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OBTENÇÃO DE CARVÃO A PARTIR DE RESÍDUOS DE COCO E

PRODUÇÃO DE FERRO

Anderson Ferreira¹; Christian Gibaldi¹; João Pedro Fernandes¹; Maicon Corrêa¹; Patrick
Maciel¹; Phillipe Batalha¹
¹Universidade Federal do Rio de Janeiro - campus Macaé/ Engenharia Mecânica

Resumo: O Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial de produção de coco e, nos
últimos anos, está cultura vem se destacando economicamente pela gama de produtos que
podem ser explorados. Com esse dado chega-se à conclusão que os resíduos provenientes
do consumo de coco são abundantes, e por esse motivo foi escolhido a fibra do coco como
matéria orgânica para estudar os produtos provenientes da pirólise e também seu potencial
energético. Como texto-base foi utilizado o artigo ESTUDO DOS PRODUTOS DA
PIRÓLISE E POTENCIAL ENERGÉTICO DA FIBRA DE COCO DA BAÍA. O
processo para obtenção de carvão consistiu, primariamente, na retirada de umidade e de
materiais voláteis da fibra deixando-a por um período de 8 horas na temperatura de 105ºC.
Nessa etapa verificou-se uma perda média de 88% de matéria. E como etapa final para a
geração de carvão a fibra foi aquecida até 370ºC a uma taxa de aquecimento de 40 ºC/min.
Por fim, o carvão produzido apresentou uma perda de 75% de massa em relação a fibra
desumidificada. A partir do carvão, bentonita e minério de ferro, foram produzidas 10
pelotas de ferro com uma massa total de 14,25g. Após análises, verificou-se que 62% da
massa total se transformou em ferro.
PALAVRAS-CHAVE: Fibra de coco, carvão, aquecimento, ferro.

1. Introdução
Segundo dados da EMBRAPA de 2009, o Brasil possui cerca de 280 mil hectares
cultivados com coqueiro, distribuídos, praticamente, em quase todo o território nacional
com produção equivalente a dois bilhões de frutos. Com uma concentração de 70% da
produção, o Norte e o Nordeste despontam entre as regiões que mais produzem coco.
As cascas geradas por este agronegócio representam entre 80% a 85% do peso
bruto do fruto e cerca de 70% de todo lixo gerado nas praias brasileiras. O material
descartado em aterros e vazadouros é, como toda matéria orgânica, potencial emissor de
gases estufa (metano), e, ainda, contribui para a redução da vida útil desses depósitos.
Favorece, também, a proliferação de vetores de doenças, contaminação do solo e corpos
d'água, além da inevitável destruição da paisagem urbana. (EMBRAPA, 2004)
Em face a esses dados apresentados, surge a motivação de estudar o processo de
pirólise da fibra do coco que posteriormente será comparado a outros trabalhos que se
utilizaram de diferentes matérias orgânicas nos seus respectivos processos de pirólise.
2. Objetivo

● Avaliar o potencial energético da fibra de coco verde;


● Estabelecer a quantidade de carbono presente na fibra de coco verde;
● Obter ferro através do carvão de fibra de coco e comparar com o modelo teórico
da reação.

3. Metodologia

● Materiais utilizados

Utilizou-se no procedimento da obtenção do carvão os seguintes materiais:


Balança Analítica Marte Modelo: AD500 ;
Cadinho (pequeno)
Cadinho (grande)
Forno JUNG modelo: LF0231303

● Procedimento experimental

O coco é dividido em 3 camadas principais, a maior fração do coco é composta


pelas fibras ou mesocarpo que é o nosso objeto de interesse. Para a realização do
experimento as fibras foram separadas dos demais constituintes e colocadas ao sol para
desidratar por 3 horas, tendo feito isso, separou se em 3 amostras para analisar algumas
propriedades e comparar os resultados, além disso, foram medidas as massas das fibras
com auxílio de uma balança analítica.

Tabela 1. Massa de fibra de coco


Amostra 1 2 3
Massa (g) 51,018 51,880 25,984

Em um segundo momento do procedimento começa a utilização do forno para a


retirada de umidade, impurezas (substâncias voláteis) e a carbonização da fibra.
1. Retirada da água (H2O)

Fig. 1. Desidratação da fibra de coco

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As fibras foram colocadas em 3 amostras no forno a uma temperatura inicial de
30°C e uma taxa de aquecimento (teórica) de 1°C/min até uma temperatura final de
aproximadamente 105°C e mantida a essa temperatura por 148 minutos.
Com relação ao tempo de aquecimento foi observado que o forno não atingiu
105°C no tempo estipulado pelo programa (75 minutos), sendo o tempo real
cronometrado de 148 minutos. Após atingir a temperatura final o forno foi mantido na
mesma por mais 180 minutos. A medida de massa após essa primeira fase é mostrada na
tabela abaixo.
Tabela 2. Massa de fibra após processo de desidratação
Amostra 1 2 3
Massa(g) 8,182 6,034 2,952
% Unidade 83,96% 88,36% 88,63%

2. Retirada de substâncias voláteis e carbonização da fibra

Fig. 2. Processo de obtenção de carvão

Nessa fase a taxa de aquecimento foi de 40°C/min e a temperatura inicial do forno


estava por volta dos 30°C, a temperatura final na retirada da primeira amostra ao abrir o
forno estava em 380°C e as amostras 1, 2 e 3 permaneceram no forno por 12 m e 15s,
12m e 40 s e 13m e 04s respectivamente.
Tabela 3. Massa de carvão de fibra de coco

Amostra 1 2 3
Massa(g) 1,911 2,200 1,129
% de Voláteis 76,64% 63,53% 61,75%
% Total 96,62% 95,75% 95,65%

3. Obtenção das pelotas de Ferro

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Fig. 3. Processo de obtenção de Ferro

Nessa última etapa o carvão obtido na fase anterior passou por um processo de
moagem para ser misturado aos demais componentes e formar as pelotas de 1,5 g, da qual
5% sua composição se dar por bentonita, restando 1.425g divididos respectivamente em
76,19% de minério de ferro (Fe2O3) e 23,81% de carbono, medidas essas, baseadas em
cálculo estequiométrico.
As pelotas foram ao forno a uma temperatura inicial de 32°C e submetida a uma
taxa de aquecimento de 10°C/min até chegar a temperatura final de 1100°C levando um
tempo aproximado de 107 minutos dentro do forno.

4. Resultado
Através das análise das informações obtidas durante a parte experimental é
possível destacar que a transformação de massa antes da desidratação da fibra de coco até
a carbonização da fibra sofreu em seu caso mais extremo um total de 96,62% de redução
em relação a sua massa inicial, onde a maior parte desta perda (cerca de 88%) foi devido
a vaporização da água (H20) e substâncias voláteis contida na fibra e outra parte em
cinzas, que está diretamente relacionado com a presença de substâncias minerais na fibra
do coco. Desses 3,38% restantes de massa da fibra do coco já carbonizadas cerca de 45%
é realmente de carbono que seria a parte útil para o experimento, onde utilizou-se este
carvão para misturar com minério de ferro e a bentonita, como fora descrito
anteriormente.

Considerando a reação química teórica para obtenção do ferro:

2Fe2O3 + 3C → 4Fe + 3CO2

Com base nos resultados das massas obtidas, chega-se a uma formulação
experimental 0,006Fe2O3 + 0,0126C → 0,0155Fe + 0,0126C que é uma correção da
expressão teórica a fim de preservar a veracidade do experimento, pois na reação teórica
é considerado somente carbono. Já no experimento foi utilizado o carvão como fonte de
carbono que possui em torno 45 % de carbono.

Considerando esta reação química experimental chegamos à previsão de 70% de


Ferro e 30% de Carbono como produtos da nossa reação.

A massa total das 10 pelotas foi de 15g onde 5% dessa massa e devido a bentonita
como já mencionado.

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Tabela 4. Massa das pelotas antes do aquecimento a 1100ºC

Pelotas de Ferro antes do aquecimento

Pelotas Mistura Fe2O3 Carvão

Massa Total(g) 14,25 10,885 3,3928

Massa unidade (g) 1,425 1,0857 0,3392

Considerando a proporção dada pela estequiometria utilizada no experimento de


76,19% de Minério de ferro e 23,81 % de Carvão.

Tabela 5. Massa das pelotas após o aquecimento a 1100ºC

Pelotas de Ferro depois do aquecimento

Pelotas Mistura Fe CO-2

Massa Total(g) 14,25 8,664 5,586

Massa unidade (g) 1,425 0,870 0,555

Fazendo uma análise bem simplificada chegamos à seguinte conclusão que 62%
da pelota se transformou em ferro outros 38% foi perdido para atmosfera local em forma
de CO2-, que foi um resultado razoavelmente próximo do esperado com desvio padrão
de 5,6% do teórico.

5. Conclusão

Com base na análise dos estudos sobre o coco no Brasil é possível concluir que a
fibra de coco é uma interessante matéria prima para obtenção de carvão, principalmente
devido a sua disponibilidade, desta maneira resíduos que seriam descartados podem ser
aproveitados e ainda se tornar um modelo economicamente viável. Outro fator que
merece destaque é que após a realização experimental para a obtenção de carvão
constatou-se que o coco é constituído em sua maior parte por água e por este motivo pode
não ser tão atrativo se comparado a outras fontes, como o eucalipto.
Por fim o ferro obtido experimentalmente se aproximou razoavelmente ao modelo
teórico e as diferenças entre os modelos comparados se devem as limitações físicas para
a realização deste experimento, resultando em imprecisões que não chegaram a
comprometer o sucesso do mesmo.

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6. Referências

● CORTEZ, L. A. B.; PEREZ, J.M.M.; ROCHA, J.D. et al. PROCESSAMENTO


DE CASCA E FIBRA DE COCO VERDE POR CARBONIZAÇÃO PARA
AGREGAÇÃO DE VALOR. UNICAMP, Campinas-SP, 2009
● MARTINS, A. P. WATANABE, T. SILVA, P. L. R. et al. Aproveitamento de
fibra de coco verde para aplicabilidade têxtil. Revista Redige. 4(2):1-16, 2013.
● NOGUERA, P; ABAD, M; NOGUERA, V; PURCHADES, R; MAQUIERA, A.
Coconut coir waste, a new and viable ecologically-friendly peat substitute.
Acta Horticulturae, Leuven, BE, p. 279- 286. 2000
● PAZ, E.C.S.; OLIVEIRA, L.R.A.; PEDROZA, M.M. et al. ESTUDO DOS
PRODUTOS DA PIRÓLISE E POTENCIAL ENERGÉTICO DA FIBRA
DE COCO DA BAÍA. Instituto Federal do Tocantins, Tocantis. 2018
● RIZZETI, T. M.; Diniz J.; Cardoso, A. L.; Villetti M. A.; Martins A. F.; Martini
P. R. R.; Rambo, M. K. D.; Belivaqua, D. B. Poder calorífico de bio-óleo e
carvão da pirólise de biomassas residuais. In: ENCONTRO DE QUÍMICA DA
REGIÃO SUL, 16, novembro de 2008. Anais... Rio de Janeiro, UERJ, 2008.
Disponível em http://www.furb.br/ temp_sbqsul/_app/_FILE_RESUMO_CD/
453.pdf. Acesso em: 10 junho. 2019.
● CUENCA, M.A.G.; MARTINS, C.R.; JUNIOR, L.A.J. Estatística da produção.
Disponível em
https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/coco/arvore/CONT000fo7hz6ox0
2wyiv8065610d6ky3ary.html. Acesso em: 10 de junho. 2019
● EMBRAPA. Beneficiamento da casca de coco verde para a produção de fibra
e pó. Disponível em https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-
/produto-servico/33/beneficiamento-da-casca-de-coco-verde-para-a-producao-
de-fibra-e-po. Acesso em: 10 de junho. 2019

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