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GT 08.

Crítica Social, Direitos Humanos e Psicologia Social

ADOLESCER NO TERRITÓRIO: DA VULNERABILIDADE SOCIAL À


EFETIVIDADE DO ACESSO AOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS

Gabriela Alves Martins Guimarães Lyrio Todo (Autor)


Ailton de Souza Aragão(Coautor)
Rosimár Alves Querino(Coautor)
Maria Lopes dos Santos(Coautor)
Fernanda Sousa Bastos de Moraes (Co

Introdução: Em meio ao processo Constituinte, nos anos 1980, a demanda por direitos
sociais irrompe enquanto crítica ao ‘status quo’ de base privatista, obedecendo a lógica
neoliberal. Ao instituir constitucionalmente os direitos sociais como dever do Estado e
direito dos cidadãos, o Estado expõe suas próprias contradições na relação capital-
trabalho enquanto proponente de políticas públicas. Pois o enfrentamento de demandas
geradas pela desigualdade social evidencia outras formas de violação de direitos. Nesse
cenário, a instituição do Sistema Único de Assistência Social, por meio da Política
Nacional de Assistência Social, previu a organização e oferta dos serviços
socioassistenciais. Na lógica organizativa dos serviços está a Proteção Social Básica que
instituiu os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). Nesses espaços
funcionam vários programas sociais que visam o fortalecimento de vínculos e
convivência, dentre estes estão os ProJovens Adolescentes, que pretendem contribuir
com a participação cidadã de adolescentes em seus territórios. Em parceria com a
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Prefeitura Municipal (Uberaba, MG)
a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) desenvolve a experiência de
extensão denominada “Adolescer no Território” que, com interface em pesquisa, está
em seu 5º ano e está presente em 8 CRAS. Sob a lógica de interação multiprofissional,
os discentes extensionistas realizam atividades com grupos de adolescentes que
integram os Coletivos do ProJovem. Objetivos. Fomentar a discussão e analisar como
os adolescentes de um Programa Federal de convivência e fortalecimento de
adolescentes apreendem os Direitos Fundamentais, contidos no ECA, de modo a
potencializar o empoderamento dos mesmos. Metodologia. O “Adolescer no Território”
tem como metodologia o estímulo à participação, mediada por ações lúdicas e
problematizadoras, destas: teatro, música, dinâmicas de grupo, fotos jornalísticas e
jogos. Participam das atividades nos 8 Coletivos, em média, 12 adolescentes por CRAS,
de ambos os sexos. Os debates mediados por Rodas de Conversa foram registrados em
Caderno de Campo dos discentes para discussão/avaliação das ações de extensão e
devolutiva para os adolescentes. A construção da pesquisa primou pela realização de
Grupo Focal, Redação Autobiográfica, Questionário sócio participativo e Photovoice.
Os registros oriundos de cada método foram transcritos e analisados na modalidade de
conteúdo temático por meio da construção de banco de dados quantitativo e qualitativo.
Resultados. As experiências de extensão e de pesquisa revelaram, sobremaneira, a
violência do tráfico de drogas e a insegurança produzida no território, que afetam
principalmente os adolescentes do sexo masculino; a redução ou a limitação do uso dos
espaços públicos de sociabilidade, pois as escolas ficam fechadas aos fins de semana e
as praças são tomadas por usuários de drogas; a violência policial, seja pelo assédio às
adolescentes, seja pela omissão aos chamados; o lixo em terrenos baldios, que
proliferam animais peçonhentos, servem de esconderijo de drogas e de locais de
possíveis estupros às meninas; as violências sexuais são praticadas por padrastos, tios,
vizinhos e estranhos e afetam em especial as meninas, essa forma de violência é
agravada quando os laços intrafamiliares fragilizaram-se. A violência física e a
psicológica reforçam a vulnerabilização dos/das adolescentes nos territórios dos CRAS.
Considerações Finais. A experiência e os resultados da pesquisa evidenciam o
paradoxo dos Direitos Fundamentais, previstos no ECA: de um lado se inscrevem como
alternativa instituída para adolescentes historicamente vulnerados; de outro, expõe suas
limitações estruturais no enfrentamento dos determinantes promotores da mesma
vulnerabilidade. Assim, o desafio das políticas públicas para adolescentes em situação
de vulnerabilidade reside na fragmentação das forças coletivas de resistência, um
sintoma da biopolítica, onde cada sujeito, institucional e/ou individual criam seus
próprios métodos de ‘enfrentamento’ a esse estado de coisas, reforçando o paradigma
do acesso privado aos serviços assistenciais, de saúde, de educação, sob a ótica
conservadora do mercado. Aliado aos estudos propostos no Grupo de Trabalho, os
esforços devem ser aglutinados para o acolhimento dos sujeitos alijados dos direitos
constitucionais e humanos enquanto potência na elaboração de estratégias
interdisciplinares e multiprofissionais, na qual a Psicologia pode compor com seu
arcabouço teórico para a avaliação crítica das políticas públicas em vigor no Brasil
destinadas aos/às adolescentes.

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