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VCP5 1 2 E2 PDF
VCP5 1 2 E2 PDF
Renato Pinho
DVM. 3840 Lombomeão – Vagos (Aveiro), Portugal
Email: renatompinho@gmail.com
Phone: 917927155
João Simões
DVM; PhD. Departamento de Ciências Veterinárias, ECAV. Universidade de Trás-
os-Montes e Alto Douro. 5000-811 Vila Real, Portugal
- 2013 -
Introdução, 1
Referências bibliográficas, 23
Índice de tabelas
1
meio interno e externo, impedindo a
perda de água, eletrólitos e macromolé-
culas; (2) permitir forma e movimenta-
ção através da elasticidade e flexibilida-
de da pele; (3) contribuir para a termor-
I- Anatomia e funções da pele regulação do animal, mediada pela pela-
gem, pelo aporte sanguíneo cutâneo e
pelas glândulas sudoríparas; (4) permitir
A pele é o órgão mais extenso e vi- a perceção sensorial do tato, pressão,
sível do organismo, constituindo uma dor, temperatura, e prurido; permitir a
barreira anatómica e fisiológica entre o secreção glandular sudorípara e sebácea;
próprio animal e o meio envolvente, (5) permitir a formação de estruturas
representando 24% em média do peso anexas tais como o pelo e unhas; (6)
corporal em cachorros e 12 a 15% em permitir o armazenamento de água, vi-
adultos. É imprescindível para a sobre- taminas, lípidos, hidrato de carbono,
vivência, oferecendo proteção contra proteínas e outros materiais; ação anti-
perigos físicos, químicos e microbioló- microbiana e antimicótica; (7) formação
gicos, e os seus componentes sensoriais de melanina, vascularização e queratini-
deixam perceber o calor, o frio, a dor, o zação; (8) síntese de vitamina D; (9)
prurido, o tato e a pressão. A descrição funcionar ativamente como parte inte-
anatómica e histológica das diversas grante do sistema imunitário do orga-
estruturas cutâneas, permite compreen- nismo; (10) e ainda pode servir como
der melhor todas as suas funções. Por indicadora de alguma patologia interna
outro lado, a pele é um espelho que re- e/ou estado de saúde animal.
flete o estado de saúde do organismo e o
bom funcionamento deste.1-8
A constituição pele pode variar en- 1.2- Revisão histológica da pele
tre espécies, raças e indivíduos relativa- A pele encontra-se constituída por
mente à espessura da epiderme e derme, três camadas: epiderme; derme e hipo-
assim como da localização folículos derme. A epiderme tem origem ecto-
pilosos e glândulas anexas. Pode ainda dérmica e é a mais externa e delgada, a
variar entre as distintas regiões do corpo derme tem origem mesodérmica e a hi-
e de acordo com o sexo ou a idade.1,2 poderme serve de suporte aos estratos
superiores. À pele, pertencem ainda es-
truturas anexas como as glândulas, pelos
1.1- Funções da pele e unhas.1,4
A pele exerce numerosas funções.
Pode atribuir-se-lhe 1-3 (1) o funciona-
mento como barreira protetora entre o
2
1.2.1- Epiderme nas uniões desmossómicas o que
dá lugar à visualização de pontes
A epiderme é a parte mais externa
intracelulares ou projeções espi-
da pele e está constituída por um epitélio
nhosas que dão o nome a este es-
estratificado sendo mais espessa nas
trato;
almofadas plantares e no plano nasal. A
3) Estrato granuloso: possui 1 a 2
sua renovação é contínua e não apresen-
células de espessura na pele cober-
ta vasos sanguíneos nem linfáticos sendo
ta por pelo, 2 a 4 em folículos pi-
a sua nutrição realizada através da vas-
losos e 8 em almofadas plantares.
culatura da derme.
É composto por queratinócitos nu-
Existem quatro tipos de células dife- cleados aplanados que se distin-
rentes dentro da epiderme: queratinóci- guem pela presença de grânulos de
tos cerca de 85%, melanócitos aproxi- querato-hialina fortemente basófi-
madamente 5%, células de Langerhans los no citoplasma. A função dos
de 3 a 8% e de Merkel cerca de 2%.1 grânulos não é completamente co-
A epiderme pode ser dividida nhecida mas pensa-se que inter-
1,2,4 vêm na queratinização;
em:
4) Estrato lúcido: constituído por
1) Estrato basal: é o estrato mais
células planas sem núcleo, que
profundo da epiderme e encontra-
formam uma camada fina e com-
se unido intimamente à derme e é
pacta totalmente queratinizada, em
constituído por uma única camada
que os grânulos de queratohialina
de células cuboides, que se encon-
são substituídos por eleidina. Este
tram perpendiculares à membrana
estrato apenas se encontra presente
basal sobre a qual assentam. Este é
em zonas sem pelo, como por
um estrato com elevada capacida-
exemplo, no plano nasal e almofa-
de mitótica, o que lhe proporciona
das plantares;
uma grande capacidade de regene-
5) Estrato córneo: constituído por
ração;
várias camadas de queratinócitos
2) Estrato espinhoso: composto pela
sem núcleo (corneócitos). É res-
células filhas do estrato basal e
ponsável por constituir a barreira
tem de 1 a 2 células na pele cober-
que controla a passagem e elimi-
ta de pelo, sendo que nas almofa-
nação de substâncias da superfície
das plantares e no plano nasal po-
cutânea, assim como dá uma base
de chegar a ter mais de 19 células
estrutural à célula e resistência à
de espessura. As células têm forma
invasão de microrganismos. Este é
cuboide a aplanada. Por efeito da
um estrato em constante descama-
fixação, estas células sofrem uma
ção.
contração citoplasmáticas exceto
3
Nas restantes células da epiderme os como está envolvida no crescimento,
melanócitos são responsáveis pela pig- proliferação, aderência, migração, dife-
mentação.7 De referir ainda que as célu- renciação celular e modulação na cica-
las de Langerhans estão associadas a trização de feridas.1,2,6
apresentação dos antigénios e as células A camada papilar ou derme su-
de Merkel têm mecanorreceptores de perficial localiza-se entre as cristas epi-
pressão.2 dérmicas e é composta por um tecido
A Epiderme está separada da derme conjuntivo laxo com abundantes células,
por uma membrana basal, a qual cons- fibras colágenas e elásticas finas. As
titui a união dermoepidérmica. Estas são fibras de elastina representam cerca de
estruturas dinâmicas que sofrem remo- 4% das fibras dérmicas, formando uma
delação constante, e mantém a epiderme rede ao redor das unidades pilossebáceas
funcional e proliferativa, assim como e são responsáveis pela elasticidade da
mantém a arquitetura, participam na pele. A camada reticular ou derme pro-
cicatrização de feridas, funcionam como funda, é um tecido conjuntivo denso. As
barreira, e regulam o transporte de nutri- fibras reticulares são formadas por um
entes. Existem vários tipos de patologias conjunto de finas fibras de colagénio
cutâneas significativas que a afetam co- (tipo I e III) e fibronectina. A matriz
mo, o lúpus eritematoso e penfigoide intercelular dérmica é composta por pro-
ampolar.4 teoglicanos (ácido hialurónico, con-
droitinsulfatos, glicosaminoglicanos e
mucopolissacáridos), glicoproteínas e
1.2.2- Derme
uma grande quantidade de água que é
A derme é a estrutura mais impor- retida devido a estas macromoleculas. É
tante da pele. Suporta na parte mais su- um gel mucoso amorfo produzido pelos
perficial a epiderme, e em profundidade fibroblastos que realiza uma função im-
as glândulas e folículos pilosos. É com- portante de barreira entre a epiderme e o
posta por uma rede densa de fibras, célu- tecido subcutâneo, frente aos microrga-
las, moléculas matriciais, vasos sanguí- nismos e as proteínas de elevado peso
neos e linfáticos, nevos e músculos. As molecular.4,6,7
fibras de colagénio são produzidas a
O fluxo sanguíneo conta com os
partir dos fibroblastos e em 90% são
plexos profundo, médio e superficial que
constituídas por fibras de tipo I e III,
são de grande importância na termorre-
proteínas poliméricas muito resistentes à
gulação.1,6
tração. O colagénio é denso na derme
profunda e laxo abaixo da epiderme. É
responsável pela resistência à tração
causada pelo movimento e elasticidade
da pele mantendo a sua forma, assim
4
1.2.3- Hipoderme musculo eretor do pelo. Os pelos inter-
médios têm uma direção contrária e con-
A hipoderme encontra-se entre a
tribuem para o isolamento térmico. Ca-
derme e o músculo/tecido ósseo subja-
raterizam-se por uma protuberância sub-
cente.7
apical na ponta do pelo. Estes tipos de
É constituída por tecido conjuntivo
pelo não se observam em raças de pelo
laxo e também por tecido adiposo que
cerdoso como o Yorkshire terrier. Os
forma um pequeno aglomerado de célu-
pelos secundários formam o manto ma-
las adiposas ou até mesmo uma larga
cio e são os que têm menor diâmetro, e
massa formando uma espécie de amorte-
ocasionalmente podem ter glândulas
cedor, chamado de panículo adiposo.1,4
sebáceas simples, mas carecem de gan-
dulas sudoríparas apócrinas e músculo
1.2.4- Folículos pilosos
piloeretores. O talo piloso é constituído
Os folículos pilosos são invagina- por uma coluna reta de células cornifi-
ções epidérmicas na derme. Produzem e cadas, aderentes, impermeáveis e estrati-
sustêm a porção intra-dérmica do talo ficadas, numa cutícula externa, um cór-
piloso. Estão divididos em três zonas: tex e uma medula na zona média.1,6
infundíbulo (desde a superfície da epi-
O crescimento do folículo piloso
derme até ao ponto onde desembocam as
passa por diferentes fases (ciclo do folí-
glândulas sebáceas), istmo (desde as
culo piloso):1,2,6,7
glândulas sebáceas até à inserção do
musculo eretor do pelo), e bulbo (desde (1) A fase anagénese, de crescimento.
a inserção do musculo eretor do pelo até Nesta fase as células da matriz
à papila dérmica).2,7 multiplicam-se ativamente, a papi-
la dérmica é evidente e os melanó-
Nos carnívoros domésticos adultos,
citos ativos proporcionam mela-
cada pelo tem o seu próprio bulbo e is-
nossomas as células da raiz que
tmo, mas partilham o mesmo infundíbu-
aparecem pigmentadas (nos pelos
lo (12 a 15 pelos em cada infundíbulo).
pigmentados);
Nos agregados pilosos geralmente há um
(2) Durante a fase catagénese, ou in-
pelo primário largo, rodeado de quatro
termédia a papila dérmica desapa-
pelos intermédios e uns 15 a 20 pelos
rece e as células da matriz e me-
secundários.6
lanóticos suspendem as suas fun-
Os pelos primários são os de maior ções. Todas as células das raízes
diâmetro, são rígidos e cobrem toda a pilosas estão queratinizadas e
superfície cutânea e definem a cor da apigmentadas;
pelagem. Os folículos pilosos são mais (3) Durante a fase telogénese ou de
largos, alcançam a derme profunda, pos- descanso, devido à retração do fo-
suem glândulas sebáceas, apócrinas e lículo piloso e há reabsorção de
5
grandes quantidades de bainha epi- pele); As glândulas sudoríparas atríquias
telial externa, os folículos apare- são semelhantes na forma às glândulas
cem mais curtos e os pelos podem apócrinas, sendo a maior diferença a
cair facilmente, recomeçando de- destacar o local de drenagem que se faz
pois um novo ciclo. diretamente na superfície das almofadas
plantares. Estão situadas próximas dos
vasos sanguíneos e são sensíveis à adre-
1.2.5- Glândulas cutâneas
nalina e noradrenalina no sangue circu-
As glândulas sebáceas são glândulas lante. Quando o animal tem medo, pode
holócrinas alveolares simples, em gru- ver-se facilmente o suor nas almofadas
pos de 2 a 3 que sempre estão associadas plantares; As glândulas sudoríparas es-
a um grupo de pelos. Os seus condutos pecializadas, são as glândulas mamárias,
de excreção terminam no istmo folicular. as glândulas ceruminosas, e as glândulas
Estas são particularmente grandes nas que terminam nos sacos anais. Não exis-
zonas de união mucocutâneas, sendo tem glândulas sudoríparas no plano na-
maiores nas zonas de pelos mais curtos e sal.1,6
desaparecendo nas zonas sem pelos. O
sebo é o produto resultante da destruição
celular no interior da glândula, em con-
junto com o suor, formando-se uma
emulsão lipídica protetora sobre a super-
fície da pele. Estas glândulas são gran-
des e abundantes nos lábios e queixo,
onde têm a função a marcação territorial;
As glândulas sebáceas especializadas,
são as glândulas perineais sensíveis as
hormonas sexuais.2
As glândulas sudoríparas epitríquias
distribuem-se por toda a superfície pilo-
sa do corpo e os seus canais de drena-
gem terminam em cima das glândulas
sebáceas, no istmo folicular. Estas glân-
dulas apócrinas são glândulas tubulares
simples, com um conduto de drenagem
reto e uma porção secretora rodeada por
células mioepiteliais. Produzem uma
secreção aquosa que forma uma emulsão
com o sebo e que se distribui pela super-
fície da pele (pelicula hidrolipídica da
6
depressa nos levará à satisfação do clien-
te, assim como à nossa própria, será se-
guir um método sistemático em qualquer
que seja a situação, e assim teremos
mais hipótese de alcançar o sucesso.11-
13,15
II- Considerações prévias ao
diagnóstico em dermatologia
veterinária 2.1- Identificação animal e anamnese
2.1.1- Identificação animal
Um exame clínico começa com a
As afeções cutâneas são, por norma, identificação animal (espécie, raça, ida-
um motivo de preocupação para o médi- de, sexo, cor da pelagem, peso). Dentro
co veterinário dedicado à clinica dos de uma mesma espécie animal, que pode
animais de companhia. Além disso, e apresentar doenças específicas dessa
uma vez que os transtornos dermatológi- espécie, existe predisposição de algumas
cos são mais facilmente percetíveis, são raças para determinadas patologias cutâ-
um motivo de preocupação imediata neas, conforme descritas na tabela 1.
para os proprietários.5,9
Numa primeira visita é importante Tabela 1- Predisposição racial de algumas
estabelecer entre o proprietário e o mé- patologias de origem cutânea.
dico veterinário uma boa relação, visto Patologia de origem
Raça
que a confiança e a credibilidade do cutânea
7
Do mesmo modo, algumas das pato- principal do proprietário e assim poder-
logias e diagnósticos dermatológicos se obter confiança, e consequentemente
relacionam-se com a idade do animal iniciar uma boa relação entre o proprie-
(tabela 2). tário e o veterinário.
Tabela 2- Relação da idade com o tipo de Também a origem geográfica do
afeções dermatológicas.10,11,13 animal pode influenciar a identificação
Idade Patologias Cutâneas dos diagnósticos diferenciais a ter em
Alopecia padrão, Demodico- consideração devido às características
Do nascimento se, Dermatofitose, Celulite epidemiológicas das doenças e prevalên-
aos 6 meses juvenil, Impetigo, Enanismo
cia e/ou incidência de determinadas do-
pituitário, Astenia cutânea
enças em cada momento.5,13,17
Atopia, Seborreia Idiopática
Primaria, Alopecia por dilui-
1 a 3 anos
ção de cor, Defeitos de que-
ratinização,
2.1.2- Anamnese ou história pregressa
Síndrome de Cushing, Tu- Na história clínica é fundamental
Mais de 6 anos
mor testicular que o médico veterinário use um método
Cão geriátrico
Neoplasia, Alopecia, Úlcera sistemático e detalhado para que ne-
por decúbito nhum dado importante seja esquecido.11
Através do proprietário deve obter-
O sexo do animal, e o facto de ser se informações sobre o início da patolo-
castrado ou inteiro, poderá ter influência gia cutânea, a sua sazonalidade, evolu-
na incidência de algumas patologias, ção, existência de outros animais, se
como o hiperestrogenismo. habita no interior ou exterior da habita-
ção, existência de outras patologias, do
A cor da pelagem pode ser respon-
tipo de dieta e ainda tudo o que o propri-
sável por algumas dos problemas cutâ-
etário possa achar relevante.15
neos. De destacar, nestes casos, a derma-
tite solar e o carcinoma de células esca- A anamnese deverá ser realizada o
mosas. mais completa e exaustiva possível, e ao
longo do percurso da consulta deverá ser
O Peso ou a sua variação pode indi-
direcionada ao foco do problema, ou
car a presenta de algumas patologias
mais propriamente, ao problema em
e/ou predispor outras. Temos o exemplo
questão.
da obesidade no intertrigo.
Na anamnese, o questionário (tabela
O motivo da consulta, por geral que
3) efetuado pelo Médico Veterinário
pareça, pode trazer dados importantes
deve ser objetivo e claro, de modo a
para estabelecer diagnósticos diferenci-
recolher o máximo de informação possí-
ais. Um dos aspetos mais relevantes
vel de modo a orientar o exame físico,
consiste em explorar a preocupação
diagnóstico, tratamento e prevenção.
8
Tabela 3- Questionário da anamnese.5,12,15 Um exame físico correto inicia-se
- Qual o historial clínico do paciente? com uma inspeção geral do animal
- Que tipo de habitat tem o paciente? (exame do estado geral). É aconselhável
- Se existem coabitantes? E se estes estão que aquando da exploração o clínico vá
afetados? descrevendo o que observa para transmi-
- Quando foi a última vez que lhe encontrou tir confiança ao proprietário.5 Todos os
pulgas? E qual o programa profilático que
efetua? sinais de alterações sistémicas devem ser
- Qual é o tipo de dieta? E se existiram altera- registados mesmo que não pareçam re-
ções recentes? levantes, porque mesmo que essas alte-
- Se existiram alterações do apetite ou da rações não tenham causado o problema
ingestão voluntária de água?
cutâneo poderão interferir quer no diag-
- Que tipo de higiene realiza? E com que fre-
quência? nóstico, quer no tratamento.13,18,19 Na
- Se realiza algum tipo de medicação? E qual
tabela 4 apresentamos algumas altera-
a dosagem? ções dermatológicas originadas por do-
- Quando surgiu o primeiro problema cutâ- enças específicas.
neo? E com que idade?
- Se apresenta sazonalidade? Quando?
Tabela 4- Manifestações cutâneas de algumas
- Em que zona corporal se iniciou o proble- doenças específicas.20
ma? Se é generalizado ou localizado?
Doenças específicas Manifestações cu-
- Se apresenta prurido? E onde o manifesta tâneas
com maior intensidade?
Diabetes mellitus Atrofia, piodermatite,
- Como descreve as lesões iniciais? Qual a
dermatite por Malas-
sua simetria?
sezia spp.
- Qual a progressão corporal? E a rapidez
Enanismo pituitário Alopécia, escamas,
com que progrediu?
hiperpigmentação
- Se está vacinado e desparasitado?
Erupção medicamen- Eritema multiforme,
tosa papular erupção que imita o
Pênfigo
2.3- Exame físico FeLV, FIV Piodermatite, Sarna
Sarcótica ou Demo-
Uma das partes mais difíceis na décica
consulta dermatológica é a realização do Hiperadrenocorticismo Atrofia, alopécia
exame físico, porque uma vez observa- Hipotiroidismo Alopecia, piodermati-
te, mixoedema
das as possibilidades sugeridas pela
Leishmaniose Crostas, úlceras,
identificação animal/história/anamnese o
eritema
primeiro instinto do médico veterinário
Mastocitoma Eritema, nódulos
será começar a examinar a pele. Essa
Micose Dermatite esfoliativa,
(intenção de) ação deverá ser controlada, despigmentação
e o exame físico completo deverá ser Tumor das células de Alopécia, feminiza-
realizado.5,13 Sertoli ção, hiperpigmenta-
ção
9
2.4- Exame dermatológico mente uma vez que existe uma grande
dificuldade em interpretar lesões antigas,
2.4.1 Exame semiótico
alteradas muitas vezes por um auto–
O exame dermatológico deverá ser traumatismo ou infeções.
realizado com o animal em estação, no
Uma vez que as lesões evoluem com o
sentido da cabeça para a cauda, passan-
tempo, deve diferenciar-se lesões primá-
do no dorso e flancos. Posteriormente
rias de secundárias, sendo que as primá-
com o animal em decúbito dorsal deve
rias evoluem espontaneamente como
ser examinada toda a zona ventral, inclu-
consequência direta de uma patologia
indo os membros até à sua extremidade.
subjacente, e as secundárias evoluem a
Ao examinar a pele deve avaliar-se partir das primárias ou podem ser provo-
a sua elasticidade, textura, extensibilida- cadas pelo próprio animal, quando são
de, espessura, consistência, cor e tempe- dolorosas ou pruriginosas, ou ainda po-
ratura da mesma, comparando sempre dem ser resultado de algum fator externo
com zonas adjacentes. A pele normal é como medicamentos.8,12,16,20
flexível, suave e elástica, deslizando
Na tabela 5 descrevem-se as lesões
com facilidade sobre os tecidos profun-
primárias e secundárias.
dos.
As lesões mais recentes são as que
devem ser examinadas mais exaustiva-
Tipo Descrição
10
Corresponde a uma elevação circunscrita na epiderme repleta
de fluido. Este tipo de lesão rapidamente altera o seu aspeto
Vesícula devido à infiltração de células polimorfonucleares dando lugar
a erosões e crostas. Quando apresentam tamanho superior a
um centímetro denominam-se por bolhas.
11
É uma massa sólida que resulta da adesão de exsudado,
transudado, pús, sangue e detritos celulares à superfície cutâ-
Crosta
nea. Podem ser primárias como no caso das dermatoses
sensíveis ao zinco, ou secundárias em piodermatites.
12
mes a realizar, quais os custos e quais os O exame deve ser realizado num lu-
resultados esperados.11,17 gar que impeça a entrada de luz, de for-
ma completa por todo o corpo do ani-
Dos exames complementares como
mal, cuidadosa e por um período de
provas simples ou de índole laboratorial,
tempo não inferior a três minutos.
destacamos:
Um resultado positivo com a lâm-
pada de Wood deve ser confirmado por
a) Técnicas de ampliação simples 11,14 uma cultura da amostra onde se obser-
Lentes de aumento – permite uma vou fluorescência positiva.
observação direta da pele e do pelo. As
lentes podem ter um poder de ampliação c) Prova da escovagem do pelo e da
de 4 a 6 vezes, permitindo um melhor e pele 11,14,15,19
mais correto exame da pele e termos de O animal deve ser colocado sobre
aspeto, textura e lesões primárias como uma superfície coberta por um papel
também aumenta a possibilidade de de- branco. O pelo é escovado com uma
tetar parasitas de superfície como pulgas escova de dentes ou com um pente fino.
e sua fezes e também piolhos. A amostra, resultado da escovagem, é
Otoscópio – método de diagnóstico colocada numa placa de Petri ou entre
imprescindível perante qualquer sintoma uma lâmina e lamela, para poder ser
de otite externa, como prurido, eritema e feita a sua observação mediante uma
exsudado. lente de aumento ou ao microscópio.
Um cuidadoso exame do conduto A lente permite o diagnostico de
auditivo permite também identificar áca- parasitas macroscópicos e o microscópio
ros, corpos estranhos e massas. É de a identificação de parasitas como Chey-
salientar que algumas das afeções cutâ- letiella spp.. Se a amostra é suspeita de
neas como as alergias, têm muitas vezes ter fezes de pulga deve ser impregnada
adjacentes as otites. nesta um algodão humedecido.
A presença de partículas fecais de
14,19 pulga carateriza-se por uma coloração
b) Lâmpada de Wood
avermelhada característica, resultantes
Útil muitas vezes na deteção de
dos pigmentos hemáticos.
dermatofitoses por Miocrosporum canis.
A presença no pelo de esporos de M.
canis, produz em 40% a 80% dos casos d) Raspagens cutâneas 1,11,14,15,17,21,22
uma fluorescência amarela-esverdeada
Um dos exames de diagnóstico mais
por existência de metabolitos do tripto-
utilizados em dermatologia veterinária
fano produzidos pelo fungo.
13
são as raspagens cutâneas uma vez que é prova é quase 100%, sendo quase
um teste simples e rápido de realizar, e impossível que um animal que
que poderá dar informações muito rele- tenha raspagens positivas não te-
vantes. Está indicado sempre que na lista nha sarna sarcóptica. Nas raspa-
de diagnósticos diferencias se inclua gens positivas podem-se visuali-
alguma ectoparasitose e em geral são zar os adultos, ovos ou larvas. As
técnicas altamente específicas mas pou- raspagens negativas não excluem
co sensíveis, sendo que a sua observação a afeção e ocorre em cerca de
quase sempre é diagnóstico da patologia, 50% dos animais afetados por
mas a sua não observação não a exclui. sarna sarcóptica;
Para a realização de uma raspagem Demodex spp.: neste caso o obje-
tivo é alcançar a derme e portan-
de pele é necessário uma lâmina de bis-
to devem realizar-se raspagens
turi, óleo mineral ou vaselina, e uma
profundas, até que ocorra hemor-
lâmina. Depois de se proceder à tricoto-
ragia capilar. Antes de iniciar a
mia do local, coloca-se uma gota de óleo
raspagem a pele deve ser com-
mineral na lâmina de bisturi de modo a
primida (prega pele) nos locais
facilitar a adesão do material a recolher
de lesões recentes, para de cerca
por raspagem. A raspagem deve ser rea-
forma “espremer” os folículos pi-
lizada nos limites das diferentes lesões,
losos e fazer sair os ácaros. A
escolhendo sempre as mais recentes.
prova é muito sensível que é o
A técnica de raspagem deve ade- mesmo que dizer que uma raspa-
quar-se ao tipo de parasita que se suspei- gem negativa exclui a afeção, e
ta: se restam dúvidas poderão repe-
Sarna sarcótica: os lugares de tir-se as raspagens. A exceção é a
eleição para realizar as raspagens raça Sharpei, em que as raspa-
são os bordos dos pavilhões auri- gens podem ser negativos e o
culares, cotovelos e tarsos. Sar- animal ter sarna demodécica. O
coptes scabiei reside dentro da diagnóstico é considerado positi-
derme superficial e é imprescin- vo quando se deteta na amostra
dível realizar 5 a 6 raspagens que recolhida numerosos Demodex
abranjam porções amplas de te- spp. adultos e distintas formas
gumento para elevar a baixa sen- imaturas (ovos, larvas e ninfas),
sibilidade da prova. Em cachor- e também quando o número de
ros obtêm-se boas raspagens e ácaros é escasso mas há sintoma-
com maior sensibilidade que nos tologia clinica associada;
adultos, na zona ventral. Em to- Otodectes cynotis: com o auxílio
dos os casos a especificidade da de uma zaragatoa obtém-se ce-
14
rúmen dos ouvidos dos animais conídeas e microconídeas de dermatófi-
suspeitos e em seguida espalha- tos a partir das colónias.
se numa lâmina uniformemente.
A observação deve ser rápida
f) Tricograma 11,15,17,18
visto que o ácaro poderá ultra-
passar os bordos da lâmina rapi- É um exame que constitui um pro-
damente. Podem observar-se cedimento muito útil para avaliar o pelo
adultos e formas larvares sendo do animal em termos de morfologia,
mais raro a observação de ovos crescimento e cor como também a pre-
do parasita. A sensibilidade é sença de ovos de ectoparasitas ou a pre-
cerca de 70% e a especificidade é sença de dermatófitos. A amostra para
muito elevada rondando os realizar este exame deve ser colhida com
100%; uma pinça hemostática e pela raiz para
Cheyletiella spp.: são parasitas não haver fratura da bainha pilosa no
de maiores dimensões e com a processo. Depois os pelos deveram ser
sua localização superficial (“cas- colocados numa lâmina com umas gotas
pa andante”), sendo o seu diag- de óleo mineral, para posterior observa-
nóstico determinado mediante ção ao microscópio. A existência de
exame microscópico de amostras pelos fragmentados ou com as extremi-
obtidas a partir de raspagens su- dades traumatizadas permite distinguir a
perficiais, de zonas onde se ob- auto-depilação da queda espontânea de
serva descamação. pelo, sendo por exemplo importante no
diagnóstico de alopecia extensiva felina
por lambedura exagerada.
e) Impressão com fita adesiva trans-
parente 11,15,17,19
g) Citologia 11,15,17,19
Este exame está indicado sempre
que se suspeite da presença de parasitas A citologia cutânea é um exame
superficiais no pelo. Esta técnica consis- complementar fácil de realizar e consti-
te em pressionar fita adesiva transparen- tui um dos testes com maior valor de
te sobre a superfície da pele e do pelo, diagnóstico em dermatologia veterinária
colocando-se posteriormente essa fita pois permite distinguir lesões neoplási-
numa lâmina e depois observar-se ao cas de não neoplásicas, avaliar o conteú-
microscópio. do celular das lesões e identificar o
agente etiológico. Tem como base a
O método pode ser utilizado no di- identificação microscópica de diferentes
agnóstico de Malassezia pachydermatis,
tipos de células e de outros elementos
após utilizar a coloração adequada, as-
sim como para a identificação de macro-
15
como esporos, bactérias e parasitas, de amostras ricas em células, que
mostras de pele ou tecidos adjacentes. dificilmente se obteriam nou-
tras técnicas;
Existem diferentes métodos para ob-
ter uma boa amostra para citologia, de- Impressão – a técnica consiste
vendo ser escolhido o mais apropriado em apoiar diretamente a lâmi-
para a lesão a estudar: na sobre a lesão e existem dos
tipos de impressão: impressão
Uso de zaragatoa – utiliza-se de superfícies externas (apoia-
fundamentalmente em cavida- se a lâmina suavemente sobre
des ou condutos (cavidade na- lesão ulcerada ou sobre um
sal, conduto auditivo esterno, exsudado de um trajeto de
trajetos fistulosos entre ou- drenagem); e impressão de
tros), pondo em contato com a superfícies de corte (apoia-se
superfície da lesão uma zara- a lâmina sobre a superfície de
gatoa estéril (se a lesão for se- corte de uma lesão ou nódulo
ca a zaragatoa poderá ser hu- previamente extirpado);
medecida com solução salina Aspiração com agulha fina –
estéril). Posteriormente a esta técnica está indicada no
amostra é colocada numa lâ- caso de pústulas, nódulos ou
mina fazendo rodar uma a za- massas. Previamente desinfe-
ragatoa sobre a mesma sem ta-se a superfície da área a
passar duas vezes pelo mesmo puncionar com álcool etílico a
sítio; 70%, e agulha a puncionar
Raspagem – consiste em ras- pode ser de 18G a 22G, aco-
par os bordos ou a superfície pladas a seringas de 3 a 20ml
de uma lesão com a lâmina do dependendo do tipo de lesão.
bisturi. A raspagem deve rea- Aspira-se o conteúdo da lesão
lizar-se muito delicadamente, mediante pressão negativa,
até observar um leve sangra- após 3 a 4 golpes com a serin-
mento (atenção que a excessi- ga na lesão em direções dife-
va quantidade de sangue difi- rentes. Depois deposita-se o
culta a observação). O materi- conteúdo sobre a lâmina, com
al recolhido é depositado no o ar pressionado no interior da
extremo de uma lâmina e de seringa; A que notar que para
seguida é estendido pela não danificar tanto a arquite-
mesma. Este método pode uti- tura das células, existe outra
lizar-se em lesões duras e su- técnica similar em tudo, exce-
perficiais, já que permite obter to na aspiração com pressão
16
negativa que não existe (so-
mente punção). Tabela 6- Características de identificação dos
Extensão ou arrastamento – dermatófitos.10,11
20
exame histopatológico de uma ou mais se uma incisão em forma de
amostras. gomo de laranja com 1cm de
diâmetro e suficientemente
As condições para se realizar uma
profunda para chegar ao teci-
biópsia devem incluir: as lesões neoplá-
do subcutâneo. No fim o lo-
sicas ou suspeitas; úlceras persistentes;
cal é suturado.
quando se suspeita de um processo cujo
2) Biópsia por punção – indica-
diagnóstico definitivo se realiza por his-
da em pequenas lesões, é co-
topatologia (transtornos primários de
locada uma punch de biopsia
queratinização e dermatopatias autoimu-
diretamente sobre a lesão,
nes); dermatopatias que não respondam
a uma terapia supostamente adequada; com um suave movimento de
rotação sempre para o mesmo
em situações não usuais e que pareçam
sentido e exercendo-se algu-
graves; e em casos em que devido ao
ma pressão, extrai-se a amos-
tratamento de elevado custo, perigoso e
tra. A incisão é fechada com
prolongado, que recomende um diagnós-
um ou dois pontos sutura.
tico definitivo previamente.
3) Biópsia excisional – está in-
A eleição da amostra é possivel- dicada para lesões frágeis,
mente o ponto mais importante a ter em muito extensas ou muito pro-
conta numa biópsia, e por isso é reco- fundas, em que pode haver
mendável a recolha de múltiplas amos- necessidade de recolher tam-
tras em diferentes localizações. bém tecido adiposo subcutâ-
Antes de realizar a biópsia é conve- neo. Com a ajuda do bisturi é
niente fazer a tricotomia do local e a realizada uma incisão elíptica
desinfeção só se deve fazer com álcool a que engloba a lesão, a zona
70%, não devendo usar-se nunca ne- de transição e o tecido nor-
nhum outro desinfetante. Pode utilizar- mal envolvente. O local é su-
se anestesia local com lidocaína a 2% turado.
em animais tranquilos, ou uma leve se- 4) Biópsia com agulha de corte
dação em inquietos ou agressivos. Para – é utilizada uma agulha com
as biópsias excisionais de tumores de mandril, que tem um canal na
maior tamanho é necessário realizar uma ponta que recolhe a amostra.
anestesia geral. É mais utilizada em gânglios
e massas cutâneas e subcutâ-
Existem quatro técnicas para reali-
neas.
zar uma biópsia cutânea:
A amostra obtida é colocada com a
1) Biópsia incisional – com uma
face interna voltada para baixo, sobre
folha de bisturi pequena faz-
um fragmento de cartão, e pressionada
21
ligeiramente para facilitar a sua aderên-
cia. De maneira a evitar a autólise da
amostra, esta deve ser fixada com for-
mol a 10%. Isto irá conservar e preservar
os tecidos dos processos de autólise, que
posteriormente impediriam o exame
histopatológico. Quando que recolhem
diversas amostras, estas devem ser cor-
retamente separados e identificados.
Uma boa biópsia deve ser represen-
tativa e abranger o mais possível as par-
tes ativas do processo. O animal não
deve estar medicado, à exceção de anti-
bióticos que pode tomar 3 semanas antes
para eliminar a infeção associada e as-
sim não mascarar os resultados histopa-
tológicos.
Aquando da remissão das amostras
ao laboratório, deve ir acompanhadas de
uma ficha clínica onde deverão constar
informações relativas à anamnese e
exame físico do animal, assim como a
descrição das lesões, quaisquer outros
resultados de exames complementares
realizados, tratamentos e resultados des-
tes.
Cada profissional deve orientar o
problema do seu paciente consoante o
método POA (Problem Oriented Apro-
ach), onde se devem selecionar provas
complementares com base na lista de
diagnósticos diferenciais.
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