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Resumo
Este texto tem por objetivo fazer uma análise da definição estratégica de uma organização de
pequeno porte, a partir da abordagem da configuração exposta por Mintzberg (2001). Neste
caso, o enfoque será para o contexto empreendedor que possibilita a identificação de algumas
características do funcionamento da organização com a proposta teórica apresenta pelo autor.
Para isso, serão abordados inicialmente alguns conceitos básicos sobre estratégia, buscando
contemplar uma série de variáveis importantes na compreensão do processo de definição
estratégica das organizações. Posteriormente apresenta-se um breve histórico da organização
em questão. Na seqüência é mencionada a abordagem da configuração de estrutura, segundo
Mintzberg (2001) referindo-se especificamente ao contexto empreendedor, com a
identificação do processo da estratégia da referida organização, enfatizando os aspectos de
liderança e centralização, formação da estratégia e mecanismo de controle. As considerações
finais revelam os riscos presentes na perspectiva adotada para atuação da organização em
estudo.
INTRODUÇÃO
A ESTRATÉGIA
Quinn (2001, p. 20) define estratégia como padrão ou plano que integra as
principais metas, políticas e seqüência de ações de uma organização em um todo coerente. A
estratégia quando bem formulada auxilia na alocação dos recursos de uma organização
levando em conta suas competências e deficiências internas e as possíveis mudanças no
ambiente, ou atitudes contingentes realizadas por oponentes. A essência da estratégia é
construir uma postura que seja tão forte que a organização possa alcançar suas metas, apesar
das maneiras imprevisíveis que os concorrentes possam interagir nos momentos de ascensão.
A determinação de uma vantagem competitiva para a empresa está
diretamente ligada à definição da sua estratégia genérica. Esta, a estratégia genérica,
especifica o método fundamental para a vantagem competitiva que a empresa está buscando e
fornece o contexto para as ações em cada área funcional. Assim justifica-se a estruturação de
um plano estratégico amparado pela estratégia genérica. O plano estratégico envolve relações
de ações articuladas com a vantagem competitiva que a empresa tem ou busca conseguir, sem
negligenciar o propósito da estratégia no seu processo de construção (Porter, 1989 p.22).
Mintzberg (2001) apresenta cinco definições de estratégia que podem
auxiliar a direção de pensamentos em um campo tão complexo quanto este:
a) A estratégia como um plano, um curso de ação, um conjunto de diretrizes
com duas características essenciais: o planejamento das ações e o
desenvolvimento consciente e deliberado das mesmas. “Na
Administração a estratégia é um plano unificado, abrangente e
integrado... com a finalidade de assegurar que os objetivos básicos do
empreendimento sejam alcançados (GLUECK apud MINTZBERG,
2001, p. 27)”.
b) A estratégia como pretexto reflete uma manobra específica com a
finalidade de iludir a concorrência. A ameaça, sem a efetiva
concretização, de expansão da capacidade de produção pode inibir a
concorrência que pensa em construir uma nova fábrica.
c) A definição da estratégia como padrão implica em uma seqüência de
ações integrantes de uma correnteza, com consistência no
comportamento. Basicamente, a existência de um padrão de ações que
tanto pode ser planejado como também pode surgir sem suspeita, é a
marca fundamental deste conceito de estratégia.
d) A disposição da organização em uma determinada localização no
ambiente externo caracteriza a estratégia como posição. Neste caso passa
a ser considerada a existência de vários competidores em um mesmo
“campo de batalha”.
e) Conceituar estratégia vai além de olhar para o ambiente externo, por isso,
a quinta definição vê a estratégia como perspectiva. Nesta visão, o ponto
mais importante é a mente do(s) estrategista(s), que na sua percepção e
compreensão do contexto onde está inserida a organização, define as
características e traços que molduram a personalidade da mesma.
concorrência entre empresas de determinado ramo de atividade. “Cada empresa que compete
em uma indústria possui uma estratégia competitiva, seja ela explícita ou implícita. Esta
estratégia tanto pode ter se desenvolvido explicitamente por meio de um processo de
planejamento como ter evoluído implicitamente através das atividades dos vários
departamentos funcionais da empresa” (Porter, 1986 p. 13).
A estratégia empresarial é um processo organizacional, de várias maneiras
inseparável da estrutura, do comportamento e da cultura da companhia na qual é realizada. A
apresentação precisa da estratégia empresarial inclui uma caracterização completa do
direcionamento futuro da organização. Prevê a especificação da linha de produtos e serviços
oferecidos ou planejados pela empresa, dos mercados e os segmentos de mercado para os
quais os produtos e serviços estão sendo formulados ou serão no futuro, assim como os canais
através dos quais esses mercados serão atingidos. Além disso, a definição da fonte dos
recursos que custearão a operação, os objetivos de lucro e a ênfase a ser dada na segurança do
capital versus o nível de retorno. A política principal, nas funções centrais, como marketing,
fabricação, pesquisa, aquisição, pesquisa e desenvolvimento, relações trabalhistas e pessoal,
será declarada, o que distingue a empresa de outras. Também serão incluídos o tamanho do
empreendimento, a forma e o ambiente da organização (Andrews, 2001).
A evolução histórica dos estudos sobre a estratégia tem mostrado que são
vários os elementos constituintes da organização, influenciadores da definição estratégica
empresarial. Aspectos como estrutura, processos, pessoas, orçamentos, ideologia, políticas e
perspectivas ambientais externas fazem parte da operação mais abrangente que envolve a
definição dos rumos da organização.
“Não existe uma “melhor maneira “ de administrar o processo de estratégia.
Uma série de fracassos tem mostrado que as organizações diferem e que, por exemplo,
sistemas de planejamento a longo prazo ou programas de desenvolvimento organizacional
funcionam para algumas empresas mas não para outras. Em virtude disso, a teoria da
administração propõe uma abordagem que defende que o processo estratégico de uma
organização depende da sua configuração (Mintzberg, 2001p. 140,141)”. Os elementos
(estrutura, processos, pessoas, orçamentos, ideologia, políticas e perspectivas ambientais
externas) devem ser integrados para formar uma figura consistente que represente a
organização.
Para compreender a abordagem da configuração é necessário conhecer o
design organizacional que envolve as seis partes básicas da organização. São elas: a) a
essência operacional, responsável pela produção ou prestação de serviços; b) o ápice
estratégico, ocupado por um gerente que coordena todo o sistema; c) a linha intermediária,
que compõe uma hierarquia de autoridade entre a essência operacional e o ápice estratégico;
d) a tecnoestrutura, composta por um grupo de analistas, especialistas que têm posição de
staff, que planejam e controlam formalmente o desempenho dos outros; e) staff de suporte,
responsáveis por serviços internos de lanchonete, seção de malotes e/ou escritório de relações
públicas; f) a ideologia, que abrange as tradições e as crenças que diferenciam as organizações
umas das outras. A configuração tende a ir constituindo-se, compondo assim a estrutura
organizacional, de acordo com o crescimento da organização. O potencial de expansão da
organização é que determina a necessidade de acréscimos em sua estrutura (Mintzberg, 2001).
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Ápice estratégico
Tecno Staff de
Staff de
estrutu suporte
ra Linha
Interme-
diária
Essência Operacional
Ideologia
mesmo tempo, todos de pequeno porte, enxutos e flexíveis, que podem ser administrados por
um único gestor. Todavia, não são apenas as pequenas empresas que podem ser classificadas
como empreendedoras, na verdade todas as novas indústrias, que iniciam suas atividades com
uma estrutura simples e um reduzido volume de recursos, podem fazer parte deste contexto.
Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000, p. 101) afirmam que, “dependendo
do ponto de vista da pessoa, um empreendedor pode ser: a) o fundador de uma organização
(seja ou não um ato de inovação e seja ele ou não um oportunista ou estrategista), b) o gerente
da sua própria empresa, ou c) o líder inovativo de uma organização de propriedade de outros”.
O Laticínio Vila Nova é uma pequena empresa que trabalha na fabricação de
produtos à base de leite, especificame nte queijos. Está no mercado à aproximadamente dois
anos, sendo administrada desde o início das atividades por um gestor que possui também um
outro negócio, em diferente ramo de atividade. A história desta organização pode ser assim
descrita.
Em 1995 iniciou o processo de criação da Associação de Produtores Rurais
de Leite de Mangueirinha. A possibilidade de união dos produtores foi percebida por um
pequeno agricultor que tinha a produção de leite como complemento da renda familiar.
Baseado em um diagnóstico obtido em conversas informais com outros produtores da
redondeza, este percebeu a existência de um problema comum entre eles, o baixo preço de
venda do produto. A partir daí iniciou-se a divulgação da idéia de criação de uma associação,
seguida de reuniões com a participação de alguns produtores.
A efetivação da Associação de Produtores Rurais do Município de
Mangueirinha trouxe benefícios tanto para os produtores como para o comprador do produto
(leite). Para o grupo de produtores, a concentração de maior volume de produto melhorou o
preço de venda, além disso, abriu a possibilidade de compra de equipamentos necessários ao
processo produtivo, para pagamento em produto, com descontos mensais programados.
Aliada à concentração de maior volume de produto está a vantagem percebida sobre o
pagamento do frete, que passou a ser menor, sendo repassado o valor da diferença,
diretamente ao produtor. Já a empresa compradora ganhou na garantia de uma quantidade
mínima de produto, comprada a um preço padrão.
Durante aproximadamente dois anos, não houve registros da atuação da
organização. As primeiras atas foram elaboradas a partir de 1997. A formalização da
Associação dos Produtores Rurais de Leite do Município de Mangueirinha ocorreu em
15/12/1997 com a participação de 26 sócios. A primeira diretoria foi eleita em Agosto/97, por
aclamação, sendo composta por um grupo de quatro sócios que se dispuseram para o trabalho.
Em 1999 houve eleição para uma nova diretoria, assumindo o cargo de presidente da
Associação um sócio que já era empresário e participante da antiga diretoria. Os outros cargos
foram redistribuídos também por alguns membros da diretoria anterior. Isto ocorreu pela falta
de interesse dos demais sócios em assumir a responsabilidade pela organização. Este gr upo
permanece como a diretoria atual, tendo acompanhado toda a estruturação do
empreendimento que se encontra em funcionamento.
Para facilitar a compreensão dos fatos, é necessário fazer um breve
comentário a respeito da situação das empresas que poderiam adquirir o produto oferecido
pela associação de produtores naquela época. Um diagnóstico informal sobre o assunto
revelou que havia cinco empresas como potenciais clientes da associação. Porém, todas elas
apresentavam várias dificuldades de atuação, pois de acordo com argumentos dos seus
proprietários relatados aos dirigentes da associação, o ramo de laticínios é muito instável e
sazonal. Os principais problemas detectados estavam presentes nas deficiências de estrutura
física, máquinas e equipamentos, altos custos de produção, falta de capital de giro, baixo
faturamento e conseqüentemente, atraso no pagamento dos fornecedores1 . Tal situação
encontra-se, inclusive, registrada na ata de reunião da associação ocorrida em 27/02/98.
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Percebe-se assim, que o grupo de associados recebia um reflexo direto da má atuação das
empresas do ramo.
Em função desta situação, os dirigentes da associação, analisando as
dificuldades apresentadas, buscaram uma tentativa de negociação com algumas empresas de
grande porte para fornecimento do produto. Mas, o contato foi apenas inicial, já que as
empresas procuradas não mostraram interesse por considerar pequeno o volume de produto
oferecido pela associação.
A partir disso, o grupo visualizou a oportunidade de um empreendimento,
uma indústria de produtos à base de leite, própria da associação de produtores. A idéia ganhou
dimensão pela percepção de que a associação, mesmo com pouco tempo de atuação, passou a
ser levada em conta no meio político e social. Segundo a visão dos dirigentes, a união do
grupo de produtores facilitaria a disponibilização de recursos para a efetivação do
empreendimento. Em 1998 iniciaram os projetos de criação da indústria. Houve uma grande
preocupação por parte dos dirigentes, para que os pontos fracos das outras empresas do ramo
fossem transformados em pontos fortes neste novo empreendimento.
A preparação da estrutura e das máquinas e equipamentos necessários para a
industrialização estiveram condicionadas, parcialmente, à liberação de recursos de uma linha
de crédito PRONAF 2 . O início das atividades ocorreu em 06/11/2000. Atualmente, o Laticínio
Vila Nova conta com dez funcionários e atua basicamente na produção de queijo, com uma
linha de cinco produtos. A distribuição abrange as regiões Leste e Sudoeste do Paraná.
Ápice estratégico
Linha
Interm.
Essência Operacional
LIDERANÇA E CENTRALIZAÇÃO
encontros mensais para prestação de contas, as decisões refletem a visão do seu presidente,
que tem o apoio de grande parte dos sócios. Quanto aos demais membros da diretoria, têm
exercido um papel de acompanhamento das atividades, sendo responsáveis pela verificação de
alguns relatórios mensais de controle. As expectativas do líder são transformadas em palavras
e ações, repassadas ao gerente intermediário e executadas, resultando na situação atual da
organização: Uma pequena empresa, com pouco mais de dois anos de atividade, que no
momento não consegue atender a demanda pelos seus produtos, com expectativa de expansão
da capacidade de produção para o ano 2003. A expansão deverá acontecer tanto pela demanda
manifesta pelo mercado quanto pelo aumento no volume de matéria prima (leite) oferecido
pelos antigos sócios e por novos integrantes da associação.
FORMAÇÃO DA ESTRATÉGIA
MECANISMO DE COORDENAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Notas
1
Estas informações foram obtidas no depoimento de um dos fundadores da associação, que atuava
diretamente nas negociações com as empresas e, posteriormente passou a atuar como funcionário de
uma delas, portanto, viveu na prática o desempenho complicado da empresa.
2
PRONAF é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar do Ministério do
Desenvolvimento Agrário.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS