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O vale do Vaiont, situado a cerca de 100 km ao norte de Veneza, consiste em um vale

O CASO DE VAIONT, ITÁLIA, 1963


profundo e apertado, cujas condições fisiográficas são muito propícias à construção de
uma barragem. Devido a tais condições, na transição das décadas de 50 para a de 60
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS do século XX, foi aí construída uma grande barragem destinada à produção de energia
elétrica, que ficou conhecida por barragem de Vaiont.
Apresenta-se o caso do deslizamento de massa de grandes proporções ocorrido em
1963, na Itália, à margem esquerda do Rio Vaiont, represado pela barragem que Especificamente no vale onde foi edificada a barragem, a estrutura geológica (figura
recebe seu nome. 2) corresponde a um sinclinal cortado pelo rio. As formações dominantes são
carbonatadas, do Jurássico Inferior e Médio, sobre as quais se sobrepõem calcários
O deslizamento de Vaiont tem atraído atenção mundial relativamente às causas e
mais argilosos do Jurássico Superior. Sobre este conjunto dispõem-se terrenos do
processos envolvidos na ruptura. O interesse pelo caso nunca diminuiu entre a
Cretácio e do Terciário, caracterizados por litologias mais detríticas, com maiores
comunidade técnica mesmo depois de passados mais de 50 anos.
conteúdos argilosos.
Todos os fatos com relação à construção da barragem de Vaiont, assim como a
operação e, finalmente, a catástrofe ocorrida são impressionantes. O projeto estrutural 3. CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM
da barragem em arco esbelto, num cânion de rochas tratadas para o apoio desejado, é
grandioso; as condicionantes geológicas são de escala superlativa; e os fenômenos A solicitação oficial para construir uma barragem no vale do Vaiont foi apresentada
desencadeados pelo deslizamento de um volume estimado em 270 milhões de metros pela SADE (Società Adriatica di Elettricità) em junho de 1940. Fazia parte de um
cúbicos de material, devastadores. projeto que tinha como objetivo a implementação de uma cascata de barragens nesta
parte da bacia do rio Piave. O crescimento do consumo de eletricidade impunha que
se aumentasse significativamente a produção de energia elétrica na região. Os
2. LOCALIZAÇÃO E GEOLOGIA
trabalhos iniciaram-se no ano de 1956. Em setembro de 1959 a barragem estava já
O rio Vaiont é um afluente do rio Piave, localizado no nordeste da Itália, que nasce praticamente edificada (conforme figura 3), tendo o paredão 261,6 m de altura (uma
nos Alpes Italianos e deságua no Mar Adriático, próximo da cidade de Veneza (figura das barragens mais altas do mundo). O coroamento, localizado à altitude de 725,5 m,
1). A bacia hidrográfica do Piave é muito intervencionada, principalmente com tinha 190,15 m de comprimento.
sistemas de irrigação, na parte inferior, correspondente a uma planície aluvial, e com
aproveitamentos hidroelétricos, na parte superior, montanhosa.

4. PRENÚNCIO DA CATÁSTROFE Em 15 de setembro, descobre-se nova fissura na vertente do Monte Toc, e constata-se
que a longa fenda em forma de "M" se tinha acentuado significativamente. A
Em outubro de 1959 a SADE solicitou autorização para encher pela primeira vez a
inclinação apresentada por árvores e estruturas existentes na vertente era evidente.
barragem de Vaiont até à cota 600 m, o que começou a fazer em fevereiro de 1960.
Em março de 1960, em plena fase de enchimento, ocorreu uma pequena Em 27 de setembro decidem-se por baixar o nível da água na barragem, o que foi
movimentação de massa. Sem ser levado em consideração o pequeno movimento, em efetivado a partir de novembro, inicialmente, de forma lenta, e depois de modo cada
maio é apresentada nova solicitação para elevar o plano de água à cota 660 m. vez mais rápido. Após 4 meses o nível da água tinha baixado 185 metros.

Devido à elevação dos níveis freáticos, causada pelo enchimento da barragem, as Apesar deste rebaixamento do nível da água, inicialmente as velocidades de
movimentações se intensificaram, culminando com um escorregamento (figura 4) em movimentação não diminuíram de forma significativa. Todavia, à medida que o nível
novembro do mesmo ano, à margem esquerda da represa, de cerca de 1 milhão de da água continuava a baixar, o ritmo de movimentação começou a abrandar até que,
metros cúbicos, conjugado com o aparecimento de fendas periféricas superficiais em em abril de 1963, quando a cota do plano de água era da ordem de 660 m, deixou
área circundante muito mais ampla, motivando trabalhos contínuos de observação dos virtualmente de se verificar qualquer movimento.
movimentos.
Pela observação dos sucessivos enchimentos e esvaziamentos levaram-se a acreditar
Com o monitoramento das movimentações de massa na encosta, e acreditando-se que que era possível controlar os movimentos da vertente através da alteração dos níveis
a vertente instabilizada acabaria por estabilizar com o tempo, em março de 1962 a do plano de água. Consequentemente decidiram-se por voltar a encher a barragem.
empresa solicitou o enchimento da barragem até à cota 700 m. Em outubro de 1962,
Entre abril e maio de 1963 o nível da água na barragem subiu rapidamente. Nesse
recomeçaram os movimentos na vertente (Monte Toc). Como medida de precaução o
período verificou-se que a velocidade de movimentação na vertente do Monte Toc
nível de água foi reduzido, sendo os movimentos quase imperceptíveis quando o nível
aumentou, não ultrapassando, no entanto, os 0,3 cm/dia. Com a continuação do
ficou inferior à cota 650 m.
enchimento do reservatório, em junho o movimento intensificou-se um pouco,
Em março de 1963 é apresentada solicitação para encher a barragem à cota 715 m, atingindo velocidades de 0,4 cm/dia, que aumentaram para 0,5 cm/dia em julho.
isto é, até poucos metros da sua capacidade máxima. Em setembro é atingida a cota
Em grande parte do mês de agosto o nível da água manteve-se aproximadamente
710 m (10m abaixo da cota máxima de segurança). Nessa altura, os níveis freáticos,
estacionário. Entretanto, a velocidade da movimentação continuou a aumentar,
que estavam bastante altos, continuavam a subir. A velocidade da movimentação na
atingindo 0,8 cm/dia em meados de agosto. No início de setembro, em algumas partes
vertente do Monte Toc estava também a aumentar, embora, segundo a empresa que
da vertente instabilizada, o deslocamento atingia 3,5 cm/dia.
geria a barragem, não expressasse valores alarmantes.



Perante os aumentos dos ritmos de instabilidade da vertente foi decidido, no início de Foram mobilizados cerca de 270 milhões de metros cúbicos de material. É estimado
setembro, proceder a algum esvaziamento da barragem. As experiências anteriores que, ao penetrar na represa, a velocidade de movimento da massa tenha atingido 110
pareciam indicar que, através do abaixamento do nível da água do reservatório era km/h.
possível amortecer as razões de movimentação na encosta. Porém, a velocidade do
A súbita penetração de tão grande massa no reservatório provocou o deslocamento de
Monte Toc continuou a aumentar ininterruptamente.
mais de 50 milhões de m3 de água, o que gerou uma onda de grande altura (cerca de
No dia 7 de outubro são descobertas novas fissuras no lado esquerdo da vertente do 250 m) que, segundo o sentido da propagação, se pode considerar que atuou como três
Monte Toc, paralelas à margem da barragem, as quais chegavam a ter um metro de grandes ondas. Uma atacou a vertente oposta, onde se encontrava Casso (a mais de
largura e dez de comprimento. Perante tais sinais, decidiram-se pela evacuação das 960 metros de altitude, ou seja, mais de 250 m acima do plano de água), cobrindo as
casas localizadas na vertente do Monte Toc. casas situadas na parte mais baixa, mas sem provocar consequências mais graves.
Outra das ondas propagou-se para montante, onde o vale do Vaiont é mais largo, o
Pela hora de almoço do dia 8 de outubro (véspera da grande movimentação de massa)
que provocou o abaixamento da altura da onda, mesmo assim, flagelando alguns
abre-se nova fenda, desta vez nas instalações dos operários, com 5 metros de
vilarejos, provocando 158 mortes. E uma outra onda propagou-se para jusante,
comprimento e 50 cm de largura. Outras notícias tendiam a confirmar que a situação
galgando o paredão da barragem, e propagou-se com grande velocidade e altura na
era preocupante: árvores que se inclinavam progressivamente e acabavam por cair,
parte inferior do estreito vale do Vaiont, penetrando com grande energia no vale do
fendas que se alargavam meio metro em apenas uma hora, etc.
rio Piave. Esta grande onda provocou danos menores na barragem, destruindo apenas
parte do coroamento, tendo desaparecido cerca de um metro da parte superior,
Nos dias 8 e 9 de outubro de 1963, e apesar de se estar numa fase de rebaixamento do
verificando-se, neste processo, a demolição do edifício de dois andares da central e
nível da barragem, as expressões da instabilidade da vertente do Monte Toc atingiram
das instalações dos operários, tendo perecido as 54 pessoas que aí permaneciam.
níveis sem precedentes: fissuração na encosta, velocidades de movimentação que
aumentavam rapidamente, atingindo mais de dez centímetros por dia.
Na parte terminal do vale do Vaiont a onda tinha 70 m de altura e deslocava-se com
grande velocidade, sendo acompanhada por uma nuvem formada pelas gotas de água,
Às 22:39 do dia 9 de outubro de 1963 uma massa enorme de materiais incoerentes,
pela elevada turbulência do fluxo. Tal frente líquida de grande altura provocou no ar
juntamente com as árvores da floresta, os campos agrícolas e as casas que aí existiam,
uma grande onda de choque, que acabou, também, por provocar danos significativos.
desceu a encosta com velocidade elevada e penetrou subitamente na represa, causando
As localidades situadas nas margens do Piave, a altitudes mais baixas, a começar por
ondas sísmicas, registradas em sismógrafos pela Europa.
Longarone (figuras 6 e 7), foram completamente devastadas.
O ruído foi ensurdecedor. A zona movimentada (figura 5), com área de quase 3 km2,
tinha 1,8 km de comprimento, 1,6 km de largura, e cerca de 150 m de espessura.



Ao subir as encostas marginais do Piave o fluxo perdia velocidade e iniciava-se o em medidores de nível d’água, localizados em quatro furos, foram monitoradas,
refluxo que acabava por atingir, novamente, áreas já varridas pela onda inicial. iniciando-se em julho de 1961 (figura 8). O histórico de precipitações, nível do
Oficialmente, a tragédia saldou-se em 1917 mortos. reservatório, taxa de deslocamento superficial, e níveis d’água nos medidores nos 4
anos precedentes à ruptura são mostrados na figura 9.
Após a catástrofe houve apuramento de responsabilidades e o caso foi julgado em
tribunal. Três engenheiros (Alberico Biadene, diretor da companhia de construção; No entanto, todos os esforços em investigação promoveram limitada informação em
Curzio Batini, funcionário público que testou a barragem; e Almo Violin, diretor do relação a alguns aspectos importantes, como a posição e forma da superfície de
departamento de engenharia civil da barragem) foram condenados a seis anos de deslizamento e das poropressões atuantes. As medidas das taxas de deslocamentos
prisão. obtidas com os marcos de superfície podem ser grosseiramente correlacionadas com o
nível d’água do reservatório. Após dois ciclos de elevação do reservatório, os quais
A barragem ainda existe, embora a quantidade de eletricidade que produz seja
parcialmente preencheram e esvaziaram o reservatório no período de 1960-1962, o
bastante pequena (até mesmo porque a capacidade do reservatório foi extremamente
nível d’água atingiu a máxima elevação de 710 m, ao final de setembro de 1963.
diminuída).
Nesta ocasião, os deslocamentos acumulados dos marcos de superfície atingiram
valores em excesso de 2,5-3 m (figura 10). Velocidades de superfície de 20-30 cm por
5 ASPECTOS GEOTÉCNICOS E DADOS DE MONITORAMENTO dia foram registradas nos dias precedentes ao rápido movimento final ocorrido em 9
de outubro de 1963.
Levantamentos geológicos da margem esquerda do reservatório estavam sob
supervisão de L. Müller-Salzburg, um especialista em mecânica das rochas. Ao início A figura 11 é uma fotografia do deslizamento feita em 1979. O deslizamento
das investigações, foi rapidamente percebido que uma grande proporção da margem preencheu o vale do rio Vaiont, que pode ser visto ao fundo. Um lago residual pode
esquerda do reservatório era de fato um grande deslizamento pré-histórico, o qual, no ser visto na parte inferior esquerda da imagem. A superfície planar do deslizamento
passado, preencheu o vale Vaiont. Após este deslizamento pré-histórico, o rio escavou (cores claras) encontra-se exposta.
novamente (ao final do último período glacial) um profundo vale através da massa
deslizada.
6 SUPERFÍCIE DE RUPTURA

Ao final de 1960, uma vez que a barragem estava construída e o reservatório


O rio Vaiont, o qual flui de leste para oeste, corta um grande sinclinal (figura 12). O
parcialmente abastecido, uma longa e contínua rachadura periférica de 1 m de largura
sinclinal criou o formato “open chair” no estrato Jurássico da margem esquerda do
e 2,5 km de comprimento marcou o contorno de uma imensa massa, rastejando em
rio. Este formato eventualmente definiu a geometria da superfície de ruptura (figura
direção ao reservatório na direção norte. O movimento descendente do talude foi
13). A superfície de deslizamento é localizada no estrato do período Jurássico
monitorado por meio de marcadores de superfície. Além disso, as pressões de água



superior. Argilas e margas foram encontradas nestas camadas. As camadas dobradas deslizamento. Portanto, eles não promoveram informações diretas sobre poropressões
de calcário estavam fortemente fraturadas (figura 14). Duas seções representativas do realmente existentes nas proximidades da superfície de escorregamento, o que seria
escorregamento, localizadas à montante da posição da barragem a distâncias de 400 e informação fundamental para realizar uma análise de estabilidade.
600 m, respectivamente, são reproduzidas na figura 15. Uma fina camada (poucos
Em geral, os níveis d’água registrados acompanham de perto as mudanças nos nível
centímetros de espessura) contínua de argila de alta plasticidade foi encontrada na
do reservatório. A variação simultânea dos medidores de nível d’água e níveis do
posição da superfície de ruptura (figura 16).
reservatório é uma boa indicação da alta permeabilidade da massa acima da superfície
As argilas apresentaram alta plasticidade, um resultado explicado pelos seus de escorregamento. A exceção é o piezômetro 2, ao menos durante o período inicial
significativos teores de montmorilonita. Resultados de limites de liquidez acima de 50 dos registros (figura 9). As leituras iniciais indicaram poropressões significativamente
% foram encontrados. Tika e Hutchinson (1999) relatam: LL = 50 %, IP = 22 %. acima (90 m de coluna d’água) da superfície do reservatório. Esta informação tem
Testes de cisalhamento direto em amostras remoldadas também foram reportados por sido interpretada como um indicativo de fatores adicionais, além do nível do
Hendron e Patton (1985). Em alguns casos, tensões reversas foram aplicadas para reservatório, os quais podem controlar a pressão de água na superfície de
descobrir sobre condições residuais. De fato, o passado histórico do deslizamento escorrregamento.
indica que o ângulo de atrito residual foi o parâmetro de resistência preponderante ao
longo da superfície de ruptura. Valores médios medidos de ângulo de atrito residual
8 DISCUSSÕES
variaram entre 8 e 10 graus. Tika e Hutchinson (1999) examinaram o efeito da
velocidade de cisalhamento, encontrando uma redução adicional no ângulo de atrito
residual, atingindo valores mais baixos (5 graus) para deformações a velocidade de 8.1 Reativação do escorregamento

0,1 m/s, uma velocidade que é ainda muito menor do que a velocidade estimada para a
Vaiont é um caso de reativação de escorregamento e a superfície de deslizamento
ruptura real.
estava localizada em camada contínua de argila de alta plasticidade. Tomadas juntas, a
implicação é que a superfície de escorregamento não poderia oferecer, contra uma
7 INFORMAÇÕES MONITORADAS ANTES DO ESCORREGAMENTO nova reativação (essencialmente induzida por um aumento das poropressões na
camada inferior de massa passiva), um ângulo de atrito efetivo maior do que, por
O principal propósito atrás da limitada instrumentação disponível foi relacionar o
exemplo, 10-12 graus.
nível do reservatório com medidas de deslocamentos de um número de marcos
topográficos distribuídos na superfície do talude. A posição dos medidores de nível Uma boa proporção de análises publicadas sobre Vaiont, as quais utilizam métodos de
d’água é indicada, em planta, na figura 8, e, em seções transversais, na figura 14. equilíbrio limite para descobrir o ângulo de atrito prevalecedor na superfície de
Observa-se também que os tubos não atingiram a posicao da superfície de escorregamento no momento da ruptura não é consistente com a o passado histórico



de Vaiont. Publicações apresentam ângulos de 18-28 graus. Vaiont exibe um fator de taludes de vales afetados por reservatórios de barragens. Se o fator de segurança
segurança significativamente menor do que um se o ângulo de atrito for de 10-12 inicial é baixo (caso de Vaiont), submergir o pé implica em problemas.
graus (e coesão igual a zero).

8.4 Interpretação dos dados de campo


Antigos escorregamentos são fortemente referidos como marcos problemáticos
quando afetados por trabalhos de engenharia. A atividade antiga é responsável pela
Interpretação do risco de escorregamento foi essencialmente realizado com base nas
redução da resistência disponível ao longo do escorregamento “adormecido” para
elevações do reservatório e nos deslocamentos de superfície. Havia também
valores mínimos (resistência residual). Além disso se superfícies de escorregamentos
informações sobre precipitações e níveis d’água nos medidores. Estes eram tubos
estão associadas a argilas de alta plasticidade, os ângulos de atrito residuais são
abertos que não chegavam ao nível da superfície de escorregamento e apenas geravam
particularmente baixos. Tipicament antigos escorregamentos nestas circunstâncias
médias de pressões de água prevalecendo ao longo de seus comprimentos. Não havia
mantém um baixo fator de segurança. Vaiot é um bom exemplo.
informação direta sobre a posição da superfície de ruptura e, em particular, do tipo de
material que estava rompendo.
8.2 Aceleração do movimento
A identificação de um deslizamento com o propósito de estimar sua evolução e de
Uma perda de resistência é esperada quando massas de rocha são cisalhadas, devido definir qualquer medida mitigadora requer informação de algumas variáveis chave.
sua inerente fragilidade e o complexo desenvolvimento de deformações dentro da Idealmente, estas variáveis devem também ser utilizadas na formulação de um modelo
massa em movimento. Ruptura progressiva é o termo normalmente utilizado para mecânico do movimento. No caso de Vaiont, o conhecimento prévio de dados
descrever o fenômeno. O resultado final é a perda de componentes coesivas da concernentes à superfície de ruptura (geometria, poropressão, tipo de material,
resistência. Tal perda, quando imposta na resistência disponível no plano de parâmetros de resistência drenada) deveriam ter sido fundamentais para construir um
cisalhamento resulta em aceleração do escorregamento. modelo conceitual do problema.

A observação de que a velocidade de deslizamento diminuiu quando o nível do


8.3 Submersão do pé do talude
reservatório foi reduzido promoveu um critério de enchimento do reservatório, o qual,
por fim levou à ruptura. De certo modo, um “método observacional” foi aplicado. As
Submersão de pé de talude usualmente leva a uma redução da estabilidade. O fator de
variáveis interpretadas foram a taxa de deslocamentos dos marcos superficiais e o
segurança diminui à medida que o nível d’água aumenta. A geometria de Vaiont é
nível do reservatório. O modelo conceitual não foi baseado em nenhuma análise
especialmente sensitiva à submersão de pé. Pés de taludes submersos não são boa
mecânica. Além disso, o nível do reservatório não necessariamente promove a real
prática, mas são situações inevitáveis em muitas circunstâncias, notavelmente em
poropressão na superfície de ruptura e os planos de remediação eram muito simples e



fracamente conectados com os complexos mecanismos envolvidos. Entretanto, deve- REFERÊNCIAS
se ter em mente que estes comentários são feitos mais de 50 anos após as primeiras
investigações terem se iniciado em Vaiont. O propósito é aprender com o caso e não ALONSO, E. E.; PINYOL, N. M; PUZRIN, A. M. Geomechanics of Failures -
criticar os indivíduos envolvidos que tiveram que trabalhar com as técnicas e práticas Advanced Topics. Springer, 2010, 266 p.

disponíveis à época. DIAS, J. A. Geologia Ambiental - Casos de estudo: o caso da Barragem de


Vaiont, Itália, 1963. 2006. Disponível
Mesmo hoje, gerenciar um problema de escorregamento de massa é uma tarefa difícil, em: <http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GAn_Casos/Vaiont/Vaiont_1.html>.
Acesso em: fevereiro. 2017.
embora hoje, bem equipados para extrair dados de campo (poro pressões,
deformações, testes “in situ”). Indo além de 200 m são requeridos esforços
sofisticados, não facilmente disponíveis, e consumidores de tempo. Um potencial
grande deslizamento requer uma vasta investigação de campo.

8.5 Poderia ter sido evitado?

Esta é uma questão de muito debate. É provavelmente justo dizer que um


conhecimento mais elaborado da situação de campo – detalhamento da geologia,
propriedades de resistência da superfície de deslizamento – e mesmo um melhor
modelo conceitual e mecânico do problema poderiam ainda assim não promover
condições de fazer parar o movimento. Parece provável não haver um procedimento
razoável de evitar o deslizamento. De fato, este risco foi aceito pelos engenheiros.
Mesmo que o nível d’água de operação do reservatório fosse substancialmente
reduzida (mais de 100 m), permaneceria o risco de um excepcional evento chuvoso
que pudesse levar a pressão de água a um valor crítico. Talvez a combinação de uma
significativa redução do nível máximo do reservatório (não inferior a 100 m) e um
túnel de drenagem pudessem atingir uma suficiente condição de não haver o risco de
ruptura.


O caso de Vaiont,
Vaiont, Itália, 1963

Lidiane Ibeiro
Localização
Vaiont

Figura 1
Geologia

Figura 2: corte geológico esquemático transversal ao


vale Vaiont
Construção da barragem

Figura 3: vista da barragem a partir da jusante, e o


vale íngreme ao fundo.
Prenúncio da catástrofe

Figura 4: vista da vertente que cedeu em novembro


de 1960
Prenúncio da catástrofe

Figura 5: vista aérea da barragem e áreas circundantes


no dia seguinte à tragédia
Prenúncio da catástrofe

Figuras 6 e 7: vista de Longarone, localizada à margem


direita do rio Piave, antes da catástrofe e no dia
seguinte à catástrofe, respectivamente.
Aspectos geotécnicos e dados de
monitoramento

Figura 8: mapa da área monitorada da barragem


Aspectos geotécnicos e dados de
monitoramento

Figura 9: dados monitorados


(precipitações, níveis do
reservatório, máxima
velocidade dos movimentos
h
horizontais de
d superfície
fí e
níveis d’água nos medidores)
Aspectos geotécnicos e dados de
monitoramento

Figura
g 10: correlação
ç entre os deslocamentos acumulados
(W) dos marcos de superfície e os níveis de elevação da
água no reservatório (LL) no período entre 1960 e 1963
Aspectos geotécnicos e dados de
monitoramento

Figura 11: fotografia feita em 1979


Superfície
p de ruptura
p

Figura 12: seção do sinclinal e indicação do deslizamento


pré-histórico
Superfície
p de ruptura
p

Figura 13: superfície de ruptura


Superfície
p de ruptura
p

Figura 14: materiais do estrato


Superfície de ruptura

Figura 15: seções representativas do escorregamento


Superfície de ruptura

Figura 16: fina camada contínua de argila ao longo da


superfície de ruptura

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