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RESUMO

Violência sexual e escuta judicial


de crianças e adolescentes:
a proteção de direitos segundo especialistas
C U R S O A V A N Ç A D O

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Profa Shellen

Olá concurshellens

Neste resumo abordaremos a obra realizada pela


AASPTJ-SP e CRESS-SP sobre Violência sexual e
escuta judicial de crianças e adolescentes: a proteção
de direitos segundo especialistas.

Bons estudos e conte comigo!

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Violência Sexual e escuta judicial de crianças e adolescentes – a
produção de direitos segundo especialistas

Violência Sexual e escuta judicial de crianças e adolescentes – a produção de


direitos segundo especialistas. Organizadores: AASPTJ-SP e CRESS-SP. Leituras
da: Apresentação; Parte II, Artigo I (pág. 101 a 141).

SOBRE A AUTORA:

Aurea Satomi Fuziwara é Assistente Social, Mestra e Doutora em Serviço Social.


É servidora do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, na função de assistente
social. Possui experiência na área de Serviço Social e o trabalho com criança,
adolescência e família. Pesquisadora das linhas de Ética, Direitos Humanos,
movimentos sociais, arte engajada e sociabilidade de resistência.

APRESENTAÇÃO DO LIVRO:

Este trabalho, feito a convite do Conselho Regional de Serviço Social 9º Região-


SP (CRESS-SP), gestão 2011-2014, foi desenvolvido para elaboração de um
Parecer Técnico referente à publicação no Diário da Justiça Eletrônico (publicação
oficial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), ano IV, edição 963, de 30
de maio de 2011, que dá conhecimento do projeto apresentado com o Protocolo
CIJ n. 00066030/11 - Atendimento não revitimizante de crianças e adolescentes
vítimas de violência, especialmente sexual. Construção de Plano Interinstitucional
em âmbito estadual e implementação em caráter piloto do projeto em cinco varas
no Estado. Embasamento legal. Autorização pela Coordenadoria da Infância e da
Juventude.
Nessa publicação do Diário de Justiça, é exposto o “Projeto de Aprimoramento do
atendimento interinstitucional de crianças e adolescentes vítimas de violência,
especialmente sexual, e a implementação de métodos especiais de sua escuta no
Estado de São Paulo”.
Neste Parecer, iremos nos referir ao projeto como “Projeto CI)-TJ-SP”. Este
projeto propõe-se desenvolver a “metodologia”, em quatro Comarcas, ademais,
abarca a discussão da averiguação da criança vítima de abuso sexual para a coleta
de provas, o que explana as ponderações necessárias sobre as atribuições privativas
e encargo dos assistentes sociais, com o direcionamento social da profissão e,
principalmente, enfocando na área de direitos humanos da criança e do
adolescente. Vindicando a discussão sobre o projeto ético-político profissional,
respectivos fundamentos e as dimensões teórico-metodológicas, técnico-
operativas e ético-políticas.
O panorama sócio-ocupacional da análise está inserido no Poder Judiciário, que
apesar de vim sofrendo atualizações, frente a exigência social sobre as suas

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estruturas, ainda abarca o peso de ser um dos poderes mais herméticos em relação
à participação popular.
“Contudo, nosso esforço intelectivo foi de buscar a trajetória sócio-histórica dos
direitos humanos, da atenção à criança e ao adolescente no contexto das lutas por
direitos a serem efetivados pelo Estado e do projeto ético-político do Serviço
Social.” (Pág. 102)
Nessa perspectiva, torna-se ostensivo a compreensão da criança e do adolescente
como sujeitos de direitos, sendo a efetivação destes responsabilidade da família,
da sociedade e do Estado.
“(...) desenvolvimento deste Parecer Técnico parte do assistente social enquanto
profissional inserido nas contradições sócio-históricas, ademais, ativo nas lutas por
direitos, igualdade, opositor de retrocessos. Sendo instigado pela necessidade de
uma leitura técnica sobre o Projeto CIJ-TJ-SP, mas que não se restringiu a ele. Para
tanto, o conteúdo está organizado a partir da fundamentação da construção
histórica dos direitos humanos, do debate sobre a violência e políticas públicas, e
do Serviço Social frente à conjuntura e a construção das respostas às demandas
sociais.” (Pág. 102-103)

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RESUMO / RESENHA:

Na perspectiva dos direitos da criança e do adolescente e na análise da função


assistente social, torna-se mister a análise do processo de construção histórico dos
direitos humanos, atravessado pelas revoluções burguesas, enfim possibilitando a
elaboração dos direitos civis, políticos (ideário liberal).
Historicamente, na formulação de regras de um “novo modelo de relação social”,
os burgueses necessitavam da implementação dos direitos políticos, visto que,
precisavam tirar do clero e da nobreza os poderes/comando, para criar uma nova
classe política, juntamente com a defesa da laicidade. A oportunidade de idealizar
uma igualdade social exigiu que a classe trabalhadora lutasse para que esses
direitos fossem acessíveis à todos.
“Conforme esclarece Sales (2006, p. 208), o Brasil convive com sua história de
nação que se modernizou pela via conservadora, mas que nas últimas décadas se
faz com muita luta social, embora o discurso dominante afirme que há total
passividade dos trabalhadores.” (Pág. 104)
Diante desse panorama histórico, analisaremos o reconhecimento da urgência pela
visibilidade dos direitos relacionado à crianças e adolescentes, conforme discorre
Sales avaliando também na perspectiva da participação popular: (...), compreender
a situação da infância e adolescência como uma expressão da questão social, logo
em conexão com os demais desafios sociais do país, e o papel do conjunto de
atores sociais vinculados à luta pela garantia dos seus direitos, assegurando-lhe
a centralidade e visibilidade devidas. Pois como diria Mendes, “o que está em
jogo, em última instância, é o tema da democracia e da cidadania (...) Ninguém
que fale da infância, do ponto de vista do paradigma da proteção integral, deixa
de falar em democracia. Mas são poucos aqueles que, falando de democracia,
falam de infância” (2006, p. 210 e 211).
Como princípio motriz majoritário das relações, o poder não coincidentemente
também manifesta suas contradições no estabelecimento da relação da criança com
a sociedade, a igreja e o Estado. Ao analisar as retratações sobre a infância, na
própria literatura, demonstra-se como a mesma foi oprimida, agredida e
desconsiderada na história da humanidade.
Diante disso, justifica-se a impulsão em aprovar o texto do artigo 227 da
Constituição Federal, cuja regulamentação, aglutinada a outros artigos da Carta
Magna, estabeleceu o Estatuto da Criança e do Adolescente. O que demonstrou
um simbólico avanço à pauta, mas que, infelizmente, não anula tamanha
negligência e violência com as crianças, até mesmo nos ambientes que tem a
obrigação legal de garantir seus direitos.
“Vale observar que em 2001 foi realizada a Caravana de Direitos Humanos, em
que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, juntamente com
organizações da sociedade civil, levantou dados sobre as péssimas condições em
que viviam meninos e meninas em instituições, seja em função de acolhimento
(abrigamentos), ou de cumprimento de medida privativa de liberdade (ainda hoje
há notícias de adolescentes que são detidas em celas comuns). No caso das
instituições de acolhimento, uma das medidas adotadas acertadamente foi a

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elaboração do Plano Nacional de Defesa do Direito à Convivência Familiar e
Comunitária, que colocou esta pauta para o debate social - embora ainda sem
grandes efeitos reais. Como vários planos de âmbito nacional, ele provoca as
discussões e tem potencial fomentador e indutor de práticas sociais.” (Pág. 105)
“O Brasil também vem investigando a exploração e a violência sexual contra
crianças e adolescentes, levantando as rotas de tráfico (como demonstrou o
relatório Pestraf), as situações que impõem maior risco e as demandas por direitos.
O Brasil elaborou o relatório sobre a Exploração Sexual de Meninos e Meninas na
América Latina e no Caribe em dezembro de 1998, coordenado pelo Centro de
Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria) em parceria
com o Instituto del Nino, órgão da OEA*. Durante o Encontro Nacional (Natal,
Rio Grande do Norte, em junho de 2000), foi elaborado o Plano Nacional de
Enfrentamento da Violência Sexual Infantojuvenil (aprovado pelo Conanda -
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) em julho de 2000,
comemorando-se dez anos do ECA).” (Pág. 105)
Nesse panorama, percebe-se que há uma movimentação social que inclina-se à
resolução dessas demandas, que investiga o conhecimento teórico-metodológico,
a incidência política, que reivindica por serviços públicos, campanhas de
prevenção e a participação popular. Admitir e validar a historicidade vivenciada
pelos sujeitos é uma maneira eficaz de transgredirmos o autoritarismo e a visão
conservadora que assola tal realidade.
Observando os casos, em relação aos direitos à cidadania e protagonismo da
criança, há uma responsabilização da própria criança. Problematiza-se que essa
responsabilização, à criança ou ao adolescente violado sexualmente, sobre o
“direito” de escolher, na circunstância em que há uma instância de proteção
objetiva e subjetiva, acaba por se tornar uma outra violação. Ademais, aponta a
autora que “quando autoridades e profissionais colocam para os responsáveis
decidirem sobre um ato (da criança a ser inquirida), há uma desresponsabilização
daqueles a quem cabe um conjunto de ações, inclusive preservar todos os que
foram afetados pela situação de violência. O protagonismo da criança ou da família
não é assumir tarefas que não lhes cabem.” (Pág. 107)
Na violência sexual contra a criança ou o adolescente há agravos na perspectiva da
violência intrafamiliar, pois não é de grande utilidade a distorção de imagens e
vozes desses “depoentes”, por serem pessoas muito próximas. Majoritariamente,
diz respeito a adultos que reproduzem a violência já sofrida. E, diante do alto nível
de complexidade, muito se reflete no cotidiano de todos ao redor.
“O reordenamento institucional para que o ECA (aprovado em 1990) seja
viabilizado deveria ter ocorrido, como dizem suas disposições transitórias, em até
180 dias de sua promulgação. Pode-se afirmar, assim, que essa transição ainda
não ocorreu. Ela exige, ainda, que a alteridade seja uma das balizas para a
mudança cultural, reconhecendo-se as trajetórias e suas determinações
sociopolíticas.” (Pág. 107)
“O ECA colocou novos atores para a defesa dos direitos humanos da criança e do
adolescente. Edson Seda, numa formulação sintética, esclarece-nos o sentido
ético-político da elaboração do ECA: resultado de uma articulação que raras
vezes na história brasileira tivemos presente, envolvendo o mundo jurídico, as

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políticas públicas e os movimentos sociais. Ousamos dizer que não é possível o
ECA ser efetivado sem essa permanente articulação. Portanto, absolutamente
legítimo o movimento de direitos humanos e de categorias profissionais
problematizar e reivindicar ter suas posições consideradas na construção de
estratégias para a efetivação do Estatuto.” (Pág. 107)
Entretanto, nesse processo há a necessidade de um rompimento do poder
centralizado e a hierarquização do poder, para que, dessa forma, possa expandir
as atribuições das profissões e seus saberes específicos.
Destarte a pontuação do Dr. Wanderlino Nogueira Neto, sobre o direito de
participação, nos termos da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CDC)
“No aliançamento de movimentos conjunturais com os movimentos sociais,
estão os esforços de vários e determinados movimentos conjunturais
históricos pela inclusão dos arts. 227 e 228 na Constituição Federal de
1988, pela ratificação da Convenção sobre os Direitos da Criança e pela
aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, ambos em 1990. E se
espera, no momento atual, que igual processo se repita, com um renovado
movimento conjuntural, legitimo e aliançado com os movimentos sociais,
pela formulação e planejamento de uma política específica que dê conta da
efetividade social e eficácia jurídica do novo Direito, ou seja, a Política
Nacional de Garantia, Promoção e Proteção dos Direitos Humanos de
Crianças e Adolescentes.”
Ademais, Wanderlino descreve sobre a CDC é:
coração da nova normativa internacional sobre direitos da criança
(CDC): tal política citada finalmente deverá desenvolver ações em favor
do direito à participação proativa de crianças e adolescentes, isto é, do seu
direito de ser ouvido e de ter sua opinião considerada, na medida do seu
grau de maturidade. (2011, p. 5. Grifos do autor.)
Adentra-se um ponto de extrema importância à discussão da atenção à criança ou
ao adolescente vitimizado, que é o lugar da escuta e acolhimento dos
profissionais no âmbito do Judiciário. “O Judiciário tem discursado na defesa
de medidas e penas alternativas e pode encontrar na agenda de demandas por
direitos da população infantojuvenil um lócus privilegiado para a construção de
uma relação mais democrática e com maior impacto na vida real da população.
Para ser mais eficiente, não pode o Judiciário ter uma relação hierarquizada com o
Executivo na viabilização dos direitos.” (Pág. 108)
A pauta sobre violência, historicamente, já vem sido discutida, tecnicamente e
cientificamente, como uma demanda da saúde pública (exigindo ao
comprometimento por parte do sistema de justiça)
Em relação à violência contra a crianças e adolescentes, a prioridade exercida é a
de proteção e amparo dessa vítima. Entretanto, ao sistema de justiça, cabe a
melhoria no manejo adequado para todas as formas de violência apresentadas.
Diante disso, “Wanderlino Nogueira Neto problematiza que temos adotado ainda
a lógica da United States Agency for International Development (Usaid) no
controle da sexualidade e não na perspectiva do direito a essa dimensão humana.
Tão pacificado é o assunto que a Portaria do Ministério da Saúde n. 1968/2001

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dispõe sobre a obrigatoriedade das notificações dos casos de violência ou de maus-
tratos contra a criança e o adolescente, reforçando o texto do ECA.” (Pág. 109)
Texto da portaria sobre a notificação:
“Uma informação emitida pelo setor de saúde ou qualquer
outro órgão ou pessoa, para o Conselho Tutelar, com a
finalidade de promover cuidados sociossanitários voltados
para a proteção da criança e do adolescente, vítimas de
maus-tratos. O ato de notificar inicia um processo que visa
interromper as atitudes e comportamentos violentos no
âmbito da família e por parte do agressor.”
Na investigação por opções, há um crescente destaque na perspectiva moral -tendo
como instrumento a lógica punitiva, e não do direito - que deveria ter como
instrumento as políticas de proteção e atendimento, conforme pontua a autora.
Majoritariamente, os registros de violência contra a crianças e adolescentes
ocorrem no seio familiar e comunitário. “Se de fato nos impacta que a violência
seja cometida pelas pessoas mais próximas e por aquelas que teriam o papel
primeiro de proteção, urge problematizar que a família é a representação desta
sociedade: autoritária, machista, patrimonialista e adultocêntrica. Enfrentar a
violência contra a criança sem pensar tais pilares da sociedade contemporânea nos
leva apenas a saídas pontuais.” (Pág. 110)
“Queremos com isso problematizar a necessidade de debater a convivência
familiar e comunitária, ou seja, aprofundar a importância da sociabilidade na
construção de novos sujeitos. É plausível afirmar que, quando o legislador incluiu
o termo “comunitário” no ECA, estaria pensando em viabilização de direitos numa
relação participativa e não judicializadora.” (Pág. 110) “De fato, o serviço de saúde
atua no momento crucial do cuidado; contudo, o que é real para esse atendimento
não parece ser ao menos ouvido pelo Judiciário, que estabelece seus crivos
exclusivos.” (Pág. 111)
Nessa perspectiva, um grande alinhamento à luta contra esse tipo de violência é a
afirmação da Política de Assistência Social, que teve sua Lei Orgânica aprovada
em 1993 e no dia 5 de julho de 2011 instituiu (legalmente) o Sistema Único da
Assistência Social (Suas), onde são ofertados os serviços para atendimento à
situação de violência, com os objetivos específicos dessa política. Ademais, assim
como o Suas, o Sistema Único de Saúde (SUS) são aparatos essenciais no
combate da violência contra a criança e o adolescente (intra ou extrafamiliar,
sexual, psicológica ou física). Nesse panorama, pontua a autora que não há
carência de elementos teórico-metodológicos, mas a urgência de afirmação da
direção social que concretize a condição de sujeito de direitos deste segmento e
promova uma justiça que se volte mais à liberdade e menos a punição.
Ademais, um debate constante no âmbito do judiciário, é sobre a revitimização,
devido a observação de sua recorrência nas audiências judiciais. Pesquisas
demonstram que a criança é sujeitada a procedimentos, sendo revitimizada, e no
momento da inquirição pelo juiz, novamente estaria exposta a essa circunstância.
A Partir disso, há riscos de o réu sofrer consequências em relação aos seus direitos
(ex: uma condenação sendo inocente), em razão à má condução deste método.

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“Ao pensarmos na atuação dos técnicos, é de conhecimento público que o laudo
do assistente social tem sido validado ao ser utilizado como um dos elementos na
fundamentação da decisão do juiz para institucionalizar crianças e
adolescentes(...). Disso decorre o estranhamento de o laudo ser acatado como
documento para evitar-se a inquirição quando se trata de vitimização de violência,
em particular sexual.” (Pág. 112)
“Portanto, combater a revitimização é buscar mecanismos efetivos para a
superação dessa situação, provocando o poder público, a família e a comunidade
para que a vítima seja reconhecida como sujeito. O que tem sido patente é que as
políticas sociais estão precarizadas, em geral perpetuando relações tuteladoras,
assistencialistas, compondo um quadro permanente de violência social e política.”
(Pág. 112)
Enquanto profissional, é interessante (e necessária) a percepção que o agressor
também é um sujeito de direitos e deverá receber o atendimento devido. Apesar do
vasto conhecimento construído, a sociedade brasileira, pela falta ou "ineficiência"
dos serviços, busca apenas a punição.
Diante o exposto, torna-se necessário o investimento na elaboração de políticas
sociais que contemplem o recorte social, histórico e cultural no quão essas políticas
são destinadas, para resultados eficazes. “Nenhum país sério deve apostar no
caminho fácil de importar metodologias, com a tentativa de dar respostas à
população. Para efetivamente enfrentar conflitos sociais, faz-se necessário o
investimento político e financeiro que tais questões exigirem.” (Pág.114)
Na compreensão sobre a concepção do serviço social em seus aspectos
conjunturais, “lamamoto elaborou a conceituação que tem sido adotada pela
categoria, definindo que o Serviço Social é uma especialização do trabalho
coletivo no quadro do desenvolvimento capitalista industrial e da expansão urbana.
Na sua obra de 1982, identifica que em 1935 foi criado o Departamento de
Assistência Social do Estado de São Paulo, sendo que o denominado Comissariado
de Menores, vinculado ao Juízo de Menores, era até então o único responsável
pelas diretrizes do atendimento aos “menores”.” (114-115)
Já na perspectiva do Poder Judiciário: “Após muitos tensionamentos decorrentes
da disputa pelo controle das ações junto a esta população, foi publicado em 1938
o Decreto que 'reorganizou o Serviço Social de Menores, [e] determinou que os
cargos de subdiretor de vigilância de comissários de menores e de monitores de
educação passariam a ser privativos de assistentes sociais” (IAMAMOTO E
CARVALHO, 1982, p. 195, apud FUZIWARA, 2006, p. 12). Entretanto, afirma
Colman: “Havia o interesse do Estado em atenuar o caráter eminentemente
policial, dando-lhe uma conotação técnico-profissional e protetiva. Porém, o Juízo
de Menores da Capital não partilhava desta opinião, dando preferência à
constituição de um corpo de comissários de sua confiança e sob sua subordinação”
(COLMAN, p. 199, apud FUZIWARA, 2006, p. 13).
Com base em Colman, Fávero e Fuziwara: “(...)o Serviço Social inserido no
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo expressa tensões, desafios, conquistas
e retrocessos frente ao aumento de conflitos sociais gerados por ausência de
efetivação de direitos. À literatura tem demonstrado que o Judiciário e a assistência
social caminham mantendo vínculos, muitas vezes trazendo confusão de papéis

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institucionais do Judiciário e do Executivo.” (Pág. 116) Destarte, ocorreu uma
longa trajetória desde a introdução dos primeiros assistentes sociais graduados
junto ao TJ-SP, passando no período ditatorial pela política da Fundação Nacional
do Bem-estar do Menor (Funabem), pelo processo constituinte, pelas mobilizações
sociais contra a carestia, a situação de crianças nas rua, etc.
Nos tempos hodiernos, há um conjunto de instrumentos e planos aglutinado à
filosofia do ECA, que buscam uma concepção democratizante de uma outra
relação com a criança e a família, não mais tutelados e oprimidos pelos órgãos
oficiais.
O processo de trabalho do assistente social no Judiciário, parte da ocupação
enquanto servidor público, concursado, consequentemente abarcado pelas normas
institucionais (trabalhistas e administrativas). Em relação a ética e exercício
profissional apresenta-se ao controle e fiscalização CFESS, pelo Conselho
Regional de Serviço Social de sua região.
O assistente social, vem sendo reconhecido pelos juízes e promotores como um
profissional que contribui para a efetivação do papel da justiça. Tendo suas
produções usufruídas em Varas da Infância, Família, Cíveis e Criminais.
Partindo à análise para o âmbito dos reflexos da globalização e da reestruturação
produtiva (flexibilização, retirada de direitos, redução do espaço público e o
domínio do mercado e do privado, dinâmica que provoca a confusão entre cargo
ou função com profissão), Iamamoto pontua:

É necessário desmistificar a ideia de que a equipe, ao desenvolver


ações coordenadas, cria uma identidade entre seus participantes
que leva à diluição de suas particularidades profissionais. São as
diferenças de especializações que permitem atribuir unidade à
equipe, enriquecendo-a e, ao mesmo tempo, preservando aquelas
diferenças. Em outros termos, a equipe condensa uma unidade de
diversidades. [...] Portanto, o trabalho coletivo não impõe a diluição
de competências e atribuições profissionais. Pelo contrário, exige
maior clareza no trato das mesmas e o cultivo da identidade
profissional, como condição de potenciar o trabalho conjunto.

Importa afirmar enfaticamente que tratar as particularidades de


uma profissão na divisão social e técnica do trabalho não significa
uma regressão aos velhos dilemas presentes na busca de uma
suposta especificidade profissional aprisionada nos muros internos
da profissão [...] Entretanto é mister reconhecer que velhas
propostas profissionais ressurgem hoje com novas faces e
roupagens (IAMAMOTO, 2002, p. 41 e 42).

Com a Resolução CFESS n. 557/2009, foi regulamentada a “emissão de pareceres,


laudos, opiniões técnicas conjuntos entre o assistente social e outros profissionais”.
Entretanto há que se ponderar que, tal laudo conjunto, sem clareza na distinção das
respectivas áreas profissionais presentes na elaboração do documento, gera maior
dificuldade para o processo em questão. Faz se mister frisar que a
interdisciplinaridade não é a diluição de saberes (lamamoto) nem mesmo o

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estabelecimento de consensos. “É o conjunto de saberes que permitirá a efetivação
do ECA, em que as equipes efetivamente assessorem o juiz de direito. É fato que
há um conjunto de provas nos autos que fundamentaram a decisão judicial. Elas
não serão, jamais, uniformes e coerentes. Daí a função de tamanha relevância
social do juiz de direito na sociedade democrática.” (Pág. 123)
Ademais, inclinando-se agora à reflexão do assistente social brasileiro na
contemporaneidade e seu projeto ético-político profissional, há tamanho
desafio na viabilização ao acesso de direitos, principalmente pela drástica redução
dos serviços públicos para tantas demandas. Nesse panorama, infelizmente
vislumbra-se o regresso na pauta sobre o Serviço Social ser enxergado por uma
ótica de “acolhimento”, “orientação”, justamente pela carência nos serviços que
promovem acessibilidade dos direitos sociais necessários (emprego, moradia,
saúde, assistência social, previdência social, educação etc.).
No Judiciário, além de auxiliar o magistrado, o profissional é responsável pela
intervenção social dos usuários. “Seu papel de mediar o acesso aos direitos por
meio dos serviços públicos desencadeia um processo complexo de resgate das
trajetórias, validação de história e cultura, desenvolvimento dos vínculos ou de
rupturas, construindo com os sujeitos o lugar social possível, com suas múltiplas
determinantes.” (Pág. 126)
No presente projeto e parecer (CIJ-TJ-SP), publicados em 31 de maio de 2011,
explicita-se o objetivo de “reordenamento interinstitucional do atendimento de
crianças e adolescentes vítimas de violência”. Para a realização deste projeto, um
dos serviços essenciais são os CREAS. Entretanto, a Conselheira do Conselho
Estadual de Assistência Social (Conseas) afirma que não houve reuniões com o
órgão, responsável por deliberar essa política. Ademais, o Fórum Estadual dos
Direitos da Criança e do Adolescente (FEDDCA-SP) confirma que tal discussão
não foi realizada pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança é do Adolescente
(Condeca).
No parecer, conclui-se a compreensão de que há “três portas de entrada primárias
de violência sexual: assistência social, pelo Programa de Atenção Especializada
em Famílias e Indivíduos - PAEFI/CREAS; as delegacias de polícia e os serviços
de saúde”. Diz ainda: “os demais serviços poderiam ser eventualmente espaços de
revelação dos fatos, mas sem responsabilidade pelo atendimento”,
“Com essa concepção, informa o Parecer que está em fase de “elaboração um
documento único de caracterização da violência, cujo preenchimento será de
atribuição do órgão que primeiramente receber a criança/adolescente. Entendeu-se
que, salvo nos casos de flagrante ou de revelação dos fatos em atendimento na
saúde, a instituição primordialmente responsável pelo atendimento é o
PAEFI/CREAS. Uma vez caracterizada a violência, o documento será
compartilhado entre as demais instituições, de modo que a criança não necessitará
mais expor os fatos. Porém, o Projeto não considerou a organização em âmbito
nacional dessa politica, nem as competências da Comissão Intergestores Tripartite
- CIT/ Suas” na elaboração de instrumentos operativos e de gestão.” (Pág. 130)
De acordo com o projeto, à priori será executado o “atendimento inicial”,
planejando os serviços adequados, retratando o “instrumental único de escuta”. Em
seguida, após a comprovação da suspeita de abuso, será encaminhado o relatório

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do CREAS ao Ministério Público, que poderá julgar ação cautelar de produção
antecipada de provas. Nessa circunstância, 15 dias é o ideal para que o juiz
determine a audiência, atribuindo à equipe técnica e os profissionais do CREAS à
orientação da vítima sobre os procedimentos judiciais. A equipe técnica elaborará
um relatório sobre os esclarecimentos e registrará o termo de concordância, pela
criança, em participar da escuta e avaliação especial. Toda informação acontecerá
no espaço do programa de atendimento. Poderá a equipe e/ou defensor emitir
parecer fundamentado recomendando a não participação da criança.
Infelizmente, ainda há a ignorância/desvalorização da contribuição política e
científica da área de conhecimento do serviço social. “O desconforto diante da
posição coletiva dos assistentes sociais parece impedir a percepção de que essa
profissão está fazendo um debate muito mais amplo: a dos direitos humanos, de
combate à lógica punitiva e da busca de construção de uma sociedade mais
humanizada. A afirmativa de que o projeto geraria a “conscientização” dos
profissionais indica a necessidade de reconhecer o trabalho desenvolvido antenado
às mudanças da sociedade.” (Pág. 131-132)
Contudo, “Conforme ilustrado neste Parecer, o assistente social vem construindo
sua identidade profissional legitimado pela sociedade. O avanço das ciências
humanas é também uma expressão da complexidade da sociedade capitalista e das
novas relações engendradas. Sendo a história movida pelas contradições e pelas
diferenças em concepções, valores e posicionamentos da sociedade, ela nos
provoca a refletir sobre os caminhos e as escolhas possíveis diante da realidade.
Ao falar de escolhas, estamos falando da postura ética.” (Pág. 133)
Ao lidar com os desafios cotidianos, o assistente social necessita observar
ativamente, em sua atuação profissional, os princípios éticos fundamentais do seu
Código de Ética. Pois, elegendo a liberdade como valor central e agindo nas plurais
expressões da questão social, o Serviço Social carece de uma sensibilidade e
atenção constante às suas demandas. Faz-se mister, “Criar alternativas que
rompam com a lógica punitiva é um caminho árduo, pois a falácia da punição vem
estruturando a sociedade desde seu início. Cabe aos homens, coletivamente, mudar
a história que vêm construindo. É sempre importante nos apoiarmos no Código de
Ética Profissional, elaborado coletiva e democraticamente pela categoria, contendo
princípios, valores, ações e estratégias explicitados nos seus Princípios
Fundamentais(...)” (Pág. 134)
Diante disso, a autora disserta que na base da orientação do trabalho do assistente
social está:
• Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais;
• Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
• Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de
toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos
das classes trabalhadoras;
• Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da
participação política e da riqueza socialmente produzida;

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• Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure
universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e
políticas sociais, bem como sua gestão democrática;
• Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados
e à discussão das diferenças;
• Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais
democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o
constante aprimoramento intelectual;
• Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de
uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e
gênero; e Articulação com os movimentos de outras categorias
profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral
dos trabalhadores;
• Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
• Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.
É importante destacar que o Serviço Social se nega à opressão da hierarquia, tendo
consumado, no estatuto de profissão, a consolidação de um conhecimento
específico embasado nas diferentes ciências. Mesmo que contraditoriamente,
dessa forma torna-se possível a construção de uma profissão aberta às mudanças,
mas firme em seus princípios.
No âmbito da criança e sua família, resgata-se a trajetória dos sujeitos,
investigando em comunhão a eles a compreensão da sua história, apertos e
conquistas que dão características particulares a cada situação de atendimento em
seu espaço de trabalho.
“Portanto, ter clareza dos princípios fundamentais da ética profissional é
imperativo para não se perder a direção e o sentido do atual projeto do Serviço
Social brasileiro.” (Pág. 136)
“A escuta profissional do assistente social se coloca no campo de defesa de
direitos, que somente se viabilizam com a objetivação dos serviços públicos. (...)
concluímos nossas reflexões não na certeza estéril, mas no posicionamento de que
o conjunto das áreas de conhecimento pode contribuir para a democratização dos
poderes do Estado Democrático de Direito.” (Pág. 136)
Apesar de extenso, a aglutinação de ponderações presentes neste Parecer deve ser
analisadas para fins políticos sobre direitos humanos da criança e do adolescente.
Todavia, a autora menciona algumas destas, consideradas de suma importância:
• Como princípio geral, devemos adotar o superior interesse da criança,
priorizando a proteção e o cuidado da vitima, em detrimento do processo
penal/criminal. A inquirição da criança não deve ser regra, mas exceção,
exercendo-se ao máximo as outrasvatividades investigativas para
identificar o agressor e responsabilizá-lo pelo crime, quando for
imputável;

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• O ECA deve ser efetivado privilegiando-se as políticas para garantia dos
direitos fundamentais da criança, do adolescente, sua família e
comunidade. Ações preventivas envolvem também a informação,
campanhas, capacitações profissionais, programas de desenvolvimento do
protagonismo infantojuventil, sempre pensando na construção de sujeitos
com uma nova postura com a criança;
• Efetivação das políticas públicas estatais, permanentes, com orçamento
adequado para garantia desses direitos; a garantia de direitos pressupõe
inclusive desenvolvimento da capacidade investigativa para não condenar
antes de julgar, e criação de serviços para os agressores;
• Aperfeiçoamento do controle social por meio das Conferências e Conselhos
de Direitos e de Políticas Setoriais; e Práticas educativas que priorizem a
lógica da convivência, da construção dialógica, de valorização da
alteridade, em detrimento da perspectiva meritocrática e punitiva;
• Criação dos equipamentos do sistema de justiça, com recursos humanos e
materiais adequados;
• Priorizar a efetivação dos artigos 150 e 151 do ECA e da Recomendação
CNJ n. 2/2006;
• Valorizar a participação social no enfrentamento da violência contra
crianças e adolescentes: os índices de notificação não significam
necessariamente o aumento da ocorrência. Ainda assim, os números podem
ser maiores, mas há que se considerar que a população tem denunciado as
ocorrências. Um agravamento penal em detrimento de ações de real
enfrentamento (de proteção e atendimento à vítima, criando programas
para condenados, de capacitação profissional etc.) poderá gerar vários
problemas: redução das denúncias, medo de envolvimento com o SGD,
impacto no desenvolvimento da sexualidade sadia de crianças e adultos
etc.;
• Capacitação permanente de todos os atores do SGD; « Combate à
judicialização da política: os Conselhos Profissionais foram adequados e
aperfeiçoados com a sociedade democrática, devendo se manter nesta
direção, com debates públicos de suas pautas, mas com respeito ao
conhecimento acumulado;
• Reconhecimento da cultura brasileira na construção de respostas
coerentes com os princípios democráticos e um povo miscigenado, afetivo,
multicultural etc.;
• Realizar amplos debates, conduzidos pela Secretaria Especial de Direitos
Humanos, mas ouvindo-se os segmentos profissionais, os grupos de
familiares, os movimentos sociais etc. [...]
• Debater amplamente as mudanças no Código de Processo Penal e
propostas legislativas com vistas a garantir a perspectiva democrática e a
busca de um projeto de país voltado à defesa de direitos, efetivando-os
afirmativamente.

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