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ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE

Organização Mundial da Saúde – Representação Brasil

Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)


Módulo de Princípios de
ISBN: 978-85-7967-018-3
Epidemiologia para o Controle de
Enfermidades (MOPECE)
Manual do facilitador de grupos
9 788579 670183
Organização Pan-Americana da Saúde

Módulo de Princípios de
Epidemiologia para o Controle
de Enfermidades (MOPECE)

Manual do facilitador de grupos

Brasília – DF
2010
© 2010 Organização Pan-Americana da Saúde.

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, desde que citada a fonte e que não
seja para venda ou qualquer fim comercial.

Versão preliminar: traduzida para o português e adaptada, 2010

Módulos de Principios de Epidemiología para el Control de Enfermedades foi elaborado pelo Programa Especial de Aná-
lises de Saúde do Escritório Central da Organização Pan-Americana da Saúde (Washington, DC-EUA) em 2001. ISBN:
92 75 32407 7.
A versão em português, que corresponde aos Módulos de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermida-
des, foi revisada pela Unidade Técnica de Informação em Saúde, Gestão do Conhecimento e Comunicação da OPAS/
OMS no Brasil e pelo Ministério da Saúde por meio do Departamento de Análise de Saúde e pela Coordenação-Geral
de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços.

Elaboração, distribuição e informações:


ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE – REPRESENTAÇÃO BRASIL
Setor de Embaixadas Norte, Lote 19
CEP: 70800-400 Brasília/DF – Brasil
http://www.paho.org/bra

MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)
Esplanada dos Ministérios, Bloco G
CEP: 70058-900 Brasília/DF – Brasil
http://www.saude.gov.br

Revisão técnica:
José Moya, Oscar J. Mujica e Giselle Moraes Hentzy (OPAS/OMS)
Maria Regina Fernandes, Marta Helena Dantas e Adauto Martins Soares Filho (SVS/MS)

Colaboração:
Jarbas Barbosa, Fátima Marinho, Oscar J. Mujica, José Escamilla, João Baptista Risi Junior,
Roberto Becker (OPAS/OMS)

Capa, Projeto Gráfico e Diagramação:


All Type Assessoria Editorial Ltda

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha Catalográfica

Organização Pan-Americana da Saúde

Módulos de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades. Manual do facilitador de grupos /


Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília : Organização Pan-Americana da Saúde ; Ministério da Saúde, 2010.
94 p.: il. 7 volumes.
ISBN 978-85-7967-018-3
Título original: Módulos de Principios de Epidemiología para el Control de Enfermedades.

1. Saúde Pública – Epidemiologia. 2. Educação Profissional em Saúde Pública. I. Organização Pan-Americana da


Saúde. II. Ministério da Saúde. III. Título.

NLM: WC 503.4

Unidade Técnica de Informação em Saúde, Gestão do Conhecimento


e Comunicação da OPAS/OMS no Brasil
Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Orientações ao Facilitador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Facilitação de grupo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Alternativas e opções complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Glossário Básico de Termos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

Exercícios Discutidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Módulo 1: Apresentação e marco conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21


Exercício 1.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Módulo 2: Saúde e doença na população. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27


Exercício 2.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Exercício 2.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Exercício 2.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Exercício 2.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Módulo 3: Medição das condições de saúde e doença


na população . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Exercício 3.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Exercício 3.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Exercício 3.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Exercício 3.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Exercício 3.5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Exercício 3.6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Exercício 3.7. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Módulo 4: Vigilância em saúde pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49


Exercício 4.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Exercício 4.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Exercício 4.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

Módulo 5: Investigação epidemiológica de campo: aplicação


ao estudo de surtos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Exercício 5.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Exercício 5.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Exercício 5.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Exercício integrador em grupo – Surto de doença ictérica numa área rural. . 64

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Manual do facilitador de grupos

Módulo 6: Controle de doenças na população. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81


Exercício 6.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Exercício 6.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Exercício 6.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Exercício 6.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Teste pós-oficina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Bibliografia Selecionada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

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Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Apresentação

A Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil (OPAS) tem grande satisfação em


apresentar os Módulos de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades
(MOPECE) na versão traduzida para a língua portuguesa.

O MOPECE é um instrumento de capacitação em epidemiologia básica, voltado para


profissionais de saúde, especialmente aqueles que atuam nos serviços de saúde locais,
que tem por finalidade promover o conhecimento e a aplicação prática dos conteúdos
epidemiológicos no enfrentamento dos problemas de saúde local, assim como no apoio
ao planejamento e gestão em saúde.

A primeira edição do MOPECE, lançada na década 80, foi escrita em espanhol e teve
ampla divulgação na região das Américas. Em 2001, mediante a incorporação de novos
conceitos e avanços no campo da epidemiologia, foi proposta uma segunda edição.

Para essa publicação, além da tradução da segunda edição para a língua portuguesa,
foram incluídas informações de relevância para a saúde pública, tais como: Orientações
sobre o novo Regulamento Sanitário Internacional (RSI-2005), descrição de uma inves-
tigação de surto de toxoplasmose realizada por profissionais brasileiros, como parte do
Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicado aos Serviços do Sistema Único
de Saúde (EPISUS), entre outras.

Este trabalho é resultado da cooperação técnica entre a OPAS/OMS e a Secretaria de


Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde do Brasil com o objetivo de favorecer
o aperfeiçoamento dos profissionais que compõe a força de trabalho do Sistema Único
de Saúde (SUS), especialmente aqueles que atuam no programa de saúde da família e em
centros de formação em saúde. Em adição, essa publicação contribui com a estratégia de
cooperação internacional (sul-sul); particularmente com os países de língua portuguesa.

Dr. Jarbas Barbosa Eng. Diego Victoria


Gerente da Área de Vigilância da Saúde e Representante da OPAS/OMS no Brasil
Prevenção e Controle de Doenças da OPAS

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 5


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Orientações ao Facilitador
É fundamental que o Facilitador esteja familiarizado com a dinâmica interativa e com os
conteúdos temáticos próprios do MOPECE. As orientações gerais sobre esses aspectos
estão descritas no Módulo 1. Em especial, o Facilitador deve se identificar plenamente
com os objetivos e características do Módulo MOPECE e a Oficina Modular MOPECE,
sintetizados a seguir:

1. o Módulo MOPECE é um instrumento de capacitação em epidemiologia básica; diri-


ge-se a profissionais integrantes de equipes multidisciplinares e redes locais de saúde;
está orientado ao uso da epidemiologia na gestão dos níveis de saúde, especialmente
para facilitar a implementação das respostas práticas à atenção dos problemas de
saúde cotidianos das comunidades;
2. a Oficina Modular MOPECE é uma experiência capacitante coletiva em epidemiolo-
gia aplicada, de natureza presencial e caráter participativo;
3. a experiência coletiva (oficina) que aplica o instrumento de capacitação (módulo),
tem o propósito de estimular e fortalecer a missão da equipe local de saúde através
dos quatro objetivos seguintes:
• capacitar os profissionais das equipes locais de saúde na aplicação sistemática de
conceitos, métodos, técnicas e enfoques básicos da epidemiologia para o controle
de doenças e problemas de saúde nas populações;
• proporcionar a “linguagem comum” necessária para desenvolver redes de comu-
nicação e informação epidemiológicas entre as equipes multidisciplinares locais
de saúde;
• fortalecer os níveis locais de saúde em sua capacidade de organização e resposta
oportuna e eficiente perante situações de alerta epidemiológico; e,
• estimular o desenvolvimento e fortalecer as capacidades analíticas e resolutivas da
prática epidemiológica na gestão local em saúde.

O Facilitador tem responsabilidade transcendental na geração e sustentação de uma


dinâmica de grupo que permita conseguir os objetivos descritos. Em particular, o Fa-
cilitador deve desempenhar um papel ativo instrumental (não protagonista) em três as-
pectos:

1. a administração do trabalho em grupo;


2. a administração do conteúdo temático; e
3. a administração do tempo.

A administração do trabalho em grupo. A experiência capacitante desenvolve-se no


trabalho de grupo. O grupo tem o papel protagonista. O Facilitador deve ajudar os mem-
bros do grupo a encontrar coletivamente um ritmo de avanço sustentável, ajustar seus
tempos apropriadamente, balancear a participação individual, fixar conceitos, procedi­

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Manual do facilitador de grupos

mentos e técnicas básicas, identificar analogias e aplicações práticas na realidade local


dos serviços de saúde e negociar suas discrepâncias individuais de enfoque para alcançar
consenso técnico. Especialmente, o Facilitador deve se concentrar em três tarefas:

1. administrar a leitura coletiva: que inclui o estabelecimento de turnos de leitura em


voz alta, com intervalos regulares e breves, e o monitoramento do ritmo de leitura e
compreensão entre todos os membros do grupo;
2. estimular e moderar a discussão em grupo: que inclui o estímulo permanente à
troca de experiências, exemplos, problemas e situações locais vividas pelos membros
do grupo e o monitoramento de sua relevância para os propósitos da capacitação,
em especial, a fixação de conceitos e sua relação com o contexto prático próprio dos
participantes; e,
3. monitorar a resolução discutida dos exercícios: que inclui o acompanhamento
sistemático, individualizado e coletivo, do procedimento metodológico apropriado
para a resolução de cada exercício apresentado, tanto os de tipo individual como os
de resolução grupal, assim como da argumentação epidemiológica que sustenta cada
resposta. O Facilitador deve estimular o desenvolvimento de aspectos:
• nos exercícios individuais, a sustentação objetiva das evidências;
• nos exercícios grupais, a eficiência para se organizar, distribuir tarefas e resolver
coletivamente o problema colocado; e
• nos exercícios mistos, a promoção do debate e geração de consenso técnico.

A administração do conteúdo temático. A extensão e profundidade dos temas con-


ceituais, metodológicos e operacionais da epidemiologia estão autocontidas nas seis
unidades modulares do MOPECE. Como consequência, o papel docente do Facilitador
deve se restringir a promoção da fixação desses conceitos, métodos e aplicações, se a
dinâmica de grupo assim o demandar. Em particular, o Facilitador deve prestar atenção
a três aspectos:

1. a sequência temática: que inclui a entrega separada e progressiva das unidades


modulares na sequência prevista, conforme o ritmo de avanço do grupo. A primeira
atividade é a resolução do teste pré-oficina, com 25 minutos de duração. Há de se
ter presente que o exercício de integração em grupo, sobre a pesquisa de surtos, no
Módulo 5, tem cinco partes que devem ser administradas de forma sequencial. A
última atividade é a resolução do teste pós-oficina, com 25 minutos de duração, de-
pois do qual é executada a pesquisa de opinião.
2. a compreensão de idéias: que inclui o esclarecimento e complementação de concei-
tos e métodos básicos que se identifiquem necessários durante a dinâmica de grupo.
Nesse Manual do Facilitador de Grupos inclui-se um glossário básico de termos usa-
dos no MOPECE que pode ser útil para harmonizar definições. Dentro do possível, o
esclarecimento de conceitos e métodos deve surgir do debate coletivo do grupo e não
de enunciados prescritivos do Facilitador.

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Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

3. a identificação de usos: que inclui a ênfase na utilidade prática de conceitos, mé-


todos e aplicações da epidemiologia para o controle de doenças no nível local de
saúde. O Facilitador deve estimular o raciocínio dedutivo e a identificação de analo-
gias apropriadas durante a discussão em grupo, com o fim de facilitar a definição de
possibilidades concretas de aplicação dos princípios da epidemiologia no controle de
doenças não transmissíveis, outros danos a saúde que não as doenças propriamente
ditas e eventos positivos de saúde.

A administração do tempo. O Facilitador deve estar em contato permanente com o Co-


ordenador Local da Oficina MOPECE para sincronizar o ritmo de avanço intergrupal e
zelar pelo cumprimento satisfatório dos objetivos de capacitação. A Oficina é intensiva e
seu cumprimento requer 5 jornadas de 8 horas efetivas de trabalho cada uma. Uma jor-
nada diária tem, em geral, 4 blocos de duas horas cada um: os blocos matinais e vesper-
tinos são separados por um recesso para almoço e dois breves recessos para um café. É
importante dedicar especial atenção ao cumprimento do cronograma ideal de execução
do MOPECE, apresentado logo abaixo:

Blocos Diários DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4 DIA 5


1° (2 horas) test + U1 U2 U3 U4 U5
Manhã
2° (2 horas) U1 U3 U3 U5 U6
1° (2 horas) U2 U3 U4 U5 U6
Tarde
2° (2 horas) U2 U3 U4 U5 U6 + test

Esse cronograma serve de referência e é flexível, podendo ser ajustado às necessidades


próprias de cada grupo de trabalho e ao ritmo de avanço intergrupal. Contudo, o tempo
deve ser administrado de forma eficiente, de tal modo que a mesma dedicação fique ga-
rantida no desenvolvimento de cada uma das unidades modulares. Por isso, a presença
em período integral de todos os participantes dos grupos de trabalho é fundamental
para garantir a sustentação do ritmo de avanço do grupo.

A primeira atividade da Oficina é realizar o teste pré-oficina, cuja duração é de 25 minu-


tos. Dependendo das circunstâncias, o Coordenador Local da Oficina decidirá pela
conveniência ou não em solicitar uma apresentação informal dos participantes como
dinâmica para “quebrar o gelo”. É importante garantir a construção de um ambiente
descontraído, de camaradagem e interação coletiva entre os participantes da Oficina.
Depois, formam-se os grupos de trabalho, balanceados, e são designados os respectivos
Facilitadores de Grupo.

O desenvolvimento de cada Módulo em grupos de trabalho pode ser precedido de uma


breve exposição introdutória de 15 minutos em sessão-plenária, que motive o interesse
geral nos aspectos temáticos mais destacados que deverão ser debatidos nos grupos de
trabalho. Ao optar por esta alternativa, é importante garantir que todas as Unidades se-

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Manual do facilitador de grupos

jam sistematicamente apresentadas em sessões plenárias e não somente algumas delas.


Nesse caso, recomenda-se que cada um dos Facilitadores de Grupo seja quem apresente,
pelo menos, um Módulo.

No último dia da oficina, ao terminar a discussão do Módulo 6, será aplicado individual-


mente, o teste Pós-Oficina, de 25 minutos de duração. Depois, uma pesquisa de opinião
deverá ser preenchida e, logo após, ocorrerá a plenária final da Oficina MOPECE.

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Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Facilitação de grupo
Cada grupo de trabalho deve contar com um Facilitador. A função básica do Facilitador
é, exatamente, facilitar a dinâmica de grupo necessária para alcançar os objetivos da ca-
pacitação. Geralmente, isso implica administrar a leitura coletiva, estimular e moderar
as discussões do grupo e monitorar a solução discutida dos exercícios.

Na Oficina MOPECE os Facilitadores de Grupo, assim como as unidades modulares,


tem um papel instrumental no alcance dos objetivos de capacitação. Por outro lado,
é o grupo de trabalho quem tem o único papel protagonista da Oficina MOPECE. É
esse grupo quem deve encontrar um ritmo de avanço sustentável, ajustar seus tempos
­apropriadamente, balancear a participação individual de seus membros, fixar conceitos,
procedimentos e técnicas básicas, identificar analogias e aplicações práticas na realidade
local dos serviços de saúde e, dentro do possível, negociar suas discrepâncias individuais
de enfoque para alcançar consenso técnico de grupo. Nesse cenário dinâmico, espera-
se que o Facilitador ajude o grupo de trabalho a desempenhar com sucesso seu papel
protagonista.

O perfil básico do Facilitador de Grupo é essencialmente o mesmo dos participantes,


com a diferença fundamental de que o Facilitador deve ter sido previamente treina-
do com o MOPECE e, como consequência, estar familiarizado com seus conteúdos e
dinâmica. Essa condição faz possível, em princípio, o efeito multiplicador que respalda o
MOPECE como processo de capacitação voltado aos níveis mais descentralizados. Isso
também implica a conveniência de impulsionar Oficinas MOPECE orientadas à for-
mação de quadros capacitadores (isso é, capacitação de capacitadores) que satisfaçam,
de maneira eficiente, à demanda crescente de capacitação básica em epidemiologia dos
níveis mais locais de ação em saúde.

Certamente, é recomendável que o Facilitador possua experiência profissional básica


na aplicação de princípios e métodos epidemiológicos nos serviços locais de saúde, as-
sim como qualidades docentes. Em especial, a capacidade de interação e estimulação
de grupos, a tolerância à diversidade de opinião e a crítica construtiva são qualidades
desejáveis.

Os Facilitadores de Grupo e o Coordenador Local da Oficina MOPECE devem estar em


contato permanente para sincronizar o ritmo de avanço intergrupal e velar pelo cum-
primento satisfatório dos objetivos de capacitação. Em geral, recomenda-se que o Faci-
litador permaneça com o mesmo grupo de trabalho originalmente designado, embora
o Coordenador Local da Oficina possa considerar conveniente estabelecer um esquema
rotativo.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 11


Manual do facilitador de grupos

Finalmente, recomenda-se que todos os Facilitadores de Grupos e o Coordenador Local


da Oficina MOPECE mantenham breve reunião operacional ao final de cada jornada
diária, a fim de sincronizar o desenvolvimento harmônico dessa experiência capacitante,
assim como assegurar o apoio logístico requerido. O Facilitador de Grupos deve pro-
mover o efeito multiplicativo da capacitação estimulando a execução de oficinas-réplica,
em cascata, em direção aos níveis mais descentralizados das redes e equipes locais de
saúde.

Requerimentos Logísticos

Para a execução da Oficina Modular é necessário, no mínimo, que cada participante


conte com um exemplar do MOPECE, um lápis, um caderno de anotações e uma cal-
culadora padrão. Também é necessária a presença em tempo integral de um Facilitador
para cada grupo de trabalho. Finalmente, é necessário contar com um ambiente físico
apropriado para que cada grupo de trabalho possa se desenvolver com independência.

Em caso de optar pela complementação do desenvolvimento da Oficina MOPECE com


sessões plenárias, é recomendável dispor de um equipamento projetor de transparências
(retroprojetor) e datashow, além do espaço físico apropriado. É desejável que os grupos
de trabalho possam dispor de um quadro-negro ou flip-chart para apoiar as discussões.

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Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Alternativas e opções complementares


A Oficina Modular, tal como foi apresentada, é a proposta ideal de aplicação do MOPECE
no nível local de saúde. Todavia, os testes de campo e a experiência com a edição prévia
identificaram algumas modalidades de uso do MOPECE voltadas a sua adaptação a cer-
tas necessidades, circunstâncias ou demandas especiais nos serviços de saúde. Como
exemplo, sem que isso configure necessariamente sua acreditação formal, mencionam-
se as seguintes:

• O MOPECE poderia ser desenvolvido como material autoinstrucional com su-


pervisão e/ou tutoria formal no nível local.
• O MOPECE poderia ser desenvolvido presencialmente em cinco ou mais dias
não consecutivos, como na Reunião dos Sábados das equipes de uma rede local
de saúde.
• O MOPECE poderia ser desenvolvido no modo não-presencial e/ou livre deman-
da de tempo, como na Lista de Discussão via e-mail de um tópico de rede.
• O MOPECE poderia ser desenvolvido no modo semipresencial e/ou virtual,
através de reuniões periódicas de revisão em tempo real por Internet ou video-
conferência.

Além disso, destacam-se as seguintes opções complementares:

• O MOPECE poderia ser complementado com uma oficina de discussão sobre os


planos e programas locais em saúde, prioridades nacionais em saúde, legislação
sanitária vigente, estrutura e organização das redes e serviços de saúde, normas,
protocolos e instrumentos dos sistemas de informação e comunicação em saúde
e outros aspectos relevantes ao desempenho operacional das equipes locais de
saúde.
• O MOPECE poderia ser complementado com a execução real de um trabalho de
campo com os participantes da Oficina, em um tempo limite e um âmbito local,
sobre pesquisa epidemiológica ou avaliação de um programa de controle ou de
um sistema de vigilância.
• Ao término da Oficina MOPECE haveria a possibilidade de instalar, no plano
profissional, grupos de discussão-revisão de assuntos relevantes em epidemiolo-
gia e, no plano operacional, redes locais de informação e comunicação em saúde,
incluindo sistemas de vigilância.

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Manual do facilitador de grupos

Glossário Básico de Termos


Associação: relação de dependência entre dois ou mais eventos, características ou outras
variáveis. Uma associação está presente se a probabilidade de ocorrência de um evento
depende da ocorrência de outro ou outros.

Conglomerado: é a agregação incomum, real ou aparente, de eventos de saúde que estão


agrupados no tempo e/ou no espaço.

Controle: é o conjunto de ações, programas ou operações contínuas direcionadas a re-


dução da incidência e/ou prevalência de um dano à saúde em níveis tais que deixem de
constituir um problema de saúde pública.

Distribuição: é o resumo completo das frequências dos valores ou categorias de uma


mensuração realizada em um grupo de indivíduos. A distribuição mostra quantos ou
que proporção do grupo encontra-se em um determinado valor ou categoria de valores
dentro de todos os possíveis que a medida quantitativa pode ter.

Doença emergente: é uma doença transmissível cuja incidência em humanos sofreu


incremento nos últimos 25 anos do século XX ou que ameaça incremento em um futuro
próximo.

Doença reemergente: é uma doença transmissível previamente conhecida que reapare-


ce como problema de saúde pública após uma etapa de significativa diminuição de sua
incidência e aparente controle.

Doença transmissível: é qualquer doença causada por um agente infeccioso específico


ou seus produtos tóxicos, que se manifesta pela transmissão desse agente ou de seus pro-
dutos, de um reservatório a um hospedeiro suscetível, seja diretamente de uma pessoa
ou animal infectado, ou indiretamente por meio de um hospedeiro intermediário, de
natureza vegetal ou animal, de um vetor ou do meio ambiente inanimado.

Endemia: é a presença constante de uma doença ou agente infeccioso dentro de uma


área geográfica ou grupo populacional determinados; refere-se também à prevalência
esperada de uma determinada doença dentro dessa área ou grupo.

Epidemia: é a ocorrência de casos de doenças ou outros eventos de saúde com uma in-
cidência maior do que a esperada para uma área geográfica e período determinados. O
número de casos que indicam a presença de uma epidemia varia conforme o agente, o
tamanho e tipo de população exposta, sua experiência prévia ou ausência de exposição
à doença e o lugar e tempo de ocorrência.

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Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Epidemiologia: é o estudo da frequência e distribuição dos eventos de saúde e de seus


determinantes nas populações humanas, e a aplicação desse estudo na prevenção e con-
trole dos problemas de saúde.

Especificidade: medida da probabilidade de diagnosticar corretamente um não-caso;


ou seja, que o teste detecte como saudável (“negativo”) um indivíduo realmente saudável.

Fator de risco: característica ou circunstância detectável em indivíduos ou grupos, as-


sociada a uma probabilidade incrementada de experimentar um dano ou efeito adverso
à saúde. Geralmente, um fator de risco é um atributo ou exposição que incrementa a
probabilidade de ocorrência de uma doença ou outro dano à saúde.

Fonte de infecção: é a pessoa, animal, objeto ou substância de onde o agente infeccioso


passa a um hospedeiro.

Hospedeiro: é uma pessoa ou animal vivo, incluindo as aves e os artrópodes, que em


circunstâncias naturais permite a subsistência ou o alojamento de um agente infeccioso.

Imunidade: é o estado de resistência geralmente associado à presença de anticorpos e


citoquina que possuem ação específica sobre o micro-organismo responsável por uma
doença infecciosa específica ou sobre suas toxinas.

Incidência: é a medida do número de casos novos, chamados casos incidentes, de uma


doença originados em uma população com risco de adoecer, durante um período de
tempo determinado. A incidência é um indicador da velocidade de ocorrência de uma
doença ou outro evento de saúde na população e, como consequência, é um estimador
do risco absoluto de adoecer.

Infecção: é a entrada e desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso no


organismo de uma pessoa ou animal.

Infeccção inaparente: é a presença de um agente infeccioso em um hospedeiro sem que


apareçam sinais ou sintomas clínicos manifestados. A identificação só é possível por
métodos de laboratório ou pela manifestação de reatividade positiva a testes cutâneos
específicos (sinônimo: infecção subclínica, assintomática ou oculta).

Infectividade: é a capacidade do agente infeccioso de poder alojar-se e multiplicar-se


dentro de um hospedeiro.

Letalidade: é a capacidade de produzir casos fatais.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 15


Manual do facilitador de grupos

Patogenicidade: é a capacidade de um agente infeccioso de produzir doenças em um


hospedeiro suscetível.

Período de incubação: é o intervalo de tempo que transcorre entre a exposição a um


agente infeccioso e o aparecimento do primeiro sinal ou sintoma da doença em questão.

Período de latência: é o intervalo de tempo transcorrido desde que se produz a infecção


até que a pessoa se torna infecciosa.

Período de transmissibilidade ou infeccioso: é o intervalo de tempo durante o qual o


agente infeccioso pode ser transferido direta ou indiretamente de uma pessoa infectada
a outra pessoa, de um animal infectado ao ser humano ou de um ser humano infectado
a um animal, inclusive artrópodes.

Portador: é um indivíduo (ou animal) infectado, que hospeda um agente infeccioso


específico de uma doença, sem apresentar sintomas ou sinais clínicos dessa e constitui
fonte potencial de infecção para o ser humano.

Prevalência: é a medida do número total de casos existentes, chamados casos prevalen-


tes, de uma doença em um ponto ou período de tempo e em uma população determina-
da, sem distinguir se são ou não casos novos. A prevalência é um indicador da magnitu-
de de ocorrência de uma doença ou outro evento de saúde na população.

Probabilidade: frequência relativa limite com a qual um evento ocorrerá a longo prazo
em testes repetidos em condições similares.

Razão de chances (odds ratio): é o quociente entre duas chances (ou probabilidades).
Define-se de forma diferente conforme a situação tratada. Em um estudo caso-controle,
a razão de chances (OR) é o quociente entre as vantagens (odds) a favor da exposição
nos casos (a/c) e os controles (b/d) (OR de exposição). Em um estudo de coortes ou um
estudo transversal, a OR é o quociente entre as vantagens (odds) a favor da doença nos
expostos (a/b) e os não expostos (c/d) (OR de doença). Para ambos os casos, o cálculo
fica reduzido a ad/bc.

Reservatório de agentes infecciosos: é qualquer ser humano, animal, artrópode, planta,


solo ou matéria inanimada, onde normalmente vive e se multiplica um agente infeccio-
so e do qual depende para sua sobrevivência, reproduzindo-se de modo que possa ser
transmitido a um hospedeiro suscetível.

Resistência: é o conjunto de mecanismos corporais que servem de defesa contra a inva-


são ou multiplicação de agentes infecciosos, ou contra os efeitos nocivos de seus produ-
tos tóxicos.

16 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Risco à saúde: probabilidade de experimentar um efeito adverso ou dano à saúde.

Risco absoluto: incidência de doença ou outro evento de interesse na população ou


grupo populacional; quantifica a probabilidade de experimentar essa doença ou evento.

Risco relativo: razão entre o risco de adoecer ou morrer entre os expostos ao risco e o
risco de adoecer ou morrer entre os não expostos ao risco.

Sensibilidade: medida da probabilidade de diagnosticar corretamente um caso; ou seja,


que o teste detecte como doente (“positivo”) um indivíduo realmente doente.

Surto: é o aumento incomun no número de casos, dois ou mais casos relacionados epi-
demiologicamente, de surgimento súbito e disseminação localizada em um espaço es-
pecífico.

Suscetível: é qualquer pessoa ou animal que não possui suficiente resistência contra um
agente patógeno determinado que o proteja contra a doença, caso ocorra o contato com
esse agente.

Taxa: medida da rapidez de mudança de um fenômeno dinâmico por unidade de popu-


lação e de tempo. Por definição, em epidemiologia o fenômeno dinâmico é a saúde e, por
extensão, o risco, a doença e a sobrevivência ou a morte na população.

Valor preditivo negativo: medida da probabilidade de que a doença esteja ausente em


um indivíduo no qual o resultado de um teste diagnóstico foi negativo.

Valor preditivo positivo: medida da probabilidade de que a doença esteja presente em


um indivíduo no qual o resultado de um teste diagnóstico foi positivo.

Variável: qualquer quantidade que varia. Qualquer atributo, fenômeno ou evento que
pode assumir valores diferentes.

Vetor: um inseto ou qualquer portador vivo que transporte um agente infeccioso desde
um indivíduo ou seus dejetos, até um indivíduo suscetível, sua comida ou seu ambiente
imediato. O agente pode ou não desenvolver-se, propagar-se ou multiplicar-se dentro
do vetor.

Vigilância: conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou preven-


ção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde indi-
vidual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção
e controle das doenças ou agravos. A vigilância inclui a análise, interpretação e retro
alimentação de dados coletados de forma sistemática, em geral utilizando métodos que

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 17


Manual do facilitador de grupos

se distinguem pelo seu sentido prático, uniformidade e rapidez, em vez de sua precisão
e nível de cobertura.

Virulência: é a capacidade do agente infeccioso de produzir casos graves e fatais.

Zoonose: é uma infecção ou doença infecciosa transmissível que, em condições natu-


rais, ocorre ou pode ocorrer entre os animais vertebrados e o ser humano.

18 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Exercícios Discutidos
Módulo 1: Apresentação e marco conceitual
Manual do facilitador de grupos

Exercício 1.1
Pergunta 1 De acordo com a informação proporcionada, você considera que realmente
ocorreu uma epidemia?

c) Sim, pela simples razão de que a incidência observada da doença


excedia sua frequência esperada na mesma população.

A opção (c) define uma epidemia. Observe que a opção (a) não é correta:
não necessariamente “toda epidemia deve apresentar um grande número
de casos de uma doença”. As opções (b) e (d) não descartam a possibilidade
de que de fato esteja ocorrendo uma epidemia.

Pergunta 2 A incidência acumulada da doença por mil pessoas, por volta do final de
dezembro de 1981 nessa comunidade foi:

b) 24,0 por mil homens e 33,1 por mil mulheres.

A incidência em homens foi 49/2.043 = 24,0 por mil;


em mulheres: 65/1.966 = 33,1 por mil.

Pergunta 3 No que se refere à distribuição da doença por idade e sexo dos casos, por
volta do final de dezembro de 1981, a afirmação correta em relação à inci-
dência é:

d) Entre jovens de 15 a 24 anos, do sexo feminino, foi de 32,4 por mil.

A pergunta exige calcular a incidência por grupos de idades e sexo, a saber:

Incidência por mil


Grupo de idade
(anos)
Total Homens Mulheres
< 15 34,0 25,4 43,0
15-24 23,9 16,2 32,4
25-44 43,9 39,6 48,8
45-64 20,4 22,0 18,9
> 64 6,9 0,0 12,9
TOTAL 28,4 24,0 33,1

O quadro permite comprovar que as opções (a), (b) e (c) não são corretas.

22 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Pergunta 4 Com relação à distribuição de casos por idade e sexo, por volta do final de
dezembro de 1981 nessa comunidade,

c) mais de 60% dos casos masculinos ocorreram entre 25 e 64 anos de


idade.

A pergunta exige calcular a distribuição proporcional de casos por idade e


por sexo, a saber:

Casos por idade (%) Casos por sexo (%)


Grupo de idade
(anos)
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
< 15 29,8 26,5 32,3 100,0 38,2 61,8
15-24 14,9 12,2 16,9 100,0 35,3 64,7
25-44 36,0 40,8 32,3 100,0 48,8 51,2
45-64 16,7 20,4 13,8 100,0 52,6 47,4
> 64 2,6 0,0 4,6 100,0 0,0 100,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 43,0 57,0

A tabela permite comprovar que as opções (a), (b) e (d) não são corretas.

Pergunta 5 Por que motivo você considera que foi necessário realizar um estudo explo-
ratório utilizando outra estratégia de análise?

a) para conhecer com mais segurança certas características do proble-


ma que pudessem orientar no esclarecimento das causas.

Na situação descrita, a epidemiologia descritiva foi insuficiente para identi-


ficar medidas de controle apropriadas para controlar o problema de saúde
na população.

Pergunta 6 Os resultados do estudo de famílias de doentes e famílias de saudáveis dessa


comunidade indicam:

b) que as famílias que compravam óleo de vendedores ambulantes apre-


sentavam um risco de adoecer quase 14 vezes o risco das pessoas que
não faziam uso do mesmo.

A pergunta demanda uma interpretação analítica do excesso de risco;


concretamente a OR (odds ratio, em inglês).

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 23


Manual do facilitador de grupos

Pergunta 7 Na sua opinião e considerando a informação disponível, qual etiologia po-


deria explicar melhor o quadro epidemiológico completo dessa situação?

d) tóxica: agente tóxico disseminado por fonte comum, possivelmente


alimentar.

A evidência mais forte provém do estudo caso-controle; a hipótese tóxica é


compatível com as características descritivas da epidemia: a doença atingiu
indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades, com predomínio femi-
nino; o risco foi mais alto nas mulheres de todas as idades, exceto entre 45
e 64 anos; não houve evidência de contágio em escolas, hospitais ou quar-
téis; ocorreu uma alta proporção de readmissões hospitalares de famílias
inteiras com o mesmo quadro clínico.

Comentários.

A descrição corresponde à epidemia da Síndrome do Óleo Tóxico, que foi identificada


pela primeira vez em Madri, Espanha, em maio de 1981. A epidemia afetou a capital
espanhola e outras 25 províncias ao noroeste da cidade. Os dados apresentados cor-
respondem mais especificamente, ao povoado de Las Navas del Marqués, na província
de Ávila, onde, entre 2 de junho e 9 de julho de 1981, foram realizados 4 estudos caso-
controle para pesquisar as causas da epidemia. Em 10 de junho percebeu-se a associação
entre a presença da doença e o consumo de um óleo de cozinha barato e ilegalmente
comercializado, em embalagens plásticas de 5 litros, por vendedores ambulantes. Em-
bora até aquela data se desconhecesse a substância ou substâncias tóxicas envolvidas e
o exato mecanismo patogênico, o veículo correspondeu ao óleo de cozinha importado
da França para usos industriais, desnaturalizado com anilina a 2%. Hoje, sabe-se que
a síndrome do óleo tóxico é uma doença multissistêmica com três fases clínicas; a fase
aguda corresponde a uma pneumonite com insuficiência respiratória que, no começo
do surto, fez pensar numa pneumonia por micoplasma; a fase intermediária, 2 a 4 me-
ses depois da exposição, caracteriza-se por dores musculares de grande intensidade e
inchaço dos membros (edema); a fase crônica caracteriza-se por lesões cutâneas do tipo
da esclerodermia, bem como transtornos neurológicos periféricos e hipertensão pul-
monar. A retirada do produto do mercado pôs virtualmente fim à epidemia; entretanto,
a saúde de milhares de pessoas foi afetada de forma permanente e grandes esforços de
prevenção terciária continuam sendo realizados atualmente. A epidemia da síndrome
do óleo tóxico na Espanha pôs evidente a importância crucial da higiene alimentar na
vida cotidiana, assim como dos sistemas de alerta e resposta epidêmicas.

24 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Síndrome do Óleo Tóxico: Curva epidêmica; Espanha, maio-dezembro 1981


2000
1900
1800
1700
1600
1500
1400
casos hospitalizados

1300
1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
7 14 21 28 4 11 18 25 2 9 16 23 30 6 13 20 27 3 10 17 24 1 8 15 22 29 5 12 19 26 3 10 17 24

MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1981

Referências bibliográficas
Díaz de Rojas F, Castro-García M, Abaitua-Borda I, et al. The association of oil ingestion with
toxic oil syndrome in two convents. American Journal of Epidemiology 1987;125(5):907-11.
El síndrome del aceite tóxico: conocimientos actuales y perspectivas futuras. Organización
Mundial de la Salud, Oficina Regional para Europa; Copenhague, 1992.
Grandjean P, Takowski S [Editores]. Toxic oil syndrome. Mass food poisoning in Spain. World
Health Organization, Regional Office for Europe; Copenhagen, 1984.
Rigau-Pérez JG, Pérez-Alvarez L, Dueñas-Castro S, et al. Epidemiologic investigation of an
oil-associated pneumonic paralytic eosinophilic syndrome in Spain. American Journal of
Epidemiology 1984;119(2):250-60
Tabuenca JM. Toxic-allergic syndrome caused by ingestion of rapeseed oil denatured with
aniline. The Lancet 1981 September 12; ii:567-8.
Toxic Epidemic Syndrome Study Group. Toxic epidemic syndrome, Spain, 1981. The Lancet
1982 September 25;ii:697-702.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 25


Módulo 2: Saúde e doença na população
Manual do facilitador de grupos

Exercício 2.1
Pergunta 1 Qual dos seguintes fatores condicionam a capacidade de um agente bioló-
gico induzir doença?

e) todos os anteriores.

Pergunta 2 A capacidade de um agente infeccioso de produzir doenças em uma pessoa


infectada denomina-se:

a) patogenicidade.

Pergunta 3 Examine as seguintes afirmações e assinale qual (quais) são verdadeiras e


qual (quais) são falsas:

a) (V) infecção não é sinônimo de doença.


b) (V) a infecção pode ser subclínica ou clínica.
c) (F) a presença de agentes infecciosos vivos nas superfícies exte-
riores do corpo se denomina infecção subclínica.
d) (F) todas as pessoas expostas a um agente infeccioso são infecta-
das.

Pergunta 4 Qual das seguintes proposições indica quando uma infecção é clínica ou
subclínica?

c) presença ou ausência de sinais e sintomas clínicos.

Pergunta 5 Os casos graves e fatais de uma doença com relação ao total de casos clíni-
cos caracterizam a:

c) virulência.

Pergunta 6 Qual das seguintes afirmações relacionadas às doenças transmissíveis é fal-


sa?

d) todos os indivíduos expostos da mesma forma a um agente infeccio-


so serão infectados.

28 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Pergunta 7 Complete o esquema do espectro de gravidade das doenças infecciosas se-


guintes:

Infecção por Neisseria meningitidis

Ao redor de 25% a 35% das infecções por meningococo podem ser inapa-
rentes; daquelas clinicamente aparentes, 30% a 50% são moderadas (me-
ningococemia sem meningite); 35% a 65% são graves e 5% a 15% são fatais
(no passado, a letalidade podia superar 50%). O esquema do espectro de
gravidade aqui mostrado considera infecção inaparente 25% e, dos 75%
restantes da infecção aparente, 40% é moderada, 50% grave e 10% fatal res-
pectivamente.

Hepatite A

Entre 50% e 70% das infecções pelo vírus da hepatite A são inaparentes; dos
30% a 50% que são aparentes, 50% a 80% são moderadas e 20% a 50% são
graves (ictéricas); a letalidade costuma ser menor que 1%. O esquema do
espectro de gravidade aqui mostrado considera infecção inaparente 60%
e, da infecção aparente, 75% moderada, 24% grave e 1% fatal, respectiva-
mente.

HIV/AIDS

A definição do espectro de gravidade da infecção por HIV continua evo-


luindo à medida que mais dados são obtidos, graças aos estudos prospec-
tivos de coortes. Em geral, estima-se que menos de 5% das infecções por
HIV são inaparentes (os chamados pacientes sem progressão a longo prazo);
a infecção aparente tem uma letalidade muito alta, próxima a 90% (fatal);
ao redor de 10% das infecções aparentes são consideradas graves não fatais
(os pacientes com sobrevivência a longo prazo). O esquema do espectro de
gravidade aqui mostrado considera infecção inaparente 5% e, da infecção
aparente, 10% grave e 90% fatal, respectivamente. Este exemplo pode ser-
vir para que o grupo reconheça que o espectro de gravidade não é o mes-
mo que o curso clínico de uma doença. Nesse curso clínico de HIV/AIDS
certamente ocorre uma fase inaparente de portador assintomático, que é

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 29


Manual do facilitador de grupos

parte do processo fisiopatológico. O espectro de gravidade, por outro lado,


faz referência à patogenicidade, virulência e letalidade como propriedades
intrínsecas do agente biológico, neste caso, o vírus da imunodeficiência hu-
mana (HIV).

Os pacientes sem progressão a longo prazo (infecção inaparente) são pes-


soas infectadas com o HIV por um período longo (mais de 10 anos), com
resposta imune normal e estável, sem manifestações clínicas e que não re-
ceberam terapia anti-retroviral. Os pacientes com sobrevivência a longo
prazo (infecção aparente grave não fatal) são pessoas infectadas com o HIV
por um período longo (mais de 15 anos), com imunodeficiência severa mas
estável, com manifestações clínicas, usualmente infecções oportunistas e
com tratamento anti-retroviral e que continuam com vida.

30 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Exercício 2.2
Pergunta 1 O local natural no qual um agente infeccioso vive, cresce e se multiplica
denomina-se:

b) reservatório.

Pergunta 2 O modo de transmissão de pessoa-a-pessoa caracteriza-se por:

d) uma transmissão imediata entre porta de saída e porta de entrada.

Pergunta 3 Da seguinte lista de doenças indique com a letra ‘H’ aquelas que são de
reservatório humano e com a letra ‘E’ as de reservatório extra-humano:

a) (H) Coqueluche
b) (H) Febre tifóide
c) (H) Malária
d) (E) Leptospirose
e) (H) Difteria
f) (H) Cólera
g) (E) Raiva
h) (E) Tétano

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 31


Manual do facilitador de grupos

Pergunta 4 Qual dos seguintes não é um reservatório de agentes infecciosos?

d) o ar.

Pergunta 5 Portadores são definidos como pessoas que:

c) albergam certos agentes infecciosos sem apresentar evidência da do-


ença mas servem como fontes potenciais de infecção

Pergunta 6 A maioria das doenças é transmitida durante a fase inicial do período de


incubação.

falso __ü__

Pergunta 7 Qual das seguintes opções não é uma característica dos portadores huma-
nos?

c) estão infectados e apresentam sinais e sintomas clínicos.

Pergunta 8 Qual das seguintes portas de saída é geralmente a mais importante e mais
difícil de controlar?

a) o trato respiratório.

32 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Exercício 2.3
Pergunta 1 Quais são os fatores relacionados ao hospedeiro?

a) a resistência ou susceptibilidade à doença.

Pergunta 2 Qual dos seguintes não é um fator geral de resistência à infecção?

d) as antitoxinas.

Pergunta 3 Qual das seguintes condições aumenta a susceptibilidade à infecção?

e) a, b e c.

Pergunta 4 A transferência de anticorpos maternos para o feto confere que tipo de


imunidade?

c) passiva natural.

Pergunta 5 Que tipo de imunidade confere uma vacina?

b) ativa artificial.

Pergunta 6 A única explicação possível sobre a ocorrência de vários casos de uma do-
ença transmissível em uma mesma família reside nas características genéti-
cas comuns a essa família.

falso __ü__

Pergunta 7 Quais das seguintes afirmações são corretas?

a) existem infecções virais benignas que podem contribuir para a intro-


dução de uma doença bacteriana grave.
c) as bactérias estimulam uma reação inflamatória da pele no lugar da
invasão.
e) as expressões culturais de grupos étnicos e familiares são tão impor-
tantes como suas características genéticas comuns para determinar
sua susceptibilidade ou resistência às doenças.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 33


Manual do facilitador de grupos

Exercício 2.4
Este exercício coletivo tem respostas múltiplas e variadas. O grupo deve considerar de
forma sistemática cada um dos elementos da cadeia epidemiológica para a doença sele-
cionada e cada um dos níveis do modelo de determinantes da saúde.

34 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo 3: Medição das condições
de saúde e doença na população
Manual do facilitador de grupos

Exercício 3.1
a) Qual é o número de casos incidentes da doença no mês de setembro?
Doze (12). (Casos novos: H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R e S).

b) Qual é o número de casos prevalentes no dia 15 de setembro?


Seis (6). (Casos presentes no dia 15 de setembro: C, D, H, I, J e K).

Exercício 3.2
localidade A localidade B

161 12
a) a taxa de mortalidade em menores de 5 anos (por 1.000) = 48,1 = 1,7
3.350 6.901

105 10
b) a taxa de mortalidade infantil (por 1.000 nascidos vivos) = 123,5 = 8,2
850 1.226

c) a taxa de mortalidade por diarréia em menores de 5 anos 36 0


= 10,7 = 0
(por 1.000) 3.350 6.901

d) a taxa de mortalidade por infecções em menores de 1 ano 32 4


= 37,6 = 3,3
(por 1.000 nascidos vivos) 850 1.226

e) O que se observa ao comparar as localidades A e B?

A localidade A tem menor população que a localidade B. Há diferenças


importantes na estrutura da população: a localidade A tem uma população
total aproximadamente sete vezes menor que a localidade B; mas sua po-
pulação com menos de 5 anos é apenas duas vezes menor. A localidade A
tem taxas de mortalidade consistentemente mais altas que a localidade B. O
risco de morrer antes de completar um ano de idade e antes de completar 5
anos de idade é mais alto em A do que em B. Na localidade A a mortalidade
por doenças infecciosas e previsíveis é um problema de saúde de grande
magnitude na população infantil (menores de 5 anos). Segundo os indica-
dores apresentados, a localidade B tem uma melhor situação de saúde.

O Facilitador poderia considerar conveniente solicitar ao grupo que quan-


tificasse suas comparações. Por exemplo, ao perguntar, “quantas vezes mais
alta é a mortalidade infantil na localidade A do que na localidade B?”, ele
estaria induzindo ao cálculo, de forma implícita, de uma razão de riscos
(risco relativo). Nesse caso, o Facilitador pode indicar isso ao grupo, sem
entrar em detalhes explicativos, mas sim, anunciando que esse princípio
fundamental do enfoque epidemiológico será revisado mais adiante neste
Módulo.

36 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Exercício 3.3
Pergunta 1 Que denominador você empregaria para o cálculo das seguintes medidas?

a) A incidência acumulada de dengue hemorrágica no país X em 2000.

População do país X em 2000 que vive em áreas de risco de transmis-


são de dengue.

b) A incidência acumulada de pneumonia em crianças em idade esco-


lar da província Y em 2001.

População escolar da Província Y em 2001.

Pergunta 2 Em uma ilha do Caribe a letalidade por febre tifóide é de 5%. Durante o ano
2000 ocorreram 40 óbitos devido a essa doença. Quantos casos de tifóide
ocorreram nessa comunidade insular no ano mencionado?

5 óbitos por 100 casos 40 × 100


X= = 800 casos de febre tifóide
40 óbitos por X casos 5

Pergunta 3 Uma taxa de incidência usualmente expressa em porcentagem que se re-


fere a populações específicas, em períodos de tempo limitados, como, por
exemplo, epidemias, é conhecida como:

d) Taxa de ataque.

Pergunta 4 Analise a Figura 3.9 e, de acordo com a informação apresentada, resolva os


pontos considerados a seguir:

a) A taxa de mortalidade (por 100.000) para o grupo de idade de 1 a 4


anos

251
× 100.000 = 512,2 por 100.000 habitantes de 1 a 4 anos
49.002

b) A taxa de mortalidade (por 100.000) para o grupo de idade a partir


dos 65 anos

1.076
× 100.000 = 5.784,0 por 100.000 habitantes de 65 e mais anos
18.603

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 37


Manual do facilitador de grupos

c) A taxa de mortalidade (por 100.000) para o grupo de 25 a 44 anos

408
× 100.000 = 350,1 por 100.000 habitantes de 25 a 44 anos
116.538

d) Comente estes resultados com relação à magnitude da mortalidade


nos grupos de idade. Considere que são típicos em qualquer popula-
ção.
Nesse exercício o grupo deve identificar a forma da distribuição da
mortalidade (ou seja, do risco de morrer) em função da idade. Geral-
mente, a mortalidade segue uma distribuição em forma de “U” ou de
“J”; ou seja, o risco de morrer é mais alto nos extremos da vida. Por
extensão, esse princípio básico aplica-se à descrição e análise de todo
tipo de risco de adoecer e morrer, bem como à distribuição de fatores
de risco e outras variáveis de importância epidemiológica e, confor-
me o caso, sua distribuição pode ter uma forma distinta e específi-
ca. Em determinadas populações, como por exemplo, a população
masculina, o risco de morrer pode ter uma forma de “W” em função
da idade, no qual o pico intermediário corresponde ao aumento da
mortalidade por causas externas, em especial, pela violência. Qual-
quer alteração observada na forma da distribuição conhecida ou
esperada de uma variável epidemiológica importante pode indicar,
quer um problema com a validade dos dados (por exemplo, que a
mortalidade em crianças de 1 a 4 anos de idade seja igual ou maior
à mortalidade nos menores de um ano) quer uma mudança poten-
cialmente importante na distribuição do risco na população (por
exemplo, uma epidemia ou uma modificação nos estilos de vida). O
padrão internacional recomenda que as taxas de mortalidade espe-
cíficas por idade (ou outra variável) sejam expressas por cem mil in-
divíduos da população específica a qual se refere. Geralmente, a taxa
de mortalidade específica nos menores de 1 ano é levemente mais
alta que a taxa de mortalidade infantil (expressa por mil nascidos
vivos e não por mil menores de um ano).

38 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Pergunta 5 Foram diagnosticados vinte e seis casos de tuberculose em Cidade Alta en-
tre 1° de janeiro e 30 de junho de 2000. O total de casos ativos em 30 de
junho era 264. A população de Cidade Alta era de 183.000 habitantes.

a) Qual foi a incidência de tuberculose em Cidade Alta durante esse


período?
(b) 14,2 casos novos por 100.000 habitantes

26
x 100.000 = 14,2 por 100.000 habitantes
183.000

O Facilitador pode julgar conveniente indicar uma precisão de cál-


culo que reflita um importante aspecto conceitual. A prevalência e a
incidência diferem em seu numerador: a prevalência emprega todos
os casos; a incidência apenas os casos novos. Isso é bem conhecido.
Contudo, ambas as medidas também diferem em seu denominador:
a incidência deve levar em consideração somente a população em
risco (ou seja, aquela de onde surgem os casos novos). Assim, o cál-
culo seria:

26 26 casos novos
= x 100.000 = 14,2 por 100.000 habitantes
183.000 - (264 - 26) 182. 762 pessoas em risco

Em 1° de janeiro de 2000, já existiam 238 (264-26) casos de tubercu-


lose em Cidade Alta; portanto, a partir dessa data, a população com
risco de contrair tuberculose era de 183.000 menos os 238 casos (que
já não estão ‘em risco’). Os 26 casos novos detectados no primeiro
semestre surgem dessa população de 182.762 pessoas em risco. Em-
bora o resultado na situação apresentada não mude, esse princípio
é fundamental para entender o significado epidemiológico da inci-
dência.

b) Qual foi a prevalência de tuberculose em Cidade Alta em 30 de ju-


nho de 2000?
(b) 144,3 casos por 100.000 habitantes

264
x 100.000 = 144,3 por 100.000 habitantes
183.000

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 39


Manual do facilitador de grupos

c) Existe semelhança dessa morbidade por tuberculose com a da sua


área de saúde?

Aqui, obviamente, as respostas podem variar.

O Facilitador pode sugerir o uso da Figura 3.1 (relação entre inci-


dência e prevalência; página 41 do Módulo 3) para que os membros
do grupo expliquem, por um lado, o perfil da morbidade por tu-
berculose apresentado neste exercício e, por outro, o da sua própria
comunidade. A prevalência pode ser vista como um indicador do
volume ou magnitude da tuberculose na comunidade; a incidência
como um indicador da velocidade com que se propaga nessa po-
pulação. A morbidade por tuberculose em Cidade Alta resume-se
numa prevalência 10 vezes mais alta que a incidência em meio ano.
Com ajuda da analogia esquematizada na Figura 3.1, o grupo pode-
ria discutir o papel da duração da doença, o acesso ao programa de
controle de tuberculose e a eficácia do mesmo para explicar os perfis
de mortalidade por tuberculose.

Pergunta 6 No terceiro domingo de fevereiro de 2001 celebrou-se numa comunidade


de 462 habitantes um baile de carnaval, ao qual assistiram 287 pessoas. Nas
últimas duas semanas de março o posto de saúde local atendeu 79 pessoas
que foram se consultar devido a prurido intenso e erupção cutânea papu-
lovesicular. Setenta e seis delas haviam estado no baile. Dos 161 homens
participantes desse evento social, 53 adoeceram. 68,3% das pessoas pre-
sentes no baile tinham entre 20 e 39 anos de idade; neste grupo de idade
encontravam-se 82,9% dos doentes. Calcule:

a) a taxa de ataque nos participantes da festa;


76
x 100 = 26,5%
287
b) a taxa de ataque nos homens participantes da festa;
53
x 100 = 32,9%
161
c) a taxa de ataque nas mulheres participantes da festa;
23
x 100 = 18,3%
126

40 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

d) a taxa de ataque no grupo de 20 a 39 anos de idade.


287 x 68.3% = 196 participantes entre 20 e 39 anos; entre eles, 76 x
82,9% = 63 estavam doentes:
63
x 100 = 32,1%
196

e) Como você interpretaria estes resultados?


O grupo deveria identificar facilmente que a situação apresentada
corresponde a um surto (inclusive poderia sugerir uma fonte co-
mum). Toda interpretação deve guiar-se pela evidência disponível;
portanto, o Facilitador deve esperar dos participantes uma exposi-
ção fundamentada e sistemática dos principais fatos: a prevalência
de exposição foi muito elevada (mais de 60% do povoado partici-
pou do baile de carnaval); a taxa de ataque nos expostos foi mui-
to alta (26,5%); a doença afetou predominantemente os homens
(53/76=69,7%); o risco de adoecer (em outras palavras, a taxa de
incidência) foi mais alta em homens e em adultos jovens. Também é
possível observar que o lapso transcorrido entre a exposição e a apa-
rição dos primeiros casos foi por volta de 4 semanas e que o quadro
clínico típico era prurido intenso e erupção cutânea.

A situação descrita correspondeu a um surto de escabiose (acaríase,


sarna).

Pergunta 7 Examine o Quadro 3.10 e resolva as questões a seguir.

a) os números na Coluna 4 representam:


(c) a distribuição proporcional dos casos por idade.
b) os números na Coluna 5 representam:
(b) as taxas de ataque por idade.
c) comente brevemente a informação contida no quadro.
O grupo de idade mais atingido é o grupo a partir dos 40 anos (33,3%
de todos os casos), seguido pelo de 5 a 19 anos (28,6% dos casos). O
grupo de idade em maior risco é o de 5 a 19 anos (taxa de ataque:
35,3%) e o de 20 a 39 anos (taxa de ataque: 21,7%).

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 41


Manual do facilitador de grupos

Pergunta 8 O programa de atenção integrada de doenças prevalentes na infância de


um posto de saúde estabeleceu que o tempo de duração de todos os casos
de pneumonia em crianças de 5 a 9 anos de idade atendidas nos últimos
dois meses foi de 9, 7, 11, 9, 8, 4, 6, 12, 6, 8, 8 e 5 dias, respectivamente.
Usando esta informação, calcule:

a) a moda;

4, 5, 6, 6, 7, 8, 8, 8, 9, 9, 11, 12 ð moda = 8 dias

b) a mediana;

4, 5, 6, 6, 7, 8, 8, 8, 9, 9, 11, 12 ð mediana = 8+8


8 dias
2

c) a média;
n = 12;
média =

4 + 5 + 6 + 6 + 7 + 8 + 8 + 8 + 9 + 9 + 11 + 12 93
= = 7,8 dias
12 12

d) a amplitude;
4, 5, 6, 6, 7, 8, 8, 8, 9, 9, 11, 12 ðcategoria (amplitude) = 12 – 4 = 8 dias

e) o desvio-padrão.
DE =
2 2 2 2 2 2
(4 − 7,8) + (5 − 7, 8 ) + (6 − 7 , 8 ) + ... + ( 9 − 7 , 8 ) + (11 − 7 , 8 ) + (12 − 7 , 8 ) 60 , 25
= = 2 , 3 dias
12 − 1 11

42 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

f) No espaço a seguir, represente a distribuição da variável de interesse


utilizando um gráfico apropriado.
3
número de casos

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
período de incubação (dias)

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 43


Manual do facilitador de grupos

Exercício 3.4
Tabela 3.12a Rubéola em León; 1999: Taxa de Ataque (TA) por 100.000 por idade

idade (anos) casos população TA


0-4 19 61.932 30,7
5-9 41 52.555 78,0
10 -14 31 46.940 66,0
15 - 19 12 43.285 27,7
20 - 24 10 34.373 29,1
25 - 29 10 28.097 35,6
30 - 34 6 23.419 25,6
35 - 39 1 19.318 5,2
40 e mais 0 64.602 0,0
total 130 374.521 34,7

Tabela 3.12b Rubéola em León; 1999: Taxa de Ataque (TA) por 100.000 por idade e sexo

homens mulheres
idade
(anos)
casos população TA casos população TA
0-4 9 29.809 30,2 10 32.123 31,1
5-9 14 25.539 54,8 27 27.016 99,9
10 -14 10 22.886 43,7 21 24.054 87,3
15 - 19 1 20.001 5,0 11 23.284 47,2
20 - 24 4 15.770 25,4 6 18.603 32,3
25 - 29 1 12.693 7,9 9 15.404 58,4
30 - 34 1 10.385 9,6 5 13.034 38,4
35 - 39 0 8.654 0,0 1 10.664 9,4
40 e mais 0 27.347 0,0 0 37.255 0,0
total 40 173.084 23,1 90 201.437 44,7

44 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Tabela 3.13 Rubéola em León; 1999: Taxa de Ataque (TA) por 100.000 por Município

Município casos população TA


Achuapa 4 14.681 27,2
El Jicaral 5 11.174 44,7
El Sauce 1 28.917 3,5
La Paz Centro 2 30.627 6,5
León 88 180.352 48,8
Malpaisillo 13 32.025 40,6
Nagarote 5 32.510 15,4
Quezalguaque 1 8.710 11,5
Santa Rosa 2 10.164 20,0
Telica 9 25.361 35,5
Total 130 374.521 34,7

Gráfico 3.10 Rubéola em León; 1999: distribuição de casos pela data de início
15
14
13
12
11
10
Casos

9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

Semanas epidemiológicas 1999

Fonte: Programa Ampliado de Imunizações, HVP/HVI; Programa Especial de Análise da Saúde, SHA, OPAS/OMS.

Pergunta 1 Estabeleça quais seriam as recomendações epidemiológicas para a equipe


de saúde do SILAIS de León.

Com base nos resultados encontrados deverão ser realizadas ações de pre-
venção e controle, isolamento dos casos, intensificação da vacinação em
suscetíveis, decidir se as pessoas suscetíveis mais idosas serão vacinadas,
realizar a busca ativa de casos, atividades de bloqueio ao redor dos casos.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 45


Manual do facilitador de grupos

Exercício 3.5
Pergunta 1 Analise os seguintes dados e avalie se existe uma diferença estatisticamente
significativa na incidência de doença entre os dois grupos estudados segun-
do a exposição a triptofano. Utilize um teste estatístico apropriado. Utilize
um nível de significância igual a 0.05. Interprete os resultados em termos
de uma hipótese nula (de não-diferença)

Exposição a triptofano

Doente Não doente


Exposto 20 10 30
Não exposto 8 28 36
28 38 66

2
2 n .( ad − bc )
X =
( a + c ).( b + d ).( a + b ).( c + d )

A incidência (taxa de ataque) da síndrome eosinofilia-mialgia entre os ex-


postos ao triptofano é: 20/30x100=66,7% e a incidência entre os não expos-
tos é: 8/36x100=22,2%.

A intenção nesse caso é comparar estas duas proporções (66,7% vs 22,2%),


o que se faz pelo cálculo do chi- quadrado.
2
2 66 [( 20 × 28 ) − (10 × 8 )]
X = = 13.23
28 × 38 × 30 × 36

O valor crítico para uma p de 0,05 é de 3.84, portanto 13.23 é maior que o
valor crítico; ou seja, existe sim uma associação estatisticamente significa-
tiva entre a exposição ao triptofano e a presença da Síndrome Eosinofilia-
Mialgia.

46 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Exercício 3.6
a) Ordene apropriadamente os dados nas tabelas 2x2 e verifique a pos-
sível associação entre exposição e doença.

mãe adolescente: doença placentária:

Não Não
doente doente
doente doente
Exposta 204 1.201 1.405 Exposta 380 1.218 1.598
Não exposta 1.352 15.709 17.061 Não exposta 1.176 15.692 16.868
1.556 16.910 18.466 1.556 16.910 18.466
204/1.405 380/1.598
RR = = 1,83 RR = = 3,41
1.352/17.061 1.176/16.868

sem atenção pré-natal atenção pré-natal tardia*:


Não Não
doente doente
doente doente
Exposta 243 355 598 Exposta 746 5.132 5.878
Não exposta 1.313 16.555 17.868 Não exposta 567 11.423 11.990
1.556 16.910 18.466 1.313 16.555 17.868
243/598 746/5.878
RR = = 5,53 RR = = 2,68
1.313/17.868 567/11.990

* observe que, na avaliação do fator de risco ‘atenção pré-natal tardia’, o número de doentes e de não doentes corresponde
unicamente às mães gestantes com atenção pré-natal (ou seja, foram excluídas aquelas expostas ao fator de risco ‘sem atenção
pré-natal’, da tabela 2x2 prévia).

b) Interprete e sintetize seus resultados.


De acordo com a evidência apresentada, o fator de risco mais im-
portante associado ao baixo peso ao nascer é a ausência de atenção
pré-natal; a força de associação entre estas duas variáveis, medida
pelo risco relativo (RR), é a mais alta entre as estudadas (RR=5,53);
as mães gestantes sem atenção pré-natal têm quase 6 vezes o risco
das mães gestantes com atenção pré-natal de dar à luz um bebê com
baixo peso ao nascer. As outras três variáveis estudadas também pa-
recem ser fatores de risco de baixo peso ao nascer.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 47


Manual do facilitador de grupos

Exercício 3.7
Complete a informação do quadro seguinte com relação ao impacto potencial associado
aos outros fatores de risco de doença cardiovascular (DCV) apresentados na tabela 3.16.

Em primeiro lugar, os integrantes do grupo devem dispor os dados nas


respectivas tabelas 2x2:

cardiomegalia doentes saudáveis total


Expostos 41 70 111 Ie = 369,4 por mil
Não expostos 177 824 1.001 Ine = 176,8 por mil
Total 218 894 1.112 It = 196,0 por mil

tabagismo doentes saudáveis total


Expostos 181 619 800 Ie = 226,3 por mil
Não expostos 37 275 312 Ine = 118,6 por mil
Total 218 894 1.112 It = 196,0 por mil

Depois, podem ser calculadas as medidas de força de associação e impacto


potencial:

cardiomegalia tabagismo
fator de risco:
(medida pelo incremento da (hábito de fumar cigarros
medida
sombra cardíaca aos raios X) presente)

369,4 226,3
risco relativo = 2,1 = 1,9
176,8 118,6

risco atribuível nos expostos 369,4 - 176,8 = 192,6 por mil 226,3 - 118,6 = 107,7 por mil
risco atribuível na população 196,0 - 176,8 = 19,2 por mil 196,0 - 118,6 = 77,4 por mil
369,4 - 176,8 226,3 - 118,6
fração atribuível nos expostos x 100 = 52,1% x 100 = 47,6%
369,4 226,3

196,0 - 176,8 196,0 - 118,6


fração atribuível na população x 100 = 9,8% x 100 = 39,5%
196,0 196,0

48 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo 4: Vigilância em saúde pública
Manual do facilitador de grupos

Exercício 4.1
As observações citadas a seguir não são exaustivas.

NOTIFICAÇÃO DE CASOS

UTILIDADE LIMITAÇÕES
• No geral, representam os únicos dados disponíveis. • A cobertura de serviços de saúde costuma ser limi-
• Na maioria dos sistemas nacionais, há um requeri- tada.
mento legal estabelecido. • As doenças notificáveis são, por necessidade, geral-
• Proporciona informação local para a ação local em mente agudas e infecciosas; muitas outras doenças
saúde pública. e eventos de saúde não são necessariamente ade-
• A qualidade dos dados é geralmente aceitável para quados à vigilância através da notificação de casos.
doenças severas ou raras. • O sistema pode ser lento e depender da certeza
• Para algumas doenças é possível utilizar a notifica- diagnóstica de numerosos e diferentes provedores
ção de casos de unidades e locais sentinela. de saúde.
• Embora possam não dar conta da magnitude total • A não-notificação é comum e pode variar dando fal-
do problema, eles indicam a tendência das doenças. sas tendências.
• Nem todos os casos buscam atendimento médico,
nem todos são diagnosticados e tampouco necessa-
riamente notificados de forma oportuna.
REGISTROS DE MORTALIDADE

UTILIDADE LIMITAÇÕES
• O registro de óbitos é a forma mais antiga e tradi- • Existem muitas áreas onde apenas alguns óbitos
cional de notificação. têm atestado médico.
• A Declaração de Óbito é um instrumento legal na • Refletem a incidência apenas quando existe uma
maioria dos países. razão relativamente constante entre mortes e ca-
• Muitas doenças infecciosas severas que causam a sos, quando a letalidade é muito baixa, os dados de
morte exibem suficientes características clínicas, de mortalidade podem não proporcionar uma avalia-
tal modo que permitem um diagnóstico certeiro. ção precisa da ocorrência da doença.
• São adequados para estimar a incidência da doen- • Para doenças com longo período de latência, os da-
ça, especialmente quando a letalidade da doença é dos de mortalidade refletem a incidência de muitos
conhecida. anos prévios.
• Permitem estabelecer tendências e perfis de doença • O sub-registro de mortalidade ainda é de considerá-
por áreas geográficas e grupos de idade e sexo. vel magnitude em muitos lugares.
• Quando há múltiplas causas de morte, a de maior
significância em saúde pública pode se perder, prin-
cipalmente aquelas de causa infecciosa.
• Frequentemente há um grande atraso na tabulação
e publicação de dados de mortalidade.
• As modificações nos critérios de classificação diag-
nóstica limitam a comparação de dados de morta-
lidade.

50 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

PESQUISAS EPIDEMIOLÓGICAS

UTILIDADE LIMITAÇÕES
• Podem fornecer informação mais completa sobre • Precisam de pessoal treinado e recursos para poder
prevalência, incidência e mortalidade. coletar os dados.
• A maioria dos sistemas nacionais requer a notifica- • Um surto de casos pode gerar falsas expectativas
ção de surtos e epidemias. por mais casos e enviesar a notificação.
• Certas doenças podem não ser fácil ou rapidamente • Se a notificação de epidemias leva à adoção de me-
identificadas como casos esporádicos; muitas delas didas restritivas severas, pode ocorrer a supressão
não representam uma ameaça de saúde pública até de informações.
ocorrerem de forma epidêmica. • Pode ser difícil localizar as pessoas saudáveis e as
• As pesquisas epidemiológicas oferecem a oportuni- doentes.
dade de verificar a informação previamente recebi- • As pessoas, principalmente as não doentes, podem
da e avaliar a qualidade do sistema de vigilância em não se lembrar, com precisão, de fatos relevantes
saúde pública. para a pesquisa ou podem atribuir seu mal-estar a
• Permitem, em muitos casos, identificar causas, mo- falsas exposições de risco.
dos de transmissão, fontes e fatores causais sobre • As pessoas podem opor resistência a fornecer dados
os quais são implementadas intervenções em saúde confidenciais.
pública. • Geralmente a pesquisa limita-se à identificação de
• Frequentemente, estimulam uma melhoria quanti- surtos de casos com proximidade, relacionados no
tativa e qualitativa na notificação e fortalecem as tempo e no espaço.
equipes locais de saúde.
• O emprego de métodos padronizados permite, nor-
malmente, fornecer informação de alta qualidade.
REGISTROS DEMOGRÁFICOS

UTILIDADE LIMITAÇÕES
• Permitem classificar a população conforme suas ca- • Por terem sua origem nos censos, geralmente estão
racterísticas. desatualizados.
• Permitem estabelecer os denominadores necessá- • Os dados mais atualizados geralmente representam
rios para o cálculo de taxas e a estimativa de riscos estimativas baseadas em suposições de fecundidade
absolutos e relativos de adoecer e morrer. populacional.
• Fornecem a base de informação comunitária para o • São pouco versáteis para considerar as mudanças
planejamento de intervenções em saúde pública e o demográficas rápidas produzidas pelo movimento
fornecimento de serviços. migratório e o deslocamento de populações.
• São úteis para projetar cenários futuros de dinâmica • Existe uma multiplicidade de fontes e estimativas
populacional e prever necessidades de atenção em não consistentes entre si.
saúde, incluindo o potencial epidêmico de certas • Não necessariamente estão disponíveis com facilida-
doenças na população. de no nível local.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 51


Manual do facilitador de grupos

Exercício 4.2
As observações citadas a seguir não são exaustivas.

tuberculose raiva humana sífilis


casos por: casos por: casos por:
• idade e sexo • idade e sexo • idade e sexo
• data de início • data de início e óbito • data de início
• área geográfica • área geográfica • área geográfica
• forma clínica • ocupação/atividade • ocupação/atividade
• baciloscopia • estado vacinal • forma clínica ou sindrômica
• estado vacinal (BCG) • tipo de reservatório
população por: população por: população por:
• idade e sexo • idade e sexo • idade e sexo
• área geográfica • área geográfica • área geográfica
• ocupação/atividade • ocupação/atividade
laboratório: laboratório: laboratório:
• baciloscopia inicial • isolamento viral • sorologia VDRL (opcional)
• baciloscopia pós-fase I • histopatologia • HIV (voluntário)
• baciloscopia final
• fármaco-resistência
reservatórios: reservatórios: reservatórios:
• prevalência de infecção na comu- • população animal por: • prevalência de infecção na comu-
nidade –– espécie nidade
• risco de infecção na comunidade –– distribuição geográfica • risco de infecção na comunidade
–– hábitos
• casos em animais por:
–– espécie
–– período de tempo
–– área geográfica
medidas de controle: medidas de controle: medidas de controle:
• taxa de detecção de sintomáticos • cobertura de vacinação em popu- • proporção de casos detectados e
respiratórios lação animal (canina) casos tratados
• tratamentos iniciados vs. trata- • proporção de cachorros captura- • proporção de casos tratados e ca-
mentos completados dos/ eliminados sos curados
• controle de contatos • proporção de pessoas expostas e • proporção de reinfecções
• cobertura BCG por: pessoas tratadas
–– idade
–– área geográfica

52 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Exercício 4.3
I. Com os dados proporcionados na Tabela 4.1 (página 38 do Módulo 4) construa
a curva epidêmica correspondente ao ano 2000 no espaço a seguir.

Gráfico 4.6 Casos de Meningite meningocócica por mês; país X, 2000

60

50

40
Casos

30

20

10

0
J F M A M J J A S O N D

Mês

Pergunta 1 Qual é a característica da evolução temporal da doença?

A curva epidêmica mostra um padrão sazonal da meningite no país X no


ano 2000; a estação baixa da doença corresponde ao primeiro semestre do
ano (menos de 30 casos) e a estação alta durante a segunda metade do ano
(entre 30 e 50 casos). A curva também sugere que a meningite meningo-
cócica tem comportamento endêmico nesse lugar, posto que está presente
durante todo o ano. O gráfico mostra, por outro lado, um pico de quase 50
casos de doença em julho de 2000. Na prática, esta única informação não
permite discriminar com certeza se o pico observado corresponde a uma
tendência epidêmica ou se é parte da tendência sazonal endêmica própria
da doença nesse lugar.

Pergunta 2 Quando você consideraria que está diante de uma epidemia?

Com esta informação não é possível identificar razoavelmente quando se


está diante de uma epidemia.

Pergunta 3 Que anos você consideraria epidêmicos?

A curva epidêmica isolada não permite distinguir quais anos são epidêmi-
cos.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 53


Manual do facilitador de grupos

Pergunta 4 Caso uma medida preventiva fosse aplicada, o que se esperaria disso?

Eventualmente, espera-se que a curva epidêmica reflita a eficácia da medi-


da preventiva aplicada por meio de uma redução no número de casos (ou
taxa de incidência), consecutivo à aplicação de tal medida (e que exista cor-
respondência com o tempo que a medida de controle demora para surtir
efeito populacional perceptível). Geralmente, uma medida de controle efe-
tivamente aplicada a uma população durante o curso de uma epidemia, se
reflete em um truncamento da curva epidêmica e em uma pendente (grau
de inclinação) descendente pronunciada. Desta maneira, a distribuição dos
casos no tempo inverte sua asimetria (ou seja, adota a forma de uma curva
que “desce mais rápido do que demora para subir”, em cujo caso diz-se que
está ‘enviesada para a esquerda’, em contraste com o ‘curso natural’ de uma
epidemia, onde a curva “sobe mais rápido do que demora em descer, ou
seja, está ‘enviesada para a direita’).

intervenção

tempo tempo
distribuição epidêmica sem intervenção distribuição epidêmica com intervenção

Pergunta 5 Proponha uma definição de curva epidêmica.

A curva epidêmica é uma representação gráfica da distribuição dos casos


de uma doença em função do tempo em que ocorrem.

54 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

II. Com os dados proporcionados na Tabela 4.1 (página 38 do Módulo 4) construa


o canal endêmico da meningite meningocócica no país X para o período 1993-
1999 no espaço a seguir.

Gráfico 4.7 Canal endêmico Meningite meningocócica por mês; País X, 1993-1999

25

20

15
casos

10

0
J F M A M J J A S O N D
meses

Pergunta 6 Qual é a característica da evolução temporal da doença?

O canal endêmico mostra a tendência sazonal da meningite meningocócica


no país X, com uma estação alta no meio do ano, entre maio e agosto, e o
maior número de casos esperados em julho. O ponto mais baixo ocorre por
volta de fevereiro. O nível endêmico, que corresponde à mediana de casos,
está ao redor de 10 ±2. As zonas de sucesso, segurança, alerta e epidemia
ficam claramente definidas.

Pergunta 7 Até quantos casos você esperaria em junho para considerar uma situação
de alerta?

Doze (12) casos. 11 é o valor mediano para junho e, portanto, marca a


fronteira entre a zona de segurança e a zona de alerta; com um critério
conservador, há quem possa dizer também que chegar a 11 casos já seria
suficiente para considerar uma situação de alerta.

Pergunta 8 Quando você consideraria que uma medida preventiva foi efetiva?

Além das considerações colocadas na pergunta 4 desse exercício, uma me-


dida preventiva pode ser considerada efetiva quando a curva epidêmica,
sobreposta ao canal endêmico, mostra que o número de casos abandona

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 55


Manual do facilitador de grupos

a zona de epidemia e dirige-se progressivamente às zonas de segurança e


sucesso.

Pergunta 9 Quais são as diferenças entre canal endêmico e curva epidêmica?

A diferença fundamental está no seu uso: a curva epidêmica é um instru-


mento de monitoramento de uma situação epidemiológica; o canal epidê-
mico é um instrumento de prognóstico epidêmico. Os dois instrumentos,
na prática, são complementares.

Pergunta 10 Proponha uma definição de canal endêmico.

O canal endêmico é uma representação gráfica da tendência secular de


uma doença para fins de prognóstico epidêmico.

Pergunta 11 Compare a curva epidêmica de meningite meningocócica no país X no ano


2000 com o canal endêmico 1993-1999 da mesma doença na mesma comu-
nidade. Enumere a seguir suas observações e discuta o tema com o grupo.
Que tipo de medidas específicas e em que momento poderiam ter sido to-
madas?

Canal endêmico e curva epidêmica Meningite meningocócica por mês; País X, 1993-1999
50

40

30
casos

20

10

0
J F M A M J J A S O N D
meses

Desde abril de 2000, a distribuição de casos de meningite meningocócica


entrou na zona de alerta e é evidente que durante o resto do ano a situa-
ção foi epidêmica, alcançando um pico de máxima atividade no começo
de julho. A magnitude do problema é consideravelmente maior que aquela

56 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

que poderia ser inferida ao analisar somente a curva epidêmica (o Facili-


tador pode sugerir ao grupo que revise suas respostas para a pergunta 1
desse exercício). Há de se observar que em março de 2000 a situação cor-
respondia à segurança, embora um mês antes tivesse estado muito próxima
da zona epidêmica. É provável que a tendência epidêmica da meningite
meningocócica no país X já viesse se definindo desde os meses anteriores.
A Tabela 4.1 (página 38 da módulo 4) apresenta a informação mensal de
casos dessa doença; com base na própria curva endêmica, é possível com-
provar que durante o ano 2000, a meningite esteve em zona de alerta e/ou
epidemia no país X. Naquele momento teria sido recomendável iniciar a
vacinação antimeningocócica; mais adiante, quimioterapia aos contatos e
isolamento de tipo respiratório de pacientes e contatos.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 57


Módulo 5: Investigação epidemiológica de
campo: aplicação ao estudo de surtos
Manual do facilitador de grupos

Exercício 5.1
Pergunta 1 De acordo com a informação apresentada, você considera que se iniciou
uma epidemia de infecção por HIV na população feminina do país B du-
rante o ano 2000?

A discussão em grupo pode ser intensa neste ponto e deve limitar-se so-
mente à interpretação da informação apresentada no gráfico. Em princípio,
a curva epidêmica sugere, efetivamente, um aumento rápido e aparente-
mente inusual da incidência de infecção HIV em mulheres na metade do
ano 2000 no país B. De fato, a incidência quintuplica em menos de seis
meses. Em função do enfoque epidemiológico revisado ao longo das uni-
dades anteriores, o grupo deveria estar em condições de argumentar a favor
e contra de uma provável situação epidêmica. Geralmente, como em toda
curva epidêmica, a análise deve buscar esclarecer, com a informação dispo-
nível, se a situação descrita é real ou aparente. Ou seja, explicável por mu-
danças extraepidêmicas, tais como modificações na definição de caso, no
tipo de vigilância, no viés específico do sistema, nas mudanças nas políticas
de controle da doença e na plausibilidade biológica e epidemiológica de
determinada tendência observada na incidência de doença. No exemplo, é
bem possível que o grupo finalmente chegue à conclusão de que a informa-
ção disponível é insuficiente para esclarecer razoavelmente a situação. Nes-
se caso, o Facilitador poderia estimular a reflexão grupal sobre as conse-
quências em saúde pública ao postergar as decisões por falta de evidência.

Pergunta 2 Em meados do mês de maio de 2000 o programa nacional de prevenção e


controle da AIDS do país B anuncia a distribuição gratuita de tratamen-
to anti-retroviral para toda mulher gestante soropositiva ao HIV. À luz da
nova informação, você considera que se iniciou uma epidemia de infecção
por HIV na população feminina do país B durante o ano 2000?

A pergunta traz uma informação crucial para esclarecer a situação. Nesse


sentido, a tendência observada no gráfico não corresponde a uma epide-
mia que tenha se iniciado no ano 2000, mas sim, ao efeito produzido pela
decisão de distribuir tratamento gratuito à população de interesse. No en-
tanto, do ponto de vista epidemiológico, essa decisão contribuiu de forma
decisiva para deixar evidente uma situação epidêmica que provavelmente já
vinha ocorrendo, mas, não havia se tornado visível (o que, além disso, tem
implicações sobre a qualidade do sistema de vigilância em saúde pública).

60 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Exercício 5.2
Pergunta 1 Qual foi a taxa de ataque inicial da doença? Qual foi a taxa de ataque final
da doença?

taxa de ataque inicial:

46
x 100 = 24,0%
192

taxa de ataque final:

108
x 100 = 56,3%
192

Pergunta 2 Com a informação disponível, que definição de caso você proporia? Com-
pare a sua proposta com as dos outros membros do grupo e estabeleça uma
definição consensual. Anote ambas as propostas.

As respostas podem variar. Geralmente, a definição de caso para uma situa-


ção como a descrita deveria se restringir a critérios clínicos e epidemiológi-
cos (não de laboratório). Entre os critérios clínicos, poderia ser suficiente:
mal-estar gastrointestinal de início súbito, com vômitos e/ou diarréias e/ou
dor abdominal e sem febre. Entre os critérios epidemiológicos: toda pessoa
que tenha se hospedado no complexo hoteleiro rural mencionado durante
os dias da reunião técnica. Como não se sabe a data de início do primeiro
caso, não é possível restringir mais o critério temporal da estadia no hotel
(embora a informação disponível levasse a supor que a exposição ocorreu
entre os primeiros dias da reunião). Por outro lado, a definição de caso po-
deria se restringir somente aos participantes da reunião, até mesmo só aos
“profissionais de saúde de fora”, mas isso descartaria a opção de identificar
mais casos em outros hóspedes do hotel eventualmente expostos.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 61


Manual do facilitador de grupos

Exercício 5.3
Observe que o método gráfico apresentado para a estimativa do período provável de
exposição aplica um critério conservador: o período mínimo de incubação situa-se a
partir do limite ou fronteira inicial da barra que representa o primeiro caso observado,
enquanto que o período máximo de incubação situa-se a partir do limite ou fronteira
final da barra que representa o último caso observado. Esse critério assume que o pri-
meiro caso ocorre o mais cedo possível, e o último, o mais tarde possível (durante os dias
de ocorrência) e amplifica ao máximo a duração observada do surto.

Gráfico 5.8 Leptospirose: curva epidêmica; lugar X, abril 2000

máximo = 19 dias

período
provável de mínimo = 4 dias
exposição

duração = 13 dias

62 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Pergunta 1 A duração do surto foi de:

(b) 13 dias.

Pergunta 2 O período provável de exposição foi:

(c) de 9 a 10 de abril.

Gráfico 5.9 Meningite meningocócica: curva epidêmica; hospital X, maio 1999

máximo = 10 dias

mínimo = 2 dias
período
provável de
exposição

duração = 7 dias

Pergunta 3 A duração do surto foi de:

c) 7 dias.

Pergunta 4 O período provável de exposição foi:

d) 7 de maio.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 63


Manual do facilitador de grupos

Exercício integrador em grupo – Surto de doença ictérica


numa área rural
Pergunta 1 Determine se é um surto ou uma epidemia.

Por definição, uma epidemia é a ocorrência de casos de doenças ou outros


eventos de saúde com uma incidência maior do que a esperada para uma
área geográfica e período determinados. Como não se sabe a incidência
esperada (tampouco se tem conhecimento sobre a incidência observada),
ainda não é possível determinar razoavelmente que se trata de uma epide-
mia. Pela aparente magnitude da situação (31 casos de uma síndrome icté-
rica), seu aparente início súbito (menos de 3 meses) e também pela sua apa-
rente localização espacial, esta situação poderia corresponder a um surto.
De qualquer forma, a pouca evidência com a qual se conta é suficiente para
suspeitar da ocorrência de um conglomerado, ou seja, a agregação inusual,
real ou aparente, de eventos de saúde que estão agrupados no tempo e/ou
no espaço. Essa informação e as potenciais consequências em saúde públi-
ca da propagação de uma doença ictérica formam uma situação de alerta
epidêmica que justifica sua pesquisa.

Pergunta 2 Até o momento, com que dados epidemiológicos você conta? Quais são os
que mais chamam a sua atenção?

No tempo: a aparente ocorrência de um conglomerado temporal de 31 ca-


sos de síndrome ictérica, entre junho e agosto de 1986.

No espaço: a aparente ocorrência de um conglomerado espacial de 31 casos


de síndrome ictérica, na localidade de Huitzililla, 110 Km ao sul da capital
do país.

Em pessoas: 31 casos de síndrome ictérica de início súbito, com febre, as-


tenia e icterícia; 75% dos quais ocorrem em pessoas de 25 a 44 anos, de
ambos os sexos, sem letalidade reportada.

64 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Pergunta 3 Enumere as possibilidades diagnósticas que deveriam ser levadas em conta.

1. hepatite viral epidêmica (hepatite viral A);


2. hepatite viral B
3. leptospirose
4. hepatite tóxica
5. fasciolíase
6. hepatite viral não-A, não-B
7. amebíase
8. mononucleose infecciosa
9. ficomicose (mucormicose)
10. outras hepatopatias
11. outras condições hemolíticas
12. doença nova emergente ou desconhecida

Pergunta 4 Como você definiria um caso nesta situação (definição operacional de


caso)?

Toda pessoa que more em Huitzililla e que tenha apresentado icterícia a


partir de 1º de junho de 1986.

Pergunta 5 Você considera que estes são todos os casos? Como você procuraria mais
casos e o que você perguntaria?

Não se pode considerar que aqueles sejam todos os casos sem antes execu-
tar uma busca ativa na comunidade. Em muitas doenças hepáticas, só uma
proporção de infecções são aparentes e destas, apenas uma proporção pros-
segue com icterícia evidente. No geral, isso se aplica ao estudo de qualquer
doença em situação de alerta epidêmico. A busca ativa de casos vai depen-
der dos recursos disponíveis e do nível de organização do sistema local de
saúde, assim como do tamanho e dispersão da população e do apoio das
instituições locais. Em Huitzililla pode acabar sendo eficiente realizar um
censo comunitário que permita identificar casos, enumerar a população,
informar a população e explorar possíveis hipóteses sobre a ocorrência de
doenças. As perguntas básicas devem incluir a exploração da presença pas-
sada e atual de sintomas ou sinais sugestivos da doença, incluindo astenia
marcante, colúria, icterícia ou outros que tenham chamado a atenção das
pessoas. Além disso, deve analisar também a permanência e residência em
Huitzililla durante o período de tempo considerado na definição de caso,
o conhecimento sobre a ocorrência de outros casos na família, os amigos
e a comunidade e as idéias populares sobre a doença em questão. Após o

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 65


Manual do facilitador de grupos

censo comunitário, deveria ser estabelecido um sistema local de vigilância


intensificada que identifique os casos com vistas ao futuro.

Pergunta 6 Usando os dados do Quadro 1, caracterize o surto no tempo: use a Tabela 1


e o Gráfico 1 para construir a curva epidêmica. O que esse gráfico sugere?

Gráfico 1 Síndrome ictérica: casos por data de início; Huitzililla, Morelos, 1986
12

10

8
Casos

0
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44
Semanas epidemiológicas

A curva epidêmica não é típica de uma fonte comum pontual nem contí-
nua, nem típica de uma epidemia propagada. De fato, a curva sugere que
inicialmente pôde haver uma fonte comum contínua e mais tarde pode
ter ocorrido transmissão de pessoa a pessoa. Isso poderia explicar a pre-
sença de vários picos ou modos na distribuição dos casos no tempo e sua
prolongação horizontal. Cada pico poderia corresponder a um conglome-
rado temporal (e talvez espacial) de casos na comunidade, que poderiam
estar associados à exposição coletiva a uma fonte comum contínua ou até à
transmissão de pessoa a pessoa. Embora seja possível apreciar que a maior
quantidade de casos concentra-se por volta das semanas epidemiológicas
30 a 36, tanto a curva ascendente, como a descendente, mostram, com sua
pendente, uma velocidade atenuada de propagação da doença na popula-
ção. Essa situação implica considerar uma doença que pudesse ser explica-
da tanto por fonte comum, como por transmissão de pessoa a pessoa. De
acordo com a lista de possibilidades diagnósticas da pergunta 3, destacam-
se as hepatites infecciosas, possivelmente de etiologia viral.

O Facilitador poderia considerar conveniente fazer referência entre o gru-


po sobre os Gráficos 5.4 e 5.5 do Módulo 5 (páginas 32 e 33, respectivamen-
te) para apreciar a forma da distribuição de casos no tempo em uma fonte
comum única e numa epidemia propagada (esta última de hepatite viral
A). Por outro lado, e a critério do Facilitador, o grupo poderia elaborar um
novo gráfico da curva epidêmica de Huitzililla selecionando uma unidade
de tempo distinta. De fato, a construção de uma curva epidêmica não ne-

66 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

cessariamente implica o uso padrão de semanas epidemiológicas, já que a


distribuição de casos no tempo é uma função do período de incubação da
doença e uma semana-calendário pode não ser a unidade de tempo mais
adequada para apreciar a forma dessa distribuição. Um princípio geral em
pesquisa epidemiológica de campo consiste na seleção da unidade de tem-
po em intervalos que podem ir desde 1/8 até 1/3 do período de incubação
da doença suspeita. Como regra prática, a reconstrução de uma curva epi-
dêmica em intervalos quinzenais permitiria analisar a forma da distribui-
ção dos casos no tempo para doenças com períodos de incubação longo (2
meses). A curva epidêmica de Huitzililla nestas condições seria a seguinte:
18

16

14

12

10
Casos

0
20-21 22-23 24-25 26-27 28-29 30-31 32-33 34-35 36-37 38-39 40-41 42-43 44-45 46-47

Quinzenas epidemiológicas

Essa curva é mais representativa de uma doença com período de incubação


longo; a bimodalidade da distribuição (dois picos marcados) e a atenuação
ou lentidão das porções ascendentes e descendentes, bem simétricas, acen-
tuam as características descritas na curva anterior e proporcionam evidên-
cia circunstancial de uma transmissão mista, por fonte comum contínua e
por propagação de pessoa a pessoa.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 67


Manual do facilitador de grupos

Pergunta 7 Usando os dados do Tabela 1 e 2, caracterize o surto no lugar: prepare o


Tabela 3 e coloque as taxas de ataque por quadra sobre a Figura 1. Como
você interpretaria esta informação?

Conforme tabela 3, as taxas de ataque consideravelmente mais altas foram


observadas em 3 quadras: a N° 12, vizinha ao mercado (22,6%); a N° 1
(19,4%) e a N° 5 (16,8%), vizinhas ao riacho de Chalapa. As quadras 6, 7,
8 e 9, ao noroeste da cidade, nos arredores do riacho de Chalapa também
apresentaram taxas de ataque altas (4,9, 5,6, 6,0 e 7,7%, respectivamente).
A quadra 15, junto ao riacho do Venero, apresentou uma taxa de ataque
mais alta (4,8%) do que as das quadras vizinhas. Em resumo, a distribuição
espacial da doença sugere concentração nas zonas central e noroeste do
povoado, aparentemente associada à proximidade com cursos de água.

Tabela 3 Síndrome ictérica: Taxas de Ataque por quadra; Huitzililla, Morelos, 1986.

Quadra Casos População Taxa de ataque (%)


1 12 62 19,4
2 1 46 2,2
3 1 76 1,3
4 5 101 5,0
5 19 113 16,8
6 5 102 4,9
7 1 18 5,6
8 3 50 6,0
9 4 52 7,7
10 3 75 4,0
11 6 173 3,5
12 7 31 22,6
13 1 81 1,2
14 0 70 0,0
15 11 228 4,8
16 1 160 0,6
17 1 75 1,3
18 3 86 3,5
19 4 111 3,6
20 0 47 0,0
Total 88 1.757 5,0

68 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Síndrome ictérica: Taxas de Ataque por quadra; Huitzililla, Morelos, 1986.

GRANJAS GRANJAS
R
I CAMINHO REAL
A 7 R 8
C U
H R R
E 5,6% A 6,0%
O U U
S
T
A
TANQUE
A E 0,0%
L
19,4%
R D A 5 ELEVADO
S
C
A E P M O
D I
A C
4,9% A 7,7% D 1,2% G L
14
L U A
H E
1 M E
A A L
6 9 F R
L
E 13 H U
A I
CENTRO V A
P D R
A DE SAÚDE E A
R L I N
G A I
E
O Ñ
16,8% I C 4,8% O
R Y H
MUNICÍPIO A
O
22,6%
C O R
O T
5 12 S 15 I
T D L
RUA PRIMEIRO DE MAI O I L
E
5,0% MERCADO
L
L
0,6% E
L R
1,3% A O
R
I
3,5% S 16
A 4,0% A
C
B
1,3% 3,5%
H 3 4
O
10 11 I 17 18
D G
E R
A
C ESCOLA N 3,6% 0,0% N
H J
A O A
L 2 19 20 S
A TERRAS DE
P
A 2,2% CULTIVO T ERRAS DE
CULTIVO

RIACHO EL SALTO

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 69


Manual do facilitador de grupos

Pergunta 8 Use os dados disponíveis para caracterizar o surto por pessoa (idade e
sexo): prepare a Tabela 4. Descreva e analise esta informação. Calcule as
taxas de mortalidade e letalidade específicas desse surto. Use os dados da
Tabela 5 para descrever o quadro clínico observado no surto de Huitzililla.

Tabela 4 Síndrome ictérica: Taxas de Ataque por idade e sexo; Huitzililla, Morelos, 1986

Grupo Homens Mulheres Total


etário
(anos) Casos Pop. TA% Casos Pop. TA% Casos Pop. TA%
<1 0 28 0,0 0 34 0,0 0 62 0,0
1–4 0 112 0,0 3 123 2,4 3 235 1,3
5 – 14 6 303 2,0 3 280 1,1 9 583 1,5
15 – 24 14 174 8,0 18 159 11,3 32 333 9,6
25 – 44 19 182 10,4 11 166 6,6 30 348 8,6
45 e + 5 101 5,0 9 95 9,5 14 196 7,1
Total 44 900 4,9 44 857 5,1 88 1.757 5,0

Pop. = população; TA% = taxa de ataque por cem pessoas

A doença ictérica em Huitzililla atingiu igualmente a homens e mulheres; o


grupo de idade mais atingido foi o de 15 a 44 anos (62 dos 88 casos; 70,5%):
75% dos casos masculinos (33/44) e 66% dos casos femininos (29/44) per-
tenciam a esse grupo de idade. A taxa de ataque geral foi de 5%, semelhante
em ambos os sexos. Entre os homens, a incidência mais alta apresentou-se
no grupo de 25 a 44 anos (10,4%); entre as mulheres, no grupo de 15 a 24
anos (11,3%). Não se apresentaram casos nos menores de 1 ano; a incidên-
cia em menores de 15 anos foi baixa (12/880 = 1,4%). A informação sugere
que o risco de adoecer é maior entre as mulheres jovens do que em homens
jovens, fato que pode estar relacionado a uma exposição prévia ao agente
causal e/ou mecanismo transmissor. Nesse sentido, é possível gerar a hipó-
tese de que a exposição de risco poderia estar vinculada a algum fator de
tipo doméstico (maior contato com um veículo contaminado, transmissão
sexual, cuidados de doentes em casa, etc.) que eventualmente se propaga
entre os homens com mais idade.

A informação disponível indica a ocorrência de dois óbitos (casos 81 e


85) atribuíveis à doença. A mortalidade, portanto, é 1,1 por mil habitantes
(2/1.757) e a letalidade 2,3% (2/88).

O quadro clínico corresponde fundamentalmente a uma doença de início


abrupto caracterizada por icterícia, colúria, anorexia e astenia. Aproxima-
damente um terço dos casos apresenta sintomas constitucionais (cefaléia,
artralgias e dor abdominal) e em menos da metade, febre, náuseas, vômitos,

70 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

diarréia e prurido. É importante destacar que 100% dos casos apresentaram


icterícia, o que pode significar somente um viés produzido pela definição
de caso. Em particular, se há suspeita de uma hepatite de causa infecciosa, é
razoável supor que os casos ictéricos sejam somente uma parte do espectro
clínico; geralmente, a colúria é mais frequente que a icterícia manifestada e
uma considerável proporção de casos são inaparentes. Se o surto em Huit-
zililla correspondesse a essa etiologia, a distribuição de casos não-ictéricos
modificaria significativamente a forma da curva epidêmica descrita.

Pergunta 9 Considere a informação apresentada sobre períodos de incubação; com a


informação epidemiológica disponível até o momento proponha hipóteses
plausíveis sobre a fonte de infecção e o modo de transmissão envolvidos
no surto de doença ictérica na população de Huitzililla. Discuta com seu
grupo as possibilidades diagnósticas. Que informação adicional seria re-
querida?

As características epidemiológicas e clínicas da doença sugerem a presença


de hepatite infecciosa, possivelmente de etiologia viral, de transmissão en-
térica e sendo a água a provável fonte de infecção.

Na prática, geralmente as hipóteses avançam através de um processo no


qual se eliminam ou refutam-se outras hipóteses. Por exemplo, a situação
observada não parece corresponder a um surto de leptospirose: a doen-
ça de Huitzililla parece ter um período de incubação mais prolongado,
a transmissão de pessoa a pessoa está considerada e não há evidência de
reservatórios aparentemente envolvidos; o quadro clínico não apresenta
manifestações hemorrágicas, febre intensa nem sintomas neurológicos. As
epidemias de hepatite viral A geralmente afetam populações muito jovens;
as de hepatite viral B afetam populações expostas a contato parenteral, em
situações bem definidas (hospitais, centros de hemodiálise, salas de cirur-
gia de emergência em áreas de desastres, etc.). Embora a hepatite viral B
seja transmitida sexualmente, não é comum que se apresente com a ca-
racterística epidêmica observada em Huitzililla. A presença epidêmica de
casos icterícios em populações de adultos jovens de ambos os sexos, sugere
um surto de hepatite viral não-A, não-B, que é de transmissão entérica e
que, em geral, costuma surgir após a época de chuva.

Pergunta 10 De que informação extra você precisaria para confirmar ou descartar suas
hipóteses e, como consequência, afinar as medidas de controle do surto?

É necessária informação extra para documentar a hipótese de que a doença


corresponde a uma hepatite viral, de transmissão fecal-oral, cuja fonte de

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 71


Manual do facilitador de grupos

infecção seja a água dos riachos da comunidade (além dos casos que sus-
tentam a transmissão pessoa a pessoa). Além dos testes sorológicos para
confirmar ou descartar a possível circulação de vírus A e/ou B de hepatite
na comunidade, é necessário gerar evidência para confirmar a hipótese so-
bre a associação entre a exposição a fatores de risco relacionados à fonte
de infecção e ao modo de transmissão e a presença da doença em Huitzi-
lilla. Em particular, presume-se que as pessoas que consomem a água dos
riachos e aqueles que não fazem um tratamento higiênico da mesma, têm
mais risco de desenvolver a doença do que aqueles que se abastecem de
água tratada. Consequentemente, é necessário um exercício analítico de
comparação da prevalência de exposição a tais fatores entre as pessoas do-
entes e as pessoas sadias de Huitzililla.

Pergunta 11 Resuma apropriadamente nas Tabelas 8 e 9 os resultados do estudo caso-


controle apresentados nas Tabelas 6 e 7. Como você interpreta esta infor-
mação epidemiológica? Qual hipótese acerca da fonte de transmissão mais
provável no surto de Huitzililla é respaldada por esta evidência? Que medi-
das imediatas de controle você proporia com base nesta evidência?

Tabela 8 Síndrome ictérica: estudo caso-controle; Huitzililla, Morelos, 1986

Prevalência
Casos Controles
de exposição
Fator de risco
Não Não
Expostos Expostos Casos Controles
expostos expostos
fervura da água de beber 7 25 10 10 21,9 50,0
contato com caso 21 11 4 16 65,6 20,0
relação sexual com caso 4 28 0 20 12,5 0,0
poço ao nível do solo 13 19 6 14 40,6 30,0
poço coberto 12 20 12 8 37,5 60,0
poço revestido 12 20 17 3 37,5 85,0
poço com mureta 20 12 12 8 62,5 60,0
água suja visível 29 3 4 16 90,6 20,0
tratamento da água 7 25 13 7 21,9 65,0

72 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Tabela 9 Síndrome ictérica: estudo caso-controle; Huitzililla, Morelos, 1986

Intervalo de confiança 95%


Valor calculado
Fator de risco do Chi (OR)
Quadrado Limite inferior Limite superior

fervura da água de beber 4,42* 0,28 0,92 0,09


contato com caso 10,26* 7,64 2,20 26,49
relação sexual com caso 2,71 nulo nulo nulo
poço ao nível do solo 0,60 1,60 0,49 5,22
poço coberto 2,51 0,40 0,13 1,24
poço revestido 11,26* 0,11 0,39 0,03
poço com mureta 0,03 1,11 0,35 3,49
água suja visível 26,47* 38,67 9,61 155,59
tratamento da água 9,67* 0,15 0,50 0,05

* estatisticamente significativo ao nível p<0,05


Os resultados do estudo caso-controle em Huitzililla são de grande relevân-
cia para o esclarecimento das causas de interesse epidemiológico associadas
à ocorrência da doença na população, assim como para o estabelecimento
de recomendações e adoção imediata de medidas de controle específicas.
Em termos gerais, as descobertas do estudo caso-controle contribuem com
evidências a favor da hipótese colocada, ou seja, a presença de uma doença
infecciosa de transmissão entérica a partir de fontes de água contaminadas.
A prevalência de exposição nos doentes e nos sadios é visivelmente distinta
para sete dos 9 hipotéticos fatores de risco estudados e em cinco deles esta
diferença é estatisticamente significativa quando o teste do Chi quadrado
é aplicado, o qual indica a presença de uma associação estatística entre a
exposição e a doença. Além disso, a força dessas associações, medida pela
razão de possibilidades e seus intervalos de confiança, é também significa-
tiva. Mais especificamente, a continuação é analisada pelas principais ca-
racterísticas das exposições de risco identificadas no estudo caso-controle
de Huitzililla:

Fervura da água de beber. A tabela 2x2 correspondente ao estudo caso-


controle é:

Casos Controles Prev. Exp. OR L. Inf. L. Sup.


Expostos 7 10 17 21,9 0,28 0,09 0,92
Não expostos 25 10 35 50,0
32 20 52 Chi quadrado: 4,42

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 73


Manual do facilitador de grupos

Observe-se que a exposição de interesse nesta análise é a fervura da água


de beber (aqueles que fervem a água de beber são os “expostos”): enquanto
que 21,9% (7/32) dos doentes ferviam a água, 50% (10/20) dos sadios a
ferviam. A fervura da água de beber é um fator protetor: as pessoas que
ferviam a água de beber tinham 0,28 vezes o risco de adoecer do que aque-
las que não a ferviam; o intervalo de confiança não inclui a unidade (e, por
isso, é significativo) e vai de 0,92 a 0,09. Expresso como fração atribuível
em expostos, as pessoas que fervem a água de beber tinham 72% (1 – 0.28
x 100) menos risco de adoecer do que as pessoas que não ferviam a água
de beber (esta fração de proteção nos expostos vai de 8% a 91%, de acordo
com o intervalo de confiança da OR). Essa evidência sugere que a fervura
da água de consumo humano confere proteção contra a doença em Huit-
zililla (mesmo quando até 50% das pessoas sadias não ferviam sua água de
beber).

O Facilitador pode considerar oportuno chamar a atenção do grupo para


uma característica básica da escala de medição do risco em epidemiologia:
sua natureza assimétrica. Tanto a odds ratio (OR), como o risco relativo
(RR) podem assumir valores que vão do zero ao infinito, sendo 1 (a uni-
dade) o valor de referência. Assim, os fatores protetores só podem assumir
valores de OR ou RR que vão de zero a 1 (sem incluir 1), enquanto que os
fatores de risco assumem valores de OR ou RR que vão de 1 (sem incluir
1) até infinito. Portanto, as escalas à esquerda (proteção) e à direita (risco)
da unidade não são simétricas, como é apresentado no esquema a seguir:
OR protetora OR de risco

0 1 2 3 4

Quanto mais se aproximar uma OR a zero, mais intenso é o efeito protetor;


quanto mais se aproximar ao infinito, mais intenso é o efeito de risco. Em
geral, a interpretação de uma OR protetora (OR<1) tal como a associada à
fervura da água de beber no estudo de Huitzililla, é menos intuitiva que a
interpretação de uma OR de risco (OR>1). Para facilitar a compreensão, os
dados podem ser expressos reciprocamente, ou seja, invertendo o critério
de exposição. Se considerarmos como “expostos” aqueles que não fervem a
água de beber (e “não expostos” aqueles que fervem a água), a tabela 2x2
ficaria da seguinte forma:

74 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Casos Controles Prev. Exp. OR L. Inf. L. Sup.


Expostos 25 10 35 78,1 3,57 1,09 11,69
Não expostos 7 10 17 50,0
32 20 52 Chi quadrado: 4,42

Sob estes critérios (de conveniência), 78,1% dos casos estão expostos (ou
seja, não fervem a água) e 50% dos controles também. Essa interpretação é
exatamente o complemento da anterior e o valor do Chi quadrado é, exata-
mente, o mesmo. Agora a OR é 3,57 (IC95%: 1,1; 11,7), que significa que as
pessoas que não fervem a água de beber (ou seja, os expostos) tem 3,6 vezes
o risco de adoecer do que aqueles que fervem a água (ou 2,6 mais risco de
adoecer). Esse valor é matematicamente análogo ao anterior (OR=0,28),
pois corresponde às duas categorias opostas de exposição ao fator estudado.

Contato com um caso

A tabela 2x2 correspondente ao estudo caso-controle é:

Casos Controles Prev. Exp. OR L. Inf. L. Sup.


Expostos 21 4 25 65,6 7,64 2,20 26,49
Não expostos 11 16 27 20,0
32 20 52 Chi quadrado: 10,26

65,6% dos doentes e 20,0% dos sadios reportaram contato com um caso;
esta diferença é estatisticamente significativa. O contato com um caso é um
fator de risco: as pessoas expostas a um caso tiveram 7,6 vezes o risco de
desenvolver a doença do que aquelas que não foram expostas; esse excesso
de risco nos expostos vai de 2,2 até 26,5 vezes o risco daqueles não expos-
tos. Essa evidência sugere que a doença é transmissível, possivelmente de
pessoa a pessoa.

Relação sexual com caso

A presença de uma frequência zero numa das células centrais da tabela de


2x2 impede o cálculo da OR, tal como ocorreu na exploração do possível
papel da transmissão sexual da doença no estudo de Huitzililla. Essa im-
portante hipótese exigiria um estudo mais elaborado.

Poço com parede protetora interna

A tabela 2x2 correspondente ao estudo caso-controle é:

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 75


Manual do facilitador de grupos

Casos Controles Prev. Exp. OR L. Inf. L. Sup.


Expostos 12 17 29 37,5 0,11 0,39 0,03
Não expostos 20 3 23 85,0
32 20 52 Chi quadrado: 11,26

O abastecimento de água a partir de um poço internamente recoberto é um


fator protetor: 37,5% dos doentes e 85% dos sadios se abasteciam de água
dessa forma; esta diferença é significativa. Nesta análise define-se como
“exposto” a pessoa cujo fornecimento de água é através de poço com pa-
rede protetora interna; assim, os expostos têm 0,11 vezes o risco dos não
expostos (em média, 89% menos risco).

Água suja visível no poço

A tabela 2x2 correspondente ao estudo caso-controle é:

Casos Controles Prev. Exp. OR L. Inf. L. Sup.


Expostos 29 4 33 90,6 38,67 9,61 155,59
Não expostos 3 16 19 20,0
32 20 52 Chi quadrado: 26,47

Este é o fator de risco mais fortemente associado à doença em ­Huitzililla,


dada a magnitude da força de associação medida pela OR. Mais de 90% dos
doentes reportaram exposição à água visivelmente impura; essa prevalên-
cia de exposição foi de 20% em sadios.

Incidentalmente, esta forte associação entre água visivelmente impura e


presença de doença poderia ser, ao menos em parte, produto de um viés
de informação introduzido pelos participantes do estudo. De fato, as pes-
soas doentes (mas não as sadias) costumam ter a tendência de atribuir sua
doença a certo fator específico, seja por convicção pessoal, boato popular,
meios massivos de comunicação ou induzidos pelas próprias perguntas da
entrevista, durante a execução do estudo caso-controle. Dentro do possível,
é importante garantir objetividade na medição das exposições, que deve ser
aplicada da mesma forma entre os sadios e os doentes pesquisados.

76 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Tratamento da água

A tabela 2x2 correspondente ao estudo caso-controle é:

Casos Controles Prev. Exp. OR L. Inf. L. Sup.


Expostos 7 13 20 21,9 0,15 0,50 0,05
Não expostos 25 7 32 65,0
32 20 52 Chi quadrado: 9,67

O tratamento químico da água (cloração) também foi um fator protetor:


22% de casos e 65% de controles cloravam a água de beber: as pessoas ‘ex-
postas’ a esta prática tiveram 0,15 vezes o risco de adoecer do que aqueles
que não tratavam quimicamente a água de beber.

Em resumo, o estudo caso-controle em Huitzililla identificou 5 fatores as-


sociados à doença; a fervura da água de beber, o tratamento de água de
beber e o abastecimento de água a partir de poços internamente cobertos
foram fatores protetores contra a doença; o contato com um caso e a expo-
sição à água de poço visivelmente impura foram fatores de risco de adoecer.
A evidência apóia a hipótese de uma doença de transmissão entérica, cujo
principal veículo é a água. As medidas de controle imediatas devem estar
dirigidas à garantia da inocuidade da água de consumo humano e à conten-
ção entérica (eliminação sanitária de fezes humanas).

O Facilitador deve promover um ambiente de debate em grupo que privi-


legie o cálculo analisado das medidas de risco trabalhadas nesse exercício
integrador, tentando, dentro do possível, que cada membro do grupo iden-
tifique os princípios epidemiológicos subjacentes aos procedimentos em-
pregados e interprete de maneira racional as descobertas da análise. A cres-
cente disponibilidade de programas computadorizados fornece um meio
eficiente e desejável para economizar tempo de cálculo, mas não resolve a
necessidade de extrair as conclusões relevantes requeridas para estabele-
cer recomendações racionais e medidas de controle pertinentes. Inciden-
talmente, a seguir, apresentam-se os resultados fornecidos pelo Epi-Info
(versão 6.04c) processando os mesmos dados empregados nesse exercício
de integração:

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 77


Manual do facilitador de grupos

IC95% (Cornfield)
Fator de risco OR
Inferior Superior
fervura da água de beber 0,28 0,07 1,11
contato com caso 7,64 1,74 36,32
poço revestido 0,11 0,51 0,02
água suja visível 38,67 6,23 299,48
tratamento da água 0,15 0,62 0,03

O Epi-Info aplica um método matematicamente mais apropriado para o


cálculo dos limites de confiança dos 95% correspondentes a OR, o que ex-
plica as diferenças pontuais com os valores obtidos nesse exercício. Con-
tudo, isso não modifica suas conclusões e, portanto, as medidas de con-
trole recomendáveis. Para sua informação, o Epi-Info emprega o método
de Cornfield para o intervalo de confiança da OR, baseado numa função
logarítmica (mais apropriada para levar em consideração, exatamente, a
assimetria da escala de risco). O método de Cornfield (1956), abreviado, é:

Limites de 95% de confiança de OR (Cornfield):

e OR ± 1,96 x ES

no qual:

(a + 0.5) x (d + 0.5)
OR =
(b + 0.5) x (d + 0.5)

e:

1 1 1 1
ES = + + +
(a + 0.5) (b + 0.5) (c + 0.5) (d + 0.5)

Pergunta 12 Com a informação disponível, prepare um resumo do surto em Huitzililla


e faça uma síntese da sequência metodológica que você recomendaria para
iniciar uma pesquisa epidemiológica na população.

O resumo deveria corresponder basicamente a uma descrição sintética da


situação observada, organizada em quatro pontos: antecedentes, métodos,
resultados e conclusões. É importante destacar que o resumo não se refe-
re exclusivamente ao estudo caso-controle, mas sim a toda a situação de
surto em Huitzililla. As afirmações feitas devem ser documentadas com

78 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

evidência (geralmente numérica). O Facilitador pode considerar conve-


niente propor uma simulação para os membros do grupo, na qual o surto
descrito tenha ocorrido na sua própria comunidade e o grupo seja a equipe
de pesquisa. O grupo poderia se organizar em subgrupos, designar tarefas
específicas e, coletivamente, apresentar o relatório resumo do surto.

A sequência metodológica para uma pesquisa epidemiológica de campo


deveria também ser sucinta, objetiva e prática, no formato de um protocolo
ou lista de controle, com as principais tarefas e a sequência de execução.
Essa atividade em grupo, simplesmente, tenta fixar os conceitos e procedi-
mentos descritos no Módulo 5 sob o ponto “quando investigar” (pág. 17),
organizados em dez etapas sucessivas. É importante estimular o grupo a
expressar as diferentes fases desse procedimento epidemiológico com sua
própria percepção, conhecimento e iniciativa.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 79


Módulo 6: Controle de
doenças na população
Manual do facilitador de grupos

Exercício 6.1
Pergunta 1 O que aconteceria com a situação da tuberculose se o diretor do programa
de controle decidisse como primeira ação facilitar o acesso oportuno a tra-
tamento específico?

A taxa de mortalidade vai diminuir e vai aumentar a taxa de recuperação


de tuberculose. Inicialmente, com a queda da mortalidade, poderia aumen-
tar a prevalência da tuberculose; posteriormente, à medida que mais casos
fossem declarados curados, poderia diminuir a prevalência. O risco de in-
fecção e a incidência de tuberculose não se modificam significativamente.

Pergunta 2 O que aconteceria com a situação da tuberculose se o diretor do programa


de controle decidisse como primeira ação incrementar a taxa de detecção
de sintomáticos respiratórios?

Aumentaria a incidência de tuberculose. Se não há acesso oportuno a tra-


tamento específico poderia aumentar a prevalência e a mortalidade por
tuberculose; se há um programa de controle efetivo em suas atividades de
detecção, diagnóstico e tratamento oportunos, a incidência fica estabiliza-
da e a prevalência poderia diminuir. O risco de infecção não se modifica
significativamente.

Pergunta 3 O que aconteceria com a situação da tuberculose se o diretor do programa


de controle decidisse como primeira ação vacinar com BCG todas as crian-
ças?

O risco de infecção, para formas severas de tuberculose, vai diminuir e a


mortalidade por essas causas específicas poderia diminuir. A prevalência e
a incidência na população geral podem não se modificar substancialmente.

82 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Exercício 6.2
Pergunta 1: Explique brevemente o conceito de controle de doença na população:

É o conjunto de ações, programas, intervenções ou operações contínuas


direcionadas à redução da incidência e/ou prevalência de um dano à saúde
em níveis tais que deixem de constituir um problema de saúde pública.

Pergunta 2: Quais das seguintes são ações voltadas à atenção da pessoa:

(b) ( ü ) atenção adequada dos doentes.


(e) ( ü ) prevenção da doença em susceptíveis.

Pergunta 3: A campanha define-se como o conjunto de ações realizadas na atenção pri-


mária de saúde de forma contínua e constante através do tempo; o progra-
ma, pelo contrário, é específico e temporal.

falso __ü__

Pergunta 4 Indique três medidas de controle aplicadas em nível comunitário com base
na sua experiência e destaque os objetivos de cada uma.

As respostas são múltiplas e variadas.

Pergunta 5 Explique a diferença entre eliminação e erradicação de uma doença, em sua


acepção clássica. Dê algum exemplo de uma doença que tenha sido elimi-
nada em sua área de trabalho.

Em sua acepção clássica, eliminação implica: 1) ausência de doença com


persistência das causas que potencialmente podem produzi-la; 2) inci-
dência zero; 3) integridade sem atividade da cadeia epidemiológica; e
4) continuidade em menor escala das medidas de prevenção e controle. Em
contraste, a erradicação implica: 1) ausência de doença e da causa neces-
sária para produzi-la; 2) incidência zero; 3) desintegração da cadeia epide-
miológica; e 4) descontinuidade das medidas de prevenção e controle.

Pergunta 6: A aceitação das medidas de controle por parte da comunidade tem im-
portância fundamental para o desenvolvimento do programa e a obtenção
de resultados favoráveis. Com base na sua experiência pessoal, dê algum
exemplo no qual isso tenha ocorrido ou não.

As respostas são múltiplas e variadas.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 83


Manual do facilitador de grupos

Exercício 6.3
Pergunta 1 Indique um exemplo de estratégia populacional, um exemplo de estratégia
de ‘alto risco’ e um exemplo de estratégias combinadas que se aplicam em
sua área de trabalho.

As respostas são múltiplas e variadas.

Pergunta 2 Indique um exemplo de prevenção primordial, primária, secundária e ter-


ciária aplicados na sua área de trabalho.

As respostas são múltiplas e variadas.

Pergunta 3 Indique quatro ações de controle para evitar a introdução e propagação de


uma zoonose no nível local.

As respostas são múltiplas e variadas.

Pergunta 4 Indique quatro medidas aplicadas na sua área de trabalho para evitar o con-
tato hospedeiro-agente. Dê exemplos.

As respostas são múltiplas e variadas.

Exercício 6.4
As respostas são múltiplas e variadas, dependendo das doenças selecionadas pelo grupo.
A discussão em grupo deveria destacar os aspectos mais críticos de cada uma das medi-
das de controle indicadas para cada doença selecionada e propor possíveis soluções no
nível local. No que tange à geração de políticas públicas saudáveis específicas, a discus-
são em grupo deveria dar ênfase às possibilidades e mecanismos promotores da decisão
política no âmbito do governo local, incluindo iniciativas que promovam a participação
comunitária e cidadã, a rede de organizações de base e o envolvimento das instituições
públicas e privadas do próprio nível local. O grupo poderia complementar sua discussão
mostrando experiências concretas vividas e executadas no nível local.

84 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Teste pós-oficina
Pergunta 1 De acordo com a informação proporcionada, você considera que realmente
ocorreu uma epidemia?

(c) Sim, pela simples razão de que a incidência observada da doença


excedia sua frequência usual na mesma população.

A opção (c) define uma epidemia. Observe que a opção (a) não é correta:
não necessariamente “toda epidemia deve apresentar um grande número
de casos de uma doença”. As opções (b) e (d) não descartam a possibilidade
de que de fato esteja ocorrendo uma epidemia.

Pergunta 2 A incidência acumulada da doença (“taxa”), por mil pessoas, por volta do
final de dezembro de 1981 nessa comunidade foi:

(b) 289,1 por cem mil homens e 340,7 por cem mil mulheres.

A incidência em homens foi: 15.685/5.425.000 = 289,1 por cem mil.


A incidência em mulheres foi: 18.315/5.375.000 = 340,7 por cem mil.

Pergunta 3 No que se refere à distribuição da doença por idade e sexo dos casos, por
volta do final de dezembro de 1981, a afirmação correta em relação à inci-
dência é:

(d) entre jovens de 15 a 24 anos ocorreu em mulheres e foi 160,4 por


cem mil.

A pergunta exige calcular a incidência por grupos de idades e sexo, a saber:

Incidência por cem mil


Grupo de idade
(Anos)
Total Homens Mulheres
< 15 4,0 2,7 5,3
15-24 132,4 105,7 160,4
25-44 484,1 388,6 579,4
45-64 635,0 688,3 583,0
> 64 205,0 236,1 175,4
TOTAL 314,8 289,1 340,7

A Tabela permite comprovar que as opções (a), (b) e (c) não são corretas.

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 85


Manual do facilitador de grupos

Pergunta 4 Com relação à distribuição de casos por idade e sexo, por volta do final de
dezembro de 1981 nessa comunidade,

(d) a incidência de doença periférica foi 3 vezes mais alta em mulheres.

A incidência de doença periférica em mulheres foi:


15.000/5.375.000 = 279,1 por cem mil

Para comprovar que as opções (a), (b) e (c) não são corretas, é necessário
calcular a distribuição proporcional (%) de casos por sexo e quadro clínico,
a saber:

4.1 oftalmológico periférico total

homem 53,8 25,0 41,3


mulher 46,2 75,0 58,7
total 100,0 100,0 100,0

4.2 oftalmológico periférico total

homem 73,7 26,3 100,0


mulher 44,4 55,6 100,0
total 56,5 43,5 100,0

A Tabela permite comprovar que, para a opção (a), a resposta correta seria
“cerca de 74% dos casos masculinos apresentaram sintomas oftalmológi-
cos” (73,7%; quadro 4.2) e para a opção (c), seria “cerca de 75% dos casos
com sintomas periféricos ocorreram em mulheres” (quadro 4.1). A respos-
ta correta para a opção (c) requer calcular a incidência acumulada, ou seja,
usar os dados de população já apresentados: as incidências acumuladas de
doença periférica foram 279,1 por cem mil mulheres e 92,2 por cem mil
homens (RR=3,0); assim, para a opção (c), a resposta correta seria “a inci-
dência de doença periférica foi três vezes mais alta nas mulheres” (embora
o resultado coincida com a distribuição proporcional, o raciocínio não é
correto).

86 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Pergunta 5 Por que razão você considera que foi necessário realizar estudos?

(a) para conhecer com mais segurança certas características do proble-


ma que pudessem orientar no esclarecimento das causas.

Na situação descrita, a epidemiologia descritiva foi insuficiente para identi-


ficar medidas de controle apropriadas para controlar o problema de saúde
na população.

Pergunta 6 Os resultados do estudo exploratório de casos e controles de setembro de


1993 indicam:

(c) que as pessoas que almoçavam menos de 5 vezes por semana tinham
quase 5 vezes mais risco de contrair a doença.

A pergunta demanda uma interpretação analítica do excesso de risco; con-


cretamente a OR - odds ratio.

Pergunta 7 Em sua opinião e considerando a informação disponível, qual etiologia po-


deria explicar melhor o quadro epidemiológico completo dessa situação?

(b) Mista: metabólico-tóxica, possivelmente deficiência de micronu-


trientes associada à demanda metabólica excessiva ou incrementada.

A evidência mais forte provém do estudo caso-controle; a hipótese mista


metabólico-tóxica é sugerida pelo maior risco de adoecer que tinham as
pessoas com menor ingesta alimentária e o menor risco de adoecer nas pes-
soas que criavam aves de curral. As características descritivas da epidemia
também apóiam esta hipótese: a doença praticamente esteve ausente nos
grupos populacionais com atenção alimentária prioritária: crianças, anci-
ãos e mulheres gestantes; não produziu óbitos; foi mais frequente em mu-
lheres e o risco de adoecer foi particularmente mais alto em mulheres com
menos idade que os homens; não houve evidência de transmissão pessoa a
pessoa e associou-se ao consumo de tabaco e álcool, entre outros produtos
com alta demanda metabólica de micronutrientes.

Comentários

A situação descrita corresponde à epidemia de neuropatia que afetou Cuba


entre 1991 e 1993. Os casos-índice da neuropatia epidêmica cubana foram
detectados a meados de julho de 1991 na província produtora de tabaco
de Pinar del Río, no extremo ocidental da ilha. A epidemia atingiu mais

Organização Pan-Americana da Saúde / OMS 87


Manual do facilitador de grupos

de 50.000 pessoas em todo o país e sua distribuição geográfica seguiu um


padrão ocidente-oriente de incidência decrescente. O padrão da doença
neuropática mudou da forma clínica óptica, predominante em homens de
45 a 64 anos, para a forma clínica periférica, predominante em mulheres
de 25 a 44 anos. As causas proximais da neuropatia epidêmica cubana in-
cluíram uma restrição dietética com acentuada diminuição do consumo
de micronutrientes e uma excessiva demanda metabólica por vitaminas do
grupo B, em particular tiamina, associada a uma ingesta incrementada de
carboidratos, tabaco e álcool, bem como a uma incrementada atividade fí-
sica e alta temperatura ambiental. A ocorrência da epidemia gerou uma
vigorosa resposta nacional de vigilância, pesquisa, atenção médica, con-
trole e prevenção. Entre março e abril de 1993 foi lançada uma iniciativa
nacional para a detecção de casos e o tratamento precoce, que mobilizou
18.000 clínicos gerais do sistema de atenção primária de saúde, produzindo
um incremento de 40% na incidência da doença e atingindo seu pico epi-
dêmico. Na primeira semana de maio iniciou-se a distribuição para toda a
população nacional de um suplemento vitamínico contendo vitaminas do
grupo B, vitamina A e folato. No começo de junho a curva epidêmica caiu
subitamente e a epidemia foi controlada. A resposta nacional de controle
da doença na população cubana foi bem sucedida, além de ter sido levada a
cabo em situações particularmente adversas, agravadas pelas repercussões
que sobre a economia nacional e o abastecimento de alimentos geraram as
mudanças políticas na Europa Oriental e o enrijecimento do embargo eco-
nômico e comercial de alimentos e medicamentos imposto sobre o país. O
papel destes macrodeterminantes distais na ocorrência da doença na popu-
lação é inevitável. A neuropatia epidêmica cubana foi considerada a maior
epidemia de doença neurológica no mundo no Século XX.

88 Organização Pan-Americana da Saúde / OMS


Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

Neuropatia epidêmica: Curva epidêmica; Cuba, agosto 22, 1992 – janeiro 14, 1994*
4500 óptica periférica total

4000

3500

3000

2500
casos

2000

1500

1000

500

0
34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 1 2

1992 1993 1994

semana e ano

Retirado de: MMWR 1994;43(10):189-192


* De 1° de janeiro de 1992 a 14 de janeiro de 1994 o Ministério de Saúde Pública de Cuba
identificou 50.862 casos (50.390 casos desde 1° de janeiro de 1993). A busca ativa de casos
começou na 12ª semana de 1993; a notificação pública da epidemia iniciou-se na 13ª semana de
1993; a distribuição de suplementos vitamínicos iniciou-se na 18ª semana de 1993.

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Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades (MOPECE)

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Epidemiologia para o Controle de
Enfermidades (MOPECE)
Manual do facilitador de grupos
9 788579 670183

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