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4- PROJETO ESTRUTURAL

4.1- INTRODUÇÃO

De maneira geral, uma construção é concebida para atender a determinadas


finalidades. A sua implantação envolve a utilização dos mais diversos materiais,
adequadamente dispostos e convenientemente solidarizados. Nos edifícios
correntes de vários andares, tem-se, por exemplo, o concreto armado, as alvenarias
de tijolos ou blocos, as esquadrias metálicas e de madeira, os revestimentos, o
telhado, as instalações elétricas e hidráulicas, etc.

Devem ser considerados vários aspectos no projeto de uma construção:

1- Aspectos ligados à sua estética e a sua funcionalidade de uso,


constituindo o Projeto de Arquitetura.

2- Aspectos relativos à sua segurança, constituindo o Projeto de


Estruturas.

3- Aspectos que envolvem instalações elétricas e hidráulicas adequadas,


constituindo o Projeto de Instalações.

Normalmente, os materiais utilizados em uma construção podem ser


divididos em dois conjuntos:

1- Partes "resistentes", constituindo a estrutura da construção.

2- Partes "consideradas não resistentes" constituindo enchimento da


construção.

O primeiro conjunto é o responsável pela resistência e estabilidade da


construção. No nosso caso, será composto pelas peças de concreto armado.

O segundo conjunto é constituído pelos elementos responsáveis pela forma


e outros aspectos da construção. Nos edifícios usuais, constituem enchimento: as
alvenarias, as esquadrias e os revestimentos. Eles são construídos apoiando-se na
estrutura de concreto. Em edifícios de alvenaria estrutural, a estrutura confunde-se
com esta alvenaria.

Dependendo do material de construção, os elementos estruturais são


constituídos de peças de seções padronizadas (por exemplo: perfis e chapas de aço;
e vigotas e pontaletes de madeira). No concreto estrutural, as peças são moldadas
no local permitindo, assim, bastante liberdade na fixação das suas dimensões.

4.2- ELEMENTOS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

A estrutura de um edifício é composta de elementos passíveis de serem


agrupados em lotes com funções semelhantes e bem definidas, denominados
elementos estruturais.

Os elementos estruturais básicos são:

1- Lajes- elemento estrutural bidimensional (placa), geralmente


horizontal, constituindo os pisos de compartimentos; suporta
diretamente as cargas verticais do piso, e é solicitado
predominantemente à flexão.

2- Viga- elemento unidimensional (barra), geralmente horizontal, que


vence os vãos entre os pilares dando apoio às lajes, às alvenarias de
tijolos e, eventualmente, a outras vigas, e é solicitado
predominantemente à flexão.

3- Pilar- elemento unidimensional (barra), geralmente vertical, que


garante o vão vertical dos compartimentos (pé direito) fornecendo
apoio às vigas, e é solicitado predominantemente à compressão.

Existem também, os elementos estruturais de fundação. Eles são elementos


tridimensionais que transferem ao solo as cargas provenientes dos pilares. As
fundações podem ser classificadas em:
1- Diretas ou rasas, quando a transferência de carga se der a pequena
profundidade. Por exemplo: sapatas e blocos.

2- Profundas, quando a transferência de carga se der a “grande”


profundidade. Por exemplo: estacas e tubulões. Neste caso, o
elemento estrutural de fundação que transfere a carga do pilar para as
estacas ou tubulões chama-se bloco de coroamento. Portanto,
inicialmente, a carga do pilar é transferida para o bloco; a seguir, deste
para as estacas ou tubulões e, finalmente, para o solo de apoio da
estrutura.

Além dos elementos estruturais básicos e dos elementos estruturais de


fundação, temos os elementos estruturais complementares. São os elementos
estruturais que completam a estrutura do edifício e que, normalmente, são
formados por uma combinação dos elementos estruturais básicos: escada, caixa
d’água, muro de arrimo, etc.

4.3- LANÇAMENTO DA ESTRUTURA

4.3.1- DIRETRIZES GERAIS

A concepção (ou lançamento) da estrutura de um edifício consiste no


estabelecimento de um arranjo adequado dos vários elementos estruturais
anteriormente definidos, de modo a assegurar que o mesmo possa atender às
finalidades para as quais ele foi projetado.

Estabelecer um arranjo estrutural adequado consiste em atender


simultaneamente, sempre que possível, aos aspectos, segurança, economia (custo e
durabilidade) e aqueles relativos ao projeto arquitetônico (estética e
funcionalidade).

A concepção estrutural deve obedecer a algumas diretrizes gerais:

1- Atender às condições estéticas definidas no projeto arquitetônico.


Como, em geral, nos edifícios correntes, a estrutura é revestida,
procura-se embutir as vigas e os pilares nas alvenarias.

2- O posicionamento dos elementos estruturais na estrutura da construção


pode ser feito com base no comportamento primário dos mesmos;
assim, as lajes são posicionadas nos pisos dos compartimentos para
transferir as cargas dos mesmos para as vigas de apoio; as vigas são
utilizadas para transferir as reações das lajes, juntamente com o peso
das alvenarias, para os pilares de apoio (ou, eventualmente, outras
vigas), vencendo os vãos entre os mesmos; e os pilares são utilizados
para transferir as cargas das vigas para as fundações.

3- A transferência de cargas deve ser a mais direta possível; desta forma,


deve-se evitar, na medida do possível, a utilização de apoio de vigas
importantes sobre outras vigas (chamadas apoios indiretos), bem
como, o apoio de pilares em vigas (chamadas vigas de transição).

4- Os elementos estruturais devem ser os mais uniformes possíveis,


quanto à geometria e quanto às solicitações; desta forma, as vigas
devem, em princípio, apresentar vãos comparáveis entre si;

5- As dimensões contínuas da estrutura, em planta, devem ser, a


princípio, limitadas à cerca de 30 m para minimizar os efeitos da
variação de temperatura ambiente e da retração do concreto; assim,
em construções com dimensões em planta acima de 30 m, é desejável
a utilização de juntas estruturais ou juntas de separação que
decompõem a estrutura original, em um conjunto de estruturas
independentes entre si.

6- A construção está sujeita a ações (por exemplo o efeito do vento) que


acarretam solicitações nos planos verticais da estrutura; estas
solicitações são, normalmente, resistidas por "pórticos planos",
ortogonais entre si, os quais devem apresentar resistência e rigidez
adequadas; para isso, é importante a orientação criteriosa das seções
transversais dos pilares.

4.4- TIPOS DE LAJE

4.4.1- CLASSIFICAÇÃO

As lajes, em concreto armado ou protendido, podem ser classificadas


segundo diferentes critérios. Dentre eles citamos: quanto à forma, quanto à
natureza, quanto ao tipo de apoio e quanto ao tipo de armação.

Quanto à forma, elas podem ser poligonais (retangulares, quadrada


triangulares, octogonais, em T, L, Z etc.), elípticas (aí incluídas as circulares e
anelares) etc.

Quanto à natureza, existem as lajes maciças, nervuradas, mistas, em grelhas,


duplas e pré-fabricadas.
Quanto ao tipo de apoio, as lajes podem ter:

1. Apoio contínuo sobre uma linha (sobre alvenaria, viga ou parede de


concreto);

2. Apoio discreto (diretamente sobre pilares);

3. Apoio proporcionado por determinado trecho de sua área, que esteja


em contato com o solo (também denominadas radiers).

Quanto ao tipo de armação, elas podem ser armadas em uma só direção ou


armadas em cruz, sendo que esta classificação é melhor visualizada no caso das
lajes retangulares, embora, normalmente, possa ser aplicada a vários tipos de laje.

4.4.2- TIPOS DE LAJES DE ACORDO COM SUA NATUREZA

4.4.2.1- LAJES MACIÇAS

São as lajes constituídas por uma placa maciça de concreto armado ou de


concreto protendido. São bastante utilizadas nas edificações e nas pontes.

A espessura de uma laje de concreto armado é função direta do vão a ser


vencido, de forma a se evitar grandes deformações ou que elas vibrem
excessivamente, ocasionando sensação de desconforto.

Para grandes vãos, as lajes maciças podem atingir espessuras tão grandes
que a maior parte de sua capacidade resistente seria utilizada no combate às
solicitações devidas ao peso próprio, tornando a estrutura anti-econômica.
4.4.2.2- LAJES NERVURADAS

Para lajes com grandes vãos, é necessário reduzir o peso próprio da laje, o
que pode ser feito suprimindo-se uma parte do concreto que não trabalha, na zona
tracionada da laje, e agrupando-se as armaduras de tração em faixas, chamadas de
nervuras, como mostra a figura abaixo.

No espaço entre as nervuras costuma-se colocar materiais inertes, de pêso


próprio reduzido em comparação com o do concreto, com as finalidades de
permitir um acabamento plano ao teto e, dependendo do material, de servir de
formas para as nervuras. Eles podem ser:

- tijolos de argila;
- caixas de fibro-cimento ou papelão;
- blocos de materiais diversos (concreto poroso, madeira prensada
etc.);
- placas de gesso;
- placas de Eucatex;
- isopor;
- formas especiais industrializadas.

As lajes nervuradas podem, com vantagens, ser executadas em edifícios


residenciais ou comerciais. Atualmente é comum a utilização de lajes nervuradas,
sem uso de material inerte em prédios onde se necessite de grandes vãos, como,
por exemplo, os edifícios-garagem. Neste caso é comum usar-se lajes de cerca de 8
a 10 m de vão.

Nos dias de hoje o uso de fôrmas industrializadas têm sido a solução mais
viável, a figura abaixo mostra uma destas fôrmas. O acabamento obtido é de ótima
qualidade, desde que não haja a exigência de um teto liso.
Entre as vantagens das lajes nervuradas, pode-se relacionar:

- Obtenção de estruturas mais leves para lajes que vencem grandes


vãos;

- O material de enchimento, quando existente, normalmente é melhor


isolante térmico que o concreto, em alguns casos, é também não
combustível;

- O isolamento acústico oferecido pelo material de enchimento,


quando existente, é superior ao do concreto; a estrutura, para
grandes vãos, é normalmente, mais econômica que as lajes maciças
e que as lajes cogumelo.

Em linhas gerais, as lajes nervuradas podem apresentar as seguintes


desvantagens e/ou exigir cuidados especiais na execução:

- Quando são utilizados tijolos, se os mesmos não forem


suficientemente molhados antes da concretagem, há absorção da
água do concreto.

- A falta desta molhagem, se ocorrer, muitas vezes leva a que se


acrescente mais água ao concreto (por falta de orientação adequada)
durante a execução, aumentando seu fator água/cimento e,
conseqüentemente, diminuindo a resistência do concreto;

- A colocação de eletrodutos, ou quaisquer outros dutos embutidos,


deve sempre ser feita na região das nervuras, pois, se efetuada por
cima dos tijolos, reduzirá a já pequena espessura da mesa
comprimida e, conseqüentemente, diminuirá a resistência da laje,
podendo inclusive comprometer sua estabilidade;
- A distribuição de cargas concentradas não é feita de forma tão
eficiente quanto nas lajes maciças:
As lajes nervuradas podem ter suas nervuras invertidas, dependendo de sua
utilização, assumindo, o aspecto mostrado na figura abaixo, característico de uma
laje dupla. Neste caso, porém, as nervuras devem ter armadura transversal de
estribos obrigatória, necessária como armadura de suspensão para a laje inferior.

Este tipo de detalhe só poderá ser utilizado em lajes em balanço, já que as


nervuras devem estar situadas na zona de tração. Além destes fatos, também sua
execução fica bastante prejudicada, uma vez que a concretagem deve ser feita em
duas etapas: concretagem da laje inferior já com estribos posicionados e, depois da
colocação dos tijolos (quando utilizados), concretagem das nervuras invertidas.

No caso de lajes nervuradas contínuas é necessário que as faixas próximas


aos apoios engastados tenham de concreto na parte inferior, a fim de criar uma área
de concreto comprimido suficiente para resistir ao momento fletor, que nesta
posição traciona a parte superior da laje.

4.4.2.3- LAJES MISTAS

As lajes mistas são semelhantes às lajes nervuradas, tendo como diferenças


básicas a não obrigatoriedade da existência de capa superior de concreto e o fato de
os tijolos, colocados entre as nervuras, trabalharem à compressão, contribuindo
para a resistência total.
A vantagem deste tipo de laje em relação às lajes nervuradas é a de não
haver necessidade da capa superior de concreto, com conseqüente diminuição do
peso, e o aproveitamento da resistência do tijolo, que rias lajes nervuradas é um
elemento inerte, na resistência da laje.

Tendo em vista que se conta com a resistência do tijolo no dimensionamento


das lajes mistas, torna-se conveniente, por questões econômicas, usar-se tijolo
especial, com elevada resistência e controle de qualidade rigoroso.

Estes tijolos especiais, no entanto, em face dos possivelmente elevados


custos de produção, não são mais fabricados no Brasil. Assim sendo, há vários
anos as lajes mistas caíram em desuso.

4.4.2.5- LAJES LISAS E LAJES COGUMELO

As lajes apoiadas sobre pilares, normalmente são chamadas de lajes lisas ou


lajes cogumelo, como mostra a figura abaixo:
Os capitéis são alargamentos no topo dos pilares, ligando monoliticamente o
pilar e a laje, tendo como função o aumento da resistência à punção. Como o apoio
torna-se mais largo, diminuem também as armações de flexão na região do apoio.

Originalmente, no início do século, as lajes cogumelo eram patenteadas, e


havia um grande número de patentes, principalmente nos EUA, as quais se
diferenciavam por algum detalhe de forma ou armação. Dificilmente conseguia-se
executar uma laje cogumelo que não infringisse uma das patentes existentes.
Atualmente as patentes já expiraram, e as lajes cogumelo são de domínio público.

Lajes cogumelo de vãos não muito grandes, de cerca de 5 a 6 m, com


carregamentos usuais, podem normalmente ser projetadas com altura constante.
Esta solução é especialmente vantajosa quando a superfície inferior fica exposta
em locais onde a aparência seja um fator importante.

Lajes com vãos maiores, ou sujeitas a grandes carregamentos, podem


necessitar de engrossamentos, ou capitéis, para aumentar sua resistência à punção.
Em princípio, as lajes cogumelos podem ser consideradas competitivas
economicamente para vãos de 6 a 8m.

Atualmente o aumento na espessura da laje tem sido preferido em


detrimento do capitel e da mísula, tendo em vista a facilidade de execução das
formas.

Deve-se, sempre que possível, manter regular a distância entre os apoios, de


modo a melhorar o seu comportamento estrutural.

As principais vantagens na utilização de lajes cogumelo são:

- Para cargas de grande intensidade, é geralmente mais econômica que a


solução tradicional com vigas e lajes;

- Permite diminuição de pé-direito, mantendo facilidades para passagem


de dutos de instalações sob sua face inferior;

- Formas mais simples e econômicas;

- Facilidades de execução (colocação e verificação de ferragens,


concretagem);
- Menores prazos de execução, em face das simplificações
anteriormente descritas, diminuindo também custos financeiros;

- Maior ventilação e iluminação, pela ausência de vigas que diminuem


circulação de ar e entrada de luz.

4.4.2.6- LAJES PRÉ-MOLDADAS

A laje pré-moldada é toda aquela em que suas partes constituintes são, em


sua maioria, executadas previamente em canteiro ou em fábrica.
Quando esta produção é feita em escala industrial permite que se atenda
mais eficientemente às condições técnicas (controle de materiais mais rigoroso),
estéticas (melhor acabamento) e à rapidez na execução.

As principais vantagens são:

- Geralmente permite maior garantia da qualidade e melhor controle


tecnológico dos materiais, por serem fabricados em usina;

- Coeficiente de minoração da resistência do concreto inferior ao


utilizado para estruturas moldadas na obra, acarretando economia;

- Economiza fôrmas na obra, usando fôrmas metálicas reaproveitáveis na


fábrica, podendo inclusive gerar melhor acabamento superficial;

- Economiza o escoramento, podendo até prescindir totalmente dele;

- Possibilita maior rapidez de execução e início de utilização,


antecipando assim a entrega da obra.

- Geralmente economiza mão-de-obra no local, por ser fabricada em


escala industrial;

- Diminui a necessidade de espaço para estocagem de materiais de


construção na obra.

As principais desvantagens são:

- Encarece com o transporte, se a obra for longe da fábrica;

- É armada em uma só direção, não tirando partido de trabalhar nos dois


sentidos do painel. Geralmente é biapoiada, não aproveitando a
continuidade dos vãos;

- Em geral não possui um, comportamento monolítico com o restante da


estrutura, o que pode ser inconveniente sob o ponto de vista do
contraventamento da edificação;

- As peças são, às vezes, muito pesadas para manuseio, exigindo


equipamentos especiais para transporte e montagem no local.

Dentre as lajes pré-moldadas, podem se distinguir dois tipos mais usuais:


- Lajes compostas de vigotas de concreto e tijolos cerâmicos ou de
concreto, com capeamento posterior de concreto;

- Lajes em painéis de concreto.

4.4.2.6.1- LAJES COMPOSTAS DE VIOGOTAS DE CONCRETO

Este tipo de laje, já muito difundido no Brasil, tem sua principal aplicação
em obras residenciais de pequeno porte. É usada especialmente em prédios de
poucos pavimentos.

Hoje em dia estas lajes estão tão difundidas que há fábricas em praticamente
todas as cidades, pois é possível fabricá-las quase que artesanalmente em qualquer
"fundo de quintal".

A partir do projeto da edificação, as lajes são fabricadas no tamanho


desejado, sendo comumente usadas para vencer vãos de até 4,5m em caso de laje
de piso e de até 5,5m nas lajes de cobertura sem acesso ao público.
Dependendo das sobrecargas e do vão a vencer, os catálogos dos fabricantes
já fornecem a altura da laje, o tipo de vigota, o tijolo cerâmico e a espessura do
capeamento adequados.

Cuidados especiais devem ser tomados com as contra-flechas destas lajes,


pois é grande a tendência de deformação. Geralmente os fabricantes especificam as
contra-flechas necessárias. A não observância deste ponto poderá ocasionar
problemas.

Também são bastante utilizadas as lajes treliçadas, que são compostas por
treliças metálicas e o EPS é o material mais utilizado como elemento de
enchimento, porém pode ser utilizada também a lajota cerâmica.

4.5- ANÁLISE ESTRUTURAL

Com base no item anterior, define-se o sistema estrutural adotado, cujo


representante tradicional é composto por pilares, vigas e lajes maciças. Como
alternativas têm-se lajes nervuradas, lajes sem vigas, apoiadas diretamente nos
pilares, lajes suspensas por tirantes, entre outros sistemas.

A análise de uma estrutura consiste em determinar esforços solicitantes e


deslocamentos, por meio de modelos matemáticos, após a idealização de diversos
fatores, como o comportamento das ações, do material constituinte, das ligações
entre os diversos elementos em que a estrutura pode ser dividida e da resposta
desses elementos frente às ações.

Segundo a NBR 6118:2014, o objetivo da análise estrutural é determinar os


efeitos das ações em uma estrutura, com a finalidade de efetuar verificações de
estados limites últimos (ELU) e estados limites de serviço (ELS).

Com o avanço dos programas de análise estrutural, muitas das


simplificações utilizadas nas décadas passadas não são mais necessárias hoje.
Antes era essencial a subdivisão da estrutura em elementos estruturais simples,
para que eles fossem calculados manualmente. A tendência é, cada vez mais,
analisar a estrutura de forma global, considerando a interação dos diversos
elementos, até mesmo com o solo.

4.6- MODELOS ESTRUTURAIS

Os modelos estruturais consideram composições de um ou mais tipos de


elementos. Esses modelos, também denominados esquemas estruturais, devem
contemplar os diferentes esforços que solicitam a estrutura. Um mesmo elemento
pode fazer parte de mais de um esquema estrutural e, portanto, deve ser
dimensionado para esforços produzidos por todos esses esquemas.

A seguir, apresentam-se alguns dos modelos estruturais mais comuns em


projetos de edifícios de concreto armado. Para ilustrar os diferentes tipos de
modelo será utilizada a estrutura cuja planta de forma é mostrada na figura abaixo.
4.6.1- VIGAS CONTÍNUAS

O modelo clássico de viga contínua considera a viga simplesmente apoiada


nos pilares, como se não houvesse solidariedade ou transmissão de momentos entre
esses elementos. A NBR 6118:2014, no item 14.6.6.1, permite o uso desse modelo
clássico, desde que acompanhado das seguintes correções:

a) não devem ser considerados momentos positivos menores que os que


se obteriam se houvesse engastamento perfeito da viga nos apoios
internos;

b) quando a viga for solidária com o pilar intermediário, e a largura do


apoio medida na direção do eixo da viga for maior que a quarta parte da
altura do pilar, não pode ser considerado momento negativo de valor
absoluto menor do que o de engastamento perfeito nesse apoio;

c) quando não for realizado o cálculo mais refinado da influência da


solidariedade dos pilares com a viga, deve ser considerado, nos apoios
de extremidade, momento fletor igual ao de engastamento perfeito
(tramo biengastado, em geral), multiplicado pelos coeficientes
indicados no quadro abaixo, em que ri é a rigidez de cada elemento,
dada por ri=Ii/li (momento de inércia dividido pelo vão). Ressalta-se
que esses coeficientes já se encontram adaptados para o esquema
indicado na figura abaixo.

Se for utilizado o modelo de viga contínua para analisar a viga V1 da planta


de forma mostrada acima serão obtidos os seguintes diagramas de esforços.
4.6.2- PÓRTICOS PLANOS

Os pórticos planos são composições de elementos lineares, situados num


mesmo plano. Esse modelo considera, de maneira mais precisa que o de vigas
contínuas, a resposta da estrutura frente às ações verticais, pois leva em conta a
transmissão de esforços entre os elementos que constituem o pórtico. Ele também
pode ser utilizado na análise de ações horizontais, dada à possibilidade de
associação dos diferentes pórticos de uma mesma direção, por meio de barras
articuladas nas extremidades, que simulam o efeito das lajes (efeito de diafragma
rígido). Bons resultados são obtidos considerando as lajes como barras de
comprimento menor ou igual a um metro e seção transversal de um metro de
largura e altura igual à verdadeira espessura da laje. As ações horizontais são
aplicadas em uma das extremidades da associação de pórticos (ver figura abaixo).

Se for utilizado o modelo de pórtico plano para analisar a viga V1 da planta de


forma mostrada acima serão obtidos os seguintes diagramas de esforços.
4.6.3- GRELHAS

As grelhas são estruturas planas formadas por barras. Essas estruturas


recebem carregamento perpendicular ao seu plano. Em edifícios, as grelhas são
formadas por vigas e lajes de um determinado pavimento. As lajes maciças ou
nervuradas podem ser satisfatoriamente modeladas como uma malha de barras,
com rigidez à flexão e rigidez à torção, referentes às rigidezes das faixas de lajes
por elas representadas, como mostram as figuras abaixo.
4.6.4. PÓRTICOS ESPACIAIS

O modelo tridimensional é o mais completo para análise estrutural, visto que é


capaz de determinar momentos de flexão e de torção e esforços cortantes e normais
de todos os elementos. Seu uso é adequado para análise de carregamentos verticais
ou horizontais, inclusive com assimetria. Obviamente o ganho em precisão requer
maior complexidade no cálculo, pois cada elemento passa a ter seis graus de
liberdade por nó, ou seja, translação paralela aos três eixos principais e rotação em
torno desses mesmos três eixos. A solução do problema geralmente exige o uso de
programas de análise matricial.
4.7- MÉTODOS DE ANÁLISE ESTRUTURAL

A NBR 6118:2014, item 14.5, permite cinco diferentes tipos de análise


quanto ao comportamento do concreto armado e exige que o projeto apresente
conformidade com pelo menos um desses modelos. Em todos eles, são admitidos
pequenos deslocamentos para a estrutura.

4.7.1- ANÁLISE LINEAR

A análise linear considera os materiais elástico-lineares. O concreto só tem


um comportamento puramente elástico para tensões baixas e de curta duração, ou
até aproximadamente 1/3 da resistência à compressão.

Como simplificação, pode-se utilizar, para cálculo da rigidez dos elementos


estruturais, o momento de inércia da seção bruta de concreto. Na análise linear,
para determinação de esforços solicitantes e verificação de estados limites de
serviço, deve-se utilizar o módulo de elasticidade secante (Ecs).

A análise linear é geralmente empregada na verificação dos ELS; já em


relação aos ELU é utilizada somente para situações em que se possa garantir a
ductilidade dos elementos estruturais. Pode-se considerar, como garantia de
ductilidade, o dimensionamento nos domínios 1, 2 e a limitação da posição relativa
da linha neutra, x/d, que será apresentada no próximo item.

Para o cálculo de flechas, faz-se necessária a consideração não só da


fissuração, que pode ser feita com a inércia equivalente de Branson, como também
da fluência.

4.7.2- ANÁLISE LINEAR COM REDISTRIBUIÇÃO

Uma vez realizada a análise linear de uma estrutura, pode-se proceder a uma
redistribuição dos esforços calculados, decorrente da variação de rigidez dos
elementos estruturais.

A fissuração, e a conseqüente entrada no estádio II de determinadas seções


transversais, provoca um remanejamento dos esforços solicitantes para regiões de
maior rigidez. Essa fissuração pode diminuir de 20 a 70% a rigidez à flexão da
seção de concreto, dependendo da taxa de armadura.

Em suma, a análise linear com redistribuição promove a redução de


momentos sobre os apoios de vigas contínuas e o respectivo aumento dos
momentos nos vãos. A redistribuição se dá pela multiplicação dos momentos nos
apoios por um coeficiente de redistribuição δ e posterior correção dos momentos
nos vãos (ver figura abaixo).

A NBR 6118:2014 permite, para elementos lineares, redução de até 25%


(δ=0,75) para estruturas de nós fixos e de até 10% (δ=0,90) para estruturas de nós
móveis, dependendo de x/d e de fck como indicado nas equações a seguir. Para
elementos de placa, valem as mesmas relações entre δ e x/d. No entanto, o valor
limite mínimo de δ é 0,75.

δ=0,44+1,25·x/d, para concretos com fck ≤ 50 MPa;

δ=0,56+1,25·x/d, para concretos com 50 < fck ≤ 90 MPa.

Quanto menor o valor de x/d calculado no ELU, menor a área de concreto


comprimido, e mais o aço, material mais dúctil que o concreto, passa a ser o
limitante da resistência da seção.

A NBR 6118:2014 limita o valor de x/d, mesmo que não sejam realizadas
redistribuições de esforços solicitantes, aos seguintes valores:

x/d ≤ 0,45 para concretos com fck ≤ 50 MPa;

x/d ≤ 0,35 para concretos com 50 < fck ≤ 90 MPa.

Em pilares, consolos e outros elementos lineares com preponderância de


compressão, a redistribuição só deve ser feita se ela for conseqüência de
redistribuições em vigas ligadas a eles, uma vez que essas peças comprimidas não
apresentam grande ductilidade. A NBR 6118:2014 prescreve, ainda, que não é
desejável que haja redistribuição em serviço e que as verificações de ELS devem
ser baseadas na análise linear.
A principal vantagem da redistribuição de momentos, é que o projetista pode
selecionar distribuições que evitem congestionamentos de armadura nos apoios e a
possibilidade de reduzir os picos do diagrama de momentos fletores para as
diferentes situações de carregamento variável (envoltória).

4.7.3- ANÁLISE PLÁSTICA

A propriedade do material de guardar deformações residuais é chamada de


plasticidade. As principais teorias envolvidas em projetos, que permitem que
elementos estruturais sofram certas deformações permanentes, são a teoria das
rótulas plásticas, para elementos lineares, e a teoria das charneiras plásticas, para
elementos de superfície que trabalhem como placas.

Ao se aumentar continuamente o carregamento de uma viga, por exemplo,


um ou mais pontos críticos de momento máximo podem entrar em escoamento,
dando origem a articulações, ou rótulas plásticas. Uma rótula plástica é
caracterizada por um aumento plástico da curvatura, que pode atingir valor de duas
a três vezes maior que o calculado elasticamente. Esse efeito restringe-se a um
comprimento de plastificação, em torno dos pontos de momento máximo, nos
quais o momento fletor não aumenta mais e passa a ser chamado de momento
totalmente plástico, Mp.

Escoamentos sem contenção ou que produzam a formação de um


determinado número de rótulas plásticas que torne a estrutura ou parte dela um
sistema hipostático dão origem a um mecanismo de colapso. A carga mínima que
provoca um mecanismo de colapso é chamada de carga limite. Em estruturas
hiperestáticas, existe uma reserva de capacidade resistente, visto que, geralmente, é
necessária a formação de mais de uma rótula plástica para que se forme um
mecanismo de colapso.

No caso do concreto armado, o momento de plastificação pode ser


considerado como aquele que provoca um ELU (c=-3,5‰ ou s = 10‰). Por ser
um material de natureza frágil, para a ocorrência de um número de rótulas plásticas
que dê origem a um mecanismo de colapso, é necessário verificar a capacidade de
rotação de cada rótula. A rotação necessária pode ser quantificada pela diferença
entre a rotação total no colapso e aquela que dá início à plastificação.

A NBR 6118:2014 traz a consideração de que, quanto menor for a posição


relativa da linha neutra x/d, maior será a capacidade de rotação do elemento
estrutural. Em função de x/d, é fornecido um gráfico de capacidade de rotação, θp1
Este gráfico é válido para uma relação a/d igual a 6 (a é a distância entre pontos de
momento nulo, da região que contém a seção plastificada). Para outras relações
a/d, deve-se multiplicar os valores extraídos do gráfico por (a/d)/6. A rotação
necessária deve ser menor ou igual à capacidade de rotação dada pela Norma.

A redistribuição de esforços pode ser feita com maior intensidade que na


análise linear com redistribuição, desde que as rótulas plásticas apresentem as
devidas capacidades de rotação plástica. Nota-se que o cálculo plástico tem boa
aplicabilidade nas estruturas simples de elementos lineares, em que se conhece
previamente a posição preferencial de formação das rótulas plásticas (essa posição
pode ser imposta pela disposição da armadura). A análise plástica de estruturas
reticuladas não é permitida quando se consideram os efeitos de segunda ordem
globais.

Para dispensar a verificação da capacidade de rotação plástica das lajes,


deve-se limitar a posição da linha neutra em x/d ≤ 0,25 para fck ≤ 50 MPa e x/d ≤
0,15 para fck > 50 MPa . É necessário, na teoria das charneiras plásticas, adotar um
valor para a relação entre os momentos nos apoios e nos vãos. Uma primeira idéia
consiste em usar relações obtidas por meio de análise elástica convencional, pois
assim se evitariam maiores problemas nas verificações de flechas e de fissuração.
Porém, essas relações costumam resultar exageradas, acarretando valores muito
pequenos para os momentos de vão. Para lajes retangulares, a NBR 6118:2014
impõe um valor mínimo de 1,5:1 para essa relação.

Na análise plástica, preocupa-se com o ELU e não se conhece o


comportamento em serviço. A verificação de ELS deve ser efetuada com uma
análise linear ou não-linear.

4.7.4- ANÁLISE NÃO-LINEAR

Um material de comportamento não-linear é aquele que apresenta uma


relação não-linear entre tensões e deformações, ou seja, essa relação não pode ser
definida por uma constante. A implementação da análise não-linear vem sendo
feita no cálculo usual, embora de forma lenta. Já foram desenvolvidos métodos
simplificados que, acoplados à análise linear, trazem resultados mais fiéis à
realidade. Uma análise completamente não-linear ainda exige esforços
computacionais muito grandes. Sua maior complexidade deve-se principalmente
ao fato de que toda a geometria da estrutura, bem como suas armaduras (estimadas
por análise linear), devem ser previamente conhecidas, o que requer um cálculo
iterativo. Ao final de cada etapa, têm-se novos esforços, que permitem o cálculo de
uma armadura diferente. Essa nova armadura passa a ser utilizada na iteração
seguinte. O processo se repete até que a armadura obtida seja próxima da relativa à
etapa anterior.
Na análise não-linear, é usual a divisão em não-linearidade física (NLF) e
não-linearidade geométrica (NLG).

A NLF refere-se ao comportamento não-linear entre tensões e deformações.


Sua consideração envolve a determinação tanto da rigidez de cada seção
transversal, com variação da quantidade e da disposição de armadura, quanto do
grau de solicitação, a partir das relações constitutivas dos materiais. Um modo
mais simples de considerar a NLF é embutindo-a na análise linear, com uma
redução na inércia bruta da seção transversal. A NBR 6118:2014 prescreve uma
redução desse tipo na análise dos esforços globais de segunda ordem.

Já a NLG considera a relação não-linear entre deformações e deslocamentos


e o equilíbrio da estrutura na posição deformada. Essa análise na posição
deformada fornece os efeitos de segunda ordem, que devem ser somados aos de
primeira ordem.

Normalmente as estruturas apresentam uma resposta não-linear aos efeitos


de segunda ordem, ou seja, os deslocamentos extras não são diretamente
proporcionais ao carregamento aplicado. A consideração da NLG, assim como na
NLF, deve ser feita por meio de análise incremental, iterativa, ou incremental
iterativa, a partir da qual se tem a atualização da geometria deformada, para cada
passo de carga ou para cada iteração. De maneira simplificada, os esforços de
segunda ordem podem ser estimados com o coeficiente γz ou com o processo
P-Delta.

O comportamento não-linear físico do concreto armado em serviço pode ser


modelado de duas maneiras: por meio das relações entre tensões e deformações do
concreto e do aço, ou via diagramas momento versus curvatura, de uma seção
transversal.

As peças fletidas de concreto armado são dimensionadas no estádio III,


porém com coeficientes de segurança. Em serviço, em geral há seções fissuradas e
seções não fissuradas, apresentando comportamento intermediário entre os dos
estádios I e II. Isso se deve, entre outros fatores, à contribuição do concreto intacto
entre fissuras, na resistência à tração, também conhecida como "tension stiffening".
A NBR 6118:2014, no seu item 17.3.2.1.1, recomenda o modelo empírico de
Branson para determinar o valor de uma rigidez equivalente à flexão, a ser
utilizada na verificação do estado limite de serviço relativo a deformações
excessivas (ELS-DEF).

4.7.5- ANÁLISE ATRAVÉS DE MODELOS FÍSICOS


O emprego de modelos físicos não é comum, pois seu custo é elevado e sua
utilização requer equipamentos sofisticados de laboratório e pessoal especializado.
A NBR 6118:2014 sugere a análise por meio de modelos físicos quando os
modelos de cálculo forem insuficientes ou estiverem fora do escopo da Norma.
Geralmente, esse tipo de análise é utilizado em obras de grande importância, em
termos de prestígio público ou de quantidade de capital investido, servindo para
aferir ou ratificar resultados baseados em cálculos analíticos.

Deve-se ter em mente, ao final da apresentação dos possíveis tipos de análise


estrutural, que cada estrutura merece um estudo individual, à qual se deve aplicar
as teorias que mais lhe convierem para a sua resolução. Buscas por análises mais
realistas devem estar sempre presentes nos projetos estruturais, tomando-se sempre
precauções quanto à segurança. A utilização de análise plástica, não-linear ou
linear com redistribuição só deve ser realizada se amparada pelo amplo domínio do
assunto.

4.8- O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ESTRUTURAL

O estrutural é desenvolvido em duas etapas, o projeto preliminar e o projeto


executivo.

Projeto Preliminar- Com as informações recebidas do projeto arquitetônico


e pela equipe multidisciplinar, o projetista da estrutura
inicia seus trabalhos pela concepção estrutural. Nesta
fase são definidas várias especificações e adotados
diversos parâmetros que irão embasar as decisões que
o projetista da estrutura tomará na concepção do
projeto, além de informações específicas nos projetos
especiais, como sondagens geológicas
complementares e ensaios em túnel de vento, etc.

Projeto Executivo- Uma vez atendidos os aspetos relacionados à


estabilidade global o projeto é continuado com o
enriquecimento dos desenhos das pré-fôrmas que se
tomarão as fôrmas definitivas. Pilares, vigas e lajes, já
calculados, estarão representados com suas dimensões
finais (dimensionamento). As interferências com os
demais projetos devem estar assinaladas, tais como:
furações em vigas e lajes para passagens de
tubulações de instalações em geral, sobrecargas de
equipamentos, enchimentos e assim por diante. Neste
momento, entende-se que a compatibilidade com os
demais projetos já deve ter sido alcançada, sendo
atestada pela coordenação do projeto. Com as fôrmas
finalizadas são calculadas as armaduras das peças de
cada pavimento (detalhamento), normalmente de
baixo para cima, pelo fato da estrutura ser sempre o
caminho crítico na execução da obra. Paralelamente
ao cálculo e detalhamento das peças estruturais são
verificados os estados limites de serviço procurando
evitar estados excessivos de deformações e fissuras.

4.9- PARÂMETROS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO


ESTRUTURAL

4.9.1-MÉTODO CONSTRUTIVO

A primeira decisão a ser tomada, e também uma das mais importantes, é a


definição do método construtivo a ser adotado durante a construção. Isto, porque
ele está intimamente ligado ao partido estrutural a ser concebido pelo projetista da
estrutura. Exemplificando, nesta fase deve ser escolhido o tipo de laje a ser
projetada para os andares-tipo e para as lajes da periferia do térreo e subsolos.
Estas lajes podem ser maciças, pré-fabricadas, "planas" (por exemplo, com a
utilização de capitéis), estruturas em forma de grelhas ou vigas nervuradas, entre
outros tipos. No caso de pontes, analogamente, deve ser definido o partido
estrutural, os tipos de vigas pré-moldadas, as aduelas, a forma de lançamento e
assim por diante. Pela existência de tantas alternativas, a concepção e a definição
do método construtivo da estrutura são atividades que devem ser desenvolvidas
simultaneamente.

4.9.2- DEFINIÇÃO DO fck

A determinação do fck do concreto da estrutura, além das condicionantes do


cálculo estrutural definidas pelo projetista, é função de outros fatores relevantes:

. Durabilidade da estrutura: coerente com a NBR 6118/2014, o fck mínimo


é função da agressividade do meio onde será construída a obra.

. Altura do edifício: peças solicitadas à compressão, como os pilares, têm suas


seções reduzidas quando se aumentam os valores do f ck. Desta maneira, em
edifícios altos tem sido vantajoso especificar maiores valores de f ck pela
redução da seção dos pilares e conseqüente aumento das áreas utilizáveis dos
pavimentos e garagens.

. Velocidade de construção: dependendo das características da obra a ser


executada, principalmente o seu ritmo, outras informações podem influenciar na
determinação do fck da estrutura. Por exemplo, a existência de peças protendidas
ou pré-moldadas que, aliadas a um cronograma apertado, exigem um concreto
com maiores resistências nas menores idades para que possam ser feitas,
respectivamente, a protensão ou o içamento das peças. Analogamente, pode
haver a necessidade de retirada de fôrmas e escoramentos primários em períodos
mais curtos. Em todos estes casos a elevação do f ck irá permitir maior agilidade
na execução da obra.

. Custo: o fator custo também é relevante e o projetista de estrutura deve em sua


análise obter o fck ótimo da estrutura. Uma consideração a ser feita é que, com o
aumento do fck do concreto dos pilares há diminuição do volume das peças e da
área das fôrmas, mas o custo de aquisição deste concreto é mais alto.

4.9.3- DIMENSÕES DAS PEÇAS DE CONCRETO

Visando a racionalização, a redução do desperdício de materiais e uma boa


produtividade no canteiro de obras, as peças estruturais devem ter as suas
dimensões previamente determinadas, buscando a maior repetitividade possível e a
coordenação modular eficiente (compatibilidade horizontal e vertical dos vãos
estruturais com alvenarias, caixilhos e outros).

4.9.4- SOBRECARGAS

A definição das sobrecargas acidentais conforme a utilização do edifício, a


definição do tipo de vedação a ser utilizada (gesso acartonado, alvenaria em blocos
cerâmicos, alvenaria em tijolos maciços, e assim por diante), o tipo de
revestimento das paredes, componentes de piso e de forro, se haverá ou não
contrapiso, são decisões a serem tomadas nesta fase do projeto e devem respeitar a
NBR 6120:80 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações.

4.9.5- EQUIPAMENTOS

É uma prática bastante necessária a de informar os equipamentos que serão


utilizados durante a construção, já na fase preliminar do projeto, por duas razões. A
primeira é que as gruas, guinchos, guindastes, elevadores de obra, balancins,
equipamentos fixos e móveis em geral, se informados previamente ao projetista,
permitirão a previsão de suas sobrecargas, de esforços, de eventuais furos ou
passagens por lajes para as suas instalações, de necessidade de reforços na
estrutura, e assim por diante. A segunda, é que a existência de equipamentos de
transporte de materiais, notadamente as gruas, permite ao projetista da estrutura
idealizar peças que possam ser transportadas por estes equipamentos. É o caso dos
elementos pré-moldados de concreto como escadas, painéis de fachada ou de telas
soldadas para armadura de lajes.

4.9.6- EXEQÜIBILIDADE

Além das peças, individualmente, a idéia da exeqüibilidade deve ser aplicada


de maneira mais ampla, contemplando o método constru1ivo nas definições de
projeto. Uma visão global, analisando previamente como a estrutura será
executada, traz ganhos interessantes de produtividade no canteiro de obras,
fundamental para uma eficiente execução da estrutura.

4.9.7- DEFORMAÇÕES

Tem sido um desafio para a engenharia de estruturas e também para as


construtoras, limitar as deformações de peças à flexão, como lajes e vigas, a
valores compatíveis com a sua utilização, sem aumentar demasiadamente o custo
global do sistema estrutural. Daí a importância da concepção da estrutura, pois é
ela que deve resolver ou atenuar as incompatibilidades entre os diversos
subsistemas.

4.10- CONTEÚDO E QUALIDADE DA DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO

Um dos dois requisitos principais da qualidade de um projeto estrutural é a


qualidade da descrição da solução. Isto implica que os desenhos e especificações
contenham informações claras, corretas e consistentes entre si conforme a NBR
6118:2014.

A representação gráfica da estrutura é feita por meio de dois tipos básicos de


desenhos: desenho de forma e desenho de armação. Cada tipo de desenho é
elaborado conforme diretrizes específicas.

A seguir relaciona-se uma série de informações que devem ou podem estar


presentes no projeto de estrutura visando garantir a qualidade da estrutura e
propiciar a produtividade no canteiro.

4.10.1- DESENHO DE FÔRMA

Os desenhos de fôrmas definem completamente, as características


geométricas da estrutura. O projeto deve ser apresentado em escala adequada,
permitindo uma boa visualização. É importante informá-la sempre, nas plantas e
nos cortes. As diretrizes específicas para a elaboração destes desenhos são:

1. Locação da estrutura: à locação consiste na definição de eixos de


referência, principais e secundários, em relação aos quais a estrutura se
posicionará observando, rigorosamente, as medidas prescritas no projeto
arquitetônico. Os eixos de locação da estrutura são, em geral, eixos
característicos da construção e as divisas do terreno onde a mesma será
implantada. Isto permitirá que, quando pronta a estrutura, as vedações e os
acabamentos da construção possam ser implantados exatamente nos locais
previstos no projeto arquitetônico;

2. Desenho de fôrma; propriamente dito, no qual todos os elementos


estruturais são detalhados com base no esquema da estrutura;

3. Cortes característicos: na elaboração dos desenhos de formas, é


importante que sejam bem definidas as posições relativas das lajes e das
vigas. Nestas condições, deverão constar, daqueles desenhos, cortes
capazes de elucidar qualquer dúvida a respeito do citado posicionamento.
Esses cortes, portanto, mostram a existência de lajes rebaixadas e vigas
invertidas;

4. Dimensões: deverão constar dos desenhos de formas todas as dimensões


necessárias para a localização da estrutura e as dimensões relativas aos
elementos ,estruturais quais sejam:

-distâncias entre eixos de locação e entre esses e as divisas do terreno;


-espessuras das lajes;
-dimensões das seções transversais das vigas;
-dimensões das seções transversais dos pilares.

5. Simbologia das peças: Lajes-L; Vigas-V; Pilares-P; Blocos-B; Sapatas-S;


Tubulões-T; Paredes-Par.

6. Numeração:

Lajes: A numeração das lajes será feita, tanto quanto possível a começar
do canto esquerdo superior do desenho, prosseguindo-se para a
direita, sempre em linhas sucessivas, de modo a facilitar a
localidade de cada laje.

Vigas: A numeração das vigas será feita para as dispostas


horizontalmente no desenho, partindo-se do canto superior
esquerdo e prosseguindo-se por alinhamento sucessivos até atingir
o canto inferior direito, para as vigas dispostas verticalmente
partindo-se do canto inferior esquerdo para cima por fileiras
sucessivas, até atingir o canto superior direito. Os vão das vigas
são organizados de forma alfabética da esquerda para a direita nas
vigas horizontais e de baixo para cima na vigas verticais.

Pilares: A numeração dos pilares e tirantes será feita quando possível,


partindo-se do canto superior esquerdo do desenho para a direita
em linhas sucessivas.

4.10.2- DESENHO DE ARMAÇÃO

Os desenhos de armação definem inteiramente as armaduras a serem


utilizadas nos elementos estruturais de concreto armado. As diretrizes para a
elaboração destes desenhos são:

1. Identificação individual das barras que compõem as armaduras;

2. Definição das bitolas, formas e comprimentos das barras;

3. Definição do posicionamento das barras nas seções transversais dos


elementos estruturais.

Deverá constar nos desenhos de armação o cálculo das quantidades de aço


necessária para confecção dos elementos detalhados (lista de aço).

4.11- PRÉ-DIMENSIONAMENTO

4.11.1- PRÉ-DIMENSIONAMENTO DAS LAJES MACIÇAS

As lajes maciças são, normalmente, de forma retangular de lados Lx e Ly


(vãos teóricos correspondentes às distâncias entre os eixos das vigas opostas de
apoio da laje). Apresentam-se, a seguir, as regras para o pré-dimensionamento das
lajes maciças usuais de edifícios sujeitas à cargas distribuídas uniformes.

A espessura da laje (h) pode ser estimada em h = L/40, sendo L o menor


valor entre Lx e Ly. A NBR 6118:2014, item 13.2.4.1, recomenda a adoção de das
seguintes espessuras mínimas, em função do uso da laje.

a) 7 cm para lajes de cobertura não em balanço;

b) 8 cm para lajes de piso não em balanço;

c) 10 cm para lajes em balanço ou que suportem veículos de peso total


menor ou igual a 30kN;
d) 12 cm para que suportem veículos de peso total maior que 30kN.

4.11.2- PRÉ-DIMENSIONAMENTO DAS VIGAS

As vigas são, normalmente, de seção transversal retangular (b por h) e


posicionadas sob as paredes e lajes, as quais suportam. Em geral, a espessura da
viga (b) é definida de modo que ela fique embutida na parede. Assim, tem-se a
espessura b, descontando-se as espessuras de revestimento (erev da ordem de 0,5
cm a 2,5 cm) da espessura da parede acabada (cm).

Segundo a NBR 6118:2014, item 13.2.2, A seção transversal das vigas não
deve apresentar largura menor que 12 cm. Estes limites podem ser reduzidos,
respeitando-se um mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais, sendo
obrigatoriamente respeitadas as seguintes condições:

a) alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de


outros elementos estruturais, respeitando os espaçamentos e coberturas
estabelecidos nesta Norma;

b) lançamento e vibração do concreto de acordo com a NBR 14931.

A altura (h) da seção transversal da viga pode ser estimada em l/10 a l/12,5,
onde l é o vão da viga (normalmente, igual à distância entre os eixos dos pilares de
apoio).

Nas vigas contínuas, costuma-se adotar altura única. No caso de vãos muito
diferentes entre si, deve-se adotar altura própria para cada vão como se fossem
independentes.
No caso de apoios indiretos (viga apoiada em outra viga), recomenda-se que
a viga apoiada tenha altura menor ou igual ao da viga de apoio.

Podem ser adotadas alturas múltiplas de 5 cm, com um mínimo de 25 cm.


Em geral não devem ser utilizados vãos inferiores a 2,5 m. Não devem ser
utilizados também ,vãos superiores a 6 m, face aos valores usuais de pé direito (em
torno de 2,8 m) que permitem espaço disponível, para a altura da viga em tomo de
60 cm.

As vigas podem ser normais ou invertidas, conforme a posição da sua alma


em relação à laje.
4.11.3- PRÉ.DIMENSIONAMENTO DOS PILARES

Os pilares são, normalmente de seção retangular posicionados nos


cruzamentos das vigas, permitindo o apoio direto das mesmas, e nos cantos da
estrutura da edificação.

Os espaçamentos dos pilares constituem os vãos das vigas, resultando, em


geral, valores entre 2,5 m a 6m.

No posicionamento dos pilares devem ser compatibilizados os diversos


pisos, procurando manter a continuidade vertical dos mesmos até a fundação de
modo a se evitar, o quanto possível, a utilização de vigas de transição (pilar
apoiado em viga).

Segundo a NBR 6118:2014, item 13.2.3, a seção transversal de pilares


maciços, qualquer que seja sua forma, não deve apresentar dimensão menor que
19cm.

Em casos especiais, permite-se a consideração de dimensões entre 19 cm e


14 cm, desde que multipliquemos as ações a serem consideradas no
dimensionamento por um coeficiente adicional γ n, de acordo com o indicado na
tabela abaixo.

b ≥19 18 17 16 15 14
γn 1 1,05 1,1 1,15 1,2 1,25
b- menor dimensão do pilar.

Em qualquer caso, não se permite pilar com seção transversal de área


inferior a 360cm².

A princípio, adotam-se para as dimensões do pilar, múltiplos de 5 cm (20


cm, 25 em etc.). Pode-se adotar, também, seção retangular com b≥14 cm (em geral
nos pilares internos) ou seções compostas de retângulos, cada um com b≥14 cm,
em forma de "L", "T", etc.

Para efeito de pré-dimensionamento, a área da seção transversal de concreto


Ac pode ser obtida através da carga total (Ptot) prevista para o pilar. Esta carga pode
ser estimada través da área de influência total do pilar em questão, Atot. No caso de
andares-tipo, ela equivale à área de influência em um andar multiplicada pelo
número de andares existentes acima do lance considerado. A carga total média em
edifícios (Pméd) varia de 10 kN/m² a 15 kN/m² . Portanto, tem-se:
Ptot  Atot  Pméd
Usualmente, a resistência admissível do concreto (σadm) pode variar entre
1 kN/cm² e 1,5 kN/cm². Assim:

Ptot
Ac 
 adm

A partir de Ac tem-se as dimensões da seção transversal do pilar.

A seção do pilar deve ser mantida constante a longo de um lance (entre


pisos consecutivos) pode variar ao longo de sua altura total. Esta variação pode ser
feita a cada, grupo de 3 ou 4 andares. Quando, por, qualquer motivo, a seção for
mantida constante ao longo da altura total, ela deve ser pré-dimensionada no ponto
mais carregado.
EXEMPLO

 Fazer o lançamento da estrutura, o pré-dimensionamento e o desenho de


forma da edificação, cuja a planta baixa está representada no desenho
abaixo, supondo que esta seja composta de térreo e mais cinco pavimentos
tipo.

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