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Introdução: Em meio ao processo Constituinte, nos anos 1980, a demanda por direitos
sociais irrompe enquanto crítica ao ‘status quo’ de base privatista, obedecendo a lógica
neoliberal. Ao instituir constitucionalmente os direitos sociais como dever do Estado e
direito dos cidadãos, o Estado expõe suas próprias contradições na relação capital-
trabalho enquanto proponente de políticas públicas. Pois o enfrentamento de demandas
geradas pela desigualdade social evidencia outras formas de violação de direitos. Nesse
cenário, a instituição do Sistema Único de Assistência Social, por meio da Política
Nacional de Assistência Social, previu a organização e oferta dos serviços
socioassistenciais. Na lógica organizativa dos serviços está a Proteção Social Básica que
instituiu os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). Nesses espaços
funcionam vários programas sociais que visam o fortalecimento de vínculos e
convivência, dentre estes estão os ProJovens Adolescentes, que pretendem contribuir
com a participação cidadã de adolescentes em seus territórios. Em parceria com a
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Prefeitura Municipal (Uberaba, MG)
a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) desenvolve a experiência de
extensão denominada “Adolescer no Território” que, com interface em pesquisa, está
em seu 5º ano e está presente em 8 CRAS. Sob a lógica de interação multiprofissional,
os discentes extensionistas realizam atividades com grupos de adolescentes que
integram os Coletivos do ProJovem. Objetivos. Fomentar a discussão e analisar como
os adolescentes de um Programa Federal de convivência e fortalecimento de
adolescentes apreendem os Direitos Fundamentais, contidos no ECA, de modo a
potencializar o empoderamento dos mesmos. Metodologia. O “Adolescer no Território”
tem como metodologia o estímulo à participação, mediada por ações lúdicas e
problematizadoras, destas: teatro, música, dinâmicas de grupo, fotos jornalísticas e
jogos. Participam das atividades nos 8 Coletivos, em média, 12 adolescentes por CRAS,
de ambos os sexos. Os debates mediados por Rodas de Conversa foram registrados em
Caderno de Campo dos discentes para discussão/avaliação das ações de extensão e
devolutiva para os adolescentes. A construção da pesquisa primou pela realização de
Grupo Focal, Redação Autobiográfica, Questionário sócio participativo e Photovoice.
Os registros oriundos de cada método foram transcritos e analisados na modalidade de
conteúdo temático por meio da construção de banco de dados quantitativo e qualitativo.
Resultados. As experiências de extensão e de pesquisa revelaram, sobremaneira, a
violência do tráfico de drogas e a insegurança produzida no território, que afetam
principalmente os adolescentes do sexo masculino; a redução ou a limitação do uso dos
espaços públicos de sociabilidade, pois as escolas ficam fechadas aos fins de semana e
as praças são tomadas por usuários de drogas; a violência policial, seja pelo assédio às
adolescentes, seja pela omissão aos chamados; o lixo em terrenos baldios, que
proliferam animais peçonhentos, servem de esconderijo de drogas e de locais de
possíveis estupros às meninas; as violências sexuais são praticadas por padrastos, tios,
vizinhos e estranhos e afetam em especial as meninas, essa forma de violência é
agravada quando os laços intrafamiliares fragilizaram-se. A violência física e a
psicológica reforçam a vulnerabilização dos/das adolescentes nos territórios dos CRAS.
Considerações Finais. A experiência e os resultados da pesquisa evidenciam o
paradoxo dos Direitos Fundamentais, previstos no ECA: de um lado se inscrevem como
alternativa instituída para adolescentes historicamente vulnerados; de outro, expõe suas
limitações estruturais no enfrentamento dos determinantes promotores da mesma
vulnerabilidade. Assim, o desafio das políticas públicas para adolescentes em situação
de vulnerabilidade reside na fragmentação das forças coletivas de resistência, um
sintoma da biopolítica, onde cada sujeito, institucional e/ou individual criam seus
próprios métodos de ‘enfrentamento’ a esse estado de coisas, reforçando o paradigma
do acesso privado aos serviços assistenciais, de saúde, de educação, sob a ótica
conservadora do mercado. Aliado aos estudos propostos no Grupo de Trabalho, os
esforços devem ser aglutinados para o acolhimento dos sujeitos alijados dos direitos
constitucionais e humanos enquanto potência na elaboração de estratégias
interdisciplinares e multiprofissionais, na qual a Psicologia pode compor com seu
arcabouço teórico para a avaliação crítica das políticas públicas em vigor no Brasil
destinadas aos/às adolescentes.