código do bairro (coluna
através de artigos publicados em Anais, teses, sites de CODIGO).
campanha contra dengue e resultados dos levantamentos No shape Bairros, foram criadas 6 colunas na
de dengue registrados pelo Governo. Essas fontes tabela de atributos (tabela 3). A coluna NOME contém o
serviram para obter o levantamento dos casos da doença e nome do bairro, a coluna CODIGO contém o código do
ver seu comportamento no Brasil e em Pernambuco. Para bairro determinado pela Prefeitura da Cidade do Recife –
saber sobre a situação social do município de Recife, a PCR, a coluna POPULACAO contém a população para o
fonte foi basicamente o Atlas do Desenvolvimento ano de 2000, a coluna AREA contém a área de cada
Humano do Recife. O Atlas apresenta o levantamento bairro, a coluna densidade contém a DENSIDADE
mais recente sobre os aspectos populacionais e regionais populacional e a coluna Distrito_S contém o distrito
do município. Nesta fase também foi necessário estudar sanitário em que cada bairro está contido.
sobre cartografia temática, afim de representar, da melhor
maneira possível, os resultados das análises em forma de Tabela 3– Tabela de atributos do shape Bairros
mapas. Houve ainda o estudo sobre sistemas de projeção
cartográfica, e o uso de dados vetoriais e raster, para o
melhor aproveitamento das mais diversas formas de
apresentação de resultados que foi usada para este estudo.
Durante a fase do estudo teórico, foi possível ver
como é a situação da dengue no Brasil como um todo,
concentrando a atenção para o estado de Pernambuco.
Para a aquisição dos dados anuais sobre a Dengue no
Recife, foi necessário pedir à Secretaria em Vigilância em
Saúde e o pedido foi atendido pelo senhor Secretário de
Vigilância em Saúde Gerson Penna. Obter os dados de
dengue não foi uma tarefa simples. Foi necessário pedir a
vários órgãos municipais até conseguir os dados apenas
com a SVS.
A fase do levantamento e aquisição dos dados foi
sem dúvida a mais problemática. Além da dificuldade
com o número de casos de dengue por bairros do
município de Recife, que são os dados mais importantes
da pesquisa, não foi possível obter outros dados. Para o Para armazenar o número de casos de dengue por ano por
estudo, segundo algumas bibliografias consultadas bairro, foi criada uma tabela chamada DengueBairros no
durante o estudo teórico, o número de casos de dengue formato .dbf (database format) com 15 colunas (tabela 4).
pode ter ligação com o índice de pluviosidade mensal, A primeira coluna (CODIGO) é necessária para fazer a
clima na região e com abastecimento de água, tratamento ligação desta tabela com a tabela de atributos do shape
de esgoto e coleta de lixo. Bairros. Ela corresponde ao código do bairro. As colunas
Não foi possível obter os dados sobre o DENGUE2000, DENGUE2001, DENGUE2002,
atendimento dos serviços básicos (coleta de lixo, DENGUE2003, DENGUE2004, DENGUE2005 e
abastecimento de água e tratamento de esgoto) nos bairros DENGUE2006 armazenas o número de casos de dengue
em casa ano, para poder comparar as regiões sem esses por bairro em cada ano. Para analisar se o bairro foi
serviços com o número de pessoas infectadas pela contaminado significativamente pela dengue, foi preciso
dengue. Segundo bibliografia consultada, o acúmulo de
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fazer uma modelagem dos dados brutos (número de casos IBGE e a coluna total Total armazena o valor total de
por ano por bairro). zonas de pobreza.
A modelagem foi feita com base no padrão do
PNCD, que afirma que são área de baixa incidência Tabela 4 – Número de Casos de Dengue e Índice de
regiões com taxa de incidência menor que 100 casos por Casos por Bairro por Ano
100.000 habitantes, áreas de média incidência regiões
com taxa de incidência entre 100 e 300 casos por 100.000
habitantes e áreas de alta incidência regiões com taxa de
incidência maior que 300 casos por 100.000 habitantes.
Para gerar as taxas de incidência por bairro, foi criada
uma fórmula, através de regra de três simples, como
segue abaixo:
Se para cada 100000 habitantes, o número máximo
de casos é 300, para cada mil habitantes, o número
máximo é 3.
Tabela 5 – Tabela que Armazena as Áreas Pobres no
100.000 -------- 300 Então: x = 300*1.000 / 100.000 Município
1.000 -------- x x = 3 casos

Para encontrar a taxa de incidência:

População do bairro ------ n casos


1.000 ------ y

Então: y = n * 1.000 / População do bairro

Se n < 1, o bairro teve baixa incidência


Se 1 < n <3, o bairro teve média incidência e
Se n >3, o bairro teve alta incidência.

Foram geradas então as colunas 2000P, 2001P,


2002P, 2003P, 2004P, 2005P e 2006P, a partir da fórmula
1. Para usar os dados sobre população, foi feita uma
ligação entre a tabela de atributos do shape bairros e a
tabela DengueBairros.

Para a análise espacial dos casos de dengue,


como não foi possível o acesso às coordenadas onde
foram notificados os doentes, foi gerado um shape com os
centróides de cada bairro e a esses centróides foram
associados o número de casos do bairro. Depois de feita a
associação, foi feita uma interpolação pelo método De posse das tabelas, foi possível cruzar os
Inverso da Distância, para cada ano, para identificar de dados e analisar as ligações entre os casos de dengue e
melhor maneira a distribuição dos casos. fatores externos.
Como as áreas pobres são lugares de densidade A próxima etapa foi elaborar os relatórios para o
populacional mais alta, foi criada uma tabela (tabela 5) Pibic e para o Conic, divulgando os resultados obtidos na
chamada ZonasPobres em formato .dbf quantificando o pesquisa.
número dessas regiões por bairro. Nessa tabela foram
criadas quatro colunas, além da coluna CODIGO que é
fundamental para a ligação entre as tabelas geradas e a 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
tabela de atributos do shape Bairros. A coluna FAVELAS
quantifica o número de favelas no bairro, de acordo com o Com a modelagem e o armazenamento dos casos
Censo 2000, a coluna ZEIS armazena o número de Zonas de dengue e dos outros fatores que foram citados acima,
de Interesse Social em cada bairro, também de acordo foram gerados gráficos e mapas temáticos afim de mostrar
com o IBGE. A coluna AreaPobre armazena a quantidade da maneira mais clara o comportamento da dengue nos
de áreas pobres em cada bairro, também de acordo com o anos entre 2000 e 2006. A tabela 6 mostra o índice de
casos por distritos. As cores de cada célula representam o
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estado de contaminação do distrito de acordo com os está com uma taxa de contaminação baixa. A Figura 4
parâmetros da PNCD. Assim, a cor vermelha significa mostra a evolução da doença em cada Região Político-
que o distrito está com uma alta taxa de contaminação, a Administrativa.
cor amarela significa que o distrito está com uma taxa de
contaminação média e a cor verde significa que o distrito

Tabela 6 – Análise nos distritos no período de 2000 – 2006

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006


DISTRITO 1 7.43 11.06 38.35 39.40 1.23 1.70 2.16
DISTRITO 2 2.01 1.43 29.94 40.53 0.79 2.11 2.67
DISTRITO 3 1.31 0.68 28.65 27.95 0.36 1.21 2.91
DISTRITO 4 1.30 1.75 23.11 15.21 0.33 1.13 2.12
DISTRITO 5 1.38 4.29 27.73 38.61 1.14 1.13 2.18
DISTRITO 6 1.70 1.50 26.97 24.10 0.34 0.94 1.71

É possível perceber que no ano 2002 houve uma explosão


do número de casos de dengue. Além disso, nota-se que
não há um distrito que seja sempre o mais afetado pela
doença. Isso mostra que o estudo deve ser mais detalhado,
portanto será considerado o número de casos por bairros e
não mais por distritos.
Através do método de interpolação Inverso da
Distância foram gerados mapas temáticos que mostram o
comportamento da dengue em cada ano (Figura 5).
Com o uso da tabela 1 foi possível gerar o mapa da
Figura 3, que retrata a distribuição de área verde nos
bairros do Recife. Este mapa foi cruzado com o resultado
obtido na figura 5. O resultado é mostrado na figura 5.
Nota-se que nos bairros em que a vegetação é
pouca o índice da doença é maior em relação aos bairros
em que há grande quantidade de vegetação. Os picos não
se localizam apenas nas regiões com pouca vegetação,
mas nestas regiões sempre aparecem picos. É possível ver
os picos porque estes se apresentam como circunferências
de cores mais claras.
A partir da tabela 7 foi gerado um mapa ilustrando
a distribuição das áreas pobres no Recife (Figura 7). Foi
feita uma classificação a partir da quantidade de zonas
pobres em cada bairro. Os bairros foram divididos em
cinco classes. Os bairros sem nenhuma área de baixa
renda, os bairros com até 5 áreas, os bairros com até 10
áreas, os bairros com até 20 áreas e os bairros com mais
de 20 zonas pobres.
Figura 4 - Casos de dengue nas RPA´s dos municípios de
Recife 2000-2006

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Figura 5 – Distribuição do Número de Casos de Dengue Figura 7 – Vegetação x Casos de Dengue


no Município entre os Anos 2000 e 2006

Figura 8 – Zonas Pobres x Casos de Dengue.

4. CONCLUSÕES
Figura 6 – Classificação dos Bairros quanto ao Número
de Áreas de Baixa Renda Os casos de dengue no município de Recife podem
ser explicados pelo adensamento populacional e pela falta
de vegetação na área urbana.
Mais uma vez foi feito um cruzamento de O resultado do trabalho poderia ter sido melhor se
informações. O resultado obtido na figura 45 foi cruzado houvesse o acesso às informações sobre pluviosidade,
com o resultado obtido na Figura 7. O resultado está clima e serviços essenciais ao bem estar da população.
mostrado na figura 8. Serviços como saneamento, coleta de lixo de
Como era esperado, nas áreas onde a concentração abastecimento de água são importantes para a população e
populacional é elevada o número de casos de dengue é evitam doenças em geral. No caso da dengue não é
maior, porque, como já foi comentado, o Aedes aegypti se diferente.
prolifera em ambientes urbanos.

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É possível observar que no ano de 2002 houve um — ISSN 1808-6993 www.fafibe.br/revistaonline —


forte crescimento no número de infectados pela dengue, Faculdades Integradas Fafibe — Bebedouro – SP
mas infelizmente os dados disponíveis não permitem
identificar a causa desse aumento.
A falta de acesso aos dados dificultou bastante o
desenvolvimento do projeto, mas os resultados obtidos
são satisfatórios. Os resultados comprovam as pesquisas
feitas com relação ao modo de vida do mosquito
transmissor da doença e torna previsível sua área de
atuação.

AGRADECIMENTOS

A bolsa PIBIC/UFPE/CNPq e ao projeto Sistema de


Aquisição e Processamento de Imagens de Ovitrampas –
SAPIO-FINEP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Prefeitura da Cidade do Recife


http://www.recife.pe.gov.br acessado em 18/10/2008

Lima, V. L. C.;Carmo, R. L.;Andrade, V. R.;Restitutti, M.


C.;Silveira, N. Y. J. Controle Integrado da Dengue
Utilizando Geoprocessamento – Relatório Final.
Disponível em:
http://www.nepo.unicamp.br/textos_publish/pesquisadore
s/Roberto%20do%20Carmo/projetos/roberto/relatorio_fin
al_fapesp.pdf. Acessado em agosto de 2009.

Atlas do Desenvolvimento Humano no Recife – Atlas


Municipal 2005. Obtido no site da Prefeitura da Cidade
do Recife.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em:


http://dtr2001.saude.gov.br/dengue/ Acessado
em: 15/02/2009.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Controle da Dengue no


Brasil – Estado de Pernambuco. Brasília/ DF.

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O Caminho do Vírus da Dengue.

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