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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE ARQUITETURA E DESIGN

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

RAPHAEL KLITZKE BRASIL

DIREITOS POLÍTICOS E DIREITOS DE NACIONALIDADE

CURITIBA

2014
RAPHAEL KLITZKE BRASIL

DIREITOS POLÍTICOS E DIREITOS DE NACIONALIDADE

Trabalho acadêmico de pesquisa desenvolvido como


requisito à obtenção de nota parcial na matéria de
Filosofia do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Léo Peruzzo Jr.

CURITIBA

2014
1. DOS DIREITOS POLÍTICOS

Os direitos políticos dizem respeito à participação do cidadão na vida


pública de seu país e nas atividades de seu governo. Essa participação pode ser
direta e indireta, e varia de acordo com as predisposições constitucionais de cada
nação.

Gomes (2006) os define como “as prerrogativas e os deveres inerentes à


cidadania. Englobam o direito de participar direta ou indiretamente do governo, da
organização e do funcionamento do Estado”. Diz, ainda, Costa (1996):

O direito de votar (jus sufragii) é efeito do fato jurídico do alistamento,


pelo qual a pessoa física passa à condição de cidadão, ou seja, de
eleitor. A inscrição eleitoral faz nascer o direito subjetivo político de
participar da vida política da nação, escolhendo os seus representantes,
que exercerão o múnus público consistente na administração da res
pública.

A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) define, em seu


capítulo IV, Art. 14: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e
pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular”.

1.1. O EXERÍCIO DOS DIREITOS POLÍTICOS – DIREITO DE SUFRÁGIO

O sufrágio é definido basicamente como o poder que o cidadão possui de


votar e ser votado, participando, assim, da soberania do país. No Brasil, o voto,
que é instrumento para exercício do sufrágio, é considerado obrigatório para os
maiores de dezoito anos e facultativo para os analfabetos, os maiores de setenta
anos e os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

Sendo nosso regime democrático representativo, pelo voto elegemos


aqueles que nos representarão na esfera pública, tomando por nós as decisões
que consideram acertadas nas mais diversas áreas de desenvolvimento.

O sufrágio é considerado universal quando abrange todo o país, sem criar


exceções relacionadas à capacidade intelectual, condição socioeconômica ou a
quaisquer características discriminatórias dos indivíduos. No Brasil, o sufrágio
também é considerado “igual”, de vez que os votos de todos os cidadãos
brasileiros têm peso igual.

A elegibilidade, por sua vez, é definida segundo os seguintes itens: a


nacionalidade brasileira; o pleno exercício dos direitos políticos; o alistamento
eleitoral; o domicílio eleitoral na circunscrição; a filiação partidária (de acordo com
regulamento próprio); e as idades mínimas para o exercício de cada cargo
(Constituição da República Federativa do Brasil, 1988). Sobre a elegibilidade, diz
Costa (1996):

Diferentemente, o direito de ser votado (ius honorum) é mais restrito,


nascendo do fato jurídico da filiação partidária mais outros fatos que
poderão se ajuntar a ele por exigência legal (suporte fáctico complexo).
Só pode ter direito de ser votado, quem tiver o direito de votar, sendo
falsa a recíproca.

São inelegíveis, portanto, os “inalistáveis” e os analfabetos, posto que


estes têm seus direitos políticos em situação não regularizada. As inelegibilidades
protegem a integridade da administração pública e do processo eleitoral contra
influências não desejadas ou não fundamentadas nas eleições e nos demais
processos democráticos.

1.2. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

A perda definitiva dos direitos políticos decorre de situações como o


cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado ou a perda
voluntária da nacionalidade brasileira. A suspensão desses direitos é ocasionada
por “decretação da incapacidade civil absoluta; condenação criminal transitada
em julgado, enquanto durarem seus efeitos; improbidade administrativa; recusa
de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa” (Constituição da
República Federativa do Brasil, 1988).

A perda dos direitos políticos consiste na privação definitiva do ius


sufragii e, consequentemente, do ius honorum. A rigor, a perda do
sufrágio acarreta a supressão da elegibilidade porque aquele é
pressuposto inafastável desta. Assim, também, se há suspensão dos
direitos políticos, que consiste na privação temporária de votar e ser
votado (Mendes, 1994).

1.3. A RELAÇÃO DIREITO-POLÍTICA

No Brasil, atua o regime democrático representativo, por meio do qual o


cidadão – amparado por seus direitos políticos – elege seus representantes e faz
parte, a partir disso, da soberania nacional. Nosso sistema de direitos políticos
reflete, portanto, o sistema democrático ao qual estamos submetidos. Sobre as
relações entre direito e política e suas implicações diretas e indiretas, diz Shklar
(1964):

A pergunta cabível aqui, em suma, não é “a lei é política?” mas “que


espécie de política pode a lei manter e refletir?” A lei como instrumento
político pode desempenhar seu papel mais importante nas sociedades
em que os conflitos abertos entre os grupos são aceitos e que são
suficientemente estáveis para poder absorver e solucioná-los de acordo
com os preceitos da lei.

Com isso, Shklar argumenta que mesmo os conflitos sociais e os


problemas mais enraizados nas sociedades podem ser absorvidos e solucionados
pelo sistema de leis e direitos políticos. De uma forma positiva, as leis e a forma
como ela conduz os cidadãos a interagir na vida pública pode ser, logo,
interessante. Sobre a situação inversa, no entanto, Shklar (1964) afirma:

Como instrumento de terror, de coação e de reeducação revolucionária,


ela não tem qualquer utilidade. Um julgamento, o ato jurídico supremo,
como todos os atos políticos, não se realiza no vácuo. É parte de um
complexo total de outras instituições, hábitos e crenças. Um julgamento
realizado dentro de um governo constitucional não é semelhante a um
julgamento num Estado de quase-anarquia, ou numa ordem totalitária. A
lei, em suma, é política, mas nem toda forma de política é legalista.
2. DOS DIREITOS DE NACIONALIDADE

Os direitos de nacionalidade dizem respeito às pessoas que podem exercer


plenamente os direitos políticos de um país, tendo, portando, cidadania plena. Diz
Guimarães (1994):

[A nacionalidade se refere] àquelas pessoas que, integrando a sociedade


política brasileira, podem exercer a cidadania, postulado indispensável à
dignidade humana, como poder popular. A cidadania, que se deseja
plena, só é alcançada através da organização estatal representativa,
social, participativa e pluralista, resultante do verdadeiro Estado de
Direito. Corrigir as graves desigualdades e injustiças sociais, propiciando
os meios de habitação, educação, saúde, alimentação, meio ambiente,
transporte, emprego e segurança, constitui providência indispensável
para que cada cidadão, em igual intensidade de condições paritárias
básicas, possa, decisivamente, ter voz ativa no processo de
desenvolvimento e na solução de problemas coletivos.

Assim, sendo a nacionalidade relativa aos indivíduos que possuem as


mesmas características culturais (língua, raça, religião e meios de vida), é
evidente que, gerando a cidadania e promovendo aos cidadãos direitos políticos e
civis, o Estado Democrático de Direito começa a tornar-se possível. Na definição
de Miranda (1972), citado por Guimarães (1995), “nacionalidade é o laço jurídico-
político de direito público interno, que faz da pessoa um dos elementos
componentes da dimensão pessoal do Estado”.

Sobre os direitos de nacionalidade, a Constituição da República Federativa


do Brasil (1988) estabelece que (sic):

São brasileiros natos os nascidos na República Federativa do Brasil,


ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço
de seu país; os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que qualquer um deles esteja a serviço da República
Federativa do Brasil; os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de
mãe brasileira, desde que seja, registrados em repartição brasileira
competente ou venham residir na República Federativa do Brasil e
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira.
2.1. NATURALIZAÇÃO

A distinção entre cidadão nato e naturalizado nem sempre acontece.


Quando não há essa distinção, o país estabelece um processo de investigação
mais rigoroso para a concessão da naturalização. No Brasil, a Constituição (1988)
define que “a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos casos previstos nesta constituição”. As exceções à regra
são as seguintes: inciso LI do art. 5º da CF (1988) estabelece que:

Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de


crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei.

O terceiro parágrafo do artigo 12 da Constituição Federal define como


privativos de brasileiros natos (não naturalizados) os cargos de Presidente e Vice-
Presidente da República; Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente do
Senado Federal e Ministro do Supremo Tribunal Federal, além da carreira
diplomática e da condição de oficial das Forças Armadas também serem
exclusivas. A composição do Conselho da República também requisita “seis
cidadãos brasileiros natos”. Miranda (1972), citado por Guimarães (1995), reflete
sobre as exceções: “A ratio legis está em que seria perigoso que interesses
estranhos ao Brasil fizessem alguém naturalizar-se brasileiro para que, na
verdade, os representasse”.

2.2. PERDA DA NACIONALIDADE

A Constituição Federal (1988) prevê a perda da nacionalidade brasileira em


apenas dois casos específicos, não sendo possíveis exceções. O parágrafo 4º do
artigo 12 define que apenas perderão a nacionalidade o brasileiro que tiver
cancelada sua naturalização, por decisão judicial, em virtude de atividade nociva
ao interesse nacional e aquele que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos
de reconhecimento da nacionalidade originária pela lei estrangeira ou de
imposição de naturalização pela norma estrangeira (Constituição Federal, 1988).
REFERÊNCIAS

MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de


constitucionalidade: estudos de direito constitucional. 4. ed., rev. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2012. 803 p. (Série escola de direito do Brasil). ISBN 978-85-02-
13426-3 (broch.).

SOUZA, J. P. Galvão de. Introducao a historia do direito politico Brasileiro. 2


ed. Sao Paulo: Saraiva, 1962. 128 p.

COSTA, Adriano Soares da. Direito processual eleitoral. Belo Horizonte: Nova
Alvorada, 1996. 263 p.

SHKLAR, Judith N. Direito, politica e moral. Rio de Janeiro: Forense, 1967. 211
p.

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos


fundamentais na Constituição Federal de 1988 - 6. ed., rev. e at / 2008 6. ed.,
rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. 164 p. ISBN 978-85-7348-
532-5 (broch.)

GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 8. ed. – São Paulo: Atlas, 2012

GUIMARÃES, Francisco Xavier da Silva. Nacionalidade: aquisição, perda e


reaquisição. Rio de Janeiro: Forense, 1995. 159 p. ISBN 85-309-0313-7 (broch.)

CAVARZERE , Thelma Thais. Direito internacional da pessoa humana: a


circulação internacional de pessoas. Rio de Janeiro: Renovar, 1995. 259 p.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em 06 de novembro 2014.

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