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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SERGIPE

CAMPUS SÃO CRISTÓVÃO


GERÊNCIA DE ENSINO
COORDENAÇÃO DO CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS

CAIO VINÍCIUS PRADO SOARES


JONAS BRAZ SANTOS
MAYARA DA SILVA RODRIGUES DE LIMA
SUSAN JULLYAN DE CARVALHO NASCIMENTO

VIOLÊNCIAS, CONSENTIMENTO E ABUSOS: A EDUCAÇÃO SEXUAL COMO


MEIO DE PREVENÇÃO

SÃO CRISTÓVÃO/SE
2024
CAIO VINÍCIUS PRADO SOARES
JONAS BRAZ SANTOS
MAYARA DA SILVA RODRIGUES DE LIMA
SUSAN JULLYAN DE CARVALHO NASCIMENTO

VIOLÊNCIAS, CONSENTIMENTO E ABUSOS: A EDUCAÇÃO SEXUAL COMO


MEIO DE PREVENÇÃO

Artigo apresentado como requisito parcial à


nota da disciplina Redação Científica, do Curso
Superior de Licenciatura em Ciências
Biológicas, do Instituto Federal de Sergipe –
Campus São Cristóvão.

Professora:. Dra. Jocelaine Oliveira dos


Santos

SÃO CRISTÓVÃO/SE
2024
VIOLÊNCIAS, CONSENTIMENTO E ABUSOS: A EDUCAÇÃO SEXUAL COMO
MEIO DE PREVENÇÃO

SOARES, Caio Vinícius Prado1, SANTOS, Jonas Braz2; LIMA, Mayara da Silva
Rodrigues3, NASCIMENTO, Susan Jullyan de Carvalho4

RESUMO
Este artigo aborda os conceitos fundamentais relacionados aos abusos sexuais,
gênero e consentimento, destacando a relevância da Educação Sexual na
sociedade, núcleo familiar e instituições educacionais. Após serem apresentados os
conceitos e definições associados aos abusos sexuais, gênero e consentimento,
inicia-se a discussão a respeito do papel crucial da Educação Sexual na sociedade.
A análise tangencia a legislação vigente sobre abusos sexuais e relaciona o papel
do Estatuto da Criança e do Adolescente à discussão. Adicionalmente, realiza-se
uma análise sobre as dinâmicas sociais que revelam as relações sociais de poder e
gênero que permeiam a sociedade e interferem na educação e formação dos jovens.
Ao concluir, são apresentadas as considerações finais obtidas a partir da pesquisa
realizada, acompanhadas das referências bibliográficas que embasaram este
estudo.

Palavras-chave: Abuso sexual. Consentimento. Educação sexual. Violência sexual.

ABSTRACT
This article addresses the fundamental concepts related to sexual abuse, gender and
consent, highlighting the relevance of Sexual Education in society, the family nucleus
and educational institutions. After presenting the concepts and definitions associated
with sexual abuse, gender and consent, the discussion begins regarding the crucial
role of Sexual Education in society. The analysis is in line with current legislation on
sexual abuse and relates the role of the Estatuto da Criança e do Adolescente (Child
and Adolescent Statute) to the discussion. Additionally, an analysis is carried out on
the social dynamics that reveal the social relations of power and gender that
permeate society and interfere in the education and formation of young people. In
conclusion, the final considerations obtained from the research carried out are
presented, accompanied by the bibliographic references that supported this study.

Keywords: Sexual abuse. Consent. Sexual education. Sexual violence.

1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe – Campus São Cristóvão. E-mail:
caio_vinas@outlook.com
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe – Campus São Cristóvão. E-mail:
Eu.jonasbraz@gmail.com
3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe – Campus São Cristóvão. E-mail:
mayaralimars4@gmail.com
4
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe – Campus São Cristóvão. E-mail:
susan.carvalhinho@gmail.com
INTRODUÇÃO
O presente trabalho se propõe a promover a compreensão da educação sexual
como meio de identificação e prevenção de abusos e da violência sexual. De acordo
com a planilha “ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES –
ABORDAGEM DE CASOS CONCRETOS EM UMA PERSPECTIVA
MULTIDISCIPLINAR E INTERINSTITUCIONAL” disponibilizada pelo Governo
Federal no ano de 2021, o abuso sexual é uma forma de violência que ocorre dentro
do ambiente doméstico ou fora dele, cometido por intrafamiliar (ligação de pessoas
que possuam laços de consanguinidade, afinidade ou legalidade), ou por
extrafamiliar (pessoa conhecida ou desconhecida da vítima). Geralmente este tipo
busca de alguma maneira manter vantagens emocionais em relação a vítima.

Durante décadas, o abuso esteve presente de diversas formas (física, emocional


e/ou sexual). Segundo a cartilha “Violência Sexual contra crianças e adolescentes”
disponibilizada pela Polícia Civil de São Paulo, o abuso, seja ele físico, emocional ou
sexual, as vezes se inicia na família de maneira sutil ou descarada, o que sequer é
compreendido pela vítima como abuso, pois ainda existem pessoas que não sabem
definir e caracterizar o abuso sexual. Sendo assim, o presente trabalho tem por
objetivo esclarecer o conceito básico de abuso sexual, sejam eles velados ou
expostos e auxiliar na identificação, inclusive de gênero e consentimento.

Ainda de acordo com a cartilha “Violência sexual contra crianças e adolescentes”, no


Brasil há também muitos casos denunciados e subnotificados, pois violência sexual
ainda é considerada um assunto digno de censura perante a sociedade. Desse
modo, pretende-se refletir sobre a efetividade das leis atuais de proteção a respeito
das violências sexuais, compreender seu funcionamento de acordo com a
Legislação Penal em vigor, suas providências iniciais e capacidade de discernimento
de crianças e adolescentes acerca de atos sexuais perante a jurisprudência.

Segundo Makarenko (1956), “A educação sexual é considerada como um dos mais


difíceis problemas pedagógicos. […] Ela se torna difícil, quando é focalizada
separadamente, desvinculada do conjunto dos outros problemas educativos, e
recebe importância excessiva.” Portanto, pretende-se neste trabalho, desmistificar a
educação sexual em escolas, afim de esclarecer o tabu posto na temática, seu
funcionamento e eficácia.

Para a efetivação desta pesquisa utilizou-se, como metodologia, a pesquisa


bibliográfica, através de artigos científicos, publicações da internet, periódicos,
cartilhas disponibilizadas pelo Governo Federal e Polícia Civil do Estado de São
Paulo, livros sobre os temas e conceitos tratados, com a finalidade de possibilitar o
desenvolvimento do conhecimento acerca do assunto abordado.

O vigente trabalho busca conceituar abusos sexuais, gênero e consentimento.


Esclarecer o conceito de Educação sexual nas escolas, explicar o funcionamento
das leis referentes ao abuso sexual, seu funcionamento e como proceder em caso
de estupro. Neste trabalho busca-se elucidar quais materiais didáticos são utilizados
em escolas para abranger o tema sexualidade a crianças e adolescentes, quais
conteúdos são abordados em sala de aula e principalmente sua eficácia em casos
de abusos sexuais a este “público-alvo”. Por fim, serão apresentadas as
considerações finais e conclusões com base no que foi abordado ao longo da
pesquisa. Logo após serão pontuadas as referências utilizadas para o
desenvolvimento deste trabalho.

EDUCAÇÃO SEXUAL
Tratar da educação sexual é permear tabus sociais e romper com a ideia de
proteção das crianças e adolescentes. Embora percebamos como tópico mais
enfocado quando em comparação as décadas passadas, ainda se encontra em um
lugar de confusão no meio comum. No Brasil, as crianças e adolescente somente
tiveram representatividade real perante a legislação com a implementação da Lei
8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A escola desempenha
papel essencial na dinâmica que engloba a educação sexual, por caracterizar o
lugar onde (idealmente) os jovens passam maior parte do tempo, desenvolvem
compreensão sobre as regras da sociedade e estabelecem relacionamentos
interpessoais.

É dever de todos zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo


de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor (Lei 8.069, 1990). Outro dado estatístico importante aponta que entre
os anos de 2011 e 2017, o Brasil apresentou aumento de 83% nas notificações
gerais de violência sexual contra crianças e adolescentes, segundo o boletim
epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde. Durante esses anos, foram
apontados 184.524 casos, sendo mais de 60% contra crianças e adolescentes.
Temos, então, claramente o aspecto da vulnerabilidade relacionado aos jovens
quando analisamos os dados em contraste as leis.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei nº 8.069, de 13 de


julho de 1990, é uma legislação que estabelece direitos fundamentais às crianças e
adolescentes brasileiros. No que tange à violência sexual, o ECA é claro em seu
artigo 18 ao estabelecer que é dever de todos proteger as crianças e adolescentes
de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

Além disso, o ECA prevê medidas protetivas específicas para vítimas de violência
sexual. Por exemplo, o artigo 245 estabelece que é proibido submeter criança ou
adolescente à prostituição ou exploração sexual, sujeitando-se a pena de reclusão.
Já o artigo 241-A trata da punição para quem oferece, troca ou disponibiliza criança
ou adolescente para a prática de ato sexual com alguém, sujeitando-se a penas
ainda mais severas.

O ECA não apenas estabelece punições para os agressores, mas também


estabelece diretrizes para a prevenção e proteção das vítimas. Ao reconhecer a
vulnerabilidade das crianças e adolescentes, o ECA orienta políticas públicas,
programas e ações voltadas para a promoção dos direitos e prevenção da violência
sexual.

Além disso, o ECA também assegura o atendimento especializado às vítimas,


garantindo que elas recebam o apoio necessário para superar os traumas e
reconstruir suas vidas. O artigo 13 do ECA, por exemplo, estabelece que é dever do
Estado assegurar atendimento especializado às vítimas de violência em hospitais e
serviços de saúde.
A educação sexual é uma esfera indispensável para a estruturação (ou
reestruturação) de uma sociedade capaz de desenvolver táticas de prevenção de
violência sexual, abusos e que também possa tratar do assunto de maneira
consciente. É o meio através do qual podem se estabelecer transformações em vias
materiais, isto é, práticas, aferíveis e que possam refletir efetivamente em mudanças
sociais. Segundo Kollontai (1921), nós precisamos armar os jovens com informações
precisas permitindo a eles entrar na vida com os olhos abertos. Nós não devemos
mais nos manter em silêncio sobre questões conectadas à vida sexual. É a
abstenção com relação ao assunto da sexualidade que pode causar desvios sociais
de diversos caráteres, prejudicando a formação dos jovens e condenando-os, junto a
sociedade como um todo, à violência.

Propõe-se como solução central a adição, permanência e reforço dos procedimentos


educacionais que atingem a educação sexual, esta endereçada principalmente aos
membros mais jovens que compõem a sociedade. Segundo Makarenko (1956), “em
matéria de educação sexual, o decisivo é o conjunto do trabalho educativo, todos os
seus aspectos e não alguns procedimentos isolados considerados como especiais.”
Compreende-se, portanto, que não se pode desassociar as condições de vida que
permeiam a vivência de cada pessoa que será contemplada com o método
educativo e os conteúdos a serem abordados para a sua transformação. É preciso,
também, que jamais se percam compreensões basilares da natureza humana (social
e biológica): “O homem, ao contrário, busca o prazer sexual independentemente do
desejo de procriação, tendência que pode adquirir formas muito desordenadas e
moralmente reprováveis, e que provoca sua própria desgraça e prejudica os demais”
(Makarenko, 1956). Considerando a voluntariedade que cerca o ato tratado pela
educação, se faz necessária uma análise sustentada pela noção de que indivíduos
humanos estão sujeitos a terem contato com o conceito ou com o evento sexual em
diversos momentos da vida, seja de maneira precoce ou não.

Apresenta-se, assim, a necessidade de se tratar do assunto em adequada idade e


forma. Como medida preventiva, faz sentido abordar jovens e muni-los de
informações seguras e completas. No entanto, será preciso sempre transformar a
forma, a mensagem, o texto etc, para que o público-alvo não contemple o assunto
dando-o caráter de superioridade ou até banalidade. Como sugere Makarenko
(1956), ao se reconhecer a necessidade dessas conversas no período da
puberdade, não se deve superestimar sua importância. Seria melhor até que fossem
realizadas pelo médico ou organizadas na escola. Aí está a estrutura educadora: um
conjunto de aparatos sociais capazes de transmitir a ideia de prevenção, dos perigos
que cercam o assunto. Dessa forma, sobra espaço também para que a família
(principalmente os pais) tratem da educação sexual com certa paciência e pudor, em
aproximação e franqueza com os filhos, estabelecendo uma relação de
transparência.

A SOCIEDADE E AS DINÂMICAS DE PODER ENTRE GÊNEROS


Temos, prostrada como símbolo de liberdade, a ideia que afirma igualdade entre
todos os membros componentes da sociedade contemporânea. Um discurso
falacioso, inaferível em vias práticas, contraditório em suas diretrizes quando
friamente analisado.

“O discurso neoliberal que atualmente enreda nossas vidas ancora-se na


premissa de que as relações sociais contemporâneas estão fundamentadas
na livre escolha, nas trocas entre iguais e, sobretudo, nas conquistas
meritocráticas, fechando os olhos para as desigualdades estruturantes que
cuidadosamente foram questionadas por grupos subalternos” (MIGUEL, Ana
de. 2016. p. 1)

Existe um desequilíbrio que impregna as relações sociais e suas dinâmicas,


principalmente quando se trata de homens e mulheres. A ideologia neoliberal cria a
ilusão de igualdade entre gêneros, enquanto as consequências do desbalanço
originado pela própria estrutura da sociedade demonstra o oposto.

Assim como a educação, o desenvolvimento humano é algo indispensável à


sociedade. Heleieth Saffioti diz em seu texto que “toda pessoa tem direito a um
desenvolvimento equilibrado, integrado, sem interrupções, sem grandes choques,
sem traumas”, nos levando a refletir sobre a necessidade termos um olhar mais
cuidadoso para com as crianças e adolescentes, preparando-os para lidar com os
desafios da vida e as dificuldades a serem enfrentadas ao longo da vivência social.
Para além disso, é fundamental compreender como as dinâmicas sociais ocorrem, e
os tipos de relações que existem entre aqueles que compõem a sociedade,
principalmente as figuras do homem e da mulher.
As relações de poder manifestam-se através do gênero, quando o homem, em todos
os níveis sociais, sabe que está acima da mulher por uma construção social que
constantemente reafirma seu lugar, Como as mulheres foram, nas sociedades
simples, objeto de troca por parte dos homens (Lévi-Strauss, 1976) com isso o
abuso se perpetua de uma forma tão enraizada que é difícil saber onde começa e
por onde começar esse diálogo. Com essa relação desigual as vítimas de abuso
tendem a se sentir culpadas pelo abuso sofrido, enquanto os abusadores acham
inúmeras justificativas.

É neste contexto de relações de gênero entre partes desiguais que se legitimam a


agressão física e emocional da mulher, assim como o abuso sexual e o estupro. A
pesquisa de Gilligan (1982) revelou que as mulheres imputam à desigualdade a
responsabilidade pela violência, enquanto os homens consideram a questão em
termos de uma justiça falha, cega às diferenças entre as pessoas. Isto é, o raciocínio
dos homens não acusa a percepção do processo social de conversão das diferenças
entre homens e mulheres em desigualdades. Em outros termos, a ideologia de
gênero procede através da naturalização das diferenças que, conforme o já exposto,
foram socialmente construídas (Saffioti, 1987; 1992), podendo, por conseguinte, ser
transformadas. No contexto do pensamento ideológico, a apresentação das
diferenças como naturais constitui uma necessidade. Sem a satisfação deste
requisito, o uso da diferença, para fins discriminatórios, não alcança eficácia política.
Assim, afirmar que as diferenças encerram o perigo da naturalização é praticamente
um truísmo.

Construiu-se, ao longo dos anos, um ambiente de conforto para os homens. Para


eles, afirma-se que o estado de liberdade e emancipação já está contemplado e
nada mais há a ser feito. Como trata Emma Goldman:

“O fato é que muitos homens parecem convencidos de que a mulher prefere


seguir vivendo em sua posição de inferioridade. Também se dizia que o negro
estava encantado de ser propriedade do dono da plantação. Mas o certo é
que não pode existir uma verdadeira emancipação enquanto subsistir o
predomínio de um indivíduo sobre o outro ou de uma classe sobre a outra. E
muito menos será real a emancipação da raça humana enquanto um sexo
dominar o outro” (Goldman, Situação Social das Mulheres).
Observa-se como injustas as dinâmicas entre gêneros através daquilo que se
reproduz midiática, verbal e textualmente na sociedade. Enquanto, para os homens,
a realização de atos libidinosos resultam em ganhos sociais, para as mulheres há o
extremo oposto, com consequências desastrosas em distintos níveis para suas
vidas.

“Dentro da concepção estreita e má dessa moral de escravos e senhores, o


mesmo ato praticado por dois indivíduos de sexo diferente tem significações
opostas: a mulher se degrada, torna-se imoral, desonesta, desonrada, está
desgraçada, perdida irremediavelmente se não encontra um homem para lhe
dar o título de “esposa” perante a lei e as convenções sociais, enquanto o
homem é o mesmo, talvez tendo adquirido mais valor de estimação perante
as próprias mulheres, e sendo invejado pelos outros homens” (Moura, 1927,
p. 3).

Entre as vantagens usufruídas pelos homens, temos o controle e o poder que


exercem enquanto tomam decisões que potencialmente transformam as vidas de
outrem. Observemos como sequer as leis constitucionais estabelecidas pela
legislação do nosso país falham em impedir que relações destrutivas frutifiquem em
favor de vantagens específicas para apenas um dos lados nos casos a serem
citados. É fundamental tratar a falácia do consentimento que guia as relações entre
os gêneros e atravessa diferenças alarmantes de idade entre as partes.

Em 1986, Caetano Veloso e Paula Lavigne já haviam estabelecido um


relacionamento amoroso, quando tinham 17 e 44 anos respectivamente. O
relacionamento já tinha duração de 4 anos, significando que, aos 13 anos, houve
intercurso sexual entre as partes, mesmo que o artista tivesse 40 anos de idade na
época. Em mesma toada, temos a ocorrência de casos como o do prefeito de
Araucária, Hissan Hussein Dehaini (66 anos de idade) que se casou com uma
adolescente de 16 anos e promoveu cargo de comissão à mãe da menina. Há
também o caso do Policial Militar que se dirigiu a frente de uma escola para entregar
um buquê de flores e uma aliança em pedido de relacionamento amoroso a uma
aluna menor de idade (por volta de 15 anos) em Toritama, em Pernambuco. Ficam
evidentes com essas ocorrências (que estão entre muitas outras), a forma como
homens são capazes de agir e o poder de que dispõem em suas ações,
principalmente caracterizadas pela exposição.
Assim como, quando uma mulher é ameaçada de violência e é obrigada a ceder ao
estuprador, e não consentir o estupro, “[…] a criança não pode consentir, porque não
tem capacidade de discernir. Então, o que vai acontecendo com a criança é um
envolvimento emocional crescente, e, é claro, de prazer também”, afirma Saffioti
(1995). Não há, mesmo com a premissa do suposto consentimento, uma relação de
igualdade ou liberdade. Temos, portanto, a manifestação de uma relação de poder
regada por abuso.

É importante salientar que a definição de abuso pode ser complementada. Segundo


Saffioti (1995), “No fenômeno do abuso sexual, por exemplo, pode haver exploração
econômica, quando o abuso visa à prostituição de outrem, como pode haver
exclusivamente a obtenção de benefícios próprios, como o prazer, sem vantagens
financeiras”.

Em casos assim, surgem estratégias em prol do driblar da lei e do convencimento da


parte vulnerável a concretização do ato, reforço de suposta independência na
decisão, a sedução, “um processo muito mais traumatizante do que a ameaça bruta,
com armas ou tapas” (SAFFIOTI, 1995). O desenvolvimento da relação emocional é
sequestrado e utilizado como base para o estabelecimento da relação abusiva.

Como afirma Saffioti (1995),

“É preciso reestruturar a família e, junto com isso, reformular as relações de


gênero. Enquanto formos fazendo isso, a longo prazo, temos que estabelecer,
com o Estado, uma nova relação. Nós, sociedade civil, precisamos interferir
de modo a ter o direito de formular e implementar ou, pelo menos, exercer a
vigilância da implementação de políticas públicas que proíbam a violência
sexual contra a criança” (Saffioti, 1995).

CONCLUSÃO
O objetivo inicial deste trabalho foi promover a compreensão da educação sexual
como meio para a identificação e prevenção de abusos e da violência sexual. O
abuso sexual é uma prática violenta que acomete principalmente crianças,
adolescentes e mulheres, podendo o abusador ter ou não uma relação com a vítima.
Deste modo, a escolha do objeto de estudo se deu a partir de relatos de vivências e
observações do cotidiano inseridos nas referências. É importante que a docência
possibilite diálogos com a finalidade de elevar a relevância deste tema para os pais
e gestores das escolas.

O desequilíbrio imposto nas relações sociais homens, mulheres cria a ilusão de que
um gênero é superior ao outro, ocasionando deste modo consequências graves,
como abuso sexual, físico e/ou emocional.

A partir de pesquisas bibliográficas, revistas, internet, estatísticas, situações e


relatos aferíveis, em contraste com a legislação do nosso país, pode-se observar
que educação sexual é um fator decisivo para proteção do “grupos de risco”, que
não só contribui para estes grupos identificarem um abuso de qualquer natureza,
como também para proteção de Ist’s e gestação indesejada, além da prevenção de
situações de violências sexuais. A educação sexual em escolas embora seja um
tabu que ainda permeia em pleno século XXI, é uma das poucas soluções que
possibilita a proteção eficaz a estes grupos de risco.

Portanto, conclui-se que é significativo que crianças e adolescentes estejam cientes


do que é consentimento, para torna-se necessário uma educação completa
esclarecedora acerca de temas complexos como abusos e assédios, desmistificar
sobre o sistema reprodutor, suas funções e permissões. Para o alcance deste
objetivo é crucial que pais, professores e órgãos que gerem escolas estejam
plenamente cientes da necessidade da abordagem destes temas e que estejam
dispostos a colaborar em conjunto.
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