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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Carine Molz

VIABILIDADE DA UTILIZAÇÃO DO MATERIAL FRESADO


ESTABILIZADO GRANULOMETRICAMENTE EM BASE DE
PAVIMENTOS

Santa Maria, RS
2017
Carine Molz

VIABILIDADE DA UTILIZAÇÃO DO MATERIAL FRESADO ESTABILIZADO


GRANULOMETRICAMENTE EM BASE DE PAVIMENTOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao curso de Engenharia Civil,
da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM, RS), como requisito parcial para
obtenção do título de Engenheira Civil.

Orientadora: Profª. Drª. Tatiana Cureau Cervo

Santa Maria, RS
2017
Carine Molz

VIABILIDADE DA UTILIZAÇÃO DO MATERIAL FRESADO ESTABILIZADO


GRANULOMETRICAMENTE EM BASE DE PAVIMENTOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao curso de Engenharia Civil,
da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM, RS), como requisito parcial para
obtenção do título de Engenheira Civil.

Aprovada em 6 de julho de 2017:

______________________________________
Tatiana Cureau Cervo, Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientadora)

_______________________________________
Évelyn Paniz

_______________________________________
Fernando Dekeper Boeira

Santa Maria, RS
2016
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, e a minha família. Obrigada aos meus pais,


Solange e Marcio, por me proporcionarem a possibilidade de realizar minha
graduação longe de casa, pelo apoio tanto financeiro quanto emocional, por
acreditarem no meu potencial e pelo incentivo a sempre sonhar e querer mais. Em
especial a minha mãe, Solange, por fazer dos seus sonhos a realização dos meus
sonhos, pelos conselhos e palavras sábias, correções de artigos, textos, e-mails e
incentivo a vida acadêmica. A minha irmã, Kelli, por todos os momentos de
convivência, carinho e companheirismo.
Aos meus amigos de longa data, Charlote, Camila, Gabriela, Tairon e Paola
pela amizade sólida, convivência, carinho, incentivo e momento de descontração. Ao
meu namorado Gabriel Said, que mesmo longe, sempre prestou apoio e demonstrou
carinho, paciência e compreensão em todos os momentos de medos, estresse e
angústia.
Aos meus queridos colegas de curso e profissão, pelas incansáveis palavras
de estímulo, pela ajuda, paciência sempre que necessário, compreensão nos
momentos de ansiedade, pela amizade e momentos compartilhados. Em especial ao
Henrique, Silvana, Larissa, Ticiana, Aninha, Fernanda, Jonathan, Leonardo, Gabriel,
Renan, Thiago, Ivan, Paola e a Ane, que mesmo optando pela mudança de curso
vivenciou grande parte destes momentos, prestando o seu apoio.
A todos os meus companheiros de Itep Jr, de Pet Civil e laboratório pelo
conhecimento compartilhado, estudos, pesquisa e diversão, especialmente Criziéli,
Helena, Rafael, Luís, Leandro e Chaveli. A ONG Engenheiro sem fronteiras – núcleo
Santa Maria, da qual eu faço parte e que me motivou a realizar ações sociais e
voluntárias através dos meus conhecimentos de engenharia.
Aos professores que participaram da minha formação acadêmica como
engenheira civil, seja ministrando aulas, ajudando na realização de estudos e
pesquisas, pelo apoio, amizade, conhecimento partilhado e compreensão. Em
especial a minha orientadora Tatiana pelo carinho e por todas as oportunidades
concedidas, tanto de iniciação científica, como de orientação do trabalho de
conclusão final e estágio supervisionado, pelo conhecimento compartilhado,
dedicação, paciência, confiança e palavras de incentivo. Ainda, agradeço ao LMCC
pela disponibilização da estrutura e equipamentos para a realização dos ensaios e
em especial ao Sr. João, Cléber, Lucas, Henrique e ao Matheus pela ajuda,
ensinamentos e estudos na realização dos ensaios.
Não poderia deixar de agradecer ao Ministério da Educação pela
oportunidade de realização de intercâmbio na Alemanha durante um ano e meio e a
RWTH Aachen, pelos aprendizados culturais e técnicos e amizades que esta
experiência me proporcionou. Obrigado pelo apoio, companheirismo, amizade e
carinho em todos os momentos difíceis longe da família, Ana, Letícia, Ygor, Jéssica,
Iuri, Rafael, Jacqueline, Mateus e Gabriel.
Por fim, agradeço a todas as pessoas que de alguma forma participaram da
minha formação acadêmica, auxiliando e contribuindo na conclusão desta etapa.
RESUMO

VIABILIDADE DA UTILIZAÇÃO DO MATERIAL FRESADO ESTABILIZADO


GRANULOMETRICAMENTE EM BASE DE PAVIMENTOS

AUTORA: Carine Molz


ORIENTADORA: Tatiana C. Cervo

As rodovias brasileiras desempenham grande importância econômica para o país,


visto que a maioria dos grãos produzidos são escoados através deste modal.
Sabendo-se da necessidade de restauração das vias existentes, aliada a
preocupação ambiental e com a redução de custos nas obras rodoviárias, surgiram
novas técnicas para reaproveitar os materiais excedentes gerados neste
processo.Dentre estas, destaca-sea reciclagem dos resíduosprocedentes daretirada
do revestimento asfáltico danificado, o fresado. Esta pesquisa objetiva avaliar,
através de ensaios laboratoriais, a utilização do material fresado puro e estabilizado
granulometricamente com pó de pedra em camadas subjacentes na pavimentação.
Neste estudo utilizou-se fresado, obtido através do processamento superficialda BR-
287 em Santa Maria-RS, e pó de pedra basáltica.Tendo em vista as especificações
granulométricas do DNIT, realizaram-se ensaios laboratoriais de caracterização e
resistência mecânica da mistura de 70% fresado e 30% de pó de pedra, assim como
ensaios de caracterização nestes materiais individualmente.Em relação aos
resultados referentes a resistência da mistura, o ensaio de compactação apresentou
umidade ótima de 9,9% emassa específica aparente secade 2030 Kg/m³, enquanto
o ensaio de ISC obteve um valor resultante de cerca de 21%. Ainda, foram
moldados corpos de prova para realização dos ensaios de Resistência à
Compressão por Tração Diametral, Módulo de Resiliência e Resistência a
Compressão Simples. Estes não apresentaram resultados pertinentes devido à
natureza granular da mistura. Desta forma, analisando os valores obtidos através da
análise experimental da mistura e do fresado, ambos apresentaram viabilidade de
utilização, podendo a mistura ser aplicadaem camadas de sub-base e reforço de
subleito depavimentos.

Palavras-chave:Material Fresado. Reciclagem. Pavimento.


ABSTRACT

FEASIBILITY OF THE USE OF GRANULOTRICALLY STABILITY RAP IN


PAVEMENT BASE

AUTHOR: Carine Molz


ADVISOR: Tatiana C. Cervo

The Brazilian highways have a great economic importance for the country, since the
majority of the producedgrains are disposed through this modal. Knowing the
necessity to rehabilitate the existing roads, together with the environmental concern
and cost reduction, new techniques have emerged to reuse the materials generated
in this process.Among these, we highlight the recycling of the residuos from the
removal of damaged asphalt coating, reclaimed asphalt pavement (RAP).This
research aims to evaluate, through laboratory tests, the use of the stabilized
granulometrically RAP with grit in underlying pavement layers.In this study, it was
used RAP, obtained through the milling surface processing of the BR-287 in Santa
Maria-RS, and basaltic grit.Considering the DNIT granulometric specifications, the
laboratory characterization and mechanical resistance tests of the 70% RAP and
30% grit mixture were carried out, as well as the individually characterization tests in
these materials.In the results of the strength mixture, the compaction test presented
9.9% of the optimum water content and 2030 kg / m 3 of dry apparent density, also
the ISC test result was about 21%. Furthermore, specimens were prepared for the
compressive strength by diametral tensile, resilient modulus and compressive
strength tests.These tests did not present relevant results due the granular nature of
the mixture. In this way, analyzing the values obtained through the experimental
analysis of the mixture and the milled material, both presented viability of use, being
able to the mixture to be applied in sub-base layer and reinforcement of subgrade
layer in pavement.

Keywords: RAP. Recycling. Pavement.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura e execução de um pavimento de concreto ............................... 15


Figura 2 – Distribuição de tensões no pavimento flexível ......................................... 15
Figura 3 – Pavimento semirrígido .............................................................................. 16
Figura 4 - Distribuição de tensões no pavimento flexível. ......................................... 17
Figura 5 – Estrutura e execução de um pavimento flexível ....................................... 17
Figura 6 – Materiais utilizados na pavimentação....................................................... 20
Figura 7 – Granulometria das misturas ..................................................................... 21
Figura 8 – Fresadora a frio. ....................................................................................... 24
Figura 9 – Técnica de reciclagem profunda. ............................................................. 28
Figura 10 – Pó de pedra e material fresado, respectivamente. ................................. 30
Figura 11 – Coleta de material fresado. .................................................................... 31
Figura 12 – Peneirador mecânico ............................................................................. 32
Figura 13 – Equipamento utilizado no ensaio Rotarex .............................................. 33
Figura 14 – Ensaio Rice. ........................................................................................... 35
Figura 15 – Amostra de pó de pedra basáltica. ......................................................... 36
Figura 16 – Exploração Rochosa em Itaara-RS ........................................................ 36
Figura 17 – Separação do pó de pedra por peneiras. ............................................... 37
Figura 18 – Ensaio do Picnômetro. ........................................................................... 37
Figura 19 – Mistura 70% fresado e 30% pó de pedra. .............................................. 38
Figura 20 – Ensaio de Compactação. ....................................................................... 39
Figura 21 – Ensaio CBR – Corpo de prova imerso em água..................................... 40
Figura 22 – Corpos de prova nas formas 6,3x10 cm e 10x20 cm, respectivamente. 41
Figura 23 – Compactação do corpo de prova 10x20 cm com soquete manual ......... 41
Figura 24 – Corpos de prova desmoldados. ............................................................. 42
Figura 25– Ensaio de Módulo de Resiliência. ........................................................... 43
Figura 26 – Ensaio de Resistência a Tração por Compressão Diametral. ................ 43
Figura 27 – Granulometria do fresado....................................................................... 46
Figura 28 – Fresado BR-287 (2016) x Fresado RSC-287 (2011). ............................. 48
Figura 29 – Granulometria fresado x CPA (Faixa III) ................................................ 50
Figura 30 – Composição granulométrica do pó de pedra. ......................................... 51
Figura 31 – Curva Granulométrica ............................................................................ 52
Figura 32 – Curva de Compactação.......................................................................... 53
Figura 33 – Curva Pressão-Penetração. ................................................................... 56
Figura 34 – Comparação entre o fresado da BR-287 e outros estudos .................... 58
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Técnicas de reciclagem de pavimentos................................................... 27


Tabela 2 – Composição granulométrica do Fresado. ................................................ 45
Tabela 3 – Faixas granulométricas para dosagem de CPA - DNER-ES-386/99 ....... 49
Tabela 4 – Distribuição Granulométrica do pó de pedra. .......................................... 50
Tabela 5 – Resultado do ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC). ................... 55
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


CAP Cimento Asfáltico de Petróleo
CBR California Bearing Ratio
cm Centímetros
CNT Confederação Nacional dos Transportes
CP Corpo de Prova
CPs Corpos de Prova
CPA Camada Porosa de Atrito
DERSA Desenvolvimento Rodoviário S.A – São Paulo
DMM Densidade Máxima Medida
DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte
g Grama
g/cm³ Grama por centímetro cúbico
ISC Índice de Suporte Califórnia
kg/m³ Kilograma por metro cúbico
LMCC Laboratório de Materiais de Construção Civil
mm Milímetros
MPa MegaPascal
NBR Norma Brasileira
RCS Resistência à Compressão Simples
RTCD Resistência a Compressão por Tração Diametral
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12
1.1. OBJETIVOS ................................................................................................... 13
1.1.1. Objetivo geral ................................................................................................ 13
1.1.2. Objetivos específicos ................................................................................... 13
2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 14
2.1. TIPOS DE PAVIMENTOS .............................................................................. 14
2.1.1. Pavimento Rígido ......................................................................................... 14
2.1.2. Pavimento Semirrígido ................................................................................. 15
2.1.3. Pavimento flexível ........................................................................................ 16
2.2. MATERIAIS UTILIZADOS NA PAVIMENTAÇÃO ........................................... 18
2.3. ESTABILIZAÇÃO GRANULOMETRICA ......................................................... 21
2.4. FRESAGEM DE PAVIMENTOS ..................................................................... 23
2.5. RECICLAGEM NA PAVIMENTAÇÃO ............................................................. 24
2.5.1. Objetivos da reciclagem de pavimentos .................................................... 26
2.5.2. Técnicas de reciclagem de pavimentos...................................................... 26
3. METODOLOGIA............................................................................................. 30
3.1. MATERIAIS UTILIZADOS .............................................................................. 30
3.1.1. Material fresado ............................................................................................ 30
3.1.2. Granulometria do material fresado ............................................................. 32
3.1.3. Teor de betume e densidade máxima medida............................................ 32
3.1.4. Pó de pedra .................................................................................................. 34
3.2. COMPOSIÇÃO DA MISTURA ........................................................................ 37
3.3. ENSAIO DE COMPACTAÇÃO ....................................................................... 37
3.4. ENSAIO CBR.................................................................................................. 38
3.5. ENSAIOS MECÂNICOS ................................................................................. 39
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................... 44
4.1. ANÁLISE GRANULOMÉTRICA ...................................................................... 44
4.1.1. Material fresado ............................................................................................ 44
4.1.2. Pó de pedra ................................................................................................... 49
4.1.3. Mistura 70% fresado e 30% pó de pedra..................................................... 51
4.2. ANÁLISE DO ENSAIO DE COMPACTAÇÃO ................................................. 52
4.3. ANÁLISE DO ÍNDICE DE SUPORTE CALIFÓRNIA ...................................... 52
4.4. POSSÍVEIS UTILIZAÇÕES DO FRESADO.................................................... 55
5. CONCLUSÕES FINAIS .................................................................................. 58
6. SUGESTÕES ................................................................................................. 60
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 61
12

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é um país de grande extensão territorial e economia essencialmente


agrícola e que, segundo a Confederação Nacional do Transporte, possui um sistema
principal de escoamento de produção e circulação de pessoas através do modal
rodoviário (CNT, 2015). Desta forma, Johnston (2010) cita que o crescimento
econômico acelerado do país torna necessária a pavimentação de rodovias para que
o transporte de cargas seja facilitado. O autor também menciona que os países
subdesenvolvidos como o Brasil possuem dificuldade em manter sua malha
rodoviária com a qualidade necessária esperada para o transporte de cargas e de
pessoas.
Tendo em vista a realidade precária de muitas vias brasileiras e a importância
econômica que as mesmas representam, surge a necessidade de manutenção das
rodovias existentes, gerando grandes quantidades de resíduo resultante da
fresagem de trechos de revestimento deficiente. Este excedente gerado, muitas
vezes, é depositado em locais irregulares e, como solução de baixo custo para esta
problemática, aponta-se a possibilidade de utilização deste material nas diversas
camadas do pavimento, contribuindo para a preservação ambiental (FONSECAet al,
2014). Além disso, a reciclagem de pavimentos também provoca reduções no custo
final da obra, devido ao menor gasto com ligante, exploração de jazidas de agregado
natural, consumo de energia, entre outras vantagens.
Os projetos de pavimentação no Brasil possuem umavida útil, em média, de
10 a 15 anos e, durante a sua construção, utilizam grandes quantidades de
agregados naturais e geram resíduos, provocando impactos ambientais. Da mesma
forma, o processo de reparação e restauração das mesmas também utiliza fontes
pétreas naturais e produz grandes quantidades de excedente. Visando a redução
destes impactos e a adoção de soluções sustentáveis, novas técnicas e tecnologias
de reciclagem de matérias surgiram aliadas a preocupação ambiental atual, como o
emprego de resíduos da construção civil, de material fresado e de escória de alto
forno em diferentes camadas do pavimento, por exemplo (SPECHT et al, 2013).
O excedente resultante da fresagem da camada asfáltica é constituído, em
maioria, de agregado pétreo - areia, filler e brita- e cimento asfáltico oxidado. Barros
(2012) menciona que este pode ser considerado um material de boa qualidade para
a pavimentação, e, desta forma, a não utilização do mesmo é considerada um
13

desperdício de material e de alternativa de destino ecologicamente correto, já que


este é um rejeito da pavimentação. Assim, o autor ainda cita que o residual fresado
pode ser reutilizado como agregado reciclado de revestimento asfáltico, aterros,
reforços de subleito, misturadas com outros materiais para a constituição de
camadas de base ou sub-base, entre outras aplicações.

1.1. OBJETIVOS

1.1.1. Objetivo geral

Avaliar a viabilidade de utilização de material fresado estabilizado


granulometricamente com pó de pedra para emprego em camadas de base e sub-
base de pavimentos.

1.1.2. Objetivos específicos

• Determinar a granulometria individualizada do material fresado e do pó de


pedra.
• Determinar o peso específico do pó de pedra através do ensaio Picnômetro.
• Determinar o peso específico do material fresado através da metodologia
Rice.
• Determinar o teor de betume do material fresado através do ensaio Rotarex.
• Compor a porcentagem da mistura de pó de pedra e material fresado e
realizar os ensaios de compactação e CBR.
• Realizar moldagem de corpos de prova e os ensaios de módulo de resiliência,
resistência a tração por compressão diametral e resistência à compressão simples.
• Analisar a possibilidade de utilização da mistura e do material fresado
individualmente como camadas subjacentes na pavimentação;
14

2. REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo irá contextualizar e introduzir os temas que serão apresentados


e discutidos durante o desenvolver desta pesquisa.

2.1. TIPOS DE PAVIMENTOS

A necessidade de expansão de território, o acesso as áreas cultiváveis e de


matéria prima fez com que surgissem as primeiras estradas na China, sendo
aperfeiçoadas mais tarde pelos romanos (BALBO, 2007). Assim como antigamente,
a malha rodoviária pode ser considerada essencial para o desenvolvimento
econômico e social de um país e deve apresentar características para desempenhar
o seu propósito.
O pavimento é uma estrutura, executada após a etapa de terraplanagem,
destinada a resistir as solicitações impostas pelo tráfego de veículos e clima. Da
mesma forma, este deve ser concebido com a máxima durabilidade e o mínimo
custo possível, garantindo o conforto e a segurança dos usuários, apresentando
boas condições de rolamento (BERNUCCI et al, 2008).Para isto, o pavimento deve
ser composto por camadas de diferentes materiais e espessuras, apoiadas sobre o
solo local de fundação, garantindo o alívio de pressões nas camadas subjacentes
(BALBO, 2007).
Segundo Bernucci et al (2008), os pavimentos podem ser qualificados como
rígidos ou flexíveis. Ainda, o Manual de pavimentação do DNIT (2006) considera
também a existência dos pavimentos semirrígidos. As diferenças entre as
classificações serão apresentadas nos itens seguintes.

2.1.1. Pavimento rígido

Os pavimentos rígidos apresentam elevada rigidez na camada de


revestimento, a qual absorve a maior parte das solicitações impostas a estrutura.
Como exemplo, cita-se os pavimentos de concreto, os quais tem sua superfície
constituída por lajes de concreto de cimento Portland (BERNUCCI et al, 2008). A
Figura 1 apresenta a estrutura de um pavimento rígido de concreto e a execução do
mesmo.
15

Figura 1–Estrutura e execução de um pavimento de concreto

Fonte: Bernucci et al (2008, p. 339).

Em relação a disposição dosesforços, Balbo (2007) menciona que os


pavimentos rígidos apresentam semelhança na distribuição do campo de tensões,
sendo este gradualmente disperso em toda a placa. Desta forma, as pressões
impostas ao solo de fundação são aliviadas e reduzidas, conforme demostra a
Figura 2.

Figura 2– Distribuição de tensões no pavimento flexível

Fonte: Balbo(2007, p.47).

2.1.2. Pavimento Semirrígido


16

Os Pavimentos semirrígidos (Figura 3) apresentam a camada de base


estabilizada quimicamente, constituída por um material aglutinante com
características cimentíceas. Como exemplo, Balbo (2007) cita uma estrutura
composta por uma camada de solo-cimento na base, considerada rígida, e
revestimento asfáltico, sendo este flexível.

Figura 3– Pavimento semirrígido

Fonte:Autora.

2.1.3. Pavimento flexível

Os pavimentos flexíveis, segundo o Manual de pavimentação do DNIT (2006),


são aqueles nos quais, após a aplicação de um carregamento, todas as camadas
sofrem deformação elástica significativa, ocorrendo a distribuição equivalente das
cargas entre as mesmas. Nestas estruturas, o campo de tensões se encontra no
ponto de aplicação do carregamento com pressões concentradas (BALBO,2007),
conforme ilustrado na Figura 4.Ainda, as camadas constituintes destes pavimentos
não trabalham a tração, sendo as superiores de melhor qualidade, ou seja, de maior
capacidade de suporte, devido à proximidade de aplicação de cargas.
17

Figura 4 - Distribuição de tensões no pavimento flexível.

Fonte: Balbo(2007, p.47).

O revestimento superficial associado aos pavimentos flexíveis, em geral, é


composto de concreto asfáltico apoiado obrigatoriamente sobre uma camada de
base granular e possuindo uma fundação em solo denominada subleito.
Dependendo da resistência necessária e das solicitações originárias do tráfego na
via, podem ser incorporadas acima da fundação uma camada de reforço de subleito
e/ou, ainda, uma de sub-base (BERNUCCI et al, 2008). Assim, a forma estrutural
mais completa possível do pavimento é aquela que incorpora as camadas de
revestimento, base, sub-base, reforço de subleito e subleito (BALBO, 2007),
conforme ilustra a Figura 5.

Figura 5 – Estrutura e execução de um pavimento flexível

Fonte. (BERNUCCI et al, 2008, p. 338).


18

O revestimento asfáltico é constituído pela composição, em proporções


adequadas, de agregados e ligante asfáltico betuminoso, resultando em uma mistura
coesiva. Esta camada tem como finalidade promover a impermeabilização superficial
do pavimento e melhorar as condições da superfície, proporcionando conforto e a
segurança aos usuários da via. Além disto, esta deve resistir de forma direta as
ações provocadas pelos veículos e pelo clima, transmitindo estas solicitações
aliviadas a estrutura subjacente (BERNUCCI et al, 2008).
As camadas de base, sub-base e reforço de subleito tem como finalidade
resistir aos esforços transmitidas pelo revestimento, apresentando pequenas
deformações e permeabilidade compatível com o esperado, garantindo a drenagem
do pavimento. Deste modo, estas devem ter seus materiais constituintes
selecionados adequadamente para que possam cumprir sua função estrutural. Entre
os possíveis constituintes destas camadas se encontram, em geral, agregados
graúdos e miúdos, solo e, dependendo da necessidade, podem ser adicionados
cimento, cal, emulsão asfáltica, ou outros materiais (BERNUCCI et al, 2008).
O Subleito é composto pelo material local consolidado e compactado, logo
não apresenta espessura definida (BALBO, 2007). Esta é considerada a fundação
do pavimento necessitando, muitas vezes, devida regularização para nivelamento.
Quando apresenta baixa capacidade de suporte, pode ser executada uma camada
complementar de reforço de subleito para elevar a resistência. Porém, em algumas
situações, este reforçonão consegue desempenhar a funcionalidade esperada, desta
forma, o solo residual deve ser parcialmente retirado e substituído por outro material
que apresenta maior capacidade de suporte (PINTO C., 2010).

2.2. MATERIAIS UTILIZADOS NA PAVIMENTAÇÃO

Para a execução do pavimento deve-se buscar, sempre que possível, a


utilização dos materiais próximos do local, garantindo assim um menor custo na obra
e também manutenção da infraestrutura (BALBO, 2007). O Manual de pavimentação
do DNIT (2006) determina que os materiais granulares utilizados na pavimentação
podem ser classificados quanto a natureza dos seus constituintes em naturais ou
artificiais. Os agregados naturais são empregados sem alterações após o processo
de exploração da jazida pétrea e beneficiamento, como a brita, enquanto que os
19

artificiais necessitam de correção química e física para a sua utilização, sendo


rejeitos da indústria, como a escória de alto forno.
Ainda, Bernucci et al (2008) considera a existência de agregados reciclados.
Em meio a estes estão alocados os materiais oriundos de reuso, os quais
proporcionam uma solução ambientalmente viável de redução de exploração de
reservas naturais e de destino para os rejeitos provenientes da pavimentação e da
construção civil. Como exemplo, os excedentes reciclados que apresentam maior
frequência de uso são a escória de alto forno, o resíduo da construção civil (RCC),
escórias oriundas da exploração de rochas ornamentais e o fresado.
Os agregados granulares e solo, entre os materiais utilizados na
pavimentação, não apresentam propriedades coesivas entre os grãos e trabalham
adequadamente apenas a compressão. Entre estes, os constituintes mais
empregados para as camadas de base, sub-base e reforço de subleito são: a brita
graduada simples (BGS), a brita corrida, macadame hidráulico e seco, composições
de agregados estabilizados granulometricamente, solo-agregado e solo melhorado
com cimento ou cal (BERNUCCI et al, 2008).
Os materiais cimentados são compostos de solos ou agregados pétreos com
acrescimento de um aditivo, em pequenas proporções, como cal ou cimento,
proporcionando uma elevação na rigidez da camada e consequentemente
aumentando a resistência a compressão e a tração (BALBO, 2007). Entre estes, os
agregados estabilizados quimicamente de frequente utilização na pavimentação são:
a brita graduada tratada com cimento (BGTC), concreto compactado com rolo
(CCR), solo-cimento e solo-cal (DNIT, 2006).
Além destes, as misturas asfálticas apresentam resistência a tração superior
aos outros materiais devido a coesão entre seus constituintes proporcionada pela
incorporação de ligante asfáltico (BERNUCCi, 2008). Balbo (2007) justifica a
utilização destas, citando que para a estabilização não se torna necessário o uso
demasiado de agente aglomerante. Como exemplo destas misturas se encontram o
solo-asfalto, solo-emulsão, entre outros. A Figura 6 ilustra alguns materiais utilizados
na pavimentação.
20

Figura 6– Materiais utilizados na pavimentação.

Fonte: Bernucci et al(2008. p. 353).


21

2.3. ESTABILIZAÇÃO GRANULOMETRICA

A estabilização de solos ou agregados pétreos pode ser definida como um


processo que altera as propriedades dos materiais, promovendo uma melhoria
significativa no comportamento mecânico dos mesmos (BARROS,2013). Segundo o
Manual do DNIT (2006), a estabilização granulométrica das camadas do pavimento
ocorre para a adequação do agregado nas especificações vigentes. Desta forma,
para esta conformação, muitas vezes os materiais sofrem beneficiamento, como
peneiramento e britagem, ou a mistura de outros agregados para a composição da
granulometria adequada.
A distribuição granulométrica dos agregados influencia em diversas
propriedades que definem o comportamento do material nas camadas do pavimento
e asseguram a equilíbrio da estrutura. Yoder e Witczak (1975) citam que a
estabilidade de uma camada granular também é dependente da forma e tamanho
das partículas, densidade, coesão e fricção interna. Desta forma, de acordo com
estes autores, a Figura 7 apresenta três arranjos granulométricos diferentes.

Figura 7–Granulometria das misturas

Fonte. Yoder e Witczak (1975, p. 357).

As características estruturais e granulométricas de cada arranjo apresentado


por Yoder e Witczak (1975)na Figura 7 são explicadas a seguir:
(a) O agregado que não possui finos preenchendo seus vazios, apresentando
estabilidade devido ao contato entre os grãos graúdos. Desta forma, o material não
oferece coesão entre seus constituintes, possui baixa densidade e difícil manuseio,
porém é altamente permeável.
22

(b) O agregado contém finos preenchendo seus vazios e tem a estabilidade


garantida devido ao contato entre os grãos. Desta forma, a mistura é considerada
muito estável com moderada dificuldade construtiva, menor permeabilidade e alta
densidade.
(c) O agregado apresenta excesso de finos, os constituintes “flutuam” na
mistura, não existindo contato entre os grãos graúdos. Desta forma, este material é
de fácil compactação, porém oferece baixa densidade e estabilidade prejudicada na
presença de água.
Para que um material apresente a máxima estabilidade e resistência as
solicitações impostas pelo tráfego, é necessária elevada fricção interna entre as
partículas miúdas e graúdas do material, sendo a falta ou o excesso de finos
prejudicial ao desempenho esperado do agregado (PIRES, 2014). A presença
demasiada de finos faz com que o material perca permeabilidade e rigidez,
aumentando suas deformações, diminuindo sua resistência (BERNUCCI et al, 2008).
Em contrapartida, a escassez destes materiais faz com que o agregado não ofereça
coesão e garanta a resistência necessária.
Assim, para a constituição das camadas na pavimentação, procura-se
agregados que possuam uma distribuição bem definida, com preenchimento de seus
vazios por grãos miúdos, garantindo o entrosamento entre as partículas e a
resistência ao cisalhamento do material, conforme ilustrado na Figura 7 na situação
(b) (YODER e WITCZAK, 1975).
Além da estabilização granulométrica, para que o material tenha a resistência
esperada, por vezes se torna necessária a realização da estabilização química. Esta
ocorre com a adição de componentes que aumentam a rigidez da estrutura,
proporcionando um aumento na resistência a compressão e a tração (BERNUCCI et
al, 2008). Entre estes materiais estabilizantes pode-se citar a adição de cimento,
cinza de casca de arroz, estabilizantes, cal, entre outros.
A estabilização granulométrica do fresado, juntamente com a compactação da
mistura, apresenta importância associada ao aumento significativo da rigidez e da
resistência ao cisalhamento do material (SPECHT et al, 2013). Desta forma, esta
correção se torna necessária para a melhoria estrutural e do desempenho da
camada, elevando sua capacidade de suporte e garantindo um acréscimo na vida
útil.
23

Salientando-se a importância da estabilização do fresado, Pires (2014)


desenvolveu uma pesquisa experimental sobre a utilização deste material corrigido
quimicamente, com a adição de cinza de casca de arroz e diferentes teores de
cimento Portland, e granulometricamente, através do acréscimo de agregado
natural. Como conclusão do estudo o autor obteve resultados positivos,
demostrando que as estabilizações são fundamentais para o acréscimo de
resistência na estrutura.

2.4. FRESAGEM DE PAVIMENTOS

Segundo o manual de terminologias rodoviárias do DNIT (2007), a fresagem é


definida como uma técnica de reciclagem de pavimentos que provoca a retirada da
camada asfáltica superficial, podendo ser realizada com tecnologias a quente ou a
frio. Este processo ocorre antes da restauração da superfície de rolagem, quando o
revestimento apresenta defeitos significativos que não podem ser corrigidos com
reparos localizados.
A fresagem é um processo que possibilita a reobtenção do agregado natural
graúdo, porém este se encontra envolto por revestimento asfáltico envelhecido e
desgastado, apresentando um arranjo granulométrico modificado (PIRES, 2014). A
composição granulométrica do fresado é dependente do grau de oxidação do
revestimento asfáltico, da temperatura ambiente, do estado de deterioração do
pavimento, da espessura de corte e do estado dos dentes que provocam o
arrancamento do material da máquina fresadora (BALBO, 2007).
A escolha do processo específico de fresagem do pavimento, conforme David
(2006) é dependente da capacidade estrutural e das condições que o revestimento
do pavimento apresenta, dos equipamentos disponíveis, da avaliação dos custos,
das condições ambientais, entre outros fatores. Esta técnica pode ser realizada a
quente ou a frio. Na fresagem a frio, ocorre o desbastamento abrasivo da superfície,
na temperatura ambiente e em espessura previamente determinada, através do
auxílio das lâminas de corte de uma máquina fresadora. Na execução a quente o
revestimento é previamente aquecido, seguido da remoção superficial mecânica
(BARROS, 2013). A Figura 8 ilustra uma máquina realizando fresagem a frio, técnica
amplamente utilizada no país.
24

Figura 8– Fresadora a frio.

Fonte: Wirtgen Goup (2017).

Bonfim (2011) cita que a fresagem é uma técnica empregada visando a


manutenção do greide da pista, podendo substituir o material asfáltico danificado por
novo, proporcionando desta forma um aumento da vida útil do pavimento além de
melhorias no rolamento. Ainda, o autor menciona que a fresagem pode ser
classificada quanto à espessura de corte em superficial, rasa e profunda e também
em relação a rugosidade resultante na pista em padrão, fina ou microfresagem.

2.5. RECICLAGEM NA PAVIMENTAÇÃO

As primeiras ideias de reciclagem de pavimentos surgiram em 1915 nos


Estados Unidos (DAVID, 2006). Porém, apenas na década de 70, devido à crise
econômica internacional e a diminuição da oferta de materiais asfálticos, surgiram
novas técnicas de reaproveitamento dos resíduos gerados das pistas deterioradas
(BONFIM, 2011).
No Brasil, a fresagem de pavimentos teve início na década de 80 com a
execução de um trecho de restauração da rodovia Anchieta, na cidade de São
Paulo, para a DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S.A), utilizando uma máquina
fresadora americana e reciclagem a frio (BONFIM,2011).
A reciclagem na pavimentação, segundo David (2006), pode ser definida
como o processo de reutilização dos excedentes, gerados a partir do beneficiamento
25

em campo, na restauração ou construção de nova via. Nesta técnica, para a


constituição de uma nova camada pode ser utilizada a totalidade ou parte da
estrutura do pavimento, com adição, ou não, de outros materiais.
O material fresado é um resíduo local, desta forma não possui custos
vinculados a sua compra, sendo esta uma vantagem associada à sua utilização
(PINTO M. et al, 2011). Entretanto, Bonfim (2011) cita que existem poucos
profissionais que dominam as técnicas e têm experiência com fresagem. Desta
forma, devido ao maior interesse e procura por tecnologias de reciclagem de
pavimentos, a indústria está ofertando, cada vez mais, equipamentos específicos
para realizar a fresagem (DAVID, 2006).
Atualmente, no Brasil, desenvolvem-se cada vez mais projetos que
contemplam a utilização do resíduo fresado. Barros (2013) pesquisou a possibilidade
de uso do material fresado composto com solo de jazida natural para base e sub-
base de pavimentos, de modo a proporcionar uma alternativa técnica, econômica e
ambiental para este resíduo. Como resultado do estudo, este autor obteve
viabilidade de utilização em ambas camadas para uma proporção de mistura de 50%
fresado e 50% solo.
Da mesma forma, Pinto M. et al (2011) realizou o estudo de outra alternativa
para o resíduo gerado da fresagem de pavimentos através da incorporação deste,
sem adições, na regularização e nivelamento do acostamento rodoviário. Esta
pesquisa avaliou um trecho experimental na RSC-287 e comprovou, através de
ensaios laboratoriais e em campo, a possibilidade de utilização do material, mesmo
sem a estabilização granulométrica e química.
Ademais, Pinto C. (2010) apresentou um estudo através de análises
mecânicas que comprova a viabilidade técnica de utilização do fresado como reforço
de subleito. Segundo este autor, o fresado apresentou desempenho similar a outros
agregados, possibilitando uma alternativa de substituição dos materiais naturais por
este resíduo da pavimentação.
26

2.5.1. Objetivos da reciclagem de pavimentos

A reutilização do material fresado na pavimentação tem como objetivo a


preservação ambiental, diminuindo a exploração de jazidas pétreas através do
menor consumo de agregados naturais. Ao mesmo tempo, o reuso do fresado
proporciona a redução de custos com transporte e de área de bota-fora para este
material, o qual necessita local ambientalmente adequado para depósito
(DAVID,2006).
Da mesma forma, a reciclagem do fresado promove a redução dos custos de
construção, transporte, energia nas etapas produtivas, tempo de execução, extração
de matéria prima, proporciona o aproveitamento de agregados e ligante asfáltico, a
preservação da geometria original da rodovia e do meio ambiente (DAVID, 2006).
O Manual de Restaurações do DNIT cita que o reuso do ligante asfáltico
consiste em outra vantagem importante na reciclagem dos pavimentos. O asfalto
presente no fresado se encontra oxidado e envelhecido, porém suas características
podem ser restauradas através do auxílio de um agente rejuvenescedor ou com a
adição um novo ligante asfáltico. Além disso, o reaproveitamento do fresado permite
a redução do consumo de um novo material asfáltico nas camadas de restauração
(DNIT, 2006).

2.5.2. Técnicas de reciclagem de pavimentos

Para a seleção do método de reciclagem de pavimentos é necessário,


segundo o Manual de Restauração do DNIT (2006), a análise de diversos fatores.
Destacam-se entre estes: as condições ambientais, o tráfego atual na via, restrições
em relação a geometria da pista, informações de projeto, histórico de desempenho e
das intervenções realizadas na estrutura, as observações e possíveis causas dos
defeitos que a via apresenta baseado em ensaios laboratoriais e levantamento
visual, entre outros.
As técnicas de reciclagem do fresado podem ser diferenciadas através do
local de produção do agregado, in situ ou em usina, pela temperatura de produção
da mistura, à frio ou a quente, ou pela simples reutilização do material após a
fresagem (BARROS, 2013). A Tabela 1 apresenta um esquema representativo dos
principais tipos de reciclagem, segundo Bonfim (2011).
27

Tabela 1–Técnicas de reciclagem de pavimentos.

Sem
Quando se mantém as cotas do greide
Quanto à geometria modificação
original Com Quando não se mantém as cotas do
modificação greide
Em usina Fixa ou móvel, quente ou frio
Quanto ao local de
In situ Quente ou frio
processamento
Quanto ao local de Reciclagem in situ da base e aplicação
processamento Mista de reciclagem a quente processada em
usina com material fresado
Quanto à fresagem
A frio Realizada na temperatura ambiente
do material
Realizada com pré-aquecimento do
A quente
pavimento
Quanto à
profundidade de Superficial Apenas da camada de revestimento
corte
Camada de revestimento, base e até
Profunda
sub-base
Quanto à origem da
Mistura a frio PMF
mistura reciclada
Mistura a
CBUQ, PMQ
quente
Quanto ao uso da Como base
mistura reciclada
Como camada
BINDER
de ligação
Como
revestimento
Agregados Correção granulométrica
Cimento
Aumento da capacidade estrutural
Portland e Cal
Quanto aos materiais
Emulsão
adicionados Rejuvenescimento
especial e CAP
Misturas
Adição de material fresado
asfálticas

Fonte: Adaptação de BOMFIM, 2011, p. 104)

Barros (2013) descreve que, segundo a associação de reciclagem asfáltica


dos Estados Unidos (The AsphaltRecyclingandReclaiming – ARRA), as cinco
principais categorias de reciclagem de pavimentos se subdividem em: a quente e a
frio, a quente e a frio in situ, a quente e a frio em usina e profunda.
28

Na reciclagem a frio, toda ou parte da estrutura do pavimento é removida e


reduzida para dimensões apropriadas. Após estes procedimentos, o fresado é
misturado na temperatura ambiente, em usina ou no próprio local, com outros
materiais como agregados naturais, emulsificante, estabilizante químico, entre
outros (DNIT, 2006). Neste tipo de processamento ocorre a quebra de parte do
agregado devido ao corte, e desta forma a granulometria original do material é
alterada.
Da mesma forma, na reciclagem a quente é realizada a retirada total ou
parcial do revestimento do pavimento, este é beneficiado de modo a adquirir
dimensões especificas e então ocorre a mistura do fresado in situ ou em usina,
mediante aquecimento, com outros aditivos. Esta técnica pode ser aplicada para a
correção de defeitos superficiais sem remoção do material do local, aumentando a
capacidade estrutural da camada, podendo ser executada antes de um
recapeamento (DNIT, 2006).
A reciclagem profunda (FullDepthReclamation) é uma técnica realizada in situ
para obtenção de uma nova camada de base ou sub-base estabilizada, com a
adição de cal hidratada, cimento, agregados, entre outros. Barros (2013 apud Araujo
2001) Estes aditivos têm como finalidade proporcionar a esta mistura características
adequadas ao novo pavimento (ARAUJO,2001 apud BARROS,2013).

Figura 9–Técnica de reciclagem profunda.

Fonte:D&J Enterprises (2017).

Ademais, a reutilização do fresado pode ocorrer através do aproveitamento do


material na mesma obra, porém este não deve ser utilizado em camadas que
29

desempenhem função estrutural. Da mesma forma, podem ser reaproveitados em


camadas de base granular tanto em rodovias quanto em ferrovias ou em obras com
solicitações de tráfego baixas (MOREIRA e PEREIRA,2007). A reciclagem in situ
apresenta como vantagens o menor custo de transporte, consequentemente
também menor desgaste da via, e de energia (FONSECA, 2007 apud
BARROS,2013).
30

3. METODOLOGIA

A metodologia desta pesquisa teve início com a escolha do tema de trabalho,


e o consequente estudo deste. Após esta etapa, os materiais foram coletados e
então realizaram-se os ensaios pertinentes, que serão mencionados nos tópicos
deste capítulo. Por fim, teve início a redação do trabalho com as respectivas
conclusões, considerações e sugestões.

3.1 MATERIAIS UTILIZADOS

Para este trabalho foram utilizados material fresado e agregado natural miúdo
– pó de pedra basáltica - armazenados nas dependências do LMCCna UFSM. Estes
foram anteriormente coletados por alunos da universidade auxiliados pelo LMCC e
empregados para outros estudos. A Figura 10 apresentauma amostra dos materiais
utilizados nesta pesquisa.

Figura 10 – Pó de pedra e material fresado, respectivamente.

Fonte: Autora.

3.1.1 Material Fresado

Neste estudo, optou-se pela utilização de fresado originário da técnica de


fresagem à frio in situ, a qual consiste no desbastamento da camada de
31

revestimento asfáltico danificada, em temperatura ambiente, com auxílio de uma


máquina com lâminas de corte. A escolha deste resíduo ocorreu devido a
disponibilidade de material, o qual se encontrava armazenado aos fundos do LMCC.
Desta forma, retirou-se uma amostra manualmente da totalidade de fresadocom
auxílio de uma pá e de um carrinho de mão, conforme ilustra a Figura 11. Para a
realização de todos os ensaios planejados foram utilizados cerca de 30 Kg de
material, os quais foram quarteados e devidamente preparados para cada
experimento.

Figura 11– Coleta de material fresado.

Fonte: Autora.

A origem do fresado utilizada nesta pesquisaé conhecida, e teve seu


procedimentode coleta em campo no ano de 2015, no estágio inicial de restauração
da BR-287, localizada no bairro Camobi, na cidade de Santa Maria-RS. Silva (2016)
participou deste processo, desta forma, o mesmo cita que para o desbastamento
superficial do trecho foi necessário o auxílio de uma máquina Caterpiller PM102, que
realizou uma espessura de corte de cerca de 4cm. Após este processamento, o
32

responsável do LMCC auxiliou na retirada cerca de 5m³ deste material,


armazenando-o nas dependências da universidade para estudos futuros.
3.1.2 Granulometria do Material Fresado

A caracterização granulométrica do fresado foi realizadade acordo com a


norma DNER-ME 083/98.Neste trabalho, optou-se pela retirada dos maiores grumos
da amostra, resultando em agregados passantes nas peneiras 2” e 1”. Para esta
análise foram ensaiadas duas amostras, as quais foram peneiradas manualmente e
com auxílio de um peneirador vibrador mecânico, conforme ilustrado na Figura 12.

Figura 12–Peneirador mecânico

Fonte. Autora.

3.1.3 Teor de Betume e Densidade Máxima Medida (DMM)


33

A análise do teor de betume percentual da amostra de fresado foi realizada


através do ensaio Rotarex elétrico conforme a DNER-ME 053/94. Como resultado
deste experimento obteve-se um percentual de betume de aproximadamente
5,63%.Este valor é considerado coerente conforme Silva (2016) que obteve para o
mesmo material um percentual de cerca de 6,2%. A Figura 13 apresenta o
equipamento utilizado neste ensaio.

Figura 13–Equipamento utilizado no ensaio Rotarex

Fonte. Autora.

Para a caracterização do fresado também foi realizadoo ensaio Rice,


conforme visualiza-se naFigura 14, que resulta na Densidade Máxima Medida
(DMM) de amostras asfálticas. Para isto, utilizou-se a normativa NBR 15619/2012 –
Misturas asfálticas – Determinação da massa específica máxima medida em
amostras não compactas, obtendo-se um resultado de DMM de cerca de 2,458
g/m³.Da mesma forma, Silva (2016) obteve DMM de 2,433 g/m³ para o mesmo
material, visualizando-se uma pequena variação nos resultados devido as diferentes
amostragens.
34
35

Figura 14–Ensaio Rice.

Fonte. Autora.

3.2 PÓ DE PEDRA

A utilização de agregado natural é necessária para a estabilização


granulométrica do fresado, devido à falta de finos em sua constituição. Tanksi (2016)
apud Yoder e Witczak (1975) cita que a estabilidade de uma mistura é dependente
de sua granulometria, pois a fricção interna entre as partículas deve ser alta para
resistir aos esforços solicitantes, sendo a presença demasiada ou insuficiente de
finos prejudicial ao desempenho esperado do material.
O agregado pétreo utilizado nesta pesquisa é proveniente da formação
rochosa basáltica, sendo constituído pela fração miúda (Figura 5).Optou-se pela
utilização de pó de pedra basálticoproveniente da exploração rochosa no município
de Itaara-RS. A Figura 15 demostra as instalações da empresa fornecedora de
agregado.
36

Figura 15–Amostra de pó de pedra basáltica.

Fonte: Autor.

Figura 16–Exploração Rochosa em Itaara-RS

Fonte: Dalla Pasqua (2017).

A caracterização granulométrica do pó de pedra foi realizada atravésdo


peneiramento manual de duas amostras do agregado natural, apresentado na Figura
17. Estas foram secas em estufa e preparadas de acordo com a norma DNER-ME
083/98.
37

Figura 17–Separação do pó de pedra por peneiras.

Fonte: Carine Molz.

Além da granulometria do agregado natural miúdo, também foi determinada a


massa específica do material para a sua caracterização física. Assim, realizou-se o
ensaio do Picnômetro (Figura 18) de acordo com a norma NBR 6508/84, resultando
em um peso específico médio do pó de pedra de 2,651g/m³. Da mesma forma
Tanski(2016) encontrou o peso específico médio do pó de pedra, proveniente da
mesma empresa fornecedora, como 2,66g/m³, porém este utilizou a normativa ASTM
C 127/2007.

Figura 18–Ensaio do Picnômetro.

Fonte. Autora.
38

3.3 COMPOSIÇÃO DA MISTURA

A dosagem inicial da amostra teve como referência os limites da faixa


granulométrica C do DNIT através doarranjo percentual dos constituintes, fresado e
pó de pedra. Porém, devido a granulometriamajoritária graúda de ambos os
materiais, a mistura não se enquadrou totalmente na faixa esperada.
Tendo em vista a não manipulação granulométrica dos materiais, optou-se
pela composição de 70% fresado e 30% pó de pedra, conforme já verificadocomo
viávelem outras bibliografias. Salienta-se também que é possível a utilização de um
pó de pedra constituído de maior fração miúda para o ajuste da faixa de trabalho
como opção do comprador, não se aplicando ao caso desta pesquisa. Acomposição
da misturaé demonstrada na Figura 19.

Figura 19–Mistura 70% fresado e 30% pó de pedra.

Fonte. Autora.

3.4 ENSAIO DE COMPACTAÇÃO

A compactação foi realizada na mistura de trabalho, constituída por 70% de


fresado e 30% pó de pedra, baseando-se na NBR 7182/1986 e simulando a
aplicação prática de solicitações, com reuso de material. Nesta pesquisa, optou-se
pela utilização de Energia Intermediária, aplicando-se 27 golpes por camada,
utilizando-se de um soquete e molde com dimensões e pesos conhecidos e
39

ensaiando cinco pontos de umidades crescentespara a obtenção da curva de


compactação.
Figura 20–Ensaio de Compactação.

Fonte. Autora.

Este ensaio objetiva a determinação da relação da densidade aparente


máxima, a qual encontra-se no ápice da curva de compactação, com a umidade
ótima. Esta é de suma importância, pois será utilizada na compactação de campo
para que ocorra um aumento da resistência ao cisalhamento e redução da
permeabilidade e compressibilidade.

3.5 ENSAIO CBR

O Ensaio CBR (California Bearing Ratio) se baseia na DNER ME 049/94 –


Solos – Determinação do índice de suporte Califórnia utilizando amostras não
trabalhadas, e este fornece o Índice de Suporte Califórnia – ISC- que indica a
capacidade de suporte do material estudado. Para a execução deste experimento
tornou-se inicialmente necessária a obtenção da umidade ótima e densidade
máxima aparente seca e a moldagem de um corpo de prova com estes valores.
Então mediu-se a força de aplicação de um pistão em uma amostra compactada
confinada que foi imersa em água durante 4 dias. Acoplou-se neste corpo de prova
um extensômetro, medindo-se assim a expansibilidade da mistura.
40

A mensuração do ISC é de suma importância para avaliar a resistência do


material e, desta forma, verificar a possível utilização deste nas diferentes camadas
do pavimento. O valor percentual que referencia este ensaio e que possui ISC de
100% é a Brita Califórnia, sendo os resultados de outros materiais comparáveis a
este valor. A Figura 21 ilustra a execução do ensaio CBR.

Figura 21–Ensaio CBR – Corpo de prova imerso em água.

Fonte. Autora.

3.6 ENSAIOS MECÂNICOS

As propriedades mecânicas da mistura foram mensuradas através da


realização dos ensaios de módulo de resiliência, resistência à compressão axial e
resistência à tração por compressão diametral.
Para os ensaios de Módulo de Resiliência eResistência a Tração por
Compressão Diametral (DNER-ME 138/94) realizou-se a moldagem de três corpos
de prova de 6,3 x 10 cm. Da mesma forma,para a verificação da Resistência a
Compressão Simples (DNER-ME 201/94)da mistura, moldaram-se 4 corpos de prova
de dimensões 10 x 20 cm (Figura 22).
41

Figura 22–Corpos de prova nas formas 6,3x10 cm e 10x20 cm, respectivamente.

Fonte. Autora.

A preparação da amostra individual de cada molde ocorreu com a


composição de 70% de fresado e 30% de pó de pedra compactados com soquete
manual na umidade ótima, conforme pode ser visualizado na Figura 23. Para os
corpos de prova de dimensões 6,3 x 10 cm a compactação ocorreu em camada
única, enquanto para CPs 10 x 20 cm esta foi realizada em três camadas.

Figura 23–Compactação do corpo de prova 10x20 cm com soquete manual

Fonte. Autora.
42

Por se tratar de uma mistura predominantemente granular sem adição de


cimento ou emulsão, a cura dos CPs, após a moldagem, foi de aproximadamente 7
dias, não existindo especificações que citam o tempo de cura ideal. A retirada dos
corpos de prova dos moldes ocorreu com auxílio de uma máquina manual para o
desmolde. Esta etapa se apresentou de difícil execução devido ao arranjo da mistura
que não apresentou propriedade aglutinante em seus constituintes. Desta forma, os
CPs moldados apresentaram natureza frágil, sofrendo fácilfragmentação, conforme
pode ser visualizado na Figura 24.

Figura 24–Corpos de prova desmoldados.

Fonte. Autora.
43

A fragilidade dos corpos de prova moldados pode ser justificada devido a não
adoção de estabilização química da mistura, que pode ser realizada com a
incorporação de um percentual de cimento Portland, por exemplo. Desta forma, a
mesma não apresentava propriedades aglutinantes suficiente entre seus
constituintes para a realização destes ensaios, impossibilitando a leitura dos
resultados nos ensaios de Módulo de Resiliência (MR), Resistência a Compressão
Simples (RCS), e a Tração por Compressão Diametral (RTCD), conforme ilustram
asFiguras 25 e 26.

Figura 25 – Ensaio de Módulo de Resiliência.

Fonte. Carine Molz.

Figura 26 – Ensaio de Resistência a Tração por Compressão Diametral.


44

Fonte. Autora.

Salienta-se que o ensaio de Módulo de resiliência foi baseado na norma DNER-


ME 138/94 com variação de temperatura, aplicada para amostras
asfálticas.Entretanto, devido à natureza granular sem aglutinantes da mistura, para a
obtenção desta propriedade é indicada a realização do ensaio normatizado para
solos. Este não foi realizado poiso equipamento não se encontrava disponível no
período deste estudo.
45

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo apresenta os resultados obtidos nos ensaios de caracterização dos


materiais, assim como na mistura de 70% fresado e 30% pó de pedra. Ao mesmo
tempo os valores encontrados serão analisados e comparados as normas vigentes e
a outros estudos pertinentes.

4.1. ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

A análise da granulometria de solos e agregados é necessária para que possam


ser mensuradas suas características, indicando a possível utilização do mesmo.
Entretanto, apenas este estudo não é suficiente para verificar a viabilidade de um
material, desta forma deve ser combinada com outros ensaios. Neste item serão
apresentadas as análises e devidas comparações das granulometrias do fresado, pó
de pedra e da respectiva mistura entre estes materiais.

4.1.1. Material Fresado

A composição granulométricamédia do fresado e a curva característica média


do material, obtidas através do ensaio de peneiramento,pode ser visualizada através
da Tabela 2 e na Figura 27.

Tabela 2 – Composição granulométrica do Fresado.


(continua)

ABERTURA Média Acumulada Média Acumulada


PENEIRA
(mm) passante (%) Retida (%)
2" 50 100,00 0,00
1" 25,4 100,00 0,00
3/8" 9,5 81,17 18,83
Nº 4 4,8 54,31 45,69
Nº 10 2 23,37 76,63
Nº 40 0,42 1,00 99,00
46

(conclusão)
ABERTURA Média Acumulada Média Acumulada
PENEIRA
(mm) passante (%) Retida (%)
Nº 200 0,075 0,00 100,00
Fundo >0,075 0,00 100,00

Fonte. Autora.

Figura 27 – Granulometria do fresado.

Composicão Granulométrica
Peneir 200 80 4 10 4 3/8" 3/4"
100 0 0

90 10
FAIXA A
80 20
Porcentagem Passante (%)

FAIXA B

Porcentagem Retida (%)


70 30
FAIXA C
60 40
FAIXA D
50 50
FAIXA E
40 FRESADO
60

30 70

20 80

10 90

0 100
0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos Grãos (mm)

Fonte. Carine Molz.

Analisando a granulometria do fresado, representada pelo formato da curva


azul contínua da Figura 27, verifica-se que este material não obteve
enquadramentonas faixas médias especificadaspelo DNIT para base granular,
aproximando-se da curvamédia representante da faixa A (marrom) para agregados
miúdos e da C (amarelo) e D (verde) para graúdos. Este fato pode ser explicado
47

devido ao aglutinamento entre os componentes da mistura, formando partículas


maiores, e também devidoà falta de controle na coleta em campo do fresado,
resultando em diferentes frações granulométricas.
Ainda, de acordo com o Manual de pavimentação do DNIT (2006) este
material pode ser considerado medianamente uniforme e com boa graduação
(aberta). Os solos bem graduados são compostos de diferente tamanho de
partículas e apresentam assim melhor comportamento em termos de resistência e
compressibilidade.
Por opção de estudo, isentaram-se das amostras ensaiadas os grumos de
grandes dimensões passíveis de quebra.Desta forma, não foram verificados grãos
retidos nas peneiras com grade superior à 9,5 mm, indicando a baixa ou
inexistenteporcentagem de partículas com diâmetros maiores ou iguais a 24,5 mm e
50mm (1” e 2”). Além disso, observou-se a pequena fração de constituintes miúdos
retidos e passantes na peneira 200 (0,075mm), devido a aglutinação entre estes
finos, o material asfáltico e agregados maiores.
Da mesma forma, Pinto M. et al (2011) não obteve ajuste total do resíduo
fresado da RSC-287 nas faixas granulométricas do DNIT, propostas na DNER
303/97, apresentando uma granulometria aberta.Entretanto, mesmo sem respeitar
as especificações granulométricas, este material apresentou bons resultados
laboratoriais e comprovou aplicabilidade prática e funcionalidade através da
reutilização deste, sem alterações ou adições de insumos, para regularização do
acostamento em um trecho experimental. A Figura 28 apresenta uma comparação
visual entre a curva granulométrica da RSC-287 (PINTO M. et al, 2011) e a
apresentada como resultados da BR-287 neste estudo.
48

Figura 28 – Fresado BR-287 (2016) x Fresado RSC-287 (2011).

Composicão Granulométrica
Peneir 200 80 4 10 4 3/8" 3/4"
0
10
FRESADO BR- 20
287
Porcentagem Passante (%)

Porcentagem Retida (%)


30
FRESADO
RSC-287 40
50
60
70
80
90
0 100
0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos Grãos (mm)

Fonte. Autora com adaptaçãode Pinto et al (2011).

Comparando as curvas granulométricas do Fresado da BR-287 (linha


contínua) com o da RSC-287 (linha pontilhada), verifica-se que o segundo apresenta
maior quantidade de agregados graúdos retidos nas peneiras 1” e 2”. Este fatose
deve a retirada dos grumos graúdos da amostra trabalhada, assim como devido a
variação de tamanho dos constituintes de cada amostra e lote de fresado.
Cadaprocesso de desbaste do revestimento asfáltico resulta em materiais com
dimensões distintas, dependendo estas da profundidade de corte, do tipo de
fresagem, do equipamento, entre outros fatores.
Ademais, ambos materiais apresentam umarranjo granulométrico semelhante
e boa graduação, ressaltando a possibilidade de análise experimental e utilização do
fresado proveniente da BR-287 em campo em relação a sua composição. Salienta-
se ainda a necessidade de verificação dos resultados de outros ensaios para o
emprego deste, como abrasão Los Angeles para mensurar a abrasão do material,
equivalente de areia para análise de contaminantes e índice de suporte california
para verificação da resistência mecânica (PINTO M. et al, 2011).
Visando a reutilização do fresado estudado em outras camadas na
pavimentação, analisou-se a possibilidade de aplicação deste, baseado em seu
49

arranjo granulométrico, como agregado na composição da camada porosa de atrito


– CPA. Para isto, foi necessário o auxílio da especificação de serviço do DNER-ME
386/99 para a constituição desta camada, conforme demonstra a Tabela 3.

Tabela 3 – Faixas granulométricas para dosagem de CPA - DNER-ES-386/99

Peneira malha Faixas


quadrada
ABNT Abertura Porcentagem em massa
(mm) I II III IV V Tolerância

3/4" 19 - - - - 100 -
1/2" 12,5 100,00 100 100 100 70-100
7
3/8" 9,5 80-100 70-100 80-90 70-90 50-80 7
Nº 4 4,8 20-40 20-40 40-50 15-30 18-30 5
Nº 10 2 12-20 5-20 10-18 10-22 10-22 5
Nº40 0,42 8-14 6-12 6-13 6-13 6-13 5
Nº80 0,18 - 2-8 - - - 3
Nº200 0,075 3.-5 0-4 3-6 3-6 3-6 2
Ligante modificado 4,0-6,0 0,3
por polimero
Espessura da camada 3 <4,0
acabada
Volume de Vazios % 18-25
Ensaio de Cantabro 25
%máx

Resistências á tração 0,55


por compressão
diametral a 25º, Mpa,
mín.

Fonte. Adaptado de DNER 386/1999.

Através da análise das granulometrias expostas na Tabela 3, e considerando


a tolerância percentual de massa passante das mesmas, verificou-se o
enquadramento do fresado na faixa granulométrica III, conforme visualiza-sena
Figura29.
50

Figura 29 – Granulometria fresado x CPA (Faixa III)

Composicão Granulométrica
Peneir 200 80 4 10 4 3/8" 3/4"
100 0
90 10
80 Limites 20
Porcentagem Passante (%)

Porcentagem Retida (%)


70 FRESADO
30
60 40
50 50
40 60
30 70
20 80
10 90
0 100
0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos Grãos (mm)

Fonte. Carine Molz.

4.1.2. Pó de pedra

O resultado médio das amostras obtido nos ensaios de Granulometria, assim


como a respectiva curva granulométrica característica deste material são
apresentados através da Tabela 4e na Figura 30.

Tabela 4 – Distribuição Granulométrica do pó de pedra.


(continua)

Média Acumulada Média Acumulada


PENEIRA ABERTURA
passante (%) Retida (%)
2" 50 100,00 0,00
1" 25,4 100,00 0,00
3/8" 9,5 100,00 0,00
Nº 4 4,8 94,70 5,3
Nº 10 2 43,17 56,83
Nº 40 0,42 16,15 83,85
51

(conclusão)
Média Acumulada Média Acumulada
PENEIRA ABERTURA
passante (%) Retida (%)
Nº 200 0,075 8,46 91,54
Fundo >0,075 0,00 100,00

Fonte. Autora.

Figura 30 – Composição granulométrica do pó de pedra.

Peneiras 200 80 4 10 4 3/8" 3/4"


100 0
90 10
Limite Faixa
80 C DNIT 20
Porcentagem Passante (%)

PÓ-DE-

Porcentagem Retida (%)


70 30
PEDRA
60 40
50 50
40 60
30 70
20 80
10 90
0 100
0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos Grãos (mm)

Fonte. Autora.

Segundo a Figura 29, a composição média representante do pó de pedra


basaltico utilizada neste estudo apresenta grande parcela de seus contituintes
retidos na peneira Nº 10, com abertura de 2mm, sendo considerado um pó de pedra
de granulometria mais graúda.
52

4.1.3. Mistura: 70% Fresado e 30% Pó de Pedra

A composição granulométrica resultante da mistura de 70% fresado e 30% de


pó de pedra proposta neste estudo, juntamente com as granulometrias individuais
destes materiais é ilustrada na Figura 31.
Figura 31 - Curva Granulométrica

Composicão Granulométrica
Peneir 200 80 4 10 4 3/8" 3/4"
100 0 0

90 10
Limites
80 20
MISTUR
Porcentagem Passante (%)

Porcentagem Retida (%)


70 FRESAD
O
30
PÓ-DE-
60 PEDRA
40

50 50

40 60

30 70

20 80

10 90

0 100
0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos Grãos (mm)

Fonte. Autora.

Analisando a Figura 30 observa-se que dentre as faixas


granulométricas propostas pelo DNIT para bases estabilizadas
granulometricamentes, a mistura obteve maior proximidade da faixa C, não
apresentando enquadramento total na mesma. Para a tentativa de ajuste
granulométrico da mistura nas especificações do DNIT, pode ser citado como
alternativa a possibilidade de utilização de um pó de pedra com composição mais
miúda.
53

Ainda, assim como o material fresado, a mistura apresentou uma composição


com boa graduação, enfatizando a análise das demais características de resistência
da mesma para verificação de sua aplicabilidade.

4.2. ANÁLISE DO ENSAIO DE COMPACTAÇÃO

O Resultado aproximado obtido na compactação da mistura de 70% fresado e


30% de pó de pedra pode ser visualizado através da curva de compactação ilustrada
na Figura 32. A umidade ótima alcançada neste ensaio foi de cerca de 9,9% e a
massa específica aparente seca é de 2030 Kg/m³.

Figura 32 – Curva de Compactação.

Curva de Compactação
2050
Massa Específica Aparente Seca (kg/m³)

2030
2010
1990
1970
1950
1930
1910
1890
1870
1850
1830
1810
1790
1770
1750
1730
1710
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Teor de Umidade (%)

Fonte. Autora.

4.3. ANÁLISE DOÍNDICE DE SUPORTE CALIFÓRNIA

Conhecidos os valores da umidade ótima e da máxima densidade aparente,


encontradosna curva de compactação, realizou-se o ensaio de Índice de Suporte
54

Califórnia (ISC). Os resultados obtidos e o traçado da curva pressão por penetração


sãoilustrados na Tabela 5 e na Figura 33.
55

Tabela 5 – Resultado do ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC).

Penetração
Tempo Penet. Leitura Pressão Pressão I.S.C.
(Mpa) (Mpa)
(min) (mm) Defletôm. Calculada Corrigida (%)
0 0 0 0,00 - -
0,5 0,63 6 0,06 - -
1,0 1,27 24 0,20 - -
1,5 1,90 50 0,41 - -
2,0 2,54 87 0,70 0,70 10,14
2,5 3,17 133 1,06 - -
3,0 3,81 179 1,42 - -
3,5 4,44 229 1,82 - -
4,0 5,08 287 2,28 2,28 21,98
5,0 6,35 387 3,04 - -
6,0 7,62 475 3,73 - -
7,0 8,89 585 4,59 - -
8,0 10,16 672 5,27 - -
9,0 11,43 760 5,95 - -
10,0 12,70 850 6,66 - -

Fonte. Autora
56

Figura 33 – Curva Pressão-Penetração.

7,0

6,0

5,0

4,0
Pressão (MPa)

3,0

2,0

1,0

0,0
0 5 10 15
Penetração (mm)

Fonte. Autora.

Para este estudo, a mistura trabalhada obteve ISC de cerca de 21,98%. Este
valor pode ser explicado devido à falta de finos e excesso de partículas graúdas no
material, não ocorrendo o perfeito preenchimento dos vazios entre os grãos maiores.
A mistura trabalhada também não apresentou expansibilidade, conforme se visualiza
na Tabela 4. Esta inexistente expansão se deve ao material pétreo estar envolto de
ligante asfáltico, o qual não demonstra características permeáveis, impossibilitando
a absorção de água. Specht et al (2012) caracteriza este resultado como positivo,
pois a presença de água faz com que a mistura perca resistência, e desta forma, na
ausência destao material não apresenta grandes deformações.
Pinto M. et al (2011) realizou o ensaio CBR para uma amostra de fresado da
RSC-287, obtendo um valor de aproximadamente 38%.Pires (2014) também realizou
um trabalho de pesquisa utilizando material fresado estabilizado quimicamente, com
a adição de cinza de casca de arroz e cimento Portland, e granulometricamente,
encontrando um valor de ISC superior, de cerca de 68%. Esta diferença ocorre
essencialmente pela adição de materiais os quais tem função de melhorar o arranjo
físico e a resistência da estrutura.
57

Quanto as aplicações práticas desta mistura, salienta-se que para a utilização


de um agregado, tanto na pavimentação como na construção civil, este deve possuir
as características específicas estipuladas em normas. Asub-baseestabilizada
granulometricamente deve ter, segundo a normaDNIT-ME 139/2010, um ISC maior
20% e expansibilidade máxima de 1%. De acordo com o resultado obtido para a
mistura trabalhada, esta pode ter aplicação prática nesta camada do pavimento. Da
mesma forma, para a regularização de subleito, segundo o Manual de Pavimentação
do DNIT, a mistura pode ser viabilizada se o material apresentarISC maior que a do
solo de fundação e expansão inferior a 1%.
Ainda, segundo a norma DNIT 141/2010, para bases estabilizadas
granulometricamente, o ISC deve ser maior ou igual a 60% para um tráfego com
número de solicitações N 5x10 e para um N maior, o ISC deve ser maior ou igual
a 80%, com índice de expansibilidade menor que 0,5%. Tendo em vista estas
especificações, a mistura estudada apresenta resultados inferiores aos indicados,
impossibilitando a aplicação em base de pavimentos.

4.4. POSÍVEIS UTILIZAÇÕES DO FRESADO

Considerando os resultados obtidos através do estudo realizado tanto para a


mistura de trabalho (70% de fresado e 30% de pó de pedra), quanto para
caracterização individual do fresado da BR-287, elaborou-se uma comparação com
outras pesquisas, sendo esta apresentada na Figura 34.
58

Figura 34 – Comparação entre o fresado da BR-287 e outros estudos

AUTOR(ES) DO ESTUDO

SILVA SPECHT BARROS PINTO M. et al PINTO C.


ENSAIO PIRES (2014) AUTORA (2017)
(2016) et al (2014) (2013) (2011) (2010)

ORIGEM DO
RS-287 BR-290 ERS-569 BR-290 BR-104 RSC-287 BR-290 RS-287
FRESADO

DMM (g/cm³) 2,433 - 2,37 2,37 - - - 2,458

TEOR DE 5,6%
6,20% - 6,06% 5% - 6,27% 5,63%
BETUME 4,69%
TEOR DE 100%,80%,
70% 70% 70% 50% 100% 100% 70%
FRESADO 60%,40%,
CIMENTO CIMENTO
(5,37%) , (4,86%) ,
ESTABILIZAÇÃO CIMENTO CIMENTO CINZA DE CINZA DE
- - - -
QUÍMICA (6%) (5%) CASCA DE CASCA DE
ARROZ ARROZ
(15%) (15%)
BRITA 3/4'
AGREGADO AGREGADO SOLO
ESTABILIZAÇÃO 0%,20%, (15%) PÓ PÓ DE PEDRA
NATURAL NATURAL JAZIDA - -
GRANULOM. 40%,80% DE PEDRA (30%)
(30%) (30%) (50%)
(15%)
DENSIDADE
2067 2092 1963 2092 2100 1798 1826 2030
(Kg/m³)
UMIDADE
8,30% 8,20% 8,80% 8,20% 8,90% 8,50% 4,20% 9,90%
ÓTIMA (%)
EQUIVALENTE
- - - 64,10% -
DE AREIA
ABRASÃO - - - 36,37% -
ISC(%) - 95% 98% 68% 28% 38% 11% 21,98%.
REFORÇO SUB-BASE,
BASE
VIABILIDADE DE BASE, DE REGULARIZAÇÃO
BASE BASE (TRÁFEGO SUB-BASE ACOSTAMENTO
USO SUB-BASE SUBLEITO, E REFORÇO DE
LEVE)
SUB-BASE SUBLEITO

Fonte. Autora.

Através da comparação representada na Figura 34, visualiza-se que esta


pesquisa não obteve variação significativa em relação aos resultados de DMM e teor
de betume do fresado. Quanto a resistência do agregado, apresentaram-se
divergências nos valores encontradosentre os estudos devido a incorporação de
diferentes materiais, como cimento, cinza de casca de arroz e solo de jazida, por
exemplo. Estes aditivos objetivam a estabilização da mistura, assim como o aumento
da resistência, proporcionandoem alguns casos a possibilidade de incorporação
desta em camadas que necessitam maior capacidade de suporte, como na base de
pavimentos. Ainda, adiferença de resistência dos materiaistambém é atribuída a
59

distinta origem e amostragem do fresado, sendo este fator determinante nesta


análise.
Em relação as possibilidades de uso na pavimentação das diferentes
misturas, tanto as estabilizadas quimicamente, granulometricamente ou sem
aditivos, grande parte das pesquisas analisadas obteve resultados que
comprovaram a viabilidade de incorporação do agregado em sub-base e reforço de
subleito, assim como este estudo.
60

5. CONCLUSÕES FINAIS

A granulometria do fresado da RS-287 apresentou-se majoritariamente


graúda e bem graduada, porém sem partículas retidas nas peneiras 1” e 2”. Ainda,
esta não exibiu porcentagem significativa de finos retidos e passantes na peneira
200, indicando a possível aglutinação entre os componentes da misturaoriginal de
CBUQ. Quanto aos ensaios de caracterização do fresado, Rice e Rotarex, este
material apresentou valores para o teor de betume de 5,63% e para a DMM de cerca
de 2,458 g/m³, ambos condizentes com as bibliografias analisadas.
O arranjo granulométrico do fresado não obteve enquadramento total nas
faixas estipuladas pelo DNIT para bases estabilizadas granulometricamente.
Entretanto, a análise da comparação granulométrica entre o fresado da RS-287 e o
da RSC-287 estudado por Pinto em 2010 instigou a possibilidade de estudo e
realização de ensaios de aplicabilidade do excedenteasfáltico estudado como
camada de regularização de acostamento.
Da mesma forma, baseando-se na composição granulométrica do fresado da
RS-287 e buscando outras alternativas de uso para o material estudado, este obteve
ajuste de seu arranjo na Faixa granulométrica III para utilização em camada porosa
de atrito. Entretanto, ainda se tornamnecessários demais conformações e ensaios
para verificação da sua aplicabilidade.
Na análise do pó de pedra basáltica, este apresentou uma granulometria
característica, porém com partículas maiores que as desejadas para composição
com o fresado. A massa específica deste material, obtida através do ensaio do
picnômetro, obteveum resultadomédio de cerca 2,651g/m³, valor condizente com o
esperado e com as bibliografias de apoio.
Por opção de estudo, e embasado em referencial teórico, utilizou-se uma
mistura de cerca de 70% de fresado e 30% de pó de pedra. A granulometria
resultante, assim como a do fresado, não obteve enquadramento nas faixas
propostas para bases estabilizadas pelo DNIT, porém aproximou-se da faixa C. O
ensaio de compactação desta mistura resultou em uma umidade ótima de cerca de
9,9%, mais alta que o confessional para materiais graúdos, e a massa específica
aparente seca de 2030 Kg/m³. Quanto ao ISC obteve-se um resultado considerado
bom de cerca de 21,98%.
61

Devido à natureza granular da mistura, esta não apresentou propriedades


aglutinantes, fragmentando-se durante a retirada da forma de molde. Deste modo,
as propriedades mecânicas da mistura, mensuradas através dos ensaios módulo de
resiliência, resistência à tração por compressão diametral e resistência à
compressão simples, não obtiveram resultados. Salienta-se assim a necessidade de
incorporação de um material aglutinante.
Por fim, de acordo com o ISC e com os resultados dos demais ensaios
obtidos para a mistura, quanto a aplicabilidade desta para camadas subjacentena
pavimentação, cita-se a possibilidade de incorporação do material em camadas de
sub-base, e de regularização e reforço de subleito.Estas possibilidades de uso têm
como fundamentação teórica as normativas vigentes e enfatizam um destino viável e
ambientalmente correto para este material excedente proveniente das obras de
restauração rodoviária.
62

6. SUGESTÕES

• Devido à natureza granular do fresado, torna-se interessante a mensuração do


módulo de resiliência deste. Porém, este ensaio deve ser realizado com a normativa
e os equipamentos específicos para solo e agregados. Da mesma forma, devem ser
utilizados moldes tripartidos para facilitar a retirada do material durante a moldagem.
• Adição de outro componente na mistura com potencial aglutinante, como cimento ou
cal, para ajuste granulométrico e aumento na resistência.
• Realização de ensaios e maiores estudos de aplicabilidade do fresado
individualmente em acostamento rodoviário e como reforço de subleito.
• Realização de ensaios e maiores estudos de aplicabilidade do fresado em CPA.
63

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da UFSM: Estrutura e apresentação: MDT. Santa Maria: Ed. da UFSM 2015 92 p.
Disponívelem:<http://w3.ufsm.br/biblioteca/phocadownload/Manual_de_Dissertacoes
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WIRTGEN, Wirtgen Group. Histórico. Windhagen, Alemanha, 2017. Disponível em:


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YODER, E. J.; WITCZAK, M. W. Principles of pavement design. New York: John
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