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Traumnovelle – and is no dream (…) entirely a dream?

Uma análise
da obra de Arthur Schnitzler e a influência da sua Psicanálise dos
sonhos em sua narrativa1
Jefferson Fonseca de Souza – Letras Port./Alemão UFPel

Os sonhos estão presentes na vida de todos. Quem é que, afinal, nunca sonhou? O sonho
normalmente pode ser considerado como algo irreal ou algo que se deseja – consciente ou
inconscientemente. Ao longo da história o sonho teve diferentes tipos de significados e foi
considerado de formas diferentes: em torno dos anos 2000 a.C. o sonho era considerado como
uma ideia sagrada/demoníaca. Duzentos anos depois, no Helenismo grego, o sonho era
considerado como um tipo de profecia. No século 19 o sonho já estava atrelado, devido à
influencia do Romantismo, aos Märchen e ao inconsciente. Apenas na contemporaneidade é
que os estudos do sonho foram iniciados por Freud através da sua obra Traumdeutung2. E
mesmo nos dias atuais ainda não se conhece muito sobre os sonhos, entretanto, há teorias que
tentam explicar a sua origem através de um trauma e a compreensão dos sonhos poderia
explicar alguns problemas que alguém pode estar passando.
Junto com Freud, no mesmo período, viveu também, em Viena, outro psicanalista que
trabalhou a temática do sonho: Arthur Schnitzler. Em sua obra Traumnovelle Schnitzler trata
sobre um pouco mais do que o sonho: o Fin de Siècle, a loucura, a morte e a crise no modelo de
família burguesa no século XIX. Embora não seja uma obra teórica sobre o sonho,
Traumnovelle traz um pano de fundo com possíveis teorias em torno do sonho e do
funcionamento do ser humano através da sexualidade como ponto de partida.

Arthur Schnitzler e contexto da produção de Traumnovelle


Nascido em 1862, Schnitzler tem como background uma família rica em Viena. Seu pai
era um médico e tinha uma clínica. É importante conhecer o início da sua carreira para talvez
entender as suas influências no seu desenvolvimento literário posterior.
Schnitzler inicia a sua vida academica no curso de Medicina e trabalha mais tarde como
médico assistente no hospital geral e numa policlínica no setor de Nervenpathologie, onde tem
o seu primeiro contato com Freud, em 1885. Além do seu contato pelo lado “psicanalista”,
Schnitzler tem seus primeiros contatos literários no ano seguinte, quando conhece Olga
Weissnix, com quem publica em jornais literários.

1 Análise como avaliação para a disciplina de Literaturas de Língua Alemã ministrada pela Profa. Dra. Daniele
Gallindo
2 Aus Meyers Großes Taschenlexikon etal. EinFach Deutsch: Unterrichtsmodell. Arthur Schnitzler –
Traumnovelle. Schöningh: 2009. Seite 23.
Apenas em 1922 Schnitzler tem encontros longos com Freud e o que tudo indica é
quando começam a conversar sobre temas psicanalíticos. Depois dos seus encontros é que
Traumnovelle é apresentado3.
A obra, entretanto, não demorou apenas quatro anos para ser produzida. Traumnovelle
teve seu processo de iniciação em torno de 1970:
Die „Traumnovelle“ erschien im Vorabdruck, und zwar in mehreren Fortsetzungen (…).
Anhand der Tagebücher, die Schnitzler seit 1879 bis zu seinem Todesjahr kontinuierlich
führte, lässt sich der Entstehungsprozess der Erzählung gut rekonstruieren. Eine erste
wichtige Notiz zur Entstehung der Erzählung datiert vom 15.6.1907. Diese bezeichnet den
Kern der Novelle. (Deutsch SII. Texte im Kontext – Arthur Schnitzler: Traumnovelle., p. 8)

Embora tenha sido o início do desenvolvimento de sua obra, apenas quinze anos depois
é que Schnitzler deu continuição à sua elaboração que inclusive carregou, primeiramente, não
o titulo de Traumnovelle, senão Doppelgeschichte (História Dupla) e respectivamente
Doppelnovelle, que já daria indicações de como ocorreria a Novelle, em que traz duas
narrativas principais – de Fridolin e Albertine. Traumnovelle demorou 19 anos para ser
produzida e alguns anos depois, em 1931, Schnitzler morre por causa de um AVC.
O contexto de produção da época pode ser chamado de Fin de Siècle, que é como uma
quebra de épocas na virada do século (XIX para XX) que trata temáticas como a loucura, a
morte, a decadência do ser humano e sentimentos como a melancolia, o cansaço da vida e
sobretudo a solidão:

Das Bewusstsein des zu Ende gehenden Jahhunderts ist im Begriff Fin de Siècle deutlich, die
Wahrnehmungsweise ist mit der Bezeichnung Impressionismus angesprochen. Die
Bezeichnungen verweisen drauf, dass der Mensch durch Vereinzelung und sein
Lebensgefühl durch Melancholie und Lebensmüdigkeit (…).(GROBE, Horst, p. 28)

O contato de Schnitzler com Freud não pode ser descartado, uma vez que ambos
trabalharam e desenvolveram uma temática comum e viviam no mesmo ciclo social em Viena,
definindo quase como uma psicologia da época. Ambos possuiam alguns pontos em comum
em suas teorias. Ambos tratavam sobre como ocorriam as apresentações da alma e tinham a
sexualidade como ponto de partida para a compreensão da estrutura de desejos do ser
humano (GROBE, 2010, p. 29). Havia, entretanto, uma diferença na forma como se obtiam
esses “dados” sobre as apresentações da alma: enquanto Freud usava o método da freie
Assoziation4, Schnitzler desenvolveu o innerer Monolog – que se faz presente em alguns

3 Dados biográficos tirados de GROBE, Horst. Königs Erläuterungen und Materialien: Interpretation zu
Arthur Schnitzler. 2. Auflage. Bange Verlag: 2010.
4 Freie Assoziation ist ein psychoanalytisches Werkzeug, das vom Vater der Psychoanalyse selbst erfunden
wurde – nämlich von Sigmund Freud. Dabei soll der Patient alles äußern, was ihm während einer Sitzung
spontan einfällt. Das Ziel ist, alle seine Filter oder Urteile über die eigenen Gedanken zu eliminieren und dem
Therapeuten ohne Zensur mitzuteilen, was in seinem Kopf vorgeht. Disponível em
trechos da Traumnovelle tanto atraves de Fridolin quanto do narrador, quando conversa
consigo mesmo e cria suas próprias duvidas. Um exemplo é possível quando Fridolin é expulso
da grande casa onde acontecem as orgias e o encontro de uma sociedade “secreta”:
Der Wagen fuhr immer hügelaufwärts, längst hätte er, wenn es mit rechten Dinen zuging, in
die Hauptstraße einbiegen müssen. Was hatte man mit ihm vor? Wohin sollte ihn der Wagen
bringen? Sollte die Komödie vielleicht noch eine Fortsetzung finden? Und welcher Art sollte
diese sein? Aufklärung vielleicht? Heiteres Weiterfinden an anderm Ort? Lohn nach rühmlich
bestandener Probe, Aufnahme in die geheime Gesellschaft? Ungestürter Besitz der herrlichen
Nonne –? (SCHNITZLER, 2005, p. 46)

Die Traumnovelle
Uma das obras mais conhecidas de Schnitzler aborda temáticas variadas como a
solidão, a sexualidade, mas, como característica típica de uma novela – sua proximidade
estrutural com o romance 5– possui como conflito principal a crise de um casal – mais
precisamente uma família burguesa do século XIX.
A Traumnovelle, com a duração narrativa de aproximadamente 34 horas, é uma
contação de acontecimentos incríveis (Goethe) 6 e aborda também uma relação entre a
realidade – sonho, sobre o real – irreal ou o consciente – inconsciente (embora sejam
conceitos freudianos, podem fazer parte da cmpreensão da obra de Schnitzler).
Com sete capítulos bem definidos e sem título, a Traumnovelle trata, como foi
anteriormente mencionado, a crise de Fridolin, médico e bem sucedido em sua vida laboral e
sua esposa, Albertine. Ambos começam a narrativa conversando sobre suas férias juntos, na
Dinamarca, especificamente sobre possíveis momentos em que o casal tenha traído um ao
outro. Devido à discussão com sua esposa, que afirmou que teve o desejo de trair o seu
marido, Fridolin tem despertado em si um desejo de vingança. Assim inicia-se uma aventura
por Fridolin, que parece ter atraído diversas mulheres ao longo da narrativa. O primeiro
capítulo pode ser classificado como o início da problemática, quase como “o questionamento”.
A primeira personagem que se torna presente, já no capítulo segundo, é Marianne, uma
jovem moça, bela, cujo pai falece e precisam que Fridolin vá examiná-lo. Marianne se declara
para o jovem médico, beija-o e diz amá-lo e não querer abandoná-lo. A interação de ambos é
interrompida com a chegada do seu marido, Doktor Roediger, que troca algumas palavras com
Fridolin, antes de sua partida.
No capítulo seguinte, outra mulher se faz presente nessas “tentações” – ou alucinações
da mente? Um tipo de recalque7? –: Mizzi, que tem 17 anos, também uma jovem moça muito
<https://gedankenwelt.de/was-genau-ist-freie-assoziation/> Acesso em 5 de julho de 2019.
5 Disponível no Handout Nr. 5 da disciplina de Literaturas de Língua Alemã I
6 Disponivel no Handout Nr. 5 da disciplina de Literaturas de Língua Alemã I
7 Verdrängung ist ein mehrdeutiger Begriff. In der Tradition der Psychoanalyse und Sigmund Freuds steht er für
einen innerlichen Abwehrmechanismus, der vorbewusste Vorstellungen oder reale Sachverhalte vor der
bonita e é uma prostituta. Vale destacar que esse acontecimento narrativo é durante a noite,
quando exatamente os episódios mais alucinantes ou inconscientes estao suscetíveis a
acontecer. Mizzi oferece “de presente” o seu serviço a Fridolin, que não chega a consumir um
ato sexual por medo de doenças venéreas.
É curioso perceber a transiçao da narrativa no que se refere ao nível social, pois, um
médico bem sucedido, no período noturno, começa a lidar com outras camadas sociais que
estão à margem e normalmente não têm contato com a vida burguesa “da luz do dia”. Ainda na
noite em que tem contato com Mizzi, Fridolin lida com um grupo de jovens “vagabundos”, que
andam durante a noite e estão aparentemente bêbados: é a casta social com a qual um
burguês não lida normalmente.
Ao sair da casa de Mizzi, Fridolin encontra um amigo da faculdade em um “bar”,
Nachtigall (Rouxinol, que é um pássaro famoso por cantar à noite) que agora é um famoso
pianista e que cita, em sua conversa com Fridolin, um evento em que toca: um baile de
máscaras. Em seu diálogo, Nachtigall deixa escapar que a entrada só é possível através de um
código e que este só o receberia algum momento antes do evento. Fridolin insiste e descobre
por Nachtigall onde será o evento e combina um lugar para descobrir onde pode ter
conhecimento do código para que possa fazer parte deste evento.
Depois que Nachtigall deixa o local para se preparar e Fridolin vai procurar para si uma
fantasia e fazer-se presente no evento. É neste momento que entra em contato com uma
terceira mulher. Aliás, não mulher, mas uma garota. Narrada como sensual e ainda como uma
“criança”, ao chegar numa loja de máscaras, Fridolin encontra a filha de Gibiser – um velho que
estranhamente abre a sua loja para Fridolin durante a madrugada e aluga-lhe uma fantasia
para que vá ao evento – fantasiada de Pierrete.
Após conseguir sua fantasia, Fridolin encontra-se com Nachtigall e recebe o código que
o permite entrar no evento: Dinamarca – ironicamente o lugar onde Fridolin e sua esposa
estão de férias no início da narrativa, onde se desenrola todo o gatilho da problemática da
crise do casal. Fridolin vai para o evento. Há algumas indicações que podem se deixar
entender como uma ida mais “funda” ao inconsciente quando Fridolin está indo ao evento. O
campo semântico vai se tornando mais “escuro”. No capítulo anterior, após conhecer Mizzi,
Frid está em “ruas estreitas” e “escuras”. Dentro da carruagem, Fridolin agora entra num lugar
mais escuro e muito grande, de forma que não consegue nem identificar onde está presente. O

Bewusstwerdung zensiert oder abhält. Infolge wird das Verdrängte ins Unterbewusstsein abgeschoben.
Verdrängt werden Gedanken, Gefühle, Wünsche oder Erinnerungen, weil sie tabuisiert oder beim
entsprechenden Menschen mit unangenehmen Gefühlen verknüpft sind und er sich davor schützen möchte.
Disponível em <https://www.sapereaudepls.de/personen/freud-sigmund/verdr%C3%A4ngung/> Acesso em 6
de julho de 2019.
ápice do “profundo do inconsciente” é a grande Villa onde o evento acontece. Quando Fridolin
chega no lugar, percebe algo “estranho”, pois é um lugar inabitual da vida burguesa. Há orgias
e pessoas mascaradas. Nesse trecho também é possível perceber Fridolin em seu innerem
Monolog: aparece o tempo todo em dúvida, mas ainda não é capaz de resolver suas próprias
questões.
»Parole?« umflüsterte es ihn zweistimmig. Und er erwiderte: »Dänemark.« Der eine Diener
nahm seinen Pelz in Empfang und verschwand damit in einem Nebenraum, der andere
öffnete eine Tür, und Fridolin trat in einen dämmerigen, fast dunklen hohen Saal, der
ringsum von schwarzer Seide umhängen war. Masken, durchaus in geistlicher Tracht,
schritten auf und ab, sechzehn bis zwanzig Personen, Mönche und Nonnen. Die
Harmoniumklänge, sanft anschwellend, eine italienische Kirchenmelodie, schienen aus der
Höhe herabzutönen. In einem Winkel des Saales stand eine kleine Gruppe, drei Nonnen und
zwei Mönche; von dort aus hatte man sich flüchtig zu ihm hin und gleich wieder, wie mit
Absicht, abgewandt. Fridolin merkte, daß er als einziger das Haupt bedeckt hatte, nahm den
Pilgerhut ab und wandelte so harmlos als möglich auf und nieder; ein Mönch streifte seinen
Arm und nickte einen Gruß; doch hinter der Maske bohrte sich ein Blick, eine Sekunde lang,
tief in Fridolins Augen. Ein fremdartiger, schwüler Wohlgeruch, wie von südländischen
Gärten, umfing ihn. Wieder streifte ihn ein Arm. Diesmal war es der einer Nonne. Wie die
andern hatte auch sie um Stirn, Haupt und Nacken einen schwarzen Schleier geschlungen,
unter den schwarzen Seidenspitzen der Larve leuchtete ein blutroter Mund. Wo bin ich?
dachte Fridolin. Unter Irrsinnigen? Unter Verschwörern? Bin ich in die Versammlung
irgendeiner religiösen Sekte geraten? War Nachtigall vielleicht beordert, bezahlt, irgendeinen
Uneingeweihten mitzubringen, den man zum besten haben wollte? Doch für einen
Maskenscherz schien ihm alles zu ernst, zu eintönig, zu unheimlich. (SCHNITZLER, 2005, p.
36)

Depois de entrar no local, é possível entender o seguinte episódio como o ápice do


aprofundamento de Fridolin ao seu Id. É quando o superego se apresenta na forma de uma
moça com lábios vermelhos, jovem e lhe “aconselha” a deixar o lugar, caso contrário, se
encontrado, teria um fim trágico.
O id, segundo Freud, é a parte mais primitiva do ser humano e é responsável pelos
desejos e pelo prazer. O superego, desenvolvido através do Ego é que é responsável por
“controlar” os desejos primitivos através dos valores morais e culturais 8. A Warnerin faz essa
função. Ela age como uma conselheira que dita – ou tenta – até onde Fridolin pode se
aprofundar nos seus desejos primitivos ou não, afinal, Fridolin, como um burguês, homem de
sucesso, que faz parte de um modelo tradicional da família, não poderia 1) estar presente em
uma orgia e 2) trair a sua própria mulher e ferir o padrão tradicional familiar. Fridolin não
conseguiu, até agora, mesmo encontrando quatro mulheres diferentes, consumar algum ato
que se configurasse como traição. Toda sua descrição sobre as mulheres, em seus monólogos
internos, indicavam alguma inverossimilhança: como Marianne, Mizzi e Pierette achariam-no
atraentes e agiriam perante ele de forma sensual? Seria realmente Fridolin o homem dos
desejos de qualquer mulher? Sua própria mulher questionava o seu papel como marido: em

8 Diferença entre Id, Ego e Superego. Disponível em <https://www.diferenca.com/ego-superego-e-id/>. Acesso


em 8 de julho de 2019.
seu diálogo com Fridolin e logo no capítulo seguinte, Albertine conta seu sonho e diz
claramente que queria trair Fridolin. Além de ter rido de sua cara. Albertine o ridiculariza.
Ainda no “evento”, Fridolin é abordado e perguntado sobre uma segunda senha – que
não era de seu conhecimento. Por não saber a senha, Fridolin seria punido, se a sua Warnerin
não tivesse se sacrificado em seu lugar. Fridolin é expulso do local e retorna para casa, quando
chega em casa e encontra sua mulher em um estado de “entre-dormir” e rindo. Ele insiste
para que ela conte seu sonho. Ela o faz e ridiculariza-o. Em seu sonho há sinais de uma
frustração: o sonho se inicia num casamento, depois ela encontra novamente o dinamarquês
com quem ela teria flertado em suas férias, com Fridolin, na Dinamarca. Ainda no sonho,
Fridolin é “torturado” e a sua esposa não se preocupa. Afinal, ela está aparentemente frustrada
com sua relação. Sie will ihm ins Gesicht lachen. No fim das contas, Fridolin não conta sobre o
seu recente acontecimento da noite.
No capítulo seguinte, Fridolin tenta encontrar pistas sobre o lugar para o qual foi e
descobrir o paradeiro da mulher que amou por alguns instantes. Ele não sabia o que tinham
feito com ela ou seu paradeiro. Nada dá bons resultados: Fridolin não consegue encontrar
Nachtigall, não consegue encontrar sua Warnerin e as personagens que aparecem no início da
narrativa parecem não se importar mais com ele. Fridolin encontra Marianne, que agora está
indo embora morar com seu marido em outra cidade e age quase que sem sentimentos ao vê-
lo – comportamento que seria “estranho”, já que Marianne estava apaixonada há quatro
capítulos, ou melhor dizendo, há um dia atrás, na narrativa. Mizzi tinha ido a um hospital e
estava com uma infecção sexualmente transmissível – a prostituta que faria seus serviços
gratuitamente a um “homem belo” agora não se faz presente.
O episódio que se faz mais próximo de um possível sucesso e suas buscas é quando
Fridolin vai até um necrotério em um hospital e encontra um corpo de uma moça que foi
envenenada – não é possível saber se a mulher envenenada era a sua Warnerin na noite
anterior – até os usos gramaticais das frases estão no Konjuktiv II, que é um tempo em alemão
que representa probabilidades, coisas irreais e não fatos concretos. O trecho, entretanto,
mostra quase que um amor de Fridolin por um corpo-morto que nem sabia a quem pertencia:
Fridolin aber, wie plötzlich hingezogen, schritt ans Ende des Saales, von wo ein Frauenleib
ihm fahl entgegenleuchtete. Der Kopf war zur Seite gesenkt; lange, dunkle Haarsträhnen
fielen fast bis zum Fußboden herab. Unwillkürlich streckte Fridolin die Hand aus, um den
Kopf zurechtzurücken, doch mit einer Scheu, die ihm, dem Arzt, sonst fremd war, zögerte er
wieder. Doktor Adler war herzugetreten und bemerkte hinter sich deutend: »Kommen alle
nicht in Betracht – – also die?« Und er leuchtete mit der elektrischen Lampe auf den
Frauenkopf, den Fridolin eben, seine Scheu überwindend, mit beiden Händen gefaßt und ein
wenig emporgehoben hatte. Ein weißes Antlitz mit halbgeschlossenen Lidern starrte ihm
entgegen. Der Unterkiefer hing schlaff herab, die schmale, hinaufgezogene Oberlippe ließ das
bläuliche Zahnfleisch und eine Reihe weißer Zähne sehen. Ob dieses Antlitz irgendeinmal, ob
es vielleicht gestern noch schön gewesen – Fridolin hätte es nicht zu sagen vermocht –, es
war ein völlig nichtiges, leeres, es war ein totes Antlitz. Es konnte ebensogut einer
Achtzehnjährigen als einer Achtunddreißigjährigen angehören.(…) Fridolin kam jählings zur
Besinnung. Er löste seine Finger aus denen der Toten, umklammerte ihre schmalen
Handgelenke und legte sorglich, ja mit einer gewissen Pedanterie die eiskalten Arme zu
seiten des Rumpfes hin. Und ihm war, als ob jetzt, eben erst in diesem Augenblick, dieses
Weib gestorben sei. Dann wandte er sich ab, lenkte die Schritte zur Türe und über den
hallenden Gang, trat in das Arbeitskabinett zurück, das man früher verlassen. (SCHNITZLER,
2005, p. 77)

O capítulo último, na configuração de Novellen, dá por encerrado a narrativa e é como o


a resolução da pergunta que inicia a problemática no primeiro capítulo da narrativa: como um
casal lida com a sua crise? Albertine e Fridolin conversam e chegam à conclusão de que vão ter
que lidar com isso e devem agradecer pelo episódio ter acontecido. Seria, então, uma
resolução para a crise de uma família burguesa? No fim, ambos dão indício de que tudo não
passou de um sonho. O que resta como conexão para uma possível realidade é uma máscara
que Fridolin esquece de devolve a Gibisier e Albertine deixa a máscara à mostra para que
Fridolin saiba que ela já tem conhecimento do ocorrido.

Eyes Wide Shut: uma recepção de Traumnovelle


Uma das recepções mais atuais de Traumnovelle é o filme de Kubrick Eyes Wide Shut
(em port. De olhos bem fechados), de 1999. A filmagem apenas pode ser dita como “inspirada”
por Rubrick, porque tinha em comum muitos pontos de encontro, mas, devido ao estilo visual,
perdeu algumas outras características.
Segundo Grobe (2010), já em 1930, Schnitzler já tinha recebido uma proposta para a
filmagem de Traumnovelle. Por essa razão, Schnitzler escreveu um manuscrito como um “guia”
para como filmar Traumnovelle – algumas mudanças que ele gostaria que acontecesse. Desse
manuscrito tinha Kubrik provavelmente conhecimento e levou muito em consideração na hora
da produção de sua filmagem.
Através da visualização, alguns locais e personagens foram mudados. No que se refere
aos lugares, por exemplo, a técnica de filmagem, as máscaras e corpos e a música dariam uma
atmosfera mais sensual – além da sensação de ameaça o tempo inteiro. O final do filme
também foi alterado em relação ao livro: em vez de uma discussão no próprio quarto,
Albertine e Fridolin (Bill e Alice no filme) fecham a sua problemática através de uma discussão
em um mercado natalino.
Toda a produção de Kubrick, ainda segundo Grobe (2010), também mudou a Viena do
Fin de Siècle para as ruas de Nova Iorque. Alguns detalhes foram perdidos, como o conato
corporal, o efeito märchenhaft dos acontecimentos e a função do monólogo interno. Pela sua
semelhança e interesse em comum pelo abismo da alma humana, não foi fácil para Kubrick
uma adaptação de Schnitzler. Por essa razão, não é possível dizer que Eyes Wide Shut é
Traumnovelle, mas uma obra que se baseia nela.

Referências bibliográficas
Deutsch SII. Texte im Kontext – Arthur Schnitzler: Traumnovelle. Schroedel: 2009
EinFach Deutsch: Unterrichtsmodell. Arthur Schnitzler – Traumnovelle. Schöningh: 2009.
Handout Nr. 5 disponibilizado para a disciplina de Literaturas de Língua Alemã I ministrada
pela Profa. Daniele Gallindo na UFPel.
SCHNITZLER, Arthur. Traumnovelle. Wien: 1926.
GROBE, Horst. Königs Erläuterungen und Materialien: Interpretation zu Arthur
Schnitzler. 1. Auflage. Klett Verlag: 2005.

Referencias online
De olhos bem fechados (1999) . Disponível em <https://www.imdb.com/title/tt0120663/>
8 de julho de 2019.
Diferença entre Id, Ego e Superego. Disponível em <https://www.diferenca.com/ego-
superego-e-id/> Acesso em 8 de julho de 2019.
Verdrängung – Wissenswert. Disponível em
<https://www.sapereaudepls.de/personen/freud-sigmund/verdr%C3%A4ngung/> Acesso
em 6 de julho de 2019.
Was genau ist Freie Assoziation? – Gedankgenwelt. Disponivel em
<https://gedankenwelt.de/was-genau-ist-freie-assoziation/> Acesso em 5 de julho de 2019.

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