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A EDUCAÇÃO SEXUAL COMO MEIO DE PREVENÇÃO E

FERRAMENTA PARA A DESCOBERTA DE CASOS DE ABUSO


INFANTIL

Aylah Christie Beltrão Rosa


Bárbara Hellen do Nascimento Paiva
Eduarda Gabrielly Rocha Spíndola
Marcos Emiliano de Menezes Carvalho Moreira
Rosa Núbia Magalhães
Thayná Abadia Rafalovik de Sousa1

RESUMO

Os crimes de natureza sexual praticados contra crianças e adolescentes afligem


milhares de vítimas no Brasil todos os anos e resultam em consequências
devastadoras. Considerando que a estatística indica que a maior parte dos casos de
abuso sexual são praticados por familiares ou pessoas próximas às vítimas, nem
sempre elas podem contar com a família para acolher seu relato e oferecer proteção,
de modo que a escola representa um ambiente seguro para esse fim. Nesse contexto
a educação sexual para capacitar profissionais da educação para identificar sinais de
abuso sexual e adotar as providências necessárias se mostra como ferramenta
fundamental para diminuir essa estatística terrível. O presente trabalho realizou,
entrevista qualitativa e quantitativa com quarenta profissionais da educação da cidade
do Gama/Distrito Federal e coletou dados junto à polícia que corroboraram com esse
cenário descrito e, a partir disso, sugere um modelo de intervenção, baseado em
educação sexual e capacitação em escolas, para promover a prevenção e o combate
à violência sexual infantil.

Palavras-chave: Violência sexual. Abuso infantil. Educação sexual. Ambiente seguro.


Profissionais da educação. Prevenção e combate.

1
Estudantes de graduação em Psicologia do CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO
CENTRAL APPARECIDO DOS SANTOS – UNICEPLAC. Trabalho realizado na disciplina
Ações Integradoras na Comunidade-Infância como requisito para aprovação na disciplina, sob
a orientação do Prof. Antonio Eduardo Benradt Ostrowski.
ABSTRACT

The sexual crimes committed against children and adolescents afflict thousands of
victims in Brazil every years and result in devastating consequences. Considering that
statistics indicate that most cases of sexual abuse are committed by family members or
people close to the victims, the victims cannot always count on the family to talk about
the abuse and offer protection, so the school represents a safe environment for that
purpose. In this context, sex education to enable education professionals to identify
signs of sexual abuse and adopt the necessary measures proves to be a fundamental
tool to reduce this terrible statistic. The present work carried out a qualitative and
quantitative research with forty education professionals from the city of Gama/Distrito
Federal and collected data from the police that corroborated this scenario described
and, based on that, suggests an intervention model, based on sexual education in
schools, to promote preventing and combating child sexual violence.

Keywords: Sexual violence. Child abuse. Sexual education. Safe environment.


Education professionals. Prevention and combat.

INTRODUÇÃO

A violência sexual infantil é um problema que aflige milhares de crianças


brasileiras todos os anos. Segundo o Panorama da Violência Letal e Sexual
Contra Crianças e Adolescentes no Brasil de 2021, elaborado pelo Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, no período compreendido entre 2017 e 2020 foram
registrados 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável, desse total, 62
mil vítimas foram crianças de até 10 anos de idade. A maioria das vítimas são
do sexo feminino, representando quase 80% do total.

As estatísticas e os estudos realizados sobre a violência sexual


praticada contra crianças e adolescentes indicam que, na maior parte dos
casos, ela é perpetrada por parentes ou pessoas próximas à vítima, gerando,
assim, uma maior dificuldade para a denúncia (VIODRES E RISTUM, 2008).

Desse modo, por se tratar de uma violência que costuma ocorrer no


interior dos lares e ser silenciada, estima-se que a verificação de números
exatos desse tipo de agressão resta impossibilitada em razão de uma taxa alta
de cifra negra2. Por ser praticada por conhecidos, a denúncia esbarra em
dificuldade e calcula-se que menos de 10% dos caso são registrados nos
órgãos competentes.

Nesse contexto, a escola se apresenta como o ambiente mais favorável


a descobertas de casos de abuso sexual. Com efeito, as crianças que sofrem
com esse tipo de violência em casa, ou mesmo em ambiente extrafamiliar,
tendem a demonstrar comportamentos agressivos e outros sinais da violência
perpetrada contra elas principalmente no ambiente escolar. Assim, à medida
que as crianças e adolescentes manifestem na escola que estão sendo vítima
de violência cabe à escolar proceder às notificações legais.

Importante destacar que, não cabe aos professores investigar e reunir os


indícios de autoria e materialidade – substrato probatório mínimo capaz de
justificar o desencadeamento do exercício da pretensão acusatória do Estado –
que confirmem ou não a possível a violência sexual detectada. Ou seja, não
compete aos professores investigar se a criança e os adolescentes sofreram
com a violência sexual ou não. Contudo, é de responsabilidade desses
profissionais acolher os jovens, considerando-os, sempre, como vítimas
(VIODRES E RISTUM, 2008). Nessa linha, Guerra (2001) ressalta que a
criança, especialmente as de tenra idade, não possuem condições para
identificar e relatar uma situação de violência sexual, pois não possuem
repertório para isso.

Assim, a implementação de cursos de capacitação para que professores


sejam adequadamente habilitados para reconhecer possíveis sinais de abuso
sexual e palestras voltadas para o público infantil, com uma linguagem
adequada para esclarecer o que é a violência sexual, se apresentam como
políticas públicas de suma importância para descobrir e combater a ocorrência
de crimes dessa natureza. De fato, a literatura indica que tratar o assunto como
questão de saúde e segurança pública e disseminar informação sobre o tema
constitui a melhor ferramenta para a diminuição dos altos índices de crimes
dessa natureza.
2
Entende-se por cifra negra o número de infrações não conhecidas oficialmente porque não
são detectadas pelo sistema (SILVA, Lllian Ponchio. Pedofilia e abuso sexual de crianças e
adolescentes. Editora Saraiva, 2012).
Nessa linha, o presente estudo pretende verificar, por meio de
entrevistas realizadas com 40 (quarenta) profissionais da educação, dentre
professores e orientadores pedagógicos da cidade do Gama/Distrito Federal, a
necessidade de uma formação apropriada dos profissionais que atuam no
ambiente escolar para que eles sejam capazes de identificar a violência e atuar
no enfrentamento da violência sexual infantil, bem assim se a educação sexual
infantil contribuí para a prevenção e enfrentamento desse tipo de violência.

Na elaboração deste projeto de pesquisa e intervenção na comunidade,


com foco no combate à violência sexual infantil, realizamos uma pesquisa
quantitativa e qualitativa, por meio das entrevistas e dos números estatísticos
obtidos junto à Polícia Civil do Distrito Federal e na pesquisa bibliográfica
teórica, a partir da revisão de literatura. Ademais, no decorrer do
desenvolvimento do projeto, recorremos ao método dedutivo para interpretar os
dados coletados em cotejo com a fundamentação teórica.

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE VIOLÊNCIA SEXUAL


INFANTIL E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Preliminarmente é importante fazer um esclarecimento. Hodiernamente,


a sociedade e, principalmente, a mídia utilizam a expressão “crime de pedofilia”
para descrever a violência sexual sofrida por crianças e adolescentes. Ocorre
que, conforme esclarecem Ivan Luís Marques e Alice Bianchini, “para a Psicologia,
a pedofilia é uma parafilia, consistente em um grave desvio que leva o indivíduo a
atitudes fora do padrão de normalidade”. Dessa forma, se a ação do indivíduo decorre
de desvio comportamental em caráter doentio, a pedofilia é excludente de culpabilidade,
nos termos do art. 26 do Código Penal. Ou seja, se o pedófilo, “no momento de sua ação
reprovável, era inteiramente incapaz de compreender o caráter ilícito do fato, resta
excluída a sua culpabilidade”. Entretanto, caso o autor manifeste sua “perversão de
modo consciente, compreendendo o caráter ilícito da conduta e podendo agir de outro
modo, neste caso, fica caracterizado o crime” (BIANCHINI e MARQUES).

Essa diferenciação é importante porque um pedófilo não é,


necessariamente, alguém que praticará um ato criminoso. Um indivíduo pode
sentir atração por crianças e não cometer abuso sexual. E, o mais importante,
o pedófilo não possui características físicas que o diferencie das demais
pessoas. Ou seja, qualquer um pode ser um pedófilo, aliás, como destaca
BIANCHINI e MARQUES “normalmente o pedófilo é pessoa que
aparentemente possui uma boa convivência com seus familiares”.

Isso torna o desafio de combater os crimes dessa natureza ainda maior,


de modo que a responsabilidade de modificar essa realidade deve recair sobre
toda a sociedade e, sobretudo, sobre o Estado que deve desenvolver políticas
e tipificar condutas que, de fato, tutele o desenvolvimento sexual sadio da
criança e do adolescente.

Os crimes de natureza sexual, contra crianças e adolescentes estão


previstos no Código Penal Brasileiro (Artigos 213, 215, 216-A, 217-A, 218, 218-
A, 218-B, 228, 229, 230 e 245) e no Estatuto da Criança e do Adolescente
(Artigos 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C, 241-D, 241-E então 244-A) 3 e abarcam
uma série de condutas que podem ser praticadas. Desse modo, é importante
que a qualificação de profissionais que irão atuar no enfrentamento desse tipo
de crime seja ampla a fim de capacitá-los para identificar todas as formas que
as crianças e adolescentes podem ser vítimas.

GUERRA (2001), de forma ampla, define a violência sexual infantil como


sendo:

[…] envolvimento de crianças e adolescentes, dependentes e


imaturos quanto ao seu desenvolvimento, em atividades sexuais que
não têm condições de compreender plenamente e para as quais
soam incapazes de dar o consentimento informado ou que violam as
regras sociais e os papéis familiares. Incluem a pedofilia, os abusos
sexuais violentos e o incesto, sendo que os estudos sobre a
frequência sexual violenta são mais raros do que os que envolvem
violência física. O abuso pode ser dividido em familiar e não familiar.
Aproximadamente 80% são praticados por membros da família ou por
pessoa conhecida confiável, sendo que cinco tipos de relação
incestuosa são conhecidas: pai-filha, irmão-irmã, mãe-filho, pai-filho e
mãe-filha.6. (GUERRA, 2001, apud FELÍCIO, Aline Gomes, JESUS
de, Kelly Vasconcelos Silva e LIMA, Silvana Peixoto em O Papel da
Escola no Enfrentamento da Violência Sexual Infantil).

3
Anexo I
Considerando que os casos de violência sexual, em sua grande maioria,
são praticados por pessoas conhecidas da vítima, o trauma que advém desse
crime resulta de dois choques: a violência em si e a negação do ato. É comum
as vítimas internalizarem a culpa, primeiramente por não terem repertório
suficiente para compreender a extensão da violência sofrida e por
internalizarem um sentimento de que não podem contar com um adulto para
fazer cessar a violência. Nesse sentido, se faz necessário criar um ambiente
acolhedor para que as crianças se sintam à vontade e seguras para relatar a
violência sofrida, sem receio de represálias e nova vitimização (MOLIN,
Eugêncio Canesin Dal. Ecos do silêncio: reverberações do traumatismo sexual,
capítulo 3, Trauma, silêncio e comunicação).

Desse modo, a capacitação de profissionais que tem contato com os


casos de violência sexual (profissionais da educação, familiares, conselheiros
tutelar, dentre outros) se apresenta como medida fundamental para garantir a
proteção integral às crianças e adolescentes vítimas do abuso. Sem garantir
essa proteção “não será possível alcançar a tão almejada dignidade da pessoa
humana, proclamada, com tanta clareza, no artigo 1º da Constituição Federal
(AZAMBUJA, Maria RF, D. e MARIA HM Ferreira).

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O PAPEL DA EDUCAÇÃO SEXUAL


NO COMBATE E ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL

A educação sexual para crianças visa informar as crianças para que elas
possam ainda em tenra idade identificar o que é a violência sexual e, dessa
forma, se proteger ou poder contar a outro adulto que sofreu algum tipo de
abuso. Com efeito, crianças desinformada são vítimas preferenciais, uma vez
que elas não possuem repertório para discernir o que é aquele ato praticado
contra ela.

De fato, a literatura e estudos realizados indicam que crianças bem


informadas sobre o que é violência sexual são menos indefesas do que as
crianças que não foram esclarecidas sobre o tema “na medida em que estas
podem ser mais facilmente coagidas a manter o segredo sobre a violência” 4.

Naturalmente, a depender da faixa etária da criança que será


conscientizada, será necessário valer-se de recurso lúdicos para instruir as
crianças, tais como teatro, filmes adequados à idade do público-alvo e
dramatizações.

Em relação aos professores, a capacitação sobre o tema de forma


específica e contínua também se faz necessária, uma vez que os
professores poderão abordar o tema em sala com os alunos e, desse modo,
precisam ter propriedade para tratar do assunto adequadamente e, caso
identifiquem algum caso de violência, deverão estar aptos acolher o relato
da vítima e adotar os procedimentos necessários para proceder a denúncia.

Diante desse cenário, a criação de uma equipe multidisciplinar de


capacitação, formada por profissionais de diferentes áreas (psicológica,
jurídica, pedagógica e de segurança pública), se apresenta como uma boa
estratégia para conscientizar as crianças e adolescentes com uma
linguagem adequada e para treinar os professores de forma continua, para
5
que eles se sintam seguros para lidar com o tema de forma profissional.

DA ENTREVISTA REALIZADA COM OS PROFESSORES DA REDE


PÚBLICA DO GAMA/DF E DOS DADOS OBTIDOS JUNTO À POLÍCIA CIVIL
DO DISTRITO FEDERAL

O projeto foi desenvolvido com o uso da pesquisa quantitativa e


qualitativa a fim de investigar, por meio de uma amostragem local, a incidência
de crimes sexuais praticados contra crianças, o cotidiano vivenciado pelos
professores e demais profissionais da educação e o nível de compreensão do
papel da educação sexual infantil no combate e prevenção de crimes desta
natureza. Para uma melhor compreensão da vivência desses profissionais

4
Lamour M. Os abusos sexuais em crianças pequenas: sedução, culpa, segredo. In: Gabel M,
ed. Crianças vítimas de abuso sexual. São Paulo: Summus; 1997. p.43-61, apud, MAIA, Ana
Cláudia Bortolozzi; SPAZIANI, Raquel Baptista.
5
MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi; SPAZIANI, Raquel Baptista. Educação para a sexualidade e
prevenção da violência sexual na infância: concepções de professoras. Rev. psicopedag. vol.32
no.97 São Paulo, 2015.
aplicou-se perguntas de caráter objetivo e subjetivo. Indagou-se ainda sobre
experiências passadas e perspectivas dos profissionais para lidar com tais
crimes.

A pesquisa foi realizada de forma virtual, uma vez que as perguntas


foram realizadas via Google Forms e encaminhadas para professores e
orientadores pedagógicos que atuaram e/ou ainda atuam em escolas públicas
da cidade do Gama/Distrito Federal. Os participantes foram previamente
esclarecidos de que se tratava de um questionário aplicado para levantamento
de dados a fim de subsidiar uma pesquisa realizada por alunos graduandos em
Psicologia dentro da temática da violência sexual infantil. Ao todo, participaram
da pesquisa 40 (quarenta) profissionais da educação, dentre professores e
orientadores pedagógicos. Os professores foram selecionados por meio de
uma rede de proximidade, ou seja, contatou-se professores conhecidos dos
estudantes que realizaram o presente trabalho e foi solicitado a estes que
respondessem e enviassem o questionário aos demais colegas, de modo que
pelo princípio da afinidade, presente na persuasão, a pesquisa contou com
uma adesão expressiva ao estudo, pois professores solicitaram a participação
de outros professores.

A seleção das perguntas que foram realizadas se deu partir do


referencial teórico-metodológico reunido na fase do pré-projeto. Assim, utilizou-
se cartilhas já elaboradas por órgãos competentes, das conceituações básicas
da violência sexual infantil e da educação sexual infantil, dos estudos
relacionados ao papel dos professores e da escola no combate aos crimes
sexuais e das teorias que tratam das consequências do abuso sexual em
crianças e adolescentes para elaborar o questionário utilizado no presente
projeto. Para preservação do anonimato dos participantes, o questionário foi
enviado na modalidade de resposta anônima. Dessa forma, os participantes se
sentiram mais livres para narrar suas experiências na pergunta aberta.

Ao questionário aplicado obteve-se as seguintes respostas:


Além do questionário aplicado junto aos profissionais da educação que
atuam no Gama/DF, objetivando realizar um cruzamento parcial de dados,
solicitou-se junto à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da
ferramenta e-sic, dados estatísticos referentes à casos de violência sexual
infantil ocorridos no Distrito Federal no período compreendido entre 2018 e
2022.
O órgão de segurança enviou as informações solicitadas, sistematizadas
da seguinte forma:
CONCLUSÃO DECORRENTE DOS DADOS OBTIDOS

A pesquisa contou com um total de 40 respostas e, a partir delas, foi


possível verificar que 65% das respostas são de professores e orientadores
pedagógicos que trabalham na rede pública do Distrito Federal há mais de 15
anos, o que demostra experiência e vivência na área da educação.

Os professores que responderam à pesquisa, em sua maioria (56,4%),


trabalham atualmente com alunos da faixa etária de 6 a 14 anos 6 e, segundo
informações obtidas por meio da Polícia Civil do Distrito Federal, a faixa etária
entre 6 e 15 anos representam o total de 72,6% dos casos de estupro contra
crianças e adolescentes (PCDF, 2022).

Mesmo com o longo tempo de carreira e a vasta experiência dos


professores entrevistas, a maioria (55%) não recebeu capacitação sobre
violência sexual infantojuvenil, o que demonstra uma deficiência ou omissão
em políticas de prevenção.

Dos participantes, 77,5% alegaram ter capacidade para identificar


sinais de que um aluno estaria sofrendo alguma forma de violência sexual ou
abuso, o que possivelmente é resultado de capacitação realizada nas
escolas, uma vez que 45% respondeu que já havia tido essa preparação na
escola e da quantidade de casos já vivenciados e pela experiência
compartilhada entre eles, uma vez que nem todos foram capacitados (55%),
mas, infelizmente, 85% teve conhecimento de casos de violência sexual
dentro das escolas em que trabalhava. Uma das narrativas, constante da
pergunta aberta realizada, que corrobora com essa conclusão é a seguinte:
“Estou com três casos de suposto abuso sexual no momento, sou orientadora
educacional”.

Questionados se o papel do professor era importante no combate à


violência sexual infantil, 100% dos entrevistados responderam que sim, afinal,
“a função do profissional de ensino diante da suspeita ou confirmação de um
abuso sexual é de acolher, registrar e acionar a rede de proteção e as

6
Terceira infância (dos 6 aos 11 anos de idade), adolescência (até aos 18 anos de idade
aproximadamente)” ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Art. 2º “Considera-se
criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 12 (doze) anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade”. (BRASIL,1990).
autoridades policiais” (GUIA DE ORIENTAÇÃO AOS PROFISSIONAIS DE
ENSINO SP. A escola contra o abuso sexual infantil. São Paulo, 2019).]

Dessa forma, considerando que 85% dos professores relatam que já


tiveram conhecimento de algum caso de violência sexual contra crianças e
adolescentes em alguma escola em que trabalhava, que apenas 45% já
recebeu capacitação para lidar com esses episódios de violência e 100% dos
participantes do estudo consideram importante que haja essa capacitação
para o adequado enfrentamento da violência sexual, isso demonstra que há
uma lacuna na rede de ensino e uma necessidade de aprimorar o trabalho de
capacitação dos professores para que os mesmo se sintam aptos a lidar com
os jovens que estejam sendo vítima de violência para que o combate ao
abuso sexual infanto-juvenil seja efetivo.

No questionário aplicado, abriu-se espaço para uma resposta


discursiva, livre, opcional e anônima. Dos quarenta participantes, 25%
quiseram e/ou sentiram a necessidade de relatar algo. O objetivo de incluir
essa pergunta aberta foi coletar vivências dos professores e orientadores
pedagógicos relacionadas a episódios de violência sexual praticada contra
crianças e adolescentes.

Seguem os relatos coletados:

“Já tive conhecimento de várias alunas que foram molestadas e até


mesmo estupradas por um parente próximo ou por um desconhecido. Algumas
me contaram. Outras, fiquei sabendo pela mãe ou pela direção da escola.”
“Já presenciei nas escolas, fatos em que a mãe defende o abusador e
acusa a filha. Deixou toda equipe pedagógica sem reação diante de tal
acontecimento!”
“Um fato que aconteceu em uma creche onde eu trabalhava, uma
criança de 03 anos estava sendo abusada por um primo que morava na
mesma casa, a criança começou a demonstrar comportamento estranho e
agressivo. Junto a equipe pedagógica e a família conseguimos solucionar o
caso.”
“Tive uma aluna que era abusada pelo vizinho. A mãe dela deixava a
chave de casa com a vizinha para que ela vigiasse a menina nos dias que a
mãe trabalhava. O marido da vizinha pegava a chave com o pretexto de dar
assistência à menina e abusava dela desde os 9 anos de idade. Aos 15 anos a
menina engravidou e a revelação para os pais foi feita na escola. A jovem deu
prosseguimento a gravidez e o abusador fugiu.”
“É devastador o que um ato desses pode causar na vida de uma
criança. Seria de grande valia que esse trabalho de conscientização e
prevenção fosse feito sempre nas escolas, mas que abrangessem as famílias
também”
“Estou com três casos de suposto abuso sexual no momento, sou
orientadora educacional”
“Essa temática geralmente trabalha com o professor e aluno ao mesmo
tempo sob a organização do orientador. Este profissional é o mais capacitado e
por isso os casos são levados até ele. Geralmente esse tema se reduz ao 18
de maio, a não ser que apresente um caso.”
“Atendimento psicológico acessível as famílias de baixa renda Políticas
públicas como: aparelhamento do Conselho tutelar para melhor atender esses
casos, equipe multidisciplinar nas redes de saúde, rede de proteção e
atividades socioeducativas.”
“Trabalhei como Orientadora Educacional por 24 anos e foram inúmeros
os casos com os quais tive que lidar. Faz parte do papel”
“A criança chorava muito e não queria viver com o pai outra vez. O pai
era advogado e voltou a morar com a mãe e as crianças. A nova escola foi
avisada e tomou as providências cabíveis.”
Além das respostas à entrevista aplicada aos profissionais da educação,
os dados relacionados a ocorrências de estupros contra crianças e
adolescentes da Polícia Civil do Distrito Federal, referente ao período de 2018
a 25 de maio de 2022, corroboram com o relato dos educadores e com a vasta
literatura sobre o tema.
O órgão de segurança pública forneceu dados sobre a quantidade,
localidade dos crimes, evolução mensal das ocorrências, dia, semana e faixa
horaria de incidência, faixa etária e sexo da vítima, além do vínculo do autor
com a vítima.
Assim, a partir do cruzamento dos dados, é possível verificar que, de
fato, pessoas próximas às vítimas estão entre os principais abusadores e que a
escola é um refúgio para que a criança possa aprender sobre o que é violência
sexual e, desse modo, ter repertório para identificar o abuso e denunciar
eventual violência sofrida. A partir dessa conclusão, deve-se pensar em
intervenções capazes de atuar nessas duas frentes: prevenção e
enfrentamento do abuso.
CONCLUSÃO E PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NA COMUNIDADE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

__ALINE GOMES FELÍCIO KELLY VASCONCELOS SILVA DE JESUS


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https://dspace.doctum.edu.br/bitstream/123456789/1371/1/O%20PAPEL
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__BRASIL. Código Penal Brasileiro. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE


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__FRANÇA, Cassandra P. Ecos do silêncio: reverberações do traumatismo


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__FURLANI, Jimena. Educação sexual na sala de aula - Relações de gênero,


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Autêntica, 2011. 9788582178195. Disponível em:
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__MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi; SPAZIANI, Raquel Baptista. Educação para a


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__NOS ÚLTIMOS 5 ANOS, 35 MIL CRIANÇAS E ADOLESCENTES FORAM


MORTOS DE FORMA VIOLENTA NO BRASIL, ALERTAM UNICEF E FÓRUM
BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF). Disponível em : https://www.unicef.org/brazil/comunicados-
de-imprensa/nos-ultimos-cinco-anos-35-mil-criancas-e-adolescentes-foram-
mortos-de-forma-violenta-no-brasil Acesso: 07 de junho, 2022.

__PANORAMA DA VIOLÊNCIA LETAL E SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E


ADOLESCENTES NO BRASIL DE 2021. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/media/16421/file/panorama-violencia-letal-sexual-
contra-criancas-adolescentes-no-brasil.pdf

__SILVA, Lillian Ponchio E.; ROSSATO, Luciano A.; LÉPORE, Paulo E.; et
al. Pedofilia e abuso sexual de crianças e adolescentes (Coleção saberes
monográficos). Editora Saraiva, 2012. 9788502193789. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502193789/. Acesso em:
05 mai. 2022.

__VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES:


IDENTIFICAÇÃO E ENFRENTAMENTO. Cartilha elaborada pelo Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios. Disponível em:
https://www.mpba.mp.br/sites/default/files/biblioteca/crianca-e-adolescente/
violencia-sexual/cartilhas/
cartilha_violencia_sexual_contra_crianca_adolescente_mpdft_2015_1_edicao.
pdf
ANEXO I

Artigos tipificados no Código Penal Brasileiro que preveem crimes contra a


dignidade sexual de menores:

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter


conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a


vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

Violação sexual mediante fraude

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

(...)

Assédio sexual

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou


favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
função.

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Parágrafo único. (VETADO)

§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18


(dezoito) anos.

Estupro de vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas


no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência.

§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo


aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela
ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.

Corrupção de menores

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a


lascívia de outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Parágrafo único. (VETADO).

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou


adolescente

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos,


ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de
satisfazer lascívia própria ou de outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração


sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de


exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica,


aplica-se também multa.
§ 2o Incorre nas mesmas penas:

I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém


menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita
no caput deste artigo;

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se


verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.

§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2 o, constitui efeito obrigatório da


condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do
estabelecimento.

Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável,


de cena de sexo ou de pornografia

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração


sexual

Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de


exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,


cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou
se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou


fraude:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à


violência.

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Casa de prostituição

Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em


que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta
do proprietário ou gerente:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de
seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou


se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou
por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou


outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da
vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena


correspondente à violência.

Artigos tipificados no Estatuto da Criança e do Adolescente que preveem


crimes contra a dignidade sexual de menores:

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por


qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou
adolescente:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

§ 1 o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou


de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas
cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.

§ 2 o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:

I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;

II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de


hospitalidade; ou

III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo ou afim até


o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da
vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
seu consentimento.

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar


ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 1 o Nas mesmas penas incorre quem:

I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias,


cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;

II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às


fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.

§ 2 o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1 o deste artigo são


puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente
notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata
o caput deste artigo.

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia,


vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1 o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena


quantidade o material a que se refere o caput deste artigo.

§ 2 o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de


comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas
nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita
por:

I – agente público no exercício de suas funções;

II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas


finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o
encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo;

III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de


acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o
recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao
Ministério Público ou ao Poder Judiciário.

§ 3 o As pessoas referidas no § 2 o deste artigo deverão manter sob sigilo o


material ilícito referido.
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de
sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou
modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação
visual:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda,
disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou
armazena o material produzido na forma do caput deste artigo.

Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio


de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo


explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso;

II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de


induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.

Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena
de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva
criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou
exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins
primordialmente sexuais.

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos


no caput do art. 2 o desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: (Incluído
pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)

Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e


valores utilizados na prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da
Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou Distrito
Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-
fé. (Redação dada pela Lei nº 13.440, de 2017)

§ 1 o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o


responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou
adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº
9.975, de 23.6.2000)

§ 2 o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de


localização e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 9.975,
de 23.6.2000)

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