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Universidade Federal de Pelotas – Centro de Letras e Comunicação

POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS NO BRASIL

Considere os textos abaixo (excertos e textos completos). Avalie: a que arte e/ou gênero esse texto faz parte,
em sua opinião? De que trata e de que forma trata disso? Você reconhece o autor ou a autora dos textos?

1) Você pode me inscrever na história 2) João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
Com as mentiras amargas que contar morro da Babilônia num barracão sem número
Você pode me arrastar no pó, Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Ainda assim, como pó, vou me levantar
Bebeu
Minha elegância o perturba? Cantou
Por que você afunda no pesar? Dançou
Porque eu caminho como se tivesse Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
Petróleo jorrando na sala de estar afogado.

Assim como a lua ou o sol


Com a certeza das ondas no mar 3) 19 DE MAIO. (...) Quando estou na cidade tenho a
Como se ergue a esperança impressão que estou na sala de visita com seus lustres de
Ainda assim, vou me levantar cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E
quando estou na favela tenho a impressão que sou um
Você queria me ver abatida? objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo
Cabeça baixa, olhar caído,
Ombros curvados como lágrimas, (p. 59).
Com a alma a gritar enfraquecida?
4) Veem-se, porém, depois, lugares que se vão tornando
Minha altivez o ofende?
crescentemente áridos.
Não leve isso tão a mal
Só porque eu rio como se tivesse Varada a estreita faixa de cerrados, que perlongam aquele
Minas de ouro no quintal último rio, está-se em pleno agreste, no dizer expressivo dos
matutos: arbúsculos quase sem pega sobre a terra escassa
Você pode me fuzilar com palavras enredados de esgalhos de onde irrompem, solitários, cereus
E me retalhar com seu olhar rígidos e silentes, dando ao conjunto a aparência de uma
Pode me matar com seu ódio margem de deserto. E o facies daquele sertão inóspito vai-se
Ainda assim, como ar, vou me levantar esboçando, lenta e impressionadoramente.

Minha sensualidade o agita


E você, surpreso, se admira
Ao me ver dançar como se tivesse
Diamantes na altura da virilha?

Das choças dessa história escandalosa


Eu me levanto
Se um passado que se ancora doloroso
Eu me levanto
Sou um oceano negro, vasto e irrequieto
Indo e vindo contra as marés eu me elevo
Esquecendo noites de terro e medo
Eu me levanto
Trazendo os dons dos meus antepassados
Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos
Eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto
5)
1. ANGELOU, Maya. Still I rise [Ainda assim me levanto]. Tradução de Francesca Angiolillo. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/05/1461284-leia-traducao-do-poema-still-i-rise-de-maya-
angelou.shtml
• Assista também ao vídeo da poeta declamando seu texto:
https://www.youtube.com/watch?v=sUFyWCUJOKc.
2. BANDEIRA, Manuel. Poema retirado de uma notícia de jornal. In: Estrela da Manhã, 1936.
Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira04.html
3. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo: Ática, 2014.

4. CUNHA, Euclides da. Trecho de Os sertões. Vol. 1. Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional,
Departamento Nacional do Livro, s/ data [1902].
5. ANTUNES, Arnaldo. Humanos. In: Tudos. Iluminuras, 1990.

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