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A Formação Prática Do Leitor PDF
A Formação Prática Do Leitor PDF
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Algumas dessas frases são de vestibulares de Universidades de outros Estados, que
veiculam as chamadas “pérolas” na tentativa desesperada de impedir que a qualidade dos
resultados das provas caia ainda mais. Outras são de redações de processos seletivos de
Instituições gaúchas. Ao comparar as frases, constatamos que o problema da má-formação do
leitor e, por conseguinte, a dificuldade de expressão verbal do aluno ocorre de forma geral na
educação brasileira.
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Antes de sair por aí dizendo aos outros o que deveriam fazer, testei as
novas idéias em grupos de crianças e jovens com os quais trabalho, em Rio
Grande/RS, e percebi que a metodologia funcionava. Os leitores “cobaias”
estavam se interessando por leitura seja ela qual fosse e em que meio
estivesse; além disso, começaram a expressar melhor suas idéias e, aos
poucos, aprendiam a argumentar seus posicionamentos. A partir disso,
estruturei o curso.
O primeiro objetivo é realizar a aplicação de técnicas didáticas e
atividades que estimulem a formação do leitor. Em um segundo momento,
acredito que seja importante constituir um banco de idéias sobre a formação do
leitor, possibilitando assim o reconhecimento e a consolidação das técnicas de
estimulação à leitura. Para que esses objetivos funcionem, é necessário
desenvolver atividades práticas que possibilitem a verificação da importância
de a professora conhecer as preferências do aluno com relação a assuntos
gerais e, então, direcionar a leitura.
Outro ponto é apresentar a importância da oralidade na vida do futuro
leitor através da construção de história oral, discussões de temas, audição de
músicas, expandindo o vocabulário por meio do exercício de escolhas do eixo
paradigmático. Esse exercício não é muito difícil, visto que a música está
presente na vida de praticamente todos os alunos; claro que, na maioria das
vezes não é música nacional ou então as letras não são tão inspiradoras para o
trabalho da língua portuguesa, mas é importante não descartar o gosto musical
do aluno. Ao invés disso, a professora deve apresentar outros estilos de
música e outros cantores para mostrar que nem tudo o que é diferente é ruim
e, assim, poderá trabalhar a melodia, a rima e, através da criatividade dos
alunos, interpretar a letra, criar a partir dela outras músicas, combinando outras
palavras, por exemplo. Mesmo que não pareça, isso já é leitura.
Trabalhar leitura de símbolos, propagandas e mensagens extra-
textuais que auxiliam na compreensão dos hipertextos, tais como outdoor,
capas de revistas, charges, constitui outra maneira de exercitar a interpretação
textual dos alunos. Muitas vezes, os leitores nem têm idéia de que conseguem
ler um texto por meio de imagens porque, apesar de entender, não conseguem
explicar o que lhes provoca o riso, em caso de charges, por exemplo. A leitura
de quadrinhos, tão criticada em outra época por educadores e alfabetizadores,
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nesse caso pode ser uma ferramenta para despertar o interesse pela leitura,
além de trabalhar os vários tipos de expressão verbal e não-verbal.
Estamos vivendo na era digital e, por isso, é necessário que as
professoras atualizem suas metodologias de ensino para depois não afirmarem
que os alunos não se interessam pelas aulas. Qualquer aluno, independente da
classe social em que esteja inserido, tem acesso a muita informação que surge
em ritmo acelerado. O que hoje é novo, cai em desuso amanhã. A sociedade,
como um todo, está acelerada e a educação pertence a essa sociedade, por
isso é incoerente desejar permanecer parado no tempo, fazendo uso de
metodologias arcaicas e do “caderninho amarelado”. O educador Rubem Alves
afirma que, na escola tradicional, o professor prepara a aula quase engessada
no conteúdo programático, como se já soubesse o que os alunos vão
perguntar 2 . Essa metodologia não desperta o interesse dos alunos,
ocasionando um grave problema na sala de aula, segundo a educadora Tânia
Zagury, que realizou uma pesquisa pioneira no Brasil, ouvindo mil cento e
setenta e dois professores em todo o país, no ano de 2006. A desmotivação do
aluno gera, de acordo com a pesquisa, a indisciplina, uma vez que é difícil
manter a ordem na sala de aula se os alunos não estão interessados no
conteúdo.
As aulas cansativas podem desaparecer se a professora aliar ao
conteúdo as várias formas de utilização dos meios digitais para auxiliar na
formação do leitor explorando a sua criatividade e a interação com o texto.
Pode-se utilizar novamente as letras de música em comparação com poemas
que as inspiraram ou que se assemelham por temática. Os poemas concretos
também são uma opção de trabalho, principalmente os que estão disponíveis
em sites da Internet e que são apresentados em movimento, criando um efeito
de expectativa e dinâmica que possibilita a interatividade do aluno na formação
dos mesmos.
No entanto, para que a professora tenha condições de optar entre uma
metodologia ou outra é importante ter em seu domínio uma bibliografia
adequada que incentive a prática da leitura, pautada em teóricos
especializados no tema, tais como Marcel Proust, Sobre a leitura; Davi
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ALVES, Rubem. A escola que sempre sonhei, sem saber que existia. 9ªed. São Paulo:
Papirus, 2006.
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Juramento dos formandos do Curso de Letras, da Fundação Universidade do Rio Grande, em
16 de fevereiro de 2001.
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Luis Alberto (formação) realiza palestras técnicas e motivacionais nas áreas de liderança e
educação em escolas, empresas e diversas instituições do Rio Grande do Sul.
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Referências
BLOOM, Harold. Leio, logo existo. Veja. Entrevista. 31 de janeiro de 2001, p.
11- 15.
SANTOS, Luis Alberto Silva dos. Uma revisão de valores. 3ª ed. Porto Alegre:
Calábria, 2008.
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SANTOS, Luis Alberto Silva dos. Uma revisão de valores. 3ª ed. Porto Alegre: Calábria, 2008,
p.147-148.
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GIBRAN, Kahlil. Os filhos. In: _____. O profeta. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 56.