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FILOSOFIA LATINO-AMERICANA

RESUMO: RAMAGLIA, Dante. A QUESTÃO DA FILOSOFIA LATINO-AMERICANA (La


cuestión de la filosofia latino-americana). p. 377-398 IN: DUSSEL, Enrique; MENDIETA,
Eduardo; BOHÓRQUEZ, Carmem (editores). El Pensamiento latino-americano del caribe y
“latino” (1300-2000); historia; corrientes; temas; filósofos. Ciudad de México: Ed. Siglo XXI,
2009, p.1117
a) O objetivo do trabalho é mostrar como ocorre a articulação entre a filosofia latino-americana
e a história das ideias (disciplina que procura entender como as ideias surgem, como se
difundem, como se transformam e como influenciam outras ideias), temática que tem se
intensificado desde o século XX;
b) O texto utiliza o termo Filosofia Latino-americana no sentido de uma filosofia que assume
explicitamente os problemas específicos da América Latina como objetivo de reflexão
(Aproximando-se da realidade histórica e social da região);
c) A reflexão filosófica latino-americana, traz ainda uma outra característica – a inclusão de
outras formas de expressão, que não se reduzem ao discurso filosófico, de modo que desta
forma “a riqueza e as peculiaridades do pensamento filosófico latino-americano são bem amis
compreendidas a partir da história das ideias” (p. 2);
1 A CONSTITUIÇÃO DA HISTÓRIA DAS IDEAIS E DA FILOSOFIA LATINO-
AMERICANA
a) As considerações sobre a problemática da filosofia latino-americana é um assunto relevante a
parte do séc. XX, com os inícios de alguns discursões;
b) O momento fundador da constituição da história das ideias como disciplina ocorre na década
de 1940, com a influência do Mexicano José Gaos (1900-1969) e do Argentino Francisco
Romero (1891-1962), ocorrendo a partir de e então uma tentativa de resgate histórico
filosófico;
- As indagações sobre as características especificas do pensamento latino-americano, vinham
sendo desenvolvidos também em outros países da América Latina e por outros autores,
contudo o centro dos debates acontecera em torno da figura de Gaos e Romero;
- O primeiro dos debates se refere a Possibilidade da existência de uma filosofia latino-
americana, característica de um pensamento universalista de carácter eurocêntrico;
- Levando a uma indagação sobre a autenticidade, originalidade ou ausência desta na
filosofia latino-americana;
- Bem como o tema da possibilidade de uma filosofia da América Latina ou uma filosofia na
América Latina, Gaos e Raniero, dão para esta indagação respostas diferentes:
1. Filosofia na América Latina – Enfatiza uma filosofia que acontece na América Latina,
com temas universais, que até então não teria desenvolvido um desenvolvimento
sistemático entre nós;
- Raniero, torna-se defensor desta primeira, onde a Filosofia na América Latina, teria como
principal objetivo nortear a tarefa filosófica na América Latina, de forma a “abreviar
distâncias” com a Europa, em vês de se curvar a busca de especificidades culturais;
- Distinguindo uma história da filosofia (que trata dos significados filosóficos das ideias,
com o desenvolvimento de doutrinas e sistemas) e a filosofia das Ideias (que dá
preferência aos processos históricos ocorridos em nossos países);
2. Filosofia da América Latina – Recolhesse a existência de um filosofar realizado pelos
latino-americanos, tendo como característica os temas latino-americanos,
- Gaos, adotando, adotando a ideia de Filosofia da América Latina, contribuiria para a
promoção de desdobramentos posteriores.
- Segundo ele a História das Ideias (contém uma forma mais ampla, pois inclui a história
da filosofia, que representa uma forma de estudo da filosofia das ideias, visto que busca
revelar como as ideias filosóficas atenderam as circunstâncias em que ocorreram);
c) “Filosofia da” – Gaos, postula uma série de considerações que possibilitam a existência de
uma filosofia do Mexico, e consequentemente uma filosofia das nações latino-americanas, de
forma que “é a realidade histórica que confere personagens determinados quando o filosofar
exercido no âmbito hispano-americano” (p. 6);
- A filosofia hispânica então, se concentrara a responder os seus problemas, principalmente os
de ordem sociopolíticas, fazendo com que exista uma filosofia eminentemente prática em
detrimento das preocupações metafisicas ou abstratas;
- Para revelar a especificidade da filosofia da América Latina, Gaos, sugere o uso do termo:
Pensamento, uma vez que este traduz uma noção mais ampla, segundo ele “não tem como
plano de fundo os objetivos sistemáticos e transcendentes da filosofia, mas imanentes,
objetivos humanos, que pela própria natureza das coisas, não se apresentam como os temas
eternos, [apresentando-se não] possibilidades de um sistemas, mas como problemas das
circunstancias, isto é, daquelas de lugar e tempo mais imediato e, portanto como problemas
de resolução urgente” (Gaos, J. 1944);
- As linhas de interpretação iniciadas por Gaos, vão promover nas décadas posteriores um
impulsionamento da reflexão, levando grupos de estudos e de trabalhos a se articularem,
destacando-se os trabalhos realizados pelo filosofo Mexicano Leopoldo Zea (1912-2004);
d) Leopoldo Zea (1912-2004) – Através de viagens de estudo por vários países da América
Latina entre 1945 e 1945, organizou intelectuais que trabalhavam em torno da mesma
temática, levando a um fortalecimento intelectual e institucional da temática. Desses grupos,
podemos chegar a algumas características como:
1. A partir dos desenvolvimentos alcançados pela história das ideias na região, avança-se
para a afirmação de uma filosofia própria que se reconhece nesse passado ideológico;
2. A postulação de uma tradição filosófica latino-americana é vista como uma
contribuição de um processo de autoconsciência e autoafirmação a um projeto de
unidade continental;
3. O reconhecimento da inserção local de as ideias filosóficas não exclui sua
universalidade, mas tendem a localizar o lugar da América Latina no Ocidente e as
relações mantidas com a cultura europeia;
4. Aplicar uma noção expandida de filosofia que permite reconstruir a diversidade de
manifestações expressivas que não se restringem a um modelo discursivo;
5. Esforços são feitos para considerar especialmente a origem e a função social que ter as
ideias estudadas em seu contexto histórico;
6. A possibilidade de afirmar a condição latino-americana da filosofia se refere à
historicidade dos sujeitos dentro de uma comunidade cultural.
- Segundo os aspectos, ocorre um deslocamento onde pouco a pouco é mais acentuado as
considerações sociais das ideais, principalmente no campo prático;
- Bem como retornam ao centro do debate questões relacionado a originalidade, autenticidade
ou identidade cultural; levando a abordagens negativas que defendiam um caráter de
imitação ou cópia da filosofia europeia, com a defesa de um complexo de inferioridade dos
latino-americanos;
- De acordo com o Circunstancialismo 1 há na América Latina, um conjunto de correntes de
ideias que podem ser assimiladas, como fruto de doutrinas originarias na Europa, como: a
escolástica, o romantismo, o iluminismo, o positivismo e o anti-positivismo, contudo são
incorporadas a situação histórico e social da América Latina, de forma que valorizassem
uma filosofia latino-americana e ao mesmo tempo trazia a ideia de uma imitação e
sentimento de inferioridade;
- Leopoldo Zea, oferece alguns pressupostos, para possíveis respostas:
Esse filosofar — diz Zea—, diferentemente da chamada filosofia universal, tem como
ponto de partida, a pergunta sobre o que é concreto, sobre o que é peculiar, sobre o que é
original na América. Seus grandes temas são perguntas sobre a possibilidade de uma cultura
americana; perguntas sobre a possibilidade de uma filosofia americana, ou dúvidas sobre a
essência do homem americano. [...] E, embora pareça um paradoxo, essa mesma pergunta
sobre o que é peculiar, é uma questão que tende ao conhecimento do que há de universal
nela, ou seja, comum a todos os homens. a peculiaridade procurada é a da sua humanidade,
a daquele que o torna um homem entre os homens; não o homem por excelência, mas o
homem concreto, o homem de carne e osso que é, e só pode ser, homem em qualquer lugar
do mundo, independentemente de sua situação ou, sim, por causa dessa mesma situação,
que é peculiar a todos os homens (Zea, L., 1965, pág. 33-34).

- Pressupostos esses que segundo uma interpretação historiográfica farão surgir em seus
escritos posteriores a postulação de uma filosofia da história;
- A noção de consciência constitui um conceito central da proposta filosófica de Zea, que é
entendida basicamente como uma autoconsciência histórica que deve ser alcançada por meio
da reflexão sobre os materiais fornecidos pela história das ideias, onde a filosofia própria e
autêntica do homem desta América que toma consciência de sua realidade;
- Assumir a defesa de uma Filosofia Latino-americana é para Zea “conhecer e incorporar sua
própria história e realidade, sob a ideia de incluir os setores sociais envolvidos na
formulação de uma identidade latino-americana autêntica ou não alienada” (p. 14);
2 SURGIMENTO DA FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO E SUA APROXIMAÇÃO EM
TORNO DE UMA HISTÓRIA CRITICA DA IDEIAS
a) A virada decisiva vivida pela filosofia latino-americana em relação a historiografia 2 das
ideias a partir de 1960, provocando grandes transformações;
- Como marco dessas transformações temos as teses de Auguto Salazar Bondy (1925-1974)
em seu livro Existe uma filosofia da nossa América? (1968), onde levanta questões sobre a
originalidade e autenticidade, o centro do seu debate é o tema da dependência;
- Segundo Bondy, falta autenticidade, porque os indivíduos vivem segundo a condição de
alienados e dependentes, desse modo, a inautenticidade da filosofia hispano-americana,
leva a uma imitação de outros modelos, que perpetua uma consciência alienada, que se

1
O Circunstancialismo é uma corrente filosófica contemporânea desenvolvida pelo filósofo francês François Jullien.
Essa filosofia tem como base a compreensão da realidade como algo fluido e dependente do contexto, ou seja, tudo está
em constante mudança e é influenciado pelas circunstâncias.
2
Disciplina que se dedica ao estudo da história da filosofia e ao desenvolvimento das correntes de pensamento ao longo
do tempo, sendo responsável por investigar as fontes primárias de informação, como textos e documentos históricos,
para compreender a evolução do pensamento filosófico e as transformações que ocorreram em diferentes períodos
históricos. Procurando identificar as influências externas que moldaram o pensamento latino-americano ao longo do
tempo, bem como as relações entre a filosofia e outras áreas do conhecimento, como a política, a religião e a ciência.
traduz como sendo uma imagem distorcida e falsa do mundo e da vida (Salazar Bondy, A.,
1968, pág. 85).
b) Consciência Alienante – Segundo Bondy, este déficit é responde a um problema na
dimensão estrutural das sociedades latino-americanas, que são condicionados pelos
fenômenos de subdesenvolvimento, dependência e dominação;
- Somente o cancelamento do subdesenvolvimento e da dominação poderiam levar a um
pensamento filosófico genuíno, segundo Bondy:
O problema da nossa filosofia é a inautenticidade. A inautenticidade está enraizada em
nossa condição de países subdesenvolvidos e dominados. A superação da filosofia é, assim,
intimamente ligada à superação do subdesenvolvimento e dominação de tal forma que, se
pode haver uma filosofia autêntica ela deve ser o fruto dessa importante mudança histórica.
Mas você não precisa esperar por isso; não precisa ser apenas um pensamento que sanciona
e coroa fatos consumados. Ela pode ganhar sua autenticidade como parte do movimento
para superar nossa negatividade histórica, aceitando-a e lutando para apagar suas raízes. A
filosofia tem, então, na América Latina, uma chance de ser autêntico em meio a a
inautenticidade que a cerca e a afeta: tornar-se a consciência lúcida de nossa condição
deprimida como povos e no pensamento capaz de desencadear e promover o processo de
superação dessa condição (ibid., pág. 89).
- Bondy não defende uma filosofia do zero, reconhecendo que “embora reconhecendo a
adaptação feita para resolver problemas local, prevalece um sentido imitativo e uma
recepção acrítica que revela superficialidade e pobreza teórica” (ibid., pp. 26);
c) Entre as respostas geradas pelo livro de Augusto Salazar Bondy, destaca-se a polêmica
sustentada por Leopoldo Zea na obra Filosofia latino-americana como filosofia sem mais
(1969):
- Tal como Bondy, Zea não defende uma filosofia do zero, acredita que é ignorância;
- Defende também, já em contraste com Bondy, uma filosofia que não seja alheia ao
ideológico, ou seja, uma filosofia que assume como reflexão a própria realidade e reafirme
a humanidade dos latino-americanos como de qualquer outro homem diante de sua
negação pela cultura ocidental;
- Zea, afirma que o pensamento autentico, seja esperado não só com o objetivo de alcançar o
desenvolvimento econômico e social, mas que sirva como base teórica para estabelecer
uma nova sociedade que impediria a subordinação e alienação para permitir a realização do
verdadeiro humanismo;
d) As polêmicas levantadas, são um antecedente das posições que levaram a filosofia da
libertação, promovida desde 1969, inicialmente na Argentina e espalhando-se por toda a
América Latina;
- Seguido por processos de emancipação nacional e social;
- Surgimento de expressões rebeldes de movimentos juvenis, fenômenos revolucionários de
orientação socialista e luta pela descolonização ou contra o imperialismo;
- Período, com forte tendencia a tomada de posições ideológicas e de discursões sobre como
a filosofia deve se posicionar para a defesa de um conteúdo libertador;
- Surgindo como categorias da filosofia da libertação, variantes como:
dependência/libertação, opressor/oprimido, centro/periferia, eurocentrismo, alienação,
alteridade, utopia, etc.;
- Acentua-se a dimensão politica da filosofia, orientada para a práxis emancipatória;
- O Sentido emancipatório é assumido como uma orientação para a reflexão filosófica que
parte da situação existente para sua transformação, o que leva a destacar sua tendencia a se
tornar uma filosofia da libertação que atende a articulação com as mesmas lutas
sustentadas no campo social e político;
- A filosofia da Libertação adquire novas projeções no nível continental através do I
Colóquio Nacional de Filosofia (1975, no Mexico), muitas são as interpretações dos que
participaram do encontro, como as de Enrique Dussel (1934-), Francisco Miró Quesada
(1918-), Arturo Roig (1922-), Ricaurte Soler (1932-1994), Abelardo Villegas (1934-2001)
e Leopoldo Zé.
- Alguns deles assinaram um manifesto, com os princípios de uma filosofia com um sentido
libertador, segundo o documento: “A realidade da dependência foi assumida no continente
latino-americano por um vasto grupo de intelectuais que tentaram ou estão tentando dar
uma resposta filosófica, precisamente, como uma filosofia da libertação”;
- A orientação emancipatória pressupõe o reconhecimento dos sujeitos latino-americanos em
sua capacidade de construir sua própria história de forma não alienada e,
consequentemente, a possibilidade de gerar um pensamento filosófico que contribua para
reverter as formas de opressão e subordinação para construir outro tipo de relações sociais
e internacionais.
e) Enrique Dussel (1934-) – Oferece em seu jornal, uma interpretação dos momentos ônticos,
ontológicos e metafísicos, com os quais identifica a trajetória da filosofia argentina até o
surgimento da filosofia da libertação;
- Apresentando sua posição em relação ao sentido filosófico-político que o movimento deve
assumir, segundo ele, não há libertação nacional sem libertação social das classes
oprimidas;
- “A filosofia da libertação latino-americana tenta repensar todas as filosofias (da lógica ou
da ontologia, à estética ou à política) do outro, os oprimidos, os pobres: o não-ser, o
bárbaro, o sem sentido”;
- Suas contribuições vão desenvolvendo teoricamente uma filosofia da libertação latino-
americana, estabelecendo algumas categorias e métodos, como: proximidade, totalidade,
exterioridade, mediações, alienação, libertação analítica, etc.
- “A filosofia que aspira contribuir para a práxis da libertação compreende que a crítica de
um sistema vigente deve ser feita a partir da afirmação da exterioridade do outro, de quem
é negado e excluído por uma racionalidade e totalidade dominantes” (p. 19);
- A Filosofia da Libertação tem segundo Dussel como núcleo de reflexão central a dimensão
ética e política, sobre a qual oferece uma contribuição substantiva com validade universal
a partir de uma perspectiva latino-americana.
- Colocando como tarefa crítica desconstrutiva das tradições filosóficas do Ocidente, em
particular no que diz respeito à racionalidade instrumental e ao discurso hegemônico que
estabelecem a partir da modernidade, na qual um sistema-mundo vem se configurando;
- A razão ético-crítica deve começar de solidariedade incondicional com os pobres, com os
excluídos material e culturalmente, para fundar um pensamento crítico transformador da
periferia social e geopolítica.
- A prioridade são os chamados por ele de “vitimas”, ou seja, que são afetados
negativamente por um sistema normativo e institucional, ou uma ética atual;
- Há uma profunda necessidade dessa vida humana realizar-se plenamente nos níveis físico-
biológico, histórico-cultural, ético-estético e místico-espiritual;
- De modo que, a afirmação da vida humana é, portanto, apresentada como critério de
discernimento e fundamento de toda ética. que supera a particularidade e sustenta a
enunciação de juízos normativos.
f) Ricaurte Soler (1932-1994) – Destacará para a necessidade de caminhar para a
concretização de uma história materialista das ideias, o que implica repensar a forma como
ela foi abordada, ou seja, sua historiografia, de forma que ele integra as contribuições da
história das ideias filosóficas e a historiografia sociológica, afirmando a necessidade de
revisão de ambas;
- Defende uma compreensão dialética da história que atende às especificidades do
desenvolvimento seguido na América Latina, segundo uma realidade social heterogênea e
contraditória na qual se manifestam as diversas ideologias que orientam seu curso;
g) Arturo Roig (1922-) – Em sua comunicação, mostra a mudança vivida pela filosofia latino-
americana sobre a fase inicial das primeiras décadas, mudança que se dá a partir da
radicalização de abordagens relacionadas à história humana, entendida como capacidade que
o homem tem que fazer-se uma vez que você cria seu mundo;
- Roig, incorpora em sua filosofia a virada linguística, destacando a natureza ideológica da
linguagem, onde as ideias, passam a ser consideradas signos linguísticos, de forma prática
se aplica aos textos uma leitura segundo sua época, e sociedade, em referência aos assuntos
e conflitos sociais existentes;
3 DESENVOLVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS
a) A Filosofia Latino-americana, é enriquecida por várias tendencias contemporâneas, levando
em conta as contribuições anteriores, mas sem deixar de refletir as controvérsias e reajustes
nesse campo;
- Existe na contemporaneidade, grandes produções bibliográficas sobre a história das ideias
que vão sendo divulgadas em livros e revistas, e são frutos principalmente dos grupos de
estudos que são desenvolvidos em torno da filosofia latino-americana, que possibilita
estudos interdisciplinares;
- A maior produção em torno da filosofia e da história das ideias acontece em países onde
existe uma profunda institucionalização do trabalho de pesquisa;
- Acentuou-se a atenção para as práticas políticas dos sujeitos que promovem essas
mudanças, com a participação dos novos movimentos sociais e dos problemas relacionados
à diversidade cultural;
- Acentuou-se um debate entre modernidade e pós-modernidade – levando a diferentes
interpretações, de modo que tais reflexões levam a debates sobre as diferenças culturais,
sociais e políticas;
b) Como principais contribuições temos:
1. Hugo Biagini (1938-) – Oferece a filosofia Argentina, uma reflexão sobre a
identidade e as diversas manifestações alternativas do pensamento em nível social e
político;
2. Pablo Guadarrama (1949-) – Em Cuma, coordena um grupo de pesquisa na
Universidade de las Villas, oferecendo um panorama do pensamento latino-
americano e cubano, segundo interpretações marxistas e da linha do humanismo;
3. Santiago Castro Gómez (1958-) - Argumenta que, embora a modernidade tenha
sido trazida para a América Latina pelos colonizadores europeus, sua
implementação foi feita de maneira desigual e contraditória. Alguns setores da
sociedade adotaram rapidamente os valores e as instituições modernas, enquanto
outros resistiram a eles. Afirmando que a modernidade na América Latina não pode
ser entendida apenas como um processo de ocidentalização, mas também como um
processo de reconfiguração e hibridização cultural.
c) Outra linha de trabalho, que recebe grande impulso é dada em relação a temas incluídos,
como as concepções passadas e presentes das culturas indígenas, bem como das culturas
afro-americana, de modo que não apenas se reduzem ao plano cultural, mas referem-se no
processo histórico que estabeleceram preconceitos ideológicos, que marginalizaram e
invisibilizaram setores da população;
4. Raúl Fornet-Beatncourt (1946-) – Um dos autores, que levam a perspectivas de
uma filosofia intercultural, é Fornet-Beatncourt, que em sua abordagem, parte da
contextualidade e historicidade de um pensamento filosófico enraizado em
diferentes culturas; onde a verdade é entendida como resultado do diálogo entre as
culturas, processo chamado “polifônico” onde diversas filosofias se convergem;
d) Outra tendencia desenvolvida, foi a reflexão sobre as principais figuras de mulheres
intelectuais, de modo a uma contribuição do feminismo na filosofia; buscando o
desenvolvimento do feminismo na América Latina, bem como as questões de gênero, classe
e etnia; de modo que busca “promover uma reconstrução da história das ideias que recupere
a memória e contribuir para o reconhecimento a mulher na constituição de sua subjetividade
contra as várias formas de tributação ideologia patriarcal”;
e) As tendencias mencionadas, são algumas das principais direções em torno da filosofia
latino-americana e a história das ideias, de modo que as reflexões contemporâneas não são
mais sobre a possibilidade da existência ou não da filosofia, mas da sua natureza e
significados;
4 RESUMO GERAL
a) José Gaos (1900-1969) foi um filósofo espanhol que se exilou no México em 1939, após a
Guerra Civil Espanhola. Gaos foi um dos primeiros a introduzir a fenomenologia de Husserl
na América Latina e, através de suas traduções, difundiu os trabalhos de Heidegger e Ortega
y Gasset. Sua abordagem filosófica era caracterizada por um forte interesse na linguagem e
na hermenêutica, e ele se destacou como um dos principais defensores do racionalismo
crítico no México. Gaos argumentou que a filosofia deveria ser compreendida como uma
crítica racional das ideias e que a verdade só poderia ser alcançada através do rigoroso
exame crítico das afirmações.
b) Francisco Romero (1891-1962) foi um filósofo argentino que desempenhou um papel
fundamental no desenvolvimento da filosofia na Argentina. Ele foi um dos fundadores da
Sociedade Argentina de Filosofia e autor de vários livros importantes sobre a filosofia da
história, incluindo "História da Filosofia Moderna e Contemporânea" e "O Homem e a
Cultura". Romero defendia uma abordagem histórica da filosofia e argumentava que a
filosofia não deveria ser compreendida como um conjunto de verdades universais e
atemporais, mas sim como uma construção cultural que reflete as preocupações e desafios
de cada época.
c) Leopoldo Zea (1912-2004) foi um filósofo e historiador mexicano que foi influenciado pelo
existencialismo e pela fenomenologia de Husserl. Ele desempenhou um papel importante no
desenvolvimento da filosofia latino-americana, argumentando que a filosofia deve ser
entendida como uma reflexão crítica sobre a realidade latino-americana e suas condições
históricas, políticas e culturais específicas. Zea argumentava que a filosofia latino-americana
deveria buscar uma síntese entre as tradições filosóficas europeias e as experiências locais
da América Latina.
d) Augusto Salazar Bondy (1925-1974) foi um filósofo e educador peruano que se concentrou
em questões de educação e desenvolvimento. Ele argumentava que a educação deveria ser
compreendida como um processo de libertação, em que as pessoas são capacitadas a pensar
criticamente sobre suas próprias condições e a transformar suas realidades. Salazar Bondy
defendia uma abordagem crítica à filosofia e argumentava que a filosofia deveria estar
enraizada nas experiências concretas das pessoas.
e) Enrique Dussel (1934-) é um filósofo mexicano que tem sido uma das vozes mais
influentes no desenvolvimento da filosofia latino-americana. Dussel argumenta que a
filosofia deve ser entendida como uma crítica ao sistema global de dominação e opressão
que perpetua a desigualdade e a exploração. Ele propõe uma abordagem filosófica centrada
na "libertação", que busca desafiar as estruturas sociais e políticas que perpetuam a injustiça
e a desigualdade;
f) Principais conceitos:
1. Dependência: refere-se à condição dos países da América Latina de estarem
dependentes das potências coloniais e imperialistas.
2. Colonialismo interno: trata da forma como o poder colonial ainda persiste na América
Latina, mesmo após a independência política.
3. Racionalidade eurocêntrica: refere-se ao uso exclusivo da razão europeia na produção
de conhecimento, ignorando outras perspectivas e tradições.
4. Transmodernidade: conceito proposto por Dussel, que busca superar as limitações do
modernismo e do pós-modernismo, abrindo espaço para a diversidade cultural e a
pluralidade de perspectivas.
5. Filosofia da libertação: corrente filosófica que busca uma compreensão crítica da
realidade latino-americana, com o objetivo de transformá-la em direção à libertação dos
oprimidos.
6. Americanismo: movimento cultural e político que busca a afirmação da identidade
latino-americana, valorizando a herança indígena e africana e rejeitando a imitação
acrítica da cultura europeia.
7. Filosofia do zero: proposta por Salazar Bondy, busca superar as influências estrangeiras
na filosofia latino-americana, começando do zero e construindo um pensamento original
a partir da realidade local.
g)

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