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All content following this page was uploaded by Marylinda Santos de França on 03 February 2015.
Resumo: Este trabalho analisa argamassas mistas com 3 teores de cal para restaurar obras
históricas. Utilizou-se cimento composto com pozolana e areia média natural, para os quais
se determinou a granulometria e a massa unitária. Verificou-se a relação entre a
consistência e o teor de água; variação de massa; capilaridade; resistência à compressão e à
tração. Para a mesma consistência, a argamassa com menor teor de cal consumiu mais água.
A maior variação de massa foi observada na argamassa com menos cal. O aumento da
quantidade de cal provocou redução das resistências à compressão e à tração. Houve
aumento do coeficiente de absorção com maiores volumes de cal.
Palavras–chave: argamassa, cal hidratada, propriedades.
1. INTRODUÇÃO
O óxido de cálcio (CaO) é um produto derivado de rochas calcárias constituídas por
carbonatos de cálcio e/ou de magnésio. A cal virgem é obtida a partir da calcinação do
calcário a elevadas temperaturas em fornos industriais e, da sua reação com a água, obtém-
se a cal hidratada utilizada na composição de argamassas de assentamento e revestimento.
A cal hidratada brasileira é dividida em três tipos normalizados [1]: CH-I, CH-II e CH-III,
que se diferenciam pela composição química em função do teor de CO2, que é maior na cal
CH-III.
2. METODOLOGIA
A cal hidratada utilizada no experimento foi do tipo CH II, e o agregado empregado foi
areia do tipo quartzosa, ambos oriundos da região metropolitana da cidade do Recife - PE.
As massas unitárias no estado solto dos sólidos foram medidas a partir do preenchimento de
uma caixa com volume conhecido, verificando-se a massa do material contido em seu
interior. Foram realizadas três medidas para cada material.
2.3.1 Consistência
O ensaio de consistência foi realizado seguindo-se as recomendações da NBR 13276 [5].
Utilizando-se um molde tronco-cônico, com diâmetros internos de 0,12 m e 0,08 m e altura
de 0,065 m, a argamassa foi moldada em três camadas de mesma altura, sendo aplicados 15
golpes para a primeira camada, 10 golpes para a segunda camada e 5 golpes para a terceira
camada. Após a retirada do molde, foram aplicados 30 golpes na mesa de impacto num
intervalo de tempo de 30 segundos. A consistência das argamassas foi dada em função da
média de duas medidas de diâmetro tomadas em direções perpendiculares entre si
(Figura 1).
A água foi adicionada em quatro pontos na mesma mistura, iniciando com uma consistência
seca, que resultou em um pequeno diâmetro na mesa de consistência, e tendo o último
ponto diâmetro superior a 0,25 m, conforme especificado. A quantidade inicial de água
variou em função do teor de cal da argamassa e foi determinado visualmente. Esta variação
foi proporcional aos resultados obtidos para a relação água/materiais secos ideal, cuja
análise será apresentada no item 3.2.1.
2.4.2 Capilaridade
A absorção de água por capilaridade das argamassas foi determinada por meio de quatro
corpos-de-prova de cada mistura, na idade de 28 dias a partir da desforma. As amostras
foram colocadas em um recipiente com água, de forma que esta atingia um altura de 5 cm a
partir da base do corpo-de-prova.
As leituras foram iniciadas após 1 minuto do contato do corpo-de-prova com a água. Tendo
em vista que a representação gráfica dos resultados é dada em função da raiz quadrada do
tempo, as demais leituras foram realizadas em tempos equivalentes a números quadrados
perfeitos, em minutos, até o tempo de 196 minutos.
Com relação à resistência à tração, foi adotada a determinação por compressão diametral.
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
0,01 0,1 1 10 100 1000 10000
Tamanho de partícula (µ
µ m)
Cimento Cal
100
80
% Retida acumulada
60
40
20
0
0,075 0,15 0,3 0,6 1,2 2,4 4,8
Tamanho de partícula (mm)
Com estes valores, foram determinados os traços em massa das misturas (Tabela 3).
0,3
0,275
0,25
Diâmetro (m)
0,225
0,2
0,175
0,15
0,125
0,1
0,100 0,150 0,200 0,250 0,300
Água/Materiais secos
A argamassa A, com menor teor de cal, apresentou a maior relação água/materiais secos, ou
seja, necessitou de mais água do que as demais para atingir a mesma consistência, isto
ocorreu em função da falta de cal para lubrificar a mistura, ou melhorar a trabalhabilidade.
Sabendo que o ensaio da mesa de consistencia é pouco sensível para espalhamentos abaixo
de 0,20 m, a influência do teor de cal nessas argamassas é observado de modo siginificativo
a partir desse valor. Abaixo do valor de 0,20 m a variação do teor de água nas três
argamassas não é considerado significativo.
Este fato indica que para a composição de argamassass com esses materiais, o teor limite de
cal é o do argamassa B.
Por outro lado, esperava-se que a menor variação de massa fosse detectada na argamassa C,
devido ao aumento na quantidade de cal, que provoca uma maior retenção de água. Este
resultado nas primeiras idades ocorreu devido à maior quantidade de água de amassamento
na argamassa C, mas em idades mais avançadas o comportamento das argamassas B e C
são semelhantes, demonstrando que o aumento do teor de cal nessas argamassas não
contribui significativamente na retenção de água durante o seu endurecimento.
-0,02
-0,04
DM/DT
-0,06
-0,08
-0,1
-0,12
0 5 10 15 20 25 30
Tempo (dias)
3.3.2 Capilaridade
Os resultados de coeficiente de absorção de água por capilaridade podem ser visualizados
na Figura 7 abaixo.
25,0
Coeficiente de absorção - C (kg/m2 )
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Raiz do Tempo (minutos1/2 )
Figura 7 – Capilaridade
Do gráfico, observa-se que a argamassa A, com maior teor de cimento, é a que possui
menor capilaridade, em função do preenchimento dos vazios pelos produtos da hidratação
do cimento. Nas argamassas com maior teor de cal, B e C, a capilaridade foi maior devido à
menor quantidade de poros preenchidos, uma vez que o processo de carbonatação é lento.
Tendo em vista que foi utilizado um cimento pozolânico para a produção das argamassas,
seu efeito de aumento da resistência é mais evidente em idades mais avançadas. Desta
forma, a redução da quantidade de cimento, em relação ao volume total da mistura, que
aconteceu gradativamente da argamassa A para a C pode ter contribuído para a redução da
resistência.
4. CONCLUSÕES
Este trabalho é parte de estudos de argamasssas para serem utilizadas em obras de restauros
em edificações centenárias, as quais foram feitas com misturas de argila e pedra calcária
calcinada em temperaturas desconhecidas, e que deram origem a argamassas com baixa
resistência mecânica. Assim, a restauração dessas edificações não pode ser feita com
argamassas puramente à base de cimento, pois geram incompatibilidade entre os sistemas
de revestimento. Este trabalho verte para o uso de argamassas com cal em obras históricas,
pois os dados obtidos indicam que o aumento do teor de cal na argamassa de cimento reduz
sua resistência mecânica, tornando-a compatível com as obras históricas, e tem a vantagem
de não possuir um processo de endurecimento lento, como as argamassas puramente de cal.
5. REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7175. Cal hidratada
para argamassas. Rio de Janeiro, ABNT, 1992.
[2] RAGO, F.; CINCOTTO, M. A. Influência do tipo de cal hidratada na reologia de
pastas. São Paulo, BT/PCC – USP, 1999.
[3] CARASEK, H.; OLIVEIRA, A. M.; ARAÚJO, J. Influência da maturação da cal
hidratada na trabalhabilidade de argamassas. In: Simpósio Brasileiro de Tecnologia das
argamassas, 7. Recife, SBTA, 2007.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBRNM 248. Agregados -
Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13276. Cal hidratada
para argamassas - Determinação da água da pasta de consistência normal. Rio de Janeiro:
ABNT, 2005.
[6] CARNEIRO, A. M. P. Contribuição ao estudo da influência do agregado nas
propriedades de argamassas compostas a partir de curvas granulométricas. Tese –
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1999.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9779. Argamassa e
concreto endurecidos - Determinação da absorção de água por capilaridade. Rio de
Janeiro: ABNT, 1995.