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Por
Lucas Galvino e Pedro Henrique
01 - INT. NOITE - FUNDOS DA CASA
Uma mão masculina levanta um negativo de uma foto de um
avião contra uma luz.
MATIAS
eu ficava quase sempre olhando pro
alto. minha cabeça flutuando.
minhas turbinas manchando o azul,
rasgava nuvens, seguia o vento. Lá
de cima voce percebe a quantidade
de gatos nos telhados.
LÉA
isso já faz tempo. essa foto. você
acha que tiraram quando ?
MATIAS
percebe as estrelas. você entende a
velocidade da vida,tudo muito
insignificante.
Uma outra mão, feminina, aparece com uma fotografia de uma
igreja. A mão com a foto do avião baixa.
LÉA
ta viajando. Olha, conheço essa
igreja.
MATIAS
As minhas asas eram leves.
A mão feminina com a foto baixa e sobe de novo com uma foto
de uma kombi num posto de gasolina.
LÉA
Porque voce acha que esse posto
fechou? Dizem que foi depois das
mortes lá.
MATIAS
As mortes são mais recentes.
LÉA
Não essas, outras mortes. Já faz um
tempo. Marcia me contou uma
historia hoje de manhã.
MATIAS, um jovem de 19 anos, e LÉA, uma jovem de 25 anos
estão sentados em cadeiras de praia com uma caixa de
negativos de fotografias entre eles. Eles tem um beck aceso
nas mãos.
(CONTINUED)
CONTINUED: 2.
MATIAS
Que história é essa?
LÉA
Parece um girassol pintado nessa
kombi. Um negócio meio hippie. Bem
anos 70.
De dentro da casa sai uma mulher, MÁRCIA, 40 anos, usando
avental e touca de cozinha no cabelo.
MARCIA
Ei, vocês. Entrega na Rua 06.
MATIAS
(falando para Léa)
Pode deixar, eu vou.
MÁRCIA
(Dando um bolo de notas para
Matias)
Matias, olha esse dinheiro. junta
com o da entrega e pega a
encomenda.
MATIAS pega o bolo de dinheiro, conta as notas e sai.
MARGOT
Aqui pra te acalmar.
MARGOT dá o vidrinho de poppers, MATIAS cheira e se derrete
no sofá.
MARGOT
Trouxe o dinheiro?
MATIAS tira do bolso as notas que MARCIA deu a ele e mais
algumas cédulas e moedas soltas e entrega para MARGOT.
MATIAS
Tá aqui
MARGOT dá a MATIAS um saco com muita maconha. MATIAS abre o
saco e cheira o conteúdo.
MATIAS (cont’d)
ouvi uns gritos vindo lá dos
caminhoas da escola,não quis
arriscar... Tem cada vez menos
postes acesos...
MARGOT
Você passou pelo muro?
MARGOT não espera MATIAS responder
MARGOT
Mataram o pavão do muro. amanheceu
sem cabeça. Com as penas no vento,
e as garras arrancadas.
MATIAS
Foi hoje isso?
A fumaça toma conta de todo o espaço.
MARGOT
Ontem ele estava lá. Vivo. Hoje
amanheceu fedendo como se tivesse
morrido semanas. Estendido na
calaçada e o sangue coagulado. Uma
coisa horrivel. Normalmente o seu
Crisóvão não deixa ele solto a
noite porque enfim... mas essa
noite parece que se descuidou ou
não, pavões são seres místicos,
isso é um sinal.
MÁRCIA
Vai comer não, menina ?
LÉA
Tô sem fome. Comi mais cedo.
LÉA mostra o celular para MÁRCIA
LÉA
E ai, o que tu acha dessa?
LÉA
"cursando biblioteconomia e bebendo
uma cervejinha no intervalo. pra
quem acredita em signo , sou
pisciana com ascendente em aquario.
Simpatizante do budismo. Bolsonaro
cai fora"
MÁRCIA
Interessante
LÉA
Tu acha?
MARCIA
Não entendo de signos
LÉA
Nem eu...
LÉA continua mechendo no celular.
Som do portão sendo aberto, MATIAS chega na cozinha com a
bag.
MARCIA
E aí, deu certo?
MATIAS tira a bag das costas e põe no balcão da cozinha.
abre a bag e tira o saco com maconha de dentro.
(CONTINUED)
CONTINUED: 7.
MATIAS
Ei, deixa eu te mostrar o que eu
consegui
MATIAS tira do bolso o pedaço de papel que MARGOT deu a ele
e mostra para LÉA.
LÉA
(dando um grito de felicidade)
Mentira!
Abraça MATIAS.
LÉA
Ei, Tia, vamo dar mais uma saidinha
agora, viu?
MATIAS
Uma cerveja
BARTENDER
(com o olhar vidrado nele)
Tu é o entregador de comida, né?
MATIAS
Oi?
BARTENDER
Tu já viu ele?
MATIAS
Ele quem?
BARTENDER
O deus da carne. Você já viu?
MATIAS
Não
(CONTINUED)
CONTINUED: 9.
BARTENDER
Como ele é?
MATIAS
Eu nunca vi... pode dar minha
cerveja?
BARTENDER
Desculpa
A bartender pega uma ceveja e entrega para ele.
LÉA está numa roda de maconha com BEATRIZ, uma garota branca
de 22 anos, de cabelo cacheado vermelho e mais três pessoas,
MATEUS, DENIS e KÁTIA. DENIS está contando uma história
enquanto passam o beck.
MATIAS chega com sua cerveja do lado de LÉA
MATIAS
(para Léa)
Quase que não te encontro
LÉA dá um beijo na cabeça de MATIAS.
LÉA
Ah, eu lembro que tu me contou isso
MARCIA
Quando foi isso?
MATIAS
Faz tempo. Eu entrei na casa e tava
a galera se comendo lá atrás, eu só
ouvia os gemidos. E o cara ainda de
pau duro, eu entregando a comida
pra ele.
MARCIA
Ele tava era querendo te arrastar
pra festa
(CONTINUED)
CONTINUED: 11.
MATIAS
Ele me convidou pra entrar
MARCIA
E tu?
MATIAS
Eu peguei minha bike e fui embora
LÉA
Doido pra ficar
MATIAS
Eu não
MARCIA
Mas tu nunca transou com uma
cliente?
MATIAS
(dando um sorriso)
Já
MARCIA
Com quem?
MATIAS
Posso dizer não
LÉA
Foi com a Ruth lá da rua 7
MATIAS dá um soco no ombro de LÉA. LÉA solta uma risada.
MARCIA
E tu, Léa?
LÉA
Já trnasei com uma cliente, mas faz
tempo
MATIAS
E qual foi a coisa mais estranha
que ja aconteceu contigo?
LÉA
Mais estranha...
MARCIA
É
(CONTINUED)
CONTINUED: 12.
LÉA
Uns meses atrás eu passando por de
trás da igrejinha encontrei
um homem no chão. Ele cuspia
sangue, suas tripas estavam pra
fora. Eu ainda pensei em ligar para
uma ambulancia, mas sabia que
anoite ninguém iria socorrer. Ai eu
sentei do lado dele e segurei sua
mão até ele morrer.
MARCIA
(olhando no celular)
Tem entrega pra fazer, quem vai?
LÉA
Eu posso ir, onde é?
MARCIA
Pro Bruno, lá da rua 13
MARCIA se levanta e vai até a cozinha.
LÉA sai. MATIAS vai até o portão com ela e volta para a
cozinha.
MATIAS
(olhando as panelas e tirando
um pedaço de carne)
Bateu a larica agora
MARCIA
(acendendo outro beck)
Saudade de quando era mais fácil
MATIAS
Não mudou nada
MARCIA
Porque voce é cético
MATIAS
Se eu não fosse cético eu não
trabalhava
MARCIA dá uma baforada.
(CONTINUED)
CONTINUED: 14.
LÉA
Oi, Bruno
BRUNO
Oi, Léa, tudo bem?
BRUNO
É, Janaína terminou comigo. Tá
morando na casa da mãe dela agora
LÉA
Putz, que barra... Mas tu tá bem?
BRUNO
Tô meio deprimido.
Silêncio constragedor
BRUNO
Tá ocupada? Tenho umas cervejas
aqui em casa, quer tomar?
LÉA
(hesitante)
To tranquila... Pode ser, uma
cerveja...
BRUNO
Entra aí, tira os sapatos
(CONTINUED)
CONTINUED: 15.
BRUNO
Ainda não entendi direito o que
houve, sabe ? Tô sentindo um buraco
dentro de mim...
BRUNO
Aconteceu uma coisa engraçada outro
dia. Teve um assalto na farmacia da
esquina...
LEA
A da rua 09 ou a da rua 3 ?
BRUNO
a dessa esquina aqui de casa. Dois
caras quebraram o vidro e tentaram
roubar rémedios. benflogin,.... Aí
apareceu o carro da policia andando
bem lento, um policial com uma arma
pra fora da janela apontando pros
dois caras, sem camisa, andando do
lado do carro. Um dos assaltantes
saiu correndo, muito veloz, e o
outro ficou só parado. O policial
que tava no banco atrás abriu a
porta e quando foi descer o que
estava dirigindo acselerou querendo
pegar o que correu. Eu vi daqui da
janela (rindo) o policial caindo do
carro e os dois caras fugindo... um
silencio curto e um som de um tiro,
sequido de outro e outro...
(CONTINUED)
CONTINUED: 16.
(CONTINUED)
CONTINUED: 17.
Silêncio.
LÉA que estava olhando para o teto sente algo estranho no pé
e olha para baixo. Vê BRUNO sentado no chão lambendo o pé
dela. Ela dá um chute no rosto dele e ele cai de costas
derruabando os enfeites da mesinha de centro.
LÉA
(gritando)
Maluco do caralho!