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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt. osb
(in mamariam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-L1NE
Diz SãO Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança a todo aquele que no·la
pedir (1 Pedro 3.15).
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
" .•.. ".".
: ':;/;:~ ... ....
'. " .
-
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. SOmos
asSim incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
E.is o que neste site Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda QuestOes da atualidade
controvertidas. elucldal'Klo-as do ponlo de
vista crislao a fim de que as dOvldas se
, . dissipem e a vivência católica se fortaleça
.-1 . no Bras~ e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Verítatis Splendor que se
encarrega do respectivo sita.
Rio de Janeiro, 30 de Julho de 2003.
Pe. Est...*, Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITAnS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesla 'rea. o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica · Pergunte e
Responderemos·, que conta com mais de 40 anos de publlcaçAo.
A d. EstêvAo Banencourt agradecemos a conflaça
depositada em nosso trabalho. bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
,
Indice
....
TEMPO DE VrOU;:NC IA •. • .... .. . " . . , .. " . ••. . .. . ,. . .... . .. .. 229

Ainda Mn loco:
DIVORCIO : A NOVA lEGISLAÇÃO 231

é lerltlmo" t opollUno ... "


CRITICAR O PAPA" . ......... . . . . . .. . .. . .... . .. . .. . . • ....... 251

"'S mlrlWnh •• do pelqultmG h"",.no:


" O PODER 00 SUBCON SCIENTE" de Josepl'l Murphy ..... . . • .. .. 263

LIVROS EM ESTANTE • • • •• • • .• . ..•.• • . .••.•• . . . •• . . ,..... . ... 271

COM APROYAÇ10 EClElIUTICA

• • •
NO 'ROXIMO NOMEIO I

"Ser cristão" de Hans KOng. - Absolvição .coletiva, casamento


religioso e fé católica. - Os dizimas : que são? - Retorno
ê virgIndade.

-- x --

« PERGUNTE E RESPONDEREMOS .

Assinatura anual ........................... Cr$ 100,00


Número avulso de qualquer mês Cr$ 10,00
REDAÇAO DE PR ADftllNISTRAÇAO
Livraria lIllsslonAr\a. E<Htol"l.
Caln Postal 2.686 Rua. ltléxloo, 188-B (Castelo)
00'" 20.000 Rio de Janeiro (RJ)
20.000 Rio de Janeiro (R.II) Tal.: 224.0059
TEMPO DE · VIOLtH(IA
o mundo sentiu dolorosamente o golpe infllgido ao Sena-
dor Aldo Moro. bruWmente .... sslnado pelas Brigadas Ver-
melhas a 8 d@ maio pp., após ' 55 dias de cativeiro e tensões.
O tato, além de ferir os Animos, sugere varladas conside·
rações ...
Em melo i Indlgnação geral. dois torroristas julgaram
oportuno enaltecer o ato de morticlnlo assim cometido:
" Foi um alo da Justiça revt:llu clonArla. Foi o mlls alto ..ta po..ml da
humanidade Msta sociedade dividida em c1auH", declarou Renato Cutelo.

Esta tese foi esclarecida por Alberto Fram:oschlnl:


" Nlo h' moralidade Independe nte da sociedade humana. A moral'"
dade depende do Inlaraue da lula da CrUA prol."rfa. Por Iuo • moral'"'
dadl 11M para destruir I 8nll;l ,oelodade exploradora",
Tais dizeres exprimem fietnlente a mentalidade dos que
hoje em dia praticam a violência politica. Outrora. a vIolên·
cia (seqUestras e assassInlos) era sempre considerada COmo
um crIme. Atualmente, desde que exercida por motivos polí.
ticos, a vJolência é, nio raro, tida como ação justificada; os
que a praticam, passam às vezes por herólB movidos por
nobre ideal.
Mais: a violência poUtlca nem sempre distingue entre
pessoas constd~radas como culpadas e pessoas inocentes. mas
freqUentemente atinge também aqueles aos Quais não toca
responsabilidade a1guma em situações políticas, como, por
exemplo, criancas. A violência poUtlca. se dirige contra as
estruturas mais do que propriamente contra pessoas; por isto
pode ser ainda mais cruel do que a clãssIca vIolência d1rJgida
contra pessoas. .
Além do mais, o fato de qUê todo e qualquer cldadão,
em viagem aérea ou em trAnsito pelas ruas de sua cidade,
possa ser vitima de violência. contribui para gerar em mul·
tas sociedades contemporâneas wn clima de insegurança e
pânico.
1:, pois, natural que perguntemos: quais seriam as cau·
sas de tão lamentável fenômeno?
Entre as diversas razões, podemos assfna]ar a escala de
valores da sociedade de consumo (tanto sob regimes llbellil1s
- 229-
como sob regimes comunistas): a sociedade de consumo pro-
fessa a predomlnAncla do ter sobre o ser, a corrida à produ-
ção e ao consumo, o apetite do poder e do dorninlo, o subje-
tivismo e () Individualismo ... De modo especial, ela fom enta
o desprezo peJa vida humana, desprezo que decorre de longo
processo de secularizacão e dessacrallzação do ser humano.
Enquanto este era tido comQ imagem e semelhança de Deus,
beneficiava. se do respeIto devido à sua dignidade, de acordo
com o adAgio dlm 5&Cl;l'& hOD'lOD (Sagrado é o ser humano).
Todavia, desde que se considere o homem como um ser igual
aos outros, compreende.se que muitos perguntem por que lhe
conservar a vida quando é tido como obstáeulo ã realização
dos des(gnJos deste ou daquele grupo. De resto, uma socle·
dade que deseje reconhecer a legitimidade do aborto (Isto é,
da eliminacão de um ser humano e, por conseguinte, da mão
xlma violêncIa que se possa cometer contra o homem) não tem
autoridade alguma para contestar a violência ocorrente em
seus logradouros públicos. O lato de que, no caso do aborto,
se trate de um ser humano em formação e, no caso do seqUes.
tro J se atinge um ser humano jã fonnado nâo constitui dife.
rença essencial entre um e outro, pois em ambos os casos se
trata sempre do homem, que não muda de natureza pelo tato
de viver dentro ou fora do seio materno.

Vê-se, pois, que, se a sociedade contemporânea deseja opor


um dique ao terrorismo, deve, entre outras medIdas, procurar
restaurar a consciência do valor da pessoa humana; reaflnne
a primazia do ser humano sobre o dinheiro, o poder e o pra·
zerj reverencie a dignidade da convivênciu humana fundada
sobre .8 fraternidade, a solIdariedade e a Justiça.
Contudo nAo será posslvel reavivar a consciência de tais
vàlores se nlo se lhes der' um fundamento mais sólido do
que o próprio homem. Com efeito, é multo dificll que um
cidadão embrutecido pelas paixões respeite o seu semelhante
tio somente «por causa dos belos olhos deste>. Ora tal fun·
damento mais sólldo é a referência a Deus; em última aná·
lise, o respeito ao homem 50 se pode justificar e exigir em
função da reverência a Deus; é o absoluto de Deus que funda
o absoluto da dJgnldade humana. Se Deus não é reconhecido,
não se vê como esperar dos homens que respeitem seus
semelhantes, em vez de sacrificá· los aos Idolos do prazer,
do dinheiro e do egolsmo.
E.H.

- 230-
c PERGUNTE E RESPONDEREMOS ,.
Ano XIX - Nt 222 - Junho d. 1978

Ainda em loco :

divórcio: a nova legislação


Em itJn.... : o al1lgo abaixo, da lutort. do prol. N. P. Tabal ... do.
Sanlo•••• divida em duas part... Na prlmalr.. considera I) divórcio con",
fruto da mentalidade burgue,. I agolsta do. OltlmOB séculOl; 6 rnatllulçlo
qUI u naç6n dlYOtclslas da dadnlOl al/Q hOje etilo procurlndo coibir
ou restrlnglr. vlalGa os maus frutol qUI tem produzido para a .ocledada,
principalmente no ~U8 diz r•• pello • prol. dOI divorciados.

Na ..gunda parta, o autor comenta I 'a' do divórcio unelanada no


8ra,1I Im dezembro de 19n. Ta' 'ai, da n<;l e.S15, prevê o divórcio " por
mOtuo COM,nllmanto, 2) CC)mo ,.nçlo 80 oulro c6njuge, 3) pel. t."nela
do casamento, 4) como rem6d lo. Ceda um. destas clAusula • lum!"'_
culdad~.nle, ncando evidente qUI, 'rente I oul.... legllJaç6M, ..110
uttl'llpauadu 0tI desatualizadas .", alguns de leuI tópIcos.
Da tIIl a,tudo resulta que o fitado, por um lado, concede o dlv6n:::lo,
mlS, por outro lado, .-.conhece qua • um mal, da mDCIo que tanUi r.ltrln-
;1-10: cOl'lludo nlo o consegue: qualquar 'agl,laçlo, " .. te Hlor, por mata
euate,. que pretenda ser, aal! sujeita li Inlerpretaçces aberrant.. ; em co".
aaq06ncla, verlflca-aa Qua nlo • pOlSlva' ebrlr a porta do dtvórclo em
termOl moder8dOl: ou ala ' feehadl ou , nClncllrada . Allta, verlflcA1*
Que aa expectatlvu da grande lucellO que a la' do dlv6rclo auacllava em
multo, doa eeua adeptos, têm sido lrullradaa por notável decr6lliclmo do
nllmaro de llaparaçGea consanlull, no Eallldo do Rio de Janeiro em JaneIro
a 'ave,.lro da 19711 Inmfa aOIl ulllmoJ ma,.. da 1977.

• • •
Publicamos abaixo o texto de uma conferência sobre o
divórcio proferida na Universidade Santa ürsula. aos 29/ 03/78,
pelo Dr. Newton Paulo Teixeira dos Santos. advogado e
professor de Ética e Legislação na Fscola de Comunicação da.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. O texto Se beneficia
tanto da per!cia do jurlsta Quanto da clareza dJdAtlca do
professor. Recorrendo a ponderacOes de ordem clentillca, his.
tÓrica e fUosóflc8, o mestre analisa a instituição do divórcio
como tal e a maneira como é vigente no BrasU, mostrando
-231-
" cPERGU~TE E RESPONDEREMOS. 222/1978

certos ângulos do problema que merecem especial atenção


quando se considera f1 realidade do divórcio.

Ao pro!. Newton Paulo Teixeira dos Santos vai aqui


expressa a gratidão da redação de PR por esta sua valiosa
colaboração. Por respeito ao autor, conservamos o seu estilo
de conferencista.

DIVORCIO
Numa palestra despretcnciosa como a que pretendo fazer,
é claro que não poderia abranger tudo o que o problema.
oferece. seria preciso optar entre um enfoque sociológico.
rellgloso, ético, ou ainda preferir um desenvolvimento histó-
rico, ou me limitar à exegese da nova lei do divórcio. Diria
Que, se me aprofundasse nela, também não teria tempo. Então
preferi, neste encontro, apenas tocar em alguns pontos que
me parecem essenclaJs: na primeira parte, parece-me Impor.
tante defln1r O instituto do divórcio. Ê um enfoque sócio· jun.
dico, naturalmente aberto, mas que significa posicionamento
necessArlo. A seguir, darei uma rápida visão do direito compa.
rado, e perguntarei se o divórcio chega ao Brasil na hora
certa. Não é uma questão de ser contra ou a favor. Primeiro,
porque este debate perdeu o interesse, desde que temos um
texto legal vigente. Depois, os divorcistas também são eootra.
o divórcio; apenas acham ser um mal necessário. Portanto.
todos estão de acordo em q'ue ele seja um mal. Será necessá·
rio? Será. que essa necessidade justifica o mal que eie encerra?

Na segunda parlê. mNntarei o novo texto legal, mas


IimItando·me às causas que podem levar ao divórcio. por
razões 6bvlas de wnpo.

,. A que$tõo do divórcio

o dlv6rclo corresponde. sem dúvida, ao ideal burguês da


procura da felicidade. Ele se introduziu nos ordenamentos jurl.
dicas europeus através da reforma protestante, afirmando-se
a pe.rtir do século xvm. sob os Impulsos da Revolucão Fran·
cesa, e consolIdando.se definitivamente no Estado liberal, que
nasce em 1850.
-232 -
DNORCIO: A NOVA LEGlSLACAO

Estes três momentos históricos têm como denominador


comum a crtstal1zaçAo de uma clesse social emergente: a
burguesia. E, se isso ainda aparece confuso no século XVI, os
séculos xvm e XIX se encarregario de fazer com que apa_
reçam bem nltidas as marcas do lnd1vldualismo, e a penna.
nente JustUleaçio ética do -egolsmo, que logo viria em defesa
dos Interesses da burguesia.
Foi Jaeques Ellul 1 quem estudou em profundidade o cará.
ter do homem burguê:i, e nele deflniu duas coordenadas: a ideo-
logia da felicidade, e a capacidade de assimUação. A primeira
significa que, se a. idéia de felicidade estA presente nos homens.
de todas as ~pocas, o burguês fez.; dela uma IdeoJogia, que será
a chave da sua história. A felicidade burguesa não se conftul·
dirá com nenhuma das leUcldades tradicionais que os homens
historicamente se propuseram; é, antes de tudo, o sentimento
comum e generalizado do direIto de todo homem à satlslação
de .... dooejo5, sem limiuçõos definidas, sem concessõ0!3 a
valores tradldonals, numa pennanente disputa com o próximo,
como se a sua sobrevivência dependesse da realização desses
desejos.
E, para ating!.los, o jogo doutrinaI de base seria a negação
de uma ética objetiva, para justificar todas as eonvenlênclas
que o egoismo burguês exigisse. .Para tanto, enfatizou. se o
direito do Individuo, que a RevoluçAo Francesa consagrou de
modo tão enfético, e que, embora debelado. há doIs sêculos
sobrevive.
A outra caracleristica do homem burguês é a capacidade
de assimilação. Não há movimenlo cultural ou fllosónco que
o burguês rechace a prlorl, como Incompatível com sua pers0.-
nalidade. Oporá infdalmente reslstêncla, mas para melhor
anallsâ-lo, decompo-lo, e, afinal, lncorporâ.lo. Não M movi.
menta anU.burguês que não hala acabado por ser instrumen·
talizado pela burguesia, uma vez estudado e asslmllado. Apro.
prlar.se de tudo, mesclar os esWos e as modas, confundir
passado e futuro, nwn ecleUclsmo Impiedoso com os valores
verdadeiros, apenas na voracidade indiscrimlnada de quem
assimila tudo peJo medo de ser desprovido de alguma coisa.
- este é o caráter do homem burguês.
Ora é natural que o divórclo não escapasse à regra. Nada
corresponde mais ao individualismo do que essa pretenslo à
1 Metamorfll'" "I boI'llM••• Mllano, 11172.

-233 -
6 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 222/ 1978

lIberdade; e é curioso, pelo paradoxo que provoca, que, numa


época onde O acento social ganhou especial signHicado, onde a
idéJa de solidariedade entre os homens se proclama universal-
mente, partindo dos mais diver3Qs setores ldeol(lgicos, se
aceite com facilidade, ainda, o divói'clo, - expoente vigorosis.
sinto do mais "cru individualismo. Porque o único interesse
Que ampara a dissoluçáo do matrimonia, é o interesse pessoal
de quem se considera com direito a intentar várias vezes o
exerclclo dessa mesma experiência.

«Já há vinte anos, Arnaldo Medeiros notava que, «000..


trarlameDte ao IOCl'emeoto e prestigio creeoente de outIw
grupos soeIa1s, a famllla, nio obstante ser o mais oatural de
todos, ~fre ~ oCeaalva individualista, que ganha terreoo,
faldo perdido multo de ma antiga. solidez e coesão com ..
evolução operada. no conceito de pátrio poder e o decUnio do
poder "marital•. 2 "

cabem dizer Que ao Direito cumpre refletir essa reall·


dade. Mas o " processo ê Inverso, acrescentava o eminente
professor na mesma ocaslãoj o enfraquecimento da faroilla,
como unIdade soclal, era. devido ao delenvolvimentlO do divór-
elo e à orpalAção da. unJio livre CaeWtada pelos Tribunals
e pela lei (cf. p. 16).
o problema é que. se ao direito social cabe retratar uma
realidade, ao direito civil cabe moldar os costumes, dirigi.los.
E'&te deve ser feito por juristas, para reger uma sociedade,
enquanto o primeiro deve ser feito pelos práticos e pela admi-
nistração, para atender a Imperativos poUtlcos.
Às vezes uma questão ê Crontelriça, e disputada por
ambas as áreas. VeJ nisso um jogo. Se, em dado mOmento
histórico. uma delas ~ mais poderosa, entio ela se prevalece
da circunstAncia. e decide. Com risco de Que a outra área se
recupere, e faca prevalecer a sua regra.
1; o caso. No momento, o problema. é muito mais poUtlco
Que juricUco, pois na verdade ele está nas mãos dos grupos
de pressão social. No momento, o individuo (eu me refiro
ao homem comum) não se comporta como escolhe, mas do
modo que melhor convém às Corças dominantes.
a FONSECA. Arn.ldo Medelrol da. Inv..Ugaçlo de paternidade. 31.
ad. RIo, Foran._, 1958, p. 13; "

- 234-
DIVÓRCIO: A NOVA LEGISLACAO 7

Eis por que. de modo geral (pois o problema não é


brasUetro. mas universal) I se t<lmannos o mapa do mundo,
vamos ver que a quase totalidade dos palses adota o divórclo,
Mas não há duas legislações Idênticas, o que mostra que elas
se amoldam às condições poUtlcas reinantes. E mais: elas se
transfonnam , no tempo, numa dinàmlcn pennanente, sendo
uma das primeiras medidas tomadas pelos novos detentores
do poderd a que transfere para a familia uma inevitável
insegurança. E essa insegurança é mais ou menos Importante
para o Estado, no momento em que lhe importa catalisar
interesses ou dissolver forcas .
1: de se notar que nessa evolução histórica o Brasil
chega atrasado, ao adotar, inclusive, a separação consensual,
que depois de três anos se transfonna em divórcio. O apogeu
dessa lIberdade jã passou, pois a maioria das nações se esforça,
rnodernamente, por manter o vincu1o, tanto quanto posslveI:

Saulo Ramos, que é um divorcista ortodoxo, reconhece


em seu recentisslmo livro Dlvórclo à. braslJe1ra, que «as
legislações que adotam o divórcIo, na grande malorla. não
admitem o divOrcIo por mútuo consentimento:» (p. 35).
o Código de Farnllia de. BolMa de 1974., após enwne-
rar precisas camas do dJv6rclo, conclui: cO Juiz deve apre:
clar as provas e admitir o divórcio, somente quando da
gravidade das mesmas resulta profundamente comvromeUda
a essência mesma do casamento, assim como o Interesse dos
filhos e da sociedade~ .

a A ",'orma do dIreito matrimonial , allil uma du prlmalra medlela


lamadas paios novos detentores do poder polltJco. Alllm algumas ditaduras,
como. aepanhols do Oaner.1 Fnlnco. proibiram o dfvórclo. enquanto oul,..••
como a aJgenllM do O'Mral "ar6n. o Introduziram am 18iJllla~al qua nlo
o admItiam. Por 5ua ...at, 05 palsea comunistas. após teram facilitado sobre-
manalr• • dluoluçlo do ca,amento, mudaram. no 11m da (111111'18 guerra, •
sua pollUca no direito de lall'lllll, aó permltlndo o dl ...Órclo quando hOl,lVHle
Inlarasse loclal em nlo mania, uma lamflla cujos membros rtlo mais
pudeuem conviver paclflcamenle. Do me, mo modo, 03 Eltados que aderi-
fam ao aoclallsmo. daram no .... ori.nlaçlo ta suas telS s obre o divórcio.
Foi o que açonlenu com. Bulg'rla. I TçhKOSlo...!qula. a lugosl....' •••
Hungria, li Rumanla, a PolOnla • 11 AepObllc8. DamocréllclI Aleml (Alema-
nha Orientai) (WAlD. Amoldo. Do dnqulle. Rio. 1958. p. 69).

, Con'" para "I. e oulras reler'ncl ... o artigo de Haroldo Vallldlo,


publicadO no Jornal do Brasil de 6-10-n. 19 Caderno. p. 11.

-235 -
8 .PERGUNTE E RESPONDEREMQSt 222/1078

Na lei inglesa sobre divórcio, de 1971, deu·se grande


força aos juizes, permitindo até investigações «ex·officio ~ e
estabeleceram·se, com grande ênfase, normas para estimular
e obter a reconciliação, em rases sucessivas, com longos
penados de Interva)(), inclusive tornando-a um dever para os
advogados das partes. Estes SÓ podem levar a causa a juízo.
se provarem ter com as partes discutido a possibilidade da
reconciliação. e lhes ter dado nomes e endereços de pessoas
qualificadas para tentar a mesma !«oncl11ação. como sacerdo.
tes e pslcanaUstas.
Neste sentido, todo pais divorcista é ao mesmo tempo
antidivorclsta, Plis se esforça por negar aquilo que concede.
Inclusive o direito soviético teve que retificar legislativa-
mente aquela afirmação de Lenine, segundo a qual <l: não se
pode ser socialista sem a plena e absoluta liberdade para
divorciar-se:.. Em julho de 1942, um Decreto do Presidium do
Conselho Supremo da URSS regulamentava o divórcio, até
então totalmente livre, através de um procedimento judicial,
posteriormente completado pela lei de 27 de junho de 1968.

Também a China Popular eliminou o repúdio por consi-


derá-lo dndiferente aos Interesses dos filhos:. n, e as nações
que se movem na órbita do direito islâmico tendem n ldêntica
restrição ,_

Não é 56: a útUma lei do divórcio da Alemanha Ocidental


dlficu1tou-o sobremodo, exigindo, como condi(Ões prévias, con-
sultas e pareceres de psicanalistas e psiquiatras, e vãrias e
dificels fonnalidades.
E, assim como há Estados que estabelecem o divórcio,
.hã outros que o suprimem pelos maus efeitos causados à fami-
lia. Retiro·me ao Código Civil das Filipinas, de 1952. que
aboliu a lei divorcista anterior e a substituiu pela separacão
ou desquite'.
t: sem dúvida para se pensar Sê o divórcio chega ao
Brasil na hora certa. Ainda me ecoam nos ouvidos palavras
que hoje parece virem do abismo, porque proferidas há tanto
~ CIr. RevU8 InlBmaUonala da Oroll Compor'. 1972. p. 385·Ml8 .
• Clr. Revue Inlernallonalo de Oroll Campll r'. 1973, p. 70 e segls.
, Cf/o Haroldo VanadAo, toe. ell.

- 236-
DIVORCIO: A NOVA LEorSLACA.~,----_ _ _ _ 9

tempo, porém marcando de forma Indelével a minha forma-


ção:
"Convém Insistir: o divOrcio é uma Id6la tlplca do conl ..:lo cultural do
Ir'ldMdualllmo que culminou no século panado. O mundo de 'hoje proCUrI!
d..vencllhar-se doa elcombroa da SCX:ledade libereI. PrOCl/,a nlorq mais
aulanUcamenle humanos. Quer renascer. Quer ler menol InJullo" lo.

Mesmo nos Estados Unidos, onde, de certo modo, o divór-


cio foi instItucionallz.ado, o Presidente Carter já se tem mani-
festado como defensor da indissolubWdade do casamento, e
entre os Direitos Humanos, que ele tanto patrocina, nAo está
o de uma pessoa se divorciar. Nem poderia estar, já que o
Direito da Criança é defendido pelas Nações Unidas em
documentos oficlaJs ' : e não há divórcio que não se:Ja uma
agressão aos filhos. Mesmo os div6rcios consensuais. Mesmo
aqueles que se processam cna mais perfeita harmonIa". des-
troem o ~ullibrlo que se deve cultivar nos tilhos, dentro da
constelação famIliar.
Lê·se em obra recente de Paul Osterrleth :
"Mas li bem evldenle que nlo "4
bOi IOluçAo no c.o de dt'lón::lo:
O$la medida doa adultol conltltul lempre qualquar colla de fallo e Inacel-
Uvel pare. a criança" ••.

Diz mais o prorCSSOl' das Universidades de Llege e Bru-


xelas:
" I! wrdade qua ht multas crianças com uma conslder6....1 capacidade
de edaplaçAo e rellst6nel. ta per1urbat;õ•• : ., porlm, ainda mar. ve,da-

lo CORÇAO, OUllavo. Claro Etcuro - anaalM aobre calamanto,


dlvdrclo, amor. auo a oulrOl aaaunloe. Alo, Agir, 1958. p. 116. Onde ..
pode ler, lamtMIm. o ..gulnte fracho : À amizade do homam pari! Oall8 ,
100. folta de admlraçlio; a da Deus plra O homem, toda feita de mlser1cÓf·
dia; ma a amIzade da uma para oulra pealOa numen.a hi da tar Mmpre a
dupla eomposlçlo da mll arlcOrdla a da admtreçlo. Se a qualxa la fo,,"ula
em lorno de conllança qUlbrada, sBul bom anllna, qu. é fallO e al6
InJuato, alm ... nhor... InJusto o I.nllmanto de confiança 10lal e ablolula na
p.. soa do oulro. C axllllr demais de um coraçlo humano ter nale total a
abs.oluta connança: e, ao breludo, tal senllmento revttla um ello.IUcO da..)!)
de anconlrar no oultO um apolo tOlal e perfeito. Ore, aa é verdade que o
oulro poda aar nOlso apola, é ~rd.d. lambem que ere praclaa da nOSlo
apolo. Confiança absolu ta . total IoÓ Deus mereca (p. 101) .
• Art. VII d. Cecl.raçAo dos Direitos da Criança : "O Inleresse 'uperlor
da Criança deve .er o principio diretor da quem Iam 11 re.spon.abllldlde por
8Ua educaçAo'·.
.. OSTERAIETH, Paul. A criança e a lemlll., Trad. port .• LIsboa, 1975,
38. 1Id., p. 128.

- 231-
10 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS:t 222/1978

deito qye a çrlança ee ,erve admiravelmente de IIne de Impedir Os outros.


e sobraludo o acltllto, da se Imllculr em seul prolunclos ser.Umentos" 11.

Por isso nós nos iludimos quando a julgamos pela apa-


rência: o seu drama intêrlor é lmensurável, ~ qu~m quiser ir
mais longe leia o pungente! livro de J~Llnne Delals, Os F1lhos
do Divórcio 12.

Acho que j A dei provas abundantes de não ser homem de


um só llvro. Mas acho. também, que deixaria o fato indiscutí-
vel, se ousasse citar aqui o nome de BERTRAND RUSSEL_
Todos conhecemos suas pos1eões extremamente pragmãtlcas
diante da vida. do casamento e do div6rcio. Mas ele não
deixa de reconhecer o primado que os filhos merecem, che-
gando a consIderar que o casamento «não é primariamente
uma sociedade sexual, mas acima de tudo um compromisso
de cooperação na pnx:rIaf;ão e crlacão dos filhos». E acres-
centa que, se marido e mulher têm amor pelos filhos, cregu.
larão sua conduta de manell'a n dai' aos filhos ti. melhor
oportunidade de um desenvolvimento feliz e saudavel. Isto
pode exigir, por vezes, auto-repressão muito considerável. E
certamente exige que ambos percebam a superioridade das
reivindicações dos filhos sobre os reelamos das próprIas emo·
ções românticas,. E conclui no seu livro sobre o Casamento
e a Moral: «enquanto a famllla blparental continuar a ser a
regra reconhecida, os pais Que se divorciam, exceto paI' causa
grave, parecem-se r.alhar na sua obrigação paterna lo (Tradu.
zido, no Brasil, pela Cia. Ed. Nac., S. Paulo, 1977).

2. A reforma da Constitui~ão: a lei 6.51 S


No BrosU, desde 1934, o preceito de que o vinculo matrl·
monial é indlssoJuvel, integrava o texta das Constituições.
Diversas tentativas foram feitas para revogá-lo, sem êxito,
pois ex.lgia do Congresso uma maioria de dois terços, que não
era alcançada. Em 1~75, umo emenda obteria maioria abso-
luta (222 X 149), - o que não era suficiente. Nova tentativa
estava sendo preparada pelOS SênD.dor~ Nelson Carneiro c
Aecio1y Filho, Quando uma crise politlca Impõe o recesso do
Congresso. Estávamos em l - de abril de 1977. No conjunto
" P 127.
'li Publicado enlfe rlÓS pela Agir. 19;2.

-238 -
DIVORCIO: A NOVA LEGISLACÁO 11

das emendas edItadas pelo Executivo, veio a redução do


quorum para uma reforma constitucional: de dois tel)'OS para
a maioria absoluta dos Congressistas. Era a oportunidade
esperada. Nas sessões de 15 e 23 de junho, foi aprovada a
emenda constitucional n? 9, com a seguinte redação:
"Art. l' - O f l' do arllgo 1Q75, da Emenda Conslltuclonal n', 1, de
1969, puaar.6 a vlgor.r com a "gUlnt, redaçAo:
- O casamento somenle poder' .er dluolvido nos caio, expredOt
em lei, desde Que hall prAvle a.par.çlo JUdlcla' por mal, de Iff. ano •.

Art. 29 - A :separaç/io de que traia a nova redaçao do artigo anterior,


poder' ler de fi lo devldamonle comp rovada em juIzo, e pelo prazo de
cinco an08, le for 1Inl.r101 .. dala desla Emenda {28 de junho da 19m".

Estava assim demolida a barreira que durante tanto


tempo Impedia a adoção do divórcio no Brasil.

Era preciso regulamentar o texto, e essa providência nio


se fez esperar. O projeto dos senadores Nelson Carneirt> e
Accioly Filho chegou ao Gabinete da Câmara dos Deputados
no dia 18 de outubro de 1977 e, no mesmo dia, foi encami·
nhado à Comissão de Constituição e Justiça. Tramitou rapi-
damente. Vinte e sete emendas foram apresentadas. quase
todas recusadas pelo Senado, prevalecendo, dentre elas, n que
limitava o divórcio a uma vez apenas.

Nessa altura, havia no pais uma expectativa geral, uma


tensão popular, e esse suspense, indiretamente apoiado pejo
Governo (que assim dava ao Congresso uma oportunidade de
se recuperar ante a Nacão, já que tinha sido tão esvaziado
em outras mas). esse suspense era mantido por todos os
velculos de comunicação,

Finalmente, no dia 26 de dezembro o Presidente da Repú-


blica sancionou o texto final, transformando·o na lei 6.515.

Por ela se vê que o casamento válido agora se dissolve


pela morte de um dos cônjuges, ou pelo divórcio.

Este poderá ser t>btido, em prim~iro lugar, se as partes


jâ estiverem separadas de fato há mais de cinco anos, e o
inicio dessa separação se tenha dado antes de 28 de junho de
1m (art. 40).
- 239-
12 cPERGUNfE E RESPONDEREMOS, 222/1978

Nos outros casos, há nt"<:essldade de uma separação prévia,


uma espécie de estâgio probatório, com a duração de três
anos.
A separacão judicial equivale ao antigo desquite.

Desquite é uma palavra que agora desapareceu do nosso


vocabulário jurídico. Desquite foi uma palavra introduzida no
nosso sistema pelo Código Civil de 1917. Antes, n palavra
era dlv6rclo, mesmo que não significasse a dissolução do casa-
mento. Talvez para deixar clara a pennanência do vinculo, o
Código Introduziu essa palavra anômala - desquite -, que
perdurou durante sessenta anos.
Agora diz.se de uma pessoa que ê «separada»_ e este
passOu a ser um estado civil, que pode ser alcançado por
quatro caminhos:
11) Por mútuo consentimento
~) Como sanção ao outro cônjuge
3~) Pela falência do casamento
4") Como remédio
VejamOs um de cada vez.

2 . 1. Divórcio por mútuo consentimento


A separação consensual equivale ao desquite amigável. Se
os cônjuges já são casados há mais de dois anos, basta que
se dirijam ao juiz e requeiram que sua separação seja homo·
logada. Não é preciso dizer por Quê. O juiz deverá promover
todos os meios para Que as partes se reconciliem ou transijam.
ouvindo pessoal e separadamente cada uma delas e, a seguir,
reunindo-as em sua presença, se assim considerar necessário
(art. 39, § 2'). seus advogados poderão participar desses
entendimentos (art. 3~. § 3' ).
Depois de três anos, essa separacão será convertida em
divórcio (art. 25).
A separação judicial importa na separação de corpos e
de bens. Põe fim aos deveres de coabitação, fidelidade reei·
- 240-
DIVORCIO: A NOVA LEGlSLACAO 13

proca e ao regime matrimonial de bens. como se o casamento


fosse dissolvido (art. 3' ). Quer diZer que os cOnjUges devem,
desde Jogo, fazer 8 partilha, que será homologada, ou decidida
pelo juiz. O divórcio não se dará sem a conclusão da partilha.
A participação do advogado é obrigatória, e ele pode ser
único, escolhido pelos cônjuges. Is90 foi uma conquista da
lei nova, porque no desquite era dispensada a presença do
advogado. HavIa por isso alguns ccurlosos:t, que atravessa-
vam papeis, e, por nl.o terem condiÇÕeS, mu.itas vezes preju-
dicavam irreparavelmente seus clientes. Agora, 8 presença do
advogado é indispensável.
Neste ponto, r evela.se o apogeu tom que sonham 05
divorcistas, pois a ele podem chegar todos os casais que
desejem. Ao Juiz nem interessa se o convívio se tomou «lnsu·
portável:t. A lei diz que ele deve promover ctodos os meios
para a reconcilIação:t, mas nós sabemos que, na prática do
foro, nem Isso ocorre, e há quem aflnne que, se um casal
chega ao tribunal, ê que já esgotou todas as possibilidades de
convivência.
Parece-me que a questão não é tão simples, e estamos
diante de um problema nlo definitivamente resolvido. A expe.-
rIêncIa que o BrasU vai fazer, naturalmente ajudará a dber
onde estA a razãa. Em primeiro lugar, porque o casamento
não é uma união secundo a condiçãO hlstóri<a CODen!ta do
individuo. Cada um de nós, no fundo, é sempre a mesma
pessoa (e é ela Quem se casa), mas essa pessoa está sempre
sujeita a mudancas - enlermidades, alterações do comporta·
mento moral, perda de qualidades_ Essas mudanças ocorrem
sempre, e constituem a dimeDSÕ.O b.l.st6rica do homem. Mas,
porque elas sio naturais, todo esse conjunto de possibilidades
guarda seu valor essenclal, que permanece sendo, apesar das
transfonno.çóes, idêntico ao que se aceltau no compromisso
matrimonial. Porque o nucleo constitutivo do homem é imutA·
vel. Desse ponto de vista fllosófico, o divórcio ê um ato
arbitrário, porque o bem que se aceita ao contrair o matri·
mônio, é idêntico 80 bem Que se repudia. E, como {1 arbitrário,
ê também in1usto 13.
Do ponto de vista psicológico, já se provou que o divórcio,
maIs que uma solução para fracassos matrimoniais, é o
,~ V. NAVARRO IMlLS, Reflel .1 alll. Divorcio. 21. ed .• P.mplonl,
1971. p. 51-«11 .

-241-
14 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 222/1978

fracasso radical de todas as suas possíveis soluções, fracasso


que se prolonga em uma cadela Interminável de conflitos
psicológicos. q que é natural, já que a existência do vinculo
matrimonial nio é uma pura e simples oonstrução jurídica..
mas uma realidade psicológica não eancelável; uma realidade
Que subsiste e pennanece no campo dos afetos, dos sentimen-
tos, das relações reciprocas entre os e6njuges, quer dizer, no
campo da consciência dos próprios direitos e dos deveres
correspondentes Jf.
Vinculação essa que se torna mais complexa com a super·
venlência dos filhos, entrelaçando, então, uma rede de senti-
mentos e conflitos facllmente comprovados, nos tempos
modernos, pelas salas repletas dos psicanalistas.
cA esmagadora maiorIa dos divorciados sente vácuo e
infelicidade maior após o divórcio do que sentia antes_ -
tal é a conclusio de pesquisa realizada pela revista americana
Saturday Evenlng Post, após ouvir grande número de casalllÕ
separados pelo divórcio. Esta é uma citação tomada do livro
de Luiz José de Mesquita, Dh'órcJo, a lavor ou contro '!, 3.0
que ele acrescenta:
"Aelllmento, nlng .... m que tenhe um mlnlmo de senllmento humano,
deixa um I., par'll consUtulr outro SIIm recalques de Imprevlslvels conse-
qü6ncla5 pSlq ...lca,. A pessol humana nlo " um rob6" u .

2. 2 , Divórcio como sonsão


Em segundo lugar, a separação pode ser dada como
saneão a um dos cônjuges, e aqui nós nos aproximamos do
desquite litigioso. Como sabemos, eram quatro as causas do
desquite litigioso:
H Idem, Ibidem.
15 S. Paulo. '975. p. 17. Embora se aceite com QUEEN e GRUENER,
em seu livro Social Palhology, que dois 11 talvez quatro nonos das peSSOIll
divorciadas nos Estados Unidos conaeguem o reajustamento em novas
unh~es conjugais. a grande maioria, de s.te a cinco nonos, IIca desa/ustada,
entregando-tl8 algumas penoas .. promiscuidade ls vezes comercializada, e
outras ls bebld ... SINCLAIR LEWIS desenha, em seu Cau nmberlane, as
vidas de algumas pessoas dlvorcladae em quadros que nlo le podem
conslderer cOmlcol, portlue retratam Infelicidades. ( •. .) OI dGsastras con·
Jugllls .que 010 forem .IIaguldos de recoocUlaçlo, podem-se considerar Irrepa-
,4velsj "lo Ma.....r. par. ele. perfeito rellJuslamenlo e este ser' mesmo
Imponlvel se aICI,tlram filhos (GUIMARJ.ES, Hahnemann. Sobra o dhr6tclo.
In Dh'6relo para o. nlo <:.161100•• Rio, Agir, 1958. p. 45-6).

- 242-
DIVORCIO: A NOVA LEGISLACÁO 15

- adultérIo.
- tentativa de morte.
- sevicia ou Injúria gr&w.
- abandono do lar por dois anos consecutivos.
A jurisprudência abriu cada vez mais o conceito de 1njliria
grave. e por essa vilvula passava quase a totalidade dos
desquites litigiosos. Os demais casos eram raros. Ptlr isso. a
nova lei preferiu ser menos casuist&: entregOu de vez aC)
juiz C) poder dedecldir sobre ser ou MO caso de separaçlo.

o projeto do senador Nelson Carneiro dizia: a separacão


judicial pode ser pedida, quando um cônjuge Impute ao outro
«fato desonroso, 1moral ou lUc!to, ou que constitua violação
grave ou reiterada dos deveres do casamento, e que torne
insuportável a vIda em comum».
Vem o texto definitivo com outra redação: wn cônjuge
pode imputar ao outro:

a) conduta desonrosa
b) qualquer ato que importe em grave violação dos
deveres do casamento.
Essas duas hipóteses englobam as velhas causas do des-
quite, até com mais largueza.

Em ambos os casos é preciso que a vida em comum «se


torne insuportável:..
o que Sé deve entender por «conduta d~nrosu? E
<violações dos deveres do casamento» '!' A jurisprudência certa·
mente vai ficar naquela área insegura, já catalogada como
Injúria grave: a embriaguez, o uso de tóxicos, as companhias
ditas infamantes, a recusa ao debltunl conjngale, acusações
infundadas, a revogação sem 1usta causa do mandato outor·
gado pela mulher ao marido, etc. TUdo isso é multo vago,
intencIonalmente vago, para dar independência ao julgador.
Por exemplo: quando é que a vida em comum se toma dnsu·
portáveb? Nada é maJs subjetivo, e dependerá do grau de
estoicismo das partes. e do juiz.
-243 -
16 qPERCUNTE E RESPONDEREMOS~ 222/1978

Mas não é esse o aspecto que me impressiona. It que o


casamento, por sua natureza. envolve os cõnjuges, compro-
mete-os, vj~ula-os de maneira bem diversa da de wn simples
contrato de locação. Se, quando um deles mais necessita de
apoio. em virtude de suas fraquezas, ou de seus viclos, se
nessa altura ele se vir abandonado, e legalmente abando-
nado, pergunto-me se nfio vai aI wna desumanidade, e por
isso uma injustiça. Seria reabrir a questão do divórcio (o
individualismo e a ideologia da felicidade, etc), e nós vamos
chegar à concluslo de que essa questão será reaberta sempre
e sempre.
Veja-se que as hipóteses da lei suo tão genéricas que
não se pode falar em c:restrições ~. Dizer que cabe ao Juiz
avaliá-Ias é jogar a jurisprudência em contradições infinitas e
perniciosas ao equlllbrio social, ou (o que é mais certO) fazer
com que ela admita tudo o que se alegue, como no caso
daquela sentenca de um tribunal da Califórnia, que decretou
o divórcio em favor da esposa cporque o marido se reunia
com freqUência no domicilio conjugal com outros amigos, para
faJar de Kanb lei.
Leonel Franca já via nessas «restrições,. apenas uns
«resqwcios de respeito ao pudor público, educado por séculos
de cristianismo 11. PorQUe, na verda.de, Quando surge o Inte·
resse, as paixões saltam por cima desses obstâcu1os arUfj·
clais. A parte constr ói a situação que a lei exige, e consegue
o que deseja. Então, a quele «rigor:t da lei passa a ser uma
hipocrisia.
Conclui-se que, uma vez aberta a comporta, não há força
. Que domine a enxurrada, - e melhor exemplo náo teria Leonel
Franca encontrado do que o atual art. 38, quando a Intencão
do legislador foi uma, ao mandar que s6 se concedesse o
divórcio uma vez, e a sua Interpretação imediata foi outra.
1: o que notou HEN"RI BATl'LFOL. quando disse:
··parece-me que nesla mal.,la • porta ,6 pode estar aberta ou
fechada. a, a esperança de man'''I.. entr. abeM para caos gra-vea, •
experiência l' comprovou ser completamente Ilusória·' I".

I~ Clt. por ROUSSEl1., Malrlmortlo a motal., Irad. Ila1. Mllano, 1962.


p. 222.
" O divórcio. Em Ed. ABC L.lda.• Rio, 1937.
1.1La oonblbutlon eles relaUons f~anoo-tpagnol" " le conslructlon du
dto" In!emaUoMI prIY". Valladotld, 1950. p. 84.

- 244-
DIVORCIO: A NOVA LEGISLAÇ.A.O 17

Nesse mesmo sentido, observou Renê Savatier:


"Anle os Juizes fr.~es, 8$ c:eUlu do dlyórclo le converteram em
caus.. que nlo yall a pane .sludar e fundo. Só $e discutem lual conse- '
Cl06ncl.. patrimoniais, • custódia dOI filhos, e 1610 no. raros CUOI em
que um paclo oçullo 0'0 preveja tambem u'" extremos. S. •• trelaue
de raaolver um conlralo de compra-e-vondl, a alançAo aorla mullo outra.
Nlo .. &tata mais qua de um dIvórcio? Pata 'lua deboler o fundo? Nio cabe
mlls 'lU, pronuncIar. or.çlo funebre por um lar sem esperlnÇa" If.

Agora se compreende a inevltAvel e progressiva espiral


de divórcios. que transforma rapidamente uma lei numa
experiência legislativa «sem retomo., numa «máquina sem
freio». De conseQUênclas até mesmo hered1tá.rlaa, porque a
criança vê falseado o jogo de suas identificações parentais, e,
até mesmo para justificar seus pals, vai-se comportar do
mesmo modo.
Veja·se:
"A Imagem que ali (a criança) poda fazer da ylda conjugai e das
relaço..s 8nlro cônJuge., 6 geralmento parturbada (polo divórcIo), e nluo
..IA, pmvavelmenle, uma das razOes Que explIcam naver famllllS n. qUII'
o dlv6rclo '. ai, c.rto ponto. haradltA'lo" .....
Um outro estudioso tambêm já observou o fato:
NI!: certo que o tempus familiar 18 mOltra mal! lenlo que o di outra
tran~form8çOeI socleltl, e podo ocorrar que, em uma mudança de IIIUIÇIo
jurídIca. exista um mim.ro, relaUvamenta elevado, da !emltla. que o".rem
ainda com OI crtt6rlOl Jurrdrcol anterloraa. Mas, uma voz que os novoa
esquemas ou eomporlamenlos peneirem em mullas lammas, allu se coowr-
tem nos ma" elleaz." catallsador" para sua aUvaçlo • cOMOlldaçlo.
1.10 upllca, por ••amplo, o .wnento de dlvÓrcIoI entre fbboa de dtvo,..
elMo."'" ,
Em conclusão: o divOrcio-sanção, que pretende ser wn
caminho estreito por onde .somente passem os chamados
casos graves ou dolorosos, transfonna-se depressa no largo
boulevard da dissolução e, sob um aspecto, mais penoso que
a separação consensual, porque aqui são expostas acusações
m\Ítuss, ditadas por vinganças, emulacões e sentimentos meno-
res.
,. 1.8 drolt, r.lnour ., la Ilberl" 'a,I., 1863. ~a. od., p. US.
M OSTERRIETH. Paul. A crlan91 • a flmlllL Trad. pon. Lllboa, 1975.
3&. &d. p. 128. .
11 NAVAARO 'M.llS. Rafaal el am. Dlvorc~. Pamplona, Hln. 2., ed.
p. 88.

-245 -
18 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 222/1978

2.3 . DIv6tdo .. fol.nela


Passemos agora ao chamado divórcio· falência. isto ê.
àquele que pressupõe a ruptura da vida em comum hâ mais
de cloco anos consecutivos, e a Impossibilidade de sua recons.
titulção.
Há, portanto, dois pontos a serem provados: a ruptura, e
a lmpossibUldade de uma r:econclllaçio. Jã se viu nesse caso
uma espécie de «denúncia vazia:., pois não é preciso dizer-se
a oa.usa da separação; mas como provar ser impossivel a
reconciliação, . sem entrar na mérito?
Também aqui é preciso O processo de separação judicIal.
e a espera de três Bnos para se chegar ao divórcio. A menos
que a separação de fato tenha tido irúcio antes de 28 de
junho de 1977 (art. 40) . Alcançados cinco anos, pode seI"
requerido diretamente. Ainda aqui é preciso provar a causa
da separação, e s6 pode ser fundado nas mesmas causas dos
arts. 4" e 5'}: a separação eonsensual e o divôrcio-sancão_

2 .4 . Divórcio. remédio
Temos, finalmente, o caso mais doloroso, que, ainda por
ironia, se chama de divórcio-remédio . .€ o que permite a um
cônjuge pedir a separação judicial, quando o outro estiver
acometido de grave docn;a mental.
:t, realmente. lamentável que a lei permita essa exce;ão.
e parece Que o próprio legislador teve ronsci~ncia de sua
irresponsablUdade. Primeiro, porque abrandou o projeto primi.
tivo 1 que falava também em cdoença contagiosa»_ Ora,
exatamente na hora em que um cônjuge mais necessita do
outro. nessa mesma hora ele se vê legalmente desprezado.
E note-se que o divórcio é concedido ao cônjuge 810.
Porque se poderia imagina r uma doença mental de origem
pisicol6gica. ca.usada pela presença Insuportãvel do outro
cônjuge: então a lei viria em seu socorro, como um verdadeiro
remédio. Mas não: um cônjuge pode pedir separação judicial
quando o outro estiver acometido de grave doent;a mental.
E, para que essa separação se dê. é preciso:
a) que a doenC;8 Sê tenha manifestado depois do casa.-
mento;
b) que a doença seja grave;
- 246-
DIVORCIO: A NOVA LEGISLACAO 19

c) que dure no rnlnimo hé. cinco anos;


d) que seja reconhecida de cura improvável;
e) que torne lmposslvel a vida em comum.
Todos esses quesitos hão que ser satisfeitos e pode.se
imaginar a dlficuJdade que o Interessado há de encontrar
em provar, por exemplo. que o mal de seu cônjuge seja de
«cura Improváveb.
Não quero invadir seara alheia, muito menos um cipoal
tão intrincado como essê em que se movem os psiquiatras.
Mas sabemos que a doenca mental pode depender de um duplo
mecanismo, ou seja, um mecanismo orglnlco, devido a lUD8.
alteração da estrutura anatômica do sistema nervoso, e a
mecanismo devido a conflitos psicológicos conscientes, ou,
mais freqüentemente, inconscientes. Nas mais das vezes, esses
dois rnKanismos .se encontram associados.
Diagnosticar, nesse campo, uma lncurabUldade, mesmo
Que «prováveb·, é um desafio ao cientista. Não foi dlflcU
encontrar afirmações como essa do Dr. MareeI Eck, em seu
livro A doença. mental:
"Na grande maioria dos casos. hole em dle, 08 pmcauos II,aptullcos
permitem podar ..per.r ruer .Iguma col ... ou mesmo curar. Nem 8 dur.çao
da doença, nam o carilar .spotacular d08 acldenles .presentados. perml-
lem formul.r, com loda a certel', um Julzc d.Unlllvo ela Incurabllld.de. AI
curas Inesperadas de casos Julgados sem esper.nça verlflc.ram.... I' na
época que precadeu • • Qr.ndes deacobar1.s letapOutlcu no domlnlo
pslqulAtrlCo. Com maior rulc dev~ Nr .go....xlnrn... .me ,.•• rvado
Drn luar um pfOIft6sI[c:O da hrMMdfiv.1 eronleld.aa • lneurabllld. .•• c .

.Parece até mesmo uma resposta objetiva ao texto da


lei, demonstrando a sua jnvlabilldade.
Pode·se ir mais longe, se se acreditar no que ensina o
Professor Szasz, da Universidade de Nova York. Para ele, a
doença mental simples mente não existe:
" A crança na doença menlal, como algo equlva'ente ao probt.ma do
hom.m em conviver com d US samelhant.. , •• próprfa herdeira d. crença
em dem6nlOt a 'eltlçarla. Anlm. a doença ment.1 exlsle ou , re.1 exala·
monte no masmo sentido no Qu.1 as falllcelra. existiam ou eram reais" u.
Depois de lamentar que juristas e legisladores estabele·
cem que há dois tipos de homens: os mentalmente lnsanos e
U P.tropolls, Vou •• 1968, p. , • .
;:r SZlASZ. Thomas S.. ldeologl. o doença manlal. Rio, Zahar. 1977•
.,. 27.

- 247-
20 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 222/1978

os mentalmente sãos, e entregam aos psiquiatras (e pslcólo.


gos) a tarefa impossivel de defini.los, ele faz três advertências;
''1 - A. saud. ou doença mental de uma pessoa , quesllo de co"..
vençao, 2 - questOes de saúde , doença mental nlo merecem atraçao
clenllrfca . 6rla a, de qualquer manalra, 3 - os psicanalistas daverlam
tralar som.nta aquelas pessoas que desejam ur tratadas" (p. 78).
E não se pode deixar, nessa altura, de falar no nome de
Foucault, que já demonstrou que a doença mental só tem
realidade e valor de doença, no Interior de uma cultura que
a reconheca como tal. Por Isso, a relatividade de seu conceito
faz com que Sé diga que, ao adotar, hoje, uma regra que
M dezenas de anos outros poVOs aceitaram, o legislador brasi-
leIro, no mInimo, corre o risco de não estar atual~ado.
Alêm disso, a separação poderá ser negada, se constituir
_causa de agravamento das condJçôes pessoais ou da doença.
do outro cônjuge, ou detenninar conseqüências morais de
excepcional gravidade para os filhos menores:..
Oro, pode·se Imaginar que uma separação até alivie o
cônjuge doente. Ele pode até ficar curado, graças ao divór·
elo. .. Mas não foi essa a Intenção do legislador, como j6
se disse. A, .leI quer proteger O sadio. 'e não. o dowtllD. De
qualquer forma, são clrcumtAncias de prova praticamente
lmposslvel, que vão tomar o text(l legal inexeqüivel, a meu
ver.
3. Conclusão
Assim, passamos em revista, sumariamente, as quatro
causas de separacão judicial, depois de ter falado no pedido
direto de divórcio.
Os senhores hão de dl2er: que conclusões podemos levar
para casa! As vezes é maIs Importante levantar Questões Que
rerolvê·las. Mas há uma pa1avra final que eu posso deixar: é
o. de prudência ante os entusiasmos que. nas socIedades de
consumo, os veículos de comunicação de massa podem pro·
vocar. Está ocorrendo entre nós wn f enômeno inesperado, de
cuja surpresa os divorclstas extremados ainda não estão
refeitos. Todos aguardavam que, uma vez decretado o divórcio,
houvesse uma avalanche de pedidos, especialmente no Foro
das grandes cidades. Os juizes se reunIram secretamente, os
cartórios tomaram providências, e escritórios especIalizados
se organizaram, no Rio e em São Paulo. No entanto, houve
uma tlri11da procura de interessados. Os jornais do dIa e as
- 248-
DIVORCIO: A NOVA LEGISLACÁO 21
revistas ilustradas fotografaram os primeiros casais a se d1vor~
dar. Depois, sUênclo! Os pedidos de separação consensual
baixaram para duzentos, quando os desquites amlgivels eram,
em média. quinhentos por mês! Este fenômeno ainda esti
esperando uma explJcação 21 .
Talvez porque já se saiba que a felicidade, quase sempre,
não está em ler Uvre,. mas justamente em estar oomprolD&-
tldo!t. Lembram.se do que disse a raposa depois que se
fez cativar peJo Pequeno Prlnclpe, e este volta para ela?
"Teria aldo melhor volt.res 6 mesma hora. Se tu vens, por hemplo.
A. quatro da tarde. d..de e. Ir', eu começarei a ser feliz:. As quatro tlO(ll' ,
enllo, .. t.rel InquIeta e agUada: d.. cobrlrel o preço da fallcldadel Mas. se
tu ..,8na I qualquer momento, nunca saba,el a tlora de pr',lrar
çIo. .. ~ preelao rllol.
° cora-
- Que 6 um rlt07 perguntou o prlnclpezlnha..•.
Ê muito fácil transformar uma separação judicial em
divórcio: basta que uma das partes o requeira, depois de três
anos. Mas é um pedido que só pode ser fonnulado uma vez.
Pelo menos é o texto do famoso art. 38, que teve a intenção
de impedir que a mesma pessoa se casasse mais que duas
vezes.
Como já dissemos acima. não h! me1o.tenno em matéria
de divórcio: esse artJgo foi tachado Imediatamente de Incons.
tituclonal, _ afinnação que não tem prevalecido. Então
U Vejamos as utaUaUeo (Fonle: Olvido de OlslrlbulçAo da Co~ ..
dorla GeI.1 do Estaclo do Rio de Janeiro). N'I de desquites amlg~Ja .DI
1977: 5 ••88.
'L V••• ". ••• 'L ... ,..
••• •••
Oul.
Nov.
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V...

171
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Media mensal : 421


Em 1878, o "' de upar.çOea conaenauals dl,tri-
buldllS foI o Ngulnte:
Em Janeiro - 186
Em fave",lra - 178
2' V. FAOM. E. O MedO' IIbtrdad•. N. YOlk, Rlnthart. 19<11 (Ed.
braallelra, Zahar Edlloree.).

-249 -
22 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 222/1978

passou-se a dizer que se eu, divorciado, me casar com uma


solteira, ela poderá requerer o nO$$O divórcIo, o que Irá
pernútJr que eu me case novamente. Claro que com uma
solteira, para depois poder-me casar pela terceira vez. E
assim sucessivamente. Porque. se preferir a minha ex.mulher,
terei que celebrar um novo casamento, com juiz, testemunhas.
festas, bolo, e champagne ... Mas, no Direito Penal, esse
crime é agravado pelo que se chama de reincld~ncia especi.
fi......
BI8LIOQftAFlA CONSULTAD'A
1_ BA n'FOL, Heorl. LI! co.ntrtbutlon eles relalloM t,anco.lpl,noIH à tI
comlntcUon cid dwoll Inlamltlon" prtv•• VaUadolld. 1950.
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Agir, 1972-
S- ELLUL. JaequltS. Maltrnorfolla dei boroha,... Mllano. 1972.
e_ FERREIRA, Armando. Dlv6rclO, ,.,.,60'10 divino. Rio, S I Ed., 1953.
7_ FERREIRA, Waldamar, O c...manlo ,.lIgloso de .,.ltol civil. S.
Paulo, np. Siqueira, 1935.
e_ FONSEOA, Arnoldo Madalro, di, lnftlllgaçlo da Pll_mld.de. Rio,
Forense, 1958. 3a. ed.
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11 - FROM , E. O MecSo l Ilbardado. Rio, Zaha" 1977.
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S. P.ulo, Atln, 1978 - 2a. ad.
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S. Paulo. O. Dlp. Ed. Lld., 1978.
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20 - RAMOS, J. Seulo. Dlv6rclo • brasllelr• . Rio. Ed, BrulU., 1978,
21 - RIESaO MENQUEZ, Lull, A con11;l.Iraçlio da lamlll. "Iuz ••cluaiv.
da rulo natural. Mundo Cullural L1da •• Slo Paulo 1971.
22 _ ROUSSEL M.lrlmonlc e moral • • Mllano, 11162.
23 _ SAVATlER. Renê. La drclt, I'amour.t la Ilba .... Paris, ,g53 ,
24 - SILVEIRA, Allplo. O dlv6rdo ,Incular na. 'agl. laç6ea d. hoJa. S.
Paulo, I . Ed., 1912.
25 - SILVA, Ollvaira e. D.. quU•• Divórcio. Rio, Ed. A Noite, S. O.
:26 - 51MO SANTONJA, Vicente luis. Divorcio 'I lepareclon. Madrid, Ed.
Tacnos, 1973.
27 - WALO. Arnaldo, Do dMqUUI. Rio, c, Id" 1958.

- 250 -
t IeglUmo? t oporluno ... ?

criticar o papa?

Em aJrtteH: o

artigo 18m em mira "o direito de contestar o Pipa"
que alguns católicos vtm .rrogando a ,I 1'101 Cllllmos tempos. Atribuem. 5.S.
Paulo VI certe conl'l6ncla com o proleslanlWno o marxismo. A nm d.
11
Justificar IIS IUlIS crlllcae, esses crlst80s apelam 'aios da hl,t6rla da
plt.
Igreja. tencionando tl'llçlr um paralelismo entre a 'conlnlaçto' ocorrida
outrora e • qUI el•• hoje propugnam. Ela por que, nas ptglnas QUI ••
leguem, 110 consldartdo. OI prinCipal. aeonltclmantos da hlal6r1a dI:
Igreja eduz:ldOI peJos conle,tldO''': til, f.to., quando bem II"II,••CSOI, . .
mostram Inconslstent•• plt. lundamantar a conllat.çlo hoja.

Par. começar, o artigO propõe em que lermol se entenda I Inlallblll-


dada do Sumo Pontlllcl: 1,11 l i IlCelel apenu em maltMa de fê e mor.r
quando o Papa tanclona '.'.r "ex calhedra" (como Me.slre da Igreja Unl.... r-
sal), Fora de laia calOI, o PonU/lce nlo li InfaUvel: todavia, o que ale .nalna
goza de e,peclal autoridade, visto que Crlslo prometeu espacial aulat6nela
1 $. Igreja (cujo poria-voz quallllcado , o Papa), "'Iém dllto, ,at>e-se que
lodos os pronunclamenlo' pontlflclo••10 precedidos da a.ludo. apuralSOI e
a. baseiam am Inform.ç~" precl.u que um fieI cat611co dlncllmente pod..
• Ia prelender posaulr com oi moema (ou com maior) eXIIUdlo. Muitos doe.
que crillcam , nto e.llo bem a par dos dado. da que,tlo ou .e deixam
mover por JulzOI precipitados; donde resulta detrimento para • própria
Igreja, 'lua 81188 fiéis desejam dalander.
• • •
Comeutário: Nos últimos anos o Sumo Pontifice tem sido
objeto de critica e contestação oriWldas não só da ala liberal
da Igreja, mas também da parte dos conservadores. Estes
julgam ter direitos fundamentados na teologia e na história
para d~rrogar li. autoridade papal, acusando o PontlCice de
conivente com heresias protestantes ou com a Ideologia mar-
xista ou as Lojas Maçônicas. Não hã quem não veja o despro-
pósito destas aflnnações, que não é necessãrio analisar
longamente para se perceber quanto são apaixonadas e tenden.
ciosas. Mas também não há quem não veja quanto a critica
no Papa, principalmente quando feita em público, é nociva ao
bem da Igreja e da humanidade; se há. motivo para dlSICOrdar
do Sumo Pontifice em assuntos de disciplina contingente. é
para desejar que os interessados se dfrijam diretamente à
Santa Sê. O grau de arbitrariedade dessas criticas se evidencia
pelo fato de que Paulo VI é slmultaneamente acusado de
«conservador» e cprogresslsta», dechado» e cUberab. Não

- 251-
24 cPERGUNI'E E RESPONDEREMOS~ 222/1978

raro, a ctmtestacão surge da falta de InformacÕes exatasj


baseia·se em juiz;os precipitados, unilaterais e passionais,
prejudicando a Igreja .. . a Igreja que precisamente os contes-
tadores desejam preservar e fomentar.
Em vista da situa cão que assim é gerada na Igreja de
Cristo, vamos em duas etapas: abordar a legitimidade de
criticar o Papa: priml!'lramente proporemos princlplos teoló-
cicos referentes li. autoridade papal: a seguir, examinaremos
fAtos histOrlcos que pareçam estar em desacordo com tali:/;
principios.

1. A voz da fé
1 . :Jt de supor Que quem critica o Sumo Pontífice.
juIgando·o condescendente com O erro, tem fé ... ou mesmo
deseja ter uma té ortodoxa e pura. Pois bem; que .enslna 8.
ré a respeito da autoridade papal?
_ Ensina tri!s pontos Importantes:
a) Cristo quis entregar a Pedro as chaves do Reino e
deu-lhe o poder de ligar e desligar, de tal modo que suas
decisões são ratificadas no céu (Mt 16, 16.19);
b) Cristo confiou a Pedro a missão de cconflrmar seus
Irmãos na tb (Lc 22,31s), de tal modo que é de Pedro que
os irmãos aprendem a reta fé;
c) Cristo constituiu Pedro pastor de seu rebanho
(Jo 21, 15-17), de tal modo que é Pedro quem gula e orienta
as ovelhas remidas pelo sangue de Cristo.
Nenhum fiel cat611co p6e em dúvida o contelido destes
textos blbllcos, que mais e mais forttm sendo explicitados
pelos teólogos e pelos fiéis até nossos dias. Quem recusa as
implicações destas passagens btbllcas, rejeitando a autoridade
primaclal de Pedro e seus sucessores, vem a ser protestante.
isto é, segue o principio do cUvro exame:.: 101ga e Interpreta
a Bíblia e a Tradição segundo seu bom senso subjetivo, criando
assJm ca sua fé . e «a sua Igreja:.. Foi o Que Lutero fez, e é
O que os Imitadores de Lutero tazem Quando dentro do protes·
tantismo vão suscitando novas divisões e subdivisões, todas
elas dependentes do 4:bom senso subjetivo::. dos respectivos
fundadores. Hoje em dia sabe-se que Lutero não tinha a
intenção de dividir a Igreja: desejava apenas criticar para
-252 -
CRrI'lCAR o PAPA? 25

provocar renovação; fê-lo, porém, de tal modo que as suas


atitudes desencadearam paixóes veementes aguçadas por inte-
resses polIticos dos nobres da Alemanha i em conseqUêncla,
Lutero veio a tomar· se autor de um dsma, fecundo em novas
e novas rupturas, a ponto que multos protestantes e catOUcos
se empenham hoje ardorosamente por superar a obra dIvi.
sória de Lutero. .

2 . Dito isto, é oportuno fazer três observa~ comple.


mentares:
a) Nem tudo o que o Papa propõe, ele o propõe como
dogma de fé ou de Morol. O Pontlifice às vezes tenciona
apenas orientar ou abrir pistas que preparem soluções. Nestes
casos. os fiéis nlo t êm obriga~Ao. em consciência, de seguir
a orientação ponti!lcla; todavia, para que náo a sigam, devem
possuir ra2Ões sérias, bas~das em sólidos prlncipios bib1icos
e teológicos, pois o Que o Papa propõe, é geralmente baseado
em prévIas e apuradas pesquisas de peritos; ademais sup!)e
uma vIsão de conjunto das situações e dos problemas que um
sImples fiel (por mais erudito que pareça aos seus olhos)
jamais pode ter. Os Pontlfices não fa1am afoitamente, mas,
conscientes da complexidade dos problemas de hoje, procuram
Inrormar-se em fontes múltiplas e limpas, de modo a conhecer
os temas reHglosos e as situações nacionais e internacionais
como poucas pessoas os conhecem no mundo atuaI.
b) Dlstlngam<ls também entre os ensinamentos da Igreja
concernentes à M e .A Moral e as tradições meramente disci-
plinares. Aqueles sãe» intocáveis na medida em que são dogmas;
a história atesta que n enhwn Pontiflce (nem mesmo Alexan-
dre VI, de má vida) jamais retocou ou desdisse algum artigo
da fé ou da Moral revelado por Cristo. - QuantO às tradições
disciplinares, ê legitimo, e até necessário, que sejam adaptadas
à evolucão dos tempos, pois a disciplina é justamente a regu-
lamentação da vIda concreta de uma sociedade dentro do
respecüvo contexto cultural i assim, se São Paulo dizia que as
mulheres na Igreja devem ter a cabe;a coberta (cf. 1 Cor
11,3-16), ele propunha uma nonoa disciplinar oportuna para
os séculos passados, mas hoje não mais correspondente às.
legitimas categorias de cultura da sociedade. Por conseguinte.
nada se opõe a que um PontlfIce altere eerlmônias e ritos da
Igreja, contanto que Isto nAo afete os artigos da lê; ê mesmo
necessárIo .que se empreendam tais reformas, sempre que
evidentemente ditadas pelas exigências do passar dos tempos.
- 253-
26 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOSt> 222/1978

c) A infaUbllldade pontifldat entendida nos termos admB,


não significa que o Papa esteja Isento de faltas morais em
sua vida pessoal ou de opiniões particulares errôneas. Ele
pode ser vitima dessas fa.lhas, pois é humano como todo
homem; mas a fé ensina que, quando o Swno Pontifice
exerce a sua missão de Pastor e Mestre da fé e dos costumes.
é assistido, pejo Esplrito Santo de modo a nada impor de errado
e, mesmo, a encaminhar os fiéis pelas sendas da reta fé e da
autêntica vida moral.

2. Sumário percuno histórico


Quem deCende a leeltimidade de criticar o Sumo Pontifice.
apela às vezes para fatos históriros, como se estes até hoje
fundamentassem atJtudes criticas. Ora é preciso que saibamos
exatamente como e em que clrcunstinclas se desenrolou cada
acontedmento Que se pretende aduzir; o perigo. em matéria
de história, é que se contem Inadequadamente os fatos ou não
se tenha a perspectiva devida ou se Caçam generalizações e
ilações impr6prias .. , Vamos, pois, repassar um por um os
fatos evocados pelos critjcos contemporâneos.

2 .1 . Paulo rftl.fiv Q Pedro {GI 2, t 11

Os Apóstolos reconheceram em Jerusalém (49) a abolição


da Lei de Moisés (At 15). Todavia pouco depois em Antioquia
Pedro se adaptava às observâncias judaicas por medo dos
judaizantes da comunidade. Foi então que São Paulo lhe
resistiu (cf. GI 2,11). - A questão era disciplinar, não dogmá·
tica. Ora, quando não exerce o seu magistério oficial em
questões de fé e de Moral, sabe.se que o Sumo Pontifice está
sujeito às limitações da condição humana. Isto, porém, não é
motivo para que um fiel católico julgue poder fazer as vezes
de um São Pau10 sempre que lhe pareça que o Papa está.
falhando em questões disciplinares. Para contestar, deve ter
razões teológicas, assim como lntencão reta, isenta de paixões,
amor próprio ferido, fanatismo, etc.

2 .2 , o. qucntodedmanos

No século lI. Os quartodecimanos tinham seu calendário


próprio para celebrar a Páscoa. Com efeito, os fiéis da Asia
Menor celebra\'am Páscoa precisamente aos 14 de Nlsã, ou
- 254_
______________~CR~n~(C~AR~~O~P~A~P~A~?~____________"~

seja, na prlmeLra Lua cheia do equlnóxio da primavera (no


hemisfério Norte) I ou seja, depois de 22 de março, Üldepen-
dentemente do dia da semana em que caisse. Essa praxe foi
chamada quartodeclmanismo; d1feria do costume das regiões
ocldentaIs do Cristianismo, que celebravam Páscoa sempre no
primeiro domingo após a primeira Lua cheia do menclonado
equinóxio. Cf. PR 183/ 1975, pp. 139•.

Depois de conversacÕes lnfrutiferas, o Papa S. Vitor


(189·198) chegou a excomungar os quartodecimanos. S. Ireneu.
bispo de Ulo (Gália). era favorável aos asiáticos; Interveio.
pois, como mediador na questAo, conseguindo que S. Vitor
logo restaurasse 05 quartoàecimanos na comunhão da Igreja
e assim se restabelecesse a paz. O papel de mediador ou inter·
cessor exercido por S. lreneu não é o de polemlsta; é papel
dJgno de imitação.

2 ,3 . S. Agostinho • o POJKI Zós;mo

S. Agostinho Ct 430), dizem, discordou do Papa Zóslmo...


O que aconteceu. foi o seguinte: o Papa Zósimo (417·418) era
grego de origem. Em seu tempo. propagava-se a heresia pela-
giana. que negava o pecado original e aflnnava, com otimismo,
Que o homem se pode santificar por suas próprias forças. A
principlos, Zóslmo delxou·se induzir por uma Interpretação
mitigada da heresia pelagiana, difundida em lingua latina por
Pelâgio e Cel~stio. Achou poder justificar- os dois autores do
erro e censurou os bispos do Norte do Africa por haverem
dado crédito excessivo às acusações contra os peJagianos.
Todavia os prelados da África Setentrional, em número supe·
rlor a duzentos. reuniram-se em Cartago no mês de maio de
418, e confirmaram a condenacão que haviam anterlonnente
proferido sobre a doutrina pelaginna. Assim infonnado, o
Papa Zósimo escreveu em 418 uma longa encíclica (chamada
cepistola tractoria..), em que Incitava todos os bispos a seguir
o exemplo dos norte-africanos e rejeitava o pelagianlsmo.
- Para se entender corretamente o procedimento de S. Agos-
tinho frente ao Romano Pontiflce, basta citar as palavras do
Mestre ocasionadas pela própria disputa pelagiana em 417:

ceDe hao causa. (pelo.glauorum) duo concU1a. rnJs.sa sant


3d Sedem ApostoUcamj Inde etlom resorlpt& venerunt. Causa
fl.n1~ est; utlnam aüquando finlatur error!lII (serm. 1S1, 10,10).

-255 -
28 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 222/ 1978

o que quer dizer;


cÁ respeito da doutrina dos pelagianos as deliberações de
dois Concilios foram enviadas a Roma. De lá vieram respostas.
A questão está encerrada; oxa.lá cesse também o erro (pela.
giano)!. 1,
Foi dessa frase de S. Agostinho que se fez o adãgio:
«Roma locu~ causa finita., Isto ê. «Desde que Roma tenha
falado, a questão está encerrada •.

2. 4 . Hon6rio I excomvngado. ?

o Papa Honório 1 (625·638) terá sido excomungado pela


Igreja, . .. S6 o desconhecimento do tema pode explicar esta
atinnativa. O que ocorreu. foi o seguinte: no século vn alas-
travam-ae as heresias do monoteJitismo e do moncnergismo,
as quais afinnavam ter havido em Cristo uma s6 vontade (a
divina) e um só principio de ação (o divino); tais doutrinas
faziam eco sutil à tese do monofisismo. já condenado pelo
ConcilIo de CalcedOnln em 451; eram propagadas com grmde
habUldade pelo patrIarca Sérgio de Constantinopla_ Nessas
circunstâncias, o Papa Honório I não foi suficientemente
enérgicoj não era versado em questões especulativas (que os
gregos cultivavam com esmero bizantino) , e fora unilateral-
mente informado por Sérgio de Constantinopla a respeito das
referidas heresias. Honório escreveu 8 Sérgio duas cartas não
bastante claras. nas quais mandava (como Sérgio, aliás, man-
dava) que, para não suscitar escl\ndalo, todos evitassem
falar de «um ou dois princípios de atividade (enérgela):t em
J esus. Todavia Honório mesmo não aderiu à heresia, como
comprovam os seus escritos (veJa.se 8 propósito «História da
Igreja. de TUchle-;Blhlmeyer, vol. 1, p. 303). O teólogo S_ N"...á.
xlmo o Confessor tomou partido muito mais decidido do que
Honório contra a heresia ... No fim do século, em 680/ 681,
reuniu-se em. Constantinopla o sexto Concilio Ecumênico,
dito «Const&ntinopolitano m •. Esta assembléia exco:nungou
os arautos do rnonotcHtismo, a saber: os patriarcas Macário
de Antioquia, Sérgio. Pino, Paulo e Pedro de Constantinopla,
Ciro de Alexandria e também Honórlo de Roma. pois este
parecJa ter confirmaào as doutrinas heréticas. Este Concilio
1 Trata-se de dois conclllos regionais de Cartago e Mllevo reallzadol
no IIno de "'8. Condenaram PII'glo • Ce léstlo como hereJe:l ti ob!lveram
do Papa Inocêncio I (402-411) a connrmaçlo de sua gentença.

-256 -
CRITICAR O PAPA? 29

foi demasiadamente severo em relação a Honório, que na


verdade não aderl1J, ao monofislsmo; além disto, tal assembléia
não Unha autoridade para excomungar o bispo de Roma. Na
verdade, os Concillos, quer regionais, quer ecumênicos, não
representam a voz oficial da Igreja se lhes falta a participação
e a aprovacão do Sumo PontJfice, a quem Jesus precisamente
confiou a mJssão de «confirmar seus irmãos na fé;., (Lc 22.32)
e de «apascentar o rebanho do Senhor» (Jo 21,17) .
Nos séculos xrv /XV. slm, esteve em voga a tese do
concWarismo, que atrlbula aos Concilios Ecumênicos autorl.
dade superi?r à do bispo de Roma ou Papa; essa doutrina
fora concebida prlnclpalmente por três mestres importantes:
Pedro d'Ailly (t 1420), JoAo Gerson (t 1429) e NJcolau de
Clémanges (t 1437 aproximadamente). O conciliarismo origl.
nou·se c encontrou aceitação entre os teólogos dos ~os
XIV e XV por causa da sltuacão suscitada pelo grande Cisma
do Ocidente (1378.1417): um Papa legitimo e um (ou doIs)
antipapa(s) provocavam perplexIdade nos ânimos dos pensa·
dores cristãos; vendo que era cada vez mais dificil pôr fim ê.
sltuação de cisma, multos apela.vam para um Concilio ecwnê·
nlco como sendo a instâncIa apta e oportuna para julgar o
quadro histórico, depor o Papa e os antlpapas e recomeçar a
llnhagem dos Papas mediante nova eleição. Sabe·se, porém,
que o concillarismo não prevaleceu na Igreja. O Imperador
Sigismundo da Alemanha (1410·1437) COnVOCOu o Concilio de
Constanca (1414·1418), que se tornou autêntico Conclllo
ecumênico pelo fato de que o Papa legitimo, Gregótio XVI. o
reconheceu como legitimO. A essa assembléia o mesmo Pontl.
flce apresentou sua renúncia aos 4 de julho de 1415, deixando
assim vaga a sé romana. Este gesto possibilitou ao ConcWo de
Constança declarar deposto o antipapa Bento xrn (aos 26
de julho de 1417) ; quanto ao antipapa João XXIII. jâ fora
processado e aos 29/ 05/1415 condenado! Os padres concll1ares
elegeram então legitimamente o Papa Martlnho V (1417.1431),
que imediatamente obteve a obediência de todos os fiéis
cristãos e restabeIeceu sem dificuldade a autoridade universal
do bispo de Roma ou Papa (o que bem demonstra que a
consciência . do primado do Papa estava prof\U1damente arrai·
gada, no povo de Deus, desde os teólogos até os mais simples
cristãos) .
Aliás, desde o século V se ensinava na Igreja: «PrImA
sedes a nemlne ludJeatur», isto ê, «A sé primaclal por nenhum
tribuna) pode ser julgada:t, sentença esta que entrou no CódIgo

-257 -
30 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS, 222/ 1978

de DlreitD canOnlco hoje vigente (cC. cAnon 1556). Este prin-


cipio jurldico se tornara consciente aos cristãos desde a. ocorrên-
cia das controvérsias teológicas e disciplinares dos séculos
IVIV; apelaram para Roma nessa época os bIspos São Jolio
CrisOstomo (em 404), Flavlano de Constantinopla (em 449).
Eu:sébIo de Doriléia e Teodcreto de CIro. Doutro lado. o
Slnodo epalmarls., reunido em Roma no mês de outubro de
501, declarou não poder a.rvorar-se em juiz da. Santa. Sé:
assim fazia eco a uma sentenc:a da Papa GeJáslo I (493·495).

2..5 . Ucwlo X, MM O «do ferro.

Quanto aos Papas de fins do século IX e de todo o


século X, deve-se dizer que, com poucas ex~ões, representam
triste fase da história, dita cséculo de ferro. ou cobscuro:t.
Naquela época as familias de Roma e dos arredores de Roma
formavam partidos que lutavam por colocar na cátedra de
Pedro os seus parentes ou favoritos; estes eram constituídos
Papas sem ter vocação. Contudo deve-se observar que os
desvios desses Pontl!ices ocorreram todos no setor moral (no
Qual de antemão o fiel católico sabe que o Papa não é impe-
cAvei); através desses Pontífices não se deu deturpação algu-
ma das verdades da fé. professadas Integralmente por esses
Papas. Quem hoje quisesse apoiar. se nos movimentos de rixa
daqueles t empos para promover a contestac;ão na Igreja,
estaria totalmente desambientado.
Jt preciso também salientar que no século X, como, aliás.
igualmente nos seculos XlV/XV (Grande Cisma do ocidente),
nunca se perdeu de vlstn entre os historiadores a legítima
sucessãCJ apostólica, apesar dos percalços por Que passou;
nenhum antipapa conseguiu usurpar · duradouramente a Sé
Apostóllea; mas, oportunamente reconhecido como Ilegftimo
sucessor de Pedro, foi afastado, dando lugar a legítimo conti-
nuador da miss90 de Pedro.
Em suma, a história.. do Papado no século X é um teste·
munho de como o Senhor Deus mesmo governa a sua Igrejaj
se esfB se apoiasse apenas na santidade ou na capacidade dos
homens, já terJa perecido há multo. Na. histórIa da Igreja
se verifica constantemente a palavra de São Paulo que aflnna:
.~ na fraqueza (do homem) que se evidencia todo o poder
(de Deus) . ('2 Cor 12,9). Justamente do fato, de que houve
homens fracos na chefia da Igreja se depreende que Esta é:
fundada e sustentada pelo próprio Deus.
- 258-
CRITICAR O PAPA? 31

2.6 . Inv.stlduras 1.lgas f silllonla

Nos séculos XIXI a Igreja sofreu o ma] das investiduras


leigas e da slmonla: os reis tinham interesse em colocar à
frente das dJoceses homens coniventes com a política régia
e aptos a ser vassalos; praticavam assim a investidura leiga
(e claro que não conteriam a ordenação episcopal); os bis-
pados e outl"'OS bens espirituais eram vendidos, dada a inge-
rência do poder civil em assuntos da Igreja ...
Esta situação foi dissipada por obra do Papa Gregório
VD (1073-1085). Com energia este soube reivIndicar a liber-
dade da Igreja frente ao braço civil; aos 22 de fevereiro de
1076, excomwlgou o Imperador Henrique IV, que se submeteu
à penitência e recebeu a absolvição de Gregório VIl em
canossa aos 28 de janeiro de 1077. Em conseqUêncla, o Ponti-
fice teve não poucos adversários (sirnonlacos, incontinentes e
comodistas); acabou méSmo morrendo no exillo em Salermo
aos 25 de mala de 1085. Se esse Pontitice teve quem o con-
testasse, isto não é base para que hoje se conteste a autoridade
papal; quem o queira fazer hoje, baseado em tal precedente,
reproduz o pnpel dos «comodistas, simoniacos e incontinentes.!

2.7. O Papa AI.xandre VI 11492-15031


Sobe.se que o Papa Alexandre VI (1.92-1503), da famllla
dos Borjas, viyla mal, imbuído, como estava, do espirito do
humanismo renascentista. Criticava-o o grande domInicano
Girolamo Savonarola (1452.1498). inflamado de zelo à seme-
lhança de um profeta severo e incisivo do Antigo Testamento.
_ Note-se que Savonarola nâl> argilia o Papa de falsa doutrina,
pois (por evidente intervenção da. Providência) está compro-
vado que Alexandre VI não retocou um artigo de fé para
Justificar o seu comportamento livre; o ouro da doutrina de
Cristo passou intato e lncontaminado por mãos su,as. O
julgamento Que o povo cristão e os historiadores têm profe-
rido sobre Sa\lonarola, é o mais variado possive1. Enquanto
muitos fiéis o consideraram wn autêntico santo (a Igreja
como tal nunca o considerou asslm~). outros o têm na conta
de fanático e rebelde.
Na verdade, Savonarola foi um entusiasta da santidade e
da pureza de vida. Todavia ~ preciso notar que na Igreja há
duas espécies de grandeza e dignidade, ambas provenientes de
Cristo: a grandeza da autoridade ou da hIerarquia e a gran-
-259 -
32 ... PERCUNTE E RESPONDEREMOS. 222/1978

deza da santidade (sendo esta o objetivo supremo de todas.


as instituições do Cristianismo). Estas duas grandezas sempre
subsistirão na Igreja; acontece, porém, que elas nem sempre
se accmpanham mutuamente: a aut(lrldade pode carecer de
santidade, como. também o santo pode não estar investido
de autoridade hierárquica. A falta de santidade naqueles que
detem a nutorida<!e, é certamente algo de triste; mas, mesmo
quando isto se dã, Os homens que exercem a aut<lridade legi.
tima, não perdem sua autoridade; não ê lícito aos santos
InsubordInar.se, arrogando a 51 a autoridade Que Deus não
lhes conferiu. O Senhor distribui livremente os seus dons,
sem que tenhamos o direito de exigir que Ele faça de todo
membro da hierarquia um sant<l! Justamente a tentação que
ameaca os ascetas de todos os tempos, é a àe não perceber
esta disposição de Deus : o santo que, por se julgar santo, Queira
dirigir, passando por cima da autoridade, perde imediatamente
toda a sua santidade; destrói-se. Eis o grande paradoxo: a
santidade. para se consenrar, tem que ser humilde (o que
não quer dizer «covarde,. ou «bonachã,,); mais do que qual-
quer outro homem, o santo deve viver da fé, o que não signi-
fica seja inerte ou omisso Ou destituído de iniciativa e cria·
tividade.
Na época de Sav<lnarola. a necessidade de reforma na
Igreja era mais imperlosa do que nunca dantes. Contudo há
duas maneiras de proceder '3 refonna: uma delas ê a Que S.
Bernardo (t 1(53), S. Pedro Damião (t 1092). S. Catarina
de Sena (t 1308) exprimiram em sua atividade; santamente
intransigentes, estes justos falaram e sacr1ficaram·se incansa·
velmente a fim de promover a fIdelidade e o fervor na Igreja,
sempre fiéis à legItima autorJdade eclesiástica. - A outra
maneira é a de Savonarola, Lutero (t 1546), Lamennais
(t 1854): inquietos, destltuldos da devida justiça. e caridade,
enveredaram pela vin da desobediência; por bem Intencionados
que fossem, serviram antes li. sua causa pessoal do que à
caUSa de Deus.
Aliás, a respeito de reCorma de costumes, observe·se que
a Igreja como tal não ~ sujeita de pecado; São Paulo a chama
u Esposa sem mancha nem ruga» (Et 5, 27). Todavia a
Igreja tem pecadores entre os seus filhos. O Que há de santl·
dade nos seus membros, pertence à Igreja e a Cristo; o que
há de pecaminoso, deve-se à fraqueza humana e à ação do
Maligno (cf. 2 Cor 11,3). A linha de demarcacão entre as
duas cldades - a de Deus e a do pecado - passa através

-260 -
CRITICAR O PAPA '! 33

do coração de cada membro da Igreja. Por Isto é preciso


ha;ja periodicamente renovação dos costumes ou reforma,
não, porém, da Igreja (como se Esta pudesse ser sujeito de
pecado), mas na Igreja.
3. Conclusóo
Em suma, verilica·se que muitos dos fatos alegados para
justificar a contestação na Igreja de hoje são inconsistentes.
• Outros, menos Impróprios, nãa têm paralela nas c:rcunstAnclas
dos nossos disso
Um católico que queira criticar o Papa Paulo VI por
haver reformado a S. Liturgia ou por haver pedido a isen;ão
da pena de morte em favor de terroristas espanhóis, nAo tem
motivos objetivos para fazê·lo. O patrimônio da fé e da Moral
continua incólume. A nova Liturgia é tão católica e ortodoxa
quanto a de São Pio V; deve·se mesmo dizer: quando bem e
fielmente executada, realiza adequadamente o ideal de uma
«igreja orante», pois suscita a particlpa(ão de presbiteros e
leigos, respeitadas as funções próprias de uns o outros. Quanto
ao pedido de clemência em favor de réus espanhóis, está
exatamente na. linha do que compete à Igreja fazer no mundo;
sabe·se que toda pena infllgida a malfeitores deve ser medi.
clnal. e não meramente vingativa; ora pergunta.se se a
condenação à morte ê realmente medicinal e se a coibição dos
crimes não pode ser obtida mediante prisão perpétua ...
Paulo VI vem desempenhando as suas funções de ' Pastor e
Mestre com fidelidade e zelo Que lhe merecerão o reconheci.
mento da posteridade.
Quanto ao diAlogo entre Paulo VI e os paises da Cortina
de Ferro, explica·se unicamente pela intenção de obter wn
pouco de liberdade religiosa para os fi~is que vivem sob
regime comunista. Não Implica em concessão doutrinâria de
tipo algum. Através do dialogo, o Sumo Pontlfice tem conse·
guido melhores condleõe5 para a vida da Igreja em pa1ses
marxistas: algumn.s dioceses têm sido reanimadas pela. nome·
ação de bispos residenciais, e os fiéis católicos alentados em
sua perseverança religiosa. Se Paulo VI não se abrisse ao
diálogo com os dirigentes comunistas pelo simples fato de
serem comunistas. jamais a Igreja poderia esperar melhores
dias sob os regimes marxistas; ao contrário, é de crer que as
invectivas da persegu.llCão se Intensificariam cada vez mais.
- O que Importa, não é recusar o diálogo por recusá·l0 ou
por um princ!plo preconcebido, mas ê aceitar o dlã:ogo desde
-~1-
34 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 222/1978

que pareça oportuno em vista da promoção da vida cristã i


guardando.se fidelidade absoluta aos princlplos da fé católica.
- Ver a propósito «A 'Ostpolltlk' do Vaticano» em PR
175/ 1974, pp. 275·288.
No tocante à Maçonaria, a Igreja não alterou os emanes
que dec1aram excomungado o eatóllco que se inscreva em
em Loja MaçOnlca anti·reUglosa: <:ân. 684. 1240 § 1. 2335.
Apenas Paulo VI houve por bem declarar que tal pena de
excomunhão não se aplica àqueles fiéis católicos pertencentes
a Loja Maçônica que evidentemente não conspire contra a
Igreja. Esta. baseada em Indicações pertinentes, julga poder
admitir que atualmente existam Lojas não imbuidas de espl.
rito antlcristio; caso realmente existam, ê evidente que os
referidos canooes não têm aplicacão. Tal atitude está longe
de significar condescendência para com sociedades sec~tas
anticatólicas, - Ver a propósito PR 179/1974, pp. 415-425
(Ainda Igreja e Mat;onarla) .
Frente ao protestantismo, a Igreja Católica tem·se mos·
trado Interessada em reconstituir a unida.de- violada nO século
XVI. Para tanto tem procurAdo o diálogo fraterno e sincero.
Os princlplos que hão de orientar este diâlogo, estão expressos
no decreto cUnltatis Redintegratio» do Concílio do Vaticano
n, o qual é uma peça-mestra de reaflnnação das verdades da
fé em espírito de caridade e zelo pastoral. Caso alguns grupos
na Igreja não observem as grandes linhas ditadas pelo Concl·
lio do Vaticano n. isto ocorre li. revelia de Paulo VI. que não
tem deixado de chamar a atenção dos inadvertidos e dos mal
orientados.
De resto, para juigar a Integridade da fe e da Moral,
não hã critério mais seguro do que a voz perene da Igreja.
Se compreendI o que é ser católico, não posso contrapor
minha fé subjetiva li. fé ensinada publicamente pelo Papa
legítimo. Não tenho a garantia de que o Espirito Santo me
nssiste (00 contrário, sei Que sou sujeito não somente ao
erro e â. Ignorância, mas também li vaidade, à soberba e ãs
paixões), ao passo que sei que o Sumo Pontífice tem a
promessa da assistência do Espirito Santo para Que não se
tome ele um mestre de doutrinas errôneas.
A propósito vele·••
Aooler. "'ubert, Knowlf11s, "Nova História da 'grela", 5 \/ols. Petrópolis
1968-19n.
Blhlmeyer-Tíichl&. "l-!iSlórll da IgreJa", 3 \/ols. Slo Paulo 1964.

- 262 _
As maravilh.. do palqullmo humano:

"o poder do sub(onsciente"


de JOll8ph Murphy

&11 slnwu: o Iwro da Joeeph Murphy apresenta uma le,a válida, a


saber: o subconKlantl , dol.do d. enorme pol."cl.1 capaz d. Innulr no
"slco do suJellO respecll ...o, ocasionando, mediante a sug_tIo, doenças ou
cur.s, sucessos ou Insucessos na ... Ida. TambMn aulor•• calóllco. d. renome
t6m chamado. alençao do pObllco para a riqueza das vlrtualldad.. do
subconKlenle. Tod .... I. o Or. Joaeph Murphy, em vez d. apresentar. lua
tese dentro dos parAmelrol da Illosolla crlstl, explana-. sob a Insplraçlo
de uma cosmovlllo panlelsta malallalllla; nlo obstanle, cita nume~1
textos blbUcot, que ele Interpreta no .enUdo de eUaI prembaaJ, rldlCII-
mante diversas das d. Re ....I.çlo blbllcl. Ao ler o livro, O lellor despraVtlnldo
poder' Julgar eSI8r encontrando o s.gredo da felicidade, Inculldo pelo
próprio texto blbllco • pela mensagem do Crlsllanlsmo - o que lona fala0.
O Crlsllanlsmo aceita a te.e relerent. ao poder do subconsciente,
embora "lo .trlbua a esta a 111.cltnela mleanlclsta e quase rnAglca que
Murphy lho atribui. Acoitando o potenCial do lubconsclanta, o Crlsllanlsmo
nlo o confunde com Deus. tido como transcendental. O materltlbmo e o
monlsmo de Joseph Murphy prejudicam gravemente a sua obra aos Olhos
do crlstlo.
,e • •

Comentó.rlo: Está multo em voga o livro do Dr. Joseph


Murphy intitulado cO Poder do Subconsciente:.. O autor
explana um terreno que faselna muitos estudiosos, tentando
explicar o porquê de fenOmenos estranhos. Abrange também
fenômenos religiosos e relaciona suas explanações com textos
brbUcos. ~ o que desperta especialmente a atenção dos teólogos
e das pessoas de fé para o conteúdo da obra de Murphy.
Visto que a tese do autor tem deixado int~rrogações ebertas
na mente de seus leitores, vamos abaixo referir sumariamente
a posição de Joseph Murphy, ao que se seguirão breves comen·
tãrlos.

1. A te58 do livro
Joseph Murphy faz questão de pOr em relevo o grande
potencial do subconsciente humano; ê este que explica, em
grande parte, o comportamento tfplco de cada ser humano; é
-263 -
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 222/1978

também o subconsciente que desencadeia doenças ou curas,


sucessos ou fracassos na vida do homem, conforme Murphy_
Na verdade, o subconsciente é o estrado do psiquismo
humano no qual existem llOeõeS, idéias, projetos, desejos e
tendências, com os quals não contamos em nossa vida lúcida
ou consciente. Com efeito, desde crianças, colhemos dados
pelos sentidos (olhos, ouvidos, tato ... ), que vamos conser-
vando em nosso intimo sem que deles nos lembremos. Habitu-
almente só lidamos com 1/ 8 dos conhecimentos e noções que
trazemos em nossa mente: 7/ 8 ficam depositados no que se
chama co inconsciente:t ou também «o subconsc1ente:t. Toda-
via, mesmo sem que o saibamos, o subconsciente pode influir
em nosso comportamento visivel; mUito mais ainda poderá
influir, se o seu potencial for sistematicamente dirigido. Ora
ê -p ara esta verdade que Joseph Murphy deseja chamar a
ateneio do público através das páginas do· seu livroj estas
apresentam técnicas aptas a mobilizar o subconsciente (técni-
cas que infelizmente o autor identifica e confunde com a
oração), em vista da obtenção de curas, sucesso nos negócios,
nos estudos, etc.
O autor compara o subconsciente à eletricidade que reage
sempre de acordo com as leis respectivas. Compara-o também
aos elementos da qui mica: . .. hidrogênio e oxigênio, por
exemplo, que, postos em combInação, dão a água. COmpara.o
também ao ferro, que, sob a Influência do calor, se dilata ...
Assim seriam as potencialidades do subconsciente; catalisadas
ou provocadas pelo sujeito segundo detenninadas regras, pro-
duziriam os eleitos intencionados por este.
Joseph Murphy procura corroborar as suas afirmações
aduz.lodo textos blbllcos e considerações religiosas. A força
catallsadora do subconsciente seria a fé, e a fé exerceria o
seu poder de Influência sobre o subconsciente mediante a
oração. Esta é reduzida a uma técnica de auto-sugestiona-
mento do sujeito, técnica Que procede segundo tres etapas:
"1 . Medlle lobre o problema.
2. Volt...e para a loluçlo ou lalda conhecida apenas pelo .ubcons-
ciente.
3. fique em "ladO de profunda çonvlcçlo na raalluçlo do objetivo
almelado" (p. 106).
Joseph Murphy expllca' melhor a maneira como deva ser
feita a oração:
" Nlo enfraquaça lua oraçlo COtn fras •• como 'oe,.jarla eltar curado'
ou 'eapero qua .aconteça'. O seu .enilmento s obre a obra a ser realizada a
qUe manda .... harmonia lha pertence. SlIlba que a saClde estA .0 seu

-264 -
(o PODER DO SUBCONSCIENTE. 37

alcance, Tom .... Inlellgente, 10rnendo-st um veiculo para o poder Inflnlto


de cura do subconsciente, Transmita a leU... de saúde pllra o leu IUbconsc~
ente a" ckeG,r a \Im es'ado de plena convlcçlo - e enllo repouse. Tlr__
do IIU próprio conlroll. Diga lS condlçOes a clrcunatlnc:l8' do momentO
que 'tudo luo lamb'm pU llr" . OUconlralndCHe, Impreulone o fiubcanl·
clenle, permitindo li energia clnlltlca que h' por tm de Id61a. que IIsuma
o controle e • ',antforma em ra.ll!açlo coneretl" (p. 10Ss).
Como se vê, tal Gração n ão se dirige a Deus, mas é um
processo psicoterápico I. AJlás, o conceito de Dew: profes.
sado pelo autor reduz·se também a fatores psicológicos. Eis
como vem exposto à p. 70:
"Nenhum prallcanle da cl.ncla menlel ou religiosa, psicólOgo, pIIlQulelra
ou clrorg 110 Jamara curou um paclanll, H' um velho dllado que diz: 'O
m6dlco penll • 'ertda, ma. Oaus , Quem cura', O palcólOQo ou psiquiatra
limita·.. a remover o. obll6culo. m., nta" Que encontra no pacltnte a 11m
da que o principio curador po... eer libertado, davolvendo a eaOde lO
paciente. Oe mesma lorma, o clrurgllo remove o obsl'culo 'laico, parmlUndo
o funcionamento normal das correntes curatlv.s. Nenhum médico, clrurgllo
ou pslqulatl1l afirma que curou o paciente. O (mico poder curador 111 cont.-
e/do por vêrloe. nomal - Natureza, Vide, Oeul, Intetlgêncla Criadora e
Poder Subconsciente" (p. 701.
Deus é, pois, o próprio subconsciente de cada ser humano,
subconsciente Que é dotado de tanto poder que vem 8 ser
identificado com Deus. Desta forma, Joseph Murphy professa
determinado tipo de pantelsmo: Deus vem 8 ser o nome de
uma realidade humana. Os terlos blblicos, no caso, perdem
toda a sua autoridade transcendental ou religiosa, pois são
enquadrados dentro de categorias puramente psicologlzantes e
interpretados a partir dos princlplos pslcoterapêutlcos de
Murphy. Assim, por exemplo, se lê:
l p. 81: "Como' no ofu (lua própria mente) aalm • til terra (em seu
e
corpo mIICHnlbl,nla). Elt. 6 • granda 'e'da vida";
l p. 71: "A colse "'lia maravUhocI que I. deva llber.11I • legulnte:
Imlglne o 11m desejedo e I ln"~ reei; e antlo o principio Inllnllo da 'lIda
responder' liI lue ..colha conscIente, ao seu pedido cooscJente, Esle 6 o
1 Pocl.r....lam citar "'rios texlos q\ll comprovam nlo .. tratar de
oraçlo .ntendlda como dltlogo çom DeUI, mas, 11m, de proceslO de aulo--
_Iuglltlo. lImltamo-nol a tr.nscrevlr o .eGulnte:
"Algu6m pod.,' dizer: 'eomo pOsa0 vlncer • primeira atap., ae nlo
.el o Que gost.rla de lazar?' Neste caso, raze em buac:. de orlentaçlo, da
Mgulnte manelrl: .... Inllnlla Inteligência do meu lubconsclenle reveta-ma
meu verdadeiro lugar na 'lIda', RepUa eua or... 1o com fê, lranqD IIIdade a
unslbllldadl, dlrl0lnd~a As csmadas mais prolUndas da 1101. mente, Pe..,l,..
lindo com" a conllança, a re.pes'a vir', sob a lorma de \Im ,enllmenlo,
uma Intulçêo ou uma tendêncle em delermlnada dlrtçlo. A r"posta lha
ch'1ler' de meneln clara 8 tre"qOlle, como uma a1Je"clos8 parcepçlo
Interior" (p. 130),

-265 -
38 ..:PERGUNTE E RESPONDEREMOS) 222/ 1978

significado de acNCflte I.r r.cebldo • receb.". E é 15$0 quo o moderno


clentlsla mental realiza quando pralica a terapia da ora910" ;

• p. 101: "Em S. Mateu! 18:19 pOdHa ler: 'S. dois tnlrt v~ .ob,. a
Terra concordartm a ,...,..110 de qualquar col.. que po,..,antura pedirem,
.....t,,"", concedida por meu Pai que u" nOI céus'. Quem .10 estes dois?
Slgnlllcam a unllo ou o acordo harmonioso entre o eonseIOn!. o o subeon!-
ciente sobre qualquer Idéia, deselo ou Imagem mental. Quando nlo mais
"ouver controvérsia alguma em nenhuma parta de sua mante, entlo sua
oraçao sert atendida" (p. 108) .
Analisando OS milagres real1zados em Lourdes. por exem.
Vlo, o autor os atribui também ao poder do subconsciente
movJdo pela fé. Tal terá sido o caso de Madame Bire, que,
cega (tendo os nervos óticos atrofiados e inutUizados), foi a
Lourdes e recuperou a vista. O autor julga que a fé da pacl.
ente desencadeou .. as forças curadoras sempre presentes no
subconsciente da enfenna» (p. 56).
A leitura do livro de Murphy pode impressionar o estu·
dloso, pois narra muitos casos maravilhosos tidos como efeitos
da fé e da oração, ou seja, do processo de auto.sugestiona e

mente incutido de ponta-a. ponta pelas páginas da obra.


Multas pessoas poderão julgar haver assim descoberto (e des-
coberto quão tardiamente!) a solução de seus problemas c a
chave para o enigma da felicidade.
Pergunta·se, porém:

2. Que dizer a prop6sito?


2. 1 . Até certo ponfo, sim . .•
Nâo se pode dei.xar de reconhecer que as páginas de Mur-
phy chamam a atenção para uma grande verdade: o SUbCOJ1S_
ciente, com a riquéZ8 de suas noções e seus desejos, repre·
senta enorme potencial na vida de todo homem. Sigmund
Freud (t 1930) tirou desta verdade as conseqüências pré.tlcas.
concebendo e cultivando as técnicas psicanalíticas. A parapsl.
cologia recente baseia-se na mesma verdade e explica pelo
poder do subconsciente numerosos fenômenos que outrora
eram atribuidos a espiritos do Além. Sabe. se outrossim que
multas conclusões da matemãtica e das ciências naturais
(Física, Química. Biologia ... ) se tomaram evidentes a elen·
tistas postos em estado de sono: depois de haverem procuradO
conscientemente a solução ou a fórmula elucidativa de algum
problema, sem lograr êxito, intuiram finalmente em sonhos
- 266-
__________~.~OJPO~D~E~R~DO~S~U~BC~O~N~S~~~~~>~______~~
(quando o subconsciente trabalha mais eficientemente) o que
haviam conseguido ver através de raciocínio consciente.
Mais: é certo que 00 subconsciente de muitos enfennos,
Imbuidos da esperança de cura, provoca a dissoluçA1l do blo.
queio psicológico ou dos sentimentos lnlbidores que provocam
doenças funclonals. cu seja, moléstias pslquicas e nervosas.
- Observe.se bem: dizemos cdoenças funcionais, nervosas:..
não, porém, «doenças orglnicas, que resultam de alguma. lesão
fislcu. Na medida, sim. em que toda doença é pslOOl8Olllitlca,.
pode.se crer que 8S boas disposições pslquicas e 00 sugestiona.
menta de esperança e otimismo desencadeiem um processo
contrârlo ao bloqueio das (unções nonnals do organismo. O
Dr. Murphy, entre os exemplos de cura pelo suboonsctente.
cita os casos de superação de alegria (p. 64) , recuperação da
voz (p. 63), restauraçA.o de pele afetada por moléstia (pp. 52s).
fim de tuberculose (p. 63) . .. 1: tranqUilamente aceito por
médicos e psicólogos Que as moléstias funcionais possam ser
. debeladas por via pslcoterápica. Por isto também a Igreja
não leva em conta tais casos quando analisa as possibilidades
de milagre. Todavia o que a medidoa até hoje não aceita, é
que a CUf'8. de certas moléstias orglnicas (como a restauração
de nervo ótico morto) possa ser obtida peJo mero poder da
sugestão.
Em sintese, deve·se dizer que é oportuno tenha o públlco
noção clar.a do imenso potencial que é o subconsciente de cada
ser humano. OS Uvros do Pe. OScar Gonm.le:z·Quevedo Uus-
tram essa realidade nas suas diversas facetas e apllcações
·prcitlcas; cf. eAs forças fislcas da mente~, eAs forças ocultas
~ mente~, Ed. Loyo18, São Paulo.

Contudo o livro de Joseph Murphy é gravemente ' preju.


di.cado pelas suas dl.vagac.6es sobre a Biblla e a reli~lo, como
passamos a expor.

2 . 2. Não

A tese de' Joseph Murphy, que poderia sér apresentadâ


dentro de uma perspee:tiva de sadia esplrltualldade, e de res...
P:el~ 'à 'noÇão ' de Deus transçendental. é desenvolvida . peJo
autor. em clima de .materialismo . .. materialismo carnuDa.dó
de Cristianismo, pois o autor cita a BlbUa e fala de Deus como
se quisesse apresentar a palavra do próprio Deus das Escn-
-- 2&7 --
40 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 22211978

turas Sagradas aos seus leItores, Tenha,se em vista, entre


outras, a seguinte passagem;
"Um longo perfodo de pu, .'.gtla , felfclclede pode ser chamado de
aucnso. A frulçlo permanente deaso. condlçOeI é a vida eteme de quo
JesUI falou" (p. 129).
O materIalismo de Joseph Murphy se evidencia de duas
maneiras:

2.2 . 1 . Mecanltislno pIIcoffdco


A comparação que o autor estabelece entre os elementos
qu1mlcos e a psJqué humana (pp. 21·23) e que está na base
de todas as ponderações do livro, tem sabor de mecanismo
pslqulco ou até de magia. O subconsciente do homem seria
apto a reagir a estlmulos, CQmo a matéria Inanimada é apta
e. isto, Seria apto também A prodU2.ir ou obter efeitos maravi.
lhosos, desde que carinhosa e sofregamente almejados pelo
sujeito. Tenham.se em vista os seguintes casos narrados pelo
autor:
_ um empregado de fannácla sonhava com a possibili-
dade de vir a ser dono de farmãcls, e realmente o conseguiu,
porque em sua fantasia viveu o papel de proprietário de
farmAcia e, em conseqüência, se tomou tal, .Como um bom
ator, viveu realmente o papel, Ajo como se eu fosse, e eu
sereb (p. 133);
_ um corretor de titulos pôs-se a lmaglnar conversas
com um banqueiro muJtlmUionãrio, e finalmente conseguiu
ganhar multo dinheiro (p. 133):
_ uma jovem desejava um carro para poder facilmente
assistir às conferências de Joseph Murphy. Começou, pois, a
tomar as providências necessârtas para comprar um carro,
freqUentando a loja de vendas e dando voltas experimentais
no volante. Poucos dias depois, morreu·lhe um tio, que lhe
deixou o CaclWac e parte de seus })ens (p. 1379)!
Em suma, para tomar-se rico, é preciso que o candIdato
repita todas as noites, antes de se deitar, a palavra «Riqueza:.:
"Ouenelo for dormir, li nolta, ponha em açlo a ngulnte t6c;nlca: repita
a pallV,. 'R~u'Z:" calmllTlente, sem esforço e IIntlndo--l em toda a eua
plenlltlde. Rapll'" Inl"mlnavelmenle, como um acalanto. Em~I...e
cair no lona com ella Ilnlca palavra; ·Rlqueza'. Flcar.t surpreendido paiOl
a"
ralulladOl. A riQueza fluir' pare voet am avalancho de abundlncr.. bt••
oulro exemplO do pod.r m'glco do lubconlclante" (p. 117).

-268 -
cO PODER 00 SUBCONSCIENTE.

o mecanicismo ou mesmo (I carAter mágico que Joseph


Murphy atribui às tunções da Imaginação e do subconsciente,
consUtuJ um ponto vulneri.vel de sua tese. O autor reduz o
homem e o mundo a uma rede de lnfluênclas mútuas cujo
efeito é certeiro desde que os saibamos explorar tecnicamente.
como é certeira a produçlo da água por- doIs átomos de hidro-
gênio e um de oxigênio postos nas devidas condições.

2 .2 .2 . O trtO ambtguo do. texto. blbllcOl

8.) Como dito, o lIvro do Or. Joseph MlJIlIhy remIre


freqUentemente a textos bibUcos e a conceJtos religiosos para
corroborar suas afirmações. Verlfk:a.se, porém, que o autor,
longe de conceber um Deus transcendente corno o propõe a
S. Escritura, Identifica Deus com os poderes do subconsciente
ou da natureza - o que redunda em distorção do sentido dos
textos blblicos. Tenha.se em vista, por exemplo, a seguinte
passagem:
"Sou aubcol'llclenl. nunca envelhec:a. ! alemo. sempre Jovem, Inllnllo.
• uma parte da mlnll &In"""... di DIlUI, qu. nunca nucau , nunea \/Ir
morr.... ' (P. 229. o grifo' nallo).

Não nos interessa proc:urar saber por que Murphy tanto


se empenha em citar a BlbUaj ju1gamos, porém, que melhor
teria sido não recorrer a passagens escrituristicas. visto que
85 concepções do autor não são cristãs. Dir·se.Ja que se trata
de wn médico que outrora recebeu lormação cristA. mas se
imbuiu de psicologia e pantelsmo a ponto de reduzir as nações
reUgfosas do CrIstianismo 8. categorias psicológicas e monlstas.
b) Em partlc:ular, com relerência à ora('io, faz-se mister
sublinhar que esta é sempre um diálogo com o grande Tu
transcendente. Criador de tudo e todos. O homem se volta
para. Deus na oração como wn filho se dirige a seu peJ, sem
garantia mAgica ou mecanicista, mas com absoluta confiança
no inegotável amor do PaI. Este jamais deixa de responder
ao orante; alnda que nem sempre dê aquUo que o filho lhe
sugere, dA o que realmente condiz com o verdadeiro bem do
orante.
Allãs, hã atualmente outros livros que apresentam a
oracAo como melo psJcoterápico. sem, porém, negar a transe
cendência de DeUfJ. Esses livros até certo ponto são válidos,
-269 -
42 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 222/1978

pois inegavelmente a oração tem o ereito de hannonlzar o


'Orante e dtspO-lo para a paz interior; contudo é preciso não
esquecer que a oração é antes do mais, adoração e louvor a
Deus; ela há de ser teocêntrica e não antropocêntrIca, de tal
modo que, mesmo quando o orante pede alguma graça para
si, deve pedi-la em vista da glória de Deus e do cumprimento
da sua santíssima vontade.
c) Parece oportuno pôr em relevo outrossim um ou outro
texto que evidencia a inspiração materialista e pouco evangé-
lica do livro de Murphy.
Assim A p. 121 lê·se o seguinte:
"Uma du raz6BI pelas quais as palsoa. nJo prosparam, , o 'alo de
tlu. pouuem um lurlNo lentlmanto subconsciente de que hi alguma virtude
na pobreza. ea .. p.dr1o lubconsclente poda lar rasuU.do de educaçlo na
prlme/,. InlAnclal de lupersllçAo ou Oe uma falsa Interpretaçlo da. Etcrl-
Mas" (P. 12v).
Mais adiante diz 'O autor:
"N!o h4 nenhum a virtude na pobrall - e uma doença corno qualquer
outra doença menlal. SII você nlio estiver fisicamente bem, pensart certa-
mente que h6 algo d. arrado com você .. . Ir' procurar ajuda e tomar' uma
providêncIa a respeIto Imediatamente. O. mesma forma, se voei nlo tiver
dinheiro circulandO constantemente em .ua vida, há algo de ,.dlcalmenla
errado em você" (p. 1211).
1..... _
A p. 122 escreve Joseph Mu.rphy:
"Ht uma técnica .Imples que você poda uaar pa/"ll multiplicar o dinheiro
em .ua existência. Diga as .egulnles fra'l!I' vertas veze, por dIa: 'Gosto
de dinheiro, adoro-o me3mo. Uso-o com eabadorla, de lorma conslrutlva e
Judlclo.a. C dinheiro esl' permanenlemanl. circulando em minha vIda. Eu
o guio eom aleorla li ale volta a mim mulllpllcado, de forma adml ........I.
Isso. bom, • 611mo mesmo. O dJnhalro ma vem em avalançhas de abund6n--
ela. Eu o uso apenu pa/"ll o Que é bom e ellou grato pelo meu bam 8
pat.. rtquezas da minha menl. ~ (p. 122).
São suficientes as ponderações até aqui propostas para
evidenciar que
- o livro de Murphy apresenta uma tese vãlida relativa
ao misterioso poder do subconsciente (tese explanada também
por autores católicos);
- todavia anuncia essa tese sob Inspiração nitidamente
materiallsta-monlS"ta, dissimulada aos olhos do leitor pelas
numerosas clta(:ões blblicas que o autor dissemina por todo
O seu livro.
Estêvão Bettencourt O.S . B .
-270_
livros em estante
Vitalidade do C,l,tlanlMto no a6culo XX, por o.deua Grlngs. - Ed.
VOtei, Petrópolis 1978, 131 x 210 mm, 104 pp.
O lutor li o R'12or do Semlntlrlo Nalor de Vlamlo (RS), J' conhecido
por outras 11 vallo... obra. leol6glcu. No presente livro, prop6e-.. mostrar
duas notas Clr.tl.rranca, da vitalidade do Crlsllanlamo: a IXpanIIo mb-
alonArI., qUI Illngl os povoa mais alutados dO Amblto crietlo, • o movi-
menlO de converg6ncla dos c,lIlI.oI aeplrlldos par. a unidade (movimento
&cum.nlco).
No toeanla '0 ecumenismo em oertlcular, o autor apresenta o peno-
rama de) Cri,tlsnlemo hOJe: ctlstlos cal6Ucos, monorllllu, ortodoxOI, pro-
18"lnl81 (n'" , com .u.. mOtUplas danomlnaçOea). procurando pOr Im
relevo o hllt6rlco, .. clracterlaUc.. doutrlMrIas 8 os valores ,.119108Oa
exlstent•• em cada grupo crlltlo. Apenas pagunlamos 80 Pe. Grtngl por
Que usa 'I danomln.çJo HIgr.j.. crlll""; embora asla lenha CUra0 em
algun. documento," d. nouos dia, nto • adequada; o Concilio do Vati-
cano 11 nlo • amprega, pr.flllnd~he a exprelS60 "comunldadH .cle.I.I....
N. verd.de, axlala uma só loreJa: aquala fundada por Crlslo aobre • pedra
vlal"'ll que 6 Podro; MI lorno deeta, lIA comunidades crlslAs aeparadu da
me.ma e port.dora, am grau maior ou menor, da elementoa CONlllullvo.
da única IgreJ' de Crl.to.
Achamo. adaqu.do, no livro em foco, o uso do 11mpu ··ecumenllmo"
no .anUdo próprio deste voel.bulo: significa, alm, o movimento de unlao-
doe crl:sllos nu.m sO rabinho a lob um 16 p.. tor. As relaç6ea doa crl.IAo.
°
com nAo 1:I15t801 tomam noma da "dI4Iogo" ou "mO\llmanlo da .proxlm....
910 Iralerna", ma. nlo tem .. clrecterlsUcaa que dennem o ecumenismo
no sentido proprlo da palavra.
A. p. 23, o autor parace atribuir o monoflallmo a S. CIrilo de AI.xandrla.
Cremos qua o texto mereceria aer revl.to, pola S . CIrilo Alo pode .er tido
como pai da lal concopelo.
Em luma, o livro' CJm ao poyo crlsllo em geral. Vem suprir uma
lacuna em nÓ$M. bibliografia teológica; o •• u 10m ollmh.ta reconforta; plle
.m relevo multu IIC" II do CrI.tlanlsmo qua hoje em dll nIo poucoa
crla"o. Ignoram.
Ago,. entendo a IUbl1a. Par. voct .nblndllf a Clttlca _ Formas, por
Garhard Lohllnk. Traduçlo. adaptaçlo d. D. Mat'ua Roc::ha O.S.B. - Ed.
Pau Unas, $10 Paulo 1918, 185 x 225 mm, 172 pp.
Esta 11v'2 la: parle de um. sérill destinada " dlfua60 dld6t1ca d. Inl-
claçlo " Blblla Sagrada. Com oulras palavras: procure transmlllr .m IIn·
guegem almples as quast&n _ conclus6es mais dlllcals da. moderna .xllg ....
cat6l1ea. D_ modo "peelll, o livro aelma caraelarlz.ado 'xp6_ o que SI
chama "08 (lll1IIrOI IItar6rloa nI Blblla", moatrando ao leitor como proçl,lrar
.ntender o aentldo dll p6glna d. EKrltur., que loram escrltaa .ntre o
aéculo XIII a.C. e ° s'culo I da nOIll arl. Acontec. que muitos crlstlos.
hole 11m dia, p.rcabendo que Ji nlo l i IlXpllcam certas pauagaM blbllcas
como outrora, tendam • generalizar suas conctusae., -dIzendo que tudo na
Sibila' pOllta ou met6fora; das'a foona, esvaziam ou tomam subjetlve ..
mansagem do livro sagrado. Ora,· praelumen1. para .vltar tal equivoco, o

-271-
44 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 222/1978

autor aprellntl OI .. porq\l.... da nOYI exegese: expOe os principiai 1In-


gülsUcos, Ilter',lo., flIosbllcOl e teolbglcos que norteiam a eXB<!ese molâma
e devem nor1ea' todo trabalho aadlo fello em tomo da Blblla. O. antigos
careciam do 100Irumenlll qUI Itualmente I. descobertu arqueológicas e
os progr.llOS nlolÓglco. no O,llntl olerecem 80 estudlolo; por Isto do
podiam entender com todl I lucidez o senlldo de cortas passagens blbllcu,
Elias hole .. tomam 11181s ele'" e, por Isto, do explanadas dlveralmenta
do que acontecia oulrort, Not..." pom. que a nova exegeM de modo
nenhum .Ieta as verdado. da I.: IIlas permanec.m 8S mesma., como
sa compreende.

Recomandamos, pois. vlyamente a leUura do livro de Gerha,d lohllnk,


qult 6 dld'llco • Icaulvel.

......m le formou I 81~I .. Para Y0e6 ,,"tencSer o AnttBo T..'_nto,


por Olego IArenhOlYeI. Tr1Iduçlo 8 adapllçlo de D. Maleus Rocha 0 .5 .8 .
_ Ed. Paullnal. SIo Paulo 1978, 185 x 225 mm, 16-4 pp.

Este livro fal: eco ao anterior, conc.ntrando-Ie na t.mil.llca do Antigo


Testemento, ao qUII Iprl.anla uma Inlroduçlo geral. O autor Ilende, em
e,lIIo almples, mas clentl/lco, àa pergunlll fundamantall q\le o leUor da
Blblla costuma formular : 8eri que o texto blbllco hoje editado corrnponde
aos orlglnall '1 Como proceda a critica textual para avaUar o. manuscrltoa
blbllcoa hoje exlslant•• '1 Em que contextos hlst6rlcos surgiram os dlyerso ..
lIyros .agradoa? Como enlendar o cot'lcallc de "aútor humano" em ee 1ra-
lando da lIIerllura blbllcl? ,., EliaS O oulr18 queet(l8.1 110 abordadas d.
maneira ..oura, conloanle o pensamenlo calOllco conlamporaneo. O autor
da tnfua especial ao tratado doe g'neros 11I.,6rloe li do "Sltz Im Leben"
(contexto vltll) dOI virlol livraI IIgrados. Medlanle numerosOl exemplos,
moalra-noa ç~mo as clancla. moel8rn.. (a Iln90I.lIca, a arqueologia, a hl.1c)..
tlogralla orientai : . . ) abrem o caminho para a compreenlilo do texto sagra-
do j eale, bem entendido, se torna atraente ou mesmo fascinante . A obra
se encerra com um capitulo Intitulado " O testemunho da ''", no qU11
Arenhalyel, após ter mencionado os aubaldlos exegéticos !lngolatlcos •
arqueoTóg1ca., se rer.,. lamb6m aOl crlterlÓII que a te Ipllca a Intarpretaçlo
do "do blbllco. A gol.. da ap6M1lca, o 1"lor apresenla uma séria de sele
exrectc:los, Citeis 6 recapllulaçto ela malérla e 80 trabalho escolar.
CongratutamCM'lOl com as Edlç&es Paullnu pela publlcaçlo de tio
..,alloso Instrumantal de dlvul§lÇIo blbllca.

Inlrodu~o ao Anllgo reatamenlo. Vol. I: Uno. hlst6rlco. a c6dlgoa


l.gal.. por E. SeUIn e G. Fohrer. Coleçlo "Nove coleçAo blbllca" - 5. Tra-
duçlo da 118. edlçlo alémi por D. Mateut Rocha O .S . B. - 81. Paullna.,
540 Paulo 1978. 130 x ZOO mm, 363 pp.
Esta obra conheceu l ua primeira edlçlo em 19'0. Desde enli o vem
sendo regularmente revl.ta e anrlqueclda em novas edições, de modo a
acomponhar os progressos dos estudol blbllcos. A persistência di obra no
campo editorial .Ira....s de ea an08 • te.temunho de que ae Irala de trabalho
basicamente .. ,lo e v.tlJdo. Com efeito, quem estuds o conteÍldo desle
volume I de Sellln·Fohrer, deplra com esmerada Inlclaçao clentlllce aoe
lIyros hlalórlcol do Antigo Testamento, Incluindo a Torah, Especialmente.

-272 -
queallo das fonte. do Pentatauco , encarada com a maUculo.ldada própria
do. aulore' germlntcos : ."m do. cÓdigos J. E. D. P (habitualmente reco-
nheeldos). os autores admUem a fonle H (N6mada), anlarlor ao ,.1110, por·
lador. de IladlçO.s multo anIlSl", que l i referem" vlcl. nOmada de t.r.el.
Tal senlança con.tltul a ma is flcente etapa da Intrincada quaa'lo da. orfo.
geNl do Pentateuco.

~ de notar que os luloru d. obra .10 protestantes; por Isto nlo


cOMldaram OI 81erllO. deulerocan6nleOI. Assim , qua tratam do livro de
Estar (parle prolocanontc:a apanu), mas allenclam Tobias e Judlte, IIIlm
como 1/2 Me. Tarla lido d ••al'vel que a Editor. houvesse completado a
obra, providenciando a InttoduçJo (ainda que vasada em estilo dll.r.nte)
aos livros deulerocaoonlCOI. O volume 11, QU' dever! .. Ir I lume em breve,
apreaentari o estudo doa INtoa de einlleol, II'1T'OS saplenclals e pro"tlcOl
e do livro .poc.llpllco da D.nlel, .em esludo explicito dos deuletocanOnlcOl
prot,tlco. (Br) a .. planelal, (Eclo a Sb). Verdada " que OI edllores lI/Ia
mençlo lumlrla doa livros deulerocan6nlcos, acenluando SlU lugar no
clnon blbllco adotado pela Igreja Católlce.

Imporia realçar ainda o lrabalho do tradulor d. obra, que procurou


atender '1 Ilnu,.. do lexlo Ilamlo com e poselvel ex.lldlo, otaAl'cando
assim ao leitor bresllelro uml Iraduçlo IIdedlgna e correta. O livro nlo ,
de dlvulgaçlo proprlamenla dita, mas se de,lIne a esludlosa. li InIciado.
nO$ camlnhO$ da exegese blbtlce.

"bralo • Sara, por Carlol Meltara. - Ed. Vozes, Petrópoll, 1978,


130 x 180 mm, 130 pp.

Frei CerlO!! M"ters • conhecIdo por seul escrllo, blbtlcol de Indola


pastoral e popular. Oedlcando-se ultimamente .. mlsSOes no Inlerlor do
8ralll, vam"a Identificando cada vez mais com 08 problemu e anseio. da
gania simples, • qual procura levar
de DeuI.
°allmenlo e o estimulo da Palavra

o livro em quesllo conlldera InIcialmente OI onze primeiros cepltulos


do Gênasls como sendo a deserlçlo da realldada do mundo alastado da
Deus paIo pacado: lrala·se tanto do mundo de outrora como do mundo
de hoje. Sobre •• te fundo da cana, o autor propôe 15 Ilguraa de Abralo a
Sara, exaltando 8 fé de Abrelo •• aua doclllda<le ao Senhor: mostra como
a hlslOrla de Abralo • tlplea ou modelar, servIndo da paradigma para o
homem de hoje (510 Pauto, all'l, chama Abralo "o paI da nO"1 16",
Rm 4,1'). Abralo e Sera. amlgrando <Ia Ur da CaldéIa para a terra da
Canal e o Egito, Slrlam 18laranel.11 pala Genésio e ROIa, Imaglnirlos sar·
tanalos mineIros que emIgram par. Golãl a pa,a o Acre am demanda de
melhores condlç~es de vIda: ao povo sImples do InterIor do Brasil O autor
quer apresenlar lIç.&as da " a de ganarosldade deduzidas da hlstórle blbllca
de Abralo.
o livro lem varar palloral. Pode fila valas parecer unllataralmente preo-
cupado em eltabelecer paraleUlmOl anlre a histórIa blbUca e a realidade
°
da noasos dia •. Islo, porém, nlo lha tire m'rllo da (n.lfumanlo de dllullo
da Blblla e de alimento da f6, lIé mesmo para populaç~.1 urbana •. A lua
leitura , "cll • agradAva!.
E.a .
UNIÃO COM CRISTO
Nó. rezatnOt I nmol mull.s 1'11.11', rez.rlm O P.l1 No..o d. mlos
dl d••. aosl. riamo. de que rellollssltm lobr. li plofundO mht6rlo qUI Involve
IIS... ml ol qUI" unem:

"A mêo Jovem se une à mão velha e. entre elas,


58 .cruza A MAO ETERNA 00 CRISTO.
A mão débil &e une à mão robusta e, entre elas,
se cruza A MÃO FIRME DO CRISTO.
A mão branca se une à mão negra e, entre el8s ,
se cruza A MAO SANTA DO CRISTO.
A mão trêmula se une à mão aegura e, entre elas.
se cruza A MÃO SUSTENTACULO 00 CRISTO.
A mão calejada se une à mão sedosa e, entre eles,
58 .cruza A MÃO CRAVEJAOA 00 CRISTO.
A mio do médico se une à mão do doente a, entre elas,
se cruza A MÃO ENSANGüENTADA DO CRISTO.
A mIo do empregado se une à mão do patrão a, entre elas,
se cruza A MAO DE CHEFE DO CRISTO.
A mão do aluno se une à mão do professor e, entre elas,
s. cruza A MÃO OE MESTRE DO CRISTO.
A mSo da ignorAncia se une à mão da sabedoria e, entre elas,
.e c ruza A MÃO ONISCIENTE DO CRISTO.
A mão pecadora se une à mão da graça e, entre elas,
se cruza A MÃO DO PERDÃO DO CRISTO.
A mão da vida se une à mão da morte, e entre e las, .
se cruza A MÃO REDENTORA 00 CRISTO.

Lamentavelmente,
somente as mãos fechadas
nAo se unem às outras mãos fechadas.
Mas. mesmo assim,
entre elas se põe,
entre elas se .cruza,
A MÃO ABERTA DO CRISTO I .. . "

(1Imandad. cta Su l. Crul do. MilitaI.,)

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