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A Normativa de Natal Sobre Vagas de Estacionamento e Seus Impactos Sobre o Custo Das Edificações - Pedro Garcia
A Normativa de Natal Sobre Vagas de Estacionamento e Seus Impactos Sobre o Custo Das Edificações - Pedro Garcia
NATAL-RN
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 2
6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES........................................................................... 14
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 15
ANEXOS
1
RESUMO
A internalização de vagas de estacionamento nos lotes das edificações é uma medida
que há anos vem sendo adotada nas grandes cidades brasileiras, Natal/RN não está de fora dessa
lista. No entanto, um dos três critérios adotados pela cidade para se chegar ao número de
exigências de vagas de estacionamento abre margem para críticas. Este critério é o da
classificação viária a qual está localizado o edifício a ser analisado. O presente trabalho faz uma
avaliação desse critério para Natal/RN em termos de boas práticas de engenharia de tráfego,
fazendo comparações com normativas de outras cidades afim de se chegar na repercussão que
essa classificação viária gera no custo global dos empreendimentos, por exigir maior ou menor
número de vagas.
Os resultados obtidos mostraram que os acréscimos no custo de determinado
empreendimento, diretamente ligados ao tipo de classificação viária a qual está localizado, pode
chegar a ordem de 20%, o que pode com toda certeza, acabar por inviabilizar o
empreendimento.
ABSTRACT
Internalization of parking spaces in the buildings areas is an action that has been adopted in
most Brazilian cities for years, Natal/RN is not out of that list. However, one of the three criteria
adopted by the city of Natal to reach the required number of parking spaces may receive
criticism. That criterion is the road classification which the analyzed building is located. This
study brings an evaluation of that criterion for Natal/RN in terms of best practices for traffic
engineering, making comparisons with regulations in other cities in order to check the impact
that road classification has affected the overall cost of the projects, by requiring greater or fewer
parking spaces.
The results showed that the increases in the cost of certain enterprise, directly linked to the type
of road classification which it is located, can reach the order of 20%, what can surely, eventually
impair the project.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, especialmente nas décadas que seguem ao ano de 1960, pode-se registrar um
processo de redução e mesmo de omissão do planejamento urbano, em uma fase da história das
cidades brasileiras em que elas passaram de absorver 45% da população nacional para atingir o
patamar de 84% em 2010 (GIRARDI, 2008). Tal crescimento não foi devidamente
acompanhado por intervenções de engenharia urbana que suportassem um desenvolvimento
equilibrado capaz de garantir qualidade de vida às populações ou eficiência econômica ao meio
urbano. Como resultado, como apontam Kneib et al. (2010) esta escala de crescimento gerou
ao longo do tempo uma significativa concentração espacial de atividades (serviços e comércio),
normalmente nos centros e mesmo em subcentros urbanos, levando a uma convergência de
fluxos de pessoas para essas áreas. A má qualidade dos serviços de transporte público, aliada
ao rápido crescimento da motorização a partir dos anos 1990 e à ausência de políticas de
transporte proativas (estacionamentos públicos, pedágio urbano, incentivo ao uso
compartilhado do automóvel, entre outras), gerou um resultado em que os reiterados
congestionamentos viários representam a face mais patente do urbanismo brasileiro da
atualidade (MAIA et al., 2010).
Até recentemente, a típica resposta pública a essa situação não ajudou a equacionar tais
problemas, podendo mesmo vir a agravá-los. É o caso do Código de Trânsito Brasileiro – CTB
(BRASIL, 1997), que em seu Art. 93 determina que um edifício capaz de atrair tráfego ofereça
a seus usuários motorizados “área para estacionamento e indicação das vias de acesso
adequadas”, remetendo a análise prévia para licenciar o novo empreendimento ao organismo
municipal gestor de trânsito. Isso fez com que, como afirmam Santos e Freitas (2014), os
municípios regulassem a oferta de vagas de estacionamento no interior do lote, com base em
parâmetros dos mais variáveis, mas sempre com o princípio de atender à demanda motorizada,
o que claramente está em dissonância com a Política Nacional de Mobilidade Urbana - PNMU
(BRASIL, 2012).
Após a sanção presidencial da PNMU, a pergunta óbvia sempre feita conta com o
suporte de um diploma legal para que seja respondida: até que ponto a exigência de vagas é
medida que colabora com a melhoria no fluxo e na mobilidade urbana? Não seria a oferta de
vagas orientada para estimular e priorizar o transporte privado, na contramão da tendência
contemporânea em dirigir investimentos ao transporte público e ao não-motorizado? E, por fim,
essa medida de estímulo ao aporte de vagas em lote não estaria também penalizando
empreendimentos privados necessários ao desenvolvimento da cidade?
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Na Tabela 1, é importante ressaltar o fato de que todas as três cidades não consideram
áreas de garagem como área construída, que é a área contabilizada para se chegar ao parâmetro
de exigência no número de vagas de estacionamento. Continuando as comparações, a Tabela 2
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mostra os critérios adotados pela normativa de cada uma dessas três capitais para enquadrar o
tipo edilício no procedimento de cálculo de número mínimo de vagas de estacionamento.
Tabela 2 – Critérios adotados por Natal/RN, Recife/PE e Maceió/AL
Classificação viária do
Natureza funcional do
Porte do edifício logradouro a qual está o terreno
edifício
do edifício
NATAL/RN
RECIFE/PE
MACEIÓ/AL
Fontes: Recife/PE 1996; Maceió/AL 2004; Natal/RN 2004.
Como observado, as três cidades adotam como critérios a natureza funcional do edifício
e o porte do edifício, diferindo apenas na questão da classificação viária do logradouro em que
está localizado o terreno da edificação, já que Maceió não compartilha deste critério.
Apesar de Natal e Recife usarem a classificação viária como um dos critérios na
determinação do número de vagas de estacionamento, as suas normas diferem nas
considerações feitas para se chegar ao enquadramento. Em Natal, o Código de Obras e
Edificações (NATAL, 2004) enquadra o edifício de acordo com a classificação hierárquica da
via, feita diretamente segundo as definições do CTB (BRASIL, 1977):
“VIA ARTERIAL - aquela caracterizada por interseções em nível, geralmente
controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros e às vias secundárias
e locais, possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade.
VIA COLETORA - aquela destinada a coletar e distribuir o trânsito que tenha
necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o
trânsito dentro das regiões da cidade.
VIA LOCAL - aquela caracterizada por interseções em nível não semaforizadas,
destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas.”.
Já para Recife, é usado o conceito de Corredores de Transporte Rodoviário, definido de
acordo com o Art. 34 da Lei 16.176, de Uso e Ocupação do Solo (RECIFE, 1996):
“Art. 34. Os Corredores de Transporte Rodoviário a que se refere o artigo anterior
classificam-se em 3 (três) categorias, a saber:
I - Corredores de Transporte Metropolitano, que compreendem basicamente as vias
que integram o Sistema Arterial Principal do Município, e têm por função principal
atender ao tráfego de âmbito regional e metropolitano;
II - Corredores de Transporte Urbano Principal, que compreendem a Av. Norte e parte
das vias que integram o Sistema Arterial Secundário do Município, e têm por função
específica ligar áreas ou bairros da cidade;
III - Corredores de Transporte Urbano Secundário, que compreendem as demais vias
do Sistema Arterial Secundário e algumas Vias Coletoras do Município, e têm como
função principal articular duas ou mais vias Arteriais Principais ou coletar o tráfego
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Na Figura 1, vê-se o traçado parcial da Av. Antônio Basílio, zona sul de Natal. De
acordo com a tabela de classificação de vias (NATAL, 2004: ver Anexo II), a Av. Antônio
Basílio é enquadrada como Coletora I, que distribui fluxo estrutural e local. No entanto, ela
exerce tal função principalmente no trecho entre a Av. Jaguarari e a Av. Xavier da Silveira. A
partir daí, na direção do Parque das Dunas, a via passa a ter um tráfego de caráter local, no
trecho destacado em verde. Portanto, ao menos esse trecho destacado em verde poderia ser
6
enquadrado como via local com vistas ao cálculo de vagas mínimas a ofertar no projeto de
empreendimento. Para reforçar esse raciocínio, a Figura 2 mostra uma situação diferente.
A Rua Jundiaí, mais ao norte e paralela à Av. Antônio Basílio, também é enquadrada
como Coletora I; também cruza a Av. Sen. Salgado Filho (considerada Arterial I no Código de
Obras e Edificações do município). No entanto, para este caso, observa-se que após cruzar a
Av. Sen. Salgado Filho a Rua Jundiaí passa a ser chamada de Rua Vereador João Alves da Silva
Filho (destacada em verde), e assim como no exemplo citado da Av. Antônio Basílio além da
Av. Xavier da Silveira, nesse trecho a via passa a ter um tráfego de caráter mais local. Nesse
caso, entretanto, a simples mudança no nome do logradouro leva a classificação do trecho em
questão para local, de acordo com as condições da via naquele trecho, o que é mais coerente.
HOSPITAL
Nº VAGAS
ENQUADRAMENTO TIPO DE EXIGÊNCIA DE
CIDADE CASO PORTE PARA O
DO PORTE VIA/ZONA VAGAS
CASO
Arterial 1 vaga / 35m² 229
8.000m²
1º Até 2 pavimentos Coletora 1 vaga / 45m² 178
(2 pavimentos)
Local 1 vaga / 55m² 145
Arterial 1 vaga / 45m² 333
15.000m² Entre 2 e 6
2º Coletora 1 vaga / 55m² 273
(3 pavimentos) pavimentos
NATAL Local 1 vaga / 65m² 231
(RN) Arterial 1 vaga / 45m² 267
12.000m² Entre 2 e 6
3º Coletora 1 vaga / 55m² 218
(3 pavimentos) pavimentos
Local 1 vaga / 65m² 185
Arterial 1 vaga / 55m² 273
15.000m² Acima de 6
4º Coletora 1 vaga / 65m² 231
(7 pavimentos) pavimentos
Local 1 vaga / 75m² 200
Fonte: Natal/RN, 2004 (adaptação do autor).
Como já salientado, essa diferença a maior no número de vagas repercute diretamente
no custo global da edificação. Essa é a questão abordada na seção seguinte.
genérico para todos os tipos de edifícios comerciais é conveniente adotar-se o custo unitário
mais alto para a área construída de hospital, que é de R$1.637,90/m², e o custo unitário mais
baixo para a área de estacionamento, que é de R$1.123,70/m² (o que irá minimizar os resultados,
adotando-se um critério conservador). Esses dois valores de CUB/m² citados são os vigentes
para março de 2016.
É importante destacar que o CUB/m² que o Sinduscon oferece é, na realidade, um custo
global que reflete uma composição entre o custo unitário da construção do edifício útil (área
útil) e o custo unitário de construção do estacionamento (área de estacionamento).
Considerando isso, para apropriar separadamente os custos de partes útil e de garagem, tem-se
que:
de número de vagas de estacionamento de Natal (ver Anexo I), pois para todos eles a
classificação viária incide diretamente nessa exigência;
Para o caso 2 e 3 o percentual de acréscimo foi bem próximo porque apesar de terem
áreas úteis diferentes (caso 2: 15.000m²; caso 3: 12.000m²) estão no mesmo tipo de
enquadramento de porte: entre 2 e 6 pavimentos. Com isso o parâmetro de exigência
para cada tipo de via para esses dois casos é o mesmo;
6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Uma vez feita toda essa avaliação, sempre prezando por dados reais e consultando
profissionais da área, percebe-se que, para Natal, a forma como a classificação viária é levada
em conta no cálculo da exigência do número de vagas de estacionamento acaba por agir de
forma negativa e possivelmente definitiva na viabilidade de um determinado empreendimento,
pois além da questão dos acréscimos de custos diretos analisados nesse artigo (podendo chegar
na ordem de cerca de 20%), ainda há outros aspectos citados no início deste artigo que também
acabam sendo interferidos e que também podem fazer com que o acréscimo no custo seja maior
ainda, como: alternativas de projeto arquitetônico, opções de sistemas estruturais e construtivos,
dentre outros.
É importante alertar que o conjunto dos critérios adotados por Natal acaba por estimular
a verticalização na cidade, pois para os tipos de edifícios que a unidade de enquadramento do
porte é o número de pavimentos (como é o caso de hospitais), a exigência no número de vagas
vai diminuindo conforme se vai aumentando o número de pavimentos, e assim, para edifícios
com mais pavimentos a repercussão do número de vagas no custo da obra é de ordem menor.
Além disso, acaba-se por muitas vezes obrigar determinado empreendimento a ser locado em
regiões mais periféricas, devido justamente ao fato de se ter mais vias classificadas como
“local” e também, aliado a isso, pela maior facilidade de se encontrar terrenos grandes e vazios,
15
onde se possa atender as exigências no número de vagas optando por estacionamento a nível
superficial, que é bem mais barato. Ainda analisando esse aspecto, o fato de se levar grandes
empreendimentos para áreas mais periféricas pode acabar não sendo tão rentável
principalmente quando se trata de edifícios comerciais.
Portanto, é recomendável que Natal reavalie o critério como é levado em conta a
classificação viária na exigência de número de vagas de estacionamento, podendo adotar por
exemplo, o conceito de “Corredores de Transporte Rodoviário” que Recife usa, ou até mesmo
definir melhor, para cada avenida/rua da cidade, os trechos que de fato fazem função de via
arterial, coletora e local, afim de se ter uma exigência mais real, justa e coerente, que tanto
atenda a demanda por vagas quanto também não sacrifique os empreendedores.
REFERÊNCIAS
MADRIGANO, Heitor. Hospitais: modernização e revitalização dos recursos físicos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006.
RECIFE/PE. Lei n° 16.176, de 1996. Estabelece a Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife. Disponível
em: < http://www.legiscidade.recife.pe.gov.br/lei/16176/>
MACEIÓ/AL. Lei nº 5.354, de 16 de janeiro de 2004. Código de edificações e urbanismo. Disponível em: <
http://www.maceio.al.gov.br/wp-content/uploads/plusagencia/documento/ 2014/06/Download-Lei-N.%C2%BA-
5.354-de-2004.pdf >
NATAL/RN. Lei Complementar nº 055, de 27 de janeiro de 2004. Institui o Código de Obras e Edificações do
Município de Natal e dá outras providências. Disponível em: < http://natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-
102.html#legislacao_div >
BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Código de Trânsito Brasileiro. Brasília: DENATRAN, 2016.
Disponível em: < http://www.denatran.gov.br/download/CTB2015.pdf >
BRASIL. Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm>.