Você está na página 1de 5

A FORMAÇÃO DE CONCEITOS CIENTÍFICOS NA DISCIPLINA DE CIÊNCIAS:

ANALISANDO UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

Ariane Xavier de Oliveira (UEL)


ariane_oliveira_94@hotmail.com.br
Letícia Vidigal (UEL)
leticia_vidigal_@hotmail.com
Dirce Aparecida Foletto de Moraes (UEL)
dircemoraes2007@gmail.com
Diene Eire de Mello (UEL)
diene.eire.mello@gmail.com

RESUMO

A presente pesquisa resulta de uma intervenção realizada pelo projeto OBEDUC – UEL “A
Práxis pedagógica: concretizando possibilidades para a avaliação da aprendizagem”, com
vistas a trabalhar uma nova práxis pedagógica com uma professora de Ciências, bolsista
daquele projeto. Esta intervenção consistiu na elaboração e aplicação de uma proposta
didática que pudesse favorecer a formação de conceitos científicos em uma escola pública
do município de Londrina - PR que demonstra um baixo rendimento no IDEB (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica). A experiência resultou neste trabalho, o qual tem
por objetivo apresentar, com base nos estudos da teoria histórico-cultural acerca de
conceitos, as contribuições que a proposta didática utilizada na intervenção pode oferecer
no processo de formação de conceitos na disciplina de Ciências, nos anos finais do Ensino
Fundamental. Para tanto, realizou-se uma pesquisa descritiva junto aos 22 estudantes da
turma partícipe, composta por observações participantes e um questionário para coleta de
dados. A análise destes dados possibilitou constatar que a proposta não foi suficiente para
atingir o objetivo de favorecer a apropriação e internalização dos conceitos científicos pelos
estudantes. Chegou-se à conclusão que a ação didática não correspondeu com a proposta
didática, ocorrendo um distanciamento entre ambas. Este resultado possibilitou pensar
sobre as dificuldades de mudanças de práticas de sala de aula e conduziu à consideração
de que este é um trabalho complexo que requer estudos e formação continuada que ajudem
o professor a entender melhor sua prática e transformá-la.

Palavras-chave: saberes e práticas docentes, proposta didática, formação de conceitos,


formação continuada.

TEXTO
A formação continuada dos profissionais da educação consiste em uma
importante alternativa quando se pretende estudar e refletir criticamente acerca das
ações dos professores para a produção de conhecimento no campo da docência.
Configura-se, portanto, como um elemento necessário para o aprimoramento das
práticas em sala de aula, frente aos anseios que os professores demonstram por
alternativas concretas capazes de contribuir para o sucesso da aprendizagem dos
alunos e a segurança no que diz respeito às práticas pedagógicas.
11
O processo formativo também tem sido alvo de investimentos por várias
agências de fomento na tentativa de superar lacunas e avançar qualitativamente por
meio da pesquisa, extensão e ensino. Assim, a presente pesquisa foi realizada com
apoio do Observatório da Educação (OBEDUC), um projeto financiado pela CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), intitulado “A
práxis pedagógica: concretizando possibilidades para a avaliação da aprendizagem”
e que é desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina - PR.
A partir de uma formação proposta pelo OBEDUC, com vistas a trabalhar uma
nova práxis pedagógica com uma professora de Ciências, foi planejada e
desenvolvida uma proposta didática. O objetivo desta proposta consistiu em
favorecer a formação de conceitos científicos por estudantes de duas turmas do 8º
ano do ensino fundamental de uma escola pública do município de Londrina - PR,
que demonstra um baixo rendimento no Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica - IDEB, no decorrer do 4º bimestre.
O programa de trabalho docente referente ao 4º bimestre das duas turmas do
8º ano vespertino direcionou o ensino acerca do tema “Alimentação e Nutrição”. Este
seguiu, como base pedagógica, os fundamentos da pedagogia histórico-crítica. Os
conceitos científicos elencados junto à professora de Ciências foram: Digestão,
Alimento, Nutrientes, Carboidratos, Lipídios, Glicídios, Vitaminas, Sais Minerais e
Proteínas.
Assim sendo, os resultados foram obtidos por meio de uma pesquisa
qualitativa na modalidade descritiva junto a 22 estudantes das turmas participantes,
no que se refere às contribuições da proposta didática para o processo de formação
de conceitos na disciplina de Ciências, nos anos finais do Ensino Fundamental.
A coleta de dados contou com a aplicação de um questionário composto por
nove questões dissertativas com a finalidade de identificar se a aprendizagem dos
conceitos ocorreu e obter informações pertinentes para refletir e analisar as
contribuições da proposta didática experenciada.
Em relação à primeira questão do instrumento: “O que você aprendeu sobre o
tema Alimentação e Nutrição?” foram apresentados os seguintes resultados: 4% dos
alunos não responderam, 10% disseram que não aprenderam nada, 55%
apresentam respostas relacionadas ao senso comum, como por exemplo: que estes
conceitos estão relacionados ao corpo humano, a comer melhor, ao que tem no
alimento e o que devem comer. Outros 31% tiveram compreensão relacionada ao
12
proposto, pois responderam que estes conceitos se referem a: ter uma alimentação
saudável, vitaminas necessárias ao organismo, importância dos nutrientes, diferença
de alimentos industrializados e não industrializados, etc.
A segunda pergunta teve como objetivo identificar se os alunos sabiam
explicar o que significam nutrientes e onde são encontrados. Dos vinte e dois
participantes, 55% escrevem respostas completas, ou seja, respondem ambas as
perguntas, porém, destes, apenas 75% (nove alunos) apresentam definições
relacionadas ao conhecimento científico, evidenciando frases como: “os nutrientes
como o nome já diz, nutrem o nosso corpo. São encontrados na maioria das vezes
em alimentos naturais” (E5), “nutrientes servem para renovar as células, e são
encontrados nos alimentos” (E9 e E10). Estas revelam que houve apropriação
conceitual à medida que os aspectos relatados condizem com o ensino acerca do
conceito e mediação da professora no decorrer das aulas. Além destes, outros 10%
expressam que não sabem definir o conceito e os demais (25%) escrevem onde é
encontrado: “na parte boa da fruta”, “nas frutas”, no “feijão”, “nos alimentos
saudáveis”.
Foi possível verificar que 10% dos estudantes definem o conceito como:
“substâncias usadas pelo metabolismo de um organismo que pode ser adquiro pelo
meio envolvente” (E18 e E19). As respostas dos alunos se referem à reprodução e
não à compreensão do significado do conceito, pois esta foi a definição apresentada
no texto de fundamentação teórica do material de apoio.
A respeito da terceira questão “Quais nutrientes conhece e o que sabe
sobre cada um deles?”, 36% dos estudantes evidenciam a compreensão do
conhecimento científico, apresentando alguns nutrientes conhecidos e seu
entendimento acerca destes, como por exemplo: “carboidrato que dá energia ao
nosso corpo” (E1), “eu conheço a vitamina B que ajuda a não dar doenças com os
sintomas de fraqueza vomito e diarreia” (E4), “as vitaminas que fortalece nosso
organismo e ajudam a evitar doenças, as proteínas são necessárias para a
construção do tecido e dos músculos.” (E16). Outros 23% dos alunos citam os
nutrientes conhecidos, 18% não responderam a questão e 23% não demonstram
aprendizagem dos conceitos, fazendo uso de respostas sem nexos ou baseadas no
senso comum.
As respostas para a quarta questão, cujo objetivo residia na compreensão
acerca da importância dos alimentos saudáveis para a vida do estudante, indicam
13
que 59% dos alunos demonstram apreensão da importância da alimentação
saudável para suas vidas. Apresentam respostas como: “Tem a importância de
evitar doenças e ajudar a nossa saúde” (E4), “os alimentos saudáveis podem nos
ajudar, ou melhor, ajudar o nosso corpo a ser saudável, nos ajuda a viver o nosso
dia a dia” (E5), “para melhorar a minha saúde” (E12). Outros 10% não responderam
a questão e 31% não se utilizaram da apropriação dos conhecimentos científicos
para a elaboração de suas respostas, aspectos estes que reforçam novamente a
não observância de aprendizagem dos conceitos científicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados alcançados nesta pesquisa indicam que a intervenção não se
concretizou na prática da forma como se objetivava e com isso não atingiu às
expectativas esperadas. Considera-se que as contribuições da proposta didática
adotada foram insuficientes para a formação de conceitos na disciplina de Ciências
naquele contexto, tendo em vista que o ensino e a aprendizagem de conceitos
dependem de aspectos que ultrapassem uma proposta. Tal observação levanta
como hipótese que um dos entraves ao trabalho com formação de conceitos
necessita de um maior aprofundamento teórico por parte dos professores.
Outras hipóteses ainda podem ser apontadas na tentativa de compreender os
fatores que influenciaram para que os conceitos científicos não fossem apropriados
de maneira eficaz. A intervenção realizada pela docente pode ser um dos fatores,
isso porque a explicação dos conceitos foi realizada com base no conteúdo do
bimestre de forma unilateral e de maneira transmissiva apenas. Embora o aluno
tenha tido a oportunidade de participar de aulas diferenciadas, dialogar e ser ouvido
frente às suas dificuldades e anseios, o ensino dos conceitos científicos ocorreu de
forma isolada e sem relação com estes momentos, sem possibilitar ou provocar no
aluno o confronto entre o conceito espontâneo e o científico, um processo que, por
sua vez, é estritamente importante se entende que “[...] um conceito cotidiano abre o
caminho para um conceito científico e o seu desenvolvimento descendente.”
(VIGOTSKI, 2005, p. 136).
Outro fator observado predominantemente no decorrer da experiência foi o
desinteresse dos estudantes para com as atividades. Foi possível perceber a falta
de compreensão sobre a importância do ato de estudar e das reais razões para se
estar em uma sala de aula. Muitos, com suas cabeças baixas, mal faziam

14
comentários sobre os conceitos ou demonstravam estar atentos ao que era
ensinado pela professora.
É justificável compreender que o ensino de conceitos é um trabalho árduo,
mas possível, que mediante envolvimento e iniciativa por quem o realiza, como
afirma Vigotski (2000; 2005): proporciona ao educando uma aprendizagem cuja
atividade de pensamento se realiza de maneira intensa com a participação de todas
as funções intelectuais básicas e um domínio sobre seus próprios processos
psicológicos.
Deste modo, os programas de formação de educadores podem contribuir com
a reflexão e estudo constantes sobre o seu fazer docente e com a reelaboração das
práticas pedagógicas que de fato incidam na aprendizagem do educando, permitindo
que estes possam responder às questões cotidianas por meio do conhecimento
científico.

REFERÊNCIAS

VIGOTSKY, Lev Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem.


Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

______. Pensamento e linguagem. Tradução Jefferson Luiz Camargo. 3. ed. São


Paulo: Martins Fontes, 2005.

15

Você também pode gostar