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All content following this page was uploaded by Hélia Margarida Oliveira on 04 April 2015.
Hélia Oliveira
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
hmoliveira@ie.ulisboa.pt
António Borralho
Centro de Investigação em Educação e Psicologia, Universidade de Évora
amab@uevora.pt
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usadas pelos alunos ou aos processos matemáticos, por exemplo, a argumentação, que se
pretendem promover,
Associada à tipologia das tarefas surge, muitas vezes, a ideia do maior ou menor desafio
que elas suscitam nos alunos e como isso afeta a possibilidade de envolvimento na
atividade matemática esperada. Hodge et al. (2007) destacam a importância de considerar
o interesse do aluno na tarefa, que designam por pragmático, que o levem a ter um
interesse em desenvolver o problema/situação matemática ali proposto. Os autores,
seguindo Dewey, assumem uma perspetiva de desenvolvimento que enfatiza a natureza
profundamente cultural dos interesses dos alunos. No seu estudo tornam evidente como
a tentativa de cultivar o interesse matemático dos alunos (no caso no domínio da
estatística) ancorou-se fortemente na atenção inicial dada aos seus interesses pragmáticos
e na promoção da sua participação em práticas consistentes com as dos profissionais da
área. No entanto, salientam que podem surgir tensões ao procurar-se articular os
interesses pragmáticos e os interesses ligados ao conteúdo matemático, o que exige
considerar que características as tarefas devem possuir para apoiar os interesses dos
alunos na aprendizagem da matemática, ao longo do tempo.
No que diz respeito ao contexto das tarefas, em particular nos níveis mais elementares,
existem diversos elementos que devem ser considerados na sua seleção ou elaboração,
como por exemplo: permitir o uso de modelos; fazer “sentido” para os alunos e; suscitar
surpresa e questionamento (Fosnot & Dolk, 2001). Os contextos das tarefas,
nomeadamente as situações que enquadram os problemas matemáticos, podem constituir
um importante suporte ao raciocínio dos alunos e à orquestração de discussão de ideias
matemáticas contribuindo para a aprendizagem matemática (Mendes, Brocardo &
Oliveira, 2013).
A inclusão de contextos não matemáticos nas tarefas a propor aos alunos tem uma longa
tradição nos chamados “problemas de palavras” que nas últimas décadas alguns
investigadores têm criticado por se tratarem de “pseudo-realísticos”, dado não
representarem situações da realidade e não incentivarem o uso ao conhecimento comum
dos alunos ou a avaliação de resultados em função do que seria razoável na situação real
(Palmer, 2009). Ainda assim, há autores que defendem que essas situações cumprem um
papel importante dado fornecerem as imagens mentais necessárias para construir e
discutir conceitos abstratos, como refere Gerofsky (2009). Este autor recorda que o
conceito de “realístico” para as situações a propor aos alunos está presente no movime nto
RME (Realistic Mathematics Education), adotando as perspetivas de Hans Freudenthal,
configurando-se como algo que é imaginável, para o qual é possível criar uma imagem
mental. Deste modo, considera que os alunos estão conscientes que tais problemas não
são transparentes e não têm como intenção elucidar a utilidade da matemática na vida
quotidiana.
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através do tipo de números que vão sendo introduzidos; ii) o problema vai tornando-se
mais complexo, por exemplo, pela adição de mais passos ou variáveis, e iii) o conceito
envolvido na tarefa vai sendo ele próprio mais complexo. Este é um trabalho exigente ao
nível da planificação mas que permite estabelecer um percurso coerente de aprendiza ge m,
levando em conta as características dos alunos.
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O texto de autoria de Joana Silva e Ema Mamede (Explorando tarefas de padrões no 2.º
ano do ensino básico) apresenta uma análise de alunos, do 2.º ano de escolaridade,
envolvidos em tarefas sobre padrões de repetição e crescimento em sala de aula. As
autoras discutem a importância do conhecimento da tarefa (matemática envolvida na
tarefa) e do conhecimento pedagógico da tarefa (conhecimento matemático envolvido e
conhecimento matemático dos alunos). As tarefas propostas foram exploradas de acordo
com o modelo tetraédrico de Rezat e Strasser (2012) enfatizando a relação entre o aluno,
a tarefa e a matemática, embora o papel do professor no processo também seja relevante.
Os resultados fornecem indicadores interessantes sobre a natureza das tarefas (sobre
padrões), o papel dos alunos e a matemática envolvida (álgebra/pensamento algébrico)
em relação à comunicação matemática, ao raciocínio matemático e à resolução de
problemas. A relação tarefa-aluno- matemática do modelo tetraédrico constituiu uma
oportunidade dos alunos desenvolverem: i) a comunicação oral porque foram
incentivados a descrever, por palavras suas e pormenorizadamente, as resoluções de cada
problema; ii) o raciocínio matemático porque justificavam as resoluções de forma simples
e elementar e, progressivamente, argumentavam de forma mais complexa e completa,
com recurso a linguagem matemática mais elaborada e; iii) a resolução de problemas
porque foi discutido e aceite, em sala de aula, várias resoluções da mesma tarefa o que
contrariou a ideia dos alunos que os problemas apenas tinham um processo de resolução.
O trabalho de António Domingos (A aprendizagem da matemática através de tarefas
baseadas em recursos tecnológicos), assente na Teoria da Atividade, analisou de que
forma um conjunto de tarefas de cariz tecnológico, enquanto artefactos mediadores,
promove a aprendizagem dos alunos. Em particular, pretendeu compreender o papel
desempenhado pelas tarefas que, apresentadas em formato eletrónico formando
sequências de aprendizagem, simulam em grande parte a organização dos conteúdos
apresentados no manual escolar. Sendo essas tarefas retiradas dos manuais escolares e
dos materiais eletrónicos que lhe estavam associados, portanto inerentes ao currículo
apresentado aos professores, tentou explicitar a forma como o currículo modelado e o
currículo em ação se transformam em ferramentas de aprendizagem. A partir da
observação e gravação das ações dos alunos na resolução das tarefas propostas pela
ferramenta foi caraterizada a aprendizagem realizada, considerando que esta é mediada
pela sequência das tarefas apresentada pelo recurso em uso. Procurou, ainda, caracterizar
o papel desempenhado pelo professor ao intervir nas sequências de aprendizagem que são
apresentadas nesses materiais. As tarefas revelaram-se bons mediadores da
aprendizagem, verificando-se um desenvolvimento significativo do pensamento
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Em síntese, na maioria dos estudos que integram este tema, salientam-se aspetos
importantes relativamente às características da tarefas propostas e também ao papel do
professor no decurso da aula para garantir que a tarefa proposta atinge os objetivos de
aprendizagem visados. Nestes textos é possível observar aspetos da prática do professor
associada ao trabalho com tarefas em sala aula, como sejam o apoiar os alunos na
interpretação de enunciados, em gerir a discussão coletiva e na sistematização das ideias
fundamentais conduzindo a níveis mais formais de pensamento. Torna-se bastante
evidente nestes estudos, uma certa cultura de sala de aula que é criada, salientando a
estreita associação entre a atividade decorrente das tarefas e as normas socio-matemáticas
estabelecidas (Gravemeijer & Cobb, 2013).
Observa-se que, na maioria dos estudos relatados, as tarefas matemáticas visam o ensino
de aspetos da matemática, onde o professor tem um papel relevante em sala de aula, e as
aprendizagens. Assumindo as tarefas esta centralidade no processo de ensino e
aprendizagem e sendo a avaliação um processo inerente ao ensino e à aprendizagem, será
importante que a avaliação cumpra a sua principal função: melhorar o ensino e a
aprendizagem. Tal função é evidenciada num artigo de Black & Wiliam (1998) que
apresenta uma meta-análise de vários artigos de investigação sobre avaliação das
aprendizagens, evidenciando o papel da avaliação formativa na melhoria das
aprendizagens dos alunos. Nessa avaliação formativa é dado especial destaque ao
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