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2 DE ABRIL
PALÁCIO DO ITAMARATY
BRASÍLIA — DF
DISCURSO DO PRESIDENTE JOÃO FI-
GUEIREDO NO JANTAR OFERECIDO
AOS REIS DA SUÉCIA

Majestade:
O Brasil acolhe, com grande satisfação, a visita de
Vossa Majestade e da Rainha Sílvia. Vossas Majestades
representam uma nação a que os brasileiros votam gran-
de estima e respeito.
Pelo espírito empreendedor de seu povo, pela rique-
za de sua cultura e de suas criações artísticas, por sua
tradição universitária, pelo admirável progresso tecnoló-
gico, por sua experiência política, pela generosa preocu-
pação com a paz, que orienta as suas ações diplomáti-
cas, a Suécia ocupa lugar privilegiado no Ocidente.
Para o povo brasileiro, a Suécia representa uma no-
bre tradição de luta pela sobrevivência e pela soberania,
a capacidade de trabalho de sua população, a alta quali-
dade de seus produtos industriais, a profundidade de
seus pensadores, a sensibilidade de sua criação literária,
teatral e cinematográfica, seu apego aos ideais democrá-
ticos, seu empenho na luta pela paz e pela segurança in-
ternacionais.
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Como toda a Humanidade, somos gratos â Suécia


pelos seus grandes filhos, que enriqueceram nosso patri-
mônio intelectual e moral.
A filantropia de Alfred Nobel dignifica o povo sue-
co e está viva na concessão de prêmios destinados a esti-
mular o aperfeiçoamento da Humanidade.
Sueco foi um dos mais ativos e dedicados
Secretários-Gerais das Nações Unidas, cuja atuação de-
dicada à paz ocupa lugar de importância na história di-
plomática contemporânea.
No campo político, são notáveis as conquistas de
seu país. A Suécia demonstra, em sua vivência diária,
que a essência do processo democrático é a preservação
do diálogo, instrumento do constante aperfeiçoamento
político. Dotada de mais antiga Constituição escrita no
Mundo e de secular experiência parlamentar, a Suécia
modernizou suas instituições e criou nova Carta Magna
para atender aos reclamos de um povo vigoroso e dinâ-
mico.
Vossa Majestade é o símbolo vivo de uma monar-
quia consagrada pela vontade manifesta de seu povo.
Aliam-se, no trono, a tradição e a tempera renovadora
expressas no lema: «Pela Suécia e com os nossos tem-
pos».
A Rainha Sílvia — permita-me Vossa Majestade
dize-lo — atrai o carinho especial de todos os brasilei-
ros. Por suas origens, pelos anos que viveu no Brasil e,
sobretudo, por sua cativante simpatia, é com carinho
que, entre nós, a chamamos «a Rainha brasileira da
Suécia».
Renovam-se, assim, os laços entre a monarquia sue-
ca e o Brasil, que remontam ao século passado, quando
as casas reais das duas nações se viram irmanadas nas
pessoas da Imperatriz Amélia e da Rainha Josefina.
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No quadro dos antecedentes históricos que aproxi-


mam nossos povos, evoco também a viagem de D. Pe-
dro II à Suécia em 1876, onde foi cordialmente acolhi-
do. Decênios antes, residira em Uppsala o Patriarca da
Independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e
Silva, cujo labor intelectual lhe valeu a admissão na
Academia Sueca de Ciências.
As relações diplomáticas entre nossos dois países
datam do alvorecer da vida independente do Brasil.
Esta é, porém, a primeira vez que recebemos, ofi-
cialmente, a honrosa visita de um monarca sueco. Sua
presença entre nós reflete a amizade que anima as rela-
ções, entre a Suécia e o Brasil. Expressa a vontade
recíproca de estreitar a cooperação bilateral que floresce
nos mais diversos campos.
A Suécia constitui importante parceiro do Brasil no
terreno econômico. Quase uma centena de empresas sue-
cas estão aqui instaladas, com ativa participação na eco-
nomia nacional. A cooperação industrial, bem como o
comércio bilateral oferecem amplas perspectivas de ex-
pansão.
Este é o fundamento do Acordo de Cooperação
Econômica, Industrial e Tecnológica, a ser assinado
amanhã pelos Chanceleres dos dois países. Será instru-
mento útil para tornar nosso intercâmbio compatível
com o vasto potencial de ambos os mercados.
A Semana Técnica Brasil-Suécia, a ser inaugurada
por Vossa Majestade, ensejará valiosa troca de experiên-
cias no âmbito da tecnologia industrial e estimulará os
contatos entre nossos empresários.
Vossa Majestade terá, assim, a oportunidade de
apreciar alguns dos frutos concretos da deliberada von-
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tade de cooperar que caracteriza os últimos anos do re-


lacionamento entre Brasil e Suécia.
O dinamismo de nossas relações se fortalece com as
visitas que se vêm realizando, em alto nível, em ambos
os sentidos, as quais confirmam plenamente a extensa li-
nha de afinidades que une suecos e brasileiros. Tais en-
contros devem ser mantidos e ampliados.
Também no campo político, consolida-se o entendi-
mento. O diálogo entre os governos brasileiro e sueco
flui ágil e franco porque embasado em valores comuns
do ideário ocidental.
A vocação democrática constitui fator decisivo a
orientar as ações brasileiras, tanto no plano interno
quanto no plano internacional. É constante o nosso es-
forço em busca de formas de harmonização de interes-
ses, sempre a partir dos postulados da compreensão plu-
ralista.
Tal atitude é tão mais necessária quanto é árdua a
realidade internacional de nossos dias. Proliferam as
ameaças à segurança do Globo na acumulação de arse-
nais nucleares, que buscam a paz pelo equilíbrio do ter-
ror. Sucedem-se as manifestações de poder que violam a
soberania, a integridade territorial e a independência
política dos Estados.
Esse quadro sombrio apresenta incessantes desafios
para as diplomacias dedicadas à causas da paz e liberda-
de das nações. O Brasil, assim como a Suécia, norteia
sua política externa pela procura desses ideais, emana-
dos dos sentimentos mais profundos da sua gente.
A História situa a nação brasileira à margem de es-
quemas hegemônicos de poder. Repudiamos a transposi-
ção do conflito Leste-Oeste para áreas do Terceiro Mun-
do. Condenamos o uso da força.
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Buscamos evitar a confrontação que acirra os âni-


mos e endurece as posições. Com espírito aberto e cons-
trutivo, procuramos abrir caminhos que conduzam ao
diálogo, pois é do diálogo que advém o entendimento, e
do entendimento, a paz.
A Suécia oferece ao Mundo um dos mais construti-
vos exemplos de que a paz è possível. Sem descuidar dos
imperativos da segurança nacional, seu país logrou
manter-se, por mais de um século e meio, fora dos con-
flitos europeus e mundiais. A neutralidade sueca, po-
rém, nada tem de abstencionismo. Pelo contrário, o go-
verno da Suécia vem exercendo ação altamente positiva
na busca de soluções para os problemas internacionais
contemporâneos.
Nesse contexto, é significativo que a cidade de Esto-
colmo tenha sido escolhida como sede da Conferência
sobre Segurança e Desarmamento na Europa. Para além
do âmbito regional, o interesse sueco pela paz se mani-
festa no apoio às iniciativas como a do Grupo de Conta-
dora, que meu governo igualmente favorece.
Neste, e em muitos outros pontos, convergem as
atitudes do Brasil e da Suécia. Defendemos, ambos os
países, o fortalecimento das Nações Unidas, como o
grande foro para a harmonização de interesses e valioso
instrumento para deter as tensões mundiais.
Majestade,
Urge abrir espaços para que cada membro da co-
munidade internacional possa exercer o direito — e o
dever — de contribuir, na medida de suas possibilida-
des, para o bem de todos. A interdependência dos povos
está a reclamar a participação universal na busca de so-
luções para os graves problemas com que se debate a so-
ciedade de nossos tempos.
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Os efeitos adversos da presente crise econômica


fazem-se sentir, da forma mais aguda, nos países em de-
senvolvimento.
Não bastam, porém, os esforços que vêm esses
países empreendendo internamente, com imensos sa-
crifícios para suas populações. Para revigorar suas eco-
nomias, duramente atingidas pela recessão, è impres-
cindível o concurso externo, sobretudo nas áreas do co-
mércio, das finanças e dos investimentos. É precisamen-
te esse o sentido da Declaração de Quito, onde os países
da América Latina se reuniram para definir estratégia
comum e construtiva para os problemas da região.
As dificuldades que confrontam os países em desen-
volvimento estão intimamente relacionadas com as defi-
ciências estruturais do sistema econômico internacional
vigente. Dessa circunstância, decorre a necessidade pre-
mente de reforma do sistema monetário e financeiro in-
ternacional e de soluções inovadoras para os problemas
do endividamento externo e das elevadas taxas de juros.
A crise dos nossos dias clama por uma reestruturação
profunda da economia internacional, com vistas ao bem
geral.
Majestade,
Meu governo não tem poupado esforços no sentido
de melhorar as condições de vida do povo brasileiro,
consolidar e aperfeiçoar o sistema democrático de gover-
no e revigorar sua economia interna e externa.
Atravessamos momentos difíceis, mas nunca nos
faltaram tenacidade, coragem e fé no futuro.
A Suécia, interlocutor sensível das nações em desen-
volvimento, não está alheia aos problemas dos povos
que lutam pela sobrevivência e bem-estar.
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A visita de Vossa Majestade é testemunho concreto


da amizade e solidariedade que nos devota o seu povo.
Reafirma-se, destarte, uma relação sólida e confiante en-
tre dois países que têm clara consciência do papel que
lhes cabe na construção de um mundo melhor.
Com o pensamento voltado para a instauração de
nova era de prosperidade e paz para todos os povos, er-
go minha taça, em nome da nação brasileira, à constân-
cia da amizade entre o Brasil e a Suécia, à ventura do
povo sueco, e à saúde e felicidade pessoal de Suas Ma-
jestades o Rei Carlos XVI Gustaf e a Rainha Sílvia.

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