Você está na página 1de 16

1

Governo do Estado de Minas Gerais

Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais

Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica

Superintendência de Políticas Pedagógicas

Diretoria de Modalidade de Ensino e Temáticas


Especiais

Coordenação de Temáticas de Ensino e


Transversalidade Curricular
2

Lista de Siglas
ADR Alternative Dispute Resolution
AGNU Assembleia Geral das Nações Unidas
CNMP Conselho Nacional do Ministério Público
CNV Comunicação Não Violenta
CRAS Centro de Referência em Assistência Social
CREAS Centro de Referência Especializado em Assistência Social
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
MEC Ministério da Educação
MPMG Ministério Público de Minas Gerais
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
OGE Ouvidoria Geral do Estado
PNEDH Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
PPP Projeto Político-Pedagógico
PSE Programa Saúde na Escola
RAC Resolução Alternativa de Conflitos
SEDESE Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social
SEE Secretaria de Estado de Educação
SER-DH Sistema Estadual de Redes em Direitos Humanos
SIMA Sistema Integrado de Monitoramento e Avaliação em Direitos Humanos
SIMA Educação Módulo do SIMA dedicado a rede estadual de ensino de Minas Gerais
SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SINARM Sistema Nacional de Armas
SRE Superintendência Regional de Ensino
STJ Supremo Tribunal de Justiça
SVS/MS Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde
UBS Unidade Básica de Saúde
UPA Unidade de Pronto Atendimento
3

Quadro de Legislações
Dispositivo Abrangência Legislação Data

Declaração Universal de Direitos Humanos Internacional Resolução 217 A 1948


(III), da AGNU

Constituição da República Federativa do Brasil Nacional CRFB/1988 05/10/1988

Estatuto da Criança e do Adolescente Nacional Lei Nº 8.069 13/07/1990

Estatuto da Juventude Nacional Lei Nº 12.852 05/08/2013

Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor Nacional Lei Nº 7.716 05/01/1989

Institui o Estatuto da Igualdade Racial Nacional Lei Nº 12.288 20/07/2010

Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica Nacional DCNs/2013 2013

Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos Nacional PNEDH 2018

Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do Nacional Lei Nº 13.431 04/04/2017


adolescente vítima ou testemunha de violência

Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática Nacional Lei Nº 13.185 06/11/2015


(Bullying)

Código Penal Nacional Decreto Lei Nº 07/12/1940


2.848

Institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Nacional Lei Nº 13.819 26/04/2019


Suicídio

Dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de Nacional Lei Nº 10.826 22/12/2003
fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm

Constituição do Estado de Minas Gerais Estadual 21/09/1989

Estatuto dos servidores públicos de Minas Gerais Estadual Lei Nº 869 05/07/1952

Estatuto do pessoal do magistério público do Estado de Minas Estadual Lei Nº 7.109 13/10/1977
Gerais

Política Estadual de Paz nas Escolas Estadual Lei Nº 23.366 25/07/2019

Programa de Convivência Democrática no Ambiente Escolar Estadual Resolução SEE Nº 29/01/2018


3.685

Colegiado escolar Estadual Resolução SEE Nº 2019


4.188
4

Sumário
Lista de Siglas 2
Quadro de Legislações 3
Indisciplinas, Violências e Atos Infracionais: do que estamos falando? 5
Violências 5
Indisciplina 7
Violência X Indisciplina 11
Atos Infracionais 13
Bibliografia 15
5

Indisciplinas, Violências e Atos Infracionais:


do que estamos falando?

Os temas - indisciplina e violência escolar - têm ganhado visibilidade social, porém ainda
é comum a existência de confusões envolvendo o uso desses conceitos no meio
educacional. Tal diferenciação é importante pois a incompreensão do conceito de
indisciplina ou de violência pode ocasionar a criminalização de comportamentos e
condutas cotidianas de pouca gravidade, resultando no acionamento indevido de forças
policiais na resolução de conflitos escolares e, por conseguinte, na destituição da
importância de intervenção pedagógica apropriada na resolução do conflito ocorrido.
Assim, abaixo buscaremos explanar, brevemente, a diferença entre estes conceitos.

Violências

s violências nas escolas podem se apresentar de diversas formas. Neste

A sentido, como salienta Abramovay (2005), é necessário ter cautela ao


apresentar um conceito único de violência, uma vez que as relações sociais
passam por adaptações e transformações cotidianas, e o fenômeno se
constitui em algo dinâmico, heterogêneo e de difícil delimitação no ambiente escolar.
Assim, a autora identifica categorias de violência no universo escolar de acordo com sua
natureza, conforme a seguir:

 Microviolências ou incivilidades, ou seja, aquelas que perpassam as relações


sociais da escola, por meio de práticas e hábitos, como humilhações, palavras
grosseiras, falta de respeito, recusa de atendimento às demandas das/os
estudantes, entre outros, que apesar de fragilizar ou destruírem os laços sociais
acabam se naturalizando, e suas consequências mais frequentes dizem respeito
ao medo e à insegurança, que podem acabar fragilizando a instituição;
 Violências simbólicas ou institucionais, aquelas que operam por imposição de
símbolos do poder. Na dinâmica escolar, estabelecem-se relações que
reproduzem violências simbólicas como forma de dominação. Podemos citar,
como exemplo, as condições da estrutura física das escolas; a falta de sentido
6

para a/o estudante em permanecer na escola por muitos anos; o ensino como
um desprazer, que a/o obriga a aprender matérias e conteúdos descolados dos
seus interesses; a violência nas relações entre professoras/es e estudantes,
direção e estudantes, direção e professoras/es; e também, na negação da
identidade e satisfação profissional, a indiferença das/os estudantes e o
absenteísmo.
 Violência dura, ou os atos enquadrados como crimes ou contravenção penal,
pode ser entendido como a intervenção física de um indivíduo contra a
integridade do outro e/ou contra si mesmo, como suicídio, roubos, homicídios,
tráfico e consumo de drogas.
 Violência estrutural, que está relacionada às diferentes formas de manutenção
das desigualdades sociais, culturais, etárias, étnicas e de gênero que produzem
miséria, e às várias formas de submissão e de exploração de umas pessoas pelas
outras. Relaciona-se, diretamente, com a situação de exclusão social de parte da
população de países com baixos níveis de desenvolvimento econômico e social.

Neste mesmo âmbito, de acordo com Charlot (2002), é necessário que sejam
estabelecidas distinções conceituais que possibilitem categorizar o fenômeno da
violência, a fim de não se misturar diferentes formas de violência em uma única
categoria. O autor distingue 3 tipos: a violência na escola, violência à escola e a violência
da escola.

A violência na escola, segundo o autor, é aquela que se produz no interior do ambiente


escolar, mas não está ligada à natureza das atividades inerentes à instituição, uma vez
que a escola se converte em palco de disputas ou acerto de contas que poderiam ocorrer
em outros locais, reproduzindo contextos e fatores sociais externos. A violência à escola
está ligada à natureza das atividades escolares, quando, por exemplo, estudantes
depredam equipamentos, batem nas/os professoras/es ou as/os insultam. A violência
da escola é uma violência institucional, que as/os jovens suportam por meio da maneira
como a instituição e seus agentes as/os tratam. De acordo com o autor, se a escola é,
em grande parte, impotente face à violência na escola, ela dispõe de larga margem de
ação para lidar com a violência à escola e da escola.
7

Neste sentido, é preciso estar atento, como salientado por Charlot (2002), pois
pequenas violências que vão se somando podem acabar resultando em um estado de
inquietude, que leva a um sentimento de insegurança no ambiente escolar:

“(...) os docentes e o pessoal administrativo da escola (...) são, às vezes, objeto de


atos repetidos, mínimos, que não são violências em si mesmos, mas cuja
acumulação produz um estado de sobressalto, de ameaça permanente:
mesmo quando a escola, em um momento dado, parece (relativamente)
calma, o pessoal sabe que essa calma pode ser quebrada no instante
seguinte. ” (Charlot, 2002, p. 433)

Apesar da especificação sobre o pessoal administrativo e docente da escola descrita por


Charlot, deve-se entender, a partir dos demais conceitos apresentados anteriormente,
que tal fenômeno pode acontecer também em relação aos estudantes, o que demonstra
a importância de se ter atenção para as práticas diárias de tratamento entre os atores
da escola de modo a possibilitar a construção de um ambiente efetivamente
democrático e acolhedor para todos.

Indisciplina

D
e acordo com Dicionário Aurélio (2005), indisciplina é o “procedimento, ato
ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem; rebelião”. Ainda,
para Parratt-Dayan (2015), a indisciplina escolar não é algo inerte “(...) não é
um fenômeno estático nem um fenômeno abstrato que mantém sempre as mesmas
características. As expressões de indisciplina são susceptíveis de mudança em função da
época e do contexto”. (PARRATT-DAYAN, 2015, p.22).

Isso indica que o descumprimento das normas internas da escola poderá originar de
causas diversas e também possuir múltiplas interpretações, de modo que o que é
indisciplina em um local poderá não o ser em outro.

Além de se apresentar de diversas formas, a indisciplina pode ocorrer a partir de


condutas de diferentes atores que compõem o universo cotidiano da escola, como cita
Parrat-Dayan (2008),
8

“O conceito de indisciplina não apenas se traduz de múltiplas maneiras, mas


é também objeto de múltiplas interpretações. Assim a questão pode ser
observada a partir de diferentes marcos de referência: do aluno, do professor
ou da escola.”

A partir desta perspectiva é possível pontuar a indisciplina do aluno a partir de seus


comportamentos em sala de aula, nas relações com os colegas e professores, quando
suas ações não são condizentes com as condutas esperadas, de acordo com as normas
pré-estabelecidas pela escola.

A “escola” será geradora de indisciplina quando se distanciar das próprias normas de


seu regimento escolar como cita Parrat-Dayan (2008),

“Olhando pelo referencial da escola e na medida em que se manifestem as


contradições com relação aos referenciais que ela assume, poderia se
considerar que é a escola a indisciplinada. Por exemplo uma escola que se
assume como democrática e que manifesta uma ausência desses valores na
forma de articular as relações entre alunos e professores pode desencadear
resistência, oposição e rebelião por parte dos alunos. A rebelião que, sem
considerar o contexto, poderia ser vista como uma forma de indisciplina
encontra aqui legitimidade e pertinência”. (PARRAT-DAYAN, 2008, p.22)

O professor, por sua vez, ocupa este lugar de autor da indisciplina quando não realiza a
intervenção pedagógica pertinente às situações ocasionais que ocorrem em sala de aula
o que por sua vez poderá gerar um comportamento indesejável da classe.

Dado que a indisciplina na escola é multicausal e as soluções, por sua vez, podem ser
múltiplas e demandar um olhar atento em cada caso, é preciso estar atento. Assim,
sugere NUNES (2011),

“Podemos começar com mudanças nas atitudes na rotina da escola, tentando


melhorar a convivência no ambiente escolar. A criação de regras comuns com
a participação de todos, sob a coordenação do educador ou de outros
responsáveis pela escola, é um bom caminho, pois democratiza a convivência
e confere princípios e significados às regeras, tornando-as mais justas, e,
portanto, mais passíveis de serem cumpridas”.
9

Diante do exposto, é importante compreender que não cabe somente aos estudantes a
responsabilidade pela indisciplina na escola, uma vez que é possível ter vários agentes
responsáveis pelo não cumprimento das regras acordadas e pressupostas na escola. Por
sua complexidade, a indisciplina, de uma forma geral, diz respeito a situações que
representam grande dificuldade para as ações das equipes escolares, gerando a
necessidade de uma gestão preparada para lidar com esses momentos.

A direção da escola poderá desenvolver junto aos seus profissionais, de forma conjunta,
a definição e aplicação de estratégias que contribuam para a garantia da disciplina no
ambiente escolar. Nesse sentido, é importante entender o conflito como um fenômeno
construtivo e positivo, que contribui para o desenvolvimento individual dos atores
envolvidos se percebido e tratado da forma correta, como sugere Nunes (2011):

“O contexto escolar é complexo, e a escola, em regra, não dispõe de meios


adequados ou de respostas eficientes para gerenciar e resolver os conflitos
que nela ocorrem. Por isso, além de atividades preventivas que estimulem a
reflexão, os educadores precisam desenvolver meios e estratégias que lhes
permitam trabalhar com o conflito de forma construtiva, cujos resultados
produzam efeitos mais duradouros”. (NUNES, 2011, p.45).

Assim, considerando a complexidade do contexto escolar e as diversas possíveis causas


que podem provocar a desarmonia neste ambiente, incluindo aí os conflitos, naturais
em ambientes democráticos em que convivem pessoas com diferentes realidades e
pontos de vista, a articulação para elaborar, de forma coletiva (englobando os
profissionais da educação, os estudantes e a comunidade escolar) os princípios e normas
para o bem-estar do ambiente escolar pode contribuir para a organização de uma escola
efetivamente cidadã.

A construção do Regimento Escolar deve envolver toda a comunidade escolar - alunos,


pais/familiares, professores, equipes pedagógica e administrativa, gestão escolar - de
forma a legitimar as normas que balizam os direitos individuais e coletivos no âmbito da
escola (MPMG, 2016), seguindo a legislação vigente, com ênfase na Lei de Diretrizes
Básicas da Educação (LDB) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como
o Projeto Político Pedagógico da escola.
10

É importante que o conteúdo do Regimento Escolar seja constantemente compartilhado


e apresentado aos alunos e à comunidade escolar e a escola deve disponibilizá-lo para
fácil acesso.

As condutas entendidas como atos de indisciplina nas escolas precisam ser definidas de
forma clara e objetiva. Não se pode, por exemplo, prever que “incomodar o ambiente”
pode ser uma conduta punida, pois a expressão “perturbar o ambiente” pode ser
subjetivamente interpretada como caracterizada por diversas ações diferentes, e não se
permitiria classificar claramente cada situação característica e o respectivo grau de pena
aplicável.

“São exemplos de atos de indisciplina, de acordo com o Regimento Escolar:


desrespeito ao colega, ao professor, aos funcionários, ao diretor; não
realização das atividades propostas; saída da sala de aula sem a autorização
do professor; gritos durante a aula; utilização de celular, tablets e outros
aparelhos quando não forem permitidos; desobediência às demais normas
disciplinares estabelecidas na escola etc.” (MPMG, 2016)

Nesse sentido, o Regimento Escolar deve prever o que serão consideradas condutas
passíveis de articulação e correção e quais serão as medidas cabíveis em sua ocorrência,
considerando sempre as garantias de direitos previstas no Estatuto da Criança e
Adolescente. Tal definição em regimento é importante pois é essencial que todos os
estudantes sejam tratados com isonomia, sendo as diferenças de tratamento realizadas
de acordo com a necessidade de cada um (a), mas não de acordo com a concepção
individual de alguns atores da escola.

É importante lembrar que o papel da escola não se caracteriza por punir o estudante,
mas sim fazer intervenções pedagógicas a cada caso específico. Em situações extremas,
a escola pode ser levada a suspender ou expulsar o estudante. No entanto, conforme o
ECA prevê em seu art. 53º, inciso é direito do estudante “igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola”. Dessa forma, não é permitido a escola prever em seu
regulamento a expulsão do estudante, sob qualquer pretexto. Já a suspensão poderá ser
prevista no Regimento Escolar com a definição de uma atividade de caráter pedagógico,
acompanhada de profissional da escola e sem prejudicar o estudante em atividades
avaliativas. A suspensão deve considerar a proporcionalidade ao ser aplicada, pois o
papel da escola é educar, orientar sempre considerando que a criança e o
11

adolescente são pessoas em desenvolvimento físico, cognitivo e social e devem ser


acolhidos pela escola.

O fluxo abaixo pode servir como exemplo de como deve ser tratada a indisciplina no
contexto escolar, a partir do exposto.

Fonte: Elaboração Própria – SEE/2019

Violência X Indisciplina

A
partir do exposto, é necessário que a distinção entre indisciplina e violências
esteja clara para a gestão escolar e para os profissionais de educação a fim de
que atos de mera indisciplina não sejam tratados como ‘caso de polícia’ e
criminalizados. Uma boa abordagem da distinção entre indisciplina e violência é
realizada por Silva (2010). Segundo este autor, embora existam semelhanças entre os
dois fenômenos, existem características específicas que permitem distingui-los. São
elas: a natureza das regras que eles violam, a gravidade intrínseca presente em cada um
desses atos e as consequências imediatas que eles podem acarretar para a integridade
física psicológica e moral dos sujeitos.
12

A palavra disciplina é marcada por uma enorme polissemia. Silva aponta que, em seu
sentido mais corrente, a palavra disciplina tende a designar “um conjunto de regras e de
ações que visam regular o convívio e o cumprimento das atividades pelos sujeitos numa
dada instituição”. Os professores tendem a associar esse conceito a formas de
comportamento estudantil que burlam as regras e dificultam o bom funcionamento da
aula, chegando a questionar a autoridade do professor e das regras especificamente
escolares. Exemplos são as conversas durante a aula, os deslocamentos não autorizados,
as desobediências aos professores e às regras da escola. Isso explica, segundo o autor,
por que muitos atos que são caracterizados como indisciplina na escola podem não
merecer qualquer tipo de condenação em outros espaços sociais. Por isso,

“os comportamentos de indisciplina apresentam uma pequena gravidade


intrínseca, sendo condenados mais pela perturbação que podem gerar no
ambiente escolar do que pelas consequências imediatas que poderiam
acarretar à integridade física ou psicológica dos sujeitos.” (Silva, 2010).

Já no caso da violência escolar, embora uma definição precisa do conceito ainda


permaneça em aberto pela comunidade acadêmica, o autor sustenta que a palavra
“tende a ser associada a comportamentos que violam regras sociais mais abrangentes e
que podem causar danos físicos, morais, psicológicos ou materiais às pessoas ou
instituições”, e que podem facilmente serem enquadrados como infrações penais,
quando perpetrados por adultos ou “ato infracional” quando protagonizados por
adolescentes e jovens, entre 12 e 18 anos. É o caso dos assassinatos, dos roubos, do
porte de armas, do tráfico de drogas, das ameaças, das agressões físicas ou psicológicas.
São comportamentos com “enorme gravidade intrínseca, fortemente condenados e
penalizáveis em todas as esferas da vida social”.

Ao diferenciar as situações que produzem os diferentes tipos de violência e a


indisciplina, a escola aumenta sua capacidade de solucionar seus conflitos e constrói
junto à comunidade escolar um sentimento de autonomia, uma vez que reduz o
acionamento de órgãos externos. Assim, é preciso promover capacitação dos
profissionais de educação, uma vez que os atores sociais da própria instituição escolar
possuem diversas possibilidades de ação para a prevenção, enfrentamento e resolução
13

das questões relacionadas aos diferentes tipos de violência e à indisciplina. Como


assinala Charlot (2002, p.436):

“O problema não é fazer desaparecer da escola a agressividade e o conflito,


mas regulá-los pela palavra e não pela violência - ficando bem claro que a
violência será bem mais provável, na medida em que a palavra se tornar
impossível. ” (Charlot, 2002, p.436)

Em muitos casos, as escolas precisam de apoio interinstitucional para prevenir e/ou


solucionar as situações de violência, sendo necessária a institucionalização de um fluxo
de encaminhamentos preciso e ordenado que sirva como referência para as diversas
organizações do sistema de promoção, controle e proteção dos direitos.

Atos Infracionais

J
á distinguimos violências e indisciplinas. Mas o que são, então, atos infracionais?
Como descrito na Cartilha “Educação semente para um mundo melhor”, do MPMG
(2016), ato infracional é a conduta que, descrita em lei como crime ou
contravenção penal, tenha sido cometida por uma criança ou um adolescente.

“Podem ser considerados atos infracionais: dano – caracterizado, entre outras


formas, pela pichação ou depredação das instalações –, lesão corporal, tráfico
de entorpecentes, porte de arma ou explosivos, ameaça, rixa, furto, roubo,
latrocínio, homicídio etc.” (MPMG, 2016)

“A escola não pode se omitir em relação aos atos infracionais praticados por seus
alunos e deve sempre comunicá-los às autoridades competentes.” (MPMG, 2016)

O Estatuto da Criança e Adolescente define em seu artigo 2º a criança como a pessoa


até doze anos de idade incompletos e o adolescente como a pessoa entre doze e dezoito
anos em idade e em seu artigo 104 dispõe que “são penalmente inimputáveis os
menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta lei”. Ressalta-se que,
embora as crianças (até doze anos em idade) possam praticar atos infracionais, a essas
14

serão aplicadas, conforme determina o artigo 105 do ECA, as medidas protetivas


previstas em seu artigo 101:

I. Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de


responsabilidade;

II. Orientação, apoio e acompanhamento temporários;


ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE – ART. 101

III. Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;

IV. Inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança


e ao adolescente;

V. Tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou


ambulatorial;

VI. Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e


tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII. Acolhimento institucional;

VIII. Inclusão em programa de acolhimento familiar;

IX. Colocação em família substituta.

Em caso de prática de ato infracional por adolescente a autoridade policial competente


deve ser acionada. Aos adolescentes poderão ser aplicadas, pela autoridade
competente, medidas socioeducativas mediante provas suficientes da autoria e da
materialidade da infração, levando em consideração a capacidade do adolescente, as
circunstâncias e a gravidade da situação, nos moldes previstos no Capítulo IV do ECA.
Sendo dever da escola a garantia de direitos de adolescentes e jovens em cumprimento
de medida socioeducativa.
15

Bibliografia
ABRAMOVAY, Miriam, et al. Cotidiano nas escolas: entre violências. Brasília: UNESCO,
Observatório de Violência, Ministério de Educação. 2005. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001452/145265POR.pdf. Acesso em: 20 de jun. de
2016.

Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG). Cartilha Educação Semente para um
mundo melhor. 2016.

CHARLOT, Bernard. Violência na escola: como os sociólogos franceses abordam essa questão.
Interface. Revista Sociologias, n. 8, Porto Alegre, jul./dez.2002.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da língua portuguesa. 5. Ed. Curitiba:


Positivo, 2010. 2222p.

NUNES, Ozório Antônio. Como restaurar a paz nas escolas-um guia para educadores. São Paulo:
Contexto,2011.

PARRAT-DAYAN, Silvia. Como enfrentar a indisciplina na escola. 2.ed. São Paulo: Contexto,
2015.

BRASIL. Lei n° 8069,de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 12 jul.2019.

SILVA, Luciano Campos. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO –


Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, Novembro de 2010. Horizonte, Novembro de 2010.

Você também pode gostar