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NOTAS DO QUE FAZER NA CONJUNTURA POLÍTICA1!

- roteiro para conversação interna no MAM-

“O capitalismo não admite adjetivações,


é simplesmente isso:
um regime de relações sociais que fogocita
as energias vitais como meio de acumulação
pretensamente do valor abstrato.
Nesse processo, consome a vitalidade da terra
e humanidade do humano”

Horácio Machado Aráoz

Introdução:

A origem tardia do Movimento pela Soberania Popular na Mineração-MAM dentro de uma


conjuntura histórica de pelos menos três séculos de mineração tem como causa mais próxima
a Companhia Vale do Rio Doce-CVRD, o conflito Carajás2 e suas inúmeras mutações. Da sua
atuação em (MG) e no (PA), minas a céu aberto dentro da Floresta Nacional de Carajás, Estrada
de Ferro Carajás-EFC, Hidrelétrica de Tucuruí, assim, como o complexo minério metalúrgico em
Barcarena calcina nosso imaginário coletivo.

Estes projetos não são exceção aparte, eles se associam, são a continuidade do problema
mineral e sua imprevisibilidade sistêmica. A empresa trabalha para que a mineração em Carajás
não seja o exemplo catastrófico, como é o de Serra do Navio, no antigo território, hoje estado
do Amapá, do que foi o imenso desperdício de natureza. Como escreve Maurilio Monteiro, “no
caso do complexo minério metalúrgico em Barcarena, essa recolocação global de indústria
poluidoras e eletrointensivas (...) encontrou na ditadura civil-militar brasileira o parceiro mais
diligente dessa estratégica”.

No Nordeste, sobretudo na sua porção interiorana, na Bahia em Caetité, e no Ceará, no sertão


do Inhamuns o apetite das empresas por mineração de urânio remota a mesma estratégica.
Qualquer consulta nos órgãos do setor, ou publicação crítica sobre as dinâmicas da mineração
dará conta, de que o mapa geográfico sucumbi o da mineração!

Os debates parlamentares3 – 1889-1945 que marca o surgimento da CVRD, na década de 40,


soma-se ao o que foi a mineração no período colonial e refina (dentro de um cenário de pós-

1 A co-autoria dos argumentos desse texto é de Sabrina Lima, dos vários momentos de leitura conjunta de artigos, livros e conversações em reuniões
que tivemos o estilo literário adotado e a forma da exposição do conteúdo é de nossa responsabilidade.
2 Lucio Flávio Pinto. CVRD: a sigla do enclave na Amazônia (as mutações da estatal e o estado imutável no Pará). Belém: Cejup. 2003
3
guerra), o que iriamos viver, a política do e para o setor da mineração/CVRD e já espacializada
para a Amazônia, no sudeste do Pará, se sobressai, incontornável na terceira república com a
constituinte de 1989, e de lá até os dias atuais. No caso, do Grande Projeto Carajás, é ilustrativo
o subtítulo do Livro de Lucio Flavio Pinto, - as mutações da estatal, e o estado imutável do Pará.
A empresa ficou incontrolável e seguindo, este descontrole, advém, do aprofundamento que
se abateu sobre nós, da política de inserção econômica no sistema mundo, de maneira
subordinada.

A quase três décadas atrás, em 1993, a empresa publicou numa edição de 4 livros, para
comemorar os 50 anos de sua fundação -A História da mineração no Brasil-, da qual é primeira
depositaria, entre eles, “O Guia Bibliográfico para a História da Mineração do Brasil4” em sua
lista somam-se 1280 referências bibliográficas, estudos, teses, ensaios, e etc..., da trama que
estamos envolvidos. A prejuízo disto, o pensamento, que este feito atesta não se formou como
cultura crítica da sociedade. Mais ele existe e o desafio de traduzir isto em luta política não pode
ser inconveniente, ao movimento que se forma. E imaginamos, que de 1997 com a sua
privatização e marco temporal para a atual política mineral, estas pesquisas tenham
aumentado. Algumas informações indo de encontro a necessidade da “Coleção a Questão
Mineral no Brasil”, introduzida na estratégia de construção do MAM.

E independentemente da nomenclatura, “neoextrativismo progressista”, “neoextrativismo


conservador”, “reformismo fraco”, “consenso das comodities” ou qualquer outra
conceituação. A estratégia histórica da empresa se retroalimenta a dispêndio dos impasses na
luta política da conjuntura. A ênfase pública do “Redescobrimento” que propõem a VALE/SA
explicita a reorganização e a modernização capitalista no setor, dele deriva, sobre o seu
interesse, redefinições sobre uso industrial dos territórios, a política de inserção fiscal e
imposto, legislação ambiental, e a compensação financeira sobre a depleção dos minerais.
Assim, como a sonegação fiscal inerente a este tipo de empreendimento.

A política da empresa de relação com as comunidades se alterou profundamente, esta atrativa


e é verificável sua capacidade de se desvencilhar dos conflitos. As Margens da VALE/SA
coabitam outros projetos minerários, a VALE/SA independem a conjunturas políticas, outras
empresas não, mais são bloco de poder! Como veremos abaixo, aí está o centro da nossa tática
para o momento!

O lugar do MAM na luta de classes da mineração:

Se por um lado o esforço de nacionalização do conflito mineral de Carajás, com as “Mesas


redondas”, de 1993-1996 como envolvimento o de organizações do Pará, Maranhã e Rio de
Janeiro, com apoio do Sindicato dos trabalhadores metalúrgicos da Alemanha é só em 2007
com o conflito agrário da “Jornada Nacional em Defesa dos Recursos Naturais do povo

4 CVRD. Guia Bibliográfico para a História da mineração do Brasil. RJ. 199.396p.


brasileiro5”, em Parauapebas, organizada pelo MST do estado do Pará e outras forças locais que
ganhará a potência atual e se encontrará a outros conflitos, no Nordeste, no centro-oeste e no
Sul do país.

Isso permitiu, em duplo sentido, produzirmos uma forma de atuação que é o MAM a partir de
abril de 2012. Poderíamos ter ou resultados em outras formulas, em todo caso, do MAM o que
lhe conferirá ímpeto será a provocação de um tipo de pensamento e de ação. O discurso de
nascimento (que incomodou a muitos por parecer confuso) de que a “mineração não pode ser
oito ou oitenta”, ou de radicalidade moderada, (como se estivéssemos negando o conflito
central) tem muito mais haver com o nascimento do que outra definição, isto tem que ser
levada em conta, sobretudo, deve ser dialético, sem base social, poderá ser isso, com base
social, força social, poderá transcorrer outras mediações.

Também concorre para uma crítica visceral do período de boom da mineração outras
articulações, e outras se formam em nível nacional e até internacional, mais sem condições de
levar o conflito para a confrontação.

Mais esta forma que estamos estimulando ainda se situa em ambiente de tentativa, a duração
do MAM não é certa, tão pouco, não só de definição antecipada, teórica, da sua natureza
política, de tudo que já realizamos até aqui muito se precisa ainda testar e até se depurar.
Sobretudo porque não é de fácil assimilação a história que em três séculos, de contradição, em
um só aspecto, capital trabalho, não tenha havido esforços de mobilização, organização e até
contestação pública para além do plano artístico dos efeitos estéticos que a mineração
provocava na paisagem mineira, de Carlos Drummond de Andrade. A concatenação dos
embates não produzirá resultados e se consumará em ambiente restrito dessas lutas e
rebeliões (greve na CVRD, na CSN” e assim não se prolongaram até os dias de hoje?

As contradições da mineração não adquiriram, em tempo histórico bandeiras de luta na


abertura democrática dos anos de 1980, seja de origem ambiental, seja do mundo do trabalho
como aconteceu com outros temas de caráter social, como por exemplo, a reforma agrária,
Sistema único de Saúde, (SUS) e etc... Por tudo isso, por essa compressão histórica imaginamos
que as lutas que se abrem na mineração precisarão de uma nova síntese, uma mediação
possível de convencimento, da/e na sociedade. O momento é de encorajamento para isso, isso
porque, o lugar da luta do MAM, se evidência, como o elo central da contradição sistema,
portanto, um lugar perigoso! Se a conformação e abrangência da CVRD e suas associações, no
período anterior era a ditadura civil -militar, de novo, sobre outras expectativas eles são
governo, o “aliado mais diligente” da atual “estratégia” de reprodução de capital as custas de
uma completa desmobilização social!

O Capitalismo, como assina-la Rosa Luxemburgo, (...) “vive à custa de economias coloniais; vive,
mais exatamente, de sua ruína. E se para acumular tem absoluta necessidades destas é porque
está lhe oferecem a terra nutritiva à custa do qual se cumpre a acumulação (...) desde a sua

5 A Pauta política dos 15 pontos é atualíssima, 11 anos após a jornada de outubro novembro de 2007
origem, o capital utiliza todos os recursos produtivos do planeta...tem a necessidade de dispor
do mundo inteiro e de não encontrar limite nenhum na escolha de seus meios de produção”. O
ciclo de altos preços das comodities minerais, ficou para trás, a tendência é que volte a crescer
entre os anos 2020-2025, em momentos de altos e baixos rendimentos as contradições,
continuam imutáveis!

Em 2018, por exemplo, 3 anos após a catástrofe ambiental em Mariana (MG) entrou em
funcionamento o projeto S11D, a qualidade do seu mineral (o ferro denominado de blend) é o
melhor de todos atestam os especialistas e os negócios da empresa. Concorre para a
experiência pioneira pela tecnologia a ele projetado e junto a outros tantos empreendimentos
minerários país afora reabilitaram a dinâmica do que foi o Projeto Grande Carajás no sudeste
paraense. Em ambos os casos, qual o calcanhar de Aquiles da indústria extrativa da mineração?
É somente a espionagem como política da empresa de organização militar e a militarização
como coesão estatal, a desinformação como informação os elementos impeditivos das lutas
populares na mineração?!

Em meio a tudo isso, se abriu um momento político, desde 2003 e ainda não se fechou para
avançarmos na popularização da questão e nos parece que a grande novidade desde 2007 seja
o aparecimento do Comitê dos Territórios frente a Mineração em 2014, da ampliação do
significado do MAM, entre outras articulações, de âmbito local e regional. O encontro nacional
realizado em maio de 2018 é se impõem como um dos maiores acontecimentos políticos em
uma década de acumulo político. A sociedade nos permitiu chegar até aqui, o que talvez o
capital impeça no próximo período. Fatores de toda ordem não faltam.

A mineração é um tema potencial e se articula a outros problemas da sociedade brasileira. Por


isso o discurso de nascimento do MAM e sua pedagogia tem que ser preservada e amplificada,
mais abrem-se nessa conjuntura outras possibilidades, outros indicativos, que precisaríamos
verificar fator de cada uma delas, e não toma-las como isoladas, sobretudo nos aspectos
seguintes:

 É inegável que estamos em um período de descenso das lutas de massas no Brasil,


nascer nesse ambiente político é um contrassenso, sobretudo pelo baixo apelo que
qualquer pauta popular tem na sociedade;
 A ausência de um pensamento crítico na questão mineral que contribui para a cegueira
do alcance da tragédia mineral. A ausência de democracia nas decisões impediu uma
cultura participativa!
 As mutações do mundo do trabalho – as derrotas das forças organizadas no interior da
barbárie mineral.
 A ausência de uma estratégia de poder popular –que organiza e estimula as lutas gerais
na sociedade, (estamos no limite da que existe), a de caráter eleitoral. Sem lutas gerais
da sociedade, dos setores populares a previsibilidade de lutas radicalizadas na
mineração, se isolam nas nossas decisões.
Sobre a natureza do momento:

Fora as bravatas do homem mediano, do “soldado da guerra cultural” analisado pela ensaísta
Eliane Brum. O centro da estratégia do bloco de poder, como disse a poucos dias, o ministro da
economia do partido do Chicago Boys, será este, “ ouve uma mudança no eixo, após 30 anos de
revezamento centro-esquerda há agora aliança de conservadores nos costumes e os liberais na
economia, nossa democracia estava capenga sem isso”. Este discurso implica, em que os
capitalistas ultraliberais, tiraram, com ajustes fiscais terroristas, os direitos sociais, das camadas
populares por um lado, e por outro traduzirá os territórios em mercados de terra, petróleo e
mineração tudo o que lhe convir. Sem pressa para delimitar o que já estamos sofrendo, em
particular é necessária uma visão mais ampliada do que podemos se envolver.

 Organizar os territórios urbanos e rurais com e pela mineração pela ação programática
das Assembleias Populares6, (clarear as tarefas no âmbito municipal) e o que de base
social precisamos ter em 2019 nos estados?7, quais as formas organizativas precisamos
desenvolver, entendendo a cultura política de cada lugar e vínculo direto com as
contradições;
 Construir intervenções organizadas nos parlamentos municipais, dar trabalho a Câmara
de Vereadores, nos interessa popularizar o tema, exigir CPI´S onde existir correlação de
forças para tal;
 Retirar as secretarias de mineração do lugar inerte que se encontram, pressiona-las para
suas atribuições, sobretudo com o novo CFEM.
 Criar conselhos municipais de debate do uso do CFEM8.
 Se envolver nos temas da Lei Kandir, ir acumulando com todos, que podermos envolver
Sindifisco, assembleias Estaduais, Ministério público estadual, federal e etc...rumar para
formas de politização na sociedade, tipo um plebiscito, mexer com o imaginário social.
 Estimular a formação de CPI´s nas assembleias, sobretudo com os projeto críticos
minerários nos estados9. Eleger um, ou quantos for possível.
 Criar espaços políticos para debater os planos de mineração nos estados- conhecer para
contestar as ambições do capital, transmutado em leis.
 Priorizar nos estados jornada de debate sobre o que a mineração ou o que é tal projeto
que querem implementar-, podemos eleger um período.
 Enumerar pelos Estados os maiores devedores de CFEM e sonegadores de impostos e
publiciza-los e denuncia-los juridicamente.
 Estimular o debate e a prática das alternativas na mineração.

Os provimentos de posição política:

6
7 Revisar o debate de natureza do MAM nos documentos publicados.
8 Dos estudos que fizemos da cartilha “A luta popular pela soberania popular na mineração” resultou no conjunto de indicativos, de reelaboração,
mais a transformação dela em outros, documentos, vídeos, cartazes e etc...
9 Estamos em conversação com a Comissão dos direitos humanos da Assembleia Legislativa do Pará, de uma coleção, denominada de “o parlamento

crítico”, publicaremos o voto sobre a CPI da Hydro, em Barcarena para adentrarmos nos ambientes institucionais.
1. O Movimento pela Soberania Popular na Mineração- MAM é um movimento recém, de
uma questão histórica, o problema mineral brasileiro, hoje de caráter capitalista,
rentista, problema de origem. É um conflito de ecologia política10, de classes, de modelo
de desenvolvimento, de perspectiva civilizatória.

2. Obliterando11, tivemos um ganho político, ao não deixar se consolidar a concepção de


atingido da indústria extrativa da mineração, como curso natural dos debates que se
instalou antes e durante a década do super ciclo da mineração no Brasil, de 2003 a 2012,
ou popularmente conhecido (atingido da mineração) muitos ainda nos identificaram
assim, mais o núcleo do pensamento e da ação não se origina daí.

3. Conectamos ao problema mineral, do que conseguimos desvendar até agora, a questão


da soberania política, soberania popular. O nome da organização já consolida a
estratégia do projeto de luta pelo poder e supera o indivíduo político fechado.

4. A Mineração no Brasil, do ciclo aurifico12 colonial e de política de Estado dependente


(antes e durante a era Vargas onde o código da mineração viera ser a expressão da
empresa estatal13) e de política neoliberal dos anos de 1990, do século passado, não (é)
para distribuir renda e gerar desenvolvimento para a sociedade.

5. Ela é entendida e defendida institucionalmente, como forma, de crescimento


econômico e de equilíbrio da balança comercial14 apenas, de base de cálculo, de
importação e exportação. Daí, derivam a política de impostos, inserções e
compensações pela depleção15 dos bens finitos. A mais baixa compensação do mundo.
Reservando, a si mesma a sua maior contradição do sistema mineral em curso do pais.

10 “Vincular o marxismo e a transição ecológica pode parecer à primeira vista uma tentativa de união de dois movimentos e discursos totalmente
diferentes, cada qual com sua própria história e lógica: um que tem a ver principalmente com as relações de classe outro com a relação entre os seres
humanos e o meio ambiente. No entanto, historicamente o socialismo influenciou o desenvolvimento do pensamento e da prática ecológicas,
enquanto a ecologia informou o pensamento e a prática socialistas. Desde o século XIX, a relação entre os dois tem sido complexa, interdependente
e dialética” Marxismo e Ecologia: fontes comuns de uma Grande Transição* Jhon Bellamy Foster.
11 Verbo, transitivo direto fazer sair ou fazer deixar de existir; destruir, eliminar, suprimir. "à erosão obliterou algumas praias do Nordeste" Dicionário
12 O ciclo vigorou com força durante os primeiros 60 anos do século XVIII, altura a partir da qual a produção de ouro começou a decair devido ao

esgotamento progressivo das minas da região explorada, que hoje compreende os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia.
13 Consultar, da origem da CVRD a privatização da empresa www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete.../companhia-vale-do-rio-doce-cvrd

14
Balança comercial é um termo econômico que representa as importações e exportações de bens entre os países.
Dizemos que a balança comercial de um determinado país está favorável, quando este exporta (vende para outros países) mais do que importa
(compra de outros países). Do contrário, dizemos que a balança comercial é negativa ou desfavorável.
A balança comercial favorável apresenta vantagens para um país, pois atrai moeda estrangeira, além de gerar empregos dentro do país exportador
. Em 2017, o saldo da balança comercial brasileira foi positivo (superávit) em US$ 67 bilhões (maior desde 1989). No ano de 2017, o Brasil exportou
US$ 217,7 bilhões e importou US$ 150,7 bilhões. Felizmente, o resultado da balança comercial foi muito melhor do que o do ano anterior (superávit
de US$ 47,692 bilhões), sendo o maior desde 1989 (início da série histórica). Real desvalorizado, queda no valor do petróleo e retomada do
crescimento econômico no Brasil e no mundo influenciaram o resultado.
15 Perda ou diminuição de qualquer substância que esteja armazenada num organismo ou órgão. Estado de esgotamento causado pela perda

excessiva de sangue. [Por Extensão]. Qualquer exaustão causada pela perda de elementos necessários à boa manutenção do organismo;
esgotamento. [Ecologia] Extração contínua de um recurso natural que ocasiona a sua escassez ou desaparecimento. Etimologia (origem da
palavra depleção). Do latim depletio.onis. Dicionário Online de Língua Portuguesa
6. Ao mirar este aspecto na sua concepção de luta política, o MAM resolve o dilema de
qual soberania política estamos formulando. O que será o nosso programa de soberania
Popular na mineração, natureza e caráter político em inúmeras bandeiras de lutas
populares!

7. A mineração gera o -desenvolvimento do subdesenvolvimento-16 aqui está o elo de


análise e estruturação da ação, são, pelo nosso tamanho, geográfico e numérico os
elementos iniciais para lutar contra a ideia de desenvolvimento e progresso do
complexo da mineração (mina, barragem, ferrovia, embarcação) e a inevitabilidade do
capital, da minério dependência.

8. Estar atentos para não fazermos concessão teórica, mais dar ênfase a uma análise
estrutural da mineração no brasil (toda organização precisa, independente do que lhe
parece contraditório, ter sua análise de conjuntura, sobre o que luta) 17 e no mundo, ou
como já nos alertou o grupo de pesquisas PoEMAS, analisando a Rede Extrativas
Globais18, cuja logica resultou Mariana, (MG) Barcarena(PA) e resultará outras
catástrofes sistêmicas!

9. A reorganização do capital e do trabalho no plano mundial19 nas últimas três décadas


reabilitou a dialética da repetição, em dois polos, importantes para estudo e
identificação do que temos pela frente. Como fator externo, a transformação pelo
mercado, dos produtos primários em comodities, e consequentemente estendido a
outros “recursos” no caso os minerais. Este detalhe, é o centro do que vivenciamos
hoje, e assinala, a capacidade de endividamento e pagamento do país e o pagamento
do valor da moeda externa, em dólar, são as interfaces que reprimarizam as economias
nacionais/globais.

10. Neste sentido a tríade, do ambiente de privatização derivado dessa política na década
de 90, se asseguram, no plano real partir de 1994, Lei Kandir de 96 e o
macrozoneamento ecológico ambiental que permitiu a mercantilização da natureza em
larga escala. O segundo fator, para que isso tenha se formado foi que os países tiveram
que dar total segurança de capital, no caso especulativo, com a construção do mercado
futuro20, mais conhecido como a financeirização da economia, onde cada país, para dar

16 Os teóricos da dependência, viam desenvolvimento e subdesenvolvimento como posições funcionais dentro da economia mundial, ao invés de
estágios ao longo de uma escala de evolução das nações. A teoria da dependência trata do relacionamento das economias dos países chamados
"periféricos" com as economias dos países chamados "centrais" ou "hegemônicos", e que estas relações econômicas "dependentes" por parte dos
países periféricos em relação às economias centrais, criavam redes de relações políticas e ideológicas que moldavam formas determinadas de
desenvolvimento político e social nos países "dependentes" ou "periféricos"
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_depend%C3%AAncia#Depend%C3%AAncia,_setor_externo_e_extra%C3%A7%C3%A3o_do_excedente
17 Desde de 2015, estamos indicando para a militância do MAM e para as forças que se tornaram aliadas do debate mineral, que o livro 1 “Carajás, 30

anos de desenvolvimento Frustrado”, de Tadzio Coelho, da questão coleção a questão mineral no Brasil, possibilita a introdução essa análise.
18 A Estratégia Corporativa da Vale S.A.: um modelo analítico para Redes Globais Extrativas: http://www.ufjf.br/poemas/versos/edicao-atual/
19 http://www.dmtemdebate.com.br/reorganizacao-do-capitalismo-em-ambito-mundial-desindustrializacao-e-seus-efeitos/
20 Os contratos futuros são utilizados tanto para a proteção (hedge) quanto para a especulação. Por exemplo, se um investidor possui

um passivo em dólar, e teme que a cotação da moeda vá aumentar, pode comprar contratos futuros à cotação atual, de forma que o que ele perderia
ao ter uma dívida maior a pagar, ganha ao ter um contrato a um preço maior a vender (devido à valorização da moeda), ficando sem lucro nem
prejuízo. Da mesma forma, se a cotação cair, o que ele ganharia na redução da dívida, perde no mercado futuro devido à desvalorização do contrato,
segurança jurídica ao capital, precisa colocar toda a sua riqueza, neste ambiente de
investimento.

11. E o mecanismo para isto, no Brasil, além da completa mudança na política ambiental e
uso territorial é o PM2030 (Plano de mineração 2030). E com ele o atual, e incompleto,
votado recentemente após quase (05) anos de impasses, o código da mineração. Só se
completou com o golpe, jurídico, mediático, parlamentar, de 2016, que arrastou consigo
toda a nossa contestação.

12. A reestruturação produtiva no setor mineral, deriva, no curso dos últimos anos, como já
assinalado, lucro extraordinário ao capitalista da mineração, esgotamento em ciclo
curto da força de trabalho, prejuízo ecológico ambiental para as sociedades de base
mineral- regiões, municípios, estados e etc... (No neoliberalismo e ou no progressismo,
agora ganhará a vertente ultraliberal, obedecendo esta ordem identificado acima, É a
lógica -do sistema mundo, uso intensivo dos bens naturais, ideologização e cientificação da
natureza pelo mercado e superexploração da força de trabalho21-.

13. Marcando claramente, que a luta é territorial, como também no mundo do trabalho, em
especial onde já prevalece a automação do serviço, de cava e circulação, da tecnologia
inteligente, em profundo contrassenso na escala da mineração, realizar capital sem
trabalho. É indispensável na tática política se articularmos neste conflito, capital e
trabalho.

14. O lugar político do MAM na luta de classes é a negação e mudança do modelo de


extração mineral, que dependerá de acumulo de força popular (embora sejamos um
movimento setorial, a nossa luta só será decisiva na sociedade), e a conjunção de um
Estado democrático popular. A luta pelo poder e pelo Estado, deverá ser componente
da estratégia política. Há pelos menos três estágios de pauta política e econômica que
já atuamos, ainda sem se posicionar como algo pragmático, superação da mineração,
mitigação, e pautas institucionais, como o código da mineração. Estes três elementos
precipitam a pratica política da organização, onde quer que esteja se desenvolvendo!

15. Uma possibilidade, uma não esgota a outra- para resolver o envolvimento da sociedade,
está na tática que vamos desenvolver, se for de construir somente o instrumento

ficando, de qualquer forma, sem prejuízo. Do outro lado da operação está o especulador, que aposta em uma cotação futura com o intuito de ter
lucro no mercado de futuros, sem um passivo associado - desta forma, o especulador é necessário para aquele que quer proteger-se, e vice-versa.
Além da cotação de moedas, são negociados ainda futuros de índice, preços da saca de café, de soja, etc., e produtores destes insumos comumente
usam os mercados futuros para se proteger das variações de preço. https://pt.wikipedia.org/wiki/Contrato_de_futuros
21 O conceito de superexploração do trabalho foi estabelecido no final da década de 1960, enfatizado sua relação com a gênese e funcionamento

da acumulação capitalista. A partir da condição de dependência, a burguesia nacional dos países periféricos mesmo após a industrialização e
modernizações do século XX, torna-se sócia minoritária do capital transnacional, tendo que repartir a mais-valiagerada internamente com eles.
Para compensar essa menor participação na repartição da acumulação gerada em seu próprio país, a burguesia nacional dos países periféricos
utiliza-se de mecanismos extraordinários de exploração da força de trabalho, que visam ampliar a mais-valia extraída do trabalho,
a superxploração do trabalho. Assim explicava-se a situação latino-americana de precariedade das condições de trabalho, baixos salários e longas
jornadas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_depend%C3%AAncia#Depend%C3%AAncia,_setor_externo_e_extra%C3%A7%C3%A3o_do_excedente
político, o MAM, iremos, se desenvolver em ambiente restrito, mais se queremos
construir um pensamento e uma consciência crítica, não devemos deixar escapar,
qualquer ambiente que nos favoreça esse diálogo com os grupos sociais, cuja a tragédia
da mineração lhe afeta, de diversas formas!

16. O município minerado ou sitiado pela mineração deverá ser o local de atuação do MAM.
Devemos jogar duro, pela mobilização popular, contra as elites predatórias locais,
disputando o sentido da renda mineração, seja, em âmbito estadual e nacional, ao nosso
favor. Para cada escala da indústria da mineração22, inserção fiscal, CFEM, Lei Kandir,
sonegação fiscal temos aliados na sociedade e agora entra o problema do fim da taxa
hídrica da água23 usada para fins industrias (das hidrelétricas e da mineração) e os
direitos da natureza.

17. As definições e readequações táticas acima implica na absorção de novas tarefas e na


definição –na luta- da natureza da organização, e que tipo de estrutura de direção e
participação precisamos construir para tal necessidade estratégica, quais as
caraterísticas devemos impulsionar como cultura política. A definição da tática definirá
a política de alianças.

Por fim algumas considerações para não nos deslocarmos do tempo real das disputas.

 Como melhorar a vida do povo. As saídas não são setoriais, de grupos políticos
somente, elas estão conectadas a ideia de bloco de poder, de mobilização e
acumula de força permanente.
 É um movimento consciente, pensado, mais também com e sem espontaneismo
das massas, mais sobretudo com elas.
 Saber atuar no improviso e na imprevisibilidade, distinguindo seus participantes.
Estamos à beira de uma conflagração política.

“Meu nome é tumulto e escreve-se na pedra”

CDA

Charles Trocate,
Sabrina Lima

Marabá, sudeste do Pará


4 de janeiro de 2019

22 Foi exitosa, a CPI da Hydro Alunorte, o uso dos seus argumentos pode potencializar muitos debates no interior das lutas jurídicas.
23 Ver matéria jornalística.

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