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Gabinete da 2ª Juíza de Direito da Unidade Jurisdicional do Juizado Especial de Araguari

AUTOS N.º 0035 19 002205-9


REQUERENTE: VINÍCIUS LUIZ PEREIRA
REQUERIDO: OI MÓVEL S/A
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C TUTELA ANTECIPADA

SENTENÇA

Vistos etc.

Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95.

Estando o processo em ordem, passo a decidir.

1. DA PRELIMINAR - DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA


REQUERIDA SERVICES ASSESSORIA E COBRANÇAS LTDA

Alega a requerida Services Assessoria e cobranças que é parte ilegítima a


figurar no polo passivo da presente demanda, vez que apenas efetuou as
cobranças em nome da Oi Móvel.

De fato assiste razão à requerida Services, pois analisando os documentos


de fls. 19 e 20, verifica-se que a ré ao promover o registro dos títulos no cartório
de protesto para fins de conservação, atuou como mera mandatária da empresa
Oi.

Os legitimados à causa são os sujeitos da lide, isto é, os titulares dos


interesses em conflito, evidente, portanto, que, no caso, os titulares dos
interesses em conflito são a autora e a requerida Oi Móvel.

Desse modo, ao apresentar o título no cartório de protesto, agiu a


requerida em nome do mandante (OI Móvel), sendo esta, nos termos do art. 663
do Código Civil, o único legitimado a responder pelos termos da presente
demanda, visto que não há nos autos qualquer prova de excesso de poderes ou
de conduta culposa assumida pela requerida Services.

Nesse sentido, o escritório de cobrança, ora requerido, contratado pela


empresa OI, não responde solidariamente pelos supostos danos advindos do
registro do protesto.

Assim, reconheço a ilegitimidade passiva da requerida Services


Assessoria e cobranças Ltda, e por consequência, declaro extinto o processo
sem julgamento de mérito, nos termos do art. 485, VI do CPC.

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2. DO MÉRITO

No caso em exame, pleiteia o autor a reparação dos danos morais sofridos


em virtude do protesto indevido de um título emitido em seu nome e a
declaração de inexistência dos débitos que embasaram o protesto.

A hipótese trazida nos autos trata-se de típica relação de consumo,


devendo ser aplicadas as disposições do Código de Defesa do Consumidor.

No caso sub judice, não há que se falar em inversão do ônus da prova, nos
termos do art. 6, VIII do CDC, uma vez que diante da negativa da autora de ter
mantido relação jurídica com a requerida, o ônus da prova se inverte nos termos
do art. 373,II do CPC.

O feito encontra-se apto a julgamento nos termos do art. 355,I do CPC,


vez que não há mais provas a serem produzidas, conforme manifestado pelas
partes na audiência de conciliação (fls. 31/32).

Nega o autor ter mantido relação jurídica com a requerida que justificasse
o protesto, tendo a requerida protestado indevidamente títulos de crédito
emitidos em seu nome.

Em contestação, a requerida reconhece a ocorrência de uma fraude na


contratação do débito ensejador do protesto, bem como alega a excludente de
responsabilidade, nos termos do art. 14, § 3º do CDC.

Sustenta ainda que os débitos já foram cancelados e a inexistência de dano


moral a ser indenizado.

A questão de embate é a existência ou não de responsabilidade civil da


requerida diante dos fatos apresentados pelo autor.

Neste contexto, por se tratar de relação de consumo onde o autor pode ser
apontado como consumidor e o réu como fornecedor de um serviço, a luz dos
artigos 2º e 3º do CDC, a estrutura da responsabilidade analisada dispensa o
elemento subjetivo, subsistindo apenas a necessária conduta ilícita, o dano e a
relação de causalidade entre ambos.

O Estatuto Consumerista em seu artigo 14 confere responsabilidade ao


fornecedor pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, independentemente da existência de culpa.

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In casu, a responsabilidade a ser verificada é objetiva e neste sentido, a
requerida apenas se exime de reparar o dano diante da ocorrência de uma das
hipóteses taxativas previstas no artigo art. 14, § 3º do CDC.

Compulsando os autos, verifica-se que na contestação, a requerida


reconhece que a contratação foi realizada de forma fraudulenta, tanto que
cancelou o contrato e os débitos existentes em nome do autor.

Deste modo, diante do reconhecimento do pedido de declaração de


inexistência de débito, hei por bem homologá-lo.

No que pertine ao pedido de indenização por danos morais, verifica-se


que ainda que a requerida tenha reconhecido a existência de fraude, não restou
configurado nos autos o dano moral.

Assim entendo porque, embora o autor afirme em sua inicial, que ocorreu
o protesto de títulos emitidos em seu nome, tem-se que os documentos de fls. 19
e 20, demonstram que a ré, por meio da empresa Services Assessoria e
cobranças Ltda, realizou apenas o registro dos débitos, para fins de conservação,
no Cartório Rego Loureiro Registro de Títulos e Documentos em São Paulo,
conforme disposto no art. 127, VII, da Lei 6.015/73, vejamos:

“Art. 127. No Registro de Títulos e Documentos será feita a


transcrição:
[...].
VII - facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação.”

Desta forma, ausente o protesto, não há que se falar em reparação de


danos morais.

Esse é inclusive o entendimento do e. Tribunal de Justiça do Rio Grande


do Sul, senão vejamos:

Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REGISTRO DO DÉBITO
PARA FINS DE CONSERVAÇÃO. PREVISAO NA LEI DE
REGISTROS PÚBLICOS. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
NÃO COMPROVAÇÃO DE ORIGEM DA DÍVIDA POR PARTE
DA DEMANDADA. PROTESTO NÃO DEMONSTRADO.
INDENIZAÇÃO DESCABIDA. A autora alegou ter seu nome levado
a protesto por dívida cedida da primeira ré para segunda, a qual já
havia sido adimplida. Impunha-se à ré, a teor do art. 373, II, do CPC, e
art. 14, §3º, do CDC, provar a regularidade das cobranças, ônus do
qual não se desincumbiu, pois nada trouxe para fazer prova da
inadimplência da demandante. Devida, assim, a declaração de
inexistência do débito perante as rés. Contudo, no caso, a ré efetivou
registro de débito em nome da autora para fins de conservação,

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nos termos do art. 127, VII da Lei de Registros Públicos (fls. 26 e
28), não havendo portanto, demonstração do protesto do nome da
demandante, este regulado pela Lei 9.492/97 que é, este sim, o ato
formal pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de
obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.
Logo, inexistindo efetivação do protesto, não há falar em danos
morais indenizáveis. Sentença parcialmente reformada. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71006461743,
Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ana
Cláudia Cachapuz Silva Raabe, Julgado em: 07-12-2016) - grifo
nosso.

Por esta razão, entendo improcedente o pleito autoral de indenização por


danos morais.

São essas as razões de decidir.

Ante ao exposto, no tocante à requerida Services Assessoria e cobranças


Ltda, JULGO EXTINTO O FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO para
acolher a ilegitimidade passiva ad causam nos termos do artigo 485, VI do CPC.

Quanto à requerida Oi Móvel S/A, com relação ao pedido de indenização


por danos morais, JULGO IMPROCEDENTE o pedido que encerra a ação
proposta pela parte autora, extinguindo o feito, via de consequência, COM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO nos moldes do artigo 487, inciso I do CPC.

Outrossim, HOMOLOGO o reconhecimento do pedido de declaração de


inexistência de débito, que encerra a ação proposta pela parte autora,
extinguindo-o, via de consequência, COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO nos
moldes do artigo 487, inciso III, “a” do CPC.

Em primeiro grau de jurisdição o juiz não está obrigado a manifestar-se


sobre o pedido de justiça gratuita, a teor do disposto no art. 54 da Lei 9099/95,
cabendo a sua análise à douta Turma Recursal em caso de eventual recurso, nos
termos do art. 55, 2ª parte do mesmo diploma legal.

Sem custas processuais e honorários advocatícios (art. 55 da Lei 9099/95).

P. R. I.

Araguari-MG, 15 de julho de 2019.

KARLA LARISSA AUGUSTO DE OLIVEIRA BRITO


Juíza de Direito

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