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Resumo: O presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma análise entre as visões
doutrinárias e jurisprudenciais dos Tribunais de Justiça (TJRS, TJSC, TJPR) nos
períodos de 2008 a 2013 que consideram que a prática do jogo de poker não viola
princípios penais e aquelas que defendem a sua aplicabilidade no Direito Penal. Para
isso foi fundamental identificar quais características este jogo de carteado possui,
demonstrando que a aplicabilidade do princípio da adequação social afasta a
tipicidade na prática de jogos de azar, em especial o poker, verificando na
jurisprudência julgados com ocorrência da situação prevista no artigo em tela e qual
posição adotaram os julgadores.
1 INTRODUÇÃO
O jogo no Brasil sofre uma série de restrições por diversos motivos. E, não poderia deixar
de ser diferente, o jogo de cartas também sofreu.
Esta foi a abordagem desta pesquisa, pois, a expressão “jogo de azar” é ambíguo no
tocante específico dos jogos de poker. Veremos qual a predominância de fato nos jogos de
poker, se sorte ou habilidade de estratégia do jogador.
Além do mais será analisada a atipicidade desta prática e a aplicabilidade do princípio
penal da adequação social, onde o mesmo afasta a conduta descrita como contravenção
penal.
Em razão destes motivos o intuito é dar uma efetiva contribuição aos questionamentos e
dúvidas que vem surgindo quanto a estas questões, considerando o princípio da adequação
social, tendo em vista que a prática do poker, atualmente, conta com a aceitação
consensual da sociedade. Portanto, não pode ser considerado ofensivo aos bons costumes,
afinal, passando a ser fato atípico, pois milhões de brasileiro hoje praticam este jogo como
esporte e ainda não há lei que o regularize, nem que o criminalize também.
A história dos jogos se confunde com a história da humanidade. A importância dos jogos na
vida do ser humano é tão grande que alguns antropólogos ousam nos classificar como
Homo Ludens, em vez de Homo Sapiens.
O poker é um jogo relativamente novo – com no máximo, 1.200 anos de existência. Alguns
atribuem a invenção das cartas aos chineses.
Supõe-se que os franceses são os grandes responsáveis pela disseminação do poker nos
Estados Unidos, utilizando a cidade de Nova Orleans, fundada por eles em 1718, como
porta de entrada para o jogo. O jogo, porém, foi visto na cidade pela primeira vez apenas
em 1829, 26 anos após Napoleão vender o estado da Louisiana para os Estados Unidos.
Foi apenas na década de 1970 que floresceu a modalidade que perdura até hoje – o Texas
Hold’em.
O Poker atualmente consiste em um jogo de cartas, onde seu alvo é quem fizer a melhor
jogada, ganha a partida. O número de jogadores mínimos é dois participantes e no máximo
oito. Seu número de cartas é 52, sendo distribuídas duas para cada participante.
O objetivo do jogo é fazer a melhor mão possível de cinco cartas, combinando as duas
cartas fechadas, que cada jogador recebe no inicio de cada rodada, com as cinco cartas
"comunitárias" abertas pelo "dealer" (crupiê) na mesa.
3 CONTRAVENÇÃO PENAL
O Art. 50, caput do Decreto Lei 3.688/1941, dispõe que contravenção é: “Estabelecer ou
explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de
entrada ou sem ele” e tipificando a contravenção de jogo de azar, e a doutrina, com razão,
indica como objetividade jurídica os bons costumes uma vez que o Capítulo VII que trata o
tema é “política de costumes”
Verifica-se que o verbo nuclear do tipo é duplo: estabelecer e explorar. Um ou outro, e não
necessariamente ambos. “Estabelecer” tem significado amplo, como “instalar, organizar,
fundar, guarnecer a casa de jogo, com móveis, máquinas, baralhos, fichas, roletas e demais
objetos próprios”. “Explorar” equivale “a exercitar o jogo, praticá-lo materialmente,
executar sua técnica ou, na terminologia do próprio jogo, bancá-lo”
Considera-se contravenção, a infração penal que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
Para a configuração da competição esportiva, que pode vir a se tornar o torneio de poker, é
fundamental que não existam apostas (de qualquer natureza). É que, pela dicção da alínea
c, do § 3º, do art. 50, transcrito acima, a aposta sobre qualquer competição esportiva é
enquadrada como contravenção penal.
Com isso, logra-se desqualificar os dois elementos: um torneio de poker (sem apostas, mas
com prêmios) pode ser considerado uma competição esportiva e, como tal, cuja prática é
saudável e recomendada, sem qualquer empecilho penal.
A conduta é uma realidade presente na vida humana. Como o Direito é voltado para o
homem, a conduta tem que ser necessariamente relevante para ele. Contudo, quando se
fala especificamente em Direito Penal, nem todas as formas de comportamento humano
possuem relevância e para que a referida conduta seja penalmente relevante, o legislador
precisa reduzi-la a um tipo.
Para apurar a tipicidade material, vale-se a doutrina dos princípios da adequação social e da
insignificância, que configuram as causas Implícitas de exclusão da tipicidade.
A adequação social exclui desde logo a conduta em exame do âmbito de incidência do tipo,
situando-se entre os comportamentos normalmente permitidos, isto é, materialmente
atípicos.
Segundo Welzel, o Direito Penal tipifica somente condutas que tenham uma certa
relevância social; caso contrário, não poderiam ser delitos. Deduz-se, consequentemente,
que há condutas que por sua “adequação social” não podem ser consideradas criminosas.
Em outros termos, segundo esta teoria, as condutas que se consideram “socialmente
adequadas” não se revestem de tipicidade e, por isso, não podem constituir delitos.
Por outro modo, a prática do poker não é proibida e nem legalizada por nenhuma legislação
brasileira, sendo, portanto tolerada.
A adequação social é, sem dúvida, motivo para exclusão da tipicidade, justamente porque a
conduta consensualmente aceita pela sociedade não se ajusta ao modelo legal
incriminador, tendo em vista que este possui, como finalidade precípua, proibir condutas
que firam bens jurídicos tutelados. Ora; se determinada conduta é acolhida como
socialmente adequada deixa de ser considerada lesiva a qualquer bem jurídico, tornando-se
um indiferente penal.
Em outra esfera, um jogo de azar o jogador não pode com suas habilidades interferir no
resultado final da partida. No jogo de poker o jogador habilidoso pode mudar o curso da
partida e ganhar a disputa através de seu raciocínio lógico.
“o sucesso no jogo de pôquer, pela própria natureza do jogo, depende em grande parte da
habilidade do jogador, razão pela qual o jogo de pôquer não pode ser tido como Jogo de Azar,
não se perfazendo a tipicidade do estatuído no art. 50 da Lei de Contravenções Penais no caso
de exploração do jogo de pôquer.”
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em Mandado de Segurança, entendeu que “no
poker, o valor real ou fictício das cartas depende da habilidade do jogador, especialmente
como observador do comportamento do adversário, às vezes bastante sofisticado,
extraindo daí informações, que o leva a concluir se ele está, ou não, blefando. Não por
acaso costuma-se dizer que o jogador de poker é um blefador. Por sua vez, esse adversário
pode estar adotando certos padrões de comportamento, mas ardilosamente, isto é, para
também blefar. Por exemplo, estando bem, mostra-se inseguro, a fim de o adversário
aumentar a aposta, ou, estando mal, mostra-se seguro, confiante, a fim de o adversário
desistir. Em suma, é um jogo de matemática e de psicologia comportamental.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao tratar o tema ao longo deste trabalho, percebe-se que temos duas vertentes que
afastam a aplicação da tipicidade nos jogos de poker a fim de não considera-lo jogo de azar,
consequentemente, enquadrá-lo como contravenção penal.
O segundo é analisar as características que o próprio jogo traz, como estudos matemáticos
e pesquisas comportamentais já nos comprovaram que tem como requisito
preponderantemente e indispensável a habilidade.
Parece legalmente viáveis o estabelecimento e a exploração de torneios de poker no País,
desde que algumas precauções fundamentais sejam observadas, a saber: a aplicação da
modalidade competição esportiva, como manifestação do entendimento de que em tal
circunstância não haveria predominância da sorte; e de que não existam apostas no
torneio, mas apenas cobranças pela inscrição em eventos e premiação pelo resultado final
obtido na competição.
De fato, se entende ser defensável que o torneio de poker sem qualquer aposta possa ser
compreendido como competição esportiva, e não jogo de azar, o que o levaria ao amparo
da legislação pátria.
O passado remoto do poker é incerto, mas está ficando cada vez mais claro que ele tem
lugar cativo no futuro. Suas virtudes são muitas, sobretudo quando falamos de Texas
Hold’em – a modalidade de poker que mais bem se adaptou ao pensamento
contemporâneo.
AGRADECIMENTOS