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Disciplina: Psicopatologia Psicanalítica e Dispositivos Clínicos

Professora: Dra. Deise Matos do Amparo


Estudante: Aylah Christie Beltrão Rosa1
Fichamento

Ferenczi, S. (1933/1992). Reflexões sobre o trauma. In S. A. Ferenczi. Psicanálise IV.


Obras Completas.

“O ‘choque’ é equivalente à aniquilação do sentimento de si, da capacidade de


resistir, agir e pensar com vistas à defesa do si mesmo.” (p. 109).

“A comoção psíquica sobrevém sempre sem preparação, teve que ser precedida
pelo sentimento de estar seguro de si, no qual, em consequência dos eventos, a pessoa
sentiu-se decepcionada.” (p. 109).

“Uma comoção pode ser puramente física, puramente moral ou então física e
moral. A comoção física é sempre também psíquica; a comoção psíquica pode, sem
nenhuma interferência física, engendrar o choque.” (p. 110).

“O problema é este: no caso da comoção psíquica, não haverá uma ausência de


reação (defesa), ou será que a tentativa de defesa, momentânea e transitória, revela-se
tão débil que é logo abandonada?” (p. 110).

“O nosso próprio sentimento-de-si inclina-se a dar preferência à segunda


possibilidade: abandonar sem resistência é, mesmo no nível da representação,
inaceitável.” (p. 110).

“A subitaneidade da comoção psíquica causa um grande desprazer que não pode


ser superado. Mas o que significa, pois, superar? (1 0.) Uma defesa real contra a
nocividade, ou seja, uma transformação do mundo circundante no sentido de um
afastamento da causa do distúrbio (reação aloplástica). (2. 0) A produção de
representação a respeito da mudança futura da realidade num sentido favorável.” (p.
110).
1
Aluna especial em Programa de Pós Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de
Brasília
“A consequência imediata de cada traumatismo é a angústia. Esta consiste num
sentimento de incapacidade para adaptar-se à situação de desprazer: (1º) subtraindo seu
Si mesmo à irritação (fuga); (2º) eliminando a irritação (aniquilamento da força
exterior).” (p. 110).

“O salvamento não chega e até mesmo a esperança de salvamento parece


excluída. O desprazer cresce e exige uma válvula de escape. (...) O mais fácil de
destruir em nós é a consciência, a coesão das formações psíquicas numa entidade: é
assim que nasce a desorientação psíquica.” (p. 110/111).

“A angústia traumática pode (...) transformar-se com facilidade em medo da


loucura. Naqueles que são vítimas de mania de perseguição, a tendência para proteger-
se, para defender-se de perigos, prepondera sobre a angústia como aflição.” (p. 111).

“A Interpretação de Sonhos, de Freud, apresenta como única função do sonho a


transformação em realização de desejo dos restos diurnos desagradáveis que perturbam
o sono.” (p. 111).

“(...) se observarmos com minúcia a relação entre a história pessoal e os


conteúdos oníricos, torna-se cada vez mais evidente que aquilo a que chamamos os
restos diurnos (e podemos acrescentar: os restos da vida) são, de fato, sintomas de
repetição de traumas; mas é muito conhecido que a tendência à repetição na neurose
traumática também tem uma função intrinsecamente útil: ela vai conduzir o trauma a
uma resolução, se possível, definitiva; melhor do que isso não fora possível no decorrer
do acontecimento originário comovente.” (p.111/112).

“Os sonhos de angústia e os pesade10s são realizações de desejo


imperfeitamente ou a custo conseguidas, mas não se pode desconhecer seu atrativo no
trabalho de deslocamento parcialmente realizado.” (p. 112).

“(...) os restos do dia e da vida são impressões psíquicas tendentes à repetição,


não resolvidas nem dominadas, inconscientes e que, talvez, jamais foram conscientes,
as quais surgem mais nas condições do sono e do sonho do que em estado vígil, e
exploram para seus fins a capacidade de realização de desejo do sonho.” (p. 112).
“Um choque inesperado, não preparado e esmagador, age por assim dizer como
um anestésico. Mas como é que isso se produz? Segundo parece, pela suspensão de
toda espécie de atividade psíquica, somada à instauração de um estado de passividade
desprovido de toda e qualquer resistência.” (p. 113).

“(...) o estado de inconsciência, ou seja, o estado de sono, favorece não só a


dominação do princípio de prazer (a função de realização de desejo do sonho) mas
também o retorno de impressões sensíveis traumáticas, não resolvidas, que aspiram à
resolução (função traumatolítica do sonho). Em outras palavras: a tendência à repetição
do trauma é maior durante o sono que no estado vígil.” (p. 113).

“Caso se consiga estabelecer o vínculo entre essa passividade total e o


sentimento de ser capaz de viver O traumatismo até o fim (ou seja, encorajar o
paciente a repetir e a viver o evento até o fim, o que frequentemente só se produz
após inúmeros fracassos e, no começo, de um modo apenas parcial), então uma
nova espécie de resolução do trauma, mais vantajosa, e até mais duradoura
também pode produzir-se.” (p. 113).

“O primeiro sonho é uma repetição pura; o segundo é uma solitária tentativa de


resolução bem-sucedida, de uma forma ou de outra, e isso com a ajuda de atenuações e
distorções, quer dizer, sob uma forma falsificada.” (p. 113).

“A condição prévia de tal falsificação parece ser o que se chama a ‘clivagem


narcísica’, ou seja, a criação de um lugar de censura (Freud) com uma parte clivada do
ego.” (p. 114).

“O objetivo terapêutico da análise dos sonhos é o estabelecimento de um acesso


direto às impressões sensíveis, com a ajuda de um transe profundo, o qual regride por
assim dizer para além do sonho secundário, e faz reviver na análise os acontecimentos
traumáticos.” (p. 115).

“Parece que os pacientes, apesar da maior indulgência e liberdade de


relaxamento, atingem um ponto em que a liberdade deve ser, apesar de tudo, limitada
por razões de ordem prática. O desejo, por exemplo, de ter o analista constantemente
junto deles e o desejo de transformar a situação de transferência numa relação real e
duradoura permanecem insatisfeitos.” (p. 115/116).

“(...) consegue-se reduzir, por assim dizer, todo o tecido mórbido ao foco
traumático e quase todas as análises de sonhos gravitam em torno de um pequeno
número de eventos comoventes da infância.” (p. 116).

“Durante essas análises, os pacientes são arrebatados, às vezes, pela emoção;


estados de dores violentas, de natureza psíquica ou corporal, até mesmo delírios e
perdas de consciência mais ou menos profundas.” (p. 116).

“Incita-se o paciente, quando ele se encontra nesse estado, a dar explicações


sobre as causas das diferentes perturbações afetivas e sensoriais. A compreensão assim
adquirida proporciona uma piedade da parte restante e atormentada da pessoa, cuida
dela, dessa espécie de satisfação que é, ao mesmo tempo, afetiva e intelectual, por ela, e
tudo isso com extrema sabedoria e uma inteligência e merece ser chamada de
convicção.” (p. 116).

“Se conseguimos então relacionar novamente esse estado com os eventos


traumáticos infantis, desviando-os de nós mesmos, pode acontecer que o paciente capte
o momento em que, no tempo, saber e sentir tinham levado, por intermédio dos mesmos
sintomas, da raiva impotente a uma autodestruição, a uma dilaceração (Zerreissung) dos
conteúdos psíquicos em sentir inconsciente e em saber sem nada sentir, portanto, ao
mesmo processo que é postulado por Freud para o recalcamento.” (p. 116).

“A única ponte entre o mundo real e o paciente em transe é a pessoa do analista


que, em vez de uma simples repetição gesticulatória e emotiva, leva o paciente,
mergulhado no afeto, a um trabalho intelectual na medida em que o estimula
infatigavelmente com perguntas.” (p. 117).

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