CARTA DO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DO COLÉGIO PEDRO II
SOBRE ALGUMAS CONDIÇÕES PRECÁRIAS DO PROEJA
Em reunião de colegiado do departamento de filosofia, realizada em 02/03/2016,
os membros desta instância decidiram por dar conhecimento à Reitoria, à Pró-Reitoria de Ensino e à comunidade escolar do Colégio Pedro II, uma série de sugestões e reivindicações em prol da melhoria do PROEJA, visto que reconhecemos algumas situações de precariedade e vulnerabilidade nele instaladas.
Em primeiro lugar, o departamento de filosofia tem ciência da existência do fórum
de discussão sobre o PROEJA. Todavia, nossos membros igualmente reconhecem algumas situações estruturais graves, que devem ser sanadas com a maior presteza.
Há no PROEJA do Colégio Pedro II alunos com graves deficiências de
alfabetização, bem como carentes de formação adequada para a lida com operações matemáticas básicas. Ainda que possuidores de um diploma de ensino fundamental, a situação descrita é um fato. O departamento de filosofia está ciente da grande importância social do PROEJA, ao mesmo tempo em que destaca a importância de um trabalho pedagógico específico para esse setor. Calcado nesses dois pilares, o departamento de filosofia considera fundamental algum programa que operacionalize o letramento desses alunos que já estão no colégio. Ao mesmo tempo, faz-se necessário a utilização de instrumentos que efetivamente avaliem a entrada de novos alunos no PROEJA, de modo a realmente detectar aqueles que não dispõem dos mais básicos rudimentos de formação. O mecanismo do processo seletivo não se configura como medida de exclusão, mas de necessária ação para o atendimento dos requisitos básicos ao acompanhamento do Ensino Médio. Ora, ainda que muitos professores de língua portuguesa e matemática sejam obviamente capazes de ensinar os rudimentos da sua disciplina, há décadas a literatura científica reconhece que o processo de alfabetização de adultos possui características singulares, sendo este campo de maior domínio prático e teórico dos profissionais formados em pedagogia. Assim sendo, duas medidas coadunadas se fazem necessárias: 1) a disponibilização dos profissionais mencionados para o auxílio daqueles alunos que já se encontram na instituição; 2) o aprimoramento do processo seletivo para o ingresso dos alunos do PROEJA. De todas as decepções com processos de segregação, maior é a decepção com a segregação tripla: a do aluno reconhecer praticamente sua profunda dificuldade de acompanhar o Ensino Médio; o mercado e as instituições declararem o aluno como iletrado, ainda que possua o diploma do Ensino Médio; o professor se ver incapaz de dispor dos meios adequados para o resgate do aluno. Perante o aluno nesta situação, o professor é colocado em penoso e aflitivo conflito moral, por conta de erro sistémico que escapa à sua vontade e se furta aos seus meios pedagógicos em todas as etapas do processo.
Por fim, uma medida de grande urgência é a disponibilização de maiores recursos
para a divulgação sobre a existência do PROEJA no Colégio Pedro II, bem como a maior divulgação do concurso de ingresso. Um possível esvaziamento do PROEJA não significa a falta de público em potencial. Nas regiões carentes, há uma miríade de cursos EJA, inclusive privados, que captam uma expressiva parcela da população. Ainda que os campi tenham envidado esforços para a divulgação, os meios disponíveis não demonstram suficiência. O Colégio Pedro II pode ter grande nomeada entre a população de classe média-baixa e média, mas nem tanto entre a população carente. Quando a nomeada se expressa, em muitos casos, a instituição aparece a esse público como algo de difícil acesso, como se ela não fosse feita também para eles. Eis um fator cultural que pode ser quebrado com melhores e maiores estratégias de divulgação do PROEJA. O engrandecimento do PROEJA é vital para a maior manifestação dos compromissos sociais do Colégio Pedro II, ao mesmo tempo em que expressa com maior força o compromisso da instituição com as comunidades que circundam seus campi.