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Performance Art Versus Performance Studies? O Conceito Contestado
Performance Art Versus Performance Studies? O Conceito Contestado
O conceito contestado de
performance e sua relação com a tecnologia, arte e identidade.
Cauê Krüger.
Graduado em ciências sociais pela UFPR, bacharel
em direção teatral pela FAP e Mestre em
Antropologia Social pela UNICAMP. Professor de
Sociologia e Antropologia pela PUCPR e de teatro
da UTFPR.
ABSTRACT: Assuming performance as a contested concept (CARLSON, 1996) the present article
refuses to keep the opposition between performance art as an object of study and performance studies as
its theoretic arena and, inspired by the concept of structure of feeling of Raymond Williams claims to
emphasize the relations between performance (as a concept that implies controversial notions) and
technology, body and identities
KEYWORDS: Performance Studies, performance art, identity
Ainda que o termo body art agrupe diversas tendências internas, “o denominador
comum de todas essas propostas era o de desfetichizar o corpo humano (...) para trazê-lo
à sua verdadeira função: a de instrumento do homem” (GLUSBERG, 2003, p.43).
Tomando o corpo como matéria prima a body art explora suas capacidades, aspectos
sociais e individuais tornando o sujeito objeto da arte. Esta proposta tende a incorporar-
se à noção mais ampla de performance art, que segundo Carlson (1996, p.5)
apresentaria, já na década de 70, duas tendências: “o trabalho de um artista individual
que usa normalmente material de sua vida cotidiana (explorando sua auto-biografia)”
raramente valendo-se de uma “personagem” e enfatizando as atividades do corpo no
espaço e no tempo; bem como a “tradição de espetáculos mais elaborados já não
baseados no corpo do artista, mas sim na demonstração de imagens visuais, não-
literárias, que envolvem a tecnologia emergente e uma mídia variada”. De forma
semelhante, um dos mais famosos estudiosos brasileiros da performance, Renato Cohen
(2002), registra duas mudanças importantes na estabilização do campo da performance:
a diminuição da hostilidade inicial da performance frente ao teatro convencional e a
diminuição da ênfase inicial centrada no corpo e movimento em detrimento de uma
linguagem mais discursiva, mais aberta às imagens, mídias e tecnologias.
Simpson Stern e Handerson, autores de Performance: Texts and Contexts citados
por Carlson procuram sistematizar algumas orientações gerais da performance art que
embora não funcionem como uma “definição” rígida, apontam para importantes pontos
em comum:
1) postura performática de anti-status quo, provocativa, não-convencional, eventualmente
intervencionista; 2) oposição à acomodação da cultura com relação à arte; 3) textura
multimídia tendo como materiais não apenas os corpos vivos dos performers, mas
também outras mídias, monitores de televisão, imagens projetadas, imagens visuais,
filmes, poesia, material autobiográfico, narrativa, dança, arquitetura e música; 4) interesse
nos princípios da collage, assemblage e simultaneidade; 5) interesse em utilizar materiais
“achados” bem como “feitos”; 6) dependência intensa em justaposições de imagens
incongruentes e aparentemente não-relacionadas; 7) interesse nas teorias dos jogos (...)
incluindo paródia, cômico, a quebra das regras e destruição de superfícies estridulantes e
extravagantes; 8) finalizações em aberto e indecisões de forma (CARLSON, 1996, p.5).
Para Carlson a consolidação desta arte solo baseada no corpo ou no self passa a ser
emblemática no mundo contemporâneo, sendo que a performance ou a metáfora da teatralidade
extrapolou o campo das artes:
(...) em direção a quase todos os ramos das ciências humanas – sociologia, antropologia,
etnografia, psicologia, lingüística. E como a performatividade e a teatralidade tem sido
desenvolvidas nesses campos, tanto como metáforas quanto como instrumentos
analíticos, os teóricos e praticantes da arte performática têm, por sua vez, se tornado
conscientes desses desenvolvimentos e encontrado neles novas fontes de estímulo,
inspiração e insight para seu trabalho criativo e para sua conseqüente compreensão
teórica. (CARLSON, 2009, pgs.17-18).
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