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Fernanda Raquel
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
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All content following this page was uploaded by Fernanda Raquel on 30 October 2017.
Fernanda Raquel
Mestre e doutoranda em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, (11) 976010045,
fe.raquel@globo.com
A publicação, resultado de sua pesquisa de mes- Considerando os trabalhos de arte como sistemas
trado, porém livre dos academicismos, apresenta comunicacionais a análise desenvolve-se de maneira
cruzamentos entre teoria e obras artísticas para ágil. A obra de Dan Graham “Rooftop Urban Park”
pensar sobre identidade de uma forma não subs- (1997), uma estrutura de biombos de vidro que num
tancialista. Como Christine Greiner já nos adverte no jogo entre interno e externo, reflete a cidade e o
prefácio: “o termo identidade se pluraliza, tornando- espectador, é um dos exemplos que Ana Amélia
se reconhecível apenas na sua precariedade, como utiliza para falar de contexto e percepção. No texto da
um processo descontínuo e fadado ao inacaba- autora, as espacialidades se desenham como gestos.
mento”.
O capítulo A identidade no mundo contemporâneo
Logo na introdução a autora, que também é artista, tem como eixo condutor o conceito de entre-lugares
além de arquiteta e doutora em Comunicação e de Homi Bhabha, como uma possibilidade de fazer
Semiótica, nos apresenta os principais recortes teóricos emergir o que antes estava colocado à margem.
que irão balizar sua discussão, dentre os quais vale Assim, novos modos de ver os sujeitos, as culturas, as
destacar a teoria corpomídia desenvolvida por Helena tradições e os espaços são explorados, aproveitando
Katz e Christine Greiner e os estudos pós-coloniais de alguns exemplos artísticos de obras site-specific para
Homi Bhabha. Esses autores são fundamentais pois ampliar a discussão. “O relacionamento direto entre
explicitam as concepções de corpo e cultura com o trabalho de arte e seu local não é mais baseado
as quais Ana Amélia trabalha, abertas aos fluxos e em condições físicas estáveis, mas na possibilidade
não monolíticas. Aos teóricos somam-se os artistas de experimentação de uma rede móvel de relações,
selecionados, fazendo uma espécie de curadoria transitória e sem repetição” (p. 56).
intertextual, como a própria autora explicita.
No capítulo seguinte sobre o novo internacionalismo,
Ana Amélia vai tecendo relações entre arte e espaço, visto como um estado transicional pela autora, são
sem nunca pretender constituir um sentido único, apresentadas ao leitor obras de artistas brasileiros,
mexicanos, senegaleses, angolanos, argentinos e René Francisco. Todos, de alguma maneira, parecem
sul-africanos. Não é por acaso a seleção de obras apostar num potencial transformador da arte,
fora da versão eurocêntrica da arte, ou da periferia relacionando-se com espaços cotidianos e borrando
do poder. Ana Amélia se inspira nesses artistas para os limites entre arte e vida. Em todo caso, não se
colocar em foco formas contra-hegemônicas de trata de introdução de assunto completamente
compreensão da História da Arte. Quando expõe novo. Ana Amélia parte da problematização dessas
obras do mexicano Gabriel Orozco aponta para um experiências artísticas para fortalecer a rede que teceu
desejo de ruptura com os sistemas de sentido único acerca do sentido de identidade como processo de
– a vida real e os objetos comuns fazem as obras, grande plasticidade.
questionando conceitos artísticos pré-estabelecidos.
Articulações e diferenças vão compondo um caminho Para concluir o trabalho a autora faz uma breve
por vezes atordoante, diante de tantas referências. retomada das principais referências, mas sobretudo,
Mas a autora não abandona o leitor e o torna deixa muito claro o seu percurso – uma investigação
cúmplice na reorganização das fronteiras culturais, interdisciplinar acerca de trabalhos de arte que
temporais e espaciais. A noção de hibridismo cultural desafiam os cânones e os enquadramentos excessiva-
se oferece como contraponto ao eurocentrismo, e mente rígidos. Ao final da leitura temos a sensação
os fluxos aparecem como imagens potentes para de que também a escrita de Ana Amélia desafia os
pensar processos de contaminação. Poderíamos modos de pensamento mais lineares. Seu livro não
dizer que Ana Amélia trabalha numa tentativa de é mapa, com delineação de tendências, catálogo de
construir um pensamento não abissal, como gostaria representações ou delimitações estanques. Seu livro
Boaventura de Sousa Santos. é cartografia em movimento, é gesto de artista, é
rede de conexões. Leitura para todos os interessados
No último capítulo a autora dedica-se especialmente em exercitar novos modos de percepção e co-
a três artistas: Rirkrit Tiravanija, Monica Nador e nhecimento.